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2 aula Histórico e princípios

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
Histórico e princípios 
 
Histórico 
 
Na história da humanidade, é relativamente recente o estabelecimento em nível normativo da 
proteção aos direitos sociais. A preocupação estatal com a proteção social de seus cidadãos 
faz parte integrante, em sua acepção mais intensa, da grande evolução ocorrida no século 
passado, especialmente no pós-guerra (1º e 2º guerras mundiais). 
Com o desenvolvimento da humanidade, especialmente com o desenvolver da agropecuária 
(deixou de ser nômade) e a urbanização (vida em sociedade) nasceu e cresceu a preocupação 
em se proteger os indivíduos das contingências sociais. No percurso da história da 
humanidade desenvolveram-se técnicas de proteção social, sempre visando prevenir das 
situações de necessidade social. 
Nesse desenvolver ocorrido ao longo de nossa história é possível anotar os traços evolutivos 
significantes de cada sistema protetivo, na medida em que se avalia o grau de abrangência 
oferecido aos indivíduos em face dos riscos sociais – contingências sociais – mais constantes 
em cada momento. 
No desenvolvimento histórico da proteção social, nota-se o lento envolver das técnicas 
protetivas empregadas pela espécie humana. Desde os primórdios, seja por puro instinto ou 
por inteligência mais apurada, buscou a sobrevivência de sua prole. 
Da Grécia para Roma, surgiram associações formadas por pequenos artesões, com finalidade 
voltada para custos de funerais. 
Já na Idade Média surgiram, desenvolveram e se espalharam as associações com bons níveis 
de organização, de inspiração mutualista 1 já que voltados ao auxílio recíproco dos seus 
membros. 
Nesse ínterim a influência religiosa surge como fator determinante para a interferência Estatal 
na criação dos mecanismos de proteção social. 
A própria doutrina Cristã ainda se expandia, firmando seus dogmas e solidificando seus mais 
altos valores na consciência dos povos do ocidente. Após a consolidação da Igreja Católica, 
ganhou relevo a influência religiosa na conduta das pessoas naturais e do próprio Estado, vez 
que à época a Igreja não só acalentava as almas dos cidadãos como também influenciava de 
maneira decisiva as manifestações políticas. 
Entretanto, não se pode menosprezar o fato de que nem sempre a igreja e os feudos 
comungavam do mesmo alinhamento, até porque os interesses estatais estavam voltados à 
manutenção de bases estruturais de exploração e opressão enquanto a caridade religiosa tinha 
como base apenas o dever moral. 
Nesse descrever, segundo (Marina Vasques Duarte) o desenvolver histórico da proteção social 
restou caracterizado em dois momentos importantes: na Inglaterra, a famosa Lei de Amparo 
aos Pobres, em 1601, instituiu a Assistência Social ao criar a contribuição obrigatória para 
 
1 A mutualidade pode ser concebida como instituição que agrupa um determinado número de 
pessoas com o objetivo de se prestar a ajuda mútua, em vista de eventualidade futura". 
(RUPRECHT, Alfredo J. Direito da Seguridade Social. Trad. Edílson A. Cunha. São Paulo: 
LTr, 1996. p. 29) 
 
fins sociais, consolidando outras leis sobre assistência pública; enquanto a Previdência 
Social, sob a inspiração de Otto Von Bismarck, foi instituída na Alemanha, em 1883, com a 
criação de uma série de seguros sociais, de modo a atenuar a tensão existente nas classes 
trabalhadoras: em 1883 foi instituído o seguro-doença, custeado por contribuições dos 
empregados, empregadores e do Estado, em 1884, decretou-se o seguro contra acidentes do 
trabalho com custeio dos empresários, e em 1889 criou-se o seguro de invalidez e velhice, 
custeado pelos trabalhadores, pelos empregadores e pelo Estado. 
Ao se tornar obrigatório, o seguro social passou a conferir direito subjetivo ao 
trabalhador. 
