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Apostila Processo Coletivo

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Prévia do material em texto

Apos�la
PROCESSO 
COLETIVO
Professora
Stela Tannure Leal
CESVA
2017
 
 
 
Dirigentes 
 
José Rogério Moura de Almeida Filho 
Presidente da FAA 
Antônio Celso Alves Pereira 
Diretor Geral do CESVA 
Ana Cristina Gasparete Daldegan 
Secretária Geral do CESVA 
 
 
 
Equipe de Desenvolvimento de Materiais 
 
Laboratório de Desenvolvimento de Material Pedagógico - LDMP 
Coordenação Geral do NEAD: Marcio Martins da Costa 
Coordenação Comercial: Josué Bellot de Mattos 
Coordenação de Tecnologia: Carolina Augusta Assumpção Gouveia 
Coordenação de Curso: Cleyson de Moraes Mello 
Assessora Pedagógica: Regina Célia Pentagna Petrillo 
Coordenação de Produção de Materiais: Marcio Martins da Costa 
Capa e Editoração: Natália Roza 
Revisão Textual e Normas: Regina Célia Pentagna Petrillo 
 
 
 
 
 
 
 
 Leal, Stela Tannure 
 
 Processo coletivo [recurso eletrônico] / Stela Tannure Leal. – Valença: CESVA/FAA, 
2017. 
 165p. 
. 
 Material didático utilizado pelo Núcleo de Ensino a Distância do CESVA/FAA 
 
1. Processo Coletivo. 2. Tutela Coletiva. 3. Ações Coletivas. I. Título. 
 
 
CDU: 347.1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha Catalográfica 
 
4
Sumário
Apresentação .............................................................................................. 5 
Capítulo I ................................................................................................6
UNIDADE I – A tutela processual individual e a tutela processual coletiva . 7
UNIDADE II – O microssistema de Processo Coletivo .................................19
UNIDADE III – Princípios do processo coletivo (I) .......................................25
UNIDADE IV – Princípios do processo coletivo (II) ......................................33
Capítulo II .............................................................................................41
UNIDADE V – Legitimação e Representatividade adequada ......................42
UNIDADE VI – Regras de competência no Processo Coletivo .....................56
UNIDADE VII – Prescrição e decadência no Processo Coletivo ...................66
Capítulo III ............................................................................................76
UNIDADE VIII – Inquérito Civil ...................................................................77
UNIDADE IX – Compromisso de Ajustamento de Conduta .........................87
UNIDADE X – Meios Adequados de Solução de Conflitos e a tutela coletiva 
de direitos ................................................................................................. 94
UNIDADE XI – Liquidação de sentença e regimes de execução de decisões 
com efeitos coletivos ............................................................................... 101
Capítulo IV ......................................................................................... 115
UNIDADE XII – Relações entre ações coletivas .........................................116
UNIDADE XIII – Espécies de processo coletivo .........................................128
UNIDADE XIV – Coisa julgada no processo coletivo ..................................148 
Referências Bibliográficas ................................................................... 163
 Apresentação
5
 
 O Direito Processual Coletivo se apresenta como uma técnica de tutela adequada 
para a efetivação dos direitos coletivos em virtude da insuficiência dos instrumentos do 
Direito Processual clássico, voltado para a concretização de questões individuais.
Você aprenderá, nesta disciplina, a identificar as raízes constitucionais e as diferencia-
ções essenciais, para a coletivização da tutela processual.
Esperamos que este estudo seja muito rico.
Bem-vindo! Conte conosco para tornar esta experiência mais proveitosa!
Abraços,
Equipe NEAD e Professora Stela
 
