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Alunos: Anelise Trindade Ramos, Ana Paula Fauth Bohrer e Roberta Zorzi Caso clínico 1 http://revistas.ufba.br/index.php/rbspa/article/view/621/371 IDENTIFICAÇÃO Caso: 1997 Precedência: Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp / Botucatu-SP Espécie: Equina Raça: Anglo-árabe Idade: 4 anos Sexo: masculino ANAMNESE O animal apresentava-se com histórico de incoordenação progressiva e curso de três meses. EXAME CLÍNICO -Frequência cardíaca: 54 bpm (30 a 40 bpm) -Frequência respiratória : 24 rpm(18 a 20 rpm) -Temperatura: 38ºC (38,0 ± 1,0ºC -O animal em estação, não apresentava alterações de postura e estado mental. -Miccção e defecação presentes e normais. - Exame físico específico do sistema nervoso e locomotor, onde se pode observar nos testes de reação postural um discreto “déficit” de propriocepção no membro torácico direito e nos membros pélvicos. A sensibilidade à dor superficial estava presente em todos os membros. No exame com o animal em movimento pôde-se observar incoordenação dos membros pélvicos. O exame detalhado do sistema locomotor excluiu a possibilidade de problema músculo-esquelético primário. EXAMES COMPLEMENTARES -Radiografia da coluna cervical : sem alterações -Fibrinogênio (mg/dL) 300 (0 a 3) -Proteína Total (g/dL) 6,0 (56 a 88) - Exame do líquor ( teste físicos e químicos ) : Volume (mL) 4 Aspecto límpido Densidade 1005 (1003 - 1012;) pH 8,0 Proteínas (mg/dL) 100 (10 - 40 mg/d) Glicose (mg/dL) 100 Eritrócitos (/µL) 1 Leucócitos (/µL) 0 HEMOGRAMA Leucócitos Eritrócitos Quantidade: 6.200 (/µL) (5.400-14.300) Tipo Quantidade/μL Neutrófilos 4.464 (2.260-8.580) Linfócitos 1.364 (1.500-7.700) Monócitos 228 (0-1.000) Eosinófilos 00 (0-1.000) Basófilos 00(0-290) Hemácias (/µL) 6.580.000 (6.5 a 12.5) Hemoglobina (g/dL) 12,5 (11-19) Volume Globular (%) 33 TRATAMENTO E EVOLUÇÕES O equino foi tratado com sulfametoxazol-trimetoprim (30mg/kg/dia) associado à pirimetamina (1mg/kg/dia) por 60 dias. Flunixim Meglumine (1,1mg/kg) e Vitamina E (1.000 UI/dia) durante os 7 primeiros dias de tratamento. Após dois meses de tratamento observou-se a redução do grau de incoordenação. DISCUSSÃO Anamnese e exame clínicos: Os sinais clínicos apresentados pelo animal não são específicos pois podemos observar incoordenação em várias patologias tanto de SNC como lesões musculoesqueléticas, traumas e etc. Porém sabemos que as lesões traumáticas tendem a apresentar incoordenação repentina. E o exame clinico especifico descartou lesões musculo esqueléticas primárias, levando o diagnóstico para o lado neurológico, ainda mais devido ao discreto “déficit” de propriocepção nos membros. Eritrograma: valores dentro do valor de referência. Leucograma: Apresentou linfopenia, que pode estar associado ao estresse. Radiografia: Não apresentou alterações na coluna cervical, descartando possíveis doenças traumáticas, estenoses medulares, levando o diagnóstico para o lado de doença infecciosa. Exame do Liquor: diagnóstico definitivo para MEP, devido a presença de anticorpos contra S. neurona. Sabemos que se houvesse somente os anticorpos no sangue esse animal poderia ter tido contato com o protozoário porém por ser imunocompetente esse não atravessou a barreira hematoencefálica para causar a doença e os sinais clínicos, porém, com a presença desses no líquor, pode-se concluir que houve exposição do animal ao parasito e que, provavelmente, a doença estaria ativa. Tratamento: O tratamento se mostrou eficaz, porem exames como hemograma devem ser realiados com frequência durante o tratamento para acompanhamento desses animais, de modo que sabemos que a utilização da sulfa com trimetoprim associada à pirimetamina, durante longos períodos, pode provocar quadro de anemia. CONCLUSÃO Com base no exame clinico, e principalmente no diagnostico através do exame do liquor coletado desse animal, confirmu-se o diagnóstico de MEP( Mieloencefalite Protozoária Equina), na qual o tratamento com Sulfa/ Trimetoprim associada à Pirimetamina se mostrou eficaz. Caso clínico 2 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 09352008000200006 IDENTIFICAÇÃO Caso: 2008 Precedência: Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – USP Espécie: Equina Raça: American Trotter Idade: 9 anos Sexo: masculino peso:422kg ANAMNESE Segundo relato há 30 dias o animal estava com queda no seu rendimento atlético, apresentava secreção nasal unilateral direita e ruído respiratório. EXAME CLÍNICO Ausência de fluxo de ar via narina direita, secreção nasal mucopurulenta de quantidade moderada na mesma narina e linfonodo submandibular direito aumentado. EXAMES COMPLEMENTARES Endoscopia: Cavidade nasal direita obstruída por massa recoberta por mucosa amarelada, que impediu a progressão do endoscópio (Fig 1A). Cavidade nasal esquerda com projeção da massa (da cavidade direita) sob o septo nasal, com obstrução parcial (Fig 1B). Radiografia: Uma estrutura irregular, arredondada, com aproximadamente seis centímetros de diâmetro, com aumento de densidade radiográfica em tecidos moles. Aproximadamente 80% da estrutura ocupava a cavidade nasal, seio frontal e etmoide direito, com o último dente molar como limite caudal (Fig 2). TRATAMENTO E EVOLUÇÕES O animal foi