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DIREITO PREVIDENCIÁRIO Histórico e princípios Histórico Na história da humanidade, é relativamente recente o estabelecimento em nível normativo da proteção aos direitos sociais. A preocupação estatal com a proteção social de seus cidadãos faz parte integrante, em sua acepção mais intensa, da grande evolução ocorrida no século passado, especialmente no pós-guerra (1º e 2º guerras mundiais). Com o desenvolvimento da humanidade, especialmente com o desenvolver da agropecuária (deixou de ser nômade) e a urbanização (vida em sociedade) nasceu e cresceu a preocupação em se proteger os indivíduos das contingências sociais. No percurso da história da humanidade desenvolveram-se técnicas de proteção social, sempre visando prevenir das situações de necessidade social. Nesse desenvolver ocorrido ao longo de nossa história é possível anotar os traços evolutivos significantes de cada sistema protetivo, na medida em que se avalia o grau de abrangência oferecido aos indivíduos em face dos riscos sociais – contingências sociais – mais constantes em cada momento. No desenvolvimento histórico da proteção social, nota-se o lento envolver das técnicas protetivas empregadas pela espécie humana. Desde os primórdios, seja por puro instinto ou por inteligência mais apurada, buscou a sobrevivência de sua prole. Da Grécia para Roma, surgiram associações formadas por pequenos artesões, com finalidade voltada para custos de funerais. Já na Idade Média surgiram, desenvolveram e se espalharam as associações com bons níveis de organização, de inspiração mutualista 1 já que voltados ao auxílio recíproco dos seus membros. Nesse ínterim a influência religiosa surge como fator determinante para a interferência Estatal na criação dos mecanismos de proteção social. A própria doutrina Cristã ainda se expandia, firmando seus dogmas e solidificando seus mais altos valores na consciência dos povos do ocidente. Após a consolidação da Igreja Católica, ganhou relevo a influência religiosa na conduta das pessoas naturais e do próprio Estado, vez que à época a Igreja não só acalentava as almas dos cidadãos como também influenciava de maneira decisiva as manifestações políticas. Entretanto, não se pode menosprezar o fato de que nem sempre a igreja e os feudos comungavam do mesmo alinhamento, até porque os interesses estatais estavam voltados à manutenção de bases estruturais de exploração e opressão enquanto a caridade religiosa tinha como base apenas o dever moral. Nesse descrever, segundo (Marina Vasques Duarte) o desenvolver histórico da proteção social restou caracterizado em dois momentos importantes: na Inglaterra, a famosa Lei de Amparo aos Pobres, em 1601, instituiu a Assistência Social ao criar a contribuição obrigatória para 1 A mutualidade pode ser concebida como instituição que agrupa um determinado número de pessoas com o objetivo de se prestar a ajuda mútua, em vista de eventualidade futura". (RUPRECHT, Alfredo J. Direito da Seguridade Social. Trad. Edílson A. Cunha. São Paulo: LTr, 1996. p. 29) fins sociais, consolidando outras leis sobre assistência pública; enquanto a Previdência Social, sob a inspiração de Otto Von Bismarck, foi instituída na Alemanha, em 1883, com a criação de uma série de seguros sociais, de modo a atenuar a tensão existente nas classes trabalhadoras: em 1883 foi instituído o seguro-doença, custeado por contribuições dos empregados, empregadores e do Estado, em 1884, decretou-se o seguro contra acidentes do trabalho com custeio dos empresários, e em 1889 criou-se o seguro de invalidez e velhice, custeado pelos trabalhadores, pelos empregadores e pelo Estado. Ao se tornar obrigatório, o seguro social passou a conferir direito subjetivo ao trabalhador. No Brasil, as formas de montepio foram as manifestações mais antigas de assistência. No fim do Império, algumas medidas legislativas começaram a ser tomadas para proporcionar aos empregados públicos certas formas de proteção. A Constituição de 1891 foi a primeira a conter a expressão “aposentadoria”. Determinou que a aposentadoria só poderia ser dada aos funcionários públicos em caso de invalidez no serviço da Nação (art. 75). Na verdade o benefício era realmente dado, pois não havia nenhuma fonte de contribuição para o financiamento de tal valor. No entanto, foi com a Lei Eloy Chaves (Lei n° 4.682, de 24 de janeiro de 1923) que se implantou