Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
11/12/2012 1 Lei de Gauss Lei de Gauss • Fluxo do Campo Elétrico • A Lei de Gauss • Aplicações da lei de Gauss • Divergência de um vetor e equação de Poisson Fluxo do campo elétrico • A relação entre o campo elétrico e suas fontes pode ser expressa de uma maneira muito simples. Precisamos, no entanto, definir uma nova grandeza, chamada fluxo do campo elétrico. • Consideremos um campo elétrico em determinada região do espaço e, nesta mesma região, uma superfície fechada de forma arbitrária. • Divida agora toda a superfície em pequenos trechos, tão pequenos que a superfície de cada um possa ser considerada plana e o vetor campo elétrico não varie apreciavelmente sobre um trecho. • A área de cada trecho tem um valor e cada um define univocamente uma direção e sentido – a normal à superfície orientada para fora. Assim, para cada uma das porções em que a superfície foi dividida, temos um vetor Ԧܽ que define sua área e sua orientação. • Seja ܧ o vetor campo elétrico no local do trecho de número ݆. O produto escalar ܧ ∙ Ԧܽ é um número. Chamamos esse número de fluxo do campo elétrico (ou somente fluxo) através desse pedaço de superfície. • Para obter o fluxo total através de toda superfície, devemos somar os fluxos em cada trecho. O resultado desta soma é uma grandeza escalar que chamamos de Φ: Φ ൌ ܧ ∙ Ԧܽ ௧ௗ௦ ௦ • Se subdividimos os trechos em áreas cada vez menores, teremos, no limite em que Ԧܽ → 0 Φ ൌ න ܧ ∙ ݀ Ԧܽ ௧ௗ ௦௨í A Lei de Gauss • Comecemos aplicando esses resultados ao caso mais simples possível: Calcular o fluxo de uma carga puntiforme através de uma casca esférica centrada na carga. • Nesta situação, o módulo de ܧ é o mesmo em qualquer ponto da superfície ܧ ൌ ଵ ସగఌబ మ e sua direção e sentidos coincidem com os da normal no ponto orientado para fora. Desta forma temos: Φ ൌ නܧ ∙ ݀ Ԧܽ ൌ නܧ ݀ܽ ൌ ܧන݀ܽ ൌ ܧܣ Φ ൌ 1 4ߨߝ ݍ ݎଶ 4ߨݎଶ ൌ ݍ ߝ • Observe que o fluxo não depende do tamanho da esfera. • Considere agora uma segunda superfície não esférica envolvendo a primeira. • O fluxo total através desta superfície é o mesmo que através da esfera!!! • Uma forma de confirmar a afirmação acima é via linhas de campo: se desenharmos as linhas de campo que atravessam a esfera, perceberemos que elas também deverão atravessar a superfície externa. • Vamos provar a afirmativa anterior. O fluxo através do elemento de área ∆ Ԧܵ da superfície externa é dado por ΔΦ ൌ ܧ ∙ ∆ Ԧܵ ൌ ܧ∆ܵܿݏߠ ൌ ݍ 4ߨߝ ∆ܵܿݏߠ ܴଶ • A expressão ∆Ω ൌ ∆ௌ௦ఏ ோమ é chamada de elemento de ângulo sólido e é uma extensão do conceito de ângulo plano. • Vamos agora analisar detalhadamente este novo conceito. 11/12/2012 2 • No plano, um ângulo Δ߶ (em radianos) subtendido por um elemento de arco orientado Δ݈ em relação a um ponto ܱ , situado à distância ݎ de Δ݈ é o mesmo que aquele associado ao arco de círculo Δݏ com centro em ܱ, de raio ݎ, compreendido entre as mesmas direções, i. e.: • Δ߶ ൌ ௦ ൌ ௦ఏ Que pode ser positivo ou negativo, conforme a orientação do arco. • Δ߶ é o arco de um círculo de raio unitário. • No espaço, analogamente, um ângulo sólido ΔΩ (em esterradianos ou esferorradianos) subtendido por um elemento de superfície orientado Δܵ, com normal ො݊ , em relação a um ponto ܱ, situado à distância