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Direito Processual Ambiental

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Profa. Aline Araújo Passos
Direito Ambiental
Direito Processual
Ambiental
2 
3 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
Henrique Duque de Miranda Chaves Filho
Reitor
PÓS GRADUAÇÃO EM GESTÃO DO MEIO AMBIENTE: 
Educação, Direito e Análise Ambiental
Vicente Paulo dos Santos Pinto
Coordenador geral 
Cézar Henrique Barra Rocha
Coordenador Adjunto 
CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Déa Lúcia Campos Pernambuco
Diretora Geral
José Aravena Reyes
Coordenador Geral
Mauricio L. Aguilar Molina 
Coordenador Acadêmico
Raquel von Randow Portes
Chefe da Produção de Material Didático
Mayanna Martins Santos
Gestora de Produção
Márcio Emilio dos Santos
Designer Instrucional
Ken Yamakoshi
Designer Gráfico
Rodrigo Lobão
Liliane da Rocha
Roteiro e Cinegrafia
Livia Carolina Gouvêa de Faria
Programação
Paula Martins Costa
Iolanda Cristina dos Santos
Revisão textual
Rogério Terra Junior
Ilustração
Raphaela Benetello Marques
Bolsista de Treinamento Profissional
4 
Gestão do Meio Ambiente:
Educação, Direito e Análise Ambiental
Coordenador Geral
Prof. Dr. Vicente Paulo dos Santos Pinto
Coordenador – Análise Ambiental
Prof. Dr. Cézar Henrique Barra Rocha
Coordenador – Direito Ambiental
Prof. Dr. Frederico Augusto D’Ávila Riani
5 
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO DO CURSO 7
APRESENTAÇÃO DA PROFESSORA 8
PARTE I - ASPECTOS GERAIS DA TUTELA AMBIENTAL COLETIVA 9
1. Direito Ambiental: conceitos gerais 9
2. Bens ambientais na Constituição Federal de 1988 11
3. Os direitos metaindividuais 13
4. Jurisdição civil coletiva: aspectos gerais do
processo coletivo 19
 4.1. Considerações introdutórias sobre a
 importância do processo coletivo 19
 4.2. Legitimidade de partes 22
 4.3. Desistência e abandono da ação coletiva 31
 4.4. Competência 32
 4.5. Elementos da ação e litispendência 35
 4.6. Elementos da ação: análise da conexão e
 continência 39
 4.7. A prova no processo coletivo 41
 4.8. Coisa julgada nas ações coletivas 45
 4.9. Liquidação de sentença prolatada em
 processo coletivo 52
 4.10. Execução de sentença em processo coletivo 56
 PARTE II - AÇÕES CONSTITUCIONAIS PARA A DEFESA DO
MEIO AMBIENTE 62
2.1 Noções introdutórias 62
2.2 Ação civil pública ambiental 63 
2.3 Ação popular ambiental 70
2.4 Mandado de segurança coletivo ambiental 80
BIBLIOGRAFIA 93
6 
7 
APRESENTAÇÃO DO CURSO
 A disciplina, “Direito Processual Ambiental a Distância”, proposta 
para o Curso de Especialização em Gestão Ambiental, promovido 
pelo Núcleo de Ensino a Distância da Universidade Federal de Juiz de 
Fora, pretende apresentar aos alunos os caminhos para a proteção 
jurisdicional coletiva do meio ambiente, bem de extrema relevância para 
a sobrevivência das espécies, tutelado constitucionalmente.
 Para isso, precisaremos enfrentar os elementos da teoria 
geral do processo coletivo, estatuídos no microssistema processual 
coletivo integrado, notadamente, pela Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil 
Pública), pela Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) e pela 
Constituição Federal de 1988.
 A partir da análise dos elementos e institutos básicos do processo 
coletivo que poderemos perceber a grandeza deste como instrumento 
garantidor do acesso à justiça e como verdadeira alternativa, em certos 
casos, para driblar a crise que assola o Judiciário, em razão do volume dos 
processos individuais em tramitação.
 Mostra-se, assim, de indiscutível importância que o operador do 
direito conheça as possibilidades do processo coletivo, especialmente 
em se tratando da proteção do meio ambiente, para que possa, com 
consciência e eficiência, lutar pela preservação das espécies e garantir a 
proteção de inúmeros direitos fundamentais.
 O conhecimento do processo coletivo com todas as 
possibilidades que ele oferece nos coloca em condições de buscar, por 
meio da intervenção do Poder Judiciário, a concessão de provimentos 
que venham a atingir um número considerável ou indeterminado de 
pessoas, o que demonstra o seu inegável apelo social. 
 Pretendemos, assim, oferecer, aos nossos alunos e alunas, as 
ferramentas capazes de guiar a todos pelos novos caminhos do processo 
coletivo que permitam, enfim, a proteção jurisdicional adequada do meio 
ambiente ecologicamente equilibrado.
8 
Apresentação da professora
 Aline Araújo Passos graduou-se em Direito pela Universidade 
Federal de Juiz de Fora (UFJF), em janeiro de 1993. É Mestre em Direito 
das Relações Sociais - subárea de concentração Direito Processual Civil 
- pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), desde 
abril de 1997, e Doutora em Direito das Relações Sociais - subárea de 
concentração Direito Processual Civil - pela mesma instituição, desde 
novembro de 2005. 
 Professora da Faculdade de Direito da UFJF (Adjunta I), desde 
2000, onde leciona as disciplinas de “Direito Processual Civil” e “Direito 
Processual Constitucional” para o curso de graduação. 
 É coordenadora do curso de graduação em Direito (Diurno) da 
Faculdade de Direito da UFJF, desde julho de 2010. Também coordena o 
curso de pós-graduação lato sensu em Direito Processual, desde fevereiro 
de 2010, promovido pela Faculdade de Direito da mesma universidade, 
do qual também é professora de “Direito Processual Civil e Coletivo”.
 Foi professora de “Direito Processual Civil” da Faculdade de 
Ciências Jurídicas e Sociais Vianna Júnior, entre agosto de 1997 e janeiro 
de 2009. Nesta instituição, atuou como Coordenadora do Núcleo de 
Ensino, Pesquisa e Extensão em Direito, no período de fevereiro de 1999 
a abril de 2001, assim também como professora auxiliar de seu Núcleo de 
Prática Jurídica, entre junho de 1997 e dezembro de 2000.
 Foi, ainda, professora assistente de “Direito Processual Civil 
e Direito Civil” da Universidade Federal de Viçosa (UFV), no período 
de setembro de 1996 a julho de 1997. Tem participado de bancas 
examinadoras de concursos públicos para a seleção de professores em 
Juiz de Fora e região, desde o ano 2000.
 É advogada autônoma na cidade de Juiz de Fora, desde março de 
1996.
9 
PARTE I
ASPECTOS GERAIS DA TUTELA 
AMBIENTAL COLETIVA
1. Direito Ambiental: conceitos gerais
 O Direito Ambiental, tratado como ramo autônomo do Direito, é 
considerado uma disciplina recente, a despeito de os bens ambientais, há 
muito, serem objeto de proteção normativa.
 Observa-se que, no Brasil, o meio ambiente tinha uma proteção 
secundária, uma vez que as primeiras normas se voltavam à proteção dos 
bens em favor do ser humano – centro do universo, em absoluta relação de 
subserviência (antropocentrismo)1 . Esse período, que se volta à proteção 
dos bensambientais em função apenas de sua reconhecida importância 
econômica, se estende desde o descobrimento até a segunda metade do 
século XX.
 Em um segundo momento, ainda marcado pelo antropocentrismo 
e por uma ideologia egoística, a tutela do meio ambiente era buscada 
também para garantir alguma vantagem para o ser humano. Todavia, 
a legislação ambiental se voltou preponderantemente para a tutela da 
saúde do ser humano, embora ainda se percebesse a permanência do 
aspecto econômico-utilitário da proteção do bem ambiental.
 Nesse período, compreendido entre 1950 a 1980, merecem 
destaque os seguintes atos normativos: Lei nº 5.197/67 – Código de 
Caça; Lei nº 4.771/65 – Código Florestal; Decreto-lei nº 227/67 - Código 
de Mineração; Lei nº 6.453/77 – lei de responsabilidade civil por danos 
nucleares etc. 
 A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei nº 6.938/81, 
segundo Marcelo Abelha Rodrigues, marca o início de uma terceira fase 
(biocentrismo) 2, de uma nova forma de se enxergar o meio ambiente, 
1 O antropocentrismo, que tem origem nos filósofos gregos, considera 
o homem o centro do universo, de todas as relações, de maneira que o mais 
importante é assegurar o seu bem-estar, permitindo-lhe apropriar-se dos 
bens ambientais, considerados, nessa perspectiva, instrumentais para a sua 
satisfação.
2 No biocentrismo, o homem é considerado parte integrante da 
natureza e, como qualquer ser vivo, deve manter com os demais uma relação de 
interdependência, de simbiose, sem se colocar acima dos outros seres vivos.
10 
primeiro, porque deixou de lado o tratamento atomizado 
em prol de uma visão molecular, considerando o entorno 
como um bem único, imaterial e indivisível, de tutela 
autônoma (art. 3º, I). O conceito de meio ambiente 
adotado pelo legislador extirpa a noção antropocêntrica, 
deslocando para o eixo central de proteção do ambiente 
todas as formas de vida. Adota, pois, inegável concepção 
biocêntrica, a partir da proteção do entorno globalmente 
considerado (ecocentrismo). Há, ratificando, nítida 
intenção do legislador em colocar a proteção da vida no 
plano primário das normas ambientais. Repita-se todas as 
formas de vida.3
 Nesse sentido, prevê o ato normativo em foco que o meio 
ambiente4 é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de 
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em 
todas as suas formas” (art. 3º, I). O conceito em tela é extremamente 
amplo, abrangendo os elementos bióticos (seres vivos) e abióticos 
(não vivos) que permitem, como foi destacado, a vida em todas as suas 
formas. Para o mencionado autor, só se poderia falar realmente em 
direito ambiental a partir do advento dessa lei.