 Apresentação
6
Capítulo I
 
 Você está pronto para iniciar seus estudos introdutórios sobre Processo Coletivo? 
Está em um local agradável e que facilite sua a aprendizagem?
 O Capítulo I proporcionará o contato com as diretrizes constitucionais que organi-
zam o Direito Processual Coletivo, sua estruturação microssistemática e os princípios que 
orientam este ramo do Direito Processual.
 Na Unidade 1, você conhecerá um pouco sobre como surgiu a necessidade de es-
pecialização do Direito Processual Coletivo, assim como os direitos tutelados através do 
Processo Coletivo.
 A Unidade 2 trabalhará a conformação do Processo Coletivo como um microssiste-
ma, indicando suas relações interpretativas com os demais textos legais sobre o tema.
 A conformação constitucional do Processo Coletivo será trabalhada na Unidade 3 e, 
finalmente, os princípios orientadores serão abordados de maneira mais aprofundada na 
Unidade 4.
Boa leitura.
CONSTITUIÇÃO E PROCESSO COLETIVO
7
UNIDADE I – A tutela processual individual e a
 tutela processual coletiva
 NESTA UNIDADE, VOCÊ:
 1. VERÁ UM BREVE PANORAMA HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL, ENTEN-
DENDO A “CRISE” QUE OCASIONOU A DIFERENCIAÇÃO ENTRE TUTELA PROCESSUAL INDIVI-
DUAL E COLETIVA;
 2. COMPREENDERÁ QUE A DIFERENCIAÇÃO ENTRE A TUTELA PROCESSUAL INDI-
VIDUAL E A TUTELA PROCESSUAL COLETIVA SE DÁ, PRINCIPALMENTE, POR CONTA DE SUAS 
FINALIDADES;
 3. PERCEBERÁ A NECESSIDADE DE TRATAMENTO DIFERENCIADO DAS DUAS MATÉ-
RIAS. 
1- DIREITO PROCESSUAL INDIVIDUAL COMO FERRAMENTA LIMITADA DE TUTE-
LA DE DIREITOS 
 Classicamente, o direito processual se destinava a solucionar problemas entre parti-
culares – ou daquilo que se denomina como a fórmula devedor/credor, envolvendo relações 
jurídicas estabelecidas entre indivíduo e indivíduo (relações interindividuais) ou entre mais de 
um titular, no polo passivo ou ativo (relações pluriindividuais). Para tanto, foram formuladas 
as ferramentas processuais que são analisadas nas disciplinas de Direito Processual Civil: es-
truturas da fase postulatória, meios de prova, regimes de coisa julgada, mecanismos para a 
concretização das decisões etc.
 “o campo de eleição dos instrumentos tradicionais de tutela ju-
diciária é o das relações obrigacionais, com a rotineira contra-
posição entre duas pessoas, uma das quais se atribui a condi-
ção de credora e reclama do suposto devedor certa prestação.” 
(BARBOSA MOREIRA, 2014, p. 25)
8
 Contudo, começam a surgir conflitos de interesses distintos desta fórmula, envolvendo 
coletividades de diferentes naturezas, que não se limitam à reunião de pessoas que vemos 
nas relações plurindividuais. Diante destas situações, as ferramentas conhecidas do direito 
processual passam a se revelar não só inadequadas para o tratamento destes conflitos, como, 
em muitos casos, podem gerar situações de flagrante injustiça.
 Percebe-se, portanto, que as ferramentas de tutela processual coletiva precisam ser 
adaptadas – ou mesmo reformuladas – para que seja possível oferecer a tutela processual, vol-
tadas para situações jurídicas coletivas. Assim, passamos a observar a convivência de duas for-
mas de tutela processual distintas, mas em convivência em nosso ordenamento, de maneira a 
organizar um microssistema processual para a tutela coletiva. É o que veremos na Unidade 2.
 Imagine a seguinte situação: uma marca famosa de sabão em pó resolve lucrar mais 
de forma discreta, e, para isso, passa a colocar somente 950g de sabão nas caixas de 1kg em 
alguns lotes. Pense no processo civil tradicional e reflita sobre as seguintes questões:
 a) todas as pessoas que compram sabão dos lotes defeituosos perceberam a diferen-
ça de peso?
 b) seria possível determinar todos os atingidos pela atuação da empresa?
 c) se você fosse um dos atingidos, movimentaria a máquina judiciária por conta de 
50g de sabão?
 d) como se estruturaria um processo a fim de tratar este problema? Como todos os 
envolvidos poderiam se manifestar? 
 e) a atuação de umapessoa em juízo vincularia a atuação das demais?
2- O “PROJETO FLORENÇA” E AS TRÊS ONDAS DO ACESSO À JUSTIÇA
 A evolução do direito processual coletivo guarda relação estreita com um movimento 
doutrinário ocorrido no âmbito do direito processual, conhecido como movimento do “Acesso 
à Justiça”. 
 O movimento do acesso à justiça foi o resultado das pesquisas realizadas pelo italiano 
Mauro Cappelletti, em coautoria com o norte-americano Bryan Garth, denominadas como 
9
“Projeto Florença”. A partir da observação de vários ordenamentos jurídicos, foi elaborado um 
relatório mundial sobre o acesso à justiça, identificando as principais dificuldades e obstáculos 
a serem superados para a consecução de uma justiça mais democrática e igualitária. (CAPPEL-
LETI, GARTH; 1988)
 De acordo com os obstáculos encontrados, Cappelletti divide o estudo do Direito Pro-
cessual em três grandes ondas renovatórias. 
 A primeira onda renovatória do direito processual atina com a necessidade de se supe-
rar o obstáculo da carência econômica. Cappelletti estuda os métodos utilizados em variados 
países para propiciar aos hipossuficientes economicamente acesso amplo à justiça (defenso-
rias públicas, advogados privados remunerados pelo Estado, criação de justiças de pequenas 
causas, isenção de custas e emolumentos etc).
 A segunda onda renovatória do direito processual trata, justamente, do acesso à justi-
ça em defesa dos direitos coletivos e difusos. O objetivo é facilitar a tutela daqueles direitos 
que pertencem, ao mesmo tempo, a todos e a ninguém. São estudados os meios extrajudiciais 
(órgãos administrativos na proteção dos direitos difusos, termos de ajuste de conduta, settle-
ments, inquérito civil etc.) e judiciais (ações populares, classactions e ações coletivas em geral) 
destinados à proteção de tais direitos.
 Por fim, a terceira onda renovatória do direito processual engloba as duas anteriores, 
e vai mais além: cuida de criar um novo enfoque para o processo. Visa a adaptar o processo, 
sob todos os aspectos, à realidade material. O foco são as tutelas diferenciadas, as formas 
alternativas de solução de conflitos (conciliação, arbitragem, mediação), enfim, tudo quanto 
possa colaborar para a adequação do processo à realidade.
 É a segunda onda renovatória do direito processual, naturalmente, que interessa aos 
nossos estudos. 
 Sabe-se que a tarefa de proteger direitos que não possuem titular determinado e, ain-
da, que são indivisíveis, encontra sérios obstáculos no âmbito do direito processual tradicio-
nal.
 O processo ortodoxo, como vimos, possui um perfil eminementemente individualista. 
10
Do ponto de vista da legitimidade, somente o pretenso titular de um direito pode invocá-lo em 
juízo. Do ponto de vista do contraditório e da publicidade, é este legitimado, titular da relação 
jurídica material, quem deve ter a oportunidade de ciência e manifestação sobre os atos pro-
cessuais. Do ponto de vista da coisa julgada, somente as partes que participaram diretamente 
no processo é que podem ser alcançadas pela imutabilidade e indiscutibilidade dos efeitos da 
sentença. Ainda, a sentença de mérito, desde que transitada em julgado, é imutável e indiscu-
tível em todo e qualquer processo, pouco importando seu conteúdo. 
 A se levar ao extremo os princípios individuais do processo, somente se poderia ad-
mitir a defesa de direitos difusos se a ação fosse proposta por todos os membros da socie-
dade. O direito de respirar ar puro, por exemplo, deve ser invocado por todos os habitantes 
do planeta Terra e a coisa julgada deve alcançá-los a todos, sem distinção, independente do 
resultado da lide. Imagine como seriam realizados os atos de comunicação (citação, intimação, 
cartas precatórias, rogatórias e de ordem) num processo desta magnitude. A garantia de “um 
dia no tribunal” e o direito de “ouvir e ser ouvido” estaria inviabilizado pela natureza do direito 
e pela multiplicidade de seus titulares.
 Entretanto, em meados do século passado, já se tinha, no Brasil, a consciência de que 
os direitos coletivos mereciam proteção judicial. Os direitos decorrentes da evolução cultural, 
científica, tecnológica e comercial, tais como os direitos do consumidor, os direitos ambientais 
e os direitos do contribuinte, não mais poderiam permanecer no “limbo” jurídico. Também 
os direitos das minorias marginalizadas, como os trabalhadores de determinada categoria, as 
crianças e adolescentes, os idosos e deficientes, permaneciam no “limbo” jurídico.
	 Os	cientistas	do	direito	adoram	se	utilizar	da	expressão	“limbo”	jurídico	para	designar	
o	local	onde	ficam	os	direitos	insuscetíveis	de	proteção.	Do	ponto	de	vista	católico,	o	limbo	é	“o	
lugar	intermediário	entre	o	céu	e	o	inferno	onde,	sem	a	felicidade	celeste,	nem	as	penas	infer-
nais,	se	encontram	as	almas	das	crianças	que	morreram	sem	batismo	e	onde	permaneceram	
as	almas	dos	justos,	antes	da	ascensão	de	Jesus	Cristo”.	Um	interesse	que	permanece	no	“limbo	
jurídico”	é	um	interesse	que	não	possui	ainda	destino,	nem	bom	nem	mau.
11
 Como às vezes a expectativa é pior do que o castigo, ou seja, o limbo jurídico, muitas 
vezes, é pior do que o inferno jurídico. As ações coletivas surgiram, no Brasil e no mundo, para 
retirar os direitos coletivos e difusos deste estado de total abandono.
3- OS DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS – DIREITOS DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVI-
DUAIS HOMOGÊNEOS
 Uma vez que reconhecemos a existência de situações jurídicas coletivas, precisamos 
compreender de que maneira estas situações se organizam. Seguimos, para isso, a estrutu-
ração oferecida pelo Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 81, parágrafo único, que 
divide os direitos coletivos ou transindividuais em direitos difusos, direitos coletivos stricto 
sensu e direitos individuais homogêneos.
Aqui, vale um alerta: em alguns momentos, na 
doutrina e na legislação, surge a denominação “interesses” 
juntamente com a denominação “direitos”. Esta pode ser vista como 
uma escolha irrefletida de palavras – como o nosso Direito Processual 
Coletivo tem forte inspiração italiana, alguns juristas traduziram mal a 
expressão interessilegitimi, que, em português, estaria mais próxima de 
direitos legítimos.
A ressalva é realizada por Fredie Didier Jr. (DIDIER JR., ZANETI JR., 2017, 
p. 67-68) e tem relevância prática: se os direitos transindividuais forem 
tratados como interesses, pode haver confusão para tratá-los no manda-
do de segurança coletivo (que aprofundaremos na unidade 13), porque 
ele não tutela “meros interesses”.
Em virtude disso, sempre utilizaremos a expressão: “direitos”.
12
 Os direitos difusos são, como enuncia o inciso I do parágrafo único do art. 81 do Código 
de Defesa do Consumidor, aqueles caracterizados pela sua transindividualidade e sua natureza 
indivisível, sendo titularizado por um grupo indeterminado, mas ligado por circunstâncias de 
fato. 
 Não há entre os sujeitos do grupo titular uma vinculação de ordem jurídica para carac-
terizar este direito. Um exemplo que nos permite perceber isso é a propaganda enganosa ou 
abusiva. 
 Se uma companhia telefônica veicula uma peça publicitária, indicando que o acesso às 
redes sociais Facebook e Instagram é gratuito nos seus planos pós-pagos, mas omite valores 
de cobrança, esta é uma propaganda enganosa, nos termos do art. 37, §2º, do Código de De-
fesa do Consumidor.
 Não há, aqui, uma relação jurídica de fundo que possibilite precisar quem foram os 
afetados. Dizer que todos os que contrataram com a empresa telefônica no período posterior 
à exibição das peças publicitárias seria tentador, mas alguns podem ter contratado sem assistir 
a peça publicitária, outros podem ter contratado sem interesse naquele conteúdo específico, 
enfim, somente as circunstâncias fáticas podem dizer quem são os titulares deste direito (a 
contratação do plano de telefonia em condições deficientes de informação, oriundas do con-
tato coma propaganda enganosa).
 Normalmente, estes direitos possuem uma conflituosidade muito baixa, porque as 
pessoas sofrem as consequências da lesão de maneira muito semelhante, o que diminui o 
interesse pessoal em solucionar o caso (VITORELLI, 2016, p. 86). 
A proteção ao meio ambiente é o exemplo mais tradicional de direito difuso: não há como divi-
dir a natureza deste direito (a aspiração a um ambiente equilibrado), assim como não há como 
precisar qual seria o seu grupo titular (todos somos sujeitos deste direito difuso, mesmo as ge-
rações futuras). 
Quando ocorre uma lesão a este direito, contudo, há uma circunstância de fato que une os seus 
titulares, mesmo que isso não seja suficiente para delimitar que grupo seria este.
Exemplo: Se um acidente com um navio petroleiro ocasiona um vazamento em um recife de co-
rais, algumas comunidades são mais atingidas que outras (pescadores da região X moradores 
de uma região mais afastada do local), mas, em alguma medida, todos são atingidos.
13
 Os direitos coletivosstricto sensu, por sua vez, são conceituados pelo inciso II do pa-
rágrafo único do art. 81 do Código de Defesa do Consumidor. São, também, direitos transindi-
viduais e indivisíveis, mas sua titularidade pertence a um grupo inicialmente indeterminado, 
mas determinável por uma relação jurídica base, anterior à lesão.
 Esta relação jurídica pode ser tanto um elo que aproxime o grupo em si, quanto uma 
vinculação com a outra parte envolvida. Portanto, é esta coesão jurídica do grupo titular do 
direito o que diferencia os direitos coletivos stricto	sensu dos direitos difusos.
 Uma relação jurídica que una os membros de uma determinada categoria pode ser fa-
cilmente visualizada nas situações de lesão a direitos de uma determinada classe profissional. 
Por exemplo, o Código de Ética Odontológica (Resolução CFO 118/2012) estabelece, em seu 
art. 5º, VI, que os profissionais de Odontologia podem se recusar a trabalhar em determinadas 
circunstâncias.
 