ݎ de Δܵ, é o mesmo que aquele para ΔΣ, área correspondente da esfera de raio ݎ compreendida dentro do mesmo cone de direções: ΔΣ ൌ Δܵܿݏߠ • Os elementos de área ΔΣ e Δܵ crescem com ݎଶ. • Definimos assim: • ΔΩ ൌ ஊ మ ൌ ௌ௦ఏ మ • O sinal pode ser positivo ou negativo conforme ߠ seja agudo ou obtuso. • ΔΩ é a área de uma esfera unitária compreendida dentro do mesmo cone. • Seja S uma superfície fechada, orientada em cada ponto (segundo a normal externa ො݊). • Temos que se ܱ é um ponto interno a ܵ e ∮ௌ representa a integral sobre a superfície ܵ fechada, Ω ൌ ර ݀Ω ௌ ൌ ර ݀Σ ܴଶௌ ൌ න න ܴଶݏ݁݊ߠ݀ߠ݀߮ ܴଶ గ ଶగ ൌ 4ߨ • Para um ponto ܱ externo a ܵ Ω ൌ ර ݀Ω ௌ ൌ 0 pois neste caso há duas intersecções e elementos correspondentes dela dão contribuições com o mesmo módulo e sinais contrários ( ො݊ᇱ ൌ െ ො݊). • Estes resultados sobre pontos internos e externos continuam valendo quando há mais de duas intersecções. Contribuições adicionais em número par se cancelam. Retornando à Lei de Gauss • De posse desse novo conhecimento, podemos reescrever o fluxo como ݀Φ ൌ ݍ 4ߨߝ ݀ܵܿݏߠ ܴଶ ൌ ݍ 4ߨߝ ݀Ω Φ ൌ ݍ 4ߨߝ ර ݀Ω ௌ ൌ ቊ ݍ ߝൗ se ݍ está dentro de ܵ 0 se ݍ está fora de ܵ • Os resultados acima são válidos para o fluxo de uma carga ݍ puntiforme. • Como qualquer distribuição de cargas pode ser decomposta em elementos de cargas assimiláveis à cargas puntiformes, pelo princípio da superposição, o campo resultante é a soma dos campos de todos esses elementos. Temos então a lei de Gauss: Φ ൌ ර ܧ ∙ ݀ Ԧܵ ௌ ൌ ݍ௧ ߝ • Na expressão acima ݀ Ԧܵ ൌ ො݊݀ܵ é o elemento de superfície orientado associado à normal externa ො݊ à superfície fechada ܵ, e ݍ௧ é a carga total contida dentro do volume ܸ interno à superfície ܵ. • Veremos mais à frente que a lei de Gauss é equivalente à lei de Coulomb. • A lei de Gauss aumenta nossos conhecimentos de duas maneiras: • Primeiro, ela revela uma conexão entre os campos e suas fontes, a qual é inversa à lei de Coulomb. A lei de Coulomb nos permite calcular o campo elétrico, dadas as cargas. Já a lei de Gauss nos permite calcular a carga existente numa região, dado o campo. • Segundo, a relação matemática aqui demonstrada é uma ferramenta analítica poderosa e, como veremos, pode simplificar problemas complicados. 11/12/2012 3 Karl Friedrich Gauss (1777–1855) Aplicações da Lei de Gauss • Campo de uma distribuição esférica de cargas. Campo de uma distribuição esférica de cargas • Nós podemos utilizar a lei de Gauss para obter o campo elétrico gerado por uma distribuição esfericamente simétrica de cargas, isto é, uma distribuição na qual a densidade ߩ de carga depende somente do raio a partir de um ponto central. • Imagine uma distribuição de cargas que tenha uma densidade ߩ no centro e zero sobre a superfície da esfera, ݎ. • Se nós desejarmos utilizar a lei de Coulomb para calcular o campo no ponto ଵܲ , nós teremos que realizar uma integração na qual os vetores campo elétrico gerados no ponto ଵܲ por cada elemento de carga serão somados. • Utilizaremos uma abordagem diferente, a qual faz uso da lei de Gauss e da simetria. • Devido à simetria esférica, o campo elétrico em cada ponto deve ser radial. Pelo mesmo argumento, o módulo do campo elétrico, ܧଵ, deve ser o mesmo em qualquer ponto sobre uma superfície esférica