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cálculo III Diva Marília Flemming Elisa Flemming Luz UnisulVirtual Palhoça, 2008 Disciplina na modalidade a distância 2a edição revista e atualizada Design instrucional Karla Leonora Dahse Nunes Créditos Unisul - Universidade do Sul de Santa Catarina UnisulVirtual - Educação Superior a Distância Campus UnisulVirtual Avenida dos Lagos, 41 Cidade Universitária Pedra Branca Palhoça – SC - 88137-100 Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 E-mail: cursovirtual@unisul.br Site: www.virtual.unisul.br Reitor Unisul Gerson Luiz Joner da Silveira Vice-Reitor e Pró-Reitor Acadêmico Sebastião Salésio Heerdt Chefe de Gabinete da Reitoria Fabian Martins de Castro Pró-Reitor Administrativo Marcus Vinícius Anátoles da Silva Ferreira Campus Sul Diretor: Valter Alves Schmitz Neto Diretora adjunta: Alexandra Orsoni Campus Norte Diretor: Ailton Nazareno Soares Diretora adjunta: Cibele Schuelter Campus UnisulVirtual Diretor: João Vianney Diretora adjunta: Jucimara Roesler Equipe UnisulVirtual Avaliação Institucional Dênia Falcão de Bittencourt Biblioteca Soraya Arruda Waltrick Capacitação e Assessoria ao Docente Angelita Marçal Flores (Coordenadora) Caroline Batista Elaine Surian Enzo de Oliveira Moreira Patrícia Meneghel Simone Andréa de Castilho Coordenação dos Cursos Adriano Sérgio da Cunha Aloísio José Rodrigues Ana Luisa Mülbert Ana Paula Reusing Pacheco Bernardino José da Silva Charles Cesconetto Diva Marília Flemming Eduardo Aquino Hübler Fabiano Ceretta Itamar Pedro Bevilaqua Janete Elza Felisbino Jucimara Roesler Lauro José Ballock Lívia da Cruz (auxiliar) Luiz Guilherme Buchmann Figueiredo Luiz Otávio Botelho Lento Marcelo Cavalcanti Maria da Graça Poyer Maria de Fátima Martins (auxiliar) Mauro Faccioni Filho Michelle Denise Durieux Lopes Destri Moacir Fogaça Moacir Heerdt Nélio Herzmann Onei Tadeu Dutra Patrícia Alberton Rose Clér Estivalete Beche Raulino Jacó Brüning Rodrigo Nunes Lunardelli Criação e Reconhecimento de Cursos Diane Dal Mago Vanderlei Brasil Desenho Educacional Daniela Erani Monteiro Will (Coordenadora) Design Instrucional Ana Cláudia Taú Carmen Maria Cipriani Pandini Carolina Hoeller da Silva Boeing Flávia Lumi Matuzawa Karla Leonora Dahse Nunes Leandro Kingeski Pacheco Luiz Henrique Queriquelli Lívia da Cruz Lucésia Pereira Márcia Loch Viviane Bastos Viviani Poyer Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel Avaliação da Aprendizagem Márcia Loch (Coordenadora) Cristina Klipp de Oliveira Silvana Denise Guimarães Design Visual Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro (Coordenador) Adriana Ferreira dos Santos Alex Sandro Xavier Evandro Guedes Machado Fernando Roberto Dias Zimmermann Higor Ghisi Luciano Pedro Paulo Alves Teixeira Rafael Pessi Vilson Martins Filho Disciplinas a Distância Enzo de Oliveira Moreira (Coordenador) Gerência Acadêmica Márcia Luz de Oliveira Bubalo Gerência Administrativa Renato André Luz (Gerente) Valmir Venício Inácio Gerência de Ensino, Pesquisa e Extensão Ana Paula Reusing Pacheco Gerência de Produção e Logística Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente) Francisco Asp Logística de Encontros Presenciais Graciele Marinês Lindenmayr (Coordenadora) Aracelli Araldi Cícero Alencar Branco Daiana Cristina Bortolotti Douglas Fabiani da Cruz Fernando Steimbach Letícia Cristina Barbosa Priscila Santos Alves Formatura e Eventos Jackson Schuelter Wiggers Logística de Materiais Jeferson Cassiano Almeida da Costa (Coordenador) José Carlos Teixeira Eduardo Kraus Monitoria e Suporte Rafael da Cunha Lara (Coordenador) Adriana Silveira Andréia Drewes Caroline Mendonça Cláudia Noemi Nascimento Cristiano Dalazen Dyego Helbert Rachadel Edison Rodrigo Valim Francielle Arruda Gabriela Malinverni Barbieri Jonatas Collaço de Souza Josiane Conceição Leal Maria Eugênia Ferreira Celeghin Maria Isabel Aragon Priscilla Geovana Pagani Rachel Lopes C. Pinto Tatiane Silva Vinícius Maykot Sera� m Relacionamento com o Mercado Walter Félix Cardoso Júnior Secretaria de Ensino a Distância Karine Augusta Zanoni Albuquerque (Secretária de ensino) Ana Paula Pereira Andréa Luci Mandira Andrei Rodrigues Carla Cristina Sbardella Deise Marcelo Antunes Djeime Sammer Bortolotti Franciele da Silva Bruchado James Marcel Silva Ribeiro Janaina Stuart da Costa Jenni� er Camargo Lamuniê Souza Liana Pamplona Luana Tarsila Hellmann Marcelo José Soares Marcos Alcides Medeiros Junior Maria Isabel Aragon Olavo Lajús Priscilla Geovana Pagani Rosângela Mara Siegel Silvana Henrique Silva Vanilda Liordina Heerdt Vilmar Isaurino Vidal Secretária Executiva Viviane Schalata Martins Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coordenador) Je� erson Amorin Oliveira Marcelo Neri da Silva Pascoal Pinto Vernieri 3 SumárIo Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Disciplina Cálculo III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Palavras das professores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Plano de estudo da disciplina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Unidade 1 Funções de várias variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Unidade 2 Limite e continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Unidade 3 Derivadas de funções de várias variáveis . . . . . . . . . . . . 81 Unidade 4 Máximos e mínimos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 Unidade 5 Integrais múltiplas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 Unidade 6 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209 Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245 Sobre as professoras conteudistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 246 Respostas e comentários dos exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249 5 Este livro didático corresponde à disciplina Cálculo III . O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autôno- ma, abordando conteúdos especialmente selecionados e adotando uma linguagem que facilite seu estudo a distância . Por falar em distância, isto não significa que você estará sozinho/a . Não se esqueça de que sua caminhada nesta disci- plina também será acompanhada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual . Entre em contato sempre que sentir necessidade, seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou Es- paço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA) . Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo/a, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo . Bom estudo e sucesso! Equipe UnisulVirtual . ApreSentAção 7 cálculo III Díva Marília Flemming Elisa Flemming Luz Programa da Disciplina Unidade 1 Funções de várias variáveis Unidade 2 limite e continuidade Unidade 3 Derivadas de funções de várias variáveis Unidade 4 máximos e mínimos Unidade 5 Integrais múltiplas Unidade 6 Aplicações 515 F62 Flemming, Diva Marília Cálculo III : livro didático / Diva Marília Flemming, Elisa Flemming Luz ; design instrucional Karla Leonora Dahse Nunes, [Carolina Hoeller da Silva Boeing]. – 2. ed. rev. e atual.– Palhoça : UnisulVirtual, 2008. 324 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7817-061-5 1. Cálculo. I. Luz, Elisa Flemming. II. Nunes, Karla Leonora Dahse. III. Boeing, Carolina Hoeller da Silva. IV. Título. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Edição - Livro didático Professores Conteudistas Diva Marília Flemming Elisa Flemming Luz Design Instrucional Karla Leonora Dahse Nunes Carolina Hoeller da Silva Boeing (2a edição revista e atualizada) Capa Equipe UnisulVirtual Projeto Gráfico e Diagramação Daniel Blass Revisão B2B Copyright © UnisulVirtual 2008 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. 9 pAlAvrAS DAS proFeSSoreS Já estamos avançando em uma caminhada que iniciou com a sua decisão de fazer o curso de Matemática na modalidade a distân- cia . Sabemos que para cursar a disciplina de Cálculo III foi ne- cessário passar pelo Cálculo I e II, portanto, você já venceu duas grandes etapas do curso . Os conteúdos das disciplinas de Cálculo são considerados obrigatórios pelas Diretrizes Curriculares do MEC (Ministério da Educação) e, de certa forma, carregam jun- tos muitos tabus . Mesmo tendo afinidades com a área da Matemática, sabemos que muitos educandos ainda se sentem temerosos quando chega o grande momento de discutir derivadas e integrais . A importância do Cálculo III está exatamente no fato de trazer generalizações necessárias para as diferentes aplicações do Cálculo em proble- mas clássicos de Engenharia, Física e Economia . 10 universidade do Sul de Santa catarina Queremos deixar registrado, neste início de disciplina, que você vai ficar diante de ferramentas poderosas para modelar o mundo ao seu redor . Ao trilhar caminhos já desvendados por grandes filósofos e matemáticos, temos uma grande responsabilidade: manter o olhar atento para consolidar a nossa comunidade virtu- al . Nossos amigos de caminhada, SiSoSi, Phil, Rec e Teca, estão cada vez mais presentes, apresentando dicas valiosas para a cons- trução sólida de nossos conhecimentos . Lembre-se de que estamos juntos e que o processo é de ensino- aprendizagem, portanto, estamos também aprendendo novas for- mas de olhar métodos e técnicas de estudo e de ensino . Seja bem-vindo à disciplina de Cálculo III Um grande abraço! Profª . Diva Marília Flemming Profª . Elisa Flemming Luz 11 plAno De eStuDo DA DIScIplInA O plano de estudo orienta você no desenvolvimento da Discipli- na . Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o contexto do Cálculo III e a organizar o seu tempo de estudos . O processo de ensino-aprendizagem da UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam . Assim, a construção de competências e habilidades se dá a partir da ar- ticulação de metodologias envolvendo diversas formas de ações e estratégias mediadoras . São elementos desse processo: O livro didático; O espaço virtual de aprendizagem (EVA); As atividades de avaliação (complementares, a distância e presenciais) . 12 universidade do Sul de Santa catarina Ementa da disciplina Funções de várias variáveis . Derivadas parciais . Integrais duplas . Aplicação da integral dupla . Integrais triplas . Aplicação da inte- gral tripla . Carga horária 60 horas ou 4 créditos Objetivo(s) Geral Dar ao universitário a oportunidade de construir competências e habilidades para analisar, refletir e delinear conclusões no contex- to das aplicações práticas que envolvem o mundo tridimensional . Específicos Analisar situações problema cuja modelagem envolve deriva- das parciais e integrais múltiplas . Calcular integrais duplas e triplas por diferentes sistemas de coordenadas . Modelar e resolver problemas de áreas e volumes de superfí- cies não discutidas na Geometria Espacial . Discutir soluções para problemas da Física que envolvem sólidos . Utilizar corretamente recursos tecnológicos para ampliar a vi- sualização gráfica das funções de várias variáveis . 13 Cálculo III Conteúdo programático/objetivos Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de conheci- mentos que você deve construir para o desenvolvimento das ha- bilidades e competências necessárias a sua formação profissional . Veja a seguir as seis unidades que compõem o livro didático desta disciplina, bem como os seus respectivos objetivos . Unidade 1 Funções de várias variáveis Para modelar o mundo tridimensional são necessárias ferramen- tas mais poderosas para a resolução de problemas . Nesta unidade, você terá a oportunidade de discutir detalhes das funções de duas variáveis e as suas diferentes representações semióticas . Poderá, também, visualizar que as generalizações são necessárias para am- pliar a resolução de problemas físicos e de engenharia . Destaca- se, nesta unidade, as curvas de nível que são usadas em diferentes momentos, como, por exemplo, para modelar o nosso relevo e outros elementos do nosso mundo . Unidade 2 Limite e continuidade O estudo de limites e continuidade de funções de várias variáveis é essencial para dar os alicerces conceituais ao estudo das deriva- das parciais . Discutir a existência de limites de funções de várias variáveis auxilia na análise do comportamento da função . Será interessante verificar que o significado intuitivo de continuidade vai propiciar a identificação de superfícies que não possuem bura- cos ou rupturas . Unidade 3 Derivadas de funções de várias variáveis O estudo das derivadas parciais vai nos permitir entender qual a razão de termos sensações de temperaturas mais baixas do que o termômetro indica . Por outro lado, o estudo das derivadas é con- siderado fundamental para entender os métodos de resolução das integrais múltiplas . A construção de planos tangentes auxiliará na identificação das superfícies suaves ou diferenciáveis . 14 universidade do Sul de Santa catarina Unidade 4 Máximos e mínimos Como já discutido no Cálculo I, as derivadas são usadas para localizar pontos de máximo e mínimo de curvas planas mode- ladas por funções de uma variável . Nesta unidade, você terá a oportunidade de fazer generalizações para identificar os pontos de máximo e mínimo de funções de duas variáveis . A localização de pontos críticos é de fundamental importância na resolução de problemas cujas soluções devem ser otimizadas . Unidade 5 Integrais múltiplas Nesta unidade, você vai discutir a generalização das integrais abordadas na disciplina de Cálculo II . Terá a oportunidade de constatar que as integrais duplas e triplas podem ser usadas para resolver problemas que envolvem o cálculo de áreas, volumes, massa, centro de massa, momento de inércia e outras aplicações . Unidade 6 Aplicações Nesta unidade, você terá a oportunidade de analisar, refletir, dis- cutir e resolver situações-problema que são modeladas com os recursos do Cálculo III . De forma surpreendente, vamos calcular: volumes de sólidos com formas completamente irregulares, áreas de figuras planas formadas por diferentes retas e curvas, massa de corpos com formas irregulares . 15 unIDADe 1 FunçÕeS De várIAS vArIáveIS Objetivos de Aprendizagem Identifi car características e propriedades das funções de várias variáveis. visualizar e representar curvas de nível de funções de várias variáveis. esboçar e analisar gráfi cos de funções de duas variáveis. Identifi car situações reais que requerem o uso de modelos que envolvem 3 dimensões. Plano de estudo da unidade Seção 1 Funções de várias variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Seção 2 curvas de nível. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27Seção 3 Gráfi cos de funções de duas variáveis . . . . . . . . . . . . . 32 Síntese da Unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Atividades de auto-avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 O que você consegue visualizar? Vários cálices ou vários perfi s? Olhe com atenção!!! 17 Para início de conversa Nesta primeira unidade da disciplina Cálculo III você conhecerá as funções de várias variáveis reais e suas principais características e propriedades . As funções de uma variável não conseguem modelar a maior parte dos fenômenos reais já que estes envolvem várias variáveis independentes . Por exemplo, a temperatura em um quarto de- penderá de diversas condições, tais como, a temperatura fora do quarto, o número de entradas de ar, a existência de ventilação interna, dentre outras . Cada uma destas condições pode represen- tar uma variável independente que influenciará mais ou menos a temperatura, que neste caso seria a variável dependente analisada . Assim como nas disciplinas anteriores de cálculo, você contará com a Teca, o Phil, o Sisosi e o Rec para lhe auxiliar durante o estudo dos conteúdos de cada unidade . E por falar neles, o Phil já tem algo a lhe contar . . . 18 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Que tal, ficou curioso? Então já está na hora de começar! Fique atento ao calendário proposto no ambiente virtual, pois você já sabe que uma disciplina de cálculo exigirá estudo, dedica- ção e a realização de exercícios . Analise com atenção as definições que serão apresentadas nesta uni- dade e procure fazer relações com situações práticas reais e com os conteúdos que já foram estudados em disciplinas anteriores . Não siga em frente se estiver com dúvidas . Procure o seu profes- sor tutor para saná-las . Bom trabalho! Olá caros amigos! Agora no Cálculo III vamos adentrar no fabuloso mundo do Cálculo de Várias Variáveis. E neste momento eu não poderia deixar de dizer-lhes que se não fosse o trabalho de grandes matemáticos e cientistas nesta área, não teríamos avança- do tanto em termos tecnológicos e científicos! Basta que você olhe ao seu redor e perceba que o mundo é multidimensional e foi durante o século 16 que matemáticos começaram a desenvolver uma nova matemática para resol- ver problemas em ciências físicas. A astronomia, por exemplo, era uma área da ciência que era rica neste tipo de matemática de várias variáveis e, desta forma, impulsionou o desenvolvimento de funções de várias variáveis e, finalmente, o cálculo de várias variáveis. Galileu (1564-1642) tentou aplicar a matemática ao seu trabalho em astronomia, cinemática e resistência dos ma- teriais. O astrônomo, matemático e físico alemão Johannes Kepler (1571-1630) contribuiu grandemente através do desenvolvimento das suas três leis do movimento planetá- rio. Estes resultados mudaram a astronomia e ajudaram no estabelecimento da teoria heliocêntrica de Copérnico. Isto contribuiu para a construção de um cenário propício ao surgi- mento da matemática aplicada em várias variáveis. 