 A Constituição Federal de 1988 recepcionou o dispositivo supra 
e disciplinou o meio ambiente em capítulo próprio (Título VIII, capítulo 
VI), conferindo-lhe tratamento amplo através de conteúdos normativos 
avançados. Estabelece o art. 225, caput, que 
todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à 
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à 
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as 
presentes e futuras gerações.
 Importante destacar que, do texto constitucional, se infere que 
é “o meio ambiente um bem jurídico autônomo, de titularidade difusa, 
que não pertence ao domínio público ou privado. O Estado é somente um 
gestor do meio ambiente”5 .
3 Processo civil ambiental. São Paulo: RT, 2008, p. 20.
4 O meio ambiente está relacionado a tudo aquilo que circunda os seres 
vivos, tendo o legislador optado por uma definição ampla, fundada em conceito 
jurídico indeterminado.
5 OLIVEIRA, Fabiano Melo Gonçalves de. Difusos e coletivos: direito 
ambiental. Elementos do Direito, v. 15, São Paulo: RT, 2009, p. 27.
11 
 Há autores, como Fabiano Melo Gonçalves de Oliveira, que 
sustentam, a partir da leitura dos documentos internacionais e da 
Constituição Federal, ser estes antropocêntricos, porém não na concepção 
tradicional, inserindo-se no que se denomina de “antropocentrismo 
alargado”. Isso significa analisar o fenômeno a partir de uma
visão que conjuga a interação da espécie humana com os 
demais seres vivos, sem uma relação de superioridade, 
como no antropocentrismo clássico, e estabelece uma 
relação ética com os demais seres vivos, vez que somente 
com a proteção dos animais e das plantas é possível legar 
às gerações futuras um meio ambiente ecologicamente 
equilibrado 6.
2. Bens ambientais na Constituição Federal de 1988
 De acordo com as lições de Paulo Affonso Leme Machado, 
poder-se-ia apontar como bens ambientais: 1) águas (art. 20, III, CF); 2) 
cavidades naturais subterrâneas (art. 20, X, CF); 3) energia (art. 22, CF); 4) 
espaços territoriais protegidos e seus componentes (art. 225, §1º, CF); 5) 
espaços relacionados com a proteção ambiental (art. 91, §1º, CF); 6) fauna 
(arts. 23, VII e 24, IV, CF); 7) flora (art. 23, VII, CF); 8) florestas (art. 23, VII, 
CF); 9) ilhas (art. 20, IV, CF); 10) mar territorial (art. 20, VI, CF); 11) praias 
fluviais (art. 20, III, CF); 12) praias marítimas (art. 20, IV, CF); 13) recursos 
naturais da plataforma continental (art. 20, V, CF); 14) recursos naturais 
da zona econômica exclusiva (art. 20, V, CF); 15) sítios arqueológicos e 
pré-históricos (art. 20, X, CF); 16) terrenos de marinha e seus acrescidos 
(art. 20, VII, CF) e 17) terrenos marginais (art. 20, III, CF)7 .
 A doutrina pátria, de um modo geral, ao tratar do tema em foco, 
costuma proceder à classificação do meio ambiente, nela enquadrando 
os bens acima referidos e outros a seguir expostos. Há, assim, o meio 
ambiente natural, o meio ambiente artificial, o meio ambiente cultural e o 
meio ambiente do trabalho.
6 Ob. cit., p. 17.
7 Direito ambiental brasileiro. 4 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1992, 
p. 48-61.
12 
 Segundo Celso Pacheco Fiorillo, 
o meio ambiente natural ou físico é constituído por 
solo, água, ar atmosférico, flora e fauna. (...) O meio 
ambiente artificial, por sua vez, é compreendido pelo 
espaço urbano, construído, consistente no conjunto de 
edificações (chamado de espaço urbano fechado), e pelos 
equipamentos públicos (espaço urbano aberto). Este 
aspecto do meio ambiente está diretamente relacionado 
ao conceito de cidade. 
 Para o mesmo autor, o meio ambiente cultural vem previsto no 
art. 216 da Constituição Federal e é integrado pelo patrimônio histórico, 
artístico, arqueológico, paisagístico, turístico:
O bem que compõe o chamado patrimônio cultural traduz 
a história de um povo, sua formação, cultura e, portanto, os 
próprios elementos identificadores de sua cidadania, que 
constitui princípio fundamental norteador da República 
Federativa do Brasil.
 Por fim, o meio ambiente do trabalho, que vem tutelado 
imediatamente no art. 200, VIII, da Constituição Federal, constitui:
o local onde as pessoas desempenham suas atividades 
laborais, sejam remuneradas ou não, cujo equilíbrio está 
baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes 
que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos 
trabalhadores, independente da condição que ostentem 
(homens ou mulheres, maiores ou menores de idade, 
celetistas, servidores públicos, autônomos etc.)8 . 
 A proteção ao meio ambiente do trabalho, acima de tudo, se 
volta à proteção da saúde e à segurança do trabalhador onde desenvolve 
suas atividades.
8 Curso de direito ambiental brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 19-22.
13 
3. Os direitos metaindividuais 
 Os direitos metaindividuais são considerados direitos coletivos 
lato sensu, também denominados transindividuais, uma vez que 
ultrapassam os limites da esfera jurídica individual e abrangem, uma veztutelados, um número indeterminado ou considerável de pessoas.
 Pode-se afirmar que a evolução e o reconhecimento dos direitos 
metaindividuais coincidem com o aparecimento da sociedade de massa 
e, por conseguinte, com o surgimento dos conflitos de massa nesta 
sociedade. Tal fenômeno é percebido, notadamente, após o advento 
da Revolução Industrial ocorrido na Inglaterra, no século XVIII9. A partir 
daí, intensificaram-se os problemas que passaram a atingir um número 
indeterminado ou considerável de pessoas.
 Segundo Gregório Assagra de Almeida (2003), a preocupação 
com a tutela dos direitos de massa, porém
vem realmente surgir com o movimento mundial para o 
acesso à justiça, a partir das décadas de 60 e 70, do século 
passado, naquilo que Mauro Cappelletti e Bryant Garth 
denominam segunda onda renovatória do acesso, que foi 
pautada pela representação dos interesses difusos 10.
 Nos dias de hoje, constata-se a existência de problemas de 
natureza consumerista, ambiental, relacionados à saúde, à educação, 
dentre outros, que atingem, muitas vezes, igualmente e ao mesmo tempo, 
parte considerável da sociedade de forma a reclamar a intervenção do 
Estado, em especial, através do Judiciário. Para a proteção desses novos 
direitos coletivos que surgem, revelam-se indispensáveis os instrumentos 
de proteção coletiva a serem enfrentados na segunda parte do estudo.
 É importante destacar que, especialmente, a partir do advento 
9 Trata-se de um marco social na intensificação dos conflitos de massa, 
porém a origem do processo coletivo tem sido considerada mais remota, 
fazendo-se referência às ações populares do Direito Romano.
10 Direito Processual Coletivo Brasileiro: um novo ramo do direito 
processual. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 42.
14 
do Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/1990, passou-se a 
fazer referência expressa no ordenamento jurídico à existência de três 
espécies de direitos metaindividuais, os quais vêm identificados no art. 
81 do aludido diploma, da seguinte forma:
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores 
e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, 
ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se 
tratar de:
I – Interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para 
efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza 
indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas 
e ligadas por circunstâncias de fato;
II – Interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, 
para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza 
indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe de 
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma 
relação jurídica base;
I – Interesses ou direitos individuais homogêneos, assim 
entendidos os decorrentes de origem comum.
 Pelo que se infere da conceituação supra, o legislador utilizou-
se de três elementos para identificar os direitos metaindividuais, quais 
sejam: (i) os sujeitos a serem beneficiados pela concessão da tutela 
jurisdicional; (ii) a relação havida entre eles ou com a parte contrária, no 
caso dos coletivos stricto sensu, além da (iii) análise do bem a ser tutelado, 
para se aferir se o mesmo seria divisível ou não. 
 Segundo o Prof. José Carlos Barbosa Moreira11 , os direitos 
difusos e coletivos stricto sensu seriam essencialmente coletivos, 
enquanto os individuais homogêneos seriam acidentalmente coletivos. 
Tal assertiva decorre, notadamente, da análise do bem a ser objeto de 
proteção no processo coletivo, já que na primeira classificação mostra-se 
de fundamental relevância a indivisibilidade do bem.
11 “Tutela jurisdicional dos interesses coletivos ou difusos”. Temas de 
Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 1984, 3ª série, p. 195-197.
15 
 Assim, a proteção aos direitos difusos é capaz de atingir um 
número indeterminado de pessoas, ligadas, entre si, por circunstâncias 
fáticas comuns. Levando em conta a indivisibilidade do bem, pode-
se afirmar que referida tutela atingiria igualmente a todos que dela se 
beneficiariam. 
 Pode-se, inicialmente, analisar alguns exemplos que permitirão 
uma melhor compreensão da matéria. Quando ocorre divulgação de 
propaganda enganosa acerca de determinado produto, é possível que um 
número indeterminado de pessoas possa vir a ser beneficiado, através do 
julgamento procedente de pedido em ação coletiva, da qual se pretenda 
impedir a publicidade indevida (rádio, televisão, internet etc.).