 Se a Secretaria de Saúde de um determinado Estado da Federação formula um edital 
para seleção de dentistas e, dentre suas atribuições, limita procedimentos ou técnicas para o 
trabalho dos dentistas selecionados, há, aqui, uma lesão a um direito coletivo stricto	sensu, 
tendo em vista que toda a categoria profissional seria lesada pelo dispositivo.
 Quando se fala em relação jurídica que ligue os sujeitos de uma dada categoria “à parte 
contrária”, temos os contribuintes de um determinado imposto em suas relações com a auto-
ridade fiscal.
 Se um Município cria regras de isenção de IPTU que ofendam a isonomia, lesa-se um 
direito coletivo stricto	sensu. Situação análoga ocorreria naqueles casos em que a lesão fosse 
Art. 5º - Constituem direitos fundamentais dos profissionais inscritos, 
segundo suas atribuições específicas: VI – recusar qualquer disposição 
estatutária,regimental, de instituição pública ou privada, que limite a 
escolha dos meios a serem postos em prática para o estabelecimen-
to do diagnóstico e para a execução do tratamento, bem como recu-
sar-se a executar atividades que não sejam de sua competência legal;
14
direcionada aos alunos de determinada escola ou aos contratantes de um tipo específico de 
seguro de veículos automotores – a relação jurídica entre cada um dos membros do grupo e a 
parte que ocasionou a lesão (escola, banco) seria o ponto determinante desta como um direito 
coletivo stricto sensu.
 Vitorelli (2016, p. 89) indica que, nestes casos, a difusão dos conflitos coletivos tem ca-
ráter local, em virtude da determinabilidade da extensão do grupo, das relações jurídicas que 
o identificam e de suas perspectivas comuns. Divergências internas dentro do grupo podem 
ocasionar um aumento da conflituosidade entre os membros do grupo atingido (por exemplo, 
um grupo indígena atingido por uma lesão ambiental pode ter segmentos que discordam so-
bre a melhor decisão a tomar).
 Os direitos individuais homogêneos são os mais delicados em sua caracterização. O 
art. 81, parágrafo único, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor os identifica apenas 
como “decorrentes de origem comum”. Compreende-se que a relação jurídica entre as partes 
se dá após o fato lesivo, e em decorrência da própria lesão. 
 Esta categoria de direitos é oriunda da massificação ou padronização das relações jurí-
dicas: sem esta criação jurídica, direitos individuais não poderiam ser tutelados coletivamente. 
Aqui, há mais que mero somatório das ações individuais, mas sim uma tese jurídica geral, cujo 
acolhimento aproveita a uma coletividade. 
 O exemplo apresentado indica um direito individual homogêneo: não havia qualquer 
ligação jurídica entre os consumidores do sabão em pó, mas a lesão ocasionada pelo fabrican-
te (lotes defeituosos, com 50g a menos) cria uma relação jurídica entre eles. A tese jurídica 
genérica, neste caso, indicaria a existência de lotes defeituosos de sabão em pó, buscando a 
reparação integral do ilícito realizado pelo fabricante (que, nesta situação, equivaleria a todo 
o prejuízo ocasionado pela “sonegação” de sabão). Após a decisão, os legitimados individuais 
se habilitam para a liquidação (apuração do quantum devido) e posterior execução de suas 
reparações. 
 O julgado a seguir apresenta uma lesão que se traduz como direito individual homogê-
neo. Assim como os prejuízos oriundos de condutas abusivas em contratos de telefonia móvel, 
o Direito do Consumidor está repleto de outros exemplos de direitos individuais homogêneos, 
15
como os decorrentes da cobrança indevida de tarifas bancárias. Nestas situações, os indivídu-
os lesados podem se organizar em associações, que possuem legitimidade para atuar em juízo 
(como será aprofundado na Unidade 5). 
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. 1.PROPOSITURA 
POR ASSOCIAÇÃO. NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DOS ASSOCIADOS. INOVAÇÃO 
RECURSAL. 2. TELEFONIA MÓVEL. ESSENCIALIDADE DO SERVIÇO. DIREITOS INDIVIDUAIS HO-
MOGÊNEOS. LEGITIMIDADE DA ASSOCIAÇÃO DE CONSUMIDORES. 3. PREENCHIMENTO DO 
TERMO DE GARANTIA. DEVER DE INFORMAÇÃO. DIREITO BÁSICO DO CONSUMIDOR. 4. AGRA-
VO DESPROVIDO.
 1. A necessidade de autorização expressa para ajuizamento de ação civil pública por 
associação de consumidores não objeto de impugnação no momento oportuno, mas tão-so-
mente nas razões desta insurgência, configurando-se a inovação recursal.
 2. Os direitos dos consumidores de telefonia móvel possuem grande relevância social, 
tratando-se de direitos individuais homogêneos.
Assim, as associações de defesa aos direitos do consumidor têm legitimidade ativa para a de-
fesa dos direitos coletivos ou individuais homogêneos de toda a categoria que representa ou 
de apenas parte dela. Precedentes.
 3. O preenchimento do termo de garantia apenas concretiza a determinação legal im-
posta ao fornecedor, no art. 6º, III, do CDC, mormente em razão de não haver nenhum prejuízo 
à companhia telefônica.
 4. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AREsp 368.510/PE, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, jul-
gado em 21/02/2017, DJe 07/03/2017) 
 Esta caracterização pode levar ao entendimento de que os direitos individuais homo-
gêneos seriam, meramente, direitos individuais, tratados coletivamente, o que é errôneo. A 
construção jurídica desta categoria de direitos coletivos objetiva integrar elementos de direito 
material (que caracterizam o direito individual homogêneo) e direito processual (que aplicam 
16
instrumentos processuais de tutela coletiva aos casos em questão).
 Justamente a forma como a tutela dos direitos individuais homogêneos é estruturada 
indica sua caracterização como direito coletivo. Já se sabe, aqui, que algum dos indivíduos le-
sados pode não se habilitar para a liquidação de seu prejuízo. Como a decisão judicial, nestes 
casos, pretende uma reparação integral do dano, para onde iria o “troco”?
 Este resíduo é encaminhado,segundo o art. 99 do Código de Defesa do Consumidor, ao 
Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, criado pela Lei de Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/1985) 
e regulamentado pelo Decreto 1.306/1994 – o que evidencia o interesse público subjacente 
ao tratamento dos direitos individuais homogêneos, assim como sua natureza coletiva.
4- COMO DEFINIR O CONTEÚDO DE UMA AÇÃO COLETIVA? 
 As lesões a direitos coletivos lato	sensu podem ser de natureza complexa que envolve 
questões de responsabilidade penal e civil. A despeito das ações penais que podem ser pro-
postas, várias ações civis podem ser iniciadas em paralelo, sejam elas individuais ou coletivas. 
 Para melhor determinação do conteúdo do direito coletivo lato	sensu, Antonio Gidi 
indica que o direito material violado é o critério que o explicita de maneira mais evidente. 
Nelson Nery Jr. discorda, indicando que a tutela jurisdicional pretendida seria mais adequada 
Sobre o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos:
• “Afinal de contas, o que é o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos criado na Lei de Ação 
Civil Pública?”, disponível em http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI221846,51045-Afi-
nal+de+contas+o+que+e+o+Fundo+dos+Direitos+Difusos+previsto+na+Lei
• Link explicativo do Ministério da Justiça: http://www.justica.gov.br/seus-direitos/con-
sumidor/direitos-difusos 
http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI221846,51045-Afinal+de+contas+o+que+e+o+Fundo+dos+Direitos+Di
http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI221846,51045-Afinal+de+contas+o+que+e+o+Fundo+dos+Direitos+Di
17
para delinear a natureza do direito. Fredie Didier Jr., apontando para esta discussão, indica 
que a postura técnica mais adequada seria a de conjugar estes dois critérios, que têm entre si 
uma relação de complementariedade (DIDIER JR., ZANETI JR., 2017, pp. 84-86). Para melhor 
compreensão, tratemos do caso a seguir. 
Veicula-se peça publicitária de uma bala de goma, afirmando ser esta um suplemento vitamí-
nico que combate o câncer. Nesta situação, há:
 Ilícito penal, previsto no art. 66 do Código de Defesa do Consumidor (“Art. 66. 
F a z e r afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, 
característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia 
de produtos ou serviços: Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.”). Neste enquadra-
mento, inicia-se a persecução penal; 
 Direito difuso lesionado pela publicidade enganosa (lembremo-nos que a cole-
tividade que não pode ser precisada – todos nós poderíamos ter assistido à publicidade). 
O pedido se refere à necessidade de retirada do produto do mercado, exigência de contrapro-
paganda etc; 
 Direito individual homogêneo entre todos aqueles que consumiram as balas de 
g o m a acreditando se tratar de um medicamento eficaz contra o câncer. Aqui, há o pedi-
do de reparação amparado na tese jurídica geral, que contempla a reparação integral do dano, 
na forma dos arts. 82 e 95 do Código de Defesa do Consumidor. 
 A atuação do advogado, quando litiga em defesa de direitos coletivos, deve ser a de 
precisar ao máximo o pedido e a causa de pedir, indicando a espécie de direito coletivo que 
considera aplicável à ação (DIDIER JR., ZANETI JR., 2017, p. 86). Isso se impõe como uma neces-
sidade por conta do fato de que o ordenamento brasileiro não distingue procedimentos entre 
as espécies de direitos coletivos, o que pode ocasionar alguma confusão prática.
18
 
Um caso em evidência que conjuga diversos di-
reitos coletivos de categorias distintas é o que envolve a minera-
dora Samarco. Fredie Didier Jr. (DIDIER JR., ZANETI JR., 2017, p. 95) indica 
quais são as ações em trâmite e como se deu a reflexão sobre a competência 
adequada (tema que nos aprofundaremos na Unidade 6):
 a) As lesões a direitos difusos (meio ambiente adequado) e direitos indi-
viduais homogêneos (lesões ambientais direcionadas a grupos que não tinham 
relação jurídica que os ligasse antes do dano, como nos casos de falta de água 
potável na região do Rio Doce, relacionada com o acidente na barragem do Fun-
dão), por terem um conteúdo mais macroscópico, tramitam em Belo Horizonte 
– que é o foro da capital de um dos estados mais atingidos (local do dano), e o 
foro prevento (porque as primeiras ações coletivas foram distribuídas lá);
 b) Nos casos em que a ação coletiva aprecia danos a comunidades lo-
cais, (direitos coletivos stricto	sensu) a competência mais adequada é a da loca-
lidade em que se situa aquele grupo (como no caso dos indígenas Krenak e dos 
trabalhadores de extração de areia da região do Rio Doce). Nestas situações, 
o juízo de Belo Horizonte declina da competência para que a tutela seja mais 
adequada à situação jurídica daquele grupo.
19
UNIDADE II – O microssistema de Processo Coletivo
 NESTA UNIDADE, VOCÊ:
 1. COMPREENDERÁ QUE A TUTELA PROCESSUAL COLETIVA DEMANDA A ESPECIA-
LIZAÇÃO DE ALGUMAS FERRAMENTAS PROCESSUAIS; 
 2. COMPREENDERÁ QUE O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO POSSUI UMA 
ESTRUTURAÇÃO DIFERENCIADA PARA A TUTELA JURISDICIONAL COLETIVA;
 3. APRENDERÁ OS MECANISMOS INTERPRETATIVOS RELACIONADOS COM ESTE 
CONJUNTO MICROSSISTEMÁTICO.
1- O DIREITO PROCESSUAL COLETIVO E O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973 
 
 O movimento de codificação é, historicamente, representativo da ideia de que a reu-
nião de textos legislativos em um código consolida todo o conhecimento sobre aquele ramo 
jurídico, como uma enciclopédia, que sintetiza todos os problemas passíveis de serem enfren-
tados naquela matéria, de forma sistematizada. 
Credita-se, assim, uma criatividade ilimitada ao legislador, que teria a possibilidade de imagi-
nar todos os casos possíveis, presentes e futuros. Como o próprio Código de Processo Civil de 
1973 mostra, esta postura é bastante ingênua, pois as transformações sociais tornaram aquele 
texto legal obsoleto. 
 
