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PROCESSO COLETIVO - APOSTILA VER

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1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROFª MS. ÉVELYN CINTRA ARAÚJO 
2020 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
COLETIVO 
 
 
CONTÉUDO PROGRAMÁTICO 
 
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PROCESSO CIVIL COLETIVO 
1.1 Histórico 
1.2 Evolução do processo coletivo no Brasil 
1.3 Fundamentos, conceito e elementos 
1.4 Classificação do processo coletivo 
1.5 Princípios do direito processual coletivo 
 
UNIDADE 2 - ESTUDOS SOBRE DIREITOS COLETIVOS: DIREITOS DIFUSOS. 
DIREITOS COLETIVOS. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS 
 
UNIDADE 3 - A LEGITIMIDADE NAS AÇÕES COLETIVAS 
 
UNIDADE 4 – A COMPETÊNCIA NAS AÇÕES COLETIVAS 
 
UNIDADE 5 – CONEXÃO, CONTINÊNCIA E LITISPENDÊNCIA NO PROCESSO 
COLETIVO 
 
UNIDADE 6 – LITISCONSÓRCIO E INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO PROCESSO 
COLETIVO 
 
UNIDADE 7 – ASPECTOS GERAIS DA TUTELA COLETIVA 
7.1 A Prescrição e a Decadência nas Ações Coletivas 
7.2 A Reconvenção nas ações coletivas 
7.3 A Distribuição dinâmica do ônus da prova no processo coletivo 
7.4 Conciliação nas causas coletivas 
7.5 Especificidades da Tutela de Urgência no Processo Coletivo 
7.6 As Despesas processuais e os honorários advocatícios de sucumbência 
7.7 Aspectos Recursais 
 
UNIDADE 8 - A COISA JULGADA NAS AÇÕES COLETIVAS 
 
UNIDADE 9 – LIQUIDAÇÃO E EXECUÇÃO NO PROCESSO COLETIVO 
 
 
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PROCESSO CIVIL COLETIVO: 
histórico, fundamentos e conceito. 
 
1.1 Histórico 
 
O Processo Coletivo é fruto da evolução histórica do próprio Processo Civil, a qual 
perpassou basicamente por 3 fases, senão lembremos: 
 
1ª) IMANENTISTA (ou civilista/sincretista/privatista): 
Originada no Direito Romano, a fase imanentista ou civilista teve como destaques 
Celso, Ulpiano e Savigny e durou até meados do ano de 1868. 
Havia uma grande confusão metodológica entre direito material e direito processual, 
negando-se a existência autônoma deste último, o qual se encontrava imanente, ou seja, 
dependente do direito material. Para os imanentistas, só havia ação se houvesse direito 
material. 
Obviamente que tal teoria não prosperou, pois não conseguiram explicar, por 
exemplo, a possibilidade de o autor lançar mão da ação e do processo para buscar justamente 
a declaração de inexistência de um direito (ação declaratória negativa). Esqueceram-se também 
de que, ainda que ação fosse declaratória positiva, o juiz poderia julgar improcedente o 
pedido, negando a existência do direito; ou, por fim, poderia o magistrado simplesmente 
decretar a prescrição (perda da pretensão) mesmo tendo havido o exercício da ação e a 
instauração do processo. 
 
2ª) CIENTÍFICA (ou autonomismo): 
Na fase científica ou autonomista, que durou de 1868 a 1950, e por forte influência 
principalmente das doutrinas alemãs (Von Bülow), desenvolveu-se a teoria do processo como 
ciência autônoma, uma vez que fora finalmente reconhecida a sua total independência em 
relação ao direito material. 
Enquanto este sempre teve uma configuração linear (sujeitos ativo/passivo; objeto – 
bem da vida; e vínculo de direito material), o processo revela-se como uma relação jurídica 
triangular, com elementos próprios e distintos (sujeitos ativo/passivo e o Estado-juiz; objeto – 
pedido; e vínculo de direito processual). 
Assim, haveria duas relações jurídicas autônomas: a material e a processual, as quais 
não se confundiam. 
 
 
Todavia, o processo passou a ser intensamente estudado como objeto autônomo, 
deixando de servir ao direito material, o que criou excessos formalistas. Dessa forma, tal 
processo era permeado por ideais iluministas e liberalistas, onde a propriedade individual, a 
autonomia da vontade e a titularidade do direito de agir exclusiva ao titular do direito privado 
eram “a pedra de toque”, não havendo espaço ainda para o direito da coletividade. 
 
3ª) INSTRUMENTALISTA (ou do acesso à justiça): 
A fase instrumentista, surgida em meados de 1950 (especialmente pelas obras de 
Garth/EUA e Cappelletti/ITA) e vivida por nós até os dias atuais, vai além dos autonomistas e 
vê o processo como instrumento não só de realização dos interesses particulares, como 
também de pacificação social e realização da lei, portanto, mais efetivo, realizador da justiça, 
em tempo hábil e com o menor dispêndio possível. 
Em outras palavras, prega-se o processo como meio de acesso à justiça, 
reaproximando o direito material e processual, sem, contudo, perder a autonomia do 
processo. 
De acordo com Garth e Cappelletti, para que o processo seja um instrumento de 
acesso à justiça, os ordenamentos jurídicos teriam de observar 3 ondas renovatórias de 
alterações legislativas: 
 
a) Tutela dos necessitados/hipossuficientes: sendo criada, no Brasil, a Defensoria Pública, a 
Lei de Assistência Judiciária (de 1950 – instituiu a pobreza por presunção), os Juizados 
Especiais; a Justiça do Trabalho etc.; 
 
b) Coletivização do processo: quando a norma constitucional garante o direito ao acesso à 
justiça, notadamente no inciso XXXV do art. 5º da CF/88, ela o garante não só para a tutela 
dos direitos individuais, como também dos direitos coletivos (como o próprio título do 
capítulo, onde tal dispositivo constitucional está inserido, sugere: “ Dos direitos e deveres 
individuais e coletivos”). 
 Assim, é necessário que haja um tratamento coletivo para o processo, pois somente 
assim haverá verdadeiramente acesso à justiça. Dessa forma, Garth e Cappelletti perceberam a 
necessidade de serem tutelados pelo processo: 
• bens e direitos de titularidade indeterminada: direitos que pertencem a todos e não 
pertencem a ninguém, e que, por isso, ficavam normalmente sem tutela. Ex: o meio ambiente e 
 
 
o patrimônio público. Foram então criados os legitimados coletivos (ex: MP, defensorias, 
órgãos públicos); 
• bens e direitos cuja tutela individual é inviável : basicamente por conta da 
hipossuficiência, seja cultural (falta de consciência da população sobre a existência e do 
direito e seu mecanismo de tutela), econômica (pouca recompensa na tutela do direito, seja 
em razão dos custos psicológicos, seja em razão dos custos financeiros; falta de recursos para 
custear a assistência jurídica), ou técnica (configuração do processo, que exige demasiado do 
autor, a exemplo da produção de provas difíceis). 
Ex.: consumidor descobre que a caixa de leite que informa possuir 1 litro, na verdade 
possui 750 ml. Em situações como esta, é economicamente inviável para o consumidor 
processar individualmente a empresa para cobrar alguns litros de leite, mas coletivamente o 
dano é considerável. 
• bens e direitos cuja tutela coletiva é recomendável: do ponto de vista da facilidade e 
utilidade do sistema (litígios repetitivos); nesse caso, a tutela do direito individual não é 
economicamente inviável, mas a tutela coletiva se releva recomendável em razão da 
molecularização dos conflitos/reunião dos processos (Kazuo Watanabe) . Não há, aqui, 
uma preocupação direta com o jurisdicionado, mas sim com o sistema, que deve potencializar 
a solução dos conflitos. Ex: é possível citar as causas envolvendo expurgos inflacionários, 
bastante repetidas em todo o país. 
 
Segundo aqueles autores, o direito processual civil clássico era, até então, incapaz de 
tutelar o direito coletivo porque institutos clássicos como a legitimidade ordinária, de 
perspectiva liberal individualista (cada um defende o que é seu individualmente) e a coisa 
julgada intra partes (a decisão beneficia só as partes - art. 506 do NCPC), entre outros, são 
incompatíveis com o processo coletivo. 
Não que o processo coletivo nega a importância do processo individual para 
determinadas situações, mas reconhece o caráter egoístico deste, com o indivíduo pensando 
só em si. O caráter do processo coletivo, ao contrário, é altruístico, porque sempre tem em 
mente o bem comum; daí a necessidade real de reformular conceitos processuais civis 
tradicionais, adequando-osà tutela dos interesses metaindividuais. 
A ordem jurídica reconhece a necessidade de que, em matéria de interesses 
transindividuais, “o acesso individual dos lesados à Justiça seja substituído por um 
processo coletivo, que não apenas deve ser apto a evitar decisões contraditórias como ainda 
 
 
deve conduzir a uma solução mais eficiente da lide, porque o processo coletivo é exercido de 
uma só vez, em proveito de todo o grupo lesado.” 
 
c) Efetividade do processo: processo civil de resultados, vivida atualmente. 
 