 Da mesma forma, a propositura de ação coletiva para defesa/
conservação do patrimônio cultural e histórico, como, por exemplo, o 
museu aberto de Congonhas/MG, que reúne obras do Aleijadinho ou no 
Pelourinho, em Salvador/BA, permitirá a proteção de direito difuso, cuja 
tutela beneficiará um número indeterminado de pessoas.
 Já os direitos coletivos stricto sensu seriam aqueles cujos 
beneficiários são passíveis de determinação, já que ligados entre si ou 
com a parte contrária no processo, por uma relação jurídica base, que, 
ressalta-se, normalmente é anterior ao próprio surgimento do conflito. 
Além disso, também aqui se verifica a indivisibilidade do bem a ser 
protegido a partir de um provimento capaz de atingir igualmente os 
interessados.
 Destaca José Marcelo Menezes Vigliar12 que, em determinado 
momento, foi proposta ação civil pública com o objetivo de uniformizar 
a forma de realização de revista feita pelas indústrias têxteis em seus 
empregados, ao final de suas jornadas, quando se retiravam de seu 
estabelecimento industrial. Embora já tivesse sido reconhecido em juízo 
que a referida revista não afetava nenhuma garantia constitucional dos 
trabalhadores, o pedido deduzido na ação civil pública foi acolhido, 
determinando que a autorizada revista fosse feita com observância a um 
mínimo de critério, ou seja, em local reservado, com pessoas do mesmo 
sexo promovendo a revista, com a presença de uma testemunha dos 
empregados e outra do empregador etc. Chama atenção para o fato de
12 Ações coletivas para concursos públicos. 2 ed. Salvador: Podivm, 2009, 
p. 35.
16 
que tal decisão favorece apenas aqueles que pertencem ao mesmo 
grupo, categoria ou classe de pessoas, in casu, todos os funcionários das 
indústrias têxteis.
 Os direitos individuais homogêneos, por sua vez, são individuais, 
de que são titulares pessoas indeterminadas, ligadas entre si por 
circunstâncias fáticas comuns. As afinidades ou semelhanças que podem 
surgir em diversos lugares ou momentos permitem que os mesmos 
possam ser tutelados coletivamente.
 Na medida em que são, na sua essência, direitos individuais, o 
bem objeto da proteção mostra-se divisível, diferentemente dos difusos 
e coletivos que têm em comum a indivisibilidade do bem a ser tutelado 
em sede de ação coletiva. Cumpre destacar que, quando da prolação 
do provimento final nesta ação, a tutela se apresenta como única, o 
que, num primeiro momento, dá a falsa impressão de que atingirá a 
todos igualmente. Porém, de um modo geral, ter-se-á um provimento 
genérico que dependerá da iniciativa de cada um dos atingidos para 
buscar individualmente, em juízo, num segundo momento, a liquidação 
da decisão, de acordo com as peculiaridades de cada qual, para, em 
seguida, promover-se a execução e realização dos direitos. Assim, até o 
momento da liquidação e execução, os direitos individuais homogêneos 
apresentam-se, em juízo, do mesmo modo que os difusos e os coletivos, 
como se indivisíveis fossem.
 A respeito de tais direitos, existe uma polêmica sobre sua 
natureza, pois há autores que os identificam como direitos individuais 
a serem tutelados coletivamente e outros que os identificam como 
direitos coletivos.Prevalece, entre os doutrinadores pátrios, o primeiro 
entendimento, de maneira a se reconhecer que os direitos em tela são, na 
sua essência, individuais, mas que, dada a semelhança das circunstâncias 
de fato ocorridas, ou seja, em razão de sua homogeneidade, podem ser 
tutelados coletivamente.
 A respeito deles, destacam-se as lições de Teori Albino Zavascki13:
Não se trata, já se viu, de um novo direito material, mas 
simplesmente de uma nova expressão para classificar 
certos direitos subjetivos individuais, aqueles mesmos 
aos quais se refere o CPC no art. 46, ou seja, direitos que 
13 Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de 
direitos. São Paulo: RT, 2006, p. 156.
17 
‘derivarem do mesmo fundamento de fato ou de direito’ 
(inciso II) ou que tenham, entre si, relação de afinidade ‘por 
um ponto comum de fato ou de direito’ (inciso IV).
A homogeneidade não é uma característica individual 
e intrínseca desses direitos subjetivos, mas sim uma 
qualidade que decorre da relação de cada um deles com 
os demais direitos oriundos da mesma causa fática ou 
jurídica. Em outras palavras, a homogeneidade não altera 
nem compromete a essência do direito, sob seu aspecto 
material, que, independentemente dela, continua sendo 
um direito subjetivo individual. A homogeneidade decorre 
de uma visão do conjunto desses direitos materiais, 
identificando pontos de afinidade e de semelhanças 
entre eles e conferindo-lhes um agregado formal próprio, 
que permite e recomenda a defesa conjunta de todos 
eles. Os direitos homogêneos, repita-se o que escreveu 
Benjamin, “são, por esta via exclusivamente pragmática, 
transformados em estruturas moleculares, não como fruto 
de uma indivisibilidade inerente ou natural (interesses e 
direitos públicos e difusos) ou da organização ou existência 
de uma relação jurídica-base (interesses coletivos stricto 
sensu), mas, por razões de facilitação de acesso à justiça, 
pela priorização da eficiência e da economia processuais” 
(...).
 Há alguns anos, foi proposta, em São Paulo, ação civil pública 
por um dos legitimados coletivos, objetivando, dentre outras coisas, 
a reparação dos danos causados às consumidoras que fizeram uso de 
“pílulas de farinha” (anticoncepcional sem o princípio ativo) e acabaram 
engravidando. As vítimas, em lugares diversos e em momentos distintos, 
consumiram o mesmo produto viciado e ficaram grávidas, cada qual 
com sua realidade e seus problemas. Desta forma, ao ser acolhido o 
pedido no âmbito da ação coletiva proposta (também) para a defesa de 
direitos individuais homogêneos, foi o laboratório condenado a ressarcir 
as vítimas, que, oportunamente, levando em conta as circunstâncias 
dos casos concretos, promoveram a liquidação individual da sentença 
condenatória genérica para demonstrar o nexo de causalidade e os 
prejuízos sofridos, a fim de, em seguida, promoverem a execução da 
obrigação de pagar.
 A propósito, segundo Luiz Paulo da Silva Araújo Filho, “uma 
ação coletiva para a defesa de direitos individuais homogêneos não 
significa a simples soma das ações individuais. Às avessas, caracteriza-
se a ação coletiva por interesses individuais homogêneos exatamente 
18 
porque a pretensão do legitimado concentra-se no acolhimento de uma 
tese jurídica geral, referente a determinados fatos, que pode aproveitar 
a muitas pessoas. O que é completamente diferente de apresentarem-
se inúmeras pretensões singularizadas, especificamente verificadas em 
relação a cada um dos respectivos titulares do direito” 14. (grifamos)
 Os direitos metaindividuais são novas categorias criadas para 
melhor permitir a tutela de direitos coletivos (difusos e coletivos stricto 
sensu) e a tutela coletiva de direitos (direitos individuais homogêneos – 
DIH), objetivando garantir com mais eficiência o acesso à ordem jurídica 
justa.
 Para Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr., “são conceitos interativos 
de direito material e processual, voltados para a instrumentalidade, para 
a adequação ao direito material da realidade hodierna e, dessa forma, 
para sua proteção pelo Poder Judiciário”15 .
 Para os autores, o Código de Defesa do Consumidor teria 
conceituado os direitos metaindividuais dentro da perspectiva 
processual, com vistas a ampliar sua efetivação. A atitude mais correta 
seria, então, promover a fusão entre o direito subjetivo (afirmado) e a 
tutela pretendida, para identificar na demanda instaurada de qual direito 
se está a tratar, ou seja, indispensável é o exame acerca da causa de pedir 
e do pedido. Com isso, sustenta-se que os direitos coletivos lato sensu são 
direitos a meio do caminho, que possuem um alto grau de interatividade 
entre o direito processual e o direito material.
 Quando se pensa na defesa judicial do meio ambiente, em geral, 
pensa-se numa ação coletiva proposta para defesa de direito difuso, 
levando em conta os elementos antes descritos. Ocorre que dada a 
abrangência do conceito e da classificação de meio ambiente, não é 
possível defini-lo previamente como um direito difuso, pois é preciso 
verificar, a partir da hipótese enfrentada, ou seja, do direito invocado e 
da tutela reclamada, de qual direito metaindividual estamos a tratar. 
14 Ações coletivas: a tutela jurisdicional dos direitos individuais homogêneos. 
Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 114.
15 Curso de Direito Processual Civil: Processo Coletivo, volume 4. Salvador: 
Edições Podivm, 2007, p. 81.
19 
4. Jurisdição civil coletiva: aspectos gerais do processo 
coletivo
 4.1. Considerações introdutórias sobre a importância do 
processo coletivo
 No estudo do acesso à justiça, o processo coletivo há muito vem 
ganhando especial destaque, tendo sido apontada a implementação da 
tutela dos direitos difusos como a segunda onda renovatória do acesso 
à justiça, na clássica obra Acesso à Justiça de Mauro Cappelletti e Brian 
Garth.
 Prestigia-se esta alternativa por, sem dúvida, representar um 
caminho mais eficiente para resolução de questões de grande alcance 
social, econômico, político, etc. Através do processo coletivo, possibilita-
se a concessão de um único provimento que venha a repercutir 
favoravelmente na esfera jurídica de muitas pessoas, sejam elas 
indeterminadas ou determináveis. 