No Brasil, as formas de montepio foram as manifestações mais antigas de assistência. No fim 
do Império, algumas medidas legislativas começaram a ser tomadas para proporcionar aos 
empregados públicos certas formas de proteção. A Constituição de 1891 foi a primeira a 
conter a expressão “aposentadoria”. Determinou que a aposentadoria só poderia ser dada aos 
funcionários públicos em caso de invalidez no serviço da Nação (art. 75). Na verdade o 
benefício era realmente dado, pois não havia nenhuma fonte de contribuição para o 
financiamento de tal valor. 
No entanto, foi com a Lei Eloy Chaves (Lei n° 4.682, de 24 de janeiro de 1923) que se 
implantou efetivamente a Previdência Social, com a criação de Caixas de Aposentadoria e 
Pensões junto a cada empresa ferroviária, tornando seus empregados segurados obrigatórios. 
Para por tempo de serviço e por idade avançada, por invalidez após dez anos de serviço eles 
eram previstos os seguintes benefícios: assistência médica, aposentadoria e pensão aos seus 
dependentes. 
Em 29-6-1933, por intermédio do Decreto n° 22.872, foi criado o Instituto de Aposentadorias 
e Pensões dos Marítimos (IAPM), que foi seguido por outros institutos de aposentadorias e 
pensões, sempre estruturados por categorias profissionais e não mais por empresas. 
Em 1960, um projeto de lei apresentado em 1947 foi convertido na Lei Orgânica da 
Previdência Social – LOPS (Lei n° 3.087/60), que não chegou a unificar os organismos 
existentes, mas criou normas uniformes para o amparo a segurados e dependentes dos vários 
Institutos existentes. 
O Decreto-lei n° 72, de 21-11-1966, unificou os institutos de aposentadorias e pensões, 
centralizando a organização previdenciária no Instituto Nacional de Previdência Social 
(INPS), que foi realmente implantado em 2-1-1967. 
Em 1976 foi expedida uma nova Consolidação das Leis da Previdência Social, por meio do 
Decreto n° 77.077/76. 
A Lei n° 6.439, de 1°-7-1977, alterou o sistema organizacional, instituindo o SINPAS 
(Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social), que tinha como objetivo a 
reorganização da Previdência Social. O SINPAS destinava-se a integrar as atividades da 
previdência social, da assistência médica, da Assistência social e de gestão administrativa, 
financeira e patrimonial, entre as entidades vinculadas ao Ministério da Previdência e 
Assistência Social. 
A última CLPS (Consolidação das Leis de Previdência Social) data de 1984, reunindo o 
Decreto n° 89.312, de 23/01/1984 toda a matéria de custeio e benefícios previdenciários, mais 
os decorrentes de acidentes do trabalho. 
Entretanto, apenas com a Constituição Federal de 1988, cujas determinações foram 
regulamentadas nas Leis n° 8.212/91 e 8.213/91 é que se unificou o sistema previdenciário de 
todos os trabalhadores da iniciativa privada, rural ou urbana, criando-se o Regime Geral de 
Previdência Social. 
Então temos, hoje, uma seguridade estruturada, com previsão Constitucional no Art. 193 e 
seguintes, com a seguinte forma: 
 
 
 
 
O constituinte originário, devido à importância desses direito, dispensou um capítulo para a 
matéria, nos seguintes termos: 
TÍTULO VIII - Da Ordem Social 
Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar 
e a justiça sociais. 
Da Seguridade Social 
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos 
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à 
previdência e à assistência social. 
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, 
nos 
Da Saúde 
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e 
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal 
e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público 
dispor,nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua 
execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica 
de direito privado. 