ଵܵ de raio ݎଵ. • O fluxo através da superfície ଵܵ (que chamaremos de superfície gaussiana) é então 4ߨݎଶܧଵ. Pela lei de Gauss ele deve ser igual à carga dentro da superfície ଵܵ dividida por ߝ; 4ߨݎଶܧଵ ൌ ܳ௧௧ ߝ Assim ܧଵ ൌ ொೌ ସగఌబమ • Percebe‐se então que o campo produzido fora de uma distribuição de cargas esfericamente simétrica é igual àquele que seria produzido se toda a carga estivesse concentrada no centro da esfera. • Aplicando o mesmo raciocínio para determinar o campo elétrico em qualquer ponto sobre uma esfera ܵଶ observamos que o campo é o mesmo que seria produzido se toda carga englobada por ܵଶ estivesse no centro e a carga externa estivesse ausente. • Desta forma, o campo no interior de uma esfera oca é zero! • Se a densidade variar linearmente com a distância ao centro, ߩ ݎ ൌ ൜ ߩ െ ܣ ݎ, 0 ݎ ݎ 0, ݎ ݎ onde ܣ ൌ ఘబ బ . O campo elétrico será dado por: ܧ ݎ ൌ ߩ ߝ ݎ 3 െ ݎଶ 4ݎ , 0 ݎ ݎ ߩݎଷ 12ߝ1 ݎଶ , ݎ ݎ • Se a densidade for constante, ܣ ൌ 0, então ߩ ݎ ൌ ൜ ߩ, 0 ݎ ݎ 0, ݎ ݎ O campo elétrico será dado por: ܧ ݎ ൌ ߩ 3ߝ ݎ , 0 ݎ ݎ ߩݎଷ 3ߝ 1 ݎଶ , ݎ ݎ 11/12/2012 4 Aplicações da Lei de Gauss • Campo de uma distribuição esférica de cargas. • Campo de um fio carregado infinito. Campo de um fio carregado infinito • Tomaremos como superfície gaussiana um cilindro de raio ݎ e comprimento ݄ coaxial com o fio. • Dada a simetria, temos também que ܧ e ݀ܣԦ são perpendiculares em qualquer ponto da base ou do topo do cilindro e paralelos no corpo do cilindro. Assim, ර ܧ ∙ ݀ܣԦ ௌ ൌ න ܧ ∙ ݀ܣԦ ௌమ ൌ න ܧ ݀ܣ ௌమ ൌ ܧන ݀ܣ ௌమ ൌ ܧ 2ߨݎ݄ Logo, pela lei de Gauss, ܧ 2ߨݎ݄ ൌ ݍ ߝ ൌ ߣ݄ ߝ ⇒ ܧ ൌ ߣ 2ߨߝ 1 ݎ Aplicações da Lei de Gauss • Campo de uma distribuição esférica de cargas. • Campo de um fio carregado infinito. • Campo de uma distribuição plana infinita de cargas. Campo de uma distribuição plana infinita de cargas Campo de uma distribuição plana infinita de cargas • Tomaremos como superfície gaussiana um cilindro reto de área ܣ e um pequeno comprimento ݄. • Pela simetria do problema, temos que o campo elétrico é perpendicular ao plano carregado, assim ර ܧ ∙ ݀ܣԦ ௌ ൌ න ܧ ∙ ݀ܣԦ ௌభ න ܧ ∙ ݀ܣԦ ௌయ ൌ 2න ܧ ݀ܣ ௌభ ൌ 2ܧන ݀ܣ ௌభ ൌ 2ܧܣ Pela lei de Gauss temos, 2ܧܣ ൌ ݍ ߝ ൌ ߪܣ ߝ ܧ ൌ ߪ 2ߝ 11/12/2012 5 Aplicações da Lei de Gauss • Campo de uma distribuição esférica de cargas. • Campo de um fio carregado infinito. • Campo de uma distribuição plana infinita de cargas. • Campo elétrico na superfície de um condutor. • Sabemos que uma carga pode deslocar‐se livremente no interior de um meio condutor. Logo, numa situação de equilíbrio eletrostático, não pode haver cargas (ߩ ൌ 0 ) nem campo elétrico (ܧ ≡ 0) dentro de um condutor, pois senão as cargas se deslocariam sob a ação do campo, rompendo o equilíbrio estático. • A relaxação para o equilíbrio de uma distribuição de cargas inicialmente colocada dentro de um meio condutor e um processo extremamente rápido. Campo elétrico na superfície de um condutor • Por outro lado, sabemos que é possível transportar carga para um condutor isolado. Onde esta carga irá localizar‐se? • Só pode estar na superfície do condutor! • Se tomarmos uma superfície gaussiana no interior do condutor, veremos que a lei de Gauss fornece: ර ܧ ௌ ௧ ∙ ݀ܣԦ ൌ 0 ൌ ݍ ߝ Logo, ݍ ൌ 0 no interior de um condutor em equilíbrio eletrostático. • Tem‐se