 
1.2 Evolução do processo coletivo no Brasil 
 
Por influência lusitana, o Brasil já convive com a ação popular desde as Ordenações 
Manuelinas, não obstante era de forma extremamente precária e limitada (na origem só cabia 
contra atos do poder público). 
As ações coletivas (re)surgiram mesmo pela influência direta da doutrina italiana na 
década de 70, quando emergiu uma doutrina processual coletiva brasileira representada por 
Barbosa Moreira, Kazuo Watanabe, Ada Pellegrini Grinover, Waldemar Mariz Oliveira 
Júnior, e, posteriormente, Antônio Gidi, Nelson Nery Júnior e Aluísio Mendes. 
Apesar de já existir a ação popular desde antes (Lei 4.717/65), a doutrina costuma 
vincular o surgimento do processo coletivo no Brasil com a Lei 6.938/1981 (Lei Nacional da 
Política do Meio Ambiente), que, em seu art. 14, §1º, previa a legitimidade do MP para propor 
a ação civil pública em proteção ao meio ambiente. 
Todavia, só em 1985, com a Lei de Ação Civil Pública (7.347/85), que houve a 
consolidação do processo coletivo no Brasil. Essa lei resolveu o problema dos bens ou direitos 
de titularidade indeterminada, mas não o problema dos bens e direitos cuja tutela individual é 
inviável e os bens e direitos cuja tutela coletiva é recomendável. Esses últimos dois problemas 
só foram efetivamente solucionados com a CF/88 e em especial com o Código de Defesa do 
Consumidor, em 1990, quando então houve a potencialização do processo coletivo, e a sua 
complementação pelo Estatuto da Cidade (2001), do Idoso (2003) etc. 
Por outro lado, não podemos ignorar os retrocessos. O Governo tem utilizado 
Medidas Provisórias para atacar a ação civil pública, tentando restringir sua eficácia, limitar o 
acesso à justiça, frustrar o momento associativo e reduzir o papel do Poder Judiciário. Ex: a 
Lei 9.494 é o resultado de uma MP, que incluiu o atual art. 16 da LACP. Este dispositivo traz 
uma norma que limita bastante o processo coletivo, já que determina que “a sentença civil fará 
coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o 
pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá 
intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.” 
 
 
Quanto ao futuro do processo coletivo brasileiro, destaca-se 2 tentativas frustradas 
de criação do Código de Processo Civil Coletivo: 
- uma que partiu de três projetos (oriundo da USP - Ada Pellegrini Grinover; da 
UERJ/UNESA - Aloísio Castro Mendes; e de Antônio Gidi); 
- e outra, em 2008, quando o Ministério da Justiça nomeou uma comissão de juristas para 
tanto. Porém, tal comissão entendeu que o ideal não é fazer um novo código (que demorará 
muito para sair do Congresso), mas sim uma Nova Lei de Ação Civil Pública. 
Com efeito, esta nova Lei é o atual PL 5139/09. 
 
1.3 Fundamentos, conceito e elementos 
 
1.3.1 Fundamentos da ação coletiva 
 
 Segundo Didier Júnior, as ações coletivas possuem duas justificativas: 
 
a) Fundamento sociológico: aumento das “demandas de massa” . Está ligado, portanto, ao 
princípio do acesso à justiça. 
 
b) Fundamento político: permitem a solução de diversos conflitos por meio de um só 
processo, reduzindo os custos, uniformizando os julgamentos e trazendo previsibilidade e 
segurança jurídica. Está ligado principalmente ao princípio da economia processual. 
 
1.3.2 Conceito de processo coletivo 
 
 Processo coletivo é “aquele instaurado por ou em face de um legitimado autônomo/, 
em que se postula um direito coletivo lato sensu ou se afirma a existência de uma situação 
jurídica coletiva passiva/, com o fito de obter um provimento jurisdicional que atingirá uma 
coletividade, um grupo ou um determinado número de pessoas” (GIDI, Antônio apud DIDIER 
JR., 2008, p. 46). 
 Do conceito é possível extrair 3 elementos, quais sejam: 
a) a legitimação para agir 
b) a afirmação de uma situação jurídica coletiva: o direito coletivo lato sensu no pólo ativo (ação 
coletiva ativa), ou dever ou estado de sujeição a este direito no pólo passivo (ação coletiva 
passiva); 
 
 
c) a extensão subjetiva da coisa julgada. 
 
Assim, há procedimentos especiais (ações coletivas) previstos na legislação para 
servir às causas coletivas, tais como: 
- Ação popular (art. 5º, LXXIII CF; Lei nº. 4.717/65); 
- Ação civil pública (art. 129, III CF; Lei nº. 7347/85); 
- MS coletivo (art. 5º, LXX CF); 
- Ação coletiva para defesa dos direitos individuais homogêneos dos consumidores (arts. 91 a 
100 do CDC); 
- Ação de improbidade administrativa (Lei nº. 8429/92); 
- Ações de Controle de Constitucionalidade (ADI e ADC - art. 102, I, “a” CF). 
 
Vê-se, resumidamente, que a ação e o processo coletivos tem por objeto a realização 
do interesse público, ou seja, “servem às demandas judiciais que envolvam, para além dos 
interesses meramente individuais, aqueles referentes à preservação da harmonia e à realização 
dos objetivos constitucionais da sociedade e da comunidade” (DIDIER JR, 2008, p. 38), como, 
por exemplo, dos consumidores, do meio ambiente, do patrimônio artístico, histórico e 
cultural, bem como os interesses individuais dos necessitados e minoritários marginalizados, 
ou seja, os direitos coletivos lato sensu e individuais indisponíveis. 
Trata-se, assim, de um processo de interesse público , não interessando a “estrutura 
subjetiva”, mas a “matéria litigiosa” discutida. Desta feita, não se confunde processo coletivo 
com litisconsórcio multitudinário. 
Este está assentado no velho arquétipo de processo individual (de estrutura 
atômica), ainda que sejam muitos em um dos pólos, posto que defendem seus direitos 
subjetivos individuais (o juiz pode, inclusive, fragmentar tal litisconsórcio quando dificultar o 
andamento do processo ou a defesa). 
Já o processo coletivo é de estrutura molecular, ou seja, mesmo que interesse a uma 
série de sujeitos distintos, identificáveis ou não, pode ser ajuizada e conduzida por uma única 
pessoa já que veicula matéria de natureza comum a todos, à coletividade. 
Justamente por servir o processo coletivo ao interesse público é que tem se 
experimentado uma maior politização da Justiça e ativismo judicial, pois “ao Poder Judiciário 
foi conferida uma nova tarefa: a de órgão colocado à disposição da sociedade como instância 
organizada de solução de conflitos metaindividuais”. 
 
 
 
1.3.3 Legislação pertinente aplicável 
 
Como já se sabe, o direito processual coletivo não possui um código próprio, 
tampouco é regido pelo CPC, o qual se dirige a um processo de caráter individual. 
Na verdade, a tutela dos direitos coletivos fica por conta de um conjunto de regras e 
leis, que, harmonicamente, se comunicam formando o que chamamos de microssistema 
processual coletivo. 
Dentre tais leis destaca-se principalmente o CDC (Código de Defesa do Consumidor 
– Lei n. 8.078/90), que, por ter um caráter misto (possui normas de direito material e de 
direito processual), reserva em seu Título III a “Defesa do Consumidor em Juízo”, ou seja, 
preocupa-se com a efetividade e a facilitação do acesso à justiça pelo consumidor. 
As inovações processuais empreendidas pelo CDC no que tange à tutela dos direitos 
de massa são dignas de nota, podendo-se elencar algumas delas: 
- conceituação de direitos difusos, coletivos stricto sensu, e individuais homogêneos (art. 81, 
parágrafoúnico, incisos I, II e III); 
- determinar a competência pelo domicílio do consumidor – competência adequada (art. 101, 
I); 
- vedação de denunciação à lide e um novo tipo de chamamento ao processo (arts. 88 e 101, II); 
- possibilidade de o consumidor valer-se, na defesa dos seus direitos, de qualquer ação cível 
cabível (condenatória, mandamental, executiva lato sensu, declaratória ou constitutiva) – 
atipicidade ou não-taxatividade (art. 83); 
- tutela específica em preferência à tutela do equivalente em dinheiro (art. 84); 
- a extensão subjetiva da coisa julgada em exclusivo benefício das pretensões individuais (art. 
103 - secundum eventum litis e secundum eventum probationis); 
- regras de legitimação e de dispensa de honorários advocatícios (art. 87) específicas para as 
ações coletivas e aperfeiçoadas em relação aos sistemas anteriores; 
- regulamentação da litispendência entre a ação coletiva e ação individual (art. 104); 
- e, por fim, a alteração e ampliação da tutela da Lei da Ação Civil Pública – LACP (Lei n. 
7.347/85), harmonizando-a com o CDC (arts. 110 a 117), especialmente a que inseriu o art. 21 à 
LACP, declarando a extensão do Título III do código consumerista a todas as ações coletivas. 
Dessa forma, como bem nos ensina Gidi (apud Didier Jr, 2008, p. 50), “toda a parte 
processual coletiva do CDC fica sendo (....) o ordenamento processual civil coletivo de caráter 
geral, devendo ser aplicado a todas as ações coletivas em defesa dos interesses difusos, 
coletivos e individuais homogêneos”. Em outras palavras, seria uma espécie de Código de 
 
 
Processo Civil Coletivo. 
Todavia, tal microssistema não se resume ao CDC e à LACP, mas é formada pela 
reunião intercomunicante de vários diplomas legais inerentes ao direito coletivo. 
Isso significa que o CPC só será aplicado em caráter suplementar ou residual (e não 
subsidiário) e naquilo que não for incompatível, dado, repita-se, ao seu caráter individual. Em 
outras palavras, em caso de omissão em determinado diploma coletivo, deve-se buscar solução 
legal em outra lei que forma o microssistema coletivo antes de se recorrer ao CPC. 
 