 O Código de Processo Civil de 1973 foi promulgado num contexto bastante diferente 
do Código de Processo Civil atual (que foi promulgado em 2015): havia, naquele momento, 
uma pretensão de completude que representa muito bem as ideias do movimento oitocentis-
ta de codificação.
 Naquele momento, não havia uma preocupação legislativa com a tutela jurisdicional 
“VAMOS RELEMBRAR?”
20
coletiva – já havia previsão para a Ação Popular e o Mandado de Segurança, mas eles não eram 
tratados como procedimentos de tutela especializada. Em virtude disso, o texto do CPC/1973 
era voltado para a tutela jurisdicional individual.
 A década de 80 foi um período em que as preocupações doutrinárias se voltaram para 
a tutela coletiva – em muito, por conta do destaque obtido pela obra de Mauro Cappelletti e 
Bryan Garth, Acesso à Justiça (como visto na Unidade 1). Neste panorama, iniciou-se um mo-
vimento de promulgação de leis extravagantes de direito processual. Em 1984, foi promulgada 
a Lei dos Juizados de Pequenas Causas (Lei 7.244/1984), a qual atendia às finalidades pre-
tendidas pela primeira onda, descrita por aqueles autores), a Lei de Ação Civil Pública (Lei n. 
7.347/1985) e, já num momento posterior à promulgação da Constituição de 1988, o Código 
de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/1990).
 Estas duas leis desenham diferenciações procedimentais para a tutela dos direitos co-
letivos lato	sensu que não eram previstas pelo CPC/1973. No caso do Código de Defesa do 
Consumidor, normas processuais especializadas foram inseridas em uma lei que também tra-
zia normas de direito administrativo e penal. Diante desta lógica processual distinta, inicia-se a 
menção a um microssistema de processo coletivo, que será o objeto de estudo desta unidade.
 
2- O DIREITO PROCESSUAL COLETIVO E A ORGANIZAÇÃO MICROSSISTEMÁTICA 
DO DIREITO PROCESSUAL 
 O conceito de microssistema é oriundo do direito privado, denominando o conjunto 
legislativo que tutela um determinado instituto jurídico – e que, por vezes, possui particulari-
dadesque conflitam com o ramo jurídico que lhe deu origem. O direito civil, no Brasil, passou 
por um momento de formação de uma série de microssistemas durante a vigência do Código 
Civil de 1916, com o surgimento de leis esparsas que regulavam questões específicas (direitos 
da personalidade, direito de família etc.), mas houve uma tentativa de reorganização do Di-
reito Civil com a “recodificação” de 2002. Contudo, os microssistemas foram preservados no 
Código Civil de 2002. Outros ramos do direito também passaram a se organizar em microssis-
temas, como o Direito Administrativo, o Direito Penal e o Direito Processual Penal.
21
 Naquilo que diz respeito ao Direito Processual, reconheceu-se, na década de 80, que o 
“engessamento” do CPC/1973 não permitiria o amadurecimento da tutela jurisdicional, o que 
inspirou Candido Rangel Dinamarco (1996) a recomendar as chamadas “minirreformas” do 
Direito Processual. Desta maneira, leis esparsas aprofundariam a disciplina de determinados 
institutos do direito processual, criando núcleos de amadurecimento destes institutos, em 
paralelo ao Código de Processo Civil – ou seja, microssistemas.
 O movimento de criação dos microssistemas no Direito Processual se dá de maneira 
muito semelhante ao do Direito Privado: o CPC/1973 sofreu uma série de pequenas reformas 
e passou a conviver com legislação esparsa que regulava questões específicas; em 2010 come-
ça a tramitar o Projeto de Novo Código de Processo Civil, que é promulgado em 2015; contudo, 
permanece a estrutura microssistemática desenhada durante a vigência do CPC/1973.
 O CPC/2015 convive com os microssistemas de forma mais harmônica, integrando di-
reito processual e direito constitucional. Fredie Didier Jr. (DIDIER JR., ZANETI JR., 2017, pp. 51-
52) explicita como se dá este relacionamento: 
 O CPC-2015 não é um código oitocentista. Assume, novamente, 
o dever de dar unidade narrativa ao direito processual (art. 15, 
aplicação supletiva e subsidiária aos demais processos de produ-
ção de normas jurídicas). Organiza, pela introdução de uma Par-
te Geral e pela consagração de normas fundamentais, um novo 
patamar de unidade, um sistema aberto, flexível e combinado 
com a Constituição e com os microssistemas processais, em es-
pecial, com o processo coletivo, fazendo referência expressa às 
ações coletivas (art. 139, X e art. 985, I e II). Não está de costas 
para o microssistema da tutela coletiva: o CPC o abraça e o en-
volve, sendo a ponte entre o processo coletivo e a Constituição.
(grifo nosso) 
22
 Além do microssistema de processo coletivo, convivemos com outros microssistemas 
de direito processual, como o microssistema de tratamento de causas repetitivas (que ganha 
fôlego com o CPC/2015, e tem foco no Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas), o mi-
crossistema de Juizados Especiais (que engloba a Lei de Juizados Especiais – Lei n. 9.099/1995 
– , a Lei de Juizados Especiais Federais – Lei n. 10.259/2001 – , e a Lei dos Juizados Especiais 
Fazendários – Lei n. 12.153/2009), o microssistema de direito processual das famílias (que har-
moniza o capítulo próprio do CPC/2015 – art. 693 e seguintes – com a legislação esparsa sobre 
o tema), o microssistema de tratamento adequado de conflitos (que contempla os dispositivos 
do CPC a respeito do tema com a Lei de Arbitragem, a Lei de Mediação e a Resolução 125/2010 
do Conselho Nacional de Justiça), dentre outros.
 Diante disso, podemos dizer que o microssistema de processo coletivo envolve os se-
guintes diplomas legais:
 
 
 Entre estes diplomas legais, não há uma relação hierarquizada ou estática, mas sim 
uma complementação entre o tratamento dos temas por cada texto normativo, observando, 
sempre, o alicerce oferecido pelo texto constitucional. Este mecanismo de interação entre os 
textos normativos é denominado como diálogo de fontes, e será estudado com maior profun-
didade no item 8, infra.
23
 3- O PAPEL DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
 Como visto anteriormente, o Código de Defesa do Consumidor não foi o primeiro texto 
normativo a tratar da tutela jurisdicional coletiva no Brasil. Contudo, ele possui um papel fun-
damental para a formação do microssistema de processo coletivo. 
 Isso acontece, porque ele foi o primeiro diploma legal a organizar os conceitos de di-
reitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, como vimos na Unidade 1. Além disso, sua 
promulgação provocou modificações na Lei de Ação Civil Pública, instaurando uma interação 
entre as leis que tratam do tema – especialmente com a leitura sistemática provocada pelo art. 
90 do Código de Defesa do Consumidor, que estabelece a aplicação subsidiária da Lei de Ação 
Civil Pública às ações coletivas do CDC, naquilo que não contrariar suas normas.
 Há autores, como Fredie Didier Jr., que localizam o papel do CDC no microssistema de 
processo coletivo como um “Código de Processo Coletivo” (DIDIER JR.DIDIER JR., ZANETI JR., 
2017, p. 53). Contudo, a estruturação microssistemática é deveras sofisticada para se organi-
zar como um sistema clássico, em que um “Código” influencia as leis esparsas. Nossa opção é 
de considerar o CDC como um diploma legal que possui um protagonismo no microssistema 
de processo coletivo, por ter organizado temas que eram, até então, apenas imaginados pela 
doutrina – mas ele está longe da completude que se imagina quando se fala em codificação. 
Ademais, ele não possui uma posição hierárquica prevalente sobre o restante da produção 
legislativa sobre o tema.
4- DIÁLOGO DE FONTES E O “PROCEDIMENTO COMUM DAS CAUSAS COLETI-
VAS”
 Como vimos não se deve considerar o CDC como um ‘”Código de Processo Coletivo” é 
importante para compreender melhor como funciona a dinâmica das influências entre os di-
plomas que compõem o microssistema de processo coletivo. Ele possui, portanto, uma função 
integradora, por definir situações tratadas em todos os outros elementos do microssistema. 
 Por sua vez, o Código de Processo Civil, mesmo que não se refira detalhadamente ao 
24
direito processual coletivo, possui um papel especial neste microssistema, por se apresentar 
numa tessitura mais aberta que o seu antecessor – se o CPC/73 era oitocentista, o CPC/15 
favorece o diálogo de fontes.
 Mas o que seria este diálogo de fontes? Para absorver este conceito, precisamos partir 
do pressuposto de que todas as leis que compõem o microssistema são incompletas, ou seja, 
sempre haverá uma relação de interdependência entre elas para um tratamento adequado do 
tema:
 