19 cálculo III unidade 1 Nas disciplinas de Cálculo I e II você analisou e discutiu fun- ções reais que envolviam duas variáveis: uma dita independente, geralmente denotada por x e outra dependente, denotada por y . Muitas aplicações foram mostradas apesar da limitação do uso de variáveis envolvidas . Para perceber essa limitação basta você olhar à sua volta . Veja que o nosso mundo é tridimensional e, portanto, temos o envolvimento de três variáveis para modelar as situações básicas do nosso espaço . Precisamos ampliar a nossa ferramenta de modelagem de situa- ções problemas! Como vamos fazer isto? É simples vamos ampliar o número de variáveis conforme cada situação . Seção 1 Funções de várias variáveis 20 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Veja alguns exemplos: a altura de uma montanha pode ser modelada com duas va- riáveis independentes; a pressão em um balão cheio de gás é uma função de sua temperatura e volume; a altura das ondas do mar dependem da rapidez do vento e do intervalo de tempo no qual está ventando com a mesma intensidade; o volume de um cone depende do raio da base e da sua altura; a corrente de um circuito elétrico depende da quantidade de seus resistores . Experimente ampliar esta lista de exemplos! Vamos iniciar a formalização de conceitos e você deve ficar aten- to à nomenclatura utilizada . Quando dizemos que estamos diante de uma função de duas variáveis, na verdade estamos diante de três variáveis (duas independentes e uma dependente) . Para otimizar o nosso estudo, vamos nos fixar de forma mais efetiva nas funções de duas variáveis, pois a partir desse tipo de função as generalizações ocorrem facilmente . Assim, nossa repre- sentação espacial pode ser representada pelas três dimensões bá- sicas: comprimento, largura e altura como mostra a representação cartesiana da Figura 1 .1 . Figura 1.1 Sistema cartesiano tridimensional Em tempo Quando colocamos o termo funções de várias variáveis estamos colocan- do que podemos ter funções com 1, 2, 3, ..., n variáveis indepen- dentes, acrescida de uma variável dependente. Em tempo Lembre-se de que no sistema cartesiano os eixos devem ser ortogonais entre si. No caso tridimensional usamos os recursos de desenho projetivo para a visualização. Um ponto P é representado por uma terna ordenada de números reais (x,y,z). 21 cálculo III unidade 1 Definição 1: Uma função de duas variáveis é uma lei ou regra que associa a cada par ordenado de números reais (x,y) de um conjunto A um único valor real denotado por z ou f (x,y). O conjunto A é o domínio da função. O conjunto imagem é defini- do por { f (x,y) | (x,y) ∈ A }. A Figura 1 .2 mostra essa relação . Observe que pares ordenados do conjunto A, representado num sistema cartesiano são relacio- nados com um ponto da reta real, denotada por eixo z . Figura 1.2 representação da função de duas variáveis Como você já sabe, a lei ou regra é, em geral, representada por uma linguagem algébrica . Nesses casos o domínio pode não ser especificado, mas fica entendido como domínio da função o conjunto de valores (x,y) para os quais a expressão fornece um número real bem definido . Os exemplos que seguem ilustram a definição dada . Exemplos 1. As expressões que seguem são exemplos de funções de duas variáveis. observem que podemos utilizar qualquer letra para representar as variáveis. z = x 2 + y2; f(u,v) = u + 2v –3. 22 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Ambas têm como domínio o conjunto de pares de números reais que vamos denotar por IR2 = IR × IR. o conjunto imagem é o conjunto dos números reais, denotado por IR. 2. V(r,h) = 1 3 πr2h é uma função que relaciona o volume V de um cone com a sua base r e a sua altura h. 3. calcular o domínio e o conjunto imagem da função = − −2 2z 4 x y . o domínio é dado por D(z) = {(x,y) | 4 – x2 – y2 ≥ 0} ( 1 ) como já colocamos anteriormente fica entendido que os pares ordenados (x,y) são de números reais, assim estamos dispensando o uso desse formalismo. Fazendo 4 – x2 – y2 ≥ 0 –x2 – y2 ≥ –4 x2 + y2 ≤ 4. A expressão ( 1 ) pode ser reescrita como D(z) = {(x,y) | x2 +y2 ≤ 4} e representa um disco de raio dois. A Figura 1.3 mostra o gráfico do domí- nio desta função. lembramos que o gráfico é do do- mínio. o gráfico das funções será discutido na seção 3. Figura 1.3 representação gráfica da região Em tempo A notação IR2 = IR × IR é significativa, pois estamos exatamente diante de pares ordenados sendo que o produto indicado é o produto cartesiano estudado na Teoriados Conjuntos. Pessoal, não esqueçam do formalismo para a representação gráfica. As linhas pontilhadas representam que os pontos sobre a linha não pertencem ao domínio. Para representar os infinitos pontos do domínio usamos o recurso de hachurar ou sombrear a região. 23 cálculo III unidade 1 o conjunto imagem da função é dado por Im(z) = { z | = − −2 2z 4 x y , (x,y) ∈ D(z) } ( 2 ) como a raiz quadrada dada é positiva podemos escrever que z ≥ 0. por outro lado podemos escrever: x2 + y2 ≥ 0 –x2 – y2 ≤ 0 4 – x2 – y2 ≤ 4 = − −2 2z 4 x y ≤ 2 z ≤ 2. Assim, podemos reescrever ( 2 ) como Im(z) = { z | 0 ≤ z ≤ 2 } ( 2 ) 4. calcular a imagem da função = + 1z y(x 1) no ponto (0,3). esta função está definida na origem? para calcular a imagem da função em um ponto basta fazer: 1f(x, y) y(x 1) 1 1f(0, 3) . 3(0 1) 3 = + = =+ Assim a imagem de (0,3) é 1 3 . esta função não está definida na origem, pois ao calcular f(0,0) vamos encon- trar uma divisão por zero que, já sabemos, não existe. Lá vai uma dica! Você vai perceber que para achar o conjunto imagem de uma função é sempre interessante e mais fácil quando estamos diante da representação gráfica. Ainda vamos discutir isto nesta unidade. 24 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA 5. encontrar o gráfico do domínio da função = − 1z x y . para resolver este exemplo vamos lembrar que no conjunto dos números reais não temos raiz quadrada de números negativos, também não podemos fazer uma divisão por zero. Assim, x – y > 0 x > y portanto, o domínio da função dada pode ser escrito como D(z) = { (x,y) | x > y }. o gráfico da Figura 1.4 apresenta a região do plano que representa o domínio. Figura 1.4 representação gráfica da região 6. uma função de duas variáveis pode ser definida a partir de uma equação que tenha três variáveis. Basta escolher qual vai ser a variável dependente e então explicitá-la. para exemplificar podemos observar a equação de uma esfera centrada na origem e de raio igual a 3 unidades de comprimento. x2 + y2 + z2 = 9 As seguintes funções podem ser consideradas: Hemisfério superior: z = − −2 29 x y ou f 1 (x,y) = − −2 29 x y ; Hemisfério inferior: z = – − −2 29 x y ou f 2 (x,y) = – − −2 29 x y ; Hemisfério da direita: y = − −2 29 x z ou f 3 (x,z) = − −2 29 x z ; Hemisfério de esquerda: y = – − −2 29 x z ou f 4 (x,z) = – − −2 29 x z ; Hemisfério da frente: x = − −2 29 y z ou f 5 (y,z) = − −2 29 y z ; Hemisfério de trás: x = – − −2 29 y z ou f 6 (y,z) = – − −2 29 y z . Em tempo Observe que a nomen- clatura usada superior, inferior, etc. estabelece uma posição bem definida dos eixos x, y e z. Outras posições podem ser estabe- lecidas ou convencionadas, confor- me será discutido na seção 3. 25 cálculo III unidade 1 Como vamos definir funções com mais de duas variáveis? Podemos definir funções com n variáveis de forma similar à defi- nição 1, lembrando que vamos estar em um espaço com mais de três dimensões . Isto é, vamos introduzir um conceito com bastan- te abstração, pois não vamos conseguir visualizar graficamente . O espaço n-dimensional será representado por IRn . Definição 2: Uma função com n variáveis é uma lei ou regra que associa a cada n-upla (x1 , x2 , … , xn ) ∈ A ⊆ IRn, um nú- mero real z = f (x1 , x2 , … , xn ). Observe que temos uma generalização da definição 1 e, portanto, de forma similar o Domínio vai ser o conjunto de saída, denotado por A ⊆ IRn, formado por n-uplas de números reais . O conjunto imagem é definido por { f (x1 , x2 , … , xn ) | (x1 , x2 , … , xn ) ∈ A } . Exemplos 1. A corrente de um circuito elétrico ( i ) depende da quantidade de seus resistores ( r ). Assim, a expressão = + +1 2 3 Ei R R R , representa um exemplo de funções de três variáveis sendo E um valor constante que representa a tensão da fonte. Como já disse a vocês, a necessidade de generalização para incluir funções de várias variáveis em problemas práticos re- ais presentes em um mundo multidimensional foi um grande incentivo para os pesquisadores que dedicaram suas vidas à matemática! Jean d’Alembert (1717-1783), por exemplo, desenvolveu e usou o cálculo de várias variáveis para no contexto do mo- vimento de corpos considerando a resistência do meio. Em seus estudos utilizou os trabalhos de Newton, L´Hospital e dos Bernoulli`s para estender os conceitos de cálculo para várias variáveis. D’Alembert pesquisou nesta área e publicou muitos trabalhos em matemática e física. 26 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA 2. As expressões que seguem são outros exemplos: z = u 2v –2uvw ou f(u,v,w) = u2v –2uvw u = xyz + t ou g(x,y,z,t) = xyz + t 3. representar graficamente o domínio da função f(x,y,z) = − − −2 2 24 x y z . observe que o domínio desta função é um subconjunto do espaço tridi- mensional, isto é, D(f ) = { (x,y,z) ∈ IR3 | 4 – x2 – y2 – z2 ≥ 0 }. podemos também reescrever 4 – x2 – y2 – z2 ≥ 0 como x2 + y2 + z2 ≤ 4 ( 3 ) Figura 1.5 Domínio da função A expressão ( 3 ) representa uma esfera de raio 2, bastante usada em Geometria Analítica. A Figura 1.5 mostra o gráfico do domínio da função dada. Agora é a sua vez! 1. encontre o domínio da função += + −2 2 2x y z x y 4 . 2. encontre o domínio e o conjunto imagem da função += 2 2x yu e . 3. Faça um esboço gráfico do domínio da função = − +2 2z ln(2 x y ) . 4. calcule a imagem da função += − x y z 2 x no ponto (1, 12 ). esta função está definida para pares ordenados do tipo (2,b) sendo b um número real? Justifi- que a sua resposta. Em tempo Observe que no con- texto das funções de várias variáveis as letras usadas para simbolizar as variáveis inde- pendentes e a variável dependen- te não são padronizadas. Assim, em alguns momentos o uso da notação f(u,v,w) = u2v –2uvw e g(x,y,z,t) = xyz + t é conside- rado mais legível. 