1.4 Modelos de tutela jurisdicional dos direitos coletivos 
 
No mundo afora, destacam-‐se dois modelos de tutela jurisdicional dos direitos 
coletivos: 
a) Modelo da Verbandsklage (ações associativas): tem origem ítalo-‐francesa-‐alemã e é adotado 
pela Europa-‐Continental (salvo Escandinávia). 
São características desse modelo: 
- legitimação ativa das associações especial: com a escolha de um “sujeito supraindividual” para 
tutelar em nome próprio o direito que passa ser considerado como próprio. Ex: associações de 
consumidores, associações ambientais. 
- duas formas de tutela para as associações: ou representa o indivíduo, mediante sua autorização; 
ou representa um direito supraindividual, porém em hipóteses restritíssimas e excepcionais; 
- afastamento da tutela dos direitos individuais de forma extremada e radical : nesse modelo não há 
espaço, em nenhuma hipótese, de tutela individual; o dano deve ser ressarcido para o Estado. 
- a tutela permitida em juízo é somente a inibitória ou injuncional : ou seja, tutela voltada para as 
obrigações de fazer e não fazer, e, consequentemente, nesse caso, com caráter meramente de 
advertência ou de admoestação, sem, de fato, garantir a reparação de danos. 
Críticas não faltaram para tal modelo, uma vez que efetivamente não tutela os 
direitos coletivos. 
b) Modelo das Class Action: tem origem norte-‐americana e foi muito difundido no Brasil. É 
mais pragmático, voltado para a proteção integral do direito coletivo. São suas características: 
- a legitimidade do indivíduo ou de um grupo de indivíduos, caracterizada pelo controle jurisdicional 
da “adequada representação”; 
- vinculatividade da coisa julgada para toda a classe , quer beneficiando-‐a, quer prejudicando-a, no 
caso da improcedência da ação (no Brasil é um pouco diferente do modelo norte -americano 
 
 
puro, uma vez que a coisa julgada erga omnes ou ultra partes, nos termos do art. 103 do CDC, é 
secundum eventum litis, ou seja, só beneficia); 
- adequada notificação para aderir à iniciativa aos indivíduos: visando proteger o “direito de colocar-
se a salvo da coisa julgada” (right to opt out). Ou seja, se o membro da classe entender mais 
vantajoso fazer valer seu direito com uma ação individual, ele tem o direito de “sair” do grupo 
ou classe comunicando ao legitimado que não pretende ser representado na demanda 
coletiva; 
- atribuição de amplos poderes ao juiz: o que distingue esse modelo do modelo tradicional de 
litígio (vinculado predominantemente a atividade das partes e a uma radical neutralidade 
judicial). 
 
A tendência mundial é a universalização do modelo das class action, tanto nos 
ordenamentos do common law como do civil Law, a exemplo do Brasil, pois tem se apresentado 
como o mais bem sucedido. 
 
1.5 Classificação do processo coletivo 
 
a) Quanto ao sujeito: 
- processo coletivo ATIVO: é o processo coletivo por excelência, em que a coletividade é 
autora, por meio de um legitimado coletivo. Essas são as mais comuns. 
- processo coletivo PASSIVO: é aquele em que a coletividade é ré. Seria a situação inusitada de 
a coletividade ser demandada como ré numa ação. 
Na doutrina, existem duas posições diametralmente opostas sobre ação coletiva 
passiva: 
✓ 1ª corrente (DINAMARCO): não existe ação coletiva passiva, por ausência de previsão 
legal. O art. 5º LACP só trata dos legitimados ativos, enquanto não há essa previsão para a 
ação coletiva passiva. 
✓ 2ª corrente (majoritária – GRINOVER, DIDIER): existe ação coletiva passiva, pois a 
prática tem demonstrado que há situações em que a coletividade deve ser acionada (Ex.: em 
caso de greve, a representação da coletividade passiva é do sindicato ou da associação ). 
Ademais, a sua existência decorre de uma interpretação sistemática, dispensando previsão 
expressa: 
 
 
a) o art. 5º, §2º da Lei 7.347/85 (LACP) permite o ingresso do Poder Público e das 
associações como litisconsortes de “qualquer das partes”, o que abrange a passiva. 
b) o art. 83 do CDC determina que para a defesa dos direitos coletivos são admissíveis 
todas as espécies de ações capazes a propiciar a adequada e efetiva tutela, o que inclui a 
ação rescisória proposta pelo réu da ação coletiva originária, os embargos à execução 
coletiva ou o mandado de segurança impetrado pelo réu da ação coletiva contra ato 
judicial. 
 
A grande dificuldade é apenas identificar o representante da coletividade ré (deve ser 
analisada casuisticamente, devendo recair preferencialmente sobre sindicatos e associações de 
classe). 
 
b) Quanto ao objeto: 
- processo coletivo ESPECIAL: são os processos das ações de controle abstrato de 
constitucionalidade (ADI, ADC, ADPF). 
- processo coletivo COMUM: o processo coletivo comum é composto por todas as ações para 
a tutela dos interesses e direitos metaindividuais não relacionados ao controle abstrato d e 
constitucionalidade. São elas: 
✓ Ação popular – Tem previsão na Lei 4.717/65. 
✓ Ação civil pública – Tem previsão da Lei 7.347/85. 
✓ Ação coletiva (?) – Alguns autores (ex: Mazzilli) sustentam que ação coletiva é algo 
diverso da ação civil pública, servindo à tutela dos interesses individuais homogêneos. 
Para eles, a ação coletiva é a que tem previsão no CDC, enquanto a ação civil publica 
seria a prevista na Lei 7.347/85. Na prática, os regimes da ação coletiva e da ação civil 
pública são idênticos. 
✓ Ação de improbidade administrativa (?) – O STJ e alguns autores sustentam que a 
improbidade administrativa é uma espécie de ação civil pública. Para outros autores, 
são ações distintas, pois possuem legitimidade, objeto, regime de coisa julgada e 
outros institutos diferentes. 
✓ MS coletivo – Tem previsão na Lei 12.016/09. 
✓ Mandado de injunção coletivo (?) – Existe a discussão sobresua criação, mas ele ainda 
não foi formalmente criado. 
 
 
 
 
1.6 Princípios do direito processual coletivo 
 
a) Princípio da Aplicação Residual do CPC 
O CPC, por seu caráter eminentemente individualista, terá aplicação meramente 
residual aos processos coletivos e desde que obedecidas as seguintes regras: (i) no 
microssistema de tutela coletiva haja omissão; (ii) a regra processual do CPC seja compat ível 
com o processo coletivo, na medida em que não pode comprometer a eficácia da proteção aos 
direitos coletivos lato sensu. 
 
b) Princípio da Integratividade do Microssistema Processual Coletivo 
O princípio da integratividade indica que o sistema processual coletivo adota a teoria 
do sistema do diálogo das fontes normativas, segundo a qual, visando harmonia e integração, 
na aplicação simultânea de duas leis, uma pode servir de base conceitual para outra. 
Como cediço, não existe uma lei central que trate do processo coletivo. Por isso, o 
sistema processual coletivo brasileiro é uma verdadeira bagunça, havendo contradições, 
previsões repetidas etc. 
As principais normas de direito coletivo partem do núcleo básico formado pela LACP 
+ CDC. 
O CDC e a LACP são normas de reenvio, pois o CDC, art. 90, manda aplicar, para tudo 
que ele trata, a LACP; e a LACP, em seu art. 21, manda aplicar o CDC em tudo que ela trata. 
“Art. 90 do CDC – Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de Processo Civil e 
da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo que não 
contrariar suas disposições. 
Art. 21 da LACP - Aplicam‐se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e indiv iduais, 
no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do 
Consumidor. 
 
Sobre este núcleo (CDC + LACP), há a comunicação de todas as normas paralelas 
(LIA, LAP, ECA, MSC, Estatuto da Cidade, Estatuto do Idoso, Estatuto do Deficiente etc.) 
que formam o microssistema processual coletivo, que se interpenetram e se subsidiam. 
ATENÇÃO: O CPC não faz parte do sistema integrativo que compõe o diálogo das 
fontes, sendo sua aplicação residual. Ex.: prazo de apelação (que não é tratada pelas leis do 
microssistema). 
 
 
c) Princípio da Representatividade Adequada 
Diferentemente do sistema norte-americano, em que qualquer pessoa pode propor 
ação coletiva, desde que prove judicialmente a adequada representação do grupo, no Brasil, o 
legislador optou por estabelecer um rol de legitimados no art. 5º da LACP, os quais são os 
únicos que podem demandar coletivamente no Brasil. 
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: 
 I‐ o Ministério Público; 
II‐ a Defensoria Pública; 
III‐ a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; [Administração Direta] 
IV‐ a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; [Administração 
Indireta] 
V‐ a associação que, concomitantemente: 
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; 
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à 
ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, est ético, histórico, turístico e 
paisagístico.” 
 
A grande dúvida que há no Brasil é se, sem prejuízo do controle legislativo da 
representação (que define quais os legitimados), poderia também o juiz, tanto quanto nos 
EUA, fazer o controle judicial, reconhecendo, no caso concreto, a falta de representação 
adequada e legitimidade do autor coletivo e considerando-o incapaz de prosseguir na 
demanda. Ou seja, é possível, como no sistema norte-americano, que o juiz faça uma 
verificação prévia da idoneidade/capacidade do legitimado à ação coletiva? 
✓ 1ª posição (NELSON NERY JR.): não é possível o controle judicial da 
representação adequada, salvo para as associações, pois há uma presunção ope legis. 
A própria LACP estabelece alguns requisitos para as associações (constituição há 
pelo menos 1 ano; pertinência temática); 
✓ 2ª posição (doutrina majoritária; STF E STJ): é possível o controle judicial 
(ope iudicis) da representação adequada, em complemento ao que o legislador já 
fez. Haveria, portanto, um controle duplo. Para essa corrente, o controle judicial 
recairia sobre o critério da finalidade institucional ou pertinência temática do 
autor coletivo (não recairia sobre os critérios norte-americanos). É a corrente 
AMPLAMENTE MAJORITÁRIA (STF). 
 