 Esta pressuposição é mais consciente da complexidade dos problemas tratados pelo 
microssistema do que a ingenuidade do pensamento codificador – constatamos, aqui, que os 
temas tratados são tão complexos que não podem ser abordados por apenas um diploma le-
gal. Isso é particularmente útil para o Direito Processual Coletivo, que é um ramo novo para o 
direito processual, e ainda se depara frequentemente com situações que demandam soluções 
inovadoras. 
 Podemos, então, traçar uma dinâmica interpretativa para o microssistema de proces-
so coletivo (DIDIER JR., ZANETI JR., 2017, p. 59): 
 1. Buscar a solução no diploma legal específico (ex.: se se tratar de uma ação de im-
probidade administrativa, busque a Lei n. 8.429/1992);
 2. Caso a solução não exista ou não seja suficiente, buscar o núcleo microssistemá-
tico. Qual seja, a associação dos dispositivos da Lei de Ação Civil Pública com o Código de 
Defesa do Consumidor);
 3. Se o problema persistir, buscar os demais diplomas legais referentes ao processo 
coletivo e extrair, desta leitura conjunta, a ratio do processo coletivo, amparada na diretriz 
A contribuição da doutrina está, entre muitas, na indicação 
de que os diplomas que tratada tutela coletiva são intercam-
biantes entre si,ou seja, apresentam uma ruptura com os mod 
los codificados anteriores que exigiam completude como re-
quisito mínimo, aderindo a uma intertextualidadeintrassiste-
mática. (DIDIER JR.,ZANETI JR., 2017, p. 57 – grifos no original)
25
constitucional e nos dispositivos do CPC/15 que não conflitarem com a tutela jurisdicional 
coletiva. 
 Diante desta dinâmica microssistemática, podemos dizer que existe um procedimento 
comum e alguns procedimentos especiais no microssistema de direito coletivo, organizados da 
seguinte maneira: 
Procedimento comum
Integração entre a Lei n. 7.347/1985 (Lei de Ação Civil 
Pública) e o Código de Defesa do Consumidor;
Mandado de segurança coletivo (Lei n. 12.016/2009);
Ação popular (Lei n. 4.717/1965);
Ação coletiva para a defesa de direitos individuais 
homogêneos (CDC);
Ação coletiva de responsabilidade do fornecedor de 
produtos e serviços (CDC);
Ação de improbidade administrativa (Lei n. 8.429/1992);
Mandado de injunção coletivo (procedimento do 
Mandado de Segurança coletivo – art. 24, p. ú., CDC).
Procedimentos especiais
 
 
 
 
 
 NESTA UNIDADE, VOCÊ:
 1. CONHECERÁ O CONJUNTO DE PRINCÍPIOS QUE ORIENTA O DIREITO 
PROCESSUAL COLETIVO;
 2. COMPREENDERÁ A NECESSIDADE DE ESPECIALIZAÇÃO DO DEVIDO PROCESSO 
LEGAL PARA A FORMAÇÃO DE UM SISTEMA PRINCIPIOLÓGICO DO DIREITO PROCESSUAL 
COLETIVO;
 3. PERCEBERÁ A IDEIA DE ADEQUAÇÃO PROCESSUAL COMO EIXO 
ESTRUTURANTE DESTE SISTEMA PRINCIPIOLÓGICO.
 
UNIDADE III – Princípios do processo coletivo (I)
26
1- NORMAS FUNDAMENTAIS REFERENTES AO DIREITO PROCESSUAL COLETIVO
 O Código de Processo Civil de 2015 se organiza de forma a instaurar um alicerce de 
normas fundamentais para todo o Direito Processual, seja ele individual ou coletivo. Este 
conjunto de princípios é estudado, de forma pormenorizada, nas disciplinas referentes ao 
Direito Processual Civil, em especial, a Teoria Geral do Processo. 
 Algumas das normas fundamentais de direito processual, elencadas pelo CPC/15 que 
 se aplicam sem alterações ao Direito Processual Coletivo:
 • estímulo a soluções consensuais – art. 3º, §2º, cpc;
 • boa-fé e cooperação processuais – arts. 5º-6º, cpc;
 • isonomia processual – art. 7º, cpc;
 • contraditório/ampla defesa – art. 9º, cpc.
 Contudo, existe uma necessidade de especialização de algumas orientações 
principiológicas, em virtude da diferenciação finalística entre tutela jurisdicional individual e 
coletiva, conforme discutido na Unidade 1.
 Portanto, nesta Unidade, discutiremos sobre algumas das garantias que precisam 
ser adaptadas para a consagração de um sistema principiológico específico para o Direito 
Processual Coletivo. 
 
 2- O DEVIDO PROCESSO LEGAL COLETIVO
 Diante desta necessidade de adaptação, percebe-se que o conceito clássico de devido	
processo	 legal se revela insuficiente para a compreensão de sua extensão para o Direito 
Processual Coletivo, existindo, portanto, a necessidade de sua reformulação. Ada Pellegrini 
Grinover afirma, inclusive, que isso induziria à criação de uma “Teoria Geral do Processo 
Coletivo” (GRINOVER, 2014, p. 396).
 Segundo esta jurista, a compreensão de que o acesso à justiça se dá de forma 
diferenciada – em virtude, por exemplo, da adequação das regras de legitimação, como 
veremos no item11, a seguir – , o que se reflete em uma abrangência mais alargada para a 
27
universalidade da jurisdição, permite demonstrar a distinção entre os conceitos de devido 
processo legal para a tutela jurisdicional individual e coletiva: “No campo dos institutos 
fundamentais, o processo coletivo conta com institutos muito diversos daqueles em que se 
alicerça o processo individual” (GRINOVER, 2014, p. 399).
 Elton Venturi, no mesmo sentido, indica que esta diferenciação entre os conceitos de 
devido processo legal se dá através de uma necessária releitura, 
 
 Portanto, passamos a analisar alguns casos em que esta adaptação acontece. 
3- LEGITIMAÇÃO E REPRESENTATIVIDADE ADEQUADAS
 Como veremos na Unidade 5, a legitimação para o processo coletivo se organiza de 
maneira distinta do que ocorre no processo individual. 
 Isso acontece porque o indivíduo não teria condições técnicas de realizar uma 
defesa adequada dos direitos coletivos em juízo; então, a legitimação tende a se aproximar 
daquilo que representaria melhor aquela coletividade, o que indica a formação do conceito 
de representatividade adequada. Clarissa Diniz Guedes sintetiza esta ideia: “A situação 
legitimante da legitimação coletiva consiste numa forma de representatividade que garanta 
aos titulares do direito material a possibilidade de acesso democrático à justiça para a tutela 
efetiva de seus interesses” (GUEDES, 2012, p. 131). 
Muito mais que da ampliação e desburocratização do 
aparelhamento judiciário ou de alterações legislativas, do 
abandono da dogmática em prol da efetividade da prestação 
da justiça, da compreensão do papel que o Poder Judiciário 
deve desempenhar na construção do E s t a d o 
Democrático mediante a afirmação dos direitos individuais e sociais 
fundamentais... não constitui, em absoluto, qualquer subversão. 
(VENTURI, 2007, p. 151)
28
 
 
 Classicamente, a legitimidade nas demandas coletivas é atribuída, no nosso 
microssistema de processo coletivo, ao Ministério Público (art. 82, I, CDC e art. 5º, I, Lei n. 
7.347/85), aos entes federativos (União, Estados, Municípios ou DF – art. 82, II, CDC e art. 5º, III, 
Lei n. 7.347/85), às entidades da Administração direta ou indireta que se destinem à defesa dos 
O art. 2º do Código Modelo de Processos Coletivos para a Ibero-
América coloca a representatividade adequada como um requisito 
expresso para a ação coletiva (GRINOVER, 2014b, p. 477):
 Art. 2º. Requisitos para a ação 
coletiva. São requisitos da demanda coletiva:
I – a adequada representatividade do legitimado;
II – a relevância social da tutela coletiva, caracterizada 
pela natureza do bem jurídico, pelas características da 
lesão ou pelo elevado número de pessoas atingidas.
§1º Para a tutela dos interesses ou direitos individuais homogêneos, 
além dos requisitos indicados nos n. I e II deste artigo, é também 
necessária a aferição da predominância das questões comuns sobre 
as individuais e da utilidade da tutela coletiva no caso concreto.
§2º Na análise da representatividade 
adequada o juiz deverá analisar dados como:
a – a credibilidade, capacidade, prestígio e experiência do legitimado;
b – seu histórico na proteção judicial e extrajudicial dos interesses 
ou direitos dos membros do grupo, categoria ou classe;
c – sua conduta em outros processos coletivos;
d – sua capacidade financeira para a condução do processo coletivo;
e - a coincidência e entre os interesses dos membros 
do grupo, categoria ou classe e o objeto da demanda;
f – o tempo de instituição da associação e a representatividade 
desta ou da pessoa física perante o grupo, categoria ou classe.
29
direitos protegidos (art. 82, III, CDC e art. 5º, IV, Lei n. 7.347/85) e às associações regularmente 
constituídas há, pelo menos, um ano,e que possuam fins institucionais relacionados com os 
direitos coletivos em discussão (art. 82, IV, CDC e art. 5º, V, Lei n. 7.347/85). 
A Defensoria Pública também foi incluída expressamente no rol de legitimados para a promoção 
de demanda coletiva (art. 5º, II, Lei n. 7.347/85), o que suscitou alguma discussão, conforme 
será abordado de maneira aprofundada na Unidade 5.
 Contudo, a legitimação conferida pelo legislador não é suficiente para garantir que, 
no caso concreto, a adequação da representatividade daquele legitimado (exemplos possíveis 
são: uma associação que não tenha estrutura para representar os interesses dos associados 
em juízo, ou uma situação em que o Ministério Público já tenha expressado entendimento 
institucional contrário aos interesses do grupo interessado). Ou seja, nem sempre o legitimado 
in abstracto pode oferecer à coletividade o tratamento adequado dos seus interesses 
(GUEDES, 2012, p. 138). Em virtude disso,recomenda-se o controle judicial da adequação 
desta representatividade (GRINOVER, 2014b, p. 476).
 O Anteprojeto de Código Modelo de Processos Coletivos para Ibero-América foi apro-
vado nas Jornadas do Instituto Ibero-americano de Direito Processual, na Venezuela, em outu-
bro de 2004. Seu objetivo não é estabelecer um texto-padrão para as reformas legislativas nos 
países signatários, mas sim se colocar como um catálogo de princípios e diretrizes para o Direito 
Processual Coletivo, servindo como inspiração.
No Brasil, o mesmo grupo que participou da criação deste Código Modelo (o Instituto Brasileiro 
de Direito Processual) organizou o Anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos, 
que originou o PL 5.139/2009, que tem sua tramitação paralisada desde 2010 (Veja a tramita-
ção completa em http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposi-
cao=432485)
http://www.justica.gov.br/seus-direitos/consumidor/direitos-difusos 
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=432485
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=432485
30
4- CERTIFICAÇÃO ADEQUADA
 A certificação adequada seria uma decisão que reconheceria que a demanda ajuizada 
se enquadra em uma das hipóteses de cabimento de demanda coletiva previstas em lei, assim 
como se prestaria a fixar os limites subjetivos da demanda, definindo, portanto, os limites da 
coletividade afetada pela decisão final. O microssistema de processo coletivo não possui uma 
regra geral que indique a necessidade deste momento processual, mas também não o veda – 
muito embora Antonio 
Gidi compreenda que o estabelecimento expresso desta decisão de certificação seria um passo 
evolutivo importante para o Direito Processual Coletivo (GIDI, 2007, p. 195). 
Contudo, pode-se dizer que a fase processual de saneamento, estabelecida pelo CPC, pode se 
prestar a este papel, como demonstra Fredie Didier Jr.: 
 