27 cálculo III unidade 1 Seção 2 Curvas de nível As curvas de nível são amplamente discutidas no dia-a-dia, mes- mo que informalmente . Por exemplo, ao construir uma casa é importante saber qual a cota máxima, pois em geral os planos diretores de Prefeituras delimitam para cada região um valor de cota, ou seja altitude em relação ao nível do mar . Ao ver o noticiário da TV é comum aparecer os mapas de isoter- mas mostrando as curvas em que as temperaturas são iguais . Podemos dizer que as curvas de nível são curvas em que a eleva- ção em relação ao nível do mar é constante . Se você andar sobre um desses contornos, nem descerá nem subirá . No estudo de funções de duas variáveis as curvas de nível são usadas para o traçado do gráfico tridimensional da função dada por sua lei de formação . 28 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Na Figura 1 .6, você pode observar um exemplo de um mapa topo- gráfico mostrando a configuração do terreno, disponível na Internet no site http://www .jaguariuna .cnpm .embrapa .br/altimet .html . Por exemplo, o traçado destacado na parte central representa a altitude de 700 metros, normalmente denotado como Cota = 700 metros . Na Figura 1 .7 temos uma mapa com isotermas para uma especí- fica data do ano . Os mapas de isotermas sofrem variações diárias . Figura 1.6 cotas de um terreno Figura 1.7 mapa de isotermas Definição: As curvas de nível de uma função de duas variáveis são as curvas com equação f (x,y) = K, sendo K uma constante real no domínio da função. Exemplo vamos observar o cone da Figura 1.8 ( a ). Ao marcar cotas, isto é, dar valores para a constante K, as curvas de nível são obtidas (ver Figura 1.8 ( b )). considerando que a equação do cone da Figura 1.8 ( a ) é z = x2 + y2, observe que as curvas da Figura1.8 ( b ) são definidas algebricamente fazendo: K = 1 ⇒ 1 = x2 + y2 ou x2 + y2 = 1; K = 2 ⇒ 2 = x2 + y2 ou x2 + y2 = 2; K = 3 ⇒ 3 = x2 + y2 ou x2 + y2 = 3. 29 cálculo III unidade 1 Figura 1.8 cone e curvas de nível Como usar as curvas de nível para identificar as funções? As curvas de nível não identificam completamente uma função . Duas funções diferentes podem apresentar o mesmo tipo de curvas de nível . Por exemplo, as circunferências concêntricas também podem ser curvas de nível das funções z = +2 2x y ou z = − −2 29 x y . Acompanhe: Para a função z = +2 2x y K = 1 ⇒ 1 = +2 2x y ou x2 + y2 = 1; K = 2 ⇒ 2 = +2 2x y ou x2 + y2 = 4; K = 3 ⇒ 3 = +2 2x y ou x2 + y2 = 9 . Mais uma dica interessante! O software Mathematica pode traçar curvas de nível de forma prática e interessante. Se você possui acesso a esta ferramenta que não é considerada software livre, pode apro- veitar e visualizar algumas curvas e até superfícies de nível. O software Winplot, livre, também tem potencialidades gráfi- cas para fazer curvas de nível. 30 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Para a função z = − −2 29 x y K = 1 ⇒ 1 = − −2 29 x y ou x2 + y2 = 8; K = 2 ⇒ 2 = − −2 29 x y ou x2 + y2 = 5 . Observe que podemos escolher valores de K em que as curvas de nível não existem . Por exemplo, na função z = − −2 29 x y não existe a curva para valores de K < 0, pois estamos considerando a raiz positiva e também não existe para K > 3, pois neste caso teríamos uma incoerência matemática (soma de dois quadrados iguais a um número negativo) . Se K = 4 ⇒ 4 = − −2 29 x y ou x2 + y2 = –7 . As curvas de nível podem ser degeneradas, ou seja, quando elas se reduzem à um ponto . Se K = 3 ⇒ 3 = − −2 29 x y ou x2 + y2 = 0, portanto temos somente o ponto (0,0) . Podemos dizer que as curvas de nível são obtidas a partir de cortes no objeto investigado? Devemos ter muito cuidado com a idéia de corte . O corte é uma estratégia que auxilia na confecção de gráficos e também é mui- to usado para fazer as plantas arquitetônicas . Eles possibilitam a visualização de detalhes do objeto investigado . As curvas de nível podem ser consideradas cortes horizontais . No caso das funções outros cortes podem ajudar na identificação correta de uma função . Por exemplo, as funções z = x2 + y2; z = +2 2x y ; z = − −2 29 x y têm como curvas de nível circunferências concêntricas centradas na origem . Ao fazer cortes verticais vamos encontrar figuras diferentes, conforme pode ser visualizado nas figuras 1 .9, 1 .10 e 1 .11 . 31 cálculo III unidade 1 Figura 1.9 Função z = x2 + y2, com um corte Figura 1.10 Função = +2 2z x y , com um corte Figura 1.11 Função = − −2 2z 9 x y , com um corte Na Figura 1 .9 vamos ter o parabolóide e o corte é uma parábola; na Figura 1 .10 temos um cone é o corte vai nos dar segmentos de reta e na Figura 1 .11 vamos ter um hemisfério cujo corte vai nos dar uma semi-circunferência . Agora é a sua vez! 1. encontre algebricamente três curvas de nível para a função z = 10 – 2(x2 + y2). 2. usando um software gráfico desenhe 3 curvas de nível para a função z = (x – 1)2 + y2. Indique qual o valor da cota escolhida. 32 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Você deve lembrar que, ao estudar as funções de uma variável real, a construção de sua representação gráfica ou de seu gráfico era um passo importante para a análise das características e pro- priedades daquelas funções . Com as funções de várias variáveis, isto não será diferente! Só que agora a construção dos gráficos exigirá uma visualização tri- dimensional . Mas como desenvolver esta visualização tridimensional? Uma dica é olhar à sua volta, percebendo as dimensões e as vari- áveis envolvidas no nosso dia-a-dia . E é por isto que, para fazer os gráficos de funções de várias variáveis, é importante que você desenvolva uma visualização espacial, que entenda a colocação de pontos no sistema de eixos tridimensional e utilize softwares grá- ficos para auxiliá-lo neste processo . Seção 3 Gráficos de funções de duas variáveis 33 cálculo III unidade 1 Parece muita coisa, não é mesmo? Mas fique tranqüilo, logo você terá muitas surpresas agradáveis e conseguirá esboçar superfícies interessantes . Para iniciarmos, é importante que você lembre, conforme já foi mencionado na Seção 1, que vamos trabalhar com a representação gráfica de funções de duas variáveis . Isto porque para representar graficamente uma função com mais de duas variáveis será necessá- rio trabalhar com o espaço n-dimensional, o que não nos permiti- rá uma visualização geométrica quando n for maior do que 3 . Acompanhe a definição que generaliza o conceito de representa- ção gráfica de funções de várias variáveis . Definição: A representação gráfica (ou o gráfico) de uma função de n variáveis, representada por f = f (x1 , x2 , … , xn ), é o conjunto de pontos do espaço IRn+1, tais que (x1 , x2 , … , xn ) ∈ D( f ), sen- do D( f ) o domínio da função f. Se pensarmos em uma função de duas variáveis z = f (x,y), ou seja, n = 2, sua representação gráfica será o conjunto das ternas ordenadas (x,y,z) ∈ IR3, conforme você já visualizou na seção 1 . Normalmente trabalhamos com a disposição dos eixos conforme mostra a Figura 1 .1, mas é usual encontrarmos em outras áreas, como na Física por exemplo, uma variação deste sistema de eixos, como mostra a Figura 1 .12 . Figura 1.12 outras formas de colocação dos eixos no espaço tridimensional 34 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Você poderá utilizar a forma que achar mais conveniente, a que lhe proporcionar melhor visualização . Perceba que a diferença em termos de desenho está exatamente na visualização que teremos, que se dá em perspectiva . Seja qual for a escolha na colocação dos eixos, você não deve esquecer de identificar a variável dependente e as variáveis in- dependentes conforme já foi discutido na seção 1 . Mais adiante retomaremos este aspecto ao apresentar o gráfico de funções de duas variáveis . Para esboçar o gráfico de uma função de duas variáveis é impor- tante que você relembre a colocação de pontos no espaço tridi- mensional . Acompanhe o exemplo a seguir: Exemplo representar os pontos A(3,3,4) e B(3,3,–4) no espaço tridimensional. nas figuras 1.13 e 1.14 você pode visualizar esta representação. Figura 1.13 representação gráfica do ponto A Figura 1.14 representação gráfica do ponto B Em tempo Na Geometria Des- critiva você estuda com mais detalhes a questão da perspectiva. 35 cálculo III unidade 1 E agora, como esboçar os gráficos das funções de duas variáveis? Assim como acontecia com as funções de uma variável, estudadas no Cálculo I e II, a representação gráfica será dada por um con- junto de pontos, que aqui são as ternas ordenadas . Para as funções de uma variável é muito comum construirmos sua representação gráfica a partir da elaboração de uma tabela em que atribuímos valores para a variável independente ( x ) e calculamos o valor da variável dependente ( y ) . Podemos até considerar o método do uso da tabela como tra- balhoso, rudimentar, muito utilizado no passado, quando as fer- ramentas computacionais não existiam . Mas se pararmos para refletir, é este método que grande parte dos alunos utiliza quando precisa esboçar o gráfico de uma função . Infelizmente para uma função de várias variáveis é praticamente impossível se chegar a um esboço do gráfico apenas atribuindo valores e elaborando uma tabela . Então você pode estar perguntando... Como devo proceder para esboçar o gráfico de uma função de duas variáveis? A idéia é que você utilize outras formas de construção do gráfico, que serão discutidas a partir de agora . Um exemploé a utilização de softwares gráficos que serão mencionados pela Teca quando pertinente e serão melhor explorados no ambiente virtual . Um outro exemplo é a utilização de curvas de nível . Na seção 2 você já conheceu as curvas de nível e talvez já tenha percebido que elas são importantes na construção de gráficos tridimensio- nais . Nos próximos exemplos você poderá visualizar situações em que a construção dos gráficos será feita utilizando-se as curvas de nível das funções de duas variáveis . Em tempo Se você já cursou a disciplina Geometria Analítica já teve a oportunidade de visualizar gráficos de superfí- cies em 3 dimensões. 