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1 EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PR. RUTE MOREIRA SÁ, brasileira, casada, comerciante, portadora da Carteira de Identidade sob nº XXXXXX SSP/PR, inscrita no CPF/MF sob nº XXXXXX, portadora da Carteira Nacional de Habilitação registro nº XXXXXX, residente e domiciliada na Rua da Aurora Boreal, 443, Jardim Copacabana, nesta Cidade de Foz do Iguaçu – PR, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, em causa própria, pelos fatos e fundamentos jurídicos adiante expostos, ajuizar ANULATÓRIA DE AUTO DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO Em face do DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO DO ESTADO DO PARANÁ – DETRAN/PR, pessoa jurídica de direito público interno, estabelecida na Avenida Victor Ferreira do Amaral, 2940, Bairro Capão da Imbuia, na Cidade e Comarca de Curitiba-PR e INSTITUTO DE TRANSPORTES E TRÂNSITO DE FOZ DO IGUAÇU – FOZTRANS, pessoa jurídica de direito público interno, estabelecida na Rua Quintino Bocaiúva, 595, Centro, nesta Cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-PR. 2 I – DOS FATOS A autora é proprietária do veículo I/Honda CR- V LX, MIS/Camioneta, à gasolina, placas XXX-0000, cor prata, ano/modelo 2007, chassi XXXXXXXXX, código do RENAVAM XXXXXXX, consoante inclusa documentação. Segundo denota-se pelo Auto de Infração nº XXXXXXX (cópia anexa), lavrado pela segunda ré, a autora teria infringido, supostamente, a disposição constante do artigo 252, inciso VI, do Código de Trânsito Brasileiro, relacionado ao fato de conduzir veículo utilizando-se de aparelho celular, quando transitava pela Avenida das Bandeiras, próximo ao nº 710, Foz do Iguaçu – PR, no dia 27 de abril de 2010, às 15h00min. Diante disto, foi-lhe imposta a pena de multa no valor de R$ 85,13 (oitenta e cinco reais e treze centavos), com pontuação de 4 pontos na Carteira Nacional de Habilitação. Apresentada defesa prévia ao FOZTRANS (02 de junho de 2010), a mesma foi indeferida, tendo em vista a consistência do auto de infração (doc. anexo), interposto recurso à JARI (07 de outubro de 2010), o mesmo igualmente foi indeferido, novamente pela consistência do auto de infração (doc. anexo). Então, em 06 de dezembro de 2010, apresentou-se recurso ao CETRAN, o qual foi julgado improvido, mantendo-se a penalidade imposta, com todos os seus efeitos, consoante verifica-se pelo documento anexo. Assim, esgotadas todas as vias administrativas, vê-se a autora compelida ao ajuizamento do presente para resguardar o seu direito. II – DO DIREITO 3 a) DA NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA DE VÍCIOS DE FORMA: Primeiramente, há que destacar que o artigo 280 do Código de Trânsito Nacional estabeleceu os requisitos de preenchimento obrigatório no auto de infração, senão vejamos: “Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, lavrar-se-á auto de infração, do qual constará: I – tipificação da infração; II – local, data e hora do cometimento da infração; III – caracteres da placa de identificação do veículo, sua marca e espécie, e outros elementos julgados necessários à sua identificação; IV – o prontuário do condutor, sempre que possível; V – identificação do órgão ou entidade e da autoridade ou agente autuador ou equipamento que comprovar a infração; VI – assinatura do infrator, sempre que possível, valendo esta como notificação do cometimento da infração.” No pertinente ao contido no inciso V do artigo 280 da legislação de trânsito, o Departamento Nacional de Trânsito – DENATRAN, órgão máximo do Sistema Nacional de Trânsito, regulamentou na portaria nº 59/2007, em seu Anexo I, Bloco 6, dentre outros requisitos obrigatórios do auto de infração de trânsito: “Bloco 6 – Identificação da autoridade ou agente autuado 4 Campo 1 – Número de identificação – campo para identificar a autoridade ou agente autuador (registro, matricula, outros). Campo obrigatório. Campo 2 – Assinatura da autoridade ou agente autuador Campo facultativo para infrações registradas por sistemas automáticos metrológicos e não metrológicos.” Da análise do auto de infração atacado, percebe-se claramente a inexistência da necessária identificação do suposto agente da autoridade de trânsito. O que se vê, é apenas um número e uma rubrica. Não consta, como deveria, à luz da legislação vigente, a identificação, ou seja, o nome, a matrícula, a lotação e a assinatura. Certo é, que o legislador ao obrigar a identificação do servidor público o fez em obediência ao Princípio Constitucional da Publicidade dos Atos Administrativos e, sobretudo, para permitir que o autuado possa responsabilizar, se