 
Conforme a dinâmica de saneamento adotada pelo CPC, a atividade 
saneadora dar-se-á para o passado e para o futuro. O CPC confere 
especial relevância ao saneamento compartilhado nas causas 
complexas. Não há melhor exemplo de causa complexa do que 
o processo coletivo: fatos complexos, com alta conflituosidade 
interna, avaliação adequada representação do legitimado ativo, 
determinação do polo passivo, a definição do grupo, os contornos 
do objeto litigioso, a necessidade de oitiva de amicicuriae 
e de audiências públicas, a determinação da distribuição 
dinâmica do ônus da prova etc. No saneamento compartilhado 
será possível identificar e delimitar todas estas questões.
 Art. 357, CPC. Não ocorrendo nenhuma das hi-
póteses deste Capítulo, deverá o juiz, em deci-
são de saneamento e de organização do processo:
I - resolver as questões processuais pendentes, se houver;
II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade 
31
 
 
 Que o Sistema de Informação (SI) é um sistema cujo elemento principal é ainformação 
e seu objetivo é armazenar, tratar e fornecer informações de tal modo a apoiar as funções ou 
processos de uma organização. Um SI é composto de um subsistema social e de um subsistema 
automatizado. 
 Entretanto, pode-se afirmar que a ação de improbidade administrativa, procedimento 
especial de tutela coletiva, possui uma fase expressa de certificação, delimitada pelo art. 17 da 
Lei n. 8.429/1992, em seu §6º, que indica que a petição inicial deve apresentar “documentos 
ou justificação que contenham indícios suficientes da existência do ato de improbidade ou 
com razões fundamentadas da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas” – 
a decisão que recebe a petição inicial, nestes casos, realizaria a certificação adequada. 
5- INFORMAÇÃO E PUBLICIDADE ADEQUADAS
 A publicidade se apresenta como um dos pontos em que a adequação necessária para 
a realização da tutela coletiva tem um detalhamento mais explícito. O art. 11 do Código de 
Processo Civil estabelece a publicidade como premissa de validade dos atos processuais – 
e, na tutela jurisdicional coletiva, temos dois desdobramentos decorrentes deste postulado, 
a adequada notificação dos membros do grupo e a adequada informação aos órgãos 
probatória, especificando os meios de prova admitidos;
III - definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373;
IV - delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito;
V - designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento.
( . . . )
§3º Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de 
direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja 
feito em cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o 
caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas alegações. 
32
competentes.
 No que diz respeito à notificação dos membros do grupo, tem-se que este acesso à 
informação sobre a existência da demanda coletiva é fundamental para que se possa fiscalizar 
a atuação do legitimado ativo e a condução da própria demanda, assim como para o exercício 
do opt	 out, que seria a escolha por não ser abarcado pelos efeitos da decisão coletiva. O 
Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 94, estabelece que esta informação também 
pode viabilizar o ingresso do membro do grupo como litisconsorte (o que, neste caso, soa 
como uma opção um pouco a técnica do legislador, mas podemos compreender a escolha do 
termo em virtude de se tratar de demanda que versa, em princípio, sobre direito individual 
homogêneo).
 Este dispositivo indica a publicação em órgão oficial como o mecanismo hábil para 
a veiculação da informação sobre a existência da demanda coletiva. Contudo, também é 
possível imaginar uma veiculação suplementar a esta, que ocorra em jornais e revistas de 
grande circulação, correio, e-mail, redes sociais etc. 
 Naquilo que tange à informação dos órgãos competentes, indica-se a leitura dos arts. 
6º e 7º da Lei n. 7.347/1985. 
 
 
 Assim, desenha-se um dever funcional para os membros do Judiciário de 
encaminhamento de informações ao Ministério Público para a propositura de ação civil pública. 
Este dever é reforçado pelo art. 139, X, CPC, que detalha seu conteúdo – oficiar o “Ministério 
Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem 
Art. 6º Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá 
provocar a iniciativa do Ministério Público, ministrando-
lhe informações sobre fatos que constituam objeto da 
ação civil e indicando-lhe os elementos de convicção.
 Art. 7º Se, no exercício de suas funções, os juízes 
e tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam 
ensejar a propositura da ação civil, remeterão peças 
ao Ministério Público para as providências cabíveis. 
33
o art. 5º da Lei n. 7.347/85, e o art. 82 da Lei n. 8.078/1990, para, se for o caso, promover a 
propositura da ação coletiva respectiva”.
 6- COMPETÊNCIA ADEQUADA
A opção do microssistema de processo coletivo, quando trata de competência, foi a da	técnica	
dos	 foros	 concorrentes, por conta da dificuldade natural em se precisar com clareza, num 
primeiro momento, a extensão territorial do dano coletivo (art. 93, CDC). 
 Portanto, o princípio da competência adequada permite a aferição, in	 concreto, da 
adequação da competência apresentada, de acordo com a teoria do forum non	conveniens, 
afastando-se a competência do juízo que ocasione dificuldades para a defesa do réu, que não 
se revele como adequada para o debate das questões levantadas pelo legitimado ativo, ou que 
crie outras espécies de desequilíbrio processual. 
 
NESTA UNIDADE, VOCÊ:
 1. PROSSEGUIRÁ NO ESTUDO DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL 
COLETIVO;
 2. CONHECERÁ ALGUNS PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO DIREITO PROCESSUAL 
COLETIVO.
1- PRIMAZIA DO CONHECIMENTO DO MÉRITO NO PROCESSO COLETIVO
 O Código de Processo Civil assegura o direito à solução integral de mérito em seu art.4º, 
indicando uma postura de afastamento das decisões de conteúdo exclusivamente processual, 
priorizando soluções que tratem do conteúdo da demanda. Esta foi uma contribuição do 
microssistema de processo coletivo para o Direito Processual, como veremos.
 UNIDADE IV – Princípios do processo coletivo (II)
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 A importância deste postulado no microssistema de processo coletivo é antiga 
e de grande relevância – como exemplo, encontra-se o regime de coisa julgada secundum	
eventum	probationis	 (art. 103, CDC; art. 16, Lei n. 7.347/1985; art. 18, Lei n. 4.717/1965), 
que estabelece que não se forma coisa julgada em caso de improcedência do pedido por 
insuficiência do conjunto probatório. Segundo Fredie Didier Jr, “o que se pretendeu foi garantir 
que o julgamento pela procedência ou improcedência fosse efetivamente de mérito, não uma 
decisão que se limite a aplicar o ônus da prova como regra de julgamento” (DIDIER JR., ZANETI 
JR., 2017, p. 115).
 Sendo assim, sempre que os vícios processuais forem sanáveis, será oferecida a 
oportunidade de correção para o legtitimado ativo. 
 A extinção do feito sem resolução de mérito, em linhas gerais, é apresentada no art. 
485 do Código de Processo Civil:
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
I - indeferir a petição inicial;
II - o processo ficar parado durante mais 
de 1 (um) ano por negligência das partes;
III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, 
o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição 
e de desenvolvimento válido e regular do processo;
V - reconhecer a existência de perempção, 
de litispendência ou de coisa julgada;
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem 
ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência;
VIII - homologar a desistência da ação;
IX - em caso de morte da parte, a ação for 
considerada intransmissível por disposição legal; e
X - nos demais casos prescritos neste Código.
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2-DISPONIBILIDADE MOTIVADA DA DEMANDA COLETIVA
 O direito processual individual tem como regra geral a ideia de que a relação jurídica 
processual nasce de uma faculdade a ser exercida pelo agente. No direito processual coletivo, 
esta disponibilidade parece, em princípio, afastada, em virtude da presença de um interesse 
público subjacente a todo direito coletivo – veremos, contudo, que este afastamento não é 
absoluto.
 A obrigatoriedade do ajuizamento da ação coletiva se subordina ao interesse e a 
oportunidade, ou seja, existe a possibilidade de não ajuizamento, caso se perceba que esta 
medida não se apresenta como adequada à tutela daquele direito coletivo – o que significa 
dizer que há disponibilidade motivada.
 Esta construção é fundamental para compreender a atuação do Ministério Público nas 
ações coletivas: mesmo que presente a lesão ou ameaça de lesão ao direito coletivo e os 
pressupostos processuais correspondentes, a ação não será ajuizada caso não se apresentem a 
conveniência e oportunidade para tal. Em casos de inquérito civil concluído, como veremos na 
Aula 8, o arquivamento decorrente da não propositura da ação poderá ser objeto de controle 
pelo Conselho Superior do Ministério Público. Da mesma maneira, este juízo será realizado 
quando da desistência de outro legitimado ativo, na forma do art. 5º, §§1º e 3º, da Lei de Ação 
Civil Pública. 
 Diferentes são os casos em que o Ministério Público não é parte, mas fiscal da lei – 
nestas situações, a sua intervenção é obrigatória, não havendo relativizações. 
 A fase executiva da ação coletiva também é indisponível, como veremos na Aula 11. 
3- REPARAÇÃO INTEGRAL DO DANO
 Quando se compreende o grupo legitimante do direito processual coletivo como uma 
entidade – e não como uma reunião de demandas individuais –, nota-se a necessidade de se 
reparar o dano de forma integral. 
 Como decorrência direta deste princípio, identificamos as peculiaridades da fase 
de execução das demandas coletivas, especialmente no que diz respeito à constituição do 
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Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, ao qual se destina o montante da reparação que não foi 
liquidado e executado pelos indivíduos lesados, na forma do art. 100 do Código de Defesa do 
Consumidor.
4- NÃO TAXATIVIDADE E ATIPICIDADE DA AÇÃO E DO PROCESSO COLETIVO
 Os direitos coletivos vivem um amadurecimento contínuo, o que significa dizer que 
se constatam direitos coletivos novos a todo o momento. Portanto, realizar qualquer espécie 
de limitação taxativa para os direitos coletivos seria empobrecedor, além de ter um potencial 
de limitar a efetivação destes novos direitos através das ferramentas adequadas de direito 
processual coletivo.
 Diante disso, concluímos, também, pela existência de direitos coletivos atípicos, que 
serão identificados como tal quando da existência da lesão ou ameaça, no caso concreto.
 Paralelamente, o processo de amadurecimento vivenciado pelo direito processual 
coletivo também envolve a utilização das próprias ferramentas processuais que concretizam os 
direitos coletivos. Em virtude disso, como enunciam Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr. (2017, 
p. 121), “todos os procedimentos podem servir à tutela coletiva – mandado de segurança, ação 
possessória, reclamação, ação rescisória, ação de exigir contas etc., até mesmo procedimentos 
de jurisdição voluntária, como o protesto” (no tocante a este último, é possível imaginar um 
protesto judicial, realizado por uma associação de consumidores, em face do descumprimento 
de uma obrigação de fazer de um fornecedor).
 Esta constatação indica pela flagrante inadequação de todo dispositivo legal que 
restrinja a utilização de uma ferramenta de tutela coletiva sem a devida justificação. Exemplo 
desta situação é o parágrafo único do art. 21 da Lei n. 12.016/09, que restringe o objeto 
do mandado de segurança coletivo aos direitos coletivos em sentido estrito e aos direitos 
individuais homogêneos, sem qualquer explicação. Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr. (2017, 
p. 123) opinam que esta seria uma situação de inconstitucionalidade, uma vez que o texto 
constitucional, quando se refere ao cabimento do mandado de segurança, no inciso LXIX 
do art. 5º (“conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não 
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amparado por habeas	corpus ou habeas	data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso 
de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do 
Poder Público”), não faz nenhuma espécie de restrição. O entendimento de que o mandado 
de segurança coletivo cabe também para a tutela de direitos difusos foi acolhido pela doutrina 
e pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, indicando uma proteção mais qualificada 
a todas as espécies de direitos coletivos.
 