36 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Exemplos 1. esboçar o gráfico da função z = 2x2 + 2y2. para fazer o esboço do gráfico desta função, vamos inicialmente determinar suas curvas de nível, atribuindo valores K para a variável z: K = 1 ⇒ 1 = 2x2 + 2y2 ⇒ x2 + y2 = 12 K = 2 ⇒ 2 = 2x2 + 2y2 ⇒ x2 + y2 = 1 K = 4 ⇒ 4 = 2x2 + 2y2 ⇒ x2 + y2 = 2 A Figura 1.15 apresenta as curvas de ní- vel que são circunferências com centro em (0,0) e diferentes raios. o próximo passo é a construção do gráfico da função z = 2x2 + 2y2 em três dimensões. Figura 1.15 curvas de nível da função z = 2x2 + 2y2 neste momento é importante que você retome o conceito de curvas de nível e perceba que a Figura 1.15 está apre- sentando a projeção da superfície em diferentes alturas, dadas por z = 1, z = 2 e z = 4. temos uma superfície com projeções do tipo circunferência de di- ferentes raios. A figura mostra o gráfico da função, que é a superfície conhecida como parabolóide. Figura 1.16 Gráfico da função z = 2x2 + 2y2 2. Identificar as curvas de nível e esboçar os gráficos das seguintes funções de duas variáveis: a. z = y2 A Figura 1.17 mostra as curvas de nível quando se atribui os valores 1, 4 e 9 para a variável z. K = 1 ⇒ 1 = y2 ⇒ y = ±1 K = 4 ⇒ 4 = y2 ⇒ y = ±2 K = 9 ⇒ 9 = y2 ⇒ y = ±3 37 cálculo III unidade 1 na Figura 1.18 você visualiza o gráfico da função z = y2 que é um cilindro parabólico, também conhecido como calha. Figura 1.17 curvas de nível da função z = y2 Figura 1.18 Gráfico da função z = y2 b. z = 4 – x – y Atribuindo-se valores para z temos curvas de nível representadas por retas decrescentes e paralelas, conforme pode ser visualizado na Figura 1.19. Já na Figura 1.20 você visualiza o gráfico do plano que, para uma melhor vi- sualização, foi esboçado no primeiro octante, ou seja, considerando-se x > 0, y > 0 e z > 0. Figura 1.19 curvas de nível da função z = 4 – x – y K = 0 ⇒ 0 = 4 – x – y ⇒ y = –x + 4 K = 2 ⇒ 2 = 4 – x – y ⇒ y = –x + 2 K = 4 ⇒ 4 = 4 – x – y ⇒ y = –x Figura 1.20 Gráfico da função z = 4 – x – y Em tempo Observe que a Figura 1.18 foi construída com o auxílio do software Derive, usando o espaço tridimensional. Veja que o fato de não aparecer as duas variáveis independentes pode causar dúvidas. Dessa forma é importante sempre sabermos qual o espaço que estamos traba- lhando, para não confundir uma calha com uma parábola.. 38 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Além de esboçar gráficos utilizando softwares ou curvas de nível, você poderá também fazer o gráfico a partir da identificação da re- presentação algébrica da função . Por exemplo, ao visualizar a repre- sentação algébrica da função do segundo grau y = ax2 + bx + c, você já pode relacioná-la com uma parábola, o que facilitará o esboço do gráfico desta função de uma variável . A visualização das proprieda- des gráficas a partir da linguagem algébrica deve ser bastante usada no contexto das funções de duas variáveis . Nos próximos exemplos fique atento às representações algébricas e acompanhe como os gráficos das funções de duas variáveis que se- rão utilizadas no decorrer da disciplina são construídos e analisados . É importante também destacar que o gráfico lhe dará condições para analisar algumas características e propriedades das funções . Lembre-se que as funções podem modelar situações reais e, sen- do assim, é interessante um olhar mais aprimorado acerca de suas propriedades e características . Portanto, fique atento para desen- Olá estimado aluno! Parece difícil esboçar gráficos em 3 dimensões? Mas não fique preocupado, você não está sozinho nesta em- preitada. Você poderá contar com a tecnologia e comigo também! Inicialmente quero lembrar a você que o Derive ( já utilizado no Cálculo I e no Cálculo II) pode ser novamente citado aqui no Cálculo III. Experimente esboçar gráficos usando a opção de Inserir Ob- jeto Gráfico 3D. Você deve digitar a função usando sua repre- sentação algébrica na forma explícita na janela Álgebra. Em seguida abra a janela de gráfico em 3 dimensões. Faça um teste, veja que o gráfico da função aparecerá em vá- rias cores e você tem a possibilidade de alterar os ângulos de visualização (Configurar Posição de Visualização). 39 cálculo III unidade 1 volver habilidades para lidar com as duas principais formas de representação das funções: algébrica e gráfica . Exemplos 1. Analisar o gráfico das funções de duas variáveis apresentadas, identifican- do suas principais propriedades e características. a. z = 1 + x – y na Figura 1.21 você visualiza parte do gráfico desta função, que é um plano. para determinar os pontos em que o gráfico irá cortar os eixos x, y e z, você pode atribuir o valor zero às demais variáveis. Assim temos: Figura 1.21 Gráfico da função z = 1 + x – y. Quando y = 0 e z = 0 teremos 0 = 1 + x – 0 ⇒ x = –1. Quando x = 0 e z = 0 teremos 0 = 1 + 0 – y ⇒ y = 1. Quando x = 0 e y = 0 teremos z = 1 + 0 – 0 ⇒ z = 1. o domínio desta função é dado por D(z) = IR2 e o conjunto imagem é Im(z) = IR. na forma como foi definido este plano, considerando-se o seu domínio em IR2, não é possível identificar pontos de máximo ou mínimo. De forma geral a equação de um plano pode ser escrita como ax + by + cz = 0. em algumas situações os valores de a, b ou c são nulos e, nestes casos, os planos ficam posicionados de diversas formas. veja na Figura 1.22 alguns exemplos. Figura 1.22 Gráficos de diferentes planos 40 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA b. f(x,y) = 4 – x2 – y2 o gráfico deste parabolóide pode ser visualizado na Figura 1.23. Figura 1.23 Gráfico do parabolóide f(x,y) = 4 – x2 – y2 o domínio desta função é dado por D(f ) = IR2 e o conjunto imagem será Im(f ): { z ∈ IR | z ≤ 4 }. nesta função é possível identificar um valor máximo em z = 4 que acontece quando (x,y) = (0,0). Assim, o ponto de máximo desta função será (0,0,4). A representação algébrica de um parabolóide pode ser dada, de forma geral, por: z = a(x – x 0 )2 + b(y – y 0 )2 + c sendo que os sinais de a e b devem ser ambos positivos ou ambos negativos. Se forem negativos, o parabolóide fica com concavidade para baixo como aconteceu neste exemplo. Se forem positivos, sua concavidade fica voltada para cima como no exemplo da Figura 1.9 que está na seção 2. Quando a = b teremos um parabolóide circular, ou seja, possui curvas de nível na forma de circunferências. Quando a ≠ b, desde que tenham os mes- mos sinais, teremos um parabolóide elíptico em que as projeções são na forma de elipses. na Figura 1.9, também é possível visualizar que o vértice do parabolóide está em z = 0. Isto acontece quando a constante c for nula. Já no parabolóide z = 4 – x2 – y2, da Figura 1.23, o valor de c é 4 e, sendo assim, o vértice do pa- rabolóide estará em z = 4. 41 cálculo III unidade 1 por fim, os valores de x 0 e y 0 indicam também um deslocamento de vértice. por exemplo, se z = (x – 1)2 + (y – 2)2 o vértice estaráem (1,2,0); se z = x2 + (y + 1)2 + 3 o vértice estará em (0,–1,3); se z = (x + 2)2 + (y – 1)2 –1 o vértice estará em (–2,1,–1). c. z = 3 – x2 na Figura 1.24 você visualiza o gráfico desta função. temos um cilindro parabólico, ou uma calha, com concavidade para baixo pois o sinal de x2 é negativo. o domínio da função é: D(z) : { (x,y) ∈ IR2 } o conjunto imagem é: Im(z) : { z ∈ IR | z ≤ 3 }. o valor máximo é z = 3. Figura 1.24 Gráfico da calha z = 3 – x2 A representação algébrica desta calha não mostra a variável y. esta é uma característica das representações algébricas das calhas. volte à Figura 1.18 e visualize a diferença entre a calha z = y2 e a que foi trabalhada neste exemplo. Na Internet você pode acessar no endereço http://math.exe- ter.edu/rparris/winplot.html uma versão do Winplot. Este é um software que faz gráficos e possui ferramentas de anima- ção que são muito interessantes. Se você fez a disciplina de Geometria Analítica, já teve um contato maior com este software. Caso nunca tenha trabalhado com ele, vale a pena conferir! No site existe uma versão para download em português. No Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem estarei explicando melhor a sua utilização. Espero você por lá também! 