encaminhado ao tratamento cirúrgico, para ressecção da massa. Caudal ao acesso cirúrgico foi feita incisão de pele para fixação de um dreno de Pezze no interior do seio frontal, para irrigação do local no período pós-operatório. Durante o período pós-operatório eram realizados exames físicos duas vezes por dia e realizada endoscopia, hemograma e análise bioquímica semanalmente. O pós-operatório iniciou com associação de penicilinas (benzatina, procaína, potássica) e gentamicina durante sete dias, e fenilbutazona durante dez dias. Foi realizada lavagem dos seios paranasais e da cavidade nasal direita com laurel dietil éter sulfato de sódio diluído em solução fisiológica e água destilada. Após dez dias do tratamento com penicilina o animal apresentou secreção nasal mucopurulenta, a cultura e antibiograma revelaram o crescimento de Pseudomonas aeruginosa, Serratia sp. e Streptococcus sp. não hemolítico, então foi realizado tratamento com enrofloxacina por três dias. A avaliação microscópica do material colhido durante o processo cirúrgico revelou rinite fúngica granulomatosa, com uma cápsula circundando os microorganismos interpretados como Cryptococcus sp. (Fig 3A e 3B). Três semanas após a cirurgia, foram observadas duas placas com características fúngicas, durante a endoscopia de controle, no local antes ocupado pela massa. As placas foram retiradas com pinça artroscópica guiada por endoscopia nasal através do orifício onde era fixado o dreno de Pezze (Fig 4), após o dreno foi fixado novamente. Em cultura realizada com fragmento do bordo ulcerado onde estavam as placas, a leitura indicou crescimento de Aspergillus sp. Após a retirada das placas a região passou a ser lavada com chá de camomila. Duas semanas após a retirada das placas foram observadas novas placas fúngicas, durante a endoscopia de controle. As novas placas foram retiradas com pinça de apreensão pelo canal de trabalho do fibroscópio. Até a cicatrização completa das mucosas as lavagens da região foram realizadas, sendo isto sete dias após a última retirada de placas fúngicas. Seis meses após o tratamento o equino não apresentou alterações respiratórias, estando de volta às atividades esportivas sem queda de desempenho. DISCUSSÃONo caso clínico relatado, segundo o proprietário o equino apresentava secreção nasal unilateral direita, queda no rendimento atlético e ruído respiratório, por pelo menos 30 dias. No hospital foi realizado exame físico desse equino, onde se confirmou o relato do proprietário, além disso também, notou-se aumento do linfonodo submandibular direito. Devido aos achados nas radiografias e na endoscopia, além disso por causa da extensão da lesão, o equino foi diagnosticado erroneamente com hematoma etmoidal. Esse diagnóstico errôneo levou à uma indicação cirúrgica, mas mesmo assim a cirurgia foi procedente, pois o nível de obstrução estava comprometendo a vida e o rendimento atlético do equino. Durante o procedimento cirúrgico foram encontradas alterações que não eram compatíveis com hematoma etmoidal, foi realizado exame histológico do material coletado e resultou em lesão granulomatosa fúngica por Cryptococcus sp. Em equinos quando observamos secreção nasal mucopurulenta unilateral logo associamos com sinusite bacteriana e também ao hematoma etmoidal, mas nem sempre conseguimos fechar o diagnóstico apenas com esses sinais. É importante considerar as infecções fúngicas como um diagnóstico diferencial. Existem algumas causas para a infecção fúngica, pode ser por infecção viral ou bacteriana no trato respiratório superior, mas também por algum trauma ocorrido durante a sondagem ou pela hemorragia pulmonar induzida pelo exercício (HPIE). Foram coletadas amostras sanguíneas e realizado hemograma e análise bioquímica. Scott et al. (1974) recomendaram o sacrifício de animais acometidos por criptococose devido à deficiência de medicamentos eficazes e a aspectos de saúde pública. Fato é que poucos equinos acometidos pela doença são tratados, pois a terapia é cara, longa, tem muitos efeitos colaterais e frequentemente há recidivas. No caso clínico relatado, após o tratamento realizado com os antibióticos, foram realizadas lavagens com infusão de chá de camomila, pois também possui efeito antiinflamatório e antimicrobiano, além de ser um ingrediente de fácil obtenção, baixo custo e sem efeitos colaterais. CONCLUSÃO Com os dados obtidos, exames clínicos, histológicos, reação positiva ao tratamento, conclui-se que se tratava de uma obstrução nasal por granuloma fúngico. FIGURAS Figura 1. A: imagem endoscópica de granuloma em equino, obstruindo totalmente a cavidade nasal direita. Figura 1. B: imagem endoscópica com projeção de granuloma sob o septo nasal em equino, obstruindo parcialmente a cavidade nasal esquerda. Figura 2: Imagem radiográfica cranial dorsoventral evidenciando a localização de granuloma fúngico em equino. Figura 3. A: Corte histológico revelando lesão granulomatosa causada por esporos fúngicos em equino. Aumento de 10X. Figura 3. B: Corte histológico revelando lesão granulomatosa em equino causada por esporos de Cryptococcus sp. Aumento de 10X. Figura 4: Imagem de lesão fúngica em placa, visualizada por endoscopia em equino.
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