então que, na descrição macroscópica, aparece na superfície de um condutor carregado uma densidade superficial de cargo ߪ ് 0 . Microscopicamente, essa carga reside em uma camada de transição, formada por algumas camadas atômicas na superfície. • Exatamente na superfície, temos então ܧ ് 0, mas este campo ܧ não poderia ter uma componente tangencial à superfície, pois ela produziria um deslocamento de cargas sobre a superfície (corrente superficial). Logo, a componente tangencial do campo elétrico, ܧ௧, tem que anular‐se na superfície do condutor. • Isso quer dizer que as linhas de força têm que ser normais à superfície do condutor. • Consideremos uma superfície gaussiana em forma de caixa cilíndrica, com a tampa ܣ na superfície de um condutor e a base dentro dele. • Sobre ܣ, ܧ tem a direção da normal externa ො݊. Na base e na superfície lateral, que estão dentro do material condutor, ܧ ൌ 0. Logo, o fluxo total de ܧ sobre a superfície gaussiana é ܧ ∙ ො݊ܣ ൌ ܧܣ ൌ ݍ ߝ ൌ ߪܣ ߝ ܧ ൌ ߪ ߝ ො݊ • No século XIX, Faraday realizou o seguinte experimento para confirmar a lei de Gauss. Gerador eletrostático de Van de Graaff 11/12/2012 6 Divergência de um vetor e equação de Poisson • A divergência de um campo vetorial é definida como sendo a razão entre a integral de superfície e o volume envolvido por essa superfície, no limite em que este volume tende a zero: ݀݅ݒܣԦ ൌ lim → 1 ܸ ර ܣԦ ∙ ݀ Ԧܵ ௌ • Em coordenadas cartesianas o divergente de um campo vetorial tem a forma: ݀݅ݒܣԦ ൌ ߲ܣ௫ ߲ݔ ߲ܣ௬ ߲ݕ ߲ܣ௭ ߲ݖ • Em coordenadas cilíndricas ele toma a forma: ݀݅ݒܣԦ ൌ 1 ߩ ߲ ߩܣఘ ߲ߩ 1 ߩ ߲ܣఝ ߲߮ ߲ܣ௭ ߲ݖ • E em coordenadas esféricas: ݀݅ݒܣԦ ൌ 1 ݎଶ ߲ ݎଶܣ ߲ݎ 1 ݎݏ݁݊ߠ ߲ ݏ݁݊ߠܣఏ ߲ߠ 1 ݎݏ݁݊ߠ ߲ ܣఝ ߲߮ A demonstração dessas equações encontra‐se no material anexo. • Se, no cálculo do fluxo de algum campo vetorial ܣԦ , subdividirmos a superfície ܵ em várias superfícies fechadas ܵ e tomarmos o limite em que o volume envolvido por cada uma dessas superfícies tenda a zero, teremos: ර ܣԦ ∙ ݀ Ԧܵ ௌ ൌර ܣԦ ∙ ݀ Ԧܵ ௌ ൌ lim ∆→ 1 ∆ ܸ ර ܣԦ ∙ ݀ Ԧܵ ௌ ∆ ܸ ൌ න ݀݅ݒܣԦ ܸ݀ ර ܣԦ ∙ ݀ Ԧܵ ௌ ൌ න ݀݅ݒܣԦ ܸ݀ • Esse resultado é conhecido como teorema da divergência, ou teorema de Gauss. • Aplicando o teorema da divergência na lei de Gauss, temos ර ܧ ∙ ݀ Ԧܵ ௌ ൌ ݍ௧ ߝ න ݀݅ݒܧ ܸ݀ ൌ 1 ߝ න ߩܸ݀ • Onde ߩ é a densidade volumétrica de carga distribuída pelo volume envolvido pela superfície ܵ. න ݀݅ݒܧ െ ߩ ߝ ܸ݀ ൌ 0 • Como o volume ܸ ് 0, então a igualdade acima será válida se ݀݅ݒܧ ൌ ߩ ߝ • A equação acima é a forma diferencial (ou local) da lei de Gauss, conhecida também como equação de Poisson. • Enquanto a lei de Gauss funciona como um indicador global da presença de cargas elétricas no volume interno a ܵ , a equação Poisson permite exprimir o estado do campo ܧ num dado ponto ܲ em termos de seu comportamento na vizinhança imediata de ܲ. • Desta forma temos que a equação de Poisson mostra‐se uma ferramenta poderosa, pois sinaliza a presença de fontes de campo num dado ponto ܲ. ݀݅ݒܧ ൌ ߩ ߝ • Tem‐se então que se ݀݅ݒܧ 0 em um dado ponto ܲ, então em ܲ temos uma carga positiva (fonte de linhas de campo). • Se ݀݅ݒܧ ൏ 0 em um dado ponto ܲ, então em ܲ temos uma carga negativa (sorvedouro de linhas de campo). ݀݅ݒܧ ൌ ߩ ߝ • Se ݀݅ݒܧ ൌ 0 em um dado ponto ܲ, então em ܲ não há cargas.
Compartilhar