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Direito Penal IV - Aulas - Daniela Portugal

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DIREITO PENAL IV
Aluna: Maria Carolina Ribeiro
Professora: Daniela Portugal
Aulas 2016.1
1. DOS CRIMES CONTRA A PESSOA:
Dos crimes contra a vida: Acerca dos crimes contra a vida, vale destacar, que a Constituição
determina que os crimes dolosos contra a vida são de competência exclusiva do tribunal do júri. O
conselho de sentença é composto por sete juízes leigos que decidem de modo não-motivado, pela
condenação ou absolvição (não há necessidade de expor as razões). O sistema aplicado aqui é o da
íntima convicção. Uma vez condenado o réu, o juiz presidente realizará a dosimetria da pena. O crime
culposo só irá a júri se este for um crime conexo a um crime contra a vida doloso.
1.1. Artigo 121 – Homicídio simples: A consumação do crime de homicídio se dá com o resultado
morte, e, o momento da morte é aquele em que ocorre o encerramento definitivo da atividade
cerebral – o direito penal não trabalha com morte presumida. 
CLASSIFICAÇÃO DO CRIME DE HOMICÍDIO
Comum: Pode ser cometido por qualquer pessoa e qualquer pessoa pode ser sujeito passivo do
homicídio.
Dolo genérico: Basta a intenção de praticar o verbo para que o tipo incida, não há exigência de
especial finalidade de agir.
Material: Para que haja a consumação, deve-se produzir resultado naturalístico.
Forma livre: Por ventura, a forma poderá qualificar o crime.
Unissubjetivo ou monossubjetivo: Pode ser praticado por apenas uma pessoa.
Plurissubsistente: O crime pode sofrer desdobramentos, por isso admite-se tentativa, desistência voluntária e
arrependimento eficaz.
Não transeunte: Deixa vestígios: sempre que há vestígio, o exame de corpo de delito se mostra
necessário. O processo penal aceita prova testemunhal apenas quando não há possibilidade de
realização do exame.
Segundo o parágrafo primeiro do art.121, “Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço” – Tem-se aqui uma
minorante, porém, muitos doutrinadores a veem como uma hipótese de privilégio. Tecnicamente é
incorreto falar que neste caso há um homicídio privilegiado. Vale ressaltar que, valor social é aquele
que diz respeito a algo referente à toda sociedade, e valor moral é aquele relevante para o próprio
indivíduo que pratica a conduta (neste caso a reprovabilidade é reduzida). Violenta emoção não
exclui imputabilidade penal, mas, a depender do caso, pode gerar uma compreensão, desde que
haja injusta provocação por parte da vítima (a violenta emoção por si só não autoriza a aplicação).
Caso esteja presente, esta minorante deverá ser aplicada, pois, não há aqui uma faculdade ao juiz,
mas sim um direito público subjetivo do acusado.
 Homicídio qualificado: No homicídio simples, somente a excepcional hipótese de homicídio
praticado em atividade de grupo de extermínio é considerado hediondo. Já o homicídio qualificado
previsto no parágrafo segundo é hediondo em todas as suas modalidades.
Questão: É possível a figura do homicídio qualificado-privilegiado? Em sendo possível, o crime
poderá ser considerado hediondo?
Resposta: Segundo o STF e o STJ, a figura do homicídio qualificado-privilegiado é possível, desde
que não haja incompatibilidade entre as circunstâncias do caso. Sobre a possibilidade de
considerar o crime hediondo, existem duas correntes: a primeira, entende que o privilégio
prepondera, desnaturando o caráter hediondo do delito. A segunda corrente crê que o homicídio
qualificado-privilegiado continua hediondo. Segundo o STJ, “por incompatibilidade axiológica e
por falta de previsão legal, o homicídio qualificado-privilegiado não integra o rol dos
denominados crimes hediondos”.
Agrava-se o crime se ele é cometido:
I. Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe – A paga é quando o
pagamento ocorre antes do crime, e a promessa de recompensa é quando ocorre depois. Motivo
torpe é o motivo mesquinho, vil.
II. Por motivo fútil – Motivo nonada ou somenos importância.
III. Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que
possa resultar perigo comum – O conceito de veneno é aberto e o sujeito deve conhecer a
circunstância. Ao falar em meio insidioso ou cruel, abre-se a possibilidade da interpretação
analógica. Perigo comum é aquele que se dirige à sociedade.
Homicídio qualificado por
tortura
Tortura qualificada pelo resultado
morte
A tortura é o meio, o
homicídio é o fim
A tortura é o fim, a morte é
consequência
A diferença é o elemento subjetivo, a finalidade do sujeito
IV. À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível
a defesa do ofendido – a traição é a quebra da confiança (confiança não é presumida). A emboscada
é a tocaia. A dissimulação é quando o agente oculta o seu verdadeiro intento. Ao se falar em outro
recurso que dificulte ou impossibilite a defesa do ofendido, há possibilidade de interpretação
analógica.
V. Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime – qualificadora por
conexão.
 Inciso VI – Feminicídio: “Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino” – Lei
13.104/15. Como se trata de nova lei gravosa, não será considerada retroativa. O feminicídio não se
confunde com o femicídio. O femicídio é pensado num sentido biológico e o feminicídio é pensado
num sentido sociológico. Não basta se tratar de produção de resultado morte contra pessoas do
sexo feminino para que se fale na qualificadora do feminicídio. Trata-se aqui de uma qualificadora
de natureza subjetiva, cuja incidência dependerá da motivação que fundamentou o crime, sendo
indispensável neste sentido, que a morte da mulher tenha sido praticada por causa da sua condição
de sexo feminino (quando há violência doméstica ou familiar, ou quando há menosprezo à condição
de mulher). O §2ºA da Leu 13.104/15 não explica satisfatoriamente o que significaria condição de
sexo feminino. No inciso I, ao se referir às hipóteses de violência doméstica ou familiar, acaba por
tornar necessária a utilização subsidiária do artigo 5º da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006). O
problema é que, tal forma interpretativa é extremamente ampliativa e incompatível com a
taxatividade que se espera de um tipo penal incriminador, sobretudo qualificado. São hipóteses de
aumento de pena, no crime de feminicídio (art.121, §7º): crime cometido durante a gestação, ou
nos três meses após o parto; contra menores de 14 anos, maiores de 60 ou deficientes; praticado
na presença de ascendente ou descendente da vítima. A atual redação do art.1º, I, após lei
13.142/15, já resolve a matéria, inserindo expressamente o inciso VI do art.121, como crime
hediondo.