42 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA d. = − 2y 4 x Antes de fazer o esboço do gráfico desta função é importante lembrar a equação geral de um cilindro, que você já estudou em Geometria: (x – x 0 )2 + (y – y 0 )2 = a2, sendo (x 0 ,y 0 ) o centro e a o raio do cilindro. também podemos ter outros cilindros: (x – x 0 )2 + (z – z 0 )2 = a2 (y – y 0 )2 + (z – z 0 )2 = a2 Assim como foi discutido no exemplo 6 da seção 1, é importante identificar a variável dependente para que ela seja explicitada. Sem que isto seja feito não teremos definida a função. Isto quer dizer que um cilindro não é o gráfico de uma função, mas a partir dele podemos definir infinitas funções cuja repre- sentação gráfica são partes do cilindro. neste exemplo, vamos fazer o gráfico de = − 2y 4 x , que representa o lado direito do cilindro x2 + y2 = 4. A Figura 1.25 mostra o gráfico desta função. Figura 1.25 Gráfico de = − 2y 4 x 43 cálculo III unidade 1 e. = − +2 2y x z esta é uma função que representa a parte negativa de um cone, conforme pode ser visualizado na Figura 1.26. A variável y que está explicitada é a variável dependente. o domínio desta função é: D(y) : { (x,z) ∈ IR2 | x2 + z2 ≥ 0 } o conjunto imagem é: Im(y) : { y ∈ IR | y ≤ 0 }. É possível identificar um valor míni- mo em y = 0. Figura 1.26 Gráfico de = − +2 2y x z Agora é a sua vez! 1. para cada uma das funções, faça um esboço do seu gráfico identificando algumas curvas de nível: a. z = x2 + (y – 1)2 b. = +2 2f(x, y) x y c. g(x,y) = 2 – x2 2. Faça um esboço do gráfico das funções de duas variáveis e analise suas principais características e propriedades: a. z = 3 – x b. z = 1 + (x – 1)2 + (y – 1)2 c. z = x2 44 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Você sabe o que é uma carta topográfica? Pois bem, eu sei e vou lhe explicar!!! A carta topográfica é um documento que apresenta a superfície terrestre por meio de projeções cartográficas. Apesar de ser parecida com um mapa, não é a mesma coisa. Os mapas representam porções bem definidas do espaço terrestre, como cidades, estados, mares ou países com limi- tes físicos e políticas. Já nas cartas topográficas os limites são matemáticos, geralmente meridianos e paralelos. Nelas aparecem os acidentes naturais e artificiais da superfície terrestre, suas posições planimétricas e altimétricas. A po- sição altimétrica ou o relevo é normalmente determinada por curvas de nível. Na Internet você pode obter várias informações muito legais! 45 Síntese da Unidade O estudo das funções de várias variáveis, seu comportamento, suas propriedades e características propicia uma visualização mais geral sobre a modelagem matemática de situações reais . E é por isto que este objeto matemático se torna tão importante e é mui- to aplicado em diversas áreas do conhecimento . Ao estudar a função de várias variáveis você pôde contextualizar aplicações e identificar que, de forma geral, sua análise é muito similar à análise de uma função de uma variável . Sendo assim, os conceitos podem ser generalizados para que você possa melhor entender o comportamento destas funções . Deve ter em mente que a representação gráfica se torna impor- tante neste processo de análise e que o uso de ferramentas com- putacionais poderá lhe auxiliar na construção dos gráficos . Nas próximas unidades você conhecerá as definições de limites e derivadas para estas funções . Mas antes de seguir em frente faça os exercícios propostos e não fique com dúvidas . 46 AtIvIDADeS De auto-avaliação 1. para as funções a seguir calcule o Domínio e o conjunto Imagem. Faça o Gráfico do domínio. a. z = 9x2 + 4y2 b. z = xy c. = − −2 2z 10 x y 2. Dada as funções f(x,y) = x – y; = − + 2 2 2 xy g(x, y) x y ; h(x,y) = sen 2x cos y e = − +2 2 1m(x, y) (4x y ) , encontre algumas curvas de nível e procure identificar dentre as Figuras 1.27, 1.28 , 1.29 e 1.30 qual delas representam curvas de nível das funções dadas. (você pode usar o recurso gráfico usando o software winplot). 47 cálculo III unidade 1 Figura 1.27 Figura 1.28 Figura 1.29 Figura 1.30 3. Faça um esboço do gráfico das funções de duas variáveis e analise suas principais características e propriedades: a. z = 2 – y d. = − − −2 2y 4 x (z 2) b. z = (x – 1)2 + (y – 1)2 e. = − 2x 9 y c. z = 1 – y2 f. = − +2 2z (x 1) y 48 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA 4. Identifique a representação algébrica da função que define o parabolóide circular representado na Figura 1.31. Figura 1.31 5. Seja o parabolóide z = x2 + y2. escreva a representação algébrica deste parabolóide se o seu vértice estiver: a. Deslocado uma unidade no eixo positivo dos x. b. Deslocado duas unidades no eixo negativo dos y. c. Deslocado três unidades no eixo positivo dos z. Saiba mais Para aprofundar os conteúdos estudados nesta unidade ou mesmo resolver outros exercícios você pode utilizar livros de Cálculo Diferencial e Integral . O livro Cálculo B apre- senta vários exercícios resolvidos, uma ótima referência nes- te contexto: GONÇALVES, Mirian Buss; FLEMMING, Diva Marília . Cálculo B: funções de várias variáveis, integrais duplas e integrais triplas . São Paulo: Makron Books, 1999 . 49 unIDADe 2 lImIte e contInuIDADe Objetivos de Aprendizagem calcular limites de funções de várias variáveis usando propriedades. resolver limites que envolvam indeterminações e os infi nitos. Analisar a continuidade de uma função de várias variáveis. Plano de estudo da unidade Seção 1 noção de limite de uma função de várias variáveis . . . . . 53 Seção 2 cálculo e propriedades de limites . . . . . . . . . . . . . . . . 65 Seção 3 continuidade de funções de duas variáveis . . . . . . . . . . 72 Síntese da Unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 Atividades de auto-avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 Quantos sólidos podem ser visualizados? Seriam funções de várias variáveis? Pense nisto!! 51 Para início de conversa Para iniciar esta unidade, que estudará o limite e a continuidade de funções de várias variáveis, é importante que você relembre os conceitos que foram estudados em Cálculo I, quando o limite de função de uma variável foi definido . De forma resumida, podemos dizer que o limiteestuda o com- portamento de uma função na proximidade de um ponto especí- fico . Para entender tal comportamento, podemos analisar a repre- sentação algébrica da função ou, ainda, analisar o comportamento de seu gráfico . Feito isto, podemos generalizar esse conceito e passar a trabalhar com as funções de mais de uma variável . Em especial, trabalhare- mos com as funções de duas variáveis, que nos darão uma noção dessa generalização . 52 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Com o estudo do limite de funções de várias variáveis, você for- malizará alicerces conceituais que serão essenciais para o estudo das derivadas parciais, que são as derivadas das funções de várias variáveis . Por fim, vamos também generalizar o conceito de continuidade que no caso das funções de uma variável nos auxilia a identificar os pontos de “quebra” que a função possui . Para as funções de várias variáveis, em especial as funções de duas variáveis cuja representação gráfica se dá no espaço tridimensio- nal, é a análise da continuidade que propiciará a identificação de superfícies que possuem buracos ou rupturas . A existência de tal característica pode representar diferentes interpretações para si- tuações reais que são modeladas por esse tipo de função . Está preparado para iniciar? Então acompanhe os conceitos que serão apresentados nas três seções que compõem esta unidade e não fique com dúvidas no decorrer do seu estudo . Bom trabalho! 53 cálculo III unidade 2 Seção 1 Noção de limite de uma função de várias variáveis Para entender a noção de limite de uma função de várias variá- veis, você deve, em um primeiro momento, revisar o que já estu- dou em Cálculo I sobre o limite de uma função . Naquela disciplina, várias análises foram realizadas quando o conceito de limite foi introduzido . O que faremos nesta seção será a generalização do conceito de limite, tendo como foco evi- denciar conceitos básicos e definições que ajudarão a entender o limite de funções de várias variáveis . Sendo assim, não iremos abordar novamente os aspectos que já foram estudados em Cál- culo I, mas sim revisá-los, buscando as generalizações necessárias . Para começar, você precisará conhecer algumas definições que provavelmente ainda não apareceram em outros contextos da ma- temática e que serão essenciais para o entendimento do limite de uma função de duas variáveis . Em tempo Assim como fizemos na unidade 1, vamos focar o nosso estudo no limite de uma função de duas variáveis, pois será possível abordar as suas diferentes representações semió- ticas, entre elas, a representação gráfica tridimensional. 