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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL ROGÉRIO SANCHES AULA 01 (20/08/2012) LEI DOS CRIMES HEDIONDOS (L8.072/90) CONCEITO Existem três formas: 1 Legal - Compete ao legislador enumerar num rol taxativo quais os delitos considerados hediondos (adotada pelo Brasil); 2 Judicial – Compete ao Juiz na apreciação do caso concreto, diante da gravidade do crime ou da forma em que foi executado, decide se é ou não hediondo. 3 Mista – O legislador apresenta um rol exemplificativo de delitos hediondos, permitindo ao juiz na análise do caso concreto, encontrar outros fatos assemelhados (interpretação analógica). MANDADOS CONSTITUCIONAIS DE CRIMINALIZAÇÃO As Constituições modernas não se limitam a especificar restrições ao poder do Estado e passam a conter preocupações com a defesa ativa do indivíduo e da sociedade em geral. A própria Constituição impõe a criminalização de bens e valores constitucionais, pois do Estado espera-se mais que uma mera atitude defensiva. Requer-se que torne eficaz a Constituição, dando vida aos valores que ela contemplou e protegendo-os de eventuais ataques (Ex.: art. 5º, XLIII, CRFB). CRÍTICAS AOS CONCEITOS: 1 Legal – Ignora as circunstâncias do caso concreto. 2 Judicial – Não havendo lei que defina os crimes hediondos, gera insegurança, ferindo o Princípio da Legalidade, que é a nossa segurança quanto o Estado punitivo. 3 Mista – Reúne as críticas dos dois conceitos acima. A forma mais justa de conceituar crimes hediondos seria a apresentação de um rol taxativo de crimes hediondos pelo legislador, devendo o juiz na análise do caso concreto, confirmar a Hediondez da infração. Desta forma há lei, respeitando a legalidade, no entanto o juiz trabalha, conformado pela lei, as circunstância do caso concreto, não se contentando com a gravidade em abstrato. OBS1.: PERGUNTA DE CONCURSO: Existe crime hediondo previsto em legislação fora do CP? Existe, o genocídio (art. 1º, § ún., L 8072/90), não se confundindo com tráfico, tortura e terrorismo que são equiparados a hediondos. [WB1] Comentário: XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; [WB2] Comentário: O novo CP vai acabar com a equiparação. CONSEQUENCIAS DOS CRIMES HEDIONDOS: i) Insuscetíveis de anistia, graça e indulto, que são formas de renúncia estatal ao seu poder de punir. A CRFB proibiu anistia e graça, mas a lei acrescentou indulto, seria esse alargamento constitucional? 1ª C. entende que a ampliação é inconstitucional, pois as vedações previstas no art.5º, XLIII, da CRFB, são máximas, sendo defeso ao legislador ordinário, suplantá-las. Observa ainda, que a concessão do indulto esta entre as atribuições privativas do Presidente, não podendo o legislador ordinário, limitá-lo no exercício desta atribuição. 2ª C. entende que a ampliação é constitucional, pois o indulto não deixa de ser modalidade de graça e, por isso, alcançado pela vedação constitucional (STF). GRAÇA INDULTO Destinatário certo Destinatário não certo, por ser benefício coletivo. Depende de provocação Não depende de provocação. Note que a graça não deixa de ser indulto no sentido singular e indulto, não deixa de ser graça no sentido coletivo, assim a segunda corrente entende que ao se proibir graça, obviamente o indulto que está ligado à graça, também está vedado. Graça e indulto excluídos para crimes cometidos antes da L 8072/90, não existe ofensa à garantia constitucional da lei penal mais grave, consistindo a exclusão, exercício do poder do Presidente da República de negar o indulto a determinados crimes. Logo, o Presidente concede crime a quem bem entender, pois o indulto é discricionário do Presidente. ii) Insuscetível de fiança pela lei 11464/07, que antes desta além da proibição da fiança, proibia liberdade provisória, gerando discussão doutrinária sobre a liberdade provisória. 1ª C entende que fiança se confunde com liberdade provisória e assim a lei 11464 acaba com essa redundância. 2º C entende que liberdade provisória e fiança não se misturam tanto que há liberdade provisória sem fiança, logo é possível a liberdade provisória. [WB3] Comentário: Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto; II - fiança. [WB4] Comentário: Anistia por lei, graça e indulto por decreto presidencial. CRIMES HEDIONDOS (ou equiparados) X LIBERDADE PROVISÓRIA LEI 8072/90 LEI 11464/07 HC 104339 STF Art 2º, II da lei, proibia: Fiança e Liberdade provisória. Vigorava a súm. 697, STF. Reconhece implicitamente a constitucionalidade da vedação da liberdade provisória Art. 2º, II foi alterado e só proíbe fiança. 1ªC – Passou a ser permitida a LProv. em crime hediondo ou equiparado. 