efetivamente a Previdência Social, com a criação de Caixas de Aposentadoria e Pensões junto a cada empresa ferroviária, tornando seus empregados segurados obrigatórios. Para por tempo de serviço e por idade avançada, por invalidez após dez anos de serviço eles eram previstos os seguintes benefícios: assistência médica, aposentadoria e pensão aos seus dependentes. Em 29-6-1933, por intermédio do Decreto n° 22.872, foi criado o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Marítimos (IAPM), que foi seguido por outros institutos de aposentadorias e pensões, sempre estruturados por categorias profissionais e não mais por empresas. Em 1960, um projeto de lei apresentado em 1947 foi convertido na Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS (Lei n° 3.087/60), que não chegou a unificar os organismos existentes, mas criou normas uniformes para o amparo a segurados e dependentes dos vários Institutos existentes. O Decreto-lei n° 72, de 21-11-1966, unificou os institutos de aposentadorias e pensões, centralizando a organização previdenciária no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que foi realmente implantado em 2-1-1967. Em 1976 foi expedida uma nova Consolidação das Leis da Previdência Social, por meio do Decreto n° 77.077/76. A Lei n° 6.439, de 1°-7-1977, alterou o sistema organizacional, instituindo o SINPAS (Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social), que tinha como objetivo a reorganização da Previdência Social. O SINPAS destinava-se a integrar as atividades da previdência social, da assistência médica, da Assistência social e de gestão administrativa, financeira e patrimonial, entre as entidades vinculadas ao Ministério da Previdência e Assistência Social. A última CLPS (Consolidação das Leis de Previdência Social) data de 1984, reunindo o Decreto n° 89.312, de 23/01/1984 toda a matéria de custeio e benefícios previdenciários, mais os decorrentes de acidentes do trabalho. Entretanto, apenas com a Constituição Federal de 1988, cujas determinações foram regulamentadas nas Leis n° 8.212/91 e 8.213/91 é que se unificou o sistema previdenciário de todos os trabalhadores da iniciativa privada, rural ou urbana, criando-se o Regime Geral de Previdência Social. Então temos, hoje, uma seguridade estruturada, com previsão Constitucional no Art. 193 e seguintes, com a seguinte forma: O constituinte originário, devido à importância desses direito, dispensou um capítulo para a matéria, nos seguintes termos: TÍTULO VIII - Da Ordem Social Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. Da Seguridade Social Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos Da Saúde Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor,nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: Da Previdência Social Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) Seguridade Social Previdência Social Saúde Assistência Social Universalidade e seletividade Universal Não contributiva Baixa renda Necessitados Não contributiva Contributiva Da Assistência Social Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: PRINCÍPIOS INERENTES À SEGURIDADE SOCIAL Princípio traz a déia de começa. No mundo jurídico, os princípios constituem linhas norteadoras dos direitos. São o alicerce que sustenta o arcabouço jurídico e fundamenta todo o ordenamento jurídico inferior e a criação de novas normas. São constituídos de enorme carga axiológica. Preceituam a direção a seguir segundo os valores em que se fundam determinado ordenamento. É nele que os operadores do direito devem beber como fonte primeira para melhor interpretar e aplicar o direito, pois ali está a água limpa, a espinha dorsal do sistema jurídico. Transgredir princípios é como rasgar aquilo que é mais sagrado num organismo jurídico, implica em ignorar os valores sobre os quais se assenta todo o sistema normativo. O direito previdenciário como ramo autônomo do Direito, possui princípios próprios os quais norteiam a aplicação e interpretação de todo o regramento protetivo. Alguns princípios são exclusivos da seguridade social, o que revela sua autonomia didática, enquanto outros são genéricos, aproveitáveis a todos os ramos do direito. Entre os princípios gerais, os principais aplicáveis no âmbito da seguridade social os da igualdade, da legalidade, do direito adquirido, entre outros. Os princípios nem sempre estão expressos nas leis. Vários são doutrinários. Muitos têm raízes na própria constituição federal (art. 194), que, apesar de aparecerem como objetivos são verdadeiros princípios, descrevendo os pilares elementares da seguridade. Há doutrinadores que classificam os princípios inscritos no artigo 194 da CF/88 sob três vertentes: princípios de direitos (incisos I a IV); princípios de deveres (incisos V e VI); princípios de gestão (inciso VI): Art. 194. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - eqüidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento; VII - caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e aposentados. VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) Entretanto, abordaremos os mais preciosos, alguns, inclusive, não escritos ou, inscritos em outras legislações: Princípio da solidariedade (art. 3º CF/88): a proteção social tem na solidariedade seu principal fundamento. A contribuição do indivíduo em favor do grupo e de si mesmo é a idéia basilar da solidariedade social e fundamental na previdência social. A solidariedade social está na base dos regimes de financiamento da previdência social na modalidade de repartição simples, pois é na cotização individual que formará o caixa coletivo a disposição de todos. A CF/88 em vários registros imprime o princípio. Vejamos: (artigo 3º) “construir uma sociedade livre, justa e solidária”; (inciso I), erradicar a pobreza e a marginalidade e reduzir as desigualdades sociais e regionais”; (inciso III) promover o bem de todos; (artigo 194), “a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”; (artigo 195), “a seguridade social será financiada por toda a sociedade”; (art. 40), “Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário”. É na solidariedade que está a principal diferença entre o seguro social e o privado, porquanto a obrigação de contribuir não implica necessariamente a contrapartida pessoal por conta do sistema protetivo. É este princípio que permite e justifica um segurado poder ser aposentado por invalidez no primeiro dia de trabalho, sem verter nenhuma contribuição ao sistema. É também nesse princípio que se justifica a cobrança de contribuição do aposentado que retornar ao trabalho, mesmo sabendo que não terá nenhum proveito próprio. O STF já decidiu no sentido a contribuição do aposentado esta fundamentada no princípio da universalidade, corolário do princípio da solidariedade. O mesmo se diz em relação ao princípio da compulsoriedade (coagido a pagar) Em apertada síntese, plagiando o autor Alexandre Dumas – Os Três Mosqueteiros - poderíamos dizer que no seguro privado seria “cada um por si e Deus por todos”, enquanto no seguro social a regra seria “um por todos e todos por um”. Decorrente desse princípio pode concluir o seguinte: (1) é o pilar de sustentação do RGPS; (2) Objetivo fundamental da República; (3) espírito orientador de toda da seguridade; (4) pacto entre gerações; (5) proteção coletiva; (6) proteção coletiva em detrimento da individual; (7) inexistência de paridade entre a contribuição e a prestação; etc. Princípio da contrapartida ou da preexistência do custeio: a sociedade moderna, urbanizada, é bastante dependente da seguridade social. Esta é na verdade um grande colchão social, parâmetro mínimo existencial a ser assegurada a toda sociedade. Embora se proponha atender a todos de forma plena, reconhece-se a limitação orçamentária, razão pela qual se limita os campos subjetivos e objetivos das prestações (benefícios e serviços). Esta foi a forma do constituinte proteger o sistema e evitar que a demasiada “bondade” do legislador leve o sistema à falência. Este princípio está expresso no artigo 195 da CF/88: Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: § 5º - Nenhum benefícioou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total. Em outras palavras, trata-se da chamada regra da contrapartida ou da preexistência do custeio. Seu fundamento é a preservação do equilíbrio financeiro do sistema, garantido que a majoração ou novas prestações sejam acompanhadas pela correspondente fonte de custeio. Princípio da obrigatoriedade de filiação: a espontaneidade não é característica da solidariedade social. Conforme o grupo social se avoluma, a idéia de solidariedade social perde força. Como o Estado tem interesse pelo bem estar social e utiliza a presidência social como instrumento de ação, acaba por se intrometer no sistema protetivo, levando os segurados a filiarem-se