38
 ATIVIDADE DO CAPÍTULO I
ESTUDO DE CASO 
APRESENTANDO O CASO
 O CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) tem como missão 
investigar casos de publicidade enganosa ou abusiva. O caso indicado abaixo indica uma 
situação em que isso ocorreu, ocasionando a sustação da exibição da peça publicitária.
Mês/Ano Julgamento: MARÇO/2017
Representação nº: 008/17
Autor(a): Conar mediante queixa de consumidor
Anunciante: Nutri Import
Relator(a): Conselheira Milena Seabra
Câmara: Sexta Câmara
Decisão: Sustação
Fundamentos: Artigos 1º, 3º, 6º, 27, parágrafos 1º e 2º, e 50, letra “c”, do Código e seus Anexos 
H e I
 Resumo: Em anúncio em revista, a blogueira Gabriela Pugliesi apregoa os efeitos do 
produto Xpel”pra quem quer secar antes de pular na piscina”, prometendo “resultados em 24 
horas”. Para consumidora paulistana, há evidente exagero na alegação. O anexo H do Código, 
que trata de alimentos, refrigerantes, sucos etc., exige que as propriedades funcionais do 
produto, ao serem mencionadas em publicidade,sejam baseadas em dados fáticos, técnicos 
ou científicos. 
 A anunciante informou em defesa enviada ao Conar que o produto é um chá, sendo 
dispensado de registro junto às autoridades sanitárias. Anexou documentos que, entende, 
comprovam os efeitos decorrentes da ingestão.
 A relatora não aceitou estes argumentos, ponderando que Xpel é um suplemento e, 
como tal, demanda registro. No mérito, considerou que as alegações não foram comprovadas, 
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em infração frontal às recomendações do Código. Por isso, propôs a sustação. Seu voto foi 
aceito por unanimidade.
 
VAMOS ÀS QUESTÕES
 a) Há direitos individuais ou coletivos violados no caso em questão?
 b) Quais são as espécies de direitos coletivos que você consegue identificar nesta 
 situação?
 
40
GABARITO COMENTADO
 CAPÍTULO I 
É importante observar, nesta situação, a diversidade de lesões potenciais a direitos coletivos 
na situação relatada.
Há direitos difusos lesionados com a propaganda, que se afigura como enganosa, por não se 
amparar em dados fáticos. Qualquer pessoa poderia assistir à peça publicitária e entrar em 
estado de erro por julgar que os efeitos do suplemento seriam tão rápidos ou eficientes. A 
indivisibilidade da lesão se apresenta, portanto, desta maneira, assim como a impossibilidade 
de precisar quem poderia ser atingido pelas informações veiculadas.
Todas as pessoas que adquirissem Xpel pensando que “secariam” nas condições veiculadas pela 
peça publicitária não teriam uma relação jurídica entre si, mas teriam uma lesão decorrente de 
uma origem comum – ou seja, há lesão a direitos individuais homogêneos.
Os pedidos da ação coletiva devem se ater, para a proteção dos direitos difusos, na sustação 
da exibição da peça publicitária (tal como o CONAR indicou), na exibição de peça publicitária 
de retratação (contrapropaganda) ou mesmo na retirada do produto do mercado.
No tocante aos direitos individuais homogêneos, deve se concentrar o pedido na reparação 
amparada na tese jurídica geral de que a peça publicitária não foi formulada diante das 
informações que o laboratório detinha sobre o produto, buscando a reparação integral do 
dano, na forma dos arts. 82 e 95 do Código de Defesa do Consumidor.
41
Capítulo II
 Agora que você está familiarizado com a fundamentação principiológica e a organi-
zação microssistemática do Direito Processual Coletivo, passamos a questões técnicas que 
evidenciam as suas diferenças em relação ao Direito Processual Individual.
Na Unidade 5, tratamos da Legitimação e da Representatividade adequada, elementos es-
senciais para o desenvolvimento da relação jurídica processual coletiva.
Na Unidade 6, conversamos sobre as regras de competência no Direito Processual Coletivo, 
importantes para a compreensão dos impactos das decisões judiciais nesta seara, e que so-
frem algumas adaptações em relação às regras gerais de competência, inclusive por conta 
das necessidades relacionadas à produção da prova.
Na Unidade 7, observamos as questões relativas à prescrição e à decadência no processo 
coletivo.
Boa leitura.
TÉCNICA PROCESSUAL PARA A 
TUTELA COLETIVA
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UNIDADE V – Legitimação e Representatividade adequada
 NESTA UNIDADE, VOCÊ:
 1. COMPREENDERÁ O CONCEITO DE LEGITIMAÇÃO COLETIVA, SUAS DIFERENÇAS 
EM RELAÇÃO À LEGITIMAÇÃO PARA O PROCESSO INDIVIDUAL E AS CORRENTES TEÓRICAS QUE 
BUSCAM DEFINI-LA;
 2. APROFUNDARÁ O CONCEITO DE REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA;
 3. COMPREENDERÁ OS MECANISMOS DE CONTROLE JUDICIAL DA 
REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA;
 4. COMPREENDERÁ A APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA DECISÃO 
DE MÉRITO AOS CASOS EM QUE HÁ AFERIÇÃO DA REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA.
1-LEGITIMAÇÃO COLETIVA
 A legitimação para o processo jurisdicional individual, via de regra, se realiza pelo 
mecanismo da legitimação ordinária, que indica aquelas situações em que o legitimado age 
em nome próprio, defendendo interesse próprio em juízo. Contudo, para nós, é bastante 
evidente que este modelo é insuficiente para categorizar as situações de legitimação para o 
processo coletivo.
 Não é demais frisar que a principal razão para a tutela coletiva dos interesses difusos 
e coletivos consiste na dificuldade de tutelá-los individualmente. Quem seria o legitimado 
para defender os interesses de toda uma comunidade, ou, até mesmo, da sociedade como 
um todo? Um indivíduo qualquer poderia defender direitos ou interesses de outros que não 
participassem do processo? Nesse caso, qual seria o tipo de legitimação utilizado? Quem 
estaria englobado pela coisa julgada: somente aquele indivíduo ou toda a sociedade? É possível 
restringir a coisa julgada às partes processuais quando, por exemplo, o objeto do pedido é o 
direito a um meio ambiente saudável?
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 Diante do esforço em reconhecer a natureza jurídica das situações de legitimação 
no processo coletivo, a doutrina passou a se dividir em três correntes: a primeira opina pela 
legitimação ordinária; a segunda acena em direção à legitimação extraordinária; a terceira 
diferencia as situações de legitimação para o processo coletivo das duas categorias anteriores, 
indicando a existência de uma legitimação autônoma para a condução do processo. Fredie 
Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr. (2017, p. 189) sinalizam a existência de uma quarta corrente, 
representada, fundamentalmente, por Thereza Alvim, em sua obra “O direito processual de 
estar em juízo” (1996): 
 A corrente que se filia à caracterização da natureza jurídica da legitimação coletiva 
como legitimação ordinária o faz porque compreende que o ente que conduz o processo 
coletivo é, também, titular do direito discutido, como se vê na atuação das associações em 
relação aos seus próprios interesses institucionais. 
 Existe, portanto, uma dificuldade óbvia em concebê-la desta forma, em virtude da 
enorme variedade de situações em que esta regra não se aplicaria – o Ministério Público 
sempre seria um titular do direito coletivo discutido em juízo? Em decorrência da sofisticação 
do microssistema de processo coletivo, percebe-se a obsolescência desta corrente para definir 
a legitimação coletiva.
 Por uma questão de inviabilidade prática, a coletividade não tem como representar 
a si mesma em juízo. Assim, a legitimação extraordinária, por sua vez, apresenta-se como 
o modelo de legitimação que se dá naquelas situações em que o ordenamento jurídico 
Existem ainda alguns autores que que simplesmente contes-
tam a possibilidade de engajar a legitimação coletiva nas ca-
tegorias tradicionais, sem optar expressamente pela tercei-
ra corrente, mas alegando fundamentos muito próximos da 
teoria do direito, dando ênfase à autonomia e à exclusividade da tu-
tela coletiva; defendem, enfim, que se constitui um	 tertium	 genus.
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autoriza um ente a defender em juízo uma situação jurídica da qual não é titular (art. 18, CPC) 
– o interesse da instituição não é representado em juízo, mas sim aparece como a causa da 
legitimação extraordinária. Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr. (2017) são partidários desta 
classificação, assim como a extensa maioria dos doutrinadores de Direito Processual Coletivo.
 Contudo, para alguns autores doutrinários, persiste a dificuldade de se concebera 
legitimação extraordinária como o modelo adequado para descrever estas situações. Portanto, 
a doutrina alemã criou uma terceira via, adequada à legitimação coletiva, a qual se denomina 
legitimidade autônoma para a condução do processo. Isso porque as classificações tradicionais 
da legitimação, advindas do Código de Processo Civil e da concepção individualista do Direito 
Processual, não se adequariam à tutela coletiva. Revisitar-se-iam os conceitos tradicionais 
do processo, a começar pela legitimação, afastando a utilizaçãoda dicotomia legitimação 
ordinária-extraordinária, pois, ao contrário do que ocorre no processo individual, em que o 
titular do direito é legitimado ou substituído por um terceiro, no processocoletivo o direito 
defendido não tem titular bem delimitado, sendo impossível dizer se o autor da ação está 
defendendo direito próprio ou alheio. Aqui, o direito próprio se confunde com o direito alheio. 
Esta corrente é defendida por Rodolfo Mancuso (2012), dentre outros doutrinadores. 
 Esta terceira categoria é bastante criticada pelas duas outras correntes doutrinárias 
que buscam caracterizar a legitimação. Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr. identificam alguns 
argumentos que refutam a caracterização da legitimação autônoma para a condução do 
processo (2017, pp. 191-192): 
a) Toda legitimação ad	 causam seria uma legitimação 
para a condução do processo. Em virtude disso, a 
denominação da corrente, por si, seria um pleonasmo;
b) Qualificar a legitimação como autônoma não a diferencia das formas 
extraordinárias de legitimação – isso porque a legitimação extraordinária é 
qualificada como autônoma naqueles casos em que o legitimado é autorizado 
a conduzir o processo independente da atuação dos titulares do direito;
c) A dita legitimação autônoma para a condução do processo é, em tudo, 
assemelhada à substituição processual, espécie de legitimação extraordinária.
45
A nossa opção, portanto, é a de caracterizar a legitimação coletiva como legitimação 
extraordinária. 
 