 
Ex.: o Defensor Público resolve entrar com ação civil pública para discutir a alíquota 
do bacalhau norueguês. Para a 1ª posição, o juiz deveria levar a ação adiante; para a 2ª posição, 
o juiz deveria intimar alguém para tocar o processo, já que não tem nada a ver com a 
finalidade institucional da defensoria (cuja finalidade institucional, prevista no art. 134 da 
CF/88 é a defesa do hipossuficiente). 
 
d) Princípio da Não-taxatividade ou Atipicidade da Tutela Coletiva 
Por este princípio, o rol das ações coletivas não é taxativo, já que objetiva ampliar ao 
acesso à tutela coletiva. Assim, qualquer ação pode ser coletivizada, desde que o objeto seja a 
tutela de interesses metaindividuais (pode ser utilizada para a proteção de direitos coletivos). 
Essa ideia é, inclusive, anunciada no artigo 83 do CDC: “Para a defesa dos direitos e 
interesses protegidos por este Código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua 
efetiva e adequada tutela.” 
É possível, v.g., o ajuizamento de ação possessória coletiva; ação monitória coletiva. 
 
e) Princípio da Ampla Divulgação da Demanda Coletiva e Princípio da Informação aos Órgãos 
Competentes 
O princípio da ampla divulgação decorre, diretamente, do artigo 94 do CDC, que diz: 
“Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no 
processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte 
dos órgãos de defesa do consumidor.” 
A doutrina ressalta que o princípio da ampla divulgação da demanda coletiva visa 
possibilitar: (i) que os autores individuais possam requerer a suspensão de seus processos; (ii) 
a propositura de uma única demanda coletiva, evitando casos de litispendência e coisa 
julgada; (iii) a intervenção de amicus curiae; (iv) a execução individual da sentença coletiva; (v) 
o controle da atuação adequada do legitimado extraordinário. 
Por outro lado, o princípio da informação aos órgãos competentes decorre dos arts. 
6◦ e 7◦ da Lei de Ação Civil Pública, in verbis: 
“Art. 6◦. Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério 
Público, ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil e indicando -
lhe os elementos de convicção. 
 
 
Art. 7◦. Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem conhecimento de fatos que 
possam ensejar a propositura da ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as 
providências cabíveis.” 
 
f) Princípio da Indisponibilidade Temperada ou Mitigada e da Continuidade da Demanda 
Coletiva 
O princípio da indisponibilidade temperada ou mitigada da ação coletiva 
estabelece que o objeto do processo coletivo é irrenunciável pelo autor coletivo , isso porque 
não lhe pertence, mas sim à coletividade. A consequência prática é que não poderá haver 
desistência imotivada da ação coletiva e, se houver, não implicará extinção do processo, mas sim 
sucessão processual. 
Assim, ao contrário do processo individual, em que a propositura ou não da ação 
encontra-se no âmbito da faculdade do indivíduo, no processo coletivo, constatada a lesão a 
um direito coletivo lato sensu, a propositura da ação coletiva é uma imposição. 
Todavia, essa obrigatoriedade de propositura da ação coletiva deve ser con siderada 
temperada ou mitigada, justamente porque o MP deveráfazer um exame de oportunidade e 
conveniência quanto ao seu manejo. Se a desistência foi motivada e razoável, o magistrado 
poderá homologá-la. Ex.: falência da empresa ré. 
Um bom exemplo do princípio da indisponibilidade da ação coletiva encontra-se no 
artigo 9◦ da Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) LACP, citemos: 
“Art. 9◦. Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da 
inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos 
autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente. 
§1◦. Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos, sob pena de 
se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público. 
§2◦. Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, seja homologada ou rejeitada a 
promoção de arquivamento, poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou 
documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexados às peças de informação. 
§3◦. A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do Conselho Superior do 
Ministério Público, conforme dispuser o seu regimento. 
§4◦. Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento, designará, desde 
logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação. ” 
 
 
 
Tal princípio aplica-se não só ao Ministério Público, mas também às defensorias 
públicas e à advocacia pública, pois estes também são essenciais à Justiça e incumbindo-lhes 
igualmente velar pelos direitos coletivos em sentido lato. 
Por sua vez, o princípio da continuidade da demanda coletiva encontra-se 
positivado no §3◦ do artigo 5◦ da Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85): “Art. 5◦. (...)§3◦. Em 
caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro 
legitimado assumirá a titularidade ativa.” 
Sobre o dispositivo, duas observações: (i) não se trata de abandono da demanda 
coletiva apenas por associação, mas por qualquer legitimado; (ii) a continuidade também é 
temperada, pois não pode obrigar o Ministério Público ou outro legitimado extraordinário a 
dar prosseguimento a uma demanda infundada. 
 
g) Princípio da Indisponibilidade Absoluta da Execução da Sentença Coletiva 
Esse princípio decorre, primordialmente, do artigo 15 da Lei de Ação Civil Pública e 
art. 16 da Lei da Ação Popular, que rezam: 
“Art. 15, LACP - Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, 
sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê -lo o Ministério Público, facultada 
igual iniciativa aos demais legitimados.” 
“Art. 16, LAP - Caso decorridos 60 (sessenta) dias da publicação da sentença condenatória de 
segunda instância, sem que o autor ou terceiro promova a respectiva execução, o representante do 
Ministério Público a PROMOVERÁ nos 30 (trinta) dias seguintes, sob pena de falta grave .” 
 
Este princípio objetiva evitar a corrupção entre o condenado e o representante 
coletivo. Na omissão de autor da ação coletiva ou de qualquer legitimado, o legislador deixa 
claro que a execução é obrigatória para o MP. 
Diferentemente do primeiro princípio, que é mitigado, a indisponibilidade da 
execução é absoluta, não admitindo exceção. 
 
h) Princípio da Extensão Subjetiva da Coisa Julgada “Secundum eventum litis” e do Transporte in 
utilibus 
A decisão do processo coletivo se estende erga omnes ou ultra parts apenas para 
beneficiar (sentença de procedência) os membros da coletividade, e não para os prejudicar. 
 
 
Dessa forma, a decisão coletiva contrária não vincula o indivíduo, que poderá ajuizar 
sua própria ação individual posteriormente. Isso ocorre porque o legitimado extraor dinário 
coletivo não pede autorização dos titulares dos direitos metaindividuais antes de propor a 
ação coletiva. Logo, se um indivíduo determinado não pediu a ninguém para defender algo que 
também é seu, não poderá a sentença prejudicá-lo. 
Por outro lado, poderá o indivíduo, em caso de sentença de procedência da demanda 
coletiva, transportá-la para uma ação individual caso comprove a origem no mesmo fato 
(transporte in utilibus). 
 
i) Princípio da Intervenção Obrigatória do Ministério Público 
Esse princípio decorre do artigo 5◦, §1◦ da Lei de Ação Civil Pública, que reza: “Art. 5◦. 
(...) §1◦. O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da 
lei.” 
Assim, a intervenção do Ministério Público em uma demanda coletiva se dá de duas 
formas: na qualidade de autor e na qualidade de custos legis. 
 
j) Princípio do Interesse Jurisdicional no Conhecimento do Mérito do Processo Coletivo 
De acordo com esse princípio, visto por alguns como um subprincípio da 
instrumentalidade das formas, deve o juiz flexibilizar ao máximo as regras sobre a 
admissibilidade da ação a bem da análise do mérito do pedido. 
Este princípio não tem previsão legal expressa, decorrendo do sistema processual 
coletivo e da circunstância de este atender ao interesse público primário. No processo 
coletivo, por ele interessar a um grande número de pessoas, o Estado tem interesse em 
resolver o conflito. Por conta disso, o magistrado deve evitar, ao máximo possível, a extinção 
do processo sem apreciação do mérito. 
Exemplificando, se, no curso de uma ação popular, cuja legitimidade é do cidadão, o 
autor tiver seus direitos políticos suspensos, o juiz não pode extinguir a ação por 
ilegitimidade do autor, devendo publicar editais para que qualquer cidadão assuma esta 
legitimidade. E se nenhum cidadão se interessa, o Ministério Público pode assumir esta 
titularidade. 
Atenção: com o novo CPC, tal princípio passou a ser previsto expressamente, sendo 
aplicável também a processo individual (art. 4º do NCPC: “Art. 4º - As partes têm o direito de obter 
 
 
em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa” – princípio da primazia 
da tutela específica). 
 
k) Princípio do Ativismo Judicial ou da Máxima Efetividade do Processo Coletivo 
Trata-se de mais um princípio implícito. Consiste no poder de o juiz flexibilizar as 
regras processuais e procedimentais a bem da tutela coletiva. Com efeito, o juiz, no processo 
coletivo, tem poderes mais acentuados do que o juiz de um processo individual. Isso decorre 
de algo que está no direito norte-mericano, denominado defining function, que significa a 
“função de definidor” (aumento dos poderes do magistrado). 
O juiz tem mais poderes na condução e na solução do processo. Assim, graças a este 
princípio, o juiz pode agir de 5 formas (que não pode manejar no processo comum): 
a) Poderes instrutórios mais acentuados: o juiz, no processo coletivo, deve suprir lacunas 
probatórias, através da determinação da produção de provas de ofício; 
b) Flexibilização procedimental: graças à defining function¸ o magistrado pode, no processo 
coletivo, flexibilizar as regras procedimentais, através da alteração da ordem dos atos 
processuais e/ou ampliação de prazos. 
Exemplos: 
1) se, na sentença, o magistrado percebe que não foi citado um litisconsorte necessário, em 
regra, extingue o processo sem julgamento do mérito (ilegitimidade de parte). No processo 
coletivo, todavia, o magistrado deverá fazer uma alteração na ordem dos atos, determinando a 
citação da parte faltante, a quem será ofertado o contrad itório/ampla defesa, coma 
possibilidade de produção de provas. A ideia é evitar a extinção do processo sem julgamento 
do mérito. 
2) aumento do prazo para manifestação sobre perícia ambiental (que é enorme). 
 
c) Possibilidade de alteração dos elementos da demanda: no processo coletivo, o magistrado 
pode permitir a alteração dos elementos da demanda mesmo fora dos prazos do art. 329 do 
NCPC (após citação e após o saneamento). 
 
d) Possibilidade decontrole pelo Judiciário das políticas públicas: O STF e o STJ têm 
permitido, em situações de extrema necessidade, a implementação de políticas públicas 
definidas pela Constituição mediante intervenção do próprio Poder Judiciário, sempre que os 
órgãos estatais competentes descumprirem os encargos políticos-jurídicos, de modo a 
 
 
comprometer, com sua omissão, a eficácia e integridade de direitos sociais e culturais 
impregnados de estatura constitucional. 
0 
 
UNIDADE 2 - Estudos sobre Direitos Coletivos: direitos difusos. Direitos coletivos. 
Direitos individuais homogêneos. 
 