preciso, penal, civil e administrativamente o servidor público que incorre em atitude que contraria os preceitos legais. Se não fosse assim, qualquer um poderia se aventurar distribuindo multas, o que é vedado por lei. Sequer é possível admitir que a rubrica pode substituir a assinatura, pois se assim o fosse o próprio legislador a admitiria, o que não o fez. De outro modo, verifica-se o total descabimento da referida multa, eis que a autuação veio desacompanhada de qualquer elemento probatório (foto) ou outro equivalente, que lhe desse sustentação fática, inexistindo elementos aptos a caracterizar a eventual conduta transgressora, o que contraria frontalmente o 5 disposto no artigo 280, § 2º, do Código de Trânsito Brasileiro, que estabelece: “§ 2º A infração deverá ser comprovada por declaração da autoridade ou do agente da autoridade de trânsito, por aparelho eletrônico ou por equipamento audiovisual, reações químicas ou qualquer outro meio tecnologicamente disponível, previamente regulamentado pelo CONTRAN.” Ademais, a prevalecer o constante no Auto de Infração, verifica-se outra ilegalidade, qual seja a ofensa ao Princípio Constitucional da Presunção de Inocência, previsto no artigo 5°, inciso LVII, da Constituição Federal, na medida em que, ao invés da segunda ré provar a existência da infração, o que como dito não ocorreu, a autora precisou lançar mão de recursos administrativos e agora postular perante o Poder Judiciário, para provar sua inocência, invertendo-se de consequência o ônus probatório. Neste contexto, verificada a existência de tais vícios que, por sua vez, são insanáveis, já que ferem preceitos constitucionais e infraconstitucionais elementares, indispensável à declaração da nulidade do mencionado Auto de Infração pela insubsistência do seu registro, nos moldes do que preconiza o inciso I, parágrafo único, do artigo 281 do Código de Trânsito Brasileiro. b) DA NÃO OCORRÊNCIA DA INFRAÇÃO: Inicialmente, há que se destacar que a autora é condutora ciente e consciente das suas responsabilidades, tanto que nunca recebeu qualquer multa na condução de veículos automotores, consoante verifica-se pelo documento anexo, o que também pode ser constatado pelo órgão de trânsito ao analisar o prontuário da condutora. 6 Em segundo lugar, simplesmente impossível a ocorrência do fato descrito no auto em questão, porque a autora encontrava-se viajando na Cidade de Curitiba, consoante verifica-se pelas cópias das passagens aéreas anexas. Portanto, inviável a ocorrência da suposta infração, já que não haveria como a autora praticá-la posto se encontrar em viagem. Logo, a suposta infração mencionada deve ter sido ocasionada devido à falha visual ou equívoco do agente ao anotara placa do veículo. Frise-se mais, que o guarda municipal que lavrou a multa não efetuou a abordagem direta da condutora do automotor para verificar quanto à existência da possível infração, já que se o tivesse feito constataria a sua inocorrência, inexistindo também qualquer informação no Auto de Infração neste sentido, apenas mencionando-se que não foi possível a retenção do veículo, o que é óbvio, já que as infrações discriminadas no artigo 252 do Código de Trânsito Brasileiro somente são apenadas por multa. Diante disto, resta evidente a inexistência da infração. c) DA APLICAÇÃO DO ARTIGO 267 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO NACIONAL: Mesmo que se considere a infração, o que é um absurdo diante das razões já aduzidas, há que se mencionar que a autora goza do benefício previsto no caput do artigo 267 do Código de Trânsito Nacional: “Art. 267. Poderá ser imposta a penalidade de advertência por escrito à infração de natureza leve ou média, passível de ser punida com multa, não sendo reincidente o infrator, na 7 mesma infração, nos últimos doze meses, quando a autoridade, considerando o prontuário do infrator, entender esta providência como mais educativa.” Assim, depreende-se do texto legal a possibilidade de conversão da penalidade imposta em advertência, quando presentes os seguintes requisitos: a) infração de natureza leve ou média; b) punida com multa; c) não reincidência específica nos últimos doze meses; d) ser mais educativa. Logo, como a autora enquadra-se em todos os requisitos acima mencionados, tem direito ao benefício relacionado no citado dispositivo legal. Isto porque, muito embora o artigo mencionado prescreva que a autoridade administrativa pode aplicar a penalidade de advertência, tal assertiva não dá margem de discricionariedade à Administração Pública, posto assumir uma condução imperativa (DEVERÁ), já que tal benefício configura hipótese de direito