 Com isso, ter-se-á a possibilidade de ver a efetiva realização 
do princípio do acesso à justiça, previsto no art. 5º, inciso XXXV, da 
Constituição Federal de 1988, com a concessão de uma decisão, pelo 
menos do ponto de vista processual, mais célere e, portanto, capaz de 
melhor atender aos fins a que se destina o processo, ou seja, de ser útil e 
efetivo do ponto de vista do direito material.
 Aqui no Brasil, pode-se afirmar que a primeira ação coletiva a 
ganhar destaque foi a ação popular, prevista inicialmente na Constituição 
de 1934 e regulamentada em 1965, com o advento da Lei 4.717. Como 
se sabe, nesta época, vivíamos um momento extremamente delicado 
do ponto de vista político e de absoluto desrespeito aos direitos 
fundamentais, portanto, não havia qualquer possibilidade de o cidadão 
se insurgir livremente contra os atos do poder público, sem correr sérios 
riscos de sofrer represálias. 
 Dessa forma, há uma longa lacuna desde o advento da referida 
lei até que o processo coletivo fosse incorporado realmente à jurisdição 
contemporânea, como forma de atuação desta na defesa dos direitos 
fundamentais. E isto ocorre nos anos 80, notadamente, com a Lei da
20 
 Ação Civil Pública – Lei 7.347 –, em 198516 .
 É preciso destacar que, também nos anos 80, antes da publicação 
desta lei, outra a precedeu, também de fundamental importância para o 
sistema de proteção coletiva, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente– Lei 6.938/1981. Foi com o advento desta lei que passou o Ministério 
Público a ter legitimidade para ajuizar ação civil de reparação de danos 
causados ao meio ambiente.
 Ainda nesse período, foi promulgada a Constituição Federal 
de 1988, nossa carta cidadã, que se revela extremamente generosa 
na ampliação dos direitos fundamentais, consagrando, em especial, 
os instrumentos de proteção aos direitos metaindividuais. Através da 
Constituição, foram criados novos mecanismos como o mandado de 
segurança coletivo (art. 5º, inciso LXX) e o mandado de injunção (art. 5º, 
inciso LXXII), que também pode ser coletivo, além de ter sido a ação civil 
pública e o inquérito civil alçados a nível constitucional (art. 129, inciso III, 
da CF).
 Cerca de dois anos depois, foi publicada a Lei 8.078/1990, que 
instituiu o Código de Defesa do Consumidor, diploma extremamente rico 
na previsão de regras pertinentes ao processo coletivo, em especial as 
que constam do título III de tal ato normativo.
 Ainda hoje não temos um Código de Processo Coletivo, ou 
16 Segundo destaca Marcelo Abelha Rodrigues, “a lei de ação civil pública 
é de autoria mista. Trata-se da mescla de dois projetos de lei que tramitavam 
sob diversa numeração. Um deles, o original (Projeto Bierrembach) é de autoria 
de Ada Pellegrini Grinover, Cândido Rangel Dinamarco e Waldemar Mariz de 
Oliveira, e tinha por objetivo criar uma lei processual para a defesa do direito 
ao meio ambiente, tendo por base a ação de responsabilidade mencionada no 
art. 14, § 1º da Lei 6.938/81. O outro projeto, que, embora tenha surgido depois, 
alcançou primeiramente o status de lei, é de autoria do Ministério Público de 
São Paulo (Nelson Nery Júnior, Edis Milaré e Antônio Augusto Mello de Camargo 
Ferraz). Neste projeto, que aproveitou as bases do anterior, houve sensível 
ampliação da legitimidade ativa; do objeto de proteção que não mais se limitaria 
à proteção do meio ambiente; da competência local do dano; do inquérito civil; 
a tipificação da conduta lesiva ao meio ambiente como crime etc. O remédio, 
embora não seja pioneiro na defesa dos interesses difusos, é, sem dúvida, o mais 
completo. Tem inspiração nas ações de classe norte-americana. Na verdade, 
trata-se de uma lei processual coletiva, que acompanhava o fenômeno de 
massificação da sociedade, especialmente voltada para a tutela processual dos 
conflitos de massa (supra-individuais) que não eram satisfatoriamente resolvidos 
pelo sistema exclusivista e individualista do CPC, bem como pelo tímido aparato 
da ação popular”. (Ação Civil Pública, 2ª edição. Rio de Janeiro: 2004, p. 17, nota 
de número 10)
21 
uma lei que estabeleça regras gerais para o mesmo, porém reconhece 
a doutrina pátria que existe no nosso ordenamento jurídico um 
microssistema processual coletivo integrado basicamente pela LACP (Lei 
7.347/85), a Constituição Federal de 1988 (sempre) e o CDC (Lei 8.078/90, 
notadamente, título III). Juntos, permitem a compreensão dos princípios 
e das regras que regem os institutos processuais coletivos.
 Evidentemente, existem muitos outros atos normativos de 
capital importância para os processos coletivos, mas que serão aplicados 
em casos particulares, como normas especiais somadas àquelas tidas por 
gerais. Assim ocorre em relação à lei de ação popular, lei de improbidade 
administrativa, ao estatuto da criança e do adolescente, ao estatuto do 
idoso, etc.
 Destaca Marcelo Abelha Rodrigues que: “tratando-se de tutela 
jurisdicional do meio ambiente, o conjunto de técnicas processuais 
(provimentos, processos e procedimentos) oferecidas pelo legislador 
como sendo aptas para debelar as crises ambientais – como também 
as crises envolvendo interesses difusos tout court – encontra-se, 
precipuamente, sedimentado no que se convencionou chamar de 
“jurisdição civil coletiva” ou microssistema processual coletivo ou ainda 
sistema processual coletivo. Trata-se, na verdade, de um conjunto de 
regras e princípios de direito processual coletivo, ou seja, técnicas 
processuais que foram criadas para serem usadas para debelar as crises 
de interesses coletivos (lato sensu), dentre as quais situa-se a tutela do 
equilíbrio ecológico” 17. 
 Depois de alguns anteprojetos elaborados para a possível 
criação de um Código de Processo Coletivo, por diversos estudiosos 
no âmbito dos cursos de pós-graduação da Universidade de São Paulo 
(USP) e das Universidades do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Estácio 
de Sá (UNESA), veio a ser criado um Anteprojeto, com inspiração nestes 
primeiros, pela Comissão Especial nomeada pelo Ministro da Justiça, 
através da Portaria 2.481, no ano de 2008.
 Este anteprojeto gerou o Projeto de Lei nº 5139, que daria novos 
contornos à disciplina dos processos coletivos e provocaria a revogação 
da Lei 7.347/85 e parte das regras constantes da Lei 8.078/90 (arts. 81 a 84, 
87, 90 a 95, 97 a 100, 103 e 104), além de tantos outros atos normativos. 
17 Processo civil ambiental. São Paulo: RT, 2008, p. 65.
22 
Vale salientar que, em março de 2010, foi inesperadamente rejeitado 
pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, sob 
o incompreensível argumento de que a sociedade não teria participado 
de sua elaboração. Embora ainda haja recurso pendente contra tal 
rejeição, a comunidade jurídica crê que tal projeto, por ora, encontra-se 
praticamente sepultado.
 Por fim, é importante ressaltar, especialmente a partir das lições 
de Gregório Assagra de Almeida, que o Direito Processual Coletivo (no 
qual se insere a análise da tutela jurisdicional do meio ambiente) vem 
se apresentando como ramo autônomo do direito, “que possui natureza 
de direito processual-constitucional-social, cujo conjunto de normas e 
princípios a ele pertinente visa disciplinar a ação coletiva, o processo 
coletivo, a jurisdição coletiva, a defesa no processo coletivo e a coisa 
julgada coletiva, de forma a tutelar, no plano abstrato, a congruência 
do ordenamento jurídico em relação à Constituição e, no plano concreto, 
pretensões coletivas em sentido lato, decorrentes dos conflitos coletivos 
ocorridos no dia-a-dia da conflituosidade social” 18. 
 4.2. Legitimidade de partes
 O conceito de partes, geralmente, é construído a partir de 
critérios processuais, considerando-se autor aquele que figura no pólo 
ativo da relação jurídica processual e réu o que figura no pólo passivo 
desta. 
 No âmbito da jurisdição contenciosa, trabalha-se, normalmente, 
com uma relação jurídica processual triangular composta por autor, juiz 
e réu, figurando o segundo no vértice superior da referida relação, por 
estar entre as partes e representando, na qualidade de agente estatal, o 
Estado.
 A legitimidade de partes ou legitimidade ad causam é considerada 
uma das condições da ação, ao lado do interesse processual e da 
possibilidade jurídica do pedido, segundo concepção original de Enrico 
Tullio Liebman adotada no Brasil. Inspirados nesta teoria, considera-
se o direito de ação abstrato, uma vez que notoriamente independe 
da existência do direito material afirmado em juízo, porém vinculado a 
certas condições para que se possa exigir legitimamente o provimento 
18 Direito processual coletivo brasileiro: um novo ramo do direito processual. 
São Paulo: Saraiva, 2003, p. 22.
23 
jurisdicional19 .
 As condições da ação, nesse sentido, são verdadeiros elos de 
ligação entre o direito material e o direito processual, já que o seu exame 
requer a investigação, ainda que superficial, de questões ligadas ao direito 
material reclamado. Para se aferir, por exemplo, a legitimidade é preciso 
analisar os fatos e fundamentos jurídicos constantes da inicial (causa de 
pedir), assim como o pedido,além dos documentos que a instruem, para 
se saber se, de alguma forma, a ligação das partes surgiu anteriormente 
à instauração do processo e justifica a formação da relação jurídica 
processual, pois legitimado ativo, em princípio, é o que se diz titular do 
direito subjetivo material afirmado na inicial a reclamar proteção, e o 
legitimado passivo, o titular da obrigação correspondente.