obrigatoriamente. A previdência social é, obviamente, marcada pela solidariedade compulsória, diante da marcante imprevidência do ser humano. Por vias transversas, este princípio também visa proteger o cidadão previdente, senão este pagaria duas vezes por sua previdência, a primeira durante a vida contributiva e a segunda quanto financiaria aqueles que não contribuíram. Princípio do primado do trabalho: a ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem estar e a justiça sociais, é o que consta no art. 193 da CF/88. Princípio da Unicidade: este principio aplicado ao direito previdenciário, como regra geral, informa que o segurado tem direito, concomitantemente, apenas um benefício substituidor da sua remuneração. Tal principio resta exposto no artigo 124 da Lei 8.213/91. Princípio da automaticidade das prestações: No contexto previdenciário este principio implica na obrigação do órgão ancilar pagar a prestação a quem de direito, independentemente de ter havido o recolhimento das contribuições previdenciárias. É baseado neste principio que alguns segurados (empregado, empregado doméstico, trabalhador avulso, por exemplo), e seu dependentes podem gozar das prestações sem que haja comprovação das contribuição, bastando apenas a comprovação da atividade. Este principio ganhou destaque, a contar do Decreto 6939/09, ao determinar o que se considera período contributivo. Princípio da imprescritibilidade do direito ao benefício: o direito previdenciário não prescreve (fundo de direito). O que prescreve é tão-somente do direito de receber valores além do lapso temporal determinado pela prescrição. Uma vez cumpridas as exigências legais (requisitos), o não exercício desse direito em nada macula um futuro requerimento. Outros princípios: é a CF que dá fundamento e validade às demais normas, pois ocupa o grau mais elevado na hierarquia jurídica. Nesse contexto, a seguridade social está pautada para atingir uma série de objetivos, que, pela importância, são alçados a postos de princípios. Assim está na CF/88, art 194: I.universalidade da cobertura e do atendimento: é bom lembrar que um dos objetivos fundamentais de nossa república, entre vários outros, e a erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais, promover o bem de todos. A previdência social é talvez o principal instrumento para atingir esse objetivo. Natural, portanto, levar as ações da previdência social ao maior número possível de pessoas (universalidade do atendimento) e estender a rede de atendimento às mais variadas necessidades (universalidade de cobertura). A universalidade do atendimento mostra a face subjetiva (clientela atendida/pretendida) tendente a todos; já a universalidade de cobertura, é a face objetiva, abranger todos os fatos geradores compreendidos na área de atuação. Devemos lembrar que um princípio não atua de forma isolada, mas sim interagindo com os demais. Visualmente, pode-se comparar a ação dos princípios a uma soma de vetores tracionando em vários sentidos e direções – haverá uma harmonia num caminho intermediário. Assim funcionam os princípios, como o da universalidade de cobertura e atendimento, que é limitado por outros, como o da preexistência do custeio em relação ao benefício ou serviço. O viés resultante será sempre o conciliador, respeitando ambas as determinações, ainda que isto venha a limitar o alcance individual de cada um deles; II. uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais: deverão ser postos a disposição idênticos benefícios e serviços para os mesmos eventos cobertos pelo sistema. Uniformidade no sentido da possibilidade de receber as mesmas prestações; equivalência, por sua vez, significa correspondência entre as prestações. Vale lembrar que legislação preexistente a CF/88 não dava o mesmo tratamento ao trabalhador rural e urbano. Também se aplica a esta regra o princípio geral da isonomia. A igualdade material determina alguma parcela de diferenciação entre estes segurados, previsto inclusive na CF/88, quando prevê contribuições diferenciadas para o segurado especial (art. 195, §8º); III. seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços: Os direitos sociais, normalmente, recebem o título de direitos positivos (aqueles que exigem ação estatal), oposto dos direitos negativos (não intervenção estatal) primado do Estado liberal em não intervir nas liberdades individuais. Assim, os direitos positivos geram um custo maior ao Estado. Dessa relação, surge com maior evidencia o princípio da reserva do possível (limita a ação estatal). Em economia existe uma máxima "Como satisfazemos desejos ilimitados com recursos limitados?" Caberá, assim, ao legislador fazer a escolha nefasta, ou seja, definir onde aplicar os recursos limitados. A universalidade é o ideal primário da seguridade social, até porque é o objetivo inaugural, entretanto, necessário reconhecer limites financeiros no sistema. Esse é o permissivo da seletividade, deve o legislador escolher – selecionar – prioridades entre as prestações. Esta seleção não pode ser aleatória, deverá o legislador escolher entre as diversas possíveis, as mais distributivas. Exemplo típico é o salário-família (baixa renda e valor atrelado à idade). Wagner Balera2 afirma que a seletividade atua na delimitação do rol de prestações, ou seja, na escolha dos benefícios e serviços oferecidos pela seguridade social; enquanto a distributividade conduz a atuação do sistema protetivo para as pessoas com maiores necessidades; IV. irredutibilidade do valor dos benefícios: de início, cabe averiguar que a CF/88 foi escrita durante um período de crise inflacionária e, naquela época era imprescindível prever correção monetária para os benefícios. É indiscutível o caráter alimentar do benefício previdenciário. Mantida pela proibição de redução efetiva dos valores nominais das prestações. Dentro da mesma idéia, o art. 201, § 4º, ao se referir aos benefícios previdenciários, estabelece o reajustamento periódico dos benefícios, de modo a preservar-lhes, em caráter permanente, o seu valor real. Por fim, é certo que o princípio da irredutibilidade do benefício é derivado do direito adquirido, pois este impede a retroatividade mínima de forma que venha a limitar pagamento; V. equidade na forma de participação no custeio: também denominado princípio da solidariedade contributiva (desdobrado do princípio da igualdade – todos em situação similar devem ter o mesmo tratamento). É forçoso reconhecer que a equidade se assemelha ao principio da capacidade contributiva. Com a adoção deste princípio, busca-se garantir que os hipossuficientes tenham proteção social, exigindo-se deles, contribuições equivalentes ao poder aquisitivo; VI. diversidade da base de financiamento: nada adiantaria os direitos previstos no colchão da seguridade social acaso não houvesse a garantia material para o seu fornecimento. Ou seja, não passariam de boas intenções. A base de financiamento não se concentrará em uma só fonte de tributos,sendo distribuída entre o maior número de pessoas capazes de contribuir. Atualmente, a Seguridade Social é financiada nos termos do art. 195 da CF/88: Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; III - sobre a receita de concursos de prognósticos. IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. § 1º - As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União. § 2º - A proposta de orçamento da seguridade social será elaborada de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, assegurada a cada área a gestão de seus recursos. 2 BALERA, Wagner. Noções Preliminares de Direito Previdenciário. São Paulo: Quartier Latin, 2004, p. 87. § 3º - A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios. § 4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I. § 5º - Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total. § 6º - As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b". § 7º - São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei. § 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei. § 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-deobra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho. § 10. A lei definirá os critérios de transferência de recursos para o sistema único de saúde e ações de assistência social da União para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e dos Estados para os Municípios, observada a respectiva contrapartida de recursos. § 11. É vedada a concessão de remissão ou anistia das contribuições sociais de que tratam os incisos I, a, e II deste artigo, para débitos em montante superior ao fixado em lei complementar. § 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão não-cumulativas. § 13. Aplica-se o disposto no § 12 inclusive na hipótese de substituição gradual, total ou parcial, da contribuição incidente na forma do inciso I, a, pela incidente sobre a receita ou o faturamento. Se os recursos são fundamentais para a consecução do programa da seguridade social, é medida de prudência diversificar ao máximo sua fonte de custeio, objetivando fugir das sazonalidades ou crises em uma ou outra fonte, garantindo um fluxo constante de recursos e arrecadação; VII. gestão quadripartite: segundo este princípio, a administração da seguridade social deve ter caráter democrático, descentralizado, gestão quadripartite, participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. Além deste até agora enumerados e comentados, como a Previdência Social é apenas uma das atuações da Seguridade Social, a ela aplicam-se os princípios acima elencados. Além desses, verificamos os seguintes princípios: a) filiação obrigatória: exercendo o trabalhador uma das atividades elencadas no artigo 12 da Lei 8.212/91 ou no artigo 11 da Lei 8.213/91, não estando amparado por outro regime próprio, há vinculação obrigatória ao Regime Geral da Previdência Social. A Constituição Federal de 1988 garantiu também a participação facultativa ao Regime Geral de Previdência Social àqueles que, não sendo vinculados a nenhum tipo de regime previdenciário, quiserem filiar-se ao Regime Geral. Entretanto, para estes, a filiação é facultativa, sendo a inscrição ato necessário para que o indivíduo seja considerado segurado do Regime Geral da Previdência Social; b) caráter contributivo: o artigo 201 da CF menciona que a Previdência Social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo. Não há, em tese, direito a benefício àquele que não é contribuinte do regime; c) equilíbrio financeiro e atuarial: Também o caput do artigo 201 determina seja preservado o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema, devendo ser observada a relação entre custeio e pagamento de benefícios, a fim de mantê-lo em condições superavitárias; d) garantia do benefício mínimo: “nenhum benefício que substitua o salário-de- contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo.” (§ 2º do art. 201); e) correção monetária dos salários-de-contribuição: “todos os salários-de-contribuição considerados para o cálculo de benefício serão devidamente atualizados, na forma da lei.” Os índices de atualização destes salários-de-contribuição serão aqueles que a lei previdenciária determinar; f) preservação do valor real dos benefícios: mais que a irredutibilidade, identificada com a manutenção do valor nominal, para os benefícios previdenciários garante-se a preservação do valor real dos benefícios. Entretanto, este princípio será concretizado conforme critérios definidos em lei, sem que seja possível atrelar o reajuste dos benefícios previdenciários pelos mesmos índices e condições dos reajustes do salário mínimo; g) princípio da comutatividade: o artigo 201, § 9º, assegura a contagem recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos sistemas de previdência social se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos na Lei nº 9.796, de 05 de maio de 1999 (DOU de 06/05/99); h) previdência complementar facultativa: apesar de o regime previdenciário estatal ser compulsório e universal, admite-se a participação da iniciativa privada na atividade securitária, em complemento ao regime oficial, e em caráter facultativo para os segurados (art. 202, CF). Após a EC 20/98 que alterou a redação original do art. 201, § 7°, não é mais a previdência social que manterá seguro coletivo, de caráter complementar e facultativo, custeado por contribuições adicionais. Será a iniciativa privada a responsável por oferecer este regime facultativo e complementar, autônomoem relação ao Regime Geral de Previdência Social, a ser regulado por lei complementar; i) indisponibilidade dos direitos dos beneficiários: os benefícios previdenciário têm caráter alimentar, e como tal são inalienáveis, impenhoráveis e imprescritíveis. Assim, uma vez implementadas as condições, os beneficiários têm direito adquirido ao benefício, podendo reclamá-lo a qualquer tempo (art. 102, Lei 8.213/91). Não há perda do direito ao benefício. Além disto, não se admite seja o benefício sujeito a penhora, arrestou ou seqüestro, sendo nula de pleno direito a sua venda ou cessão, ou a constituição de qualquer ônus sobre ele, bem como a outorga de poderes irrevogáveis ou em causa própria para o seu recebimento. (art. 114, Lei n° 8213/91).
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