54 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Definição 1: Chamamos de bola aberta o conjunto de todos os pontos internos à circunferência com centro em P0(x0 ,y0) ∈ IR2 e raio r. Sua representação algébrica é dada por B(P0,r) = { (x,y) ∈ IR2 | 2 20 0( ) ( )x x y y− + − < r } e a Figura 2.1 mostra sua representação gráfica. Figura 2.1 representação gráfica da bola aberta em Ir2 Se trabalharmos com o espaço tridimensional, ou seja, o IR3, a bola aberta será o conjuntos dos pontos internos à esfera com centro em P0(x0,y0,z0) ∈ IR3 e raio r . Sua representação gráfica está na Figura 2 .2 . Figura 2.2 representação gráfica da bola aberta em Ir3 55 cálculo III unidade 2 Ao analisar com atenção os detalhes das figuras 2 .1 e 2 .2, você irá perceber a existência de linhas pontilhadas nos contornos da cir- cunferência e da esfera . Elas indicam que os pontos da circunfe- rência ou os pontos da casca esférica não pertencem à bola aberta . Se as linhas não fossem pontilhadas, identificaríamos a existência de uma bola fechada, que pode ser representada por B[P0,r] . Exemplo representar graficamente as bolas B((2,2),1) em IR2 e B[(0,0,0),2] em IR3. A Figura 2.3 representa a bola aberta B((2,2),1). podemos dizer que essa bola aberta é o conjunto de todos os pontos internos à circunferência com centro em (2,2) e raio 1, ou seja, (x – 2)2 +(y – 2)2 < 1. Figura 2.3 representação gráfica da bola aberta B((2,2),1) Figura 2.4 representação gráfica da bola fechada B[(0,0,0),2] na Figura 2.4 você visualiza a bola fechada B[(0,0,0),2]. nesta bola fechada temos todos os pontos internos e a casca da esfera com centro em (0,0,0) e raio 2, ou seja, x2 + y2 + z2 ≤ 4. Em tempo A equação geral de uma circunferência é dada por: (x – x 0 )2 + (y – y 0 )2 = r2, sendo (x 0 ,y 0 ) o centro e r o seu raio. 56 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Acompanhe a definição 2 que abordará o conceito de ponto de acumulação . Definição 2: O ponto P ∈ IR2 será chamado de ponto de acumu- lação de A, sendo A ⊂ IR2 se toda bola aberta com centro em P contiver uma infinidade de pontos de A. E para entender melhor esta definição, veja os exemplos que identificam pontos de acumulação . Exemplo verificar se os pontos (0, 1 2 ), (0,1), (–1,–1) e (1,1) são pontos de acumulação de A = { (x,y) ∈ IR2 | 0 < + −2 2x (y 1) < 1 }. vamos, de início, representar graficamente o conjunto A, na Figura 2.5. Figura 2.5 representação gráfica do conjunto A para verificar se os pontos indicados são de acumulação, vamos traçar bolas abertas com centro em cada um dos pontos para que possamos identificar se existe uma infinidade de pontos da bola em A. Analisando a Figura 2.6, podemos dizer que (–1,–1) não será ponto de acu- mulação. observe que a bola aberta desenhada com centro nesse ponto não possui pontos do conjunto A. É claro que se ampliarmos o raio vamos ter inter- 57 cálculo III unidade 2 secção com A, mas lembre-se de que a idéia aqui é observar próximo ao cen- tro. todos os outros pontos indicados, quando se tornam o centro de uma bola aberta, contêm infinitos pontos de A. em especial, o ponto (1,1) não pertence ao conjunto A, mas, mesmo assim, é ponto de acumulação, pois temos uma parte da bola aberta que está contida no conjunto A e, sendo assim, existem infinitos pontos deste conjunto que estão contidos na bola aberta B((1,1),r). Figura 2.6 representação gráfica dos pontos a serem analisados. Após o entendimento dos conceitos básicos de bola aberta e pon- to de acumulação, você já está pronto para entender o limite de uma função de duas variáveis, a partir da análise da definição 3 . Definição 3: O limite de uma função f : A ∈ IR2 → IR quando (x,y) se aproxima do ponto (x0 ,y0), que é um ponto de acumu- lação de A ∈ IR2, será um número real L se, para todo e > 0 existir um d > 0 tal que | f (x,y) – L | < e sempre que (x,y) ∈ A e 0 < | (x,y) – (x0 ,y0) | < d. Esse limite pode ser representado algebricamente da seguinte forma: 0 0( , ) ( , ) lim ( , ) x y x y f x y → = L ou 0 0 lim ( , ) x x y y f x y → → = L. Em linguagem natural, dizemos que o limite da função f (x,y) é igual a L quando (x,y) tende a (x0,y0) ou quando x → x0 e y → y0 . 58 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Na Figura 2 .7, é possível visualizar graficamente o significado do limite da função z = f (x,y) . Figura 2.7 representação gráfica do significado do limite da função z = f(x,y) Em Cálculo I, você já estudou de forma detalhada o cálculo do limite de uma função usando a definição . No exemplo a seguir, acompanhe como esse cálculo é similar ao que já era feito, sendo que agora estamos ampliando a análise para o caso de uma fun- ção de duas variáveis . Exemplo mostrar que → → + = x 1 y 2 lim(x 2y) 5 usando a definição. usando a definição 3, precisamos mostrar que para todo e > 0 existe um d > 0 tal que | f(x,y) – 5 | < e ( 1 ) sempre que 0 < | (x,y) – (1,2) | < d. o módulo | (x,y) – (1,2) | pode ser escrito como − + −2 2(x 1) (y 2) . Assim, 0 < − + −2 2(x 1)(y 2) < d. Em tempo Fique atento! Na Fi- gura 2.7 temos repre- sentado o domínio da função de duas variáveis D(f ) e não o gráfi- co da função, que seria tridimen- sional. Na seção 1 da unidade 1, você já estudou a representação gráfica do domínio de funções do tipo z = f(x,y). 59 cálculo III unidade 2 usando ( 1 ), podemos encontrar d: | f(x,y) – 5 | = | x + 2y – 5 | = | x – 1 + 2y – 4 | = | (x – 1) + 2(y – 2) | ≤ | x – 1 | + 2| y – 2 |. como | x – 1 | ≤ − + −2 2(x 1) (y 2) e | y – 2 | ≤ − + −2 2(x 1) (y 2) , podemos dizer que | x – 1 | + 2| y – 2 | < d + 2d ou | x – 1 | + 2| y – 2 | < 3d sempre que 0 < − + −2 2(x 1) (y 2) < d. Assim, se dissermos que d = e 3 garantimos que 0 < − + −2 2(x 1) (y 2) < d e então teremos: | f(x,y) – 5 | ≤ | x – 1 | + 2| y – 2 | < e 3 + 2 e 3 = e Desta forma, podemos concluir que → → + = x 1 y 2 lim(x 2y) 5 . Neste momento, assim como em Cálculo I, não iremos calcular os limites usando a definição, pois apesar de gerar um método eficiente, recaímos em cálculos que se tornam extensos e cansati- vos . Desta forma, torna-se essencial estudar as propriedades dos Quando falamos de limites de uma função, podemos lembrar de John Fernoulle, que no final de 1600 descobriu uma re- gra para calcular os limites das frações cujos numeradores e denominadores fossem próximos de zero. Hoje, esta regra é conhecida como “Regra de L´Hospital”. Foi Guillaume de L’Hospital (1661-1704), um nobre francês, que a apresen- tou pela primeira vez. Você lembra que já trabalhou com esta regra em Cálculo I? 60 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA limites de funções de duas variáveis para que possamos utilizá-las efetivamente no cálculo dos limites . Mas antes de conferir as propriedades, é importante que você relembre da definição 3 — o fato de que o ponto indicado como (x0,y0) é um ponto de acumulação . Você sabe explicar por que (x,y) deve tender a um ponto de acumulação? Esta pergunta deve ser respondida antes de seguirmos em frente . Podemos dizer que (x0,y0) é um ponto de acumulação pois ele não precisa, necessariamente, pertencer ao domínio da função cujo limite será calculado . No entanto, quando esse ponto se torna o centro de uma bola aberta, deverá conter infinitos pontos que pertençam ao domínio da função, pois caso contrário estaremos analisando o comportamento de uma função em um ponto em que a função sequer está próxima . Isto não faria sentido! Um outro aspecto importante a ser destacado diz respeito à aná- lise da condição de existência do limite de uma função de duas variáveis . Com funções de uma variável era possível identificar dois caminhos para se chegar ao ponto a ser analisado: pela sua direita ou pela sua esquerda . Analise a Figura 2 .8 e procure iden- tificar quantos caminhos teremos para chegar a um ponto quan- do se trata de uma função de duas variáveis . Figura 2.8 caminhos do limite da função z = f(x,y) Em tempo Lembre-se que quando dizemos que o limite de uma função tende a um pon- to, isto não significa dizer que, necessariamente, a função está definida nesse ponto. No limite, analisamos o comportamento da função quando ela tende a esse ponto e isto significa “estar pró- ximo ao ponto”, ou seja, o ponto pode não pertencer ao domínio da função. 61 cálculo III unidade 2 Você conseguiu visualizar infinitos caminhos para se chegar ao ponto (x0,y0)? Ao contrário do que acontecia com as funções de uma variável, temos agora várias possibilidades para fazer (x,y) tender a (x0,y0) . E vale lembrar que temos aí uma condição importante para ga- rantir a existência do limite . Para as funções de uma variável, o limite só existia se o limite à direita fosse igual ao limite à es- querda . Agora, precisamos garantir que os infinitos caminhos nos levem aos mesmos valores de L . Parece complicado, mas pode ficar mais simples depois que você conhecer uma proposição que garanta a existência do limite de uma função de duas variáveis . Proposição: Se for possível determinar dois subconjuntos D1 e D2 do domínio da função de duas variáveis f (x,y), denotado por D(f ), que tenham (x0,y0) como ponto de acumulação, então podemos fazer (x,y) tender a (x0,y0) por meio de pontos de D1 e D2. Se f (x,y) tiver limites diferentes quando (x,y) tende a (x0,y0) por meio de pontos de D1 e D2, então podemos dizer que 0 0( , ) ( , ) lim ( , ) x y x y f x y → não existe. Esta proposição auxilia na identificação da não-existência de um grande número de exemplos, mas devemos tomar cuidado ao discutir a existência . De forma resumida, teremos que escolher diferentes caminhos que contenham (x0,y0) . Após a escolha, cal- culamos o limite para esses caminhos específicos, basta que se tenham dois resultados diferentes para diagnosticar a não-exis- tência do limite . Para auxiliá-lo neste processo, você pode pensar em escolher ca- minhos que sejam traçados por curvas que passem pelo ponto (x0,y0) . Veja algumas alternativas . Caminho 1: conjunto dos pontos do eixo dos x . Neste caso, iremos fazer y = 0 e o ponto (x0,y0) está sobre o eixo dos x . 