 A legitimidade só pode ser aferida na análise do caso concreto, 
possuindo nitidamente caráter relacional.
 No processo civil, regulado pelo Código de Processo Civil, de 
índole individualista, impera a legitimidade ordinária, de modo que o 
autor, em geral, é aquele que vai a juízo em nome próprio, defendendo 
direito próprio, e o réu, da mesma forma, é aquele citado no processo 
para, em nome próprio, defender seus supostos direitos.
 Excepcionalmente, o Código de Processo Civil prevê, em seu 
art. 6º, a atuação do legitimado extraordinário, permitindo que alguém, 
autorizado por lei, vá a juízo em nome próprio para defender direitos 
alheios. É o que acontece, por exemplo, quando o Ministério Público 
propõe ação de investigação de paternidade, em favor de menor, nos 
termos do art. 2º, § 4, da Lei 8.560/1992; o autor é o Ministério Público, 
que atua como legitimado extraordinário, em defesa dos direitos do 
menor, ora substituído.
 No âmbito do processo coletivo, verifica-se que os legitimados 
para a defesa dos direitos metaindividuais estão previstos em lei. Á luz do 
microssistema processual coletivo, em especial das regras do art. 5º da 
Lei 7.347/85 e do art. 82 da Lei 8.078/90, que dispõem sobre legitimidade, 
o rol de legitimados é relativamente extenso, senão vejamos.
19 ARAÚJO CINTRA, Antônio Carlos de; DINAMARCO, Cândido Rangel 
e GRINOVER, Ada Pellegrini. Teoria Geral do Processo, 15ª edição. São Paulo: 
Malheiros, 1999, pp. 251 a 258.
24 
Art. 5º. Tem legitimidade para propor a ação principal e a 
ação cautelar:
 I – o Ministério Público;
 II – a Defensoria Pública;
 III – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
 IV – a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade 
de economia mista;
 V – a associação que, concomitantemente, 
a) esteja constituída há pelos menos 1 (um) ano nos termos 
da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção 
ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, 
à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, 
histórico, turístico e paisagístico.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são 
legitimados concorrentemente:
 I – o Ministério Público;
 II – a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
 III – as entidades e órgãos da administração pública, 
direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, 
especificamente destinados à defesa dos interesses e 
direitos protegidos por este Código;
 IV – as associações legalmente constituídas há pelos 
menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a 
defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código, 
dispensada a autorização assemblear.
§ 1º O requisito da pré-constituição pode ser dispensado 
pelo juiz, nas ações previstas no art. 91 e seguintes, 
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela 
dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do 
bem jurídico a ser protegido.
 Em razão da reciprocidade dos dois diplomas legais, qualquer 
dos legitimados acima elencados poderá, em tese, propor ação coletiva. 
Há certas ações coletivas, porém, que possuem regras próprias sobre 
legitimidade e não se guiarão pelas regras gerais ora expostas, como 
25 
ocorre com a ação popular, cujo autor é exclusivamente o cidadão (art. 5º, 
inciso LXXIII, da CF), e o mandado de segurança coletivo, que apresenta 
um rol mais limitado (art. 5º, inciso LXX, da CF).
 A doutrina pátria tem sustentado que a legitimidade ativa, nos 
processos coletivos, é exclusiva, concorrente e disjuntiva, o que significa 
dizer que (i) estão legitimados a agir apenas aqueles autorizados pelo 
legislador, os quais, em tese, (ii) estão igualmente autorizados a fazê-
lo, (iii) sem que seja necessária a concordância do outro para propor a 
respectiva ação.
 Para explicar a natureza da legitimação, foram utilizadas três 
teses distintas. A primeira busca explicar a natureza da legitimação 
como sendo ordinária, a segunda sustenta ser a mesma extraordinária 
e a terceira, de maneira alternativa, propõe a superação da dicotomia 
legitimidade ordinária x extraordinária, própria do processo civil 
individualista, buscando compreender tal fenômeno com base na teoria 
da legitimação autônoma para a condução do processo. 
 Para uma minoria, que abraça a tese da legitimação ordinária, 
como Kazuo Watanabe 20, o ente coletivo, quando atua no processo 
coletivo, pretende notadamente defender direitos próprios, inerentes á 
própria instituição, segundo seus fins estatutários ou legais.
 A maior parte da doutrina e jurisprudência pátrias, na esteira de 
José Carlos Barbosa Moreira 21, defende que a legitimação é extraordinária, 
pois os entes coletivos atuam em juízo em nome próprio na defesa 
de direitos alheios. O que de fato marca a atuação dos legitimados é 
a busca do provimento favorável que venha a beneficiar um número 
indeterminado ou considerável de pessoas, ou seja, o que se destaca na 
atuação dos legitimados autorizados por lei é o propósito de garantir a 
proteção de direitos alheios e não simplesmente a realização de seus fins 
institucionais.
 Esta teoria, de qualquer modo, é pacificamente aceita quando se 
trata de ação coletiva para a defesa de direitos individuais homogêneos, 
20 “Tutela jurisdicional dos interesses difusos: a legitimação para agir” in 
A tutela dos interesses difusos. Ada Pellegrini Grinover (coord.). São Paulo: Max 
Limonad, 1984, p. 90 e ss..
21 “A ação popular do direito brasileiro como instrumento de tutela 
jurisdicional dos chamados interesses difusos” in Temas de direito processual 
civil. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 111.
26 
pois, neste caso, concordam os autores que os legitimados agem em 
juízo, em nome próprio, na defesa dos direitos individuais divisíveis, que 
abrangem diversas pessoas ligadas entre si por circunstâncias fáticas 
comuns.
 A terceira tese, sustentada notadamente por Nelson Nery 
Júnior22, propugna a adoção de um caminho novo e o abandono da 
dicotomia legitimidade ordinária x extraordinária, própria do processo 
civil individualista. Para os autores, in casu, a legitimação é autônoma 
para a condução do processo, o que significa dizer que os legitimados 
estão autorizados, por lei, a propor ação coletiva e que tal autorização é 
suficiente para justificar o exercício do direito de ação, independente da 
análise da titularidade do direito material, o que, em certos casos, aliás, 
não seria possível dada a inexistência desses titulares, como ocorre com 
os direitos difusos. 
 Esta teoria é criticada entre nós pelo fato de desvincular a 
análise da legitimidade dos aspectos do direito subjetivo material 
na sua construção. Como a legitimidade é condição da ação e, por 
conseguinte, um elo de ligação entre o direito material e o direito 
processual, é preciso averiguar, no caso concreto, se o legitimado, que 
atua no processo, pode em juízo defender os direitos metaindividuais 
reclamados. Em suma, o nosso sistema não é exclusivamente ope legis, 
pois não basta para se propor ação coletiva autorização legal, é preciso, 
outrossim, ser um representante adequado para defender tais direitos, 
o que é indiscutivelmente demonstrado pelas decisões que integram a 
jurisprudência nacional.
 Ao contrário do que defendem os autores da terceirateoria, 
ora comentada, a experiência tem demonstrado que, na análise do 
caso concreto, os juízes não consideram suficiente a atuação judicial 
em razão de mera autorização legal, exigindo, em qualquer caso, 
que o legitimado coletivo seja alguém cuja razão de existir, cujos fins 
institucionais e legais demonstram tratar-se de um representante 
adequado, dada a compatibilidade de sua atuação com a defesa dos 
direitos metaindividuais.
 Esta realidade é facilmente depreendida da previsão legal acerca 
das associações civis, pelo disposto nos arts. 5º, inciso V, da Lei 7.347/85 e 
22 Código de Processo Civil Comentado e legislação extravagante, 7ª edição. 
São Paulo: RT, 2003, p. 1.885.
27 
82, inciso IV, do CDC.
 Aqui no Brasil, a representação adequada tem sido aferida a 
partir da análise da pertinência temática, que exige a afinidade entre 
os propósitos da atuação do legitimado, a partir de suas finalidades 
institucionais e/ou legais, e os direitos que se pretende tutelar em juízo.
 Nesse sentido, pode-se dizer que o Ibama, autarquia federal, é 
um legitimado coletivo que pode atuar, em juízo, como representante 
adequado dos direitos metaindividuais decorrentes da defesa do meio 
ambiente, o qual, provavelmente, não seria assim considerado em relação 
à defesa de direitos dos consumidores, dos segurados da Previdência 
Social, dos deficientes físicos, dentre outros, por falta de pertinência 
temática. 
 Pensamos, enfim, que a legitimação dos entes coletivos é 
extraordinária e deve ser compreendida a partir da conjugação do critério 
legal (ope legis), que autoriza a propositura da ação, com o exame, in 
concreto, pelo juiz, da representação adequada, atualmente aferida pela 
análise da pertinência temática (ope judicis).
 Na hipótese de ser o ente coletivo considerado parte ilegítima 
para figurar no pólo ativo da relação processual, e isto provavelmente 
ocorrerá em razão da falta de representação adequada para o caso, 
tem defendido a doutrina pátria que, ao invés de simplesmente julgar 
o autor carecedor de ação, por falta de legitimidade (condição da ação) 
e extinguir o processo, nos termos do art. 267, inciso VI, do CPC, deverá 
o magistrado promover a intimação do Ministério Público (quando não 
figurar como autor) e de outros legitimados coletivos para, querendo, 
darem prosseguimento ao feito. Com isso, permitir-se-á a ampla defesa 
dos direitos metaindividuais, aproveitando-se o processo já instaurado.