2.1 Objeto do processo coletivo 
 
De acordo com o parágrafo único do art. 81 do CDC, a tutela coletiva recairá sobre os 
direitos ou interesses difusos, coletivos, e individuais homogêneos, in verbis: 
 
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das 
vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título 
coletivo. 
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar 
de: 
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste 
código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam 
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; 
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos 
deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja 
titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a 
parte contrária por uma relação jurídica base; 
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim 
entendidos os decorrentes de origem comum. (grifo nosso) 
 
Em outras palavras, o objeto do processo coletivo são os chamados interesses ou direitos 
coletivos ‘lato sensu’. Mas qual a diferença entre direitos e interesses? 
Interesses - é gênero. São as pretensões não tuteladas por norma jurídica expressa. 
Direitos - São pretensões tuteladas pela norma jurídica expressa. Por conta disso, são 
mais consolidados. 
Porém, tal distinção é meramente acadêmica, sem relevância prática, pois a doutrina 
amplamente majoritária reconhece que o CDC não fez distinção entre as duas expressões. 
Todavia, Barbosa Moreira (apud Mazzilli) defende que, na verdade, o objeto do 
processo coletivo são os interesses ou direitos meta/trans ou paraindividuais, os quais estão 
“situados numa posição intermediária entre o interesse público e o interesse privado”. 
 
 
 
2.2 Classificação dos direitos ou interesses trans ou metaindividuais (sg. Barbosa 
Moreira) 
 
Segundo Barbosa Moreira, os interesses/direitos metaindividuais dividem-se em 2 
grupos: 
 
- Os direitos/interesses naturalmente coletivos: caracterizados pela INDIVISIBILIDADE do 
objeto. Neste caso, o bem tutelado não pode ser partilhado entre os titulares (ou todo mundo 
ganha ou todo mundo perde). Ex.: meio ambiente é um bem naturalmente coletivo porque não 
é possível despoluir o rio para uma única pessoa; patrimônio público. 
Esses interesses/direitos naturalmente coletivos, para o referido autor, podem ser 
divididos em outros dois grupos: os direitos difusos e os direitos coletivos em sentido estrito, 
cuja distinção faremos em momento oportuno. 
 
- Os direitos/interesses acidentalmente coletivos: caracterizados pela DIVISIBILIDADE de 
seu objeto. Assim, uma parte de seus titulares pode ter direito e outra parte não. Enquadram, 
nesse grupo, portanto, os direitos ou interesses individuais homogêneos. 
Na realidade, tais direitos são individuais, pois cada pessoa tem interesse/direito 
próprio a uma tutela jurídica una e individual. A questão é que, em razão do grande número 
de titulares desses interesses, eles acabam sendo homogeneizados. A lei dá tratamento 
coletivo para a defesa de um interesse que é individual (daí o nome “direito individual 
homogêneo”). Exemplos: 1) quando um produto está com defeito, muitos são os consumidores 
titulares do direito ao recall; 2) aquele do litro do leite, que, na realidade, contém 900 ml. 
Ninguém acionará a empresa para cobrar apenas alguns mililitros de leite (isso seria 
antieconômico); contudo, um legitimado coletivo pode defender todos. 
São 5 os fundamentos ou razões que justificam a tutela coletiva de pretensões que 
são individuais: 
- molecularização dos conflitos (ações menores repetidas); 
 
 
- economia processual (redução de custos para o Judiciário e para as partes); 
- evitar decisões contraditórias pelo tratamento uniforme do conflito; 
- aumento do acesso à Justiça: permitindo que direitos individuais economicamente 
desinteressantes sejam tutelados. 
 
 Vale registrar que para vários autores tais direitos ou interesses acidentalmente 
coletivos não são metaindividuais, porque não transcendem os limites do indivíduo. 
 
2.3 Diferenças entre os direitos difusos, coletivos em sentido estrito e individuais 
homogêneos 
 
Interesse/ 
direito 
DIFUSOS COLETIVOS EM 
SENTIDO ESTRITO 
INDIVIDUAIS 
HOMOGÊNEOS 
 
 
Titularidade 
indeterminados e 
INDETERMINÁVEIS 
(número indefinido de 
titulares) 
indeterminados, mas 
DETERMINÁVEIS por 
grupo, categoria (logo no 
início da ação) 
Indeterminados, mas 
determináveis só na fase 
da liquidação/ execução1 
 
 
Exemplos 
 
Meio ambiente; 
patrimônio público; 
moralidade admistrativa; 
propaganda enganosa. 
Nulidade de cláusula de 
contrato de adesão; 
mensalidades escolares (S. 
643, STF); questões 
envolvendo direitos 
trabalhistas, sindicatos e 
entidades de classe. 
 
 
 
 
Acidente aéreo; expurgos 
inflacionários; lesão ao 
consumidor; recall de 
veículo com defeito. 
 
 
Relação 
entre os 
titulares 
Não há relação jurídica 
entre os titulares. Os 
sujeitos são ligados entre 
si por circunstâncias de 
fato extremamente 
mutáveis. 
Ex.: morar na mesma 
cidade, beber água no 
mesmo rio. 
 
Há uma relação jurídica 
base entre os titulares, os 
quais estão ligados entre 
si ou com a parte contrária 
por circunstâncias 
jurídicas relativamente 
estáveis. 
 
Não há relação jurídica entre 
os titulares, mas há uma 
pretensão de origem comum 
(deriva do mesmo fato) 
 
1 Na ação coletiva, cujo pedido é a tutela de um direito individual homogêneo, não há necessidade de, no seu 
início, identificar os seus titulares nem a extensão dos danos, sendo a sentença proferida de forma genérica e a 
coisa julgada com efeitos erga omnes. Porém, no momento da liquidação e da execução, os mesmos devem ser 
identificados para que recebam suas respectivas indenizações, de acordo com os danos suportados 
individualmente. Caso, transcorra o prazo de 1 ano, não havendo a referida identificação ou habilitação em 
número compatível com a gravidade da lesão, poderá o MP ou qualquer co-legitimado promover a liquidação e 
execução coletiva da indenização, a qual irá para o Fundo de Direitos Difusos. 
 
 
 
 
Nível de 
Conflituosid
a- de interna 
Alta conflituosidade 
interna: dentro do grupo 
que é titular deste direito 
existem as mais diversas 
opiniões/posicionamentos
. Justamente por isso, 
conforme aponta Mazzilli, 
se mostram ineficientes os 
procedimentos e a 
estrutura que 
normalmente se prestam à 
mediação dos conflitos. 
 
Há uma baixa 
conflituosidade interna, 
sendo eficiente a mediação 
dos conflitos. 
 
Não há conflituosidade 
interna, porque os interesses 
são individuais, que, por 
questão de política 
legislativa, podem ser 
tutelados coletivamente, 
fazendo com que o direito 
individual padronizado 
(ações repetitivas) ou 
antieconômico receba 
tratamento coletivo. 
 
Nível 
de 
Abstra- 
ção 
Alta abstração: os 
interesses difusos existem 
muito mais no plano 
hipotético do que no 
plano real. 
 
Os direitos são de menor 
abstração (são mais 
concretos). 
 
Mínima, pois são direitos 
reais, concretos. 
 
 
2.4 Considerações finais sobre o objeto do processo coletivo 
 
Na prática, o mesmo fato pode dar ensejo a ações coletivas para proteger todos estes 
interesses, inclusive por intermédioda cumulação de pedidos em uma única ação. 
Vale destacar o caso hipotético proposto por Donizetti e Cerqueira, senão 
comentemos: 
Imagine um fabricante de iogurte que, buscando aumentar suas vendas, divulga, 
mediante propaganda televisiva, que seu produto reduz o “colesterol ruim”. Pesquisas 
científicas demonstram, porém, que na verdade, o consumo daquele iogurte aumentos os 
níveis de colesterol ruim. Três ações judiciais podem ser propostas em decorrência desse fato: 
1ª Ação – vários indivíduos buscam indenização pelos danos materiais e morais 
sofridos, decorrentes dos gastos efetuados com a compra do produto e o aumento dos níveis 
de colesterol. 
2ª Ação - entidade legitimada pleiteia indenização pelos danos materiais e morais 
sofridos por todos os consumidores que adquiriram aquele produto. 
3ª Ação - entidade legitimada que, com base na proteção ao direito à saúde do 
consumidor, pleiteia que a fabricante seja condenada a retirar seus produtos do mercado. 
CONCLUSÃO: os interesses tutelados são, respectivamente, individuais homogêneos, 
coletivos em sentido estrito, e difusos. Ou seja, o direito deve ser identificado no caso 
concreto, de acordo com o pedido e com a causa de pedir, pois um mesmo fato pode originar 
pretensões difusas, coletivas ou individuais homogêneas. 
 
