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Aula 3 Profª Drª Simone F. Souza Cálculo do campo elétrico através da Lei de Gauss OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Ao participar dessa aula, você aprenderá: • O que significa fluxo elétrico e como calculá-lo; • Como a lei de Gauss relaciona o fluxo elétrico através de uma superfície fechada à carga englobada pela superfície. • Como usar a lei de Gauss para calcular o campo elétrico produzido por uma distribuição simétrica de carga. Um dos objetivos da física é descobrir formas simples de resolver problemas complexos. Um dos instrumentos usados para conseguir esse objetivo é a simetria. Introdução Para resolver esse problema consideramos os campos dE criados por elementos de cargas do anel. Em seguida simplificamos os cálculos usando a simetria para descartar as componentes perpendiculares. Para certas distribuições simétricas de cargas, podemos poupar muito mais trabalho usando uma lei conhecida como lei de Gauss. O físico e matemático alemão Carl Friedrich Gauss (1777-1855) formulou essa lei em 1835. Em vez de considerar os campos dE criados pelos elementos de carga de uma dada distribuição de caras, a lei Gauss considera uma superfície fechada imaginária que envolve a distribuição de cargas. Essa superfície gaussiana pode ter qualquer forma, mas ela é escolhida de acordo com a simetria do problema. Precisamos calcular a quantidade de campo elétrico que é interceptada pela superfície gaussiana. A medida da quantidade de campo elétrico interceptada é conhecida como fluxo. Fluxo Suponha que uma espira quadrada de área A seja exposta a um vento uniforme cuja velocidade é 𝑣 : A vazão volumétrica do ar através da espira é dada por: A vazão depende do ângulo entre 𝑣 e o plano da espira. Se 𝑣 é perpendicular ao plano da espira: Se 𝑣 é paralelo ao plano da espira, o ara não passa pela espira : Para um ângulo intermediário θ: A vazão através de uma área é um exemplo de fluxo. Vamos escrever a equação anterior em forma vetorial. • Definimos o vetor área 𝐴 como um vetor cujo módulo é igual a área (no caso, a área da espira) e cuja direção é perpendicular ao plano da área. • Podemos então escrever a equação anterior como o produto escalar do vento pelo vetor área da espira: Ângulo entre os vetores 𝐴 e 𝑣 . • A palavra “fluxo” vem do latim e pode ser definida como o “ato ou modo de fluir”. • Podemos interpretar a equação anterior como o fluxo do campo de velocidades através da espira. • Nessa interpretação o fluxo não significa a passagem de algo por uma área mas o produto de uma área pelo campo que existe no interior dessa área. Fluxo de um campo elétrico A figura mostra uma superfície gaussiana arbitrária (assimétrica) imersa em um campo elétrico não-uniforme. Vamos dividir a superfície em pequenos quadrados de área ∆A. Podemos representar os elementos de área por um vetor 𝜟𝑨 cujo módulo é a área ∆A e a direção é normal e apontando para fora da superfície. Como os quadrados são arbitrariamente pequenos, o campo elétrico 𝐸 pode ser considerado constante no interior de cada quadrado. Fluxo de um campo elétrico Uma definição provisória do fluxo do campo elétrico para a superfície da figura é a seguinte: Devemos examinar cada quadrado, calcular o produto escalar e somar algebricamente. Podemos ter fluxos positivos, negativos ou nulos. A definição exata do fluxo de campo elétrico através de uma superfície fechada é obtida fazendo a área dos quadrados tender a zero, tornando-se uma área infinitesimal dA. O somatório se torna uma integral. Fluxo de um campo elétrico O círculo no sinal de integração significa que a integração deve ser realizada para uma superfície fechada. Lembre-se que o módulo de E é proporcional ao número de linhas de campo por unidade de área. Assim o produto escalar é proporcional ao número de linhas do campo elétrico que passam pela área 𝑑𝐴 . Exemplo 1 – fluxo de um campo uniforme através de uma superfície cilíndrica Exemplo 2 – fluxo de um campo elétrico não uniforme através de um cubo O fluxo através da face direita do cubo é dada por: Como a face direita é perpendicular ao eixo x, todos os pontos da face têm o mesmo valor de x (x = 3,0 m) e, portanto, já que as coordenadas y e z não estão envolvidas na integração, temos: Lei de Gauss – Derivação quantitativa A lei de Gauss é uma alternativa à lei de Coulomb. Embora seja completamente equivalente à lei de Coulomb a lei de Gauss fornece uma forma diferente de expressar a relação entre carga elétrica e campo elétrico. A lei de Gauss afirma que o fluxo elétrico total através de qualquer superfície fechada é proporcional à carga elétrica total (líquida) existente no interior da superfície. Vamos iniciar com o campo elétrico de uma única carga puntiforme positiva q, onde as linhas de campo se irradiam para fora da carga igualmente em todas as direções. Colocamos essa carga no centro de uma superfície esférica imaginária de raio r. O módulo do campo elétrico E em qualquer ponto sobre a superfície é dado por: O vetor campo elétrico é perpendicular a cada ponto da superfície. Dessa forma, o fluxo elétrico é dado por: O fluxo é independente do raio da esfera! Carga puntiforme no interior de uma superfície não esférica. Essa técnica de projeção mostra como generalizar a discussão para superfícies com formas não-esféricas. O fluxo sobre o elemento da superfície esférica é igual ao fluxo elétrico sobre o elemento correspondente da superfície irregular. Podemos dividir a superfície irregular inteira em elementos dA, calcular o fluxo elétrico para cada elemento e somar os resultados fazendo a integral: Cada um dos elementos da área se projeta sobre um elemento correspondente da superfície esférica. Logo, o fluxo elétrico total através da superfície irregular, deve ser igual ao fluxo elétrico total sobre a superfície esférica: Essa equação vale para qualquer forma e tamanho da superfície, desde que esta seja fechada e contenha a carga q em seu interior. Se no interior de uma superfície não existe nenhuma carga, A relação anterior é uma afirmação matemática de que, quando em uma região não existe nenhuma carga, qualquer linha de campo produzida por uma carga puntiforme no exterior dessa região, que entre na superfície em um dado ponto, deve sair da superfície em outro ponto. Forma geral a lei de Gauss Suponha que no interior de uma superfície exista não apenas uma, mas diversas cargas. O campo elétrico total em qualquer ponto será a soma vetorial do campo elétrico oriundo de cada carga. Dessa forma: Lei de Gauss: o fluxo elétrico total através de qualquer superfície fechada é proporcional à carga elétrica total (líquida) existente no interior da superfície. Carga total envolvida pela gaussiana Determine o fluxo elétrico através das superfícies fechadas! Devido a definição da lei de Gauss, Podemos pensar em calcular as integrais, mas não será preciso! Exemplo 3 – relação entre carga total e fluxo total Um condutor carregado A lei de Gauss permite demostrar um teorema importante a respeito dos condutores: Se uma carga em excesso é introduzida em um condutor sólido em equilíbrio eletrostático, a carga se concentra na superfície do condutor; o interior do condutor continua ser neutro. Sabemos que quando existe equilíbrio eletrostático(no qual todas as cargas estão em repouso) o campo elétrico é igual a zero em qualquer ponto no interior do condutor. Caso E fosse diferente de zero, as cargas estariam em movimento. Desenhando a gaussiana no interior do condutor... Uma vez que sobre a superfície gaussiana A lei de Gauss exige que a carga total no interior da superfície seja igual a zero. Suponha que você faça o volume delimitado por essa superfície tender a zero, de modo que a superfície se reduza a um ponto P; então a carga nesse ponto deve ser igual a zero Podemos repetir esse raciocínio para todos os pontos do condutor. . Disso se conclui que não pode existir nenhum excesso de carga no interior de um condutor sólido em equilíbrio; qualquer excesso de carga deve ficar localizado sobre a superfície do condutor. Aplicando a lei de Gauss: simetria cilíndrica A figura mostra uma parte de uma barra de plástico cilíndrica de comprimento infinito com uma densidade linear uniforme de cargas positivas λ. Vamos obter uma expressão para o módulo do campo elétrico a uma distância r do eixo da barra. Para facilitar os cálculos, a superfície gaussiana escolhida deve ter a mesma simetria do problema, que no caso é cilíndrica. Escolhemos um cilindro circular de raio r e altura h, coaxial com a barra. Como a superfície gaussiana deve