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A CRIAÇÃO ARTÍSTICA EM SCHELLING E HEGEL: A ATUAÇÃO DO GÊNIO PARA A CRIAÇÃO DA ARTE BELA Autor(es): GARCIA, Naillê de Moraes; ARALDI, Clademir Luís Apresentador: Naillê de Moraes Garcia Orientador: Clademir Luís Araldi Revisor 1: Manoel Vasconcellos Revisor 2: João Hobuss Instituição: ICH/UFPel A CRIAÇÃO ARTÍSTICA EM SCHELLING E HEGEL: A ATUAÇÃO DO GÊNIO PARA A CRIAÇÃO DA ARTE BELA GARCIA, Naillê de Moraes¹; ARALDI, Clademir Luís². ¹ Departamento de Filosofia – ICH/UFPel. tiny.naille@gmail.com ² Departamento de Filosofia – ICH/UFPel. clademir.araldi@gmail.com INTRODUÇÃO O presente trabalho busca uma fundamentação para as concepções de beleza na arte nos autores Schelling e Hegel, fazendo ainda um contraponto com Kant. É feita uma comparação entre o pensamento estético de cada um dos autores. Para isso, fez-se uma investigação sobre a construção da obra de arte, e também sobre o papel do gênio na criação artística. A produção estética schellingiana é originada da separação de duas atividades, consciente e inconsciente, que se separam no agir livre, mas estão unidas no produto, o qual expressa algo infinito de modo finito, e isso é a beleza na concepção de Schelling. Hegel vê a arte como uma das formas de expressão do absoluto, assim como a filosofia e a religião também o são, porém as últimas são formas superiores, pois não existe a dependência da aparência, a qual é desvalorizada pelo idealismo do autor. A importância da criação artística reside, então, na presença do espírito, conceito fundamental na filosofia hegeliana. A concepção do gênio em Kant e Schelling é fundamental para o entendimento do processo da criação artística, pois é ele que a possibilita. A criação se deve totalmente ao gênio, pois somente ao artista genial é possível a criação da arte bela. METODOLOGIA Como parte integrante do projeto de pesquisa “Arte e Modernidade: Perspectivas de superação da moral no romantismo alemão e em Nietzsche”, este trabalho foi construído através de leituras, análises, fichamentos e interpretações de textos referentes ao assunto tratado. Com apresentações e debates, feitos quinzenalmente, em forma de seminário, das principais questões, dificuldades e resultados parciais da pesquisa. Ao final, há a elaboração e discussão de textos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para o autor romântico Schelling, a criação artística começa com consciência, subjetivamente e termina sem consciência, objetivamente, ou seja, há a participação da atividade consciente e da não consciente. Isso se dá porque a atividade deve ser consciente, o que impossibilita a produção de algo objetivo, assim deve haver um momento em que não haja consciência. As atividades devem ser uma no produto, mas cada uma para o Eu, e isso só se torna possível se o Eu estiver consciente, com as atividades separadas. Assim, há um momento em que as atividades se identificam e a produção cessa, porque só existe produção quando existe oposição. Só há movimento porque há oposições. Com o fim da produção, vêm ao fim, também, as contradições, e a harmonia entre as atividades é estabelecida pelo absoluto. O sentimento que surge quando a inteligência reconhece a identidade que possui seu princípio, em si própria, no produto é o da satisfação (Befriedigung). Para Hegel, a arte não é a melhor forma de expressar o absoluto. Apesar de valorizar a aparência e a considerar essencial para a própria essência, porque é através daquela que esta pode se mostrar de alguma forma, ou seja, a verdade não pode aparecer se não houver a aparência, afirma, contudo, que a efetividade só é encontrada no que é substancial (Substantielle) da natureza e do espírito, não na sensação (Empfinden), porque só é efetivo o que é em-si-e-para-si (Anundfürsichseiende). A aparência da arte passa a ter significado no momento em que representa e aponta algo de espiritual. E, mesmo assim, em razão da relação da arte com a aparência, aquela não é a forma mais absoluta de tornar conscientes as intenções do espírito. Voltando a Schelling, podemos dizer que algo é belo quando, nele, o infinito é expresso de modo finito. A beleza é a solução da contradição infinita, assim, somente o produto artístico pode ser belo, no produto natural não há união nem superação de contradições, assim, só poderá ser belo acidentalmente. Dessa forma, a obra de arte não pode ser vista como uma mera imitação da natureza, mas sim, como a própria norma para julgar sua beleza. Na produção estética, a contradição que a impulsionou é advinda do interior do artista, do mais profundo de si, e nas outras produções, a contradição está fora de quem as produz. Essa é a diferença entre produto estético e produtos que não são estéticos. Por isso, a beleza estética é mais valorizada do que a beleza natural. Para Kant, beleza natural é o modelo da beleza artística. A natureza dá regra à arte, através da natureza do artista, o gênio, que é a força criativa e criadora. A diferença entre belo natural e belo artístico reside no fato de o primeiro ser uma “coisa bela” e o segundo ser uma “representação bela” de uma coisa. Assim, para apreciar o primeiro, é preciso gosto, e para o segundo, é preciso gênio. Na concepção kantiana de beleza, a arte só é bela quando parece ser natureza e, mesmo assim, temos consciência de que é arte. Já se podia ver a idéia da arte como um princípio unificador entre natureza e espírito. Nesse aspecto, Kant influenciou os filósofos românticos, inclusive Schelling, que partiram em busca de uma teorização para