2ª C – A vedação está implícita na proibição da fiança. O STF declarou inconstitucional qualquer vedação legal a liberdade provisória, fundamentando: a)Incompatível com o P. da Presunção de Inocência; b)A proibição em abstrato não analisa os pressupostos da necessidade da prisão cautelar; c)É antecipação de pena. Superou-se a súm. 697, STF. CRIMES HEDIONDOS X REGIME DE PRISÃO (Art. 2º, §1º e2º da lei 8072/90) LEI 8072/90 STF HC 82959/07 LEI 11464/07 STF HC 111840 Regime integral fechado e vedação de progressão de regimes Confirmado pela Súm. 698 STF que reconhecia implicitamente a constitucionalidade do regime integral fechado. Julgou o regime integral fechado inconstitucional, por violar os princípios: i)Individualização da Pena, ii) Isonomia, iii) Proporcionalidade; e iv)Dignidade da Pessoa Humana. Com isso autorizou a progressão com 1/6 da pena, superando a S.698 Regime inicial fechado. Progressão com 2/5 da pena se primário ou 3/5 da pena se reincidente. O STF julgou inconstitucional também o regime inicial fechado, com fundamento principal a violação do P da Individualização da Pena. ATENÇÂO: Ainda admite progressão diferenciada. [WB5] Comentário: § 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007) § 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente. OBS2.: Hoje para fixar regime inicial fechado para crime hediondo ou equiparado, o magistrado deve observar a necessidade do regime mais rigoroso com base na gravidade em concreto do fato somado aos fins da pena (atentar para as súm. 718 e 719 do STF). Vale ressaltar que antes da L11464/07, a progressão de regime, por conta do HC82959 de 2007 (STF), era de 1/6 da pena (art. 112, LEP). Com o advento da mencionada lei, surge a progressão diferenciada, com 2/5 da pena se primário ou 3/5 da pena se reincidente. A partir daí, indaga-se se esta nova progressão é retroativa, alcançando os fato praticados antes de sua vigência? Cuidado! Súm Vinc. 26 e Súm 471 do STJ dizem que não retroagem por ser maléfica a nova lei. OBS3.: A progressão de regime diferenciada citada acima,com relação à reincidência, entende-se por ser específica ou não. Outro ponto que merece destaque é o §3º, art. 2º, da Lei, que deve se interpretado conforme a CRFB e adota duas situações: a)Acusado processado preso (provisoriamente), recorre preso, salvo se não presentes mais os requisitos da prisão preventiva; ou b)Acusado processado solto, recorre solto, salvo se presentes os fundamentos da prisão preventiva. CRIMES HEDIONDOS X PRISÃO TEMPORÁRIA A lei 7960/89 criou as hipóteses de prisão temporária, vejamos: LEI 7960/89 LEI 8072/90 Hipóteses: a)121, CP; b)148, CP; c)157, CP; d)158, CP; e)159, CP; f)213, CP i)267, §1º, CP; j)270 c/c 285, CP; l)288, CP m)Genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889/56); n)Tráfico; e o)Crimes contra o sistema financeiro. Nestas hip. o prazo é de 5+5. Diz que se tratando de crime hediondo ou eq. o prazo é de 30+30. Alíneas a, c, d, e, f, i, m, n que enumeram os crimes ao lado são hediondos e assim será 30+30. [WB6] Comentário: SÚMULA Nº 718 A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada. SÚMULA Nº 719 A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea. [WB7] Comentário: Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão. [WB8] Comentário: § 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. PERGUNTA DELEGADO PCMG: Há prisão temporária aos crimes não previstos na L7960, mas hediondos, como: 217-A, 273, tortura e terrorismo? Se atentarmos para a redação do §4º do art. 2º da lei 8072/90, logo perceberemos que o referido parágrafo ampliou não apenas o prazo, mas também o rol dos delitos possíveis de prisão temporária (Princípio da Posterioridade, ou seja, lei posterior alterando anterior, alterando o prazo e aumentando o rol). CUMPRIMENTO DE PENA DOS CRIMES HEDIONDOS (art. 3º da Lei) Condenado pela justiça estadual, cumprindo pena em presidio federal, a execução da pena passa a ser de responsabilidade da justiça federal e vice-versa (Súm. 192 do STJ). LIVRAMENTO CONDICIONAL (art.5º da Lei) (liberdade antecipada) Previsto no art. 83 do CP, estabelece os seguintes pressupostos: a)Condenado primário com bons antecedentes – deve cumprir mais de 1/3 da pena; b)Condenado reincidente – deve cumprir mais de ½ da pena; c)Condenado primário com maus antecedentes – não há previsão, mas aplica-se o dever de cumprimento de mais de 1/3 da pena por analogia in bonnan partem; d)Crime hediondo ou eq. – deve cumprir mais de 2/3 da pena, desde que não reincidente específico. OBS.:REINCIDENTE ESPECÍFICO 1ªC. – É o reincidente em crimes previstos no mesmo tipo penal (213+213, por ex.); 2ªC. – É o reincidente em crimes que protegem o mesmo bem jurídico, ainda que em tipos distintos (latrocínio+extorsão qualificada pela morte); e 3ªC. – É