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: 
Da Previdência Social 
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter 
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio 
financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (Redação dada pela Emenda 
Constitucional nº 20, de 1998) 
Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma 
autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na 
constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei 
complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) 
Seguridade Social 
Previdência Social Saúde Assistência Social 
Universalidade e 
seletividade 
Universal 
Não 
contributiva 
Baixa renda 
Necessitados 
Não 
contributiva 
Contributiva 
Da Assistência Social 
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de 
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: 
Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos 
do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas 
com base nas seguintes diretrizes: 
 
PRINCÍPIOS INERENTES À SEGURIDADE SOCIAL 
Princípio traz a déia de começa. No mundo jurídico, os princípios constituem linhas 
norteadoras dos direitos. São o alicerce que sustenta o arcabouço jurídico e fundamenta todo o 
ordenamento jurídico inferior e a criação de novas normas. São constituídos de enorme carga 
axiológica. Preceituam a direção a seguir segundo os valores em que se fundam determinado 
ordenamento. É nele que os operadores do direito devem beber como fonte primeira para 
melhor interpretar e aplicar o direito, pois ali está a água limpa, a espinha dorsal do sistema 
jurídico. 
Transgredir princípios é como rasgar aquilo que é mais sagrado num organismo jurídico, 
implica em ignorar os valores sobre os quais se assenta todo o sistema normativo. 
O direito previdenciário como ramo autônomo do Direito, possui princípios próprios os quais 
norteiam a aplicação e interpretação de todo o regramento protetivo. Alguns princípios são 
exclusivos da seguridade social, o que revela sua autonomia didática, enquanto outros são 
genéricos, aproveitáveis a todos os ramos do direito. 
Entre os princípios gerais, os principais aplicáveis no âmbito da seguridade social os da 
igualdade, da legalidade, do direito adquirido, entre outros. 
Os princípios nem sempre estão expressos nas leis. Vários são doutrinários. Muitos têm raízes 
na própria constituição federal (art. 194), que, apesar de aparecerem como objetivos são 
verdadeiros princípios, descrevendo os pilares elementares da seguridade. 
Há doutrinadores que classificam os princípios inscritos no artigo 194 da CF/88 sob três 
vertentes: princípios de direitos (incisos I a IV); princípios de deveres (incisos V e VI); 
princípios de gestão (inciso VI): 
Art. 194. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade 
social, com base nos seguintes objetivos: 
I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e 
serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos 
benefícios e serviços;IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - eqüidade na forma de 
participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento; VII - caráter democrático e 
descentralizado da gestão administrativa, com a participação da comunidade, em especial de 
trabalhadores, empresários e aposentados. VII - caráter democrático e descentralizado da 
administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, 
dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 
20, de 1998) 
Entretanto, abordaremos os mais preciosos, alguns, inclusive, não escritos ou, inscritos em 
outras legislações: 
Princípio da solidariedade (art. 3º CF/88): a proteção social tem na solidariedade seu 
principal fundamento. A contribuição do indivíduo em favor do grupo e de si mesmo é a idéia 
basilar da solidariedade social e fundamental na previdência social. A solidariedade social 
está na base dos regimes de financiamento da previdência social na modalidade de repartição 
simples, pois é na cotização individual que formará o caixa coletivo a disposição de todos. A 
CF/88 em vários registros imprime o princípio. Vejamos: (artigo 3º) “construir uma sociedade 
livre, justa e solidária”; (inciso I), erradicar a pobreza e a marginalidade e reduzir as 
desigualdades sociais e regionais”; (inciso III) promover o bem de todos; (artigo 194), “a 
seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes 
públicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à 
assistência social”; (artigo 195), “a seguridade social será financiada por toda a sociedade”; 
(art. 40), “Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de 
previdência de caráter contributivo e solidário”. É na solidariedade que está a principal 
diferença entre o seguro social e o privado, porquanto a obrigação de contribuir não implica 
necessariamente a contrapartida pessoal por conta do sistema protetivo. 