público subjetivo do infrator primário (nos últimos doze meses). Nada obstante, oportuno afirmar, que em todos os recursos administrativos apresentados pela autora, em momento algum a autoridade administrativa chegou a apreciar aludido pedido que lhe foi expressamente requerido. Então, há mais de ano (contado da interposição do primeiro recurso administrativo), a autora aguarda das autoridades administrativas a concessão do benefício do artigo 267 do Código de Trânsito Nacional que, excluídos todos os demais argumentos de defesa, tem a mesma direito. No entanto, o que a autoridade administrativa fez, reiteradamente, foi impor à autora várias pendências 8 administrativas, dados os diversos recursos que a mesma teve que impetrar para resguardar seu direito, sem que houvesse, ao menos, qualquer solução justificada à inaplicabilidade da penalidade de advertência à autora. Frise-se, inclusive, que a omissão da Administração Pública em relação a este aspecto, afronta diretamente o Princípio da Motivação das Decisões Administrativas, indispensável para se verificar se a mesma se deu em observância à lei e aos princípios de direito, bem como, para que se resguardem os administrados de decisões arbitrárias, garantindo-se o exercício da boa administração e da justiça das decisões administrativas. Consoante leciona Eugênia Giovanna Simões Cavalcanti (em A Análise da Obrigatoriedade de Motivação dos Atos Administrativos face à Constituição de 1988, Revista Eletrônica de Direito do Estado, número 15, julho/agosto/setembro de 2008, Salvador-Bahia, ISSN 1981-187X): “Nas relações Administração – administrado, deve haver uma substituição do silêncio pelo diálogo, da opacidade pela transparência e da Administração de comando para a Administração concertada, de acordo com os direitos dos administrados. Aí sim, teremos uma Administração para todos e consequentemente democrática”. Sob este viés, a Administração deve sempre explicar ao cidadão porque impõe-lhe um ato, sendo esta explicação convincente, o que não aconteceu em momento algum, já que o Poder Público, nos vários recursos administrativos impetrados, não apresentou motivação plausível para, afastados os argumentos de defesa, não aplicar à autora os benefícios do artigo 267 do Código de Trânsito Brasileiro. 9 Assim, evidenciada está à atuação ineficiente e desrespeitosa do Poder Público, que ao invés de prontamente solucionar e reconhecer os direitos dos seus administrados, demora e deixa de reconhecer o que lhes é devido. De outro lado, compulsando os artigos 258 e 259 do Código de Trânsito Brasileiro, verifica-se que as infrações punidas com multa são classificadas em quatro categorias, quais sejam leve, média, grave e gravíssima e estas, por sua vez, é que são pontuadas em três, quatro, cinco e sete pontos respectivamente. Portanto, uma vez leve ou média a infração de trânsito e sendo esta convertida em advertência, nos moldes já relacionados no artigo 267 do Código de Trânsito Brasileiro, deve ser excluída também a pontuação correspondente, como conseqüência lógica do nosso sistema, já que a penalidade de advertência não implica na imposição de pontuação. Ante ao exposto, na eventual hipótese de entendimento no sentido de ocorrente a infração de trânsito, tem a autora expressamente assegurados os benefícios do caput do artigo 267 do Código de Trânsito Nacional que, como afirmado, sequer foram analisados pela autoridade administrativa quando apreciou os recursos impetrados pela mesma, os quais, em conseqüência, implicam no não pagamento da multa fixada e na não atribuição de pontuação na sua Carteira Nacional de Habilitação. III – DO PEDIDO: Ante ao exposto, requer a Vossa Excelência seja decretada a nulidade do auto de infração nº XXXXXXX, pela existência de vícios formais que o maculam, e pela inexistência da infração ou, em caso de admissibilidade do auto de infração, seja aplicado à autora o benefício constante no artigo 267 do Código de Trânsito Nacional, 10 convertendo-se a multa imposta em advertência e não atribuída pontuação na sua Carteira Nacional de Habilitação. IV – DO REQUERIMENTO FINAL: Requer-se, ainda, a citação dos réus para, querendo, no prazo legal, apresentarem defesa aos termos do presente. Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial, pela juntada de documentos e demais provas que se fizerem necessárias ao deslinde do presente feito. Dá-se à causa o valor de R$ 85,13 (oitenta e cinco reais e treze centavos). Nestes termos Pede deferimento Foz do Iguaçu, 20 de setembro de 2011. _________________________________ ADVOGADO - OAB/PR-XXXX
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