o reincidente em crimes hediondos ou equiparados, não importando se protegendo ou não o mesmo bem jurídico, mesmo que em tipos distintos (estupro+latrocínio). Esta última prevalece inclusive nos tribunais superiores. Conclusão, se reincidente específico, não faz jus ao livramento condicional. [WB9] Comentário: § 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. [WB10] Comentário: Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública. [WB11] Comentário: Art. 5º Ao art. 83 do Código Penal é acrescido o seguinte inciso: Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração; V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza." CRIMES HEDIONDOS X FORMAÇÃO DE QUADRILHA (art. 8º da Lei) Começamos diferenciando o art. 288 para prática de crimes comuns e hediondos ou equiparados. 288, CP 288, CP (sendo crimes hediondos) Pena 1 a 3 anos + pena dos crimes eventualmente praticados. Pena de 3 a 6 anos + pena dos demais crimes eventualmente praticados. Admite sursis processual por ter pena mínima não superior a 1 ano e não cabe preventiva para o associado primário (art. 313, I, CPP). Não admite sursis processual por ter pena mínima superior a 1 ano e cabe preventiva para o associado primário pela pena máxima superior a 4 anos.. OBS.: ATENÇÂO! No caso de tráfico de drogas, não se aplica o 288, CP, mas sim o 35 da Lei 11343/06, que possui pena de 3 a 10 anos. PERGUNTAS DE CONCURSOS: 1.A delação premiada (§ único, art. 8º, da Lei) é somente endereçada aos associados ou alcança não associados que participaram do crime praticado pela quadrilha? A delação não se restringe aos associados. 2.A diminuição de pena incide somente no crime de quadrilha ou alcança também o delito eventualmente praticado pelo grupo criminoso? A doutrina, obviamente diverge, não havendo ainda posição consolidada nos tribunais superiores, porém, a Lei 12529/11, que só passou a ter vigência em 28 de maio de 2012, chama atenção por acrescentar o pacto de leniência aos crimes contra as relações de consumo, gerando a extinção da punibilidade não só de cartel (art. 87, L8137/90), mas também aos crimes ligados a ele, como quadrilha ou bando. 3. É possível sursis ou penas restritivas de direitos em crimes hediondos ou equiparados? 1ªC – Não, pois tais benefícios são incompatíveis com a gravidade desses delitos; 2ªC – A vedação de sursis ou penas restritivas de direitos para esses crimes com base na gravidade em abstrato é inconstitucional, devendo o juiz analisar a suficiência das penas alternativas (Princípio da Suficiência das Penas Alternativas) com base no caso concreto (STF). 4. Cabe remição (diferente de remissão=perdão), ou seja, resgate de pena em virtude de trabalho ou estudo, para esses crimes? A lei 8072/90 não proíbe, sequer implicitamente, logo é perfeitamente cabível, tratando-se de importanteinstrumento de ressocialização. [WB12] Comentário: Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços. [WB13] Comentário: Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos LEI DOS CRIMES HEDIONDOS X LC 64/90 alterada pela LC 135/10 (FICHA LIMPA) Condenado por órgão colegiado a crime hediondo ou equiparado é considerado “ficha suja”, portanto, inelegível nos termos da LC 64/90. LEI DOS CRIMES HEDIONDOS X L12654/12 (identificação do perfil gen.) Esta lei 12654 alterou a lei 7210/84 e dispondo no art. 9º-A que os condenados por crimes hediondos, mas não os equiparados sem violência, serão submetidos, obrigatoriamente (sem ação ativa do condenado, ex.: cabelos caídos ao chão), a identificação do perfil genético por técnica adequada e indolor, visando abastecer sistema de dados do Estado (esta alteração vigerá em 180 dias de 29/05/12). LEI DOS CRIMES HEDIONDOS E o DIREITO PENAL DE EMERGÊNCIA É representado pela produção normativa penal destinada à repressão da alta criminalidade. Nessas hipóteses, não raras vezes, o Direito Penal afasta-se de seu importante caráter subsidiário assumindo função nitidamente punitivista, prejudicando garantias do cidadão. [WB14] Comentário: “Art. 9o-A. Os condenados por crime praticado, dolosamente, com violência de natureza grave contra pessoa, ou por qualquer dos crimes previstos no art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, serão submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA - ácido desoxirribonucleico, por técnica adequada e indolor. § 1o A identificação do perfil genético será armazenada em banco de dados sigiloso, conforme regulamento a ser expedido pelo Poder Executivo. § 2o A autoridade policial, federal ou estadual, poderá requerer ao juiz competente, no caso de inquérito instaurado, o acesso ao banco de dados de identificação de perfil genético.”
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