É este princípio que permite e justifica um segurado poder ser aposentado por invalidez no 
primeiro dia de trabalho, sem verter nenhuma contribuição ao sistema. É também nesse 
princípio que se justifica a cobrança de contribuição do aposentado que retornar ao trabalho, 
mesmo sabendo que não terá nenhum proveito próprio. O STF já decidiu no sentido a 
contribuição do aposentado esta fundamentada no princípio da universalidade, corolário do 
princípio da solidariedade. O mesmo se diz em relação ao princípio da compulsoriedade 
(coagido a pagar) 
Em apertada síntese, plagiando o autor Alexandre Dumas – Os Três Mosqueteiros - 
poderíamos dizer que no seguro privado seria “cada um por si e Deus por todos”, enquanto no 
seguro social a regra seria “um por todos e todos por um”. 
Decorrente desse princípio pode concluir o seguinte: (1) é o pilar de sustentação do RGPS; (2) 
Objetivo fundamental da República; (3) espírito orientador de toda da seguridade; (4) pacto 
entre gerações; (5) proteção coletiva; (6) proteção coletiva em detrimento da individual; (7) 
inexistência de paridade entre a contribuição e a prestação; etc. 
Princípio da contrapartida ou da preexistência do custeio: a sociedade moderna, 
urbanizada, é bastante dependente da seguridade social. Esta é na verdade um grande colchão 
social, parâmetro mínimo existencial a ser assegurada a toda sociedade. Embora se proponha 
atender a todos de forma plena, reconhece-se a limitação orçamentária, razão pela qual se 
limita os campos subjetivos e objetivos das prestações (benefícios e serviços). Esta foi a 
forma do constituinte proteger o sistema e evitar que a demasiada “bondade” do legislador 
leve o sistema à falência. 
Este princípio está expresso no artigo 195 da CF/88: 
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos 
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: 
§ 5º - Nenhum benefícioou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem 
a correspondente fonte de custeio total. 
Em outras palavras, trata-se da chamada regra da contrapartida ou da preexistência do custeio. 
Seu fundamento é a preservação do equilíbrio financeiro do sistema, garantido que a 
majoração ou novas prestações sejam acompanhadas pela correspondente fonte de custeio. 
Princípio da obrigatoriedade de filiação: a espontaneidade não é característica da 
solidariedade social. Conforme o grupo social se avoluma, a idéia de solidariedade social 
perde força. Como o Estado tem interesse pelo bem estar social e utiliza a presidência social 
como instrumento de ação, acaba por se intrometer no sistema protetivo, levando os segurados 
a filiarem-se obrigatoriamente. 
A previdência social é, obviamente, marcada pela solidariedade compulsória, diante da 
marcante imprevidência do ser humano. 
Por vias transversas, este princípio também visa proteger o cidadão previdente, senão este 
pagaria duas vezes por sua previdência, a primeira durante a vida contributiva e a segunda 
quanto financiaria aqueles que não contribuíram. 
Princípio do primado do trabalho: a ordem social tem como base o primado do trabalho, e 
como objetivo o bem estar e a justiça sociais, é o que consta no art. 193 da CF/88. 
Princípio da Unicidade: este principio aplicado ao direito previdenciário, como regra geral, 
informa que o segurado tem direito, concomitantemente, apenas um benefício substituidor da 
sua remuneração. Tal principio resta exposto no artigo 124 da Lei 8.213/91. 
Princípio da automaticidade das prestações: No contexto previdenciário este principio 
implica na obrigação do órgão ancilar pagar a prestação a quem de direito, 
independentemente de ter havido o recolhimento das contribuições previdenciárias. É baseado 
neste principio que alguns segurados (empregado, empregado doméstico, trabalhador avulso, 
por exemplo), e seu dependentes podem gozar das prestações sem que haja comprovação das 
contribuição, bastando apenas a comprovação da atividade. Este principio ganhou destaque, a 
contar do Decreto 6939/09, ao determinar o que se considera período contributivo. 