62 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Caminho 2: conjunto dos pontos do eixo dos y . Neste caso, teremos x = 0 e o ponto (x0,y0) está sobre o eixo dos y . Caminho 3: conjunto dos pontos da reta y = x . Neste caso, teremos y = x e o ponto (x0,y0) deve estar sobre esta reta . Caminho 4: conjuntos dos pontos do arco de parábola y = x . Neste caso, teremos y = x e o ponto (x0,y0) estará sobre esta curva . Esta análise não é tão difícil quanto parece . Veja os exemplos a seguir para entender melhor como utilizar esta proposição . Exemplos 1. mostrar que o limite → → + 2 2x 0 y 0 2xy lim 4x 3y não existe. A partir do momento em que sabemos que o limite indicado não existe, va- mos então escolher diferentes “caminhos” para que (x,y) se aproxime de (0,0). É importante destacar que existe pelo menos um caminho cujo resultado do limite será diferente pelo menos de um dos demais caminhos escolhidos. en- tão, vamos analisá-los: Caminho 1: (x,y) → (0,0) pelo eixo dos x. neste caso, devemos fazer y = 0 e o limite passa a ser de uma única variável. → → → = ⋅ ⋅ = = = + ⋅2 2 2x 0 x 0 x 0 y 0 2 x 0 0lim lim lim 0 0 4x 3 0 4x Caminho 2: (x,y) → (0,0) pelo eixo dos y. neste caso, devemos fazer x = 0 e o limite passa a ser de uma única variável. = → → → ⋅ ⋅ = = = ⋅ +2 2 2x 0 y 0 y 0 y 0 2 0 y 0lim lim lim 0 0 4 0 3y 3y Ainda não conseguimos provar que o limite não existe, pois o resultado dos dois primeiros caminhos escolhidos foi igual a zero. vamos, então, a um ter- ceiro caminho. 63 cálculo III unidade 2 Caminho 3: (x,y) → (0,0) pelos pontos da reta y = x. neste caso, deve- mos fazer y = x e o limite também passará a ser de uma variável. → → → = ⋅ ⋅ = = = + 2 2 2 2x 0 x 0 x 0 y x 2 x x 2x 2 2lim lim lim 7 74x 3x 7x como o resultado do limite foi diferente de zero no caminho 3, pela proposi- ção podemos concluir que → → + 2 2x 0 y 0 2xy lim 4x 3y não existe. 2. verificar se o limite → → + 2 2 4x 0 y 0 3xy lim x y existe. Agora não temos certeza se o limite existe ou não. nestas situações, é preciso tomar cuidado, pois podemos não ter uma definição usando somente a pro- posição. Caminho 1: (x,y) → (0,0) pelo eixo dos x. neste caso, devemos fazer y = 0 e o limite passa a ser de uma única variável. → → → = ⋅ ⋅ = = = + 2 2 4 2x 0 x 0 x 0 y 0 3 x 0 0lim lim lim 0 0 x 0 x Caminho 2: (x,y) → (0,0) pelo eixo dos y. neste caso, devemos fazer x = 0 e o limite passa a ser de uma única variável. = → → → ⋅ ⋅ = = = +2 2 4 4x 0 y 0 y 0 y 0 3 0 y 0lim lim lim 0 0 0 y y Caminho 3: (x,y) → (0,0) pelos pontos da reta y = x. neste caso, deve- mos fazer y = x e o limite também passará a ser de uma variável. → → → → = ⋅ ⋅ ⋅= = = = + + + 2 2 4 2 2x 0 x 0 x 0 x 0 y x 3 x x 3x 3 0 0lim lim lim lim 0 1x x 1 x 1 0 Caminho 4: (x,y) → (0,0) pelos pontos da curva y = x . neste caso, devemos fazer y = x e o limite também passará a ser de uma variável. → → → → = ⋅ ⋅ = = = = ++ 2 2 2 2 2 22 4x 0 x 0 x 0 x 0 y x 3 x ( x ) 3x 3x 3 3lim lim lim lim 2 2x x 2xx ( x ) como obtivemos um resultado diferente no caminho 4, então podemos dizer que o limite → → + 2 2 4x 0 y 0 3xy lim x y não existe. 64 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Para encerrar esta, seção é importante destacar que os conceitos iniciais sobre o limite de uma função de duas variáveis podem ser generalizados para funções de várias variáveis . Como o nosso objetivo é trabalhar com diferentes representações, optamos pela análise das funções cuja representação gráfica ainda é possível de se fazer . Na seção 2, você poderá aplicar as propriedades dos limites para determinar os limites cuja existência é garantida . Mas não siga em frente antes de fazer os exercícios e tirar as suas dúvidas . Agora é a sua vez! 1. verifique se os pontos (1,2), (– 12 , 1 2 ), (2,1) e (3,0) são pontos de acumula- ção de B = { (x,y) ∈ IR2 | y > 2x2 }. 2. usando a definição, mostre que → + = (x ,y ) (2,3) lim (3x 2y) 12 . 3. mostre que os limites indicados não existem: a. → → − + 2 2 2 2x 0 y 0 x 4y lim x y b. → → − −x 0 y 0 5y x lim 2x y 65 cálculo III unidade 2 Após entender o significado do limite de uma função de duas variáveis, nesta seção você irá calcular os limites usando suas pro- priedades . É importante destacar que as propriedades que aqui serão discu- tidas não são diferentes das propriedades discutidas em Cálculo I . Propriedade 1: Se 0 0 lim x x y y → → f (x,y) = L e 0 0 lim x x y y → → g (x,y) = M, então podemos dizer que: 0 0 lim x x y y → → [ f (x,y) ± g (x,y) ] = 0 0 lim x x y y → → f (x,y) ± 0 0 lim x x y y → → g (x,y) = L + M. Propriedade 2: Se 0 0 lim x x y y → → f (x,y) = L e c é um número real, então 0 0 lim x x y y → → c · f (x,y) = c · 0 0 lim x x y y → → f (x,y) = c ·L Seção 2 Cálculo e propriedades de limites 66 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA Sentiram minha falta? Pois aqui estou, para dizer que as demonstrações das pro- priedades de limites são feitas a partir da definição formal de limite. Acompanhe como fica a demonstração da primeira propriedade! Sejam → → 0 0 lim x x y y f(x,y) = L e → → 0 0 lim x x y y g(x,y) = M e e > 0 arbitrário. Devemos provar que existe d > 0, tal que |[f(x,y) + g(x,y)] – (L + M)| < e sempre que (x,y) ∈ D(f) ∪ D(g) e 0 < − + −2 20 0( ) ( )x x y y < d. Como → → 0 0 lim x x y y f(x,y) = L existe d1 > 0 tal que |f(x,y) – L| < e 2 , sempre que (x,y) ∈ D(f) e 0 < − + −2 20 0( ) ( )x x y y < d1. Como → → 0 0 lim x x y y g(x,y) = M existe d2 > 0 tal que |g(x,y) – M| < e 2 , sempre que (x,y) ∈ D(g) e 0 < − + −2 20 0( ) ( )x x y y < d2. Seja d o menor dos números d1 e d2, isto é, d = min {d1,d2}. Então d ≤ d1 e d ≤ d2 e, assim, se (x,y) ∈ D(f) ∪ D(g) e 0 < − + −2 20 0( ) ( )x x y y < d, temos |f(x,y) – L| < e 2 e |g(x,y) – M| < e2 . Logo, |[f(x,y) + g(x,y)] – (L + M)| = |[f(x,y) – L] + [g(x,y) – M]| ≤ |f(x,y) – L + g(x,y) – M| < e2 + e 2 = e sempre que (x,y) ∈ D(f) ∪ D(g) e 0 < − + −2 20 0( ) ( )x x y y < d e dessa forma → → 0 0 lim x x y y [f(x,y) + g(x,y)] = L + M. 67 cálculo III unidade 2 Propriedade 3: Se 0 0 lim x x y y → → f (x,y) = L e 0 0 lim x x y y → → g (x,y) = M, então podemos dizer que: a. 0 0 lim x x y y → → [ f (x,y) · g (x,y) ] = 0 0 lim x x y y → → f (x,y) · 0 0 lim x x y y → → g (x,y) = L · M b. 0 0 0 00 0 lim ( , ) ( , )lim ( , ) lim ( , ) x x y y x x x xy y y y f x y f x y L Mg x y g x y → → → →→ → = = , desde que 0 0 lim x x y y → → g (x,y) ≠ 0. Propriedade 4: Se 0 0 lim x x y y → → f (x,y) = L e n é um número inteiro positivo, então: 0 0 lim x x y y → → [ f (x,y) ]n = [ 0 0 lim x x y y → → f (x,y)]n = Ln. Propriedade 5: Se 0 0 lim x x y y → → f (x,y) = L sendo L ≥ 0 e n é um número inteiro ou se L < 0 e n é um número ímpar inteiro positivo, então: 0 0 0 0 lim ( , ) lim ( , ) nn x x x xn y y y y f x y f x y L → → → → = = . Nos exemplos a seguir, você poderá acompanhar o uso das pro- priedades no cálculo dos limites indicados . Exemplos calcular os seguintes limites: a. → →− x 1 y 2 lim (x2y2 + 3xy + 2) usando a propriedade 1, podemos reescrever → →− x 1 y 2 lim (x2y2 + 3xy + 2) = → →− x 1 y 2 lim x2y2 + → →− x 1 y 2 lim 3xy + → →− x 1 y 2 lim 2. Em tempo Veja que o valor de n é definido para que as raízes com índice par não sejam para um L negativo, pois não estamos trabalhando no conjunto dos números complexos e, sendo assim, as raízes com índice par são definidas apenas para valores positivos de L. 68 unIverSIDADe Do Sul De SAntA cAtArInA As propriedades 2 e 3 podem agora ser aplicadas: → →− x 1 y 2 lim (x2y2 + 3xy + 2) = →x 1 lim x2 · →−y 2 lim y2 + 3· →x 1 lim x · →−y 2 lim y + 2 = (1)2·(–2)2 + 3·1·(–2) + 2 = 4 – 6 + 2 = 0. b. → → + 2 x 0 y 3 4xy lim x y para resolver este limite, vamos aplicar as propriedades 3, 2 e 1, nesta ordem: → → → → → → → → → → ⋅ ⋅ ⋅ ⋅= = = = =+ + + + 2 2 x 02 2 y 3 x 1 y 3 x 0 y 3 x 0 x 1 y 3 y 3 lim 4xy 4 lim x lim y4xy 4 0 (3) 0lim 0. x y lim x y lim x lim y 0 3 3 c. →− → −4 x 1 y 3 lim x y 1 usando a propriedade 5, podemos reescrever o limite: →− →− → → →− → →− → − = − = ⋅ − = − ⋅ − = 4 4 x 1 x 1 y 3 y 3 4 x 1 y 3 x 1 y 3 4 lim x y 1 lim x y 1 lim x lim y lim 1 ( 1) 3 1 2. d. → → + 2 x 2 y 1 3xlim ln xy 2 neste exemplo, temos uma função composta e, assim como era feito em cálculo I, vamos trabalhar com os limites de funções compostas. → → → → → → → + = + = ⋅ + ⋅ = ⋅ + ⋅ = 2 2 x 2 x 2 y 1 y 1 2 x 2 y 1 x 2 2 3x 3xlim ln xy ln lim xy 2 2 3ln lim x lim y lim x 2 3ln 2 (1) 2 2 ln 5. Em tempo Após a aplicação das propriedades 2 e 3, os limites passam a ser limites de funções de uma variável. 69 cálculo III unidade 2 Você lembra das indeterminações? Pois agora é o momento de relembrá-las a partir do que já foi estudado . Sugerimos que você reveja as resoluções dos limites com indeterminações que foram detalhadamente apresentadas em Cálculo I, para sanar eventuais dúvidas que surgirem . Neste momento, não vamos nos preocupar em detalhar todos os passos como fi zemos anteriormente, pois a forma de resolução é muito similar às funções de uma variável . Nos exemplos, acompanhe a resolução de indeterminações do tipo 00 que envolvem fatoração de polinômios e raízes quadradas . Exemplos calcular os limites que envolvem indeterminações. a. → → + − − − + + − − 3 2 2 x 3 y 1 x 2x y 3x 6xy 3x 9 lim xy x 3y 3 Inicialmente, vamos aplicar as propriedades e substituir os valores de x e de y no limite.