ser fechada, incluímos duas bases como parte da superfície. Imagine agora que, enquanto você não está olhando, alguém faça o seguinte: gire a barra de plástico de um ângulo qualquer em torno do eixo Mova por qualquer distância ao longo do eixo. imprima à barra uma rotação de 180º em torno do centro. Nos três casos, você não notaria nenhuma mudança! O campo elétrico não pode ter nenhuma componente paralela ao fio ou nenhuma componente tangente a um círculo perpendicular ao fio com centro sobre o fio. Caso tivesse, precisaríamos explicar a possibilidade da existência simultânea de dois sentidos do campo elétrico (paralelo e em torno da circunferência). Resta somente a hipótese de uma componente que aponte radialmente para fora do dia em cada ponto. Assim, em todos os pontos da parte lateral da superfície gaussiana o campo elétrico deve ter o mesmo módulo. O campo E é o mesmo em todos os pontos da superfície lateral. A área da superfície lateral é dada por: Pela lei de Gauss: O sentido de E é para longe da barra (carga positiva) Dessa forma: Fornecendo: Através da densidade linear de carga teremos: Levando a: Aplicando a lei de Gauss: simetria planar A figura mostra uma parte de uma placa fina, infinita, não condutora, com uma densidade superficial de cargas positivas σ. Vamos calcular o campo elétrico a uma distância r da placa. Simetria planar significa que a distribuição de cargas não se distingue da original quando deslocamos o plano em qualquer direção paralela ao plano. Podemos concluir que 𝑬 dever ser perpendicular ao plano. Pela simetria, também concluímos que o módulo do campo deve sempre possuir o mesmo valor sobre pontos situados a uma mesma distância do plano. Utilizaremos uma superfície gaussiana cilíndrica, com um eixo perpendicular ao plano de cargas, cujas bases possuam área A. Vamos posicionar a superfície cilíndrica tal que suas extremidades estejam equidistantes do plano (plano no centro do cilindro). Como as linhas de campo são paralelas à superfície lateral do cilindro, teremos: Pela lei de Gauss: Dessa forma: A carga envolvida pela superfície gaussiana é dada em termos da distribuição superficial de carga: Logo: Nós obtivemos esse resultado quando calculamos o disco carregado e tomamos o limite de R∞. O processo foi muito mais trabalhoso do que usando a lei de Gauss. Esse resultado é válido para qualquer ponto que se encontre a uma distância finita da placa. Aplicando a lei de Gauss: simetria esférica Vamos agora utilizar a lei de Gauss para demostrar os dois teoremas importantes, conhecidos como teorema das cascas: Uma casca uniforme de cargas atrai ou repele uma partícula carregada situada do lado de fora da casca como se toda a carga da casca estivesse situada no centro. Se uma partícula carregada está situada no interior de uma casca uniforme de cargas a casca não exerce nenhuma força eletrostática sobre a partícula. A figura mostra uma casca esférica carregada de carga total q e raio R e duas superfícies gaussianas 𝑆1 e 𝑆2. Aplicando a lei de Gauss para a superfície gaussiana 𝑺𝟐. Teremos: Pela simetria do problema sabemos que o campo elétrico é perpendicular à superfície, orientado para fora (se a carga q for positiva) e que todos os pontos sobre a superfície possuem o mesmo módulo. . Neste caso: Dessa forma... Este campo é igual ao que seria criado por uma carga pontual q localizada no centro da casca. Assim, a força produzida por uma casca de carga q sobre uma partícula carregada localizada do lado de fora da casca é igual à força produzida por uma partícula pontual de carga q situada no centro da casca. Uma casca uniforme de cargas atrai ou repele uma partícula carregada situada do lado de fora da casca como se toda a carga da casca estivesse situada no centro. Fica assim demostrado o primeiro teorema. Aplicando a lei de Gauss para a superfície 1, para a qual r< R, teremos: Visto que a gaussiana não envolve nenhuma carga. Fica assim demostrado o segundo teorema. Dessa forma: Assim, se existe uma partícula carregada no interior da casca, a casca não exerce nenhuma força sobre a parícula. Se uma partícula carregada está situada no interior de uma casca uniforme de cargas a casca não exerce nenhuma força eletrostática sobre a partícula.
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