 Em resumo, o controle da ilegitimidade de partes no processo
 coletivo não deverá gerar os mesmos efeitos do processo individual23 .
23 Vale destacar que o mencionado Projeto de Lei 5139 possui regra 
expressa nesse sentido. Prevê o art. 9º que “não haverá extinção do processo 
coletivo, por ausência das condições da ação ou pressupostos processuais, sem 
que seja dada oportunidade de correção do vício em qualquer tempo ou grau 
de jurisdição ordinária ou extraordinária, inclusive com a substituição do autor 
28 
 Quanto ao legitimado passivo, é preciso inicialmente considerar 
que qualquer um - pessoa física, jurídica, ente formal - pode figurar no 
pólo passivo da relação jurídica processual, não havendo regra geral que 
discipline esta questão.
 Ademais, em matéria ambiental, a partir do entendimento de 
que a responsabilidade ambiental é solidária, têm entendido os tribunais 
pátrios que, em caso de serem vários os responsáveis pela ação ou omissão 
lesiva, será facultativa a formação do litisconsórcio, salvo na hipótese de 
ação popular, na qual a formação deste se mostra obrigatória24.
 
 A inserção do Poder Público no pólo passivo da lide, em qualquer 
caso, pode se dar em decorrência da omissão no exercício de sua função 
fiscalizadora estabelecida em lei 25.
coletivo, quando serão intimados pessoalmente o Ministério Público e, quando 
for o caso, a Defensoria Pública, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios 
de comunicação social, podendo qualquer legitimado adotar as providências 
cabíveis, em prazo razoável, a ser fixado pelo juiz”.
24 PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO 
AMBIENTAL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. EDIFICAÇÃO DE CASA 
DE VERANEIO. AUTORIZAÇÃO ADMINISTRATIVA. LITISCONSÓRCIO PASSIVO 
FACULTATIVO. 1. A ação civil pública ou coletiva por danos ambientais pode 
ser proposta contra poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou 
privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de 
degradação ambiental (art. 3º, IV, da Lei 6.898⁄91), co-obrigados solidariamente 
à indenização, mediante a formação litisconsórcio facultativo, por isso que a sua 
ausência não tem o condão de acarretar a nulidade do processo. Precedentes da 
Corte: REsp 604.725⁄PR, DJ 22.08.2005; Resp 21.376⁄SP, DJ 15.04.1996 e REsp 
37.354⁄SP, DJ 18.09.1995. 2. Recurso especial provido para determinar que o 
Tribunal local proceda ao exame de mérito do recurso de apelação. (STJ. REsp. 
884150/MT, Rel. Min. Luiz Fux, in DJe de 07/08/2008).
25 PROCESSUAL CIVIL. AMBIENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO 
EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE DO ESTADO DE SÃO PAULO 
29 
 É preciso, porém, ainda que em breves linhas, fazer referência 
à possibilidade de haver ação coletiva passiva ou ação duplamente 
coletiva. No primeiro caso, seria a ação coletiva passiva, em razão de o 
legitimado coletivo atuar no pólo passivo da lide, defendendo direitos 
metaindividuais; no segundo caso, haveria ação duplamente coletiva, 
pois teríamos tanto no pólo ativo, quanto no passivo, entes coletivos 
defendendo direitos metaindividuais, como ocorre tradicionalmente 
com os dissídios coletivos na Justiça do Trabalho.
 Também aqui a doutrina pátria se divide, pois há doutrinadores 
que afirmam que o nosso sistema só autoriza a atuação do legitimado 
coletivo se for no pólo ativo, não sendo possível figurar no pólo passivo 
na defesa dos direitos metaindividuais 26. 
FIGURAR NO PÓLO PASSIVO. ACÓRDÃO RECORRIDO EM CONSONÂNCIA 
COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. SÚMULA 83⁄STJ. OFENSA AO ART. 535 DO 
CPC REPELIDA. 1. Não existe ofensa ao art. 535 do CPC quando o Tribunal de 
origem, embora sucintamente, pronuncia-se de modo claro e suficiente sobre a 
questão posta nos autos. Ademais, é cediço nesta Corte que o magistrado não 
está obrigado a rebater, um a um, todos os argumentos listados pelas partes 
se ofertou a prestação jurisdicional de forma fundamentada. 2. A decisão de 
primeiro grau, que foi objeto de agravo de instrumento, afastou a preliminar de 
ilegitimidade passiva porque entendeu que as entidades de direito público (in 
casu, Município de Juquitiba e Estado de São Paulo) podem ser arrostadas ao pólo 
passivo de ação civil pública, quando da instituição de loteamentos irregulares 
em áreas ambientalmente protegidas ou de proteção aos mananciais, seja por 
ação, quando a Prefeitura expede alvará de autorização do loteamento sem 
antes obter autorização dos órgãos competentes de proteção ambiental, ou, 
como na espécie, por omissão na fiscalização e vigilância quanto à implantação 
dos loteamentos. 3. A conclusão exarada pelo Tribunal a quo alinha-se à 
jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, orientada no sentido de 
reconhecer a legitimidade passiva de pessoa jurídica de direito público para 
figurar em ação que pretende a responsabilização por danos causados ao meio 
ambiente em decorrência de sua conduta omissiva quanto ao dever de fiscalizar. 
Igualmente, coaduna-se com o texto constitucional, que dispõe, em seu art. 23, 
VI, a competência comum para a União, Estados, Distrito Federal e Municípios 
no que se refere à proteção do meio ambiente e combate à poluição em qualquer 
de suas formas. E, ainda, o art. 225, caput, também da CF, que prevê o direito 
de todos a um meio ambiente ecologicamenteequilibrado e impõe ao Poder 
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e 
futuras gerações. 4. A competência do Município em matéria ambiental, como 
em tudo mais, fica limitada às atividades e obras de “interesse local” e cujos 
impactos na biota sejam também estritamente locais. A autoridade municipal 
que avoca a si o poder de licenciar, com exclusividade, aquilo que, pelo texto 
constitucional, é obrigação também do Estado e até da União, atrai contra si a 
responsabilidade civil, penal, bem como por improbidade administrativa pelos 
excessos que pratica. 5. Incidência da Súmula 83⁄STJ. 6. Agravo regimental não-
provido (STJ. REsp. 973577/SP, Rel. Min. Mauro Campbell, in DJe de 19/12/2008).
26 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Ação civil pública e meio ambiente. Rio de 
30 
 Os argumentos normalmente utilizados passam pela ausência 
de previsão legal, pela dificuldade de identificação do representante 
adequado para atuar no pólo passivo, uma vez que o legislador não 
fornece elementos para sua aferição, e pelas dificuldades de aplicação 
do sistema da coisa julgada previsto no art. 103 do CDC para o caso.
 Há, porém, quem sustente a possibilidade de o legitimado 
defender os direitos coletivos lato sensu também no pólo passivo da lide, 
seja porque a autorização para agir não é vedada em lei, ao contrário, 
pode ser extraída do sistema, seja porque a aferição da representação 
adequada deverá ser objeto de controle judicial, na análise do caso 
concreto, independentemente de o legislador ter estabelecido critérios 
prévios para sua verificação 27. 
 Ademais, a existência de ações incidentais, como os embargos à 
execução e a ação declaratória incidental, bem como de ações autônomas 
de impugnação, como a ação rescisória e o mandado de segurança, 
revelam a necessidade de o legitimado coletivo figurar no pólo passivo 
da relação processual, defendendo direitos metaindividuais.
 Segundo Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr., “negar a 
possibilidade de ação coletiva passiva é fechar os olhos para a realidade: 
os conflitos de interesses podem envolver particular-particular, particular-
grupo e grupo-grupo. Na sociedade de massas, há conflitos de massa e 
conflitos entre massas”28 .
 Inadmitir as ações coletivas passivas contraria a realidade e 
restringe o acesso à justiça, na medida em que se autoriza o legitimado a 
exercer o direito de ação, mas não o direito de exceção, que se encontra 
intrinsecamente vinculado ao princípio da inafastabilidade do controle 
jurisdicional.
 4.3. Desistência e abandono da ação coletiva
Janeiro: Forense Universitária, 2004, pp. 70 e 71. DINAMARCO, Pedro. Ação civil 
pública. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 269.
27 DIDIER JR., Fredie e ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual 
civil: processo coletivo, volume 4. Salvador: Edições Podivm, 2007, pp. 201 a 205. 
GRINOVER, Ada Pellegrini, “Ações coletivas ibero-americanas: novas questões 
sobre a legitimação e a coisa julgada”. Revista Forense. Rio de Janeiro: Forense, 
2002, nº 361, pp. 7-9.
28 Ob. cit., p. 204.
31 
 Tanto a desistência quanto o abandono têm sido tratados de 
forma semelhante pela doutrina pátria, uma vez que verificada qualquer 
das hipóteses mencionadas deverá ser autorizado o prosseguimento do 
feito por outro legitimado coletivo, ao invés de simplesmente ser extinto 
o processo sem julgamento de mérito, nos termos do art. 267, incisos III e 
VIII, do CPC.
 Para que tal prosseguimento seja viabilizado, é preciso promover 
a intimação do Ministério Público (quando não figurar como autor da 
ação) ou de outro legitimado para que possam dar seguimento ao feito 
em curso.
 Atualmente, o microssistema processual coletivo, no art. 5º, §3º, 
da Lei 7.347/85, trata do tema em debate, porém apenas o faz em relação 
à associação civil, afirmando que, “em caso de desistência infundada ou 
abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou 
outro legitimado assumirá a titularidade ativa”.