Princípio da imprescritibilidade do direito ao benefício: o direito previdenciário não 
prescreve (fundo de direito). O que prescreve é tão-somente do direito de receber valores além 
do lapso temporal determinado pela prescrição. Uma vez cumpridas as exigências legais 
(requisitos), o não exercício desse direito em nada macula um futuro requerimento. 
Outros princípios: é a CF que dá fundamento e validade às demais normas, pois ocupa o 
grau mais elevado na hierarquia jurídica. Nesse contexto, a seguridade social está pautada 
para atingir uma série de objetivos, que, pela importância, são alçados a postos de princípios. 
Assim está na CF/88, art 194: 
I.universalidade da cobertura e do atendimento: é bom lembrar que um dos objetivos 
fundamentais de nossa república, entre vários outros, e a erradicar a pobreza e a 
marginalização e reduzir as desigualdades sociais, promover o bem de todos. A previdência 
social é talvez o principal instrumento para atingir esse objetivo. 
Natural, portanto, levar as ações da previdência social ao maior número possível de pessoas 
(universalidade do atendimento) e estender a rede de atendimento às mais variadas 
necessidades (universalidade de cobertura). A universalidade do atendimento mostra a face 
subjetiva (clientela atendida/pretendida) tendente a todos; já a universalidade de cobertura, é a 
face objetiva, abranger todos os fatos geradores compreendidos na área de atuação. 
Devemos lembrar que um princípio não atua de forma isolada, mas sim interagindo com os 
demais. Visualmente, pode-se comparar a ação dos princípios a uma soma de vetores 
tracionando em vários sentidos e direções – haverá uma harmonia num caminho 
intermediário. 
Assim funcionam os princípios, como o da universalidade de cobertura e atendimento, que é 
limitado por outros, como o da preexistência do custeio em relação ao benefício ou serviço. O 
viés resultante será sempre o conciliador, respeitando ambas as determinações, ainda que isto 
venha a limitar o alcance individual de cada um deles; 
II. uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais: 
deverão ser postos a disposição idênticos benefícios e serviços para os mesmos eventos 
cobertos pelo sistema. Uniformidade no sentido da possibilidade de receber as mesmas 
prestações; equivalência, por sua vez, significa correspondência entre as prestações. Vale 
lembrar que legislação preexistente a CF/88 não dava o mesmo tratamento ao trabalhador 
rural e urbano. 
Também se aplica a esta regra o princípio geral da isonomia. A igualdade material determina 
alguma parcela de diferenciação entre estes segurados, previsto inclusive na CF/88, quando 
prevê contribuições diferenciadas para o segurado especial (art. 195, §8º); 
III. seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços: Os direitos 
sociais, normalmente, recebem o título de direitos positivos (aqueles que exigem ação estatal), 
oposto dos direitos negativos (não intervenção estatal) primado do Estado liberal em não 
intervir nas liberdades individuais. Assim, os direitos positivos geram um custo maior ao 
Estado. Dessa relação, surge com maior evidencia o princípio da reserva do possível (limita a 
ação estatal). Em economia existe uma máxima "Como satisfazemos desejos ilimitados com 
recursos limitados?" Caberá, assim, ao legislador fazer a escolha nefasta, ou seja, definir onde 
aplicar os recursos limitados. A universalidade é o ideal primário da seguridade social, até 
porque é o objetivo inaugural, entretanto, necessário reconhecer limites financeiros no 
sistema. Esse é o permissivo da seletividade, deve o legislador escolher – selecionar – 
prioridades entre as prestações. Esta seleção não pode ser aleatória, deverá o legislador 
escolher entre as diversas possíveis, as mais distributivas. Exemplo típico é o salário-família 
(baixa renda e valor atrelado à idade). Wagner Balera2 afirma que a seletividade atua na 
delimitação do rol de prestações, ou seja, na escolha dos benefícios e serviços oferecidos pela 
seguridade social; enquanto a distributividade conduz a atuação do sistema protetivo para as 
pessoas com maiores necessidades; 
IV. irredutibilidade do valor dos benefícios: de início, cabe averiguar que a CF/88 foi escrita 
durante um período de crise inflacionária e, naquela época era imprescindível prever correção 
monetária para os benefícios. É indiscutível o caráter alimentar do benefício previdenciário. 