fundamentar essa idéia. Já Hegel considera impossível haver regra ou lei para o belo e para o gosto justamente pelo fato de que suas representações não variam. Para ele, a arte deve ser necessariamente bela. O autor encontra um ponto em comum entre arte, filosofia e religião quando afirma que ambas são manifestações do divino (das Göttliche). A diferença é que a arte necessita da aparência e das sensações, o que a torna inferior às outras duas, segundo Hegel. Esse pensamento o distancia ainda mais de Schelling, pois este considerava a obra de arte a mais importante exposição do espírito. Espírito e arte, em Schelling, são inseparáveis. Mas, em se tratando de juízos estéticos, como é possível haver subjetividade sem que se relativize o conceito de beleza? E sem subjetividade, poderíamos chamar de arte? Arte pressupõe um trabalho de criação, que pressupõe um sujeito criador. Uma criação subjetiva que respeita certas regras. Realmente existem tais regras? E sem regras seria possível fazer uma análise racional do belo na arte? Segundo Kant, o juízo de gosto é relativo a dois tipos de associação: empíricas (significado subjetivo) e objetivas (intervenção de um conceito). O sentimento do belo, em Kant, se baseia nas associações da imaginação, uma associação empírica subjetiva. Apesar disso, essa associação segue uma lógica, possui alguma objetividade mesmo sem conceito. Dessa forma, podemos afirmar que é possível a análise da obra de arte, pois, mesmo sendo uma criação subjetiva, há uma lógica seguida que garante alguma objetividade. Afinal, não é só pelo impulso criativo que o artista é movido em sua produção, mas também por um conjunto de conceitos e pensamentos que movem sua razão, que constroem sua memória. Kant foi quem introduziu o conceito de gênio que, em sua concepção, é um talento que produz arte bela sem regras, mas que seus produtos devem servir de regra de ajuizamento para os outros produtos. A produção não pode ser ensinada porque não possui regra específica, a natureza lhe dá a regra através do próprio gênio. Assim, o criador genial não pode ensinar a produzir a arte bela, mas a regra para isso está no próprio produto, eles são os modelos para a arte bela. Dessa forma, vemos que é o gênio que possibilitao regramento na criação artística, a sua obra, o seu criar deve ser tomado como regra ou modelo pelos outros artistas. O gênio é um dom natural, não pode ser aprendido, mas a razão do criador genial deve ser trabalhada para que, na produção, o sentimento se una à razão para criar um produto de arte bela. Ele é formado pelas faculdades do ânimo: faculdade da imaginação e faculdade do entendimento. A faculdade da imaginação usa a matéria da natureza para criar representações (idéias) que ultrapassem a mesma. Schelling segue Kant ao afirmar a existência do gênio, mas o justifica através da necessidade de resolução da contradição infinita, da qual surge a arte. O autor afirma que, para os artistas, o que prova que a solução da contradição de sua obra é devido a um dom de sua natureza, é o sentimento de harmonia infinita. Como já foi dito, o que impulsiona a criação artística é um sentimento de contradição infinita, e somente o gênio é capaz de resolver essa contradição. Para Schelling, a única produção estética é a produção genial, ou seja, a arte é necessariamente criação do gênio. Podemos identificar o espírito hegeliano na produção artística com o gênio kantiano ou schellingiano, pois é a partir dele que é gerada a arte bela, ele é o ponto de encontro entre o sensível e o conceitual, pois os une nos produtos artísticos. Em Hegel, o espírito é o princípio unificador. Gênio, em Hegel, é aquela pessoa que possui um poder, que é o poder do espírito, de produzir algo superior, que não precisa ser necessariamente artístico. Vemos diferenças entre o gênio de Hegel e o gênio de Kant e Schelling, que mais se assemelham um com o outro, por isso a alusão a uma semelhança entre o espírito na arte do primeiro e o gênio dos outros dois, pois é do espírito que nasce a criação tanto quanto do gênio, e ambos são o que proporciona a união entre real e ideal. CONCLUSÕES Foram analisadas, com esse trabalho, as concepções de belo na arte e o papel do gênio nesse processo, dentro da estética de Schelling e Hegel. A investigação sobre Kant foi fundamental para melhor entender esses dois autores e seus pensamentos sobre a criação da obra de arte. Schelling considera que somente a arte pode expressar o absoluto através da criação artística bela do gênio. Já Hegel vê a arte como necessariamente bela, a arte que não é bela não é arte, e a considera como uma das manifestações do espírito. Porém, considera a arte inferior por se manifestar de forma sensível. Assim, foi verificada a importância do papel da criação artística para os autores Schelling e Hegel, bem como das concepções de beleza e gênio, os quais são fundamentais para a produção da obra de arte. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORNHEIM, Gerd. "Uma temática hegeliana: a morte da arte". In: NUNES, B. (org.) A crise do pensamento. Belém: Ed. da UFPA, 1994. D'ANGELO, P. A estética do Romantismo. Lisboa: Editorial Estampa, 2000. FERRY, Luc. Homo Aestheticus . São Paulo: Ensaio, 1994. GUINSBURG, J. (org.) O romantismo. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1993. HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. HEGEL, G.W.F. Cursos de Estética I. 2.ed. rev. Trad. Marco Aurélio Werle. São Paulo: EDUSP, 2001. HEGEL, G.W.F. Cursos de Estética II. Trad. 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