 Tal regra, contudo, deverá ser estendida a qualquer outro 
legitimado, com vistas a garantir a preservação do processo coletivo e a 
efetiva proteção dos direitos metaindividuais que se pretende tutelar29 .
 4.4. Competência
 Prevê o art. 2º da Lei 7.347/85 que a ação civil pública deverá ser 
proposta no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência 
29 O Projeto de Lei 5139 também disciplina esta questão, prevendo no 
art. 8º que: “ocorrendo desistência infundada, abandono da ação coletiva 
ou não interposição do recurso de apelação, no caso de sentença de extinção 
do processo ou de improcedência do pedido, serão intimados pessoalmente 
o Ministério Público e, quando for o caso, a Defensoria Pública, sem prejuízo 
de ampla divulgação pelos meios de comunicação social, podendo qualquer 
legitimado assumir a titularidade, no prazo de quinze dias”.
32 
funcional para processar e julgar a causa.
 O critério utilizado preponderantemente pelo legislador para 
distribuição interna da competência nestas ações foi o critério territorial, 
de modo que a ação civil pública deverá ser ajuizada no lugar onde ocorreu 
ou deva ocorrer a lesão ou ameaça a direito, que servirá de fundamento à 
ação coletiva em tela.
 Trata-se, com efeito, de critério territorial, excepcionalmente 
de competência absoluta, a ser rigorosamente observado, sob pena de 
nulidade, não podendo, por óbvio, as partes promover voluntariamente 
a sua modificação. 
 Pecou o legislador ao associar tal critério a outro, o funcional, uma 
vez que, segundo a melhor doutrina pátria, este não deve ser aferido a 
partir de fixação originária e sim como critério de competência derivada, 
como ocorre quando se estabelece a competência dos tribunais para 
o julgamento de recursos ou de juízos diversos para fases distintas do 
processo.
 É claro que a opção do legislador pautou-se por critérios de 
facilitação do acesso à justiça e garantia da efetividade dos provimentos 
judiciais.
 Assevera Marcelo Abelha Rodrigues, em referência ao direito 
ambiental, que: “No direito ambiental, mais do que a existência de 
varas especializadas na questão ambiental, que demanda conhecimento 
jurídico específico do órgão julgador, é preciso que a competência seja 
fixada de forma que o órgão jurisdicional seja aquele que esteja mais 
próximo da situação tutelanda, ou seja, é preciso que o juízo e respectivo 
juiz da causa situem-se em local em que seja possível o maior rendimento 
do princípio da oralidade, bem como a efetividade das decisões por ele 
proferidas”30 . 
 Evidentemente que a partir de outros critérios de competência, 
que levam em conta a matéria em litígio ou as pessoas envolvidas na 
relação processual, poderemos definir se a causa deve ser submetida à 
Justiça Estadual ou Federal.
 Se a causa tiver que ser submetida à Justiça Federal e o local 
30 Processo Civil Ambiental. São Paulo: RT, 2008, p. 92.
33 
da ocorrência do dano não for sede desta, pode-se admitir, pelo art. 2º 
da Lei 7.347/85, a delegação de competência para a Justiça Estadual, 
nos moldes do previsto no art. 108, § 3º, da CF/88? Não tem sido esta 
possibilidade admitida pela jurisprudência, em especial, pelo Supremo 
Tribunal Federal, que entendeu não existir autorização legal expressa 
neste sentido. 
 Assim, diante da omissão do legislador, deverá a ação ser proposta 
na Seção ou Subseção Judiciária que abrange o local da ocorrência do 
dano, mitigando, pois, em certa medida, o rigor do caput do art. 2º da Lei 
7.347/85.
 A propósito, cumpre destacar que o entendimento do Supremo 
Tribunal Federal acabou sendo adotado pelos demais tribunais pátrios, 
inclusive o Superior Tribunal de Justiça, queacabou cancelando sua antiga 
Súmula 183, que dispunha: “Compete ao Juiz estadual, nas comarcas que 
não sejam sede de vara da Justiça Federal, processar e julgar ação civil 
pública, ainda que a União figure no processo”31 .
 Quando os efeitos do dano, contudo, não se restringirem a uma 
única Comarca, a fixação da competência deverá observar as regras 
da prevenção, pois serão igualmente competentes os juízos dos locais 
atingidos.
 Assim, o juízo perante o qual ocorreu a primeira distribuição da 
ação coletiva, pelo que se infere do parágrafo único do art. 2º da Lei da 
ação civil pública, é o prevento para processar e julgar ações idênticas o 
conexas, que tenham sido propostas na mesma Comarca ou em locais
 distintos, versando sobre as mesmas questões litigiosas 32.
 Caso, porém, o dano seja considerado regional ou nacional, 
31 A Seção do STJ cancelou a referida súmula no julgamento dos embargos 
de declaração interpostos no CC 27.676-BA, cuja decisão foi publicada no DJ 
de 27.11.2000, em virtude do julgamento do recurso extraordinário 228.955-9, 
proferido pelo Plenário do STF e publicado em 10.02.2000.
32 Mais à frente, teremos a oportunidade de verificar que a despeito de a 
competência ser absoluta, é possível ocorrer a reunião de processos coletivos, 
por força de conexão ou continência. Além disso, verificaremos que nem sempre 
a litispendência provocará a extinção pura e simples do processo instaurado 
posteriormente.
34 
estabelece o art. 93 do Código de Defesa do Consumidor que ação 
coletiva deverá ser proposta na Capital de um dos Estados envolvidos ou 
no Distrito Federal, que possuem, como se vê, competência concorrente 
para o processamento destas ações.
 O legislador, contudo, não nos oferece critérios objetivos para que 
se possa identificar quando um dano seria regional ou nacional, motivo 
pelo qual teremos que buscar orientação da doutrina e da jurisprudência 
para tanto. 
 Nesse sentido, vale destacar o julgamento ocorrido no Superior 
Tribunal de Justiça, em razão do Recurso Especial nº 1018214, que restou 
noticiado no dia 20 de julho de 2009, no site do STJ, senão vejamos.
 “Ações que envolvem a criação de parque nacional abrangendo 
áreas de dois estados ou mais devem ser processadas e julgadas nas 
capitais dos estados envolvidos ou no Distrito Federal. A decisão da 
Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu a 
incompetência da Subseção Judiciária de Umuarama (PR) sobre ação 
civil pública contra a criação do Parque Nacional da Ilha Grande.
 O decreto atacado pelo Ministério Público criou o parque 
abrangendo nove cidades dos estados do Mato Grosso do Sul e do Paraná, 
sem plano de manejo e afetando atividades econômicas como a pesca. O 
Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) havia mantido a decisão 
do juízo de Umuarama, mas o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e 
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) recorreu, sendo atendido pelo 
STJ.
 O relator, ministro Mauro Campbell Marques, ressaltou que as 
questões resultantes da criação de parque nacional abrangendo áreas de 
dois estados membros terá caráter nacional, conforme dispõe a Lei n. 
7.347/85 – que disciplina a ação civil pública de responsabilidade pelos 
danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de 
valor artístico, estético, histórico e turístico – e o Código de Defesa do 
Consumidor, que determina o foro para ações de caráter nacional ou 
regional. A decisão foi unânime”.
 4.5. Elementos da ação e litispendência
35 
 
 De acordo com as lições básicas do processo civil individualista, 
a ação possui três elementos que a identificam, quais sejam, as partes, a 
causa de pedir e o pedido.
 Quando entre duas ações coletivas há similaridade de elementos, 
pode-se afirmar que há litispendência entre elas, assim como ocorre no 
processo individual. Todavia, no âmbito do processo coletivo tal exame 
requer a análise de outros aspectos como a seguir se verá. 
 As partes – autor e réu – são aquelas que figuram num dos pólos 
da relação jurídica processual, o que demonstra que o critério atualmente 
adotado, entre os juristas nacionais, é notadamente processual. Daí se 
infere que a definição do terceiro no processo é encontrada por negação, 
pois terceiro é aquele que não é parte, que não figura no processo na 
qualidade de autor ou réu.
 Vale destacar, de acordo com as lições antes formuladas a 
respeito de legitimidade, que as partes devem ser legítimas para que 
possam figurar validamente na relação jurídica processual.
 Ocorre que no processo individual, regra geral, a legitimidade é 
ordinária, ou seja, o autor é quem supostamente sofreu lesão ou ameaça 
a direito e o réu aquele que aparentemente deu causa à lesão ou ameaça, 
de modo que ambos atuam em juízo em nome próprio na defesa de 
direito próprio.
 A legitimidade extraordinária é exceção. Assim, só poderão agir 
em juízo, em nome próprio na defesa de direitos alheios, os que estiverem 
autorizados por lei, nos termos do art. 6º do CPC.
 Diferentemente e a despeito do intenso debate doutrinário, viu-
se que nos processos coletivos prepondera a adoção da legitimidade 
extraordinária como regra. Logo, o autor é aquele que, estando 
autorizado por lei (arts. 5º da Lei 7.347/85 e 82 da Lei 8078/90) e sendo 
o representante adequado dos direitos metaindividuais, vai a juízo, em 
nome próprio, para a defesa de direitos alheios.
 No processo coletivo, para fins de identidade de partes, é preciso 
examinar não quem figura no processo como autor da ação, mas em favor 
36 
de quem o legitimado atua, quem são possivelmente os beneficiários da 
tutela jurisdicional, quem são os substituídos, ainda que indeterminados.