Mantida pela proibição de redução efetiva dos valores nominais das prestações. Dentro da 
mesma idéia, o art. 201, § 4º, ao se referir aos benefícios previdenciários, estabelece o 
reajustamento periódico dos benefícios, de modo a preservar-lhes, em caráter permanente, o 
seu valor real. Por fim, é certo que o princípio da irredutibilidade do benefício é derivado do 
direito adquirido, pois este impede a retroatividade mínima de forma que venha a limitar 
pagamento; 
V. equidade na forma de participação no custeio: também denominado princípio da 
solidariedade contributiva (desdobrado do princípio da igualdade – todos em situação similar 
devem ter o mesmo tratamento). É forçoso reconhecer que a equidade se assemelha ao 
principio da capacidade contributiva. Com a adoção deste princípio, busca-se garantir que os 
hipossuficientes tenham proteção social, exigindo-se deles, contribuições equivalentes ao 
poder aquisitivo; 
VI. diversidade da base de financiamento: nada adiantaria os direitos previstos no colchão da 
seguridade social acaso não houvesse a garantia material para o seu fornecimento. Ou seja, 
não passariam de boas intenções. A base de financiamento não se concentrará em uma só 
fonte de tributos,sendo distribuída entre o maior número de pessoas capazes de contribuir. 
Atualmente, a Seguridade Social é financiada nos termos do art. 195 da CF/88: 
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos 
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: 
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: 
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa 
física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; 
b) a receita ou o faturamento; 
c) o lucro; 
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre 
aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; 
III - sobre a receita de concursos de prognósticos. 
IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. 
§ 1º - As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social 
constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União. 
§ 2º - A proposta de orçamento da seguridade social será elaborada de forma integrada pelos órgãos 
responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em vista as metas e prioridades 
estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, assegurada a cada área a gestão de seus recursos. 
 
2 BALERA, Wagner. Noções Preliminares de Direito Previdenciário. São Paulo: Quartier 
Latin, 2004, p. 87. 
§ 3º - A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não 
poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios. 
§ 4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade 
social, obedecido o disposto no art. 154, I. 
§ 5º - Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem 
a correspondente fonte de custeio total. 
§ 6º - As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa 
dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o 
disposto no art. 150, III, "b". 
§ 7º - São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social 
que atendam às exigências estabelecidas em lei. 
§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os 
respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados 
permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o 
resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei. 
§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas ou bases 
de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-deobra, do 
porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho. 
§ 10. A lei definirá os critérios de transferência de recursos para o sistema único de saúde e ações de 
assistência social da União para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e dos Estados para os 
Municípios, observada a respectiva contrapartida de recursos. 
§ 11. É vedada a concessão de remissão ou anistia das contribuições sociais de que tratam os incisos I, 
a, e II deste artigo, para débitos em montante superior ao fixado em lei complementar. 
§ 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma 
dos incisos I, b; e IV do caput, serão não-cumulativas. 
§ 13. Aplica-se o disposto no § 12 inclusive na hipótese de substituição gradual, total ou parcial, da 
contribuição incidente na forma do inciso I, a, pela incidente sobre a receita ou o faturamento. 
Se os recursos são fundamentais para a consecução do programa da seguridade social, é 
medida de prudência diversificar ao máximo sua fonte de custeio, objetivando fugir das 
sazonalidades ou crises em uma ou outra fonte, garantindo um fluxo constante de recursos e 
arrecadação; 
VII. gestão quadripartite: segundo este princípio, a administração da seguridade social deve ter 
caráter democrático, descentralizado, gestão quadripartite, participação dos trabalhadores, 
dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. 