 
Assim, o que define qual o direito tutelado é a afirmação feita na inicial e não a 
classificação doutrinária (outros exemplos: 1 - propaganda enganosa → se for para tirar do ar, 
é difuso; se para indenizar, é individual homogêneo; 2 - numa ACP é possível combater os 
aumentos ilegais de mensalidades escolares já aplicados nos contratos dos alunos atuais - 
o direito é coletivo; buscar a repetição do indébito – o direito é individual homogêneo; e, 
ainda, pedir a proibição de aumentos futuros – trata-se de direito difuso, envolvendo futuros 
alunos). 
Na verdade, alguns autores não vislumbram diferença entre os difusos e os coletivos 
(Dinamarco) e outros, entre os coletivos e os individuais homogêneos (não é a posição 
dominante). Mas o importante é saber que há zonas cinzentas, em que realmente não é fácil 
afirmar se o direito é difuso, coletivo ou individual homogêneo. 
0 
 
UNIDADE 3 - A Legitimidade nas Ações Coletivas 
 
3.1 Natureza Jurídica 
 
 A natureza jurídica da legitimidade nas ações coletivas é explicada por 3 teorias: 
- legitimidade ordinária; 
- legitimidade extraordinária; e 
- legitimidade autônoma. 
 
 A primeira corrente, representada por Kazuo Watanabe, defende a legitimidade 
ordinária de entidades civis na defesa de direitos superindividuais, ligados aos fins 
associativos (as chamadas “formações sociais” pelo direito italiano), em interpretação 
ampliativa ao art. 17 do NCPC. Ou seja, agem em defesa de seus objetivos institucionais como 
titulares do próprio direito alegado. Tal corrente não prosperou , pois que a sua adoção 
resultaria em sempre se perquirir sobre as finalidades estatutárias, em constante análise de 
pertinência temática, o que reduziria a participação e aplicação das ações coletivas. 
 Já segunda corrente, defendida por Arruda Alvim, Barbosa Moreira, Didier e Zanetti 
Jr. entre outros, entende tratar-se de legitimidade extraordinária, visto que o autor coletivo 
vai a juízo em nome próprio defender direito de outrem, ou seja, defender o direito 
metaindividual que é titularizado pela coletividade, caso em que atua como verdadeiro 
substituto processual. 
 Por fim, a terceira corrente, de origem alemã e tendo, no Brasil, como principal 
representante Nelson Nery Jr, pugna pela atuação de entes exclusivamente legitimados na 
condução do processo, diversos daqueles titulares do direito posto em juízo, os quais não 
podem fazer valer diretamente seus direitos subjetivos coletivos, tampouco intervir no 
processo2. É o que se extrai da leitura dos arts. 81 e 82 do CDC, onde os entes ali legitimados 
para conduzir o processo não são os titulares dos direitos coletivos lato sensu, e só eles 
possuem tal legitimidade. 
 Tal corrente também não ficou imune a críticas: a principal dificuldade por ela 
apresentada é que os efeitos da litispendência e da coisa julgada não se comunicarão aos 
substituídos, já que a legitimidade é exclusiva e autônoma do substituto. Todavia, prevend o 
esta situação, o sistema do CDC trouxe uma solução nos seus arts. 103 e 104. 
 
2 Exceto, no caso dos direitos individuais homogêneos, em que o indivíduo pode intervir como assistente 
litisconsorcial. 
 
 
3.2 Características 
 
 Parece-nos que a corrente adotada para legitimidade nas ações coletivas é que a da 
legitimação por substituição processual, com as seguintes características: 
 
- autônoma: pois o legitimado extraordinário está autorizado a conduzir o processo 
independentemente do titular do direito litigioso, ou seja, independente da autorização da 
coletividade titular do direito metaindividual. 
 
- exclusiva: pois APENAS o legitimado extraordinário está autorizado a propor a ação 
coletiva na defesa dos direitos coletivos lato sensu. 
 
- concorrente: pois há mais de um legitimado extraordinário à propositura da ação coletiva e 
qualquer um deles, sem ordem de preferência, pode propor a ação coletiva. 
 
- disjuntiva: pois, apesar de concorrente, cada um dos legitimados atua independentemente 
da vontade e da autorização dos demais co-legitimados. 
 
3.3 Legitimidade ativa 
 
 O rol dos legitimados coletivos ativos encontra-se, basicamente, nos artigos 5º da Lei 
de Ação Civil Pública e art. 82 do CDC, in verbis: 
 
LACP, art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: 
I – o Ministério Público; 
II – a Defensoria Pública; 
III – a união, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; 
IV – a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; 
V – a associação que, concomitantemente: 
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; 
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao 
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, 
histórico, turístico e paisagístico. 
 
CDC, art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: 
I – o Ministério Público; 
 
 
II – a união, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal; 
III – as entidades e órgãos da administração pública, direta ou indireta, ainda que sem 
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direi tos 
protegidos por este Código; 
IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre 
sues fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código, 
dispensada a autorização assemblear. 
 
3.3.1 Legitimidade do Ministério Público 
 
 É da Constituição Federal que se extrai, primordialmente, a legitimidade do 
Ministério Público para a propositura de ações coletivas. 
 
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do 
Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses 
sociais e individuais indisponíveis. 
 
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
(...) 
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio 
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; 
 
 Uma das grandes polêmicas quanto à legitimidade do Ministério Público é no caso 
da defesa de direitos individuais homogêneos (os acidentalmente coletivos), uma vez que eles 
são direitos patrimoniais disponíveis pertencentes a titulares individuais. 
 Para tanto, surgiram 3 posições doutrinárias tentando enfrentar tal questão, a saber: 
a) Teoria restritiva: entende que o M.P. não tem legitimidade para a defesa de direitos 
individuais homogêneos, ainda que o mesmo apresente um interessesocial. 
b) Teoria ampliativa: considera que toda e qualquer ação coletiva, justamente por ser coletiva, 
tem presente o requisito do interesse social, que seria, portanto, in re ipsa (presumida), donde se 
incluem as ações cujo direito protegido seja o individual homogêneo. 
c) Teoria mista: entende nem sempre o interesse social se encontra presente numa ação em que 
se veiculam direitos ou interesses individuais homogêneos; PORÉM, nos casos em que ele se 
fizer presente, aliado ao fato de se envolver um grande número de direitos individuais lesados, 
 
 
a legitimação do M.P. é inafastável. Trata-se da corrente majoritária, adotada tanto pela 
doutrina quanto pela jurisprudência3. 
 Outra questão polêmica relacionada à legitimidade do MP é no caso da impetração 
do MS coletivo, vez que tanto a CF quanto a Lei n. 12.016/09 omitem tal condição. Todavia, a 
doutrina tem firmado entendimento segundo o qual o membro ministerial tem sim tal 
legitimidade, malgrado a omissão legal, por dois motivos: 
1) a omissão na lei do MS deve ser preenchida pelas diversas leis pertencentes ao 
microssistema do processo coletivo, que, em nome do diálogo das fontes normativas, 
estabelecem exaustivamente a legitimidade do MP para as ações coletivas em geral; 
2) se é possível ao MP lançar mão de qualquer ação, nas vias ordinárias, para promover a 
tutela dos direitos coletivos, não há qualquer óbice também fazê-lo pela via do mandamus, mais 
célere e concentrada, caso detenha uma prova pré-constituída dos fatos alegados, em 
aplicação ao art. 83 do CDC, que estabelece o princípio da atipicidade da tutela coletiva. 
 
3.3.2 Legitimidade da Defensoria Pública 
 
 A Defensoria Pública não detinha legitimidade ampla e expressa para propor ação 
coletiva, quadro que mudou com a edição da Lei 11.448/2007, que inseriu a defensoria no rol 
dos legitimados extraordinários do artigo 5º da Lei de Ação Civil Pública. 
 Antes disso, só se conhecia duas situações nas quais a Defensoria Pública poderia 
atuar: 1) representando judicialmente uma associação economicamente hipossuficiente em 
ação civil pública para coibir danos ambientais; 2) por força do art. 82, III, do CDC, o órgão da 
Defensoria Pública, desprovido de personalidade jurídica, teria legitimidade para promover 
ação coletiva na defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos (detalhe: para 
além do direito do consumidor, em nome da interação das leis no microssistema da tutela 
coletiva). 
 Todavia, a questão que mais se debate, atualmente, sobre a atuação da defensoria em 
sede coletiva é a seguinte: teria ela legitimidade ativa apenas nos caos em que a coletividade 
fosse composta de pessoas hipossuficientes economicamente? 
 A questão é bastante controvertida, mas a posição dominante defende que basta a 
existência de algumas pessoas hipossuficientes ou necessitados para que já se justifique a 
 
3 Todavia, a jurisprudência dos tribunais superiores já fixou entendimento que o M.P. não tem legitimidade para 
a tutela de direitos individuais homogêneos em matéria tributária e previdenciária. 
 
 
 
atuação da Defensoria Pública, não havendo necessidade de todos os integrantes sejam 
necessitados. Didier e Zaneti Jr. (pág. 219) bem explicam a questão: 
 
Para que a Defensoria seja considerada como “legitimada adequada” para conduzir o 
processo coletivo, é preciso que seja demonstrado o nexo entre a demanda coletiva e o 
interesse da coletividade composta por pessoas “necessitadas”, conforme locução 
tradicional. Assim, por exemplo, não poderia a Defensoria Pública promover ação coletiva 
para a tutela de direitos de um grupo de consumidores de PlayStation III ou de Marcedes 
Benz. Não é necessário, porém, que a coletividade seja composta exclusivamente por pessoas 
necessitadas. Se fosse assim, praticamente estaria excluída a legitimação da Defensoria para 
a tutela de direitos difusos, que pertencem a uma coletividade de pessoas indeterminadas. 
 