 Para esta análise, não é preciso que as ações em confronto sejam 
igualmente nominadas ou adotem o mesmo procedimento, pois estas 
questões não interferem na análise do fenômeno. É possível, assim, 
haver litispendência entre uma ação civil pública proposta pelo Ministério 
Público para a defesa do meio ambiente e uma ação popular proposta 
pelo cidadão, para o mesmo fim, desde que haja identidade da causa de 
pedir e do pedido.
 Com relação à causa de pedir e o pedido – elementos substanciais 
da petição inicial, cuja ausência ou vício gera a inépcia da inicial (art. 295, 
parágrafo único, do CPC), suas explicações não apresentam novidades 
em relação ao processo individual.
 A causa de pedir se constitui no fato ou conjunto de fatos a que 
o autor atribui a produção de certos efeitos jurídicos. No Brasil, adota-se 
a teoria da substanciação, de modo que a causa de pedir é complexa, 
composta dos fatos (causa de pedir remota) e dos fundamentos jurídicos 
(causa de pedir próxima). 
 Ressalte-se que os fundamentos jurídicos não são apresentados 
na forma de artigo de lei ou de citações doutrinárias ou jurisprudenciais. 
Estas referências, sem dúvida, enriquecem o texto da peça inicial, 
mas não representam os fundamentos jurídicos da demanda (direito), 
pois, como se disse, os fundamentos se traduzem nas conseqüências 
operadas na esfera jurídica do autor, ou dos substituídos, pelos fatos 
ilícitos praticados pelo réu, as quais, amparados pelo Direito, levam à 
propositura da ação.
 O pedido, por sua vez, é o núcleo da petição inicial, que traduz o 
mérito da causa. É através do pedido que o autor fixa os limites da lide, 
devendo o magistrado ao prolatar suas decisões restringir-se ao mesmo, 
na medida em que lhe é vedado o julgamento citra, extra ou ultra petita.
 O autor, ao propor a ação, geralmente formula um pedido 
imediato, representado pelo requerimento de reconhecimento do direito 
afirmado em juízo, ou seja, pede ao juizque lhe dê a tutela jurisdicional, 
com o proferimento de sentença favorável. Requer, ainda, em sua inicial, 
o acolhimento do pedido mediato, ou seja, a concessão de provimento 
37 
que permita, em última análise, a obtenção do bem da vida pretendido.
 O pedido deve ser certo e determinado, ou seja, formulado 
expressamente e delimitado quanto ao seu objeto, podendo, porém, 
em certos casos estabelecidos em lei, ser formulado de forma genérica, 
quando, por algum motivo, não se tem dados para estabelecer, desde 
logo, qual é o montante devido ou o bem a ser entregue.
 Na análise da litispendência, é preciso verificar a identidade dos 
elementos da ação antes referidos, com as particularidades relativas às 
partes, próprias do processo coletivo.
 É cediço que entre ação coletiva e ações individuais, não há 
litispendência, pois efetivamente não coincidem seus elementos, 
podendo haver, quando muito, conexão, com a identidade da causa de 
pedir (mais provável) ou do pedido.
 No entanto, é perfeitamente possível haver litispendência entre 
ações coletivas, ainda que não sejam os mesmos os autores (diferentes 
legitimados coletivos) e ainda que as ações não recebam o mesmo nome 
ou tenham o mesmo procedimento, como antes exposto. Nesse caso, 
ao contrário do que ocorre nos processos individuais, não se deve pura e 
simplesmente extinguir o segundo processo instaurado, pois tal solução 
revela-se por demais simplista na esfera coletiva.
 Imagine, por exemplo, uma ação popular proposta por um 
cidadão visando à anulação de ato administrativo que tenha autorizado 
o lançamento e construção de empreendimento imobiliário em área de 
reserva ambiental, a qual teria sido proposta desprovida de elementos 
probatórios suficientes e de fundamentação consistente. Em seguida, 
ocorre a propositura de ação civil pública pelo Ministério Público para 
o mesmo fim e com base nos mesmos fundamentos, utilizando-se de 
amplo material probatório colhido em inquérito civil e de teses mais 
solidamente construídas.
 Seria justo, levando em conta os direitos a serem protegidos, 
extinguir o processo coletivo instaurado em segundo lugar, levando em 
conta apenas o critério cronológico?
 Seria justo, outrossim, dar ao juiz a opção de escolher qual seria 
a “melhor” ação e extinguir aquela que reputasse ser a “pior”?
38 
 Ademais, é preciso levar em consideração que o cidadão não tem 
legitimidade para propor ação civil pública, nem para ingressar como 
assistente litisconsorcial do autor, ao passo que o Ministério Público, 
por sua vez, não tem legitimidade para propor ação popular. Assim, a 
extinção de qualquer das ações poderia representar uma grave ofensa ao 
direito de acesso à justiça assegurado constitucionalmente.
 Na busca da melhor alternativa para a defesa dos direitos 
metaindividuais, destaca-se a opção de conferir à litispendência entre 
ações coletivas a mesma solução adotada para a conexão, que provoca 
a reunião dos processos para processamento e julgamento conjunto, 
evitando o natural destino da extinção do processo instaurado a posteriori. 
 Excepcionalmente, quando não se vislumbrar a ocorrência 
de prejuízos à tutela dos direitos transindividuais, nem à garantia do 
acesso à justiça, poderá o juiz, a partir da identificação da litispendência, 
extinguir o derradeiro processo.
 A despeito de o microssistema processual coletivo em vigor não 
solucionar a questão, esse é o caminho proposto pelo já referido Projeto 
de Lei 5139, que prevê no art. 5º, §§ 2º e 3º: “na hipótese de litispendência, 
conexão ou continência entre ações coletivas que digam respeito ao mesmo 
bem jurídico, a reunião dos processos poderá ocorrer até o julgamento em 
primeiro grau” e “iniciada a instrução, a reunião dos processos somente 
poderá ser determinada se não houver prejuízo para a duração razoável do 
processo”.
 4.6. Elementos da ação: análise da conexão e continência
 A conexão entre ações se dá quando entre elas há identidade 
da causa de pedir ou do pedido (art. 103, do CPC). A continência é uma 
espécie de conexão e é verificada quando entre duas ou mais ações há 
identidade de partes, de causa de pedir e o pedido de uma delas é mais 
abrangente que o da outra (art. 104, do CPC).
39 
 A identificação de um ou de outro fenômeno tem gerado, de 
um modo geral, a reunião dos processos para julgamento conjunto, no 
intuito de evitar decisões contraditórias e de garantir maior economia 
processual.
 No âmbito do processo individual, são identificadas como 
formas legais de alteração da competência relativa. Embora as regras de 
competência nos processos coletivos sejam de aplicação cogente e de 
natureza absoluta, é perfeitamente possível a aplicação de tais institutos 
nestes processos, o que pode provocar a reunião das ações conexas para 
julgamento conjunto.
 Ainda que identificada a conexão entre ação coletiva e outras 
individuais, não se tem, na prática forense, observado a reunião dos 
processos, até porque tal saída, em certos casos, acaba por inviabilizar a 
celeridade e economia processuais.
 É possível, porém, com base no art. 104 do CDC, ocorrer a 
suspensão do processo individual, a pedido do autor da ação, quando 
pretender se beneficiar do resultado favorável que poderá advir do 
julgamento do processo coletivo, no qual se discute a mesma questão 
litigiosa.
 Assim, sendo comunicada nos autos do processo individual a 
propositura de ação coletiva para defesa de direitos difusos, coletivos ou 
individuais homogêneos, poderá o autor da ação individual requerer, no 
prazo de 30 (trinta) dias contado de tal comunicação, a suspensão de seu 
processo até que seja julgada a lide coletiva (right to opt out or in).
 Trata-se de uma faculdade do autor individual, cujo objetivo é 
poder aproveitar, em seu benefício, o resultado favorável do processo 
coletivo. Definida, pois, a responsabilidade do agente causador do ato 
ilícito, não mais será a mesma questionada no processo individual, no 
âmbito do qual passar-se-á, imediatamente, à liquidação e execução 
individuais, objetivando-se definir o nexo de causalidade e os prejuízos 
sofridos para que possam ser reparados.
 O que o microssistema processual coletivo não define é a quem 
incumbe a comunicação acima exposta e qual é a conseqüência gerada 
ante a sua ausência. 
40 
 Mais uma vez, encontramos respostas na doutrina pátria que 
aponta, em geral, o réu como o responsável pela notícia em destaque, 
uma vez que, normalmente, figura como réu do processo coletivo e do 
processo individual. Na hipótese de a comunicação não ser realizada, o 
mais brevemente possível, terá o autor da ação individual o direito de, 
a qualquer tempo, requerer a suspensão de seu processo ou de valer-se 
do resultado favorável do processo coletivo (coisa julgada in utilibus), 
independentemente dela.
 O Projeto de Lei 5.139, nesse sentido, prevê no art. 37, §2º, que 
cabe ao réu, na ação individual, informar o juízo sobre a existência de 
demanda coletiva que verse sobre idêntico bem jurídico.
 Vale destacar que o autor da ação individual, ainda que tenha 
requerido a suspensão de sua causa, não será prejudicado na hipótese 
de não se alcançar resultado favorável no processo coletivo. Neste caso, 
dará prosseguimento ao feito individual, podendo, inclusive, vir a obter 
tutela favorável.
 Os reflexos do processo coletivo, enfim, são sentidos nos 
processos individuais, de acordo com a legislação em vigor, quando 
produzidos em benefício de todos, observados os requisitos legais. 
 Quando os institutos em estudo são percebidos entre ações 
coletivas, deve-se, na medida do possível, promover a sua reunião, 
seja

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