Além deste até agora enumerados e comentados, como a Previdência Social é apenas uma das 
atuações da Seguridade Social, a ela aplicam-se os princípios acima elencados. Além desses, 
verificamos os seguintes princípios: 
a) filiação obrigatória: exercendo o trabalhador uma das atividades elencadas no artigo 12 da 
Lei 8.212/91 ou no artigo 11 da Lei 8.213/91, não estando amparado por outro regime 
próprio, há vinculação obrigatória ao Regime Geral da Previdência Social. 
A Constituição Federal de 1988 garantiu também a participação facultativa ao Regime Geral 
de Previdência Social àqueles que, não sendo vinculados a nenhum tipo de regime 
previdenciário, quiserem filiar-se ao Regime Geral. Entretanto, para estes, a filiação é 
facultativa, sendo a inscrição ato necessário para que o indivíduo seja considerado segurado 
do Regime Geral da Previdência Social; 
b) caráter contributivo: o artigo 201 da CF menciona que a Previdência Social será 
organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo. Não há, em tese, direito a 
benefício àquele que não é contribuinte do regime; 
c) equilíbrio financeiro e atuarial: Também o caput do artigo 201 determina seja preservado 
o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema, devendo ser observada a relação entre custeio e 
pagamento de benefícios, a fim de mantê-lo em condições superavitárias; 
d) garantia do benefício mínimo: “nenhum benefício que substitua o salário-de-
contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário 
mínimo.” (§ 2º do art. 201); 
e) correção monetária dos salários-de-contribuição: “todos os salários-de-contribuição 
considerados para o cálculo de benefício serão devidamente atualizados, na forma da lei.” 
Os índices de atualização destes salários-de-contribuição serão aqueles que a lei 
previdenciária determinar; 
f) preservação do valor real dos benefícios: mais que a irredutibilidade, identificada com a 
manutenção do valor nominal, para os benefícios previdenciários garante-se a preservação do 
valor real dos benefícios. Entretanto, este princípio será concretizado conforme critérios 
definidos em lei, sem que seja possível atrelar o reajuste dos benefícios previdenciários pelos 
mesmos índices e condições dos reajustes do salário mínimo; 
g) princípio da comutatividade: o artigo 201, § 9º, assegura a contagem recíproca do tempo 
de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em 
que os diversos sistemas de previdência social se compensarão financeiramente, segundo 
critérios estabelecidos na Lei nº 9.796, de 05 de maio de 1999 (DOU de 06/05/99); 
h) previdência complementar facultativa: apesar de o regime previdenciário estatal ser 
compulsório e universal, admite-se a participação da iniciativa privada na atividade 
securitária, em complemento ao regime oficial, e em caráter facultativo para os segurados (art. 
202, CF). Após a EC 20/98 que alterou a redação original do art. 201, § 7°, não é mais a 
previdência social que manterá seguro coletivo, de caráter complementar e facultativo, 
custeado por contribuições adicionais. Será a iniciativa privada a responsável por oferecer este 
regime facultativo e complementar, autônomoem relação ao Regime Geral de Previdência 
Social, a ser regulado por lei complementar; 
i) indisponibilidade dos direitos dos beneficiários: os benefícios previdenciário têm caráter 
alimentar, e como tal são inalienáveis, impenhoráveis e imprescritíveis. 
Assim, uma vez implementadas as condições, os beneficiários têm direito adquirido ao 
benefício, podendo reclamá-lo a qualquer tempo (art. 102, Lei 8.213/91). Não há perda do 
direito ao benefício. Além disto, não se admite seja o benefício sujeito a penhora, arrestou ou 
seqüestro, sendo nula de pleno direito a sua venda ou cessão, ou a constituição de qualquer 
ônus sobre ele, bem como a outorga de poderes irrevogáveis ou em causa própria para o seu 
recebimento. (art. 114, Lei n° 8213/91).

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