 Inciso VII – Homicídio funcional: “Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição” – Esse homicídio é praticado contra
policiais e membros das forças armadas (militarização urbana). Aqui, há uma expressão de direito
penal simbólico, que não irá reduzir o número de execuções, pois, a origem do problema se
encontra no processo de militarização urbana e entiquetamento penal.
 Homicídio culposo: Forma de homicídio privilegiado.
a) Causa de aumento:
“Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão arte ou ofício, ou se o agente
deixa de prestar socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para
evitar prisão em flagrante.– A inobservância do dever de cuidado já é essencial no tipo culposo. O
§4º, ao trazer aumento de pena pela inobservância de regra técnica de profissão, gera dois pontos
de discussão: Qual seria a diferença entre a inobservância de um dever de cuidado, integrante da
essência do crime culposo, e, a inobservância da regra técnica, afim de não se incorrer em bis in
idem? Em se considerando inobservância de regra técnica, somente como hipóteses de
inobservância deliberada da regra, não seria o caso de estarmos diante de um dolo eventual? – A
doutrina não dá uma resposta satisfatória sobre isso. O crime de homicídio culposo prevê a
possibilidade de perdão judicial (causa extintiva de punibilidade). O perdão judicial é aplicado
quando se entende que o homicídio culposo por si só já pune o sujeito. Deve haver vínculo
emocional entre o autor e vítima. Uma vez concedido o perdão judicial, não subsistem efeitos da
condenação (súmula 18, STJ).
Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício: o agente possui aptidão para
desempenhar o seu mister, mas acaba por provocar a morte de alguém por conta de descaso
deliberado. É a chamada “culpa profissional”.
Omissão de socorro: o agente, agindo com culpa, deixa de prestar socorro à vítima, podendo
fazê-lo e não havendo risco pessoal para ele.
Não procurar diminuir as consequências do comportamento.
Foge para evitar a prisão em flagrante: o agente esquiva-se de responder pelo ato praticado,
demonstrando ausência de escrúpulo e diminuta responsabilidade moral.
 Homicídio doloso: A pena é aumentada se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos
ou maior de 60.
1.2. Artigo 122 – Instigação ao suicídio: “Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe
auxílio para que o faça”. Pelo princípio da bilateralidade ou transcendentalidade, não se pune a
conduta que não extrapola a esfera individual do próprio indivíduo (a autolesão não é punida pelo
direito penal). Pune-se aqui a participação moral (induzimento ou instigação) ou material (auxílio)
no crime de suicídio. No induzimento o sujeito ativo faz nascer a ideia; o instigar é o fomento ou
reforço de ideia já existente. O auxílio material corresponde a uma colaboração, e, esta colaboração
possui natureza necessariamente secundária, pois, se a natureza for primária, há crime de
homicídio (eutanásia ativa consentida). A ideia de colaboração primária e secundária se relaciona
com as concausas, pois existirão duas ações. O crime somente será punido em título de dolo.
Induzir pessoa com capacidade diminuída será uma hipótese de aumento de pena, enquanto induzir
pessoa completamente incapaz caracteriza crime de homicídio.
Suicídio conjunto: Tratado por Nelson Hungria. Na situação em que ambos praticam realizam que
levaria a morte, todos praticam suicídio. Quando somente um possui a ação que leva a morte, a
hipótese será de auxílio ao suicídio. Para Rogerio Sanches, os pactos de morte são atípicos, pois
não haveria dolo.
Induzimentos genéricos: Não se voltam a pessoa certa e determinada, mas a um público
indeterminado de pessoas. Não é punível.
Pena: O art.122 em seu preceito secundário, descreve na lesão e na morte, uma condição
objetiva de punibilidade. A conceituação de lesão grave é dada pelo art.129, §1º.
No aumento de pena por motivo egoístico há maior reprovabilidade da conduta. Se a vítima não
possuir qualquer discernimento, as ações de induzir, instigar ou auxiliar, serão consideradas
meios para a prática de homicídio já que o sujeito ativo em tal caso se torna garantidor (art.13m
§2º, c).
Questão: Que crime estaria caracterizado no caso daquele que induziu ou instigou o ofendido ao
suicídio e no momento culminante do ato acabou interferindo na sua execução?
Resposta: Responderá por homicídio – e não por participação em suicídio.
1.3. Artigo 123 – Infanticídio: “Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho,
durante o parto ou logo após”. O infanticídio é próprio, ou seja, só pode ser praticado pela mãe em
estado puerperal – o puerpério é uma mudança química e psíquica que ocorre na mulher durante a
gestação e logo após. O estado puerperal é o colapso químico-psíquico de algumas gestantes –
quando a parturiente vivencia o estado puerperal. Em regra, ele costuma durar horas ou poucos
dias, mas, isto dependerá de um exame pericial. A depender do grau do distúrbio da mulher, pode
ocorrer a inimputabilidade. O erro sobre a pessoa ou sobre a execução não afastam o tipo penal de
infanticídio.
A pena será de detenção, logo, o regime inicial de cumprimento de pena somente poderá ser aberto ou
semiaberto, jamais fechado.
Não se deve confundir infanticídio com abandono de recém-nascido com resultado morte (art.134, §2º). Na
figura do art.134, tem-se o crime de perigo, logo, o dolo da conduta é de perigo – finalidade de abandonar o
recém-nascido). A culpa neste caso, é necessariamente o elemento subjetivo do resultado morte (figura
preterdolosa), ao contrário do infanticídio, que é crime doloso – finalidade de matar o recém-nascido.
Coautoria e participação no infanticídio: Se o pai auxilia a mãe, a figura do infanticídio se estende
ao pai. No caso onde o pai é autor e a mãe é partícipe, existem três correntes que possibilitam a
aplicação do tipo penal: 1) Ambos respondem por infanticídio. 2) O pai responde por homicídio e
a mãe por infanticídio – corrente mais aceita, pois, a mãe seria condenada a mais tempo como
partícipe em homicídio do que como autora em infanticídio. 3) Ambos respondem por homicídio.
 Coautoria e participação: Se um terceiro auxilia a mãe, a figura do infanticídio se estende ao
terceiro. No caso em que o terceiro é o autor e a mãe é partícipe, existem três correntes que
possibilitam a aplicação do tipo penal:
1) Ambos respondem por infanticídio.
2) O pai responde por homicídio e a mãe por infanticídio – corrente mais aceita, pois, a mãe seria
condenada a mais tempo como partícipe em homicídio do que como autora em infanticídio.
3) Ambos respondem por homicídio.