3.3.3 Legitimidade dos entes pertencentes à Administração Pública Direta e Indireta 
 
 Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta, dotados de 
personalidade jurídica, possuem legitimidade ativa para a propositura da ação coletiva. 
Precisam, porém, demonstrar a pertinência temática de sua atuação. 
 Por outro lado, vale destacar também que os órgãos da administração pública 
possuem legitimidade ativa, ainda que desprovidos de personalidade jurídica própria, 
conforme se extrai do artigo 82, III, do CDC. 
 
Art. 82. (...) 
III – as entidades e órgãos da administração direta ou indireta, ainda que sem personalidade 
jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este 
Código. 
 
 A disposição legal citada destina-se a propiciar que órgãos como o PROCON possam 
igualmente propor ações coletivas. 
 
3.3.4 Legitimidade das Associações 
 
 Em interpretação extensiva ao art. 5º da LACP e ao art. 82 do CDC, deve-se entender 
por associação qualquer outra forma de associativismo, tais como sindicatos, entidades de 
classe, cooperativas e partidos políticos, DESDE QUE: 
 
 
a) tenham sido constituídas há pelo menos 1 (um) ano, requisito que poderá ser dispensado 
pelo juiz, em casos excepcionais, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela 
dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico protegido; 
b) inclua a associação, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao 
consumidor, a ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, 
histórico, turístico e paisagístico. Ou seja, deve-se demonstrar a pertinência temática entre o 
direito por ela protegido e suas finalidades institucionais, assunto cuja análise se passará a 
partir de agora. 
 
3.4 Pertinência Temática 
 
 Como se viu, o processo coletivo brasileiro adotou um regime de legitimidade 
extraordinária em que os substitutos processuais são indicados prévia e abstratamente pela 
lei, daí a se dizer que se trata de uma legitimidade ope legis. 
 Também já se viu que o sistema brasileiro, nesse ponto, distancia-se do norte-
americano, no qual a legitimidade do autor coletivo, lá denominada “adequacy of representation” 
ou “representação adequada” é feita caso a caso. 
 Ocorre que a prática das ações coletivas no Brasil tem revelado que a jurisprudência e 
a doutrina não têm aplicado o sistema de legitimidade ativa ope legis de maneira, por assim 
dizer, pura e automática. Ao contrário, têm exigido que entre o substituto processual e 
matéria discutida em juízo haja um liame, uma ligação por afinidade, notadamente com as 
finalidades institucionais do Autor da ação coletiva. 
 E não só doutrina e jurisprudência colocam em relevo esse liame: a lei também o faz, 
bastando ver que a LACP, em seu artigo 5º., V, “b”, quando trata da legitimidade das 
associações, exige que esteja incluído, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao 
meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio 
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. 
 A essa conexão entre as finalidades institucionais do legitimado extraordinário e a 
matéria discutida na ação coletiva dá-se o nome de pertinência temática. 
 Cumpre destacar que a pertinência temática e a representação adequada são conceitos que 
não se confundem, pois que este é mais abrangente que aquele. Em outras palavras, a falta de 
pertinência temática fará com que o autor coletivo não seja considerado um representante adequado, 
a comprometer a sua legitimidade ativa para atuar naquela específica ação coletiva. 
 
 
 Com razão, nesse ponto, Fredie Didier e Zaneti Jr. (pág. 213), quando pontuam que a 
legitimidade ativa, no processo coletivo, deve ser aferida em dois momentos: primeiro, 
abstratamente, quando se deve verificar se o autor coletivo é um daqueles que a lei aponta 
como legitimadoextraordinário; segundo, verificada essa legitimidade em tese, deverá o órgão 
julgador analisá-la em concreto, investigando a pertinência temática da atuação daquele 
legitimado em relação ao direito coletivo discutido em juízo. 
 Na prática, portanto, o que se percebe é que o processo coletivo brasileiro acaba por 
adotar um sistema híbrido de aferição de legitimidade, pois que, além da prévia autorização legal 
para a propositura da ação coletiva (legitimação ope legis), deve o autor demonstrar a pertinência 
temática da sua atuação, de modo a ser considerado, no caso concreto, um representante adequado. 
 
3.5 Legitimidade Passiva nas Ações Coletivas 
 
 Há ação coletiva passiva quando se formula uma demanda contra uma coletividade. 
Dessa forma, conclui-se que, assim como uma coletividade pode ser titular de um direito, 
pode também estar em situação de sujeição ao direito do autor. Exemplos: 
a) litígios coletivos trabalhistas, em que em cada um dos pólos se encontra o sindicato 
(representante adequado) das respectivas categorias – empregados e empregadores. 
b) ação proposta em face de categoria de servidores públicos, em casos de greve, com a 
pretensão de voltem ao trabalho. Noticia-se que a ação pioneira ocorreu em 2004, quando a 
categoria dos policiais federais entrou em greve. Naquela oportunidade, a União ingressou 
com ação em face da Federação Nacional dos Policiais Federais e o Sindicato dos Policiais 
Federais do Distrito Federal, pleiteando o retorno das atividades; 
c) caso de uma empresa que ingressa com ação a fim de ver declarado que seu projeto é 
ambientalmente correto, ou ação proposta por empresa que se vale de contratos de adesão, a 
fim de ver declarada a legalidade das cláusulas desse mesmo contrato. 
 
 Certo é que o conceito de representatividade adequada nas ações coletivas passivas 
ganha maior importância, na medida em que só é aceitável que demanda tal seja proposta em 
face daquele legitimado passivo que efetivamente seja o representante adequado daquela 
categoria. 
 A doutrina subdivide as ações coletivas passivas em originárias ou derivadas. Serão 
originárias quando surgem sem que lhes preceda uma demanda coletiva ativa; são derivadas 
quando surgem em decorrência de uma ação coletiva ativa, tal como ocorre com a ação 
 
 
rescisória de sentença proferida em ação coletiva ativa; ou na reconvenção em ação coletiva, 
em que o réu-reconvinte demanda em face da coletividade-reconvindo. 
0 
 
UNIDADE 4 – A Competência nas Ações Coletivas 
 
4.1 Noções Introdutórias 
 
 De acordo com o art. 16 do NCPC, “a jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais 
em todo território nacional, conforme as disposições deste código”. Ou seja, todo juiz é dotado de 
JURISDIÇÃO, de poder jurisdicional. 
 Entretanto, pela impossibilidade física de os juízes exercerem tal poder em todo 
território nacional, é que o ordenamento jurídico previu uma distribuição, uma repartição 
desse poder entre todos os juízes que compõe o Poder Judiciário. 
 A essa distribuição ou repartição do Poder Jurisdicional é que se denomina 
COMPETÊNCIA. Assim, competência é a medida da jurisdição; é a quantidade de poder 
atribuído a determinado órgão judicial; é a delimitação da jurisdição. 
 A Constituição Federal de 1988 já faz a grande 1º distribuição de competência ao 
dividir o Judiciário em 5 “Justiças”: Justiça Estadual, Justiça Federal, Justiça do Trabalho, 
Justiça Militar, Justiça Eleitoral, a depender da causa, ou seja, da natureza do litígio (da 
matéria). 
 Por darem solução a litígios específicos, as três últimas pertencem à chamada Justiça 
Especial. Por exclusão, às 2 primeiras, a saber, à Justiça Estadual e à Justiça Federal, caberá a 
solução de litígios comuns, ou seja, que não sejam trabalhista, eleitoral ou militar. Em virtude 
disso, são conhecidas por Justiça comum, as quais, por possuirem vários órgãos jurisdicionais, 
a competência será, por fim, distribuída através de quatro critérios, a saber: 
 
- material (absoluta) – considera-se a natureza da relação jurídica controvertida (família, 
sucessões, falência e recuperação judicial, consumidor, ambiental etc); 
- pessoal (absoluta) – é determinada pelas partes envolvidas (Justiça Federal - art. 109, C.F; 
Varas da Fazenda Pública etc); 
- funcional (absoluta) – funções do magistrado no processo (competência originária ou 
recursal; competência em ações acessórias – art. 61, NCPC); 
- territorial (relativa/absoluta): leva em conta o local ou o foro (comarca/seção judiciária) 
onde a ação poderá ou deverá ser ajuizada com vistas a trazer maior facilidade para as partes 
ou para o processo (no NCPC, as regras de competência territorial estão previstas entre os 
arts. 46 e 53); 
 
 
- valor da causa (relativa/absoluta) – está diretamente ligado à competência dos Juizados 
Especiais Cíveis (até 40 salários mínimos) e dos Juizados Especiais Federais e da Fazenda 
Pública (até 60 salários mínimos). 
 
4.2 A Competência no Processo Coletivo 
 
4.2.1 Critério material 
 
a) Justiça Eleitoral (art. 121, CF): em princípio, caberá ação coletiva na Justiça Eleitoral, desde 
que a causa de pedir for os assuntos relacionados no art. 121 da CF. 
 
b) Justiça Do Trabalho (art. 114, CF): é perfeitamente cabível ação coletiva na Justiça do 
Trabalho. Basta ler a Súmula 736 do STF: “Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham 
como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos 
trabalhadores.” 
 Exemplo comum: ACP proposta pelo MPT, para a defesa de interesses coletivos, 
quando desrespeitados direitos sociais. Até mesmo para a defesa de direitos individuais 
homogêneos, desde que haja relevante interesse social, é também cabível ação civil pública 
pelo MPT perante a Justiça do Trabalho. 
 Outro exemplo: ações de nulidade de cláusula de contrato coletivo ou convenção 
coletiva. 
 
c) Justiça Federal: aqui, adota-se predominantemente o critério do interesse direto e imediato 
da União, e não o critério da natureza do bem disputado (independe se o bem é da União, do 
Estado, do DF ou do Município). E mais: de acordo com a Súmula 150 do STJ, “Compete à Justiça 
Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas 
autarquias ou empresas públicas.”, e não à Justiça Estadual. 
Observação importante: A Súmula 183/STJ estabelecia uma hipótese de delegação 
de competência ao afirmar que: “compete ao Juiz Estadual, nas Comarcas que não sejam sede 
de vara da Justiça Federal, processar e julgar ação civil pública, ainda que a União figure no 
processo”. Ocorre que, em 2000, o STJ cancelou a Súmula. 
 
 
 
d) Justiça Estadual: desde que não seja de interesse da União e das demais entidades previstas 
no art. 109 da CF, a competência para a ação coletiva será da Justiça Estadual, reiterando -se o 
fato de que não cabe a esta decidir acerca se há ou não interesse da União, suas autarquias ou 
empresas públicas. 
 
4.2.2 Critério funcional 
 
 A regra geral é que a ação coletiva é de competência originária do juízo de 1º grau, e 
não de tribunal, de acordo com a origem do ato imputado, independentemente de quem seja a 
autoridade impugnada. 
 Houve uma tentativa legislativa de se criar foro de prerrogativa de função perante 
tribunais superiores ou inferiores na ação de improbidade administrativa. Essa tentativa se 
deu através da Lei 10.628/02, que alterou a redação do art. 84 do CPP (inserindo-lhe os §§1º e 
2º). Todavia, o STF, no julgamento da ADI 2797, declarou inconstitucional essa lei, sob o 
fundamento de que só a Constituição pode criar foro privilegiado. 
 
4.2.3 Critério territorial 
 
 A regra básica de competência para a Ação Civil Pública (bem como para qualquer 
ação coletiva, em prestígio ao princípio da integratividade do microssistema de tutela 
coletiva) encontra-se no artigo2º. da lei 7.347/85, que assim afirma: 
Lei 7.347/85 
Art. 2º. As ações previstas nesta lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, 
cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa. 
Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações 
posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. 
 
 Apesar de a lei falar em competência funcional (doutrina chiovendiana – segundo a 
qual uma causa é confiada ao juiz de determinado território pelo fato de ser a ele mais fácil ou 
mais eficaz exercer a sua função), a doutrina mais recente tem firmado entendimento de que 
se trata de competência territorial absoluta, em moldes bem parecidos com a tradicional 
regra do artigo 47 do NCPC. 
 Todavia, a LACP não cuida das situações em que o dano é regional ou nacional, 
ficando tal resposta a cargo do CDC, em seu artigo 93, in verbis: 
Código de Defesa do Consumidor: 
 
 
Art. 93. Ressalvada a competência da justiça federal, é competente para a causa a justiça 
local: 
I – no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local; 
II – no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal , para os danos de âmbito 
nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de 
competência concorrente. 
 
 Da leitura do dispositivo supra, pode-se, portanto, resumir assim as regras da 
competência territorial nas ações coletivas: 
 
• se o dano for local: a competência é do juízo do local do dano. Pode ocorrer, porém, de o 
dano ocorrer em mais de uma localidade (município). Em tais casos, o foro de qualquer dessas 
localidades é competente para a ação coletiva (um caso excepcional de competência 
territorial absoluta concorrente) e, sendo a demanda proposta no foro de qualquer deles, este 
se tornará prevento para quaisquer outras demandas que tenham a mesma causa de pedir ou 
pedido, conforme dispõe o parágrafo único do artigo 2º da LACP. 
 
• se o dano for regional (estadual): o foro é o da capital do Estado (para Mazzilli e Ada 
Pellegrini Grinover, a ação também poderia ser proposta no Distrito Federal, 
alternativamente). 
 
• se o dano for nacional: possuem competência concorrente alternativa os foros do Distrito 
Federal e da capital de quaisquer dos Estados envolvidos (STJ). 
 
 Um grande problema é que o art. 93 do CDC não define o que é dano regional e o que 
é dano nacional, o que causa alta dose de insegurança quando se deve definir, no caso 
concreto, o juízo competente para uma ação coletiva. Ex: dano atinge 3 grandes comarcas do 
Estado de Goiás (esse dano é regional ou local?); dano atinge os Estados de GO, TO e BA (é 
nacional ou regional?). 
 
4.2.4 Critério valorativo 
 No âmbito nacional, o critério valorativo só serve hoje para decidir a competência 
dos juizados. Com efeito, de acordo com o art. 3º, I da Lei 10.259/01, não cabe ação coletiva nos 
juizados (cíveis ou federais). 
 
 
 
4.3 Comentário ao Artigo 16 da Lei de Ação Civil Pública e artigo 2º.-A da Lei 9.494/97 
 
 Como já visto, a coletivização dos processos tem por finalidade a obtenção de 
economia processual, a garantia de acesso à justiça, a preservação da segurança jurídica, 
mediante a prevenção de prolação de decisões judiciais conflitantes etc, evitando , assim, a 
propositura de diversas ações substancialmente idênticas, colocando em risco tod os aqueles 
objetivos antes mencionados. 
 Inobstante a isso, polêmicas alterações realizadas nas leis que regem o sistema 
processual coletivo brasileiro acabaram por colocar em cheque a própria efetividade da tutela 
coletiva. Trata-se das alterações veiculadas pelo artigo 16 da lei 7.347/85 e artigo 2º.- A da lei 
9.494/97, assim redigidos: 
Lei 7.347/85 
Artigo 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes nos limites da competência 
territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência 
de provas, hipótese em que qualquer legitimado pode intentar outra ação com idêntico 
fundamento, valendo-se de nova prova. 
Lei 9.494/97 
Art. 2º.-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade 
associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os 
substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito de 
competência territorial do órgão prolator. 
 
 Tais dispositivos, portanto, limitam territorialmente os efeitos das decisões 
proferidas em ações coletivas, o que foi veementemente criticado pela doutrina, cujos 
argumentos podem ser assim resumidos: 
 
1º) tais alterações são inconstitucionais por ofenderem, primeiramente, o princípio da 
razoabilidade, na medida em que imporiam uma restrição absurda e despropositada à eficácia 
das decisões das ações coletivas; em segundo lugar, o princípio da igualdade, pois acaba 
ensejando a propositura de diversas ações coletivas substancialmente idênticas, com a 
consequente prolação, ao menos em tese, de decisões conflitantes; e, por fim, o princípio do 
acesso à justiça, pois deixa à margem da proteção jurisdicional coletividades que estejam fora 
dos limites de competência territorial do órgão prolator da decisão. 
 
 
 
2º) qualquer decisão judicial (donde se incluem as decisões coletivas) tem eficácia além dos 
limites territoriais de competência do órgão prolator (Ex: uma sentença de divórcio vale em 
qualquer lugar no Brasil); 
 
3º) os direitos coletivos lato sensu são essencialmente indivisíveis (art. 81, parágrafo único do 
CDC), razão pela qual seria impossível cindir os efeitos da decisão judicial pelo lugar que foi 
proferida, pois a lesão a um interessado implica a lesão a todos, e o proveito a um a todos 
beneficia; 
 
4º) e, por fim, o próprio artigo 93 do CDC define a competência para a ação coletiva de acordo 
com a extensão do dano. Assim, em caso de dano nacional, por exemplo, o juízo da capital do 
Estado ou do Distrito Federal terá, em tese, jurisdição nacional, e os efeitos de sua decisão 
atingiriam, naturalmente, todo o Brasil. 
 
 Todavia, não obstante tais argumentos, a posição atual dos tribunais, notadamente 
do STJ, é pela aplicação literal daqueles dispositivos. 
0 
 
UNIDADE 5 – CONEXÃO, CONTINÊNCIA E LITISPENDÊNCIA NO PROCESSO 
COLETIVO 
 
5.1 A relação entre as demandas (conexidade e litispendência) nos processos individual e 
coletivo 
 
No sistema brasileiro, o que define a relação entre demandas é a teoria da tríplice 
identidade: partes, causa de pedir e pedido (art. 337, §2º do NCPC). Dessa forma, é possível 
que duas demandas possuam elementos em comum, total ou parcialmente. 
Se a identidade for total (mesmas partes, causa de pedir e pedido), pode surgir dois 
fenômenos: coisa julgada (quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada 
em julgado - §4º, art. 337, NCPC) ou litispendência (quando se repete ação que está em curso 
- §3º, art. 337, NCPC). No processo individual, verificando qualquer uma delas, o magistrado 
determina a EXTINÇÃO do processo sem resolução do mérito (art. 486, V, NCPC). 
Por outro lado, se a identidade for meramente parcial, haverá o fenômeno da 
conexão (identidade de pedido ou causa de pedir - art. 55, NCPC) ou da continência 
(mesmas partes, mesma causa de pedir, mas o pedido de uma ação, por ser mais amplo, 
abrange os das outras - art. 56, NCPC). Nestes casos, no processo individual, sendo possível, 
o magistrado determinará a REUNIÃO das causas para julgamento em conjunto (art. 55, §1º 
e 57, NCPC) ou SUSPENSÃO de uma das causas, se não for possível a reunião (art. 313, V, 
NCPC). 
Todavia, no processo coletivo o que distingue as ações é a relação jurídica, o direito 
material discutido, em adoção à teoria italiana da identidade da relação jurídica material. 
Assim, se a União e o Ministério Público ajuízam duas ações coletivas com o mesmo 
pedido

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