2- LEGITIMAÇÃO ATIVA
 As escolhas legislativas sobre a legitimação ativa no processo coletivo devem levar 
em conta a extensão subjetiva da coisa julgada, porque esta só poderá se operar da maneira 
adequada se as partes “representarem” o grupo atingido.
 Assim, existe uma preocupação específica com a relação entre legitimidade ativa no 
processo coletivo e a dita “adequada representação” ou representatividade adequada, o que 
significa dizer que somente se pode pensar em estender os resultados do processo coletivo 
àquelas pessoas que têm seus interesses representados pelo legitimado ativo.
 O nosso microssistema de processo coletivo optou por combinar três técnicas de 
legitimação ativa (DIDIER JR., ZANETI JR., 2017, p. 195-196): a primeira delas é a legitimação 
do particular, que se dá na forma da Lei n. 4.717/65 (Ação Popular), em que qualquer cidadão 
pode ser o legitimado ativo. A segunda técnica seria a legitimação de pessoas jurídicas de 
direito privado, tal como ocorre com a legitimação de sindicatos, associações ou partidos 
políticos. Finalmente, há a legitimação de entes federativos e órgãos do Poder Público, como 
o Ministério Público e a Defensoria Pública, para a Ação Civil Pública. A combinação entre estes 
três critérios é positiva, pois amplia o acesso à tutela jurisdicional coletiva.
 3- CARACTERÍSTICAS DA LEGITIMAÇÃO COLETIVA
 Como explicitado, diante das três correntes que buscam definir a legitimação coletiva, 
optamos pela caracterização da legitimação coletiva como extraordinária, que subdivide em 
quatro classificações:
 A legitimação autônoma indica os casos em que a participação do legitimado 
extraordinário não depende da participação do titular do direito.
 A legitimação exclusiva ocorre quando apenas o legitimado extraordinário pode 
atuar na demanda coletiva, enquanto o titular do direito somente pode intervir como assistente 
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litisconsorcial (ex: direitos individuais homogêneos – art. 94, CDC);
 Quando há legitimação concorrente, todos os legitimados são igualmente habilitados 
a propor a demanda coletiva – ou seja, há colegitimação entre os legitimados extraordinários.
 Na legitimação disjuntiva, cada legitimado exerce sua legitimidade de forma 
independente dos demais, não havendo a necessidade de formação de litisconsórcio 
necessário entre eles.Assim, nota-se que não há relação de dependência entre os legitimados 
– um legitimado não precisa da concordância dos demais para atuar em juízo e a atuação de 
um não exclui a possibilidade dos demais ingressarem.
 Geralmente, a legitimação disjuntiva é, também, concorrente. Por exemplo: na 
Ação Popular, cada cidadão é legitimado de maneira disjuntiva, mas pode ocorrer que mais 
de um cidadão exerça sua legitimidade concorrentemente, discutindo o mesmo tema em 
Ações Populares distintas. Isso porque a legitimação concorrente e disjuntiva permite que 
diversos legitimados litiguem, em processos diversos e ao mesmo tempo, pelo mesmo pedido 
e causa de pedir. Assim, embora os legitimados formais sejam diversos, materialmente ou 
ideologicamente tratam-se dos mesmos legitimados, pois representam direitos de uma mesma 
coletividade, sociedade ou grupo de indivíduos.
 4- INTERESSE DO SUBSTITUTO
 Como o modelo clássico de legitimação envolve o interesse do próprio legitimado 
para a condução do processo, é comum que exista alguma confusão quando se observe a 
legitimação coletiva, pois, nestes casos, o interesse do substituto processual não é evidente ou 
se mistura ao interesse dos representados.
 Portanto, deve-se ter em mente que não é importante averiguar o interesse processual 
do substituto, mas sim o interesse processual do grupo representado, de forma que “o que se 
deve averiguar é a existência de um interesse processual na solução do conflito, decorrente 
da posição jurídica ocupada pelo grupo, sem relacioná-lo à figura do substituto processual” 
(DIDIER JR., ZANETI JR., 2017, p. 200).
 A despeito disso, as questões relacionadas a interesses conflitantes entre grupo e 
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substituto processual serão solucionadas sob o prisma da representatividade adequada, que 
passamos a apreciar.
 5- O CONCEITO DE REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA
 A letra fria da lei pode indicar uma presunção absoluta de legitimidade para os 
substitutos processuais. Contudo, isso não corresponde à realidade – o ente pode carecer 
de legitimidade para a propositura da demanda coletiva (GUEDES, 2012, p.133), decorrente 
de qualquer espécie de conflito de interesse do ente legitimado com o objeto da demanda 
coletiva.
 Em virtude disso, não basta ter sido atribuída a legitimidade ao ente pelo microssistema 
de processo coletivo – é preciso aferir a representatividade adequada do ente em relação 
ao grupo substituído, de forma a garantir que a substituição processual dar-se-á no sentido 
dos interesses do grupo, o que se realiza casuisticamente, tal como preconiza Clarissa Diniz 
Guedes: “Compreendendo-se a Constituição como o reflexo dos valores ideológicos maiores 
do grupo social é que se preconiza a utilização de suas diretivas na tarefa jurisdicional de 
controlar in concreto a representatividade dos entes coletivos” (GUEDES, 2012, p.139).
 Contudo, deve-se frisar que há quem compreenda que a representatividade adequada 
está diretamente implicada no conceito de legitimação coletiva e, portanto, bastaria apenas 
sua enumeração como possível legitimado, como Nelson Nery Jr. e Rosa Nery (2004).
 Assim, passamos à discussão deste controle jurisdicional, mas, primeiramente, 
avaliemos o julgado do TJ-DF que expõe, com clareza, o conceito de representatividade 
adequada:
CONSUMIDOR, ADMINISTRATIVO, ECONÔMICO E PROCESSUAL CIVIL. 
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. RE-
PRESENTATIVIDADE ADEQUADA. PERTINÊNCIA TEMÁTICA. INEXISTÊN-
CIA. ILEGITIMIDADE ATIVA. SENTENÇA MANTIDA. 1 - A DOUTRINA E A 
JURISPRUDÊNCIA PÁTRIAS ACOLHERAM A TEORIA DA REPRESENTA-
ÇÃO ADEQUADA PROVENIENTE DAS CLASS ACTION NORTE-AMERI-
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CANAS, SEGUNDO A QUAL É PRECISO SE VERIFICAR SE O LEGITIMADO 
COLETIVO CONGREGA CONDIÇÕES QUE O TORNEM REPRESENTANTE 
ADEQUADO PARA BUSCAR A TUTELA JURISDICIONAL DO INTERESSE 
PRETENDIDO EM DEMANDA COLETIVA. 2 - A PERTINÊNCIA TEMÁTICA, 
COMO MANEIRA DE AFERIR A REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA, CON-
SISTE NA CORRELAÇÃO ENTRE O FIM INSTITUCIONAL DA ENTIDADE 
POSTULANTE E O OBJETO DA AÇÃO. PRECEDENTE DO STJ. 3 - NÃO HÁ 
PERTINÊNCIA TEMÁTICA ENTRE A ASSOCIAÇÃO QUE TEM POR ESCOPO 
A PROTEÇÃO E A PROMOÇÃO DA DEFESA DO CONSUMIDOR E A DEMAN-
DA QUE TEM POR OBJETO A TUTELA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA 
MORALIDADE ADMINISTRATIVA, O QUE LEVA

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