Questão: Elizangela durante o estado puerperal, decide matar seu filho. Paula, enfermeira do
hospital, sabe da condição de Elizangela, uma vez que fora alertada pelos médicos a não deixá-la
com seu filho sozinha. Paula decide então colocar outro bebê, filho de um desafeto seu, no
quarto com Elizangela, que durante a noite sufoca o bebê, levando-o a óbito. Quem responde
pelo quê? Justifique sua resposta.
Resposta: A mãe responde por infanticídio e a enfermeira também (seria mais correta que
respondesse por homicídio).
1.4. Artigo 124 – Aborto: São criminalizadas duas condutas nucleares - o auto aborto ou o
consentimento para que um terceiro pratique o aborto. Quando a gestante consente que terceiro
realize o procedimento abortivo, e este terceiro efetivamente realiza a prática, os agentes
responderão por crimes distintos: a gestante responde pela parte final do art.124 e o terceiro pelo
art.126. Trata-se portanto, de uma ruptura/exceção da Teoria Monista (o art.124 não admite a
coautoria, mas somente participação, pois, o terceiro sempre possuirá tipo autônomo – crime de
mão própria). O crime de aborto é doloso em todas as suas modalidades por falta de previsão legal
do tipo culposo. A consumação deste crime se dá com a produção do resultado morte do feto
(sujeito passivo), sendo perfeitamente admissível a figura da tentativa. A pena aqui será de
detenção.
Homicídio Infanticídio Aborto
Bem jurídico Vida
extrauterina
Vida extrauterina Vida intrauterina
Momento para configuração
do crime
Início do parto Início do parto ou logo após/estado
puerperal
Antes do início do
parto
1.5. Artigo 125 – Aborto não consentido: Um terceiro realiza o aborto sem o consentimento da
gestante. Este crimeenvolve dupla sujeição passiva (gestante e feto). O consentimento inválido
será equiparado à ausência de consentimento. Admite-se aqui a tentativa. O momento inicial da
gestação aqui, é a nidação.
1.6. Artigo 127 – Aborto qualificado: Não traz formas qualificadas de aborto, mas sim causas de
aumento de pena. Trata-se de figura preterdolosa, isto é, a lesão grave ou morte da gestante,
derivam, necessariamente, de culpa. Havendo dolo, estaremos diante de um concurso formal
impróprio de crimes (art.70).
1.7. Artigo 128 – Hipóteses permissivas de aborto: “Não se pune o aborto praticado por
médico: se não há outro meio de salvar a vida da gestante; se a gravidez resulta de estupro e o
aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal”.
Questiona-se primeiramente, a restrição da sujeição ativa da figura permissiva ao “médico”. Isto
porque, especialmente na hipótese do inciso I, admite-se a analogia benéfica para outros sujeitos. O
aborto descrito no inciso I, também chamado de aborto terapêutico, é notadamente uma hipótese
de estado de necessidade. O aborto resultante de estupro deve necessariamente ser feito por
médico, e trata-se de hipótese de inexigibilidade de conduta diversa. O Código Penal não apresenta
requisitos legais para o aborto em gravidez resultante de estupro – diante disto, sustenta-se, em
geral, que a gestante precisará, ao menos do registro da conduta criminosa em boletim de
ocorrência policial (caso a gestante tenha mentido para autoridade policial para obter o boletim de
ocorrência, o médico não será punido por nada, pois incorreu em erro de tipo, e, a gestante,
responderá pelo crime de aborto e pela denunciação caluniosa ou falsa denunciação de crime).
Questão: João sem a ciência de Maria e no desejo de fazê-la abortar, ministra substância abortiva
em sua comida. Maria, cuja gravidez era avançada, é levada ao hospital. Os médicos conseguem
salvar o feto, todavia, Maria morre. Tipifique a conduta considerando que João não desejou a
morte.
Resposta: Tentativa de aborto com aumento de pena por resultado morte. É impossível o
concurso entre tentativa de aborto e homicídio da gestante.
 Observação: Aborto de feto anencéfalo: Figura terceira hipótese de aborto legal, tendo sido
reconhecido pelo STF a partir da ADPF 54, quando se compreendeu a inexigibilidade de conduta
diversa da gestante, em nome de sua dignidade humana, ao interromper a gestação em tais casos.
O aborto natural, bem como o acidental não são condutas puníveis, em razão da ausência de
previsão legal. No primeiro caso, trata-se de uma reação do próprio organismo da gestante, e, no
segundo caso, há correspondência com a figura culposa, a qual não se encontra tipificada.
A eugenia é uma seleção humana de espécies – há uma escolha de quais espécies podem ou não
sobreviver – sob o suposto discurso de aprimoramento e perfeição, defende-se a aniquilação de
determinadas espécies. O aborto do feto anencefálico ou com microcefalia está incluído neste
debate. A anencefalia traz consigo a inviabilidade da vida – como há vida, não se trata de crime
impossível. Por conta da inviabilidade é que se questiona a necessidade da gestante levar até o
final, a sua gestação. O que há aqui, portanto, é a inexigibilidade de conduta diversa. A microcefalia
traz uma vida viável, porém o feto será portador de necessidades especiais.
2. DAS LESÕES CORPORAIS: Em todo o caso, a lesão corporal ofende a integridade física,
entretanto, é possível desdobra-la em: lesão leve, lesão grave, lesão gravíssima, lesão corporal
seguida de morte, lesão culposa e lesão doméstica.
Açã
o
pen
al
Privada - Ação penal pública de iniciativa privada (do
ofendido)
Pública -
Iniciativa do
Ministério
Público
Condicion
ada
Reposição ministerial
À representação (do
ofendido)
Incondicionada – é a regra geral.
a) Lesão corporal leve: A lesão leve está referida no art.129, caput, nos seguintes termos: “Ofender
a integridade corporal ou a saúde de outrem”. Trata-se aqui de infração de menor potencial
ofensivo, ou seja, de competência dos juizados especiais. A ação penal aqui será a ação penal
pública condicionada à representação (art.88 da Lei 9.099/95) – atualmente entende-se que a
representação não se reveste de rigores formais. A representação do ofendido deve ser exercida no
prazo decadencial de seis meses, a contar da ciência da autoria (algumas vezes o crime ainda não
está prescrito) –art.103, CP. Nos termos do art.102, CP, a representação é irretratável depois de
oferecida a denúncia. A doutrina questiona a “retratação da retratação”. A lesão leve é um crime
material, ou seja, consuma-se com a produção de resultado naturalístico. A saúde mental por si só
não seria passível de tipificação por crime de lesão corporal. É uma infração não transeunte (deixa
vestígios) – por deixar vestígios, a prova por excelência, será o exame de corpo de delito. O exame
de corpo de delito nem sempre é realizado. Ainda assim será possível a condenação. Conforme
art.158, CPP, o exame de corpo de delito é indispensável para infrações que deixam vestígios.
Todavia, não sendo possível realiza-lo, poderá ser suprido por prova testemunhal (art.167, CPP). Via
de regra, não se pode condenar com base exclusivamente, em dados do inquérito policial, mas,
excepcionalmente isto será possível, a exemplo do caso das provas irrepetíveis. A lesão leve é
crime comum.
b) Lesão corporal grave: Ação penal pública incondicionada. A lesão será considerada grave se
resultar em:
I – Incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias – trata-se de qualquer tipo de
incapacidade habitual, não apenas para o trabalho. A depender do caso, pode ser necessária perícia
complementar.
II – Perigo de vida – este perigo de vida é necessariamente culposo. Havendo intenção de causar o
perigo, se está diante de hipótese de tentativa de homicídio. Aqui, há uma qualificadora
preterdolosa.
III – Debilidade permanente de membro, sentido ou função – debilidade é o mal funcionamento e,
não se confunde com a perda ou inutilização do membro. A permanência não significa algo eterno,
mas sim duradouro. A perda de um dedo, por exemplo, corresponde a debilidade de membro. Em se
tratando de órgãos duplos, a lesão gravíssima pela perda completa, somente se caracteriza quando
o ato agressivo atinge a ambos, inutilizando-os – fora isso, haverá debilidade, logo, lesão grave. Na
hipótese em que um dos órgãos duplos já não funcionava, e a lesão atinge ao restante, inutilizando-
o, fala-se me lesão gravíssima.
IV – Aceleração de parto – será necessariamente culposa (preterdolo). Havendo intenção de lesionar
o feto, há concurso formal impróprio de infrações (causar a lesão à mulher e tentar o aborto ao
feto).
c) Lesão corporal gravíssima: Ação penal pública incondicionada. A lesão será considerada
gravíssima se resultar em:
I – Incapacidade permanente para o trabalho – a permanência não é algo eterno, mas sim
duradouro. Questiona-se a abrangência do termo “trabalho” inserido no inciso I. Existem três
correntes acerca deste tema:
Primeira corrente: O inciso somente incidiria se ocorresse impossibilidade de manutenção do
trabalho da vítima.
Segunda corrente: Incidirá o inciso apenas quando a vítima se tornar incapaz para o exercício
de qualquer trabalho.
Terceira corrente: O inciso é aplico se ocorre incapacidade para o trabalho da própria vítima, ou
atividade na mesma área.
II – Enfermidade incurável – Enfermidade é doença. Os manuais tradicionais listavam como exemplo
de enfermidade incurável a tuberculoso, o que não mais se admite. Um exemplo atualmente
trabalho é a epilepsia. O HIV é alvo de grandes polêmicas – sempre foi pensado como uma doença
que leva a morte, pormais atécnico que seja, já que o HIV em si não mata. No HC 98.712/TJSP,
entendeu-se que a infecção dolosa pelo vírus do HIV corresponderia não à prática do art.129, §2º, II,
nem do art.131, mas sim do art.121 c/c art.14, II. O STF todavia, afastou o referido delito, para
trabalhar somente com perigo de contágio de moléstia grave. 
III – Perda ou inutilização do membro, sentido ou função – a perda é a extirpação completa do
membro/órgão. Inutilização é o não funcionamento. 
IV – Deformidade permanente – É a cicatriz. Pouco importa se a cicatriz é ou não aparente, ou se ela
é ou não grande. Além disso, a permanência deverá ser duradoura – mesmo que a cicatriz seja
revertida ou reversível por cirurgia plástica, não há o afastamento da qualificadora.
V – Aborto – qualificadora preterdolosa (havendo dolo para ambos os crimes, há concurso de crimes
formal impróprio).
d) Lesão corporal seguida de morte: “Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo” – figura preterdolosa: há dolo na
lesão e culpa no resultado morte, logo, o agente não buscou ou assumiu o resultado morte.
Questão: Induzimento, instigação e auxílio à lesão corporal, são puníveis?
Resposta: Por não haver previsão legal, o auxilio materialmente falando não pode ser punível.
Questão: Igor resolve fazer uma tatuagem em homenagem à sua mãe com sua fotografia. O
tatuador, todavia, tatuou uma figura que se assemelha a outra pessoa. É possível falar em lesão
gravíssima, caso o tatuador tenha agido com imperícia ou com dolo?
Resposta: A depender dos casos, não haverá crime, porém, deve-se observar os requisitos do
consentimento do ofendido.
e) Lesão corporal doméstica: “Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão,
cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o
agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade”. A Lei Maria da Penha possui
seu corpo próprio, mas também inseriu dispositivos no Código Penal. A Lei Maria da Penha somente
se aplica a violência doméstica. A vítima necessariamente será mulher, não importando quem é o
sujeito ativo. A lesão corporal doméstica corresponde a um crime comum, admitindo qualquer
sujeito ativo e qualquer sujeito passivo, desde que seja em ambiente doméstico. Aqui, a
qualificadora se relaciona com o local da prática, qual seja o ambiente doméstico. Nos casos
previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo,
aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) – aqui, ocorrerá a combinação de parágrafos. A lesão
domestica contra portador de deficiência sofrerá aumento de pena.
f) Lesão culposa: Neste caso, há uma lesão corporal cuja prática se deu por negligência,
imprudência e imperícia. Aplica-se à lesão culposa o disposto no §5º do art. 121.
 Aplicação da pena:
O §4º traz uma causa de diminuição de pena.
O §5º traz hipótese de substituição de pena – aqui, discute-se a aplicabilidade, já que o valor da
multa se dá em outra moeda. Por ser uma lei benéfica, autoriza a atualização do valor.
A substituição será possível se presente as causas de diminuição do §4º, ou ainda se as lesões são
recíprocas. Fala-se me lesões recíprocas quando ambas as partes envolvidas são, a um só tempo,
autor e vítima de lesão. O §7º traz hipótese de aumento de pena caso ocorram as ações previstas
no §4º e §6º do art. 121.
§12: “Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois
terços.” – Trata-se de modalidade qualificada em razão da maior vulnerabilidade da vítima, caso
esta ocupe a condição de alvo preferencial em razão de ser um agente da segurança pública ou
pelo fato de ser parente de agente de segurança pública. Nos termos do art. 144/CF, esses agentes
são polícia federal, incluído rodoviária e ferroviária, polícia civil e militar, e corpo de bombeiros,
destacando-se ainda integrantes das forças armadas (exército, marinha e aeronáutica), integrantes
do sistema prisional e de segurança pública.
3. DOS CRIMES CONTRA A HONRA: A honra é um bem jurídico que se desdobra em dois aspectos:
honra subjetiva e honra objetiva. A honra subjetiva é a ideia que o sujeito tem de si mesmo (auto
reconhecimento, autoimagem). A honra objetiva diz respeito a ideia que terceiros possuem do
sujeito (reputação).
CALÚNIA DIFAMAÇÃO INJÚRIA
ARTIGO Art. 138 Art. 139 Art. 140
BEM JURÍDICO
TUTELADO
Honra objetiva Honra objetiva Honra subjetiva
CARACTERIZAÇÃO Imputação falsa de fato
definido como crime
Imputação de fato ofensivo
à reputação
Ofensa à dignidade e
decoro.
EXCEÇÃO DA
VERDADE
Em regra admite Em regra não admite Nunca admite
 Observando os bens jurídicos tutelados e a redação do tipo incriminador, note-se que uma mesma
circunstância fática não poderá ensejar em concurso formal calúnia e difamação (em respeito ao
princípio do ne bis in idem). De outro lado, é plenamente possível que a injúria concorra em
concurso formal impróprio com as referidas infrações, já que uma mesma ofensa pode
perfeitamente atingir tanto a honra objetiva quanto a subjetiva do sujeito.
 A pessoa jurídica não pode ser sujeito passivo de injúria, pois não é possuidora de autoconsciência
(crime impossível – absoluta impropriedade do objeto). Quanto a honra objetiva, pode ser sujeito de
difamação ou ainda de calúnia, caso a imputação se refira a um crime.
3.1. Artigo 138 – Calúnia: A calúnia se verifica quando se imputa a alguém um fato falso definido
como crime. A imputação falsa de contravenção não caracteriza crime de calúnia (atipicidade
formal – pode caracterizar difamação). A adjetivação desonrosa não caracteriza calúnia (pode ser
caracterizado como difamação – chamar de ladrão, corrupto, etc.). O crime de calúnia é um crime
doloso e se exige que o sujeito no momento da imputação saiba que ela é falsa. A calúnia é um
crime formal (não produz resultado naturalístico). Fala-se de crime unissubsistente em regra, ou
seja, não admite tentativa, desistência voluntária ou arrependimento eficaz – a única exceção
encontra-se na calúnia escrita. Como aqui, o bem jurídico é a reputação, o tipo só se concretiza
quando a ofensa é referida para terceiros que não o sujeito passivo do crime. A ofensa
exclusivamente proferida para a própria vítima não ofende reputação, portanto não caracteriza
calúnia ou difamação, podendo caracterizar injúria. O §1º traz uma norma de equiparação: “na
mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga”. O §2º prevê a
possibilidade de calúnia contra os mortos – o sujeito passivo aqui serão os familiares, aqueles que
de alguma maneira prezam pela memória do falecido. O §3º traz a figura da exceção da verdade:
exceção assume aqui, o sentido de defesa – a exceção da verdade portanto, é a defesa baseada na
verdade. Como a calunia é a imputação de falso criminoso falso, a prova da veracidade da narrativa
exclui a tipicidade. Para o crime de calúnia, a regra geral é pela admissão da exceção da verdade
como tese defensiva, ressalvadas as hipóteses do art.138, §3º. A exceção da verdade que esteja
relacionada à agente que tenha foro por prerrogativa de função não é julgada pelo mesmo julgador
da ação principal (juiz de primeiro grau), mas sim, pelo respectivo foro. Em tal caso, se a exceção é
provida, o processo sobe definitivamente para que a antes vítima de calúnia, possa ser processada
e julgada. Se a exceção da verdade não é provida,significa realmente, que houve imputação de
fato criminoso falso, descendo o processo para juiz de primeiro grau, para que prossiga o
processamento da calúnia. A inimputabilidade do sujeito passivo do crime não descaracteriza a
calúnia.
CALÚNIA DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA (art.339)
Honra objetiva Administração da justiça
Imputação falsa de foto definido
como crime
Dar causa à ação, inquérito, ou investigação, imputando crime que se
sabe da inocência.
Ação penal privada Ação penal pública
Dada a diversidade de bens jurídicos, admite-se majoritariamente o concurso formal impróprio
entre calúnia e denunciação caluniosa. Vale destacar que a denunciação caluniosa de contravenção
é expressamente tipificada, com base no art.339, §2º. Observe-se ainda a diferença entre calúnia,
denunciação caluniosa e a “comunicação falsa de crime ou contravenção”. Neste último tipo
previsto no art.340, temos crime contra à administração da justiça, que se particulariza pelo fato de
a comunicação do falso crime ou falsa contravenção não ser associada a nenhum sujeito
especificamente.
3.2. Artigo 139 – Difamação: O fato pode ser algo verdadeiro ou não. Não há necessidade do fato
ser algo falso. Como o objeto da difamação é fato verdadeiro ou falso, provar que o fato é
verdadeiro não excluirá em princípio a responsabilidade do agente, portanto, a exceção da verdade
em regra não é admitida na difamação, ressalvado o caso de a ofensa estará relacionada a
funcionário público no exercício da função, pois haverá o interesse público do Estado em saber se a
acusação é verdadeira ou não (“a exceção da verdade somente se admite se o ofendido é
funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções”).
3.3. Artigo 140 – Injúria: Aqui, há a tutela da honra subjetiva do indivíduo. Configura-se a injúria
quando ocorre atribuição de qualidade negativa ou defeito a outrem, maculando de certo modo a
sua autoestima. Há a intenção de ferir a honra do indivíduo. A injúria pode se dar através de gestos.
A injúria é crime comum, ou seja, pode ser cometido por qualquer pessoa. O sujeito passivo pode
ser qualquer indivíduo, com exceção à pessoa jurídica (RT 670/302). Não há crime de injúria contra
pessoas já falecidas – a honra é atributo de pessoas vivas, e, já que não há previsão legal expressa,
não há a possibilidade de configuração do crime de injúria contra mortos.
O elemento subjetivo aqui é o dolo, ou seja, deve haver a intenção de macular a honra subjetiva da
pessoa (animus injuriandi). A consumação ocorre quando a vítima toma conhecimento da
imputação de defeitos à sua pessoa. A injúria é crime formal, ou seja, basta a realização da
conduta para que seja consumado.
Pelo fato da injúria se tratar de imputação de defeitos, de opiniões negativas, não se admite nunca
a exceção da verdade.
Segundo Rogério Sanches, a pessoa injuriada deve compreender as ofensas contra elas proferidas,
isto é, ter consciência de estar sendo atacada na sua dignidade.
 Possibilidade de não aplicação da pena: Quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
diretamente a injúria (a primeira provocação não deve constituir injúria); no caso de retorsão
imediata, que consista em outra injúria (injúria contra injúria).
 Injúria real: “Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio
empregado, se considerem aviltantes” – Junto com a ofensa, vem as vias de fato, tornando a
conduta mais grave. Parte da doutrina crê que, havendo lesão corporal aviltante, haverá concurso
material, pois o Código fata em somatória de penas, entretanto, uma outra parte indica a existência
de concurso formal impróprio.
 Injúria qualificada por preconceito e contra vulneráveis: “Se a injúria consiste na utilização
de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou
portadora de deficiência” – deve-se atentar ao fato de que injúria racial difere de racismo. No caso
de injúria proferida contra idoso ou pessoa com deficiência, a qualificadora irá incidir se o crime é
praticado em razão da deficiência ou da senilidade.
“A presente qualificadora refere-se à injúria preconceituosa, não se confundindo com o delito de
racismo previsto na lei 7.716/89. Neste, pressupõe-se sempre uma espécie de segregação
(marginalizar, pôr à margem de uma sociedade) em função da raça, ou da cor. No caso do §3º do
art. 140, o crime é praticado através de xingamentos envolvendo a raça, cor, etnia, religião ou
origem da vítima. A diferença tem relevância e repercussão prática: Xingar alguém fazendo
referências à sua cor é injúria, crime de ação penal pública condicionada à representação da
vítima, afiançável e prescritível. Impedir alguém de ingressar numa festa por causa da sua cor é
racismo, cuja pena será perseguida mediante ação penal pública incondicionada, inafiançável e
imprescritível”. – Rogério Sanches Cunha
O STJ, no Resp. 686.965/DF, considerou que a injúria racial está na seara dos crimes relativos ao racismo e é
imprescritível, pois tem sentido de segregação, somando-se às definições da Lei 7.716/89. Este
entendimento para grande parte da doutrina, trata-se de imprópria analogia incriminadora.
3.4. Artigo 141 – Disposições gerais: O art.141 traz causas de aumento de pena se a prática de
qualquer um dos crimes contra a honra é cometido:
a) Contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro – Ao atingir um chefe de
governo, entende-se que atinge-se a honra do próprio Estado soberano.
b) Contra funcionário público, em razão de suas funções – Entende-se que ocorre ofensa à
Administração Pública. Caso a injúria não se relaciona com a ofensa proferida, não há incidência da
majorante.
c) Na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou
da injúria – A doutrina convencionou que para que o crime seja cometido diante de “várias
pessoas”, é necessário a presença de ao menos três indivíduos. Aqui, justifica-se o aumento pelo
fato de que a desonra será muito maior.
d) Contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria –
buscou-se, de forma expressa, evitar o bis in idem ao excetuar a injúria.
Parágrafo único - Se o crime for cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a
pena em dobro – é a ofensa mercenária.
 Imunidades/exclusão de crime: A doutrina majoritária aponta que o art.142 traz excludentes de
ilicitude. As imunidades somente são aplicadas aos crimes de difamação e injúria, pois, como a
calúnia é a imputação de fato criminoso, há interesse público na sua elucidação. Segundo o referido
artigo, não constituem injúria ou difamação punível:
a) A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador – Fora do
processo não há aplicação da imunidade. Essa imunidade específica não poderá se aplicar ao juiz,
somente ao advogado, às partes e ao Ministério Público quando este atuar como parte.
b) A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção
de injuriar ou difamar – A análise crítica, quando não possui velada a intenção de injuriar, não pode
configurar crime.
c) O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste
no cumprimento de dever do ofício – Trata-se da imunidade funcional.
Parágrafo único - Nos casos dos incisos I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá
publicidade.
 Retratação: Nos crimes de difamação e calúnia, é possível que o agente se retrate, ou seja, que
volte atrás na ofensa que foi proferida. Isto deverá ocorrer até a sentença de primeiro grau. Se a
difamação ou calúnia foi feita de forma pública, pode-se requererque a retração ocorra do mesmo
modo. Não cabe retratação na injúria por impossibilidade fática (seria algo perceptivelmente falso).
“O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento
de pena”. “Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se
julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz,
não as dá satisfatórias, responde pela ofensa”.
 Ação penal: Via de regra é de iniciativa privada. Sendo a vítima funcionário público, a ação penal
será condicionada à representação. Sendo a vítima o presidente ou chefe de Estado, a ação penal
será condicionada à requisição do Ministro da Justiça. No caso de injúria real, a ação penal é pública
incondicionada.
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando,
no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I
do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do
mesmo artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste Código. 
Tratando especificamente de crime contra honra de funcionário público no exercício de suas
funções, o STF, por meio da súmula 714, consagrou legitimidade concorrente, entre o próprio
funcionário ofendido (queixa – ato inicial da ação penal privada) e o Ministério Público (denúncia –
ato inicial da ação penal pública). A súmula 714 traz a possibilidade do próprio funcionário iniciar a
ação penal, pois muitas vezes o Ministério Público demora para realizar a queixa.
4. DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL:
4.1. Artigo 146 – Constrangimento ilegal: “Constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro modo, a capacidade de resistência, a
não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda”. Trata-se de um tipo penal
subsidiário, cuja subsidiariedade está tacitamente depreendida do seu texto legal, portanto, se o
ato de constrangimento fizer parte de crime mais grave, por este o agente será punido (não há
concurso de crimes, mas mero conflito aparente de normas – a subsidiariedade é um critério que
soluciona este conflito). Para os crimes complexos que contém o constrangimento mediante
violência ou grave ameaça, não se admite, majoritariamente, a ruptura da estrutura do tipo
complexo, para a punição autônoma da lesão parcial.
Qualquer pessoa pode ser o sujeito ativo do crime de constrangimento ilegal, entretanto, se o
agente for um funcionário público no exercício de sua função, a conduta se encontrará tipificada no
artigo 350/CP, ou como abuso de autoridade (Lei 4.898/65). O presente crime admite tentativa.
O constrangimento ilegal em infração de menor potencial ofensivo, é processado na esfera dos
juizados especiais criminais, e, admite, muito embora envolva violência ou grave ameaça,
substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos (interpretação
jurisprudencial do art.44, I).
O delito de constrangimento ilegal permite três formas de execução: violência, grave ameaça e
outros meios capazes de reduzir a resistência da vítima. Por violência entende-se a vis corporalis,
ou seja, o efetivo exercício da força física ou mecânica sobre a vítima. A ameaça é a vis compulsiva,
a violência moral, causando um mal injusto e grave, suficiente para amedrontar. Outro meio que
reduza a capacidade de resistência da vítima é aquele meio de natureza físico-moral que produz
estado fisiopisíquico na vítima, tolhendo-lhe a defesa.
Tem-se veiculado a possibilidade de constrangimento ilegal por omissão: um exemplo seria o da enfermeira
que deixa de alimentar o paciente para que o mesmo realize determinado comportamento.
 Concurso de pessoas e emprego de arma: “As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro,
quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de arma”. – A
incidência da majorante independe de o agente também estar respondendo ou não pelos crimes de
associação criminosa, organização criminosa e/ou porte ilegal de arma. Para o STJ não há violação
ao princípio do ne bis in idem. A justificativa do STJ é que os crimes tutelam bens jurídicos
diferentes, não havendo problema na concorrência. De fato, os bens jurídicos são diferentes, o
problema aqui é o que o fundamento que enseja o aumento de pena, é o mesmo que fundamento
trazido autonomamente para o aumento de pena dos outros dois delitos.
 Violência efetiva: “Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência” – O
§2º afasta expressamente a possibilidade de subsunção dos atos de violência em razão da
aplicação do art.146, desta maneira, se não houver previsão legal de crime mais grave e o agente
no ato do constrangimento lesionou a vítima, responderá tanto pelo constrangimento ilegal quanto
pela respectiva lesão corporal em concurso. Só ocorre quando não há crime autônomo.
 Exclusão do crime: “Não se compreendem na disposição deste artigo: I – a intervenção médica
ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada pro
iminente perigo de vida. II – A coação exercida para impedir suicídio” – Questiona-se a natureza do
§3º: se causa exclusão de tipicidade ou de antijuridicidade, compreendendo-se majoritariamente
pelo último raciocínio. Entretanto, para que se aplique a hipótese justificante do inciso I, partindo-se
de interpretação sistemática, é imprescindível que a intervenção seja o único meio para salvar a
vida do paciente. O Código Penal é extremamente paternalista, deixando a autonomia em segundo
plano.
Segundo o art.15 do Código Civil, ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida,
a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
No caso onde há lesão, a mesma será excluída, pois, pela Teoria da Imputação Objetiva, sempre
que o sujeito age para diminuir o risco mais grave, fica excluída a imputação criminosa.
Uma corrente crê que as ações elencadas aqui são excludentes de tipicidade, enquanto outra crê
que há de exclusão de ilicitude (forma sui generis de estado de necessidade de terceiro).
 Artigo 148 – Sequestro e cárcere privado: “Privar alguém de sua liberdade mediante sequestro
ou cárcere privado”. Trata-se de crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo,
durando o tempo que durar a permanência. Este fator implica em diversos reflexos jurídicos, a
exemplo do tempo do crime (súmula 711, STF) e da prisão em flagrante (art.301 e seguintes do
CPP). Alguns autores diferenciam o sequestro do cárcere privado: a diferenciação se dá em relação
ao ambiente onde ocorre a ação: o sequestro ocorre em ambientes públicos e o cárcere ocorre em
locais privados. Apesar de alguns doutrinadores adotarem essa diferenciação, não há como
determinar de modo claro o que seria uma conduta e o que seria a outra (há um debate doutrinário
que busca definir cada conduta).
 Formas qualificadas:
I – Se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60
anos;
II – Se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital – trata-se
de internação simulada ou fraudulenta, pretexto para privar a vítima da sua liberdade de
locomoção.
III – Se a privação dura mais de 15 dias - Não existe um tempo mínimo de duração da privação de
liberdade, para a caracterização do sequestro. O prazo superior a 15 dias referido no inciso III,
apenas qualifica o delito.
IV – Se o crime é praticado contra menor de 18 anos.
V – Se o crime é praticado com fins libidinosos. - É possível a concorrência entre o artigo 148 e os
crimes contra dignidade sexual, desdeque observado que o agente intentou agredir tanto a
liberdade individual quanto a dignidade sexual.
Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico
ou moral – Aqui, qualifica-se o crime por conta do resultado causado à vítima por conta do delito.
5. DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO: 
5.1. Artigo 155 – Furto: “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel” - Trata-se de crime
de dolo específico ou especial, exigindo-se, portanto, a especial finalidade de se apropriar ou de
fazer com que terceiro se aproprie. É em razão disso que se admite a tese do furto de uso, como
causa de exclusão de tipicidade, dada a falta do elemento subjetivo (especial fim de agir). Por se
tratar de crime contra o patrimônio, a subtração de coisas que tenham valor exclusivamente
sentimental configura crime impossível de furto, dada a absoluta impropriedade do objeto.
Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico – o
direito penal aceita como coisa móvel tudo aquilo que pode ser apreendido ou transportado de um
local para o outro sem perder a sua identidade. A subtração de energia elétrica (“gato”), figura
conduta criminosa nos termos da norma de equiparação do parágrafo §3º. Não se confunde com
estelionato de energia elétrica onde ocorre a adulteração do contador de energia com a finalidade
de pagar menos.
Questão: A captação clandestina de sinal de TV a cabo alheia, se enquadra ou não na norma de
equiparação do parágrafo 3º?
Resposta: Segundo o STF há crime, pois, a norma de equiparação faz menção a energias de valor
econômico (STJ; Resp. 1123747). Para o STF, todavia, muito embora o sinal de TV se assemelhe à
energia elétrica, não há em tais casos, uma subtração propriamente dita, pressuposto
fundamental de todo e qualquer furto, nesse sentido, dada a vedação da analogia prejudicial, a
conduta deve ser considerada atípica (STF; HC 9726, RS).
Questão: Não se exigindo qualidade especial do agente (delito comum), qualquer pessoa pode
ser o sujeito ativo do furto, salvo o proprietário. Este, subtraindo coisa sua que se encontra na
legítima posse de terceiro, pratica qual infração penal?
Resposta: Para a maioria da doutrina, há o delito de exercício arbitrário das próprias razões
(arts. 345 e 346, CP). Magalhães Noronha crê que há furto, pois todos os requisitos são
preenchidos.
 Furto de uso: No furto de uso a finalidade, desde o princípio da ação é de somente usar o bem.
Não se confunde com o arrependimento eficaz ou posterior, pois a todo momento a finalidade era
só de usar o bem e devolvê-lo, nada mais. Uso por breve lapso temporal. Além disso a coisa é
devolvida com a sua integridade preservada. Nas hipóteses de coisas consumíveis fungíveis, alguns
defendem a tese da manutenção do furto de uso. Alguns autores colocam como requisito a não
percepção do furto, porém, este entendimento não é majoritário.
 Causas onde não se aplica o art.155:
a) Funcionário público: Se subtrai ou facilita para que seja subtraído bem público ou particular que
se encontra sob guarda ou custódia da Administração, valendo-se, para tanto, de alguma facilidade
proporcionada pelo cargo, pratica crime de peculato furto (art.312, CP).
b) Remoção de tecidos/órgãos/partes do corpo: Quando há a remoção de tecidos, órgãos ou
partes do corpo de pessoa viva ou de cadáver, o delito praticado encontra-se tipificado no art.14 da
Lei de Transplante de Órgãos (lei 9.434/97).
c) Coisa sem dono ou abandonada: A coisa de ninguém e a coisa abandonada não podem ser
atingidas pelo art.155.
d) Coisa perdida: O crime será de apropriação indébita de coisa achada (art.169, parágrafo único, II,
CP).
e) Coisas públicas de uso comum: só poderão ser objetos material do furto quando destacadas do
local de origem e tenham valor econômico para alguém.
 Causas de aumento:
a) Se o crime é praticado durante o repouso noturno: Repouso noturno para fins de incidência
do §1º, corresponde ao horário em que normalmente os habitantes da região em que se
desenvolveu a ação dormem. Independe do horário habitual de repouso da vítima, ainda que este
seja conhecido pelo sujeito ativo. Trata-se pois, de um elemento normativo do tipo. Não é exigível
que a vítima esteja dormindo ou em sua residência para que se configure a incidência do parágrafo.
O gravame da conduta é maior pois foi praticada em momento onde a sociedade em geral, ocorre
maior vulnerabilidade. O STJ aceita a aplicação da majorante no furto simples e nas formas
qualificadas.
 Consumação x tentativa: Tradicionalmente, sempre se entendeu que o momento consumativo do
furto demandava necessariamente a posse mansa e pacífica da coisa. O STJ, modificou o referido
entendimento passando a exigir somente que a coisa seja retirada da esfera de disponibilidade da
vítima, isto é, com a posse da res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo, consagrando-se a
Teoria da Apprehensio ou Amotio (STJ – Resp. 1524450/RJ e STF – Res. 102490/SP).
 Causas de diminuição:
a) Criminoso primário e de pequeno valor a coisa furtada: Sempre que determinado benefício
está vinculado a requisitos objetivos, nunca deve-se entender como mera faculdade do juiz, pois
tem-se direito público subjetivo do réu.
Furto de pequeno valor Furto insignificante
É o furto de valor inferior a um salário mínimo, O conceito de insignificância é subjetivo, pois leva
e, por isso, pode-se ter furto insignificante e
de pequeno valor.
Trabalha-se com critério objetivo (teto de um
salário mínimo), sendo irrelevante o
patrimônio da vítima.
Trata-se de causa de diminuição de pena.
em consideração as características da vítima.
Trata-se de causa de exclusão de tipicidade.
 Formas qualificadas: 
a) Destruição ou rompimento de barreiras: O obstáculo não pode ser a própria coisa. Qualifica-se
o crime quando há o rompimento do obstáculo. O significado de rompimento de obstáculo é amplo
e tem o sentido de “vencimento de obstáculo”.
Exemplo: quebra-se uma estátua para furtar um pedaço que ouro que a compõe. Neste caso, não
há incidência da majorante.
- Caso do roubo de som do carro: Por conta de quebra da proporcionalidade, haverá furto simples,
ou seja, não incide a majorante de destruição ou rompimento de barreiras. Isto porque o roubo de
todo o veículo seria mais vantajoso do que o roubo do som, visto que, tecnicamente, a majorante
deveria incidir.
b) Abuso de confiança, fraude, escalada ou destreza: A confiança no direito penal não é
presumida, deve ser provada. O furto qualificado pelo emprego de fraude não se confunde com o
estelionato, isto porque, no furto, a fraude é empregada somente para distrair a vítima enquanto o
autor promove a subtração do bem. Já no estelionato uma relação de confiança é travada a ponto
de normalmente ser a própria vítima dê o bem ao estelionatário. Atua com destreza aquele que
possui conhecimento minucioso a respeito de uma determinada prática.
Questão: o chamado “batedor de carteira” ou “punguista” poderá ter seu furto qualificado pela
destreza?
Resposta: A jurisprudência aplica amplamente a referida qualificadora: “Destreza devidamente
comprovado, haja vista consistir na habilidade física ou manual empregada pelo agente na
subtração, fazendo com que a vítima não perceba seu ato, como é o caso dos autos. Pacífico
entendimento doutrinário no sentido de ser este o meio empregado pelos batedores de carteira,
‘pick-pockets’ ou punguistas, na gíria criminal brasileira” – TJSP; AP: 0019494-
07.2014.8.26.0050.
c) Emprego de chave falsa: A chave falsa que qualifica o furto não poderá ser a própria chave,
ainda que obtida mediante cópia feita ocultamente. A chave falsa é também chamada de chave
mixa ou de gazua.
Questão: o emprego de chave mestra qualifica o crime de furto?
Resposta:Nelson Hungria entende como chave falsa: (a) chave que imita a verdadeira; (b) chave
diversa da verdadeira, mas alterada de modo a poder abrir a fechadura; (3) gazua. O STJ entende
que “o conceito de chave falsa abrange todo o instrumento, com ou sem forma de chave,
utilizado como dispositivo para abrir fechadura”.
Tem-se entendido que, se no roubo do carro a chave for utilizada para abrir o veículo, incidirá a
qualificadora. Se entretanto, a chave for utilizada apenas para movimentar o veículo, não há a
incidência da qualificadora.
d) Concurso de duas ou mais pessoas:
Questão: Subtração em estabelecimentos com sistema de monitoramento e vigilância que sejam
frustradas em razão do acompanhamento da ação pelas câmeras configura tentativa de furto ou
crime impossível? Como decide o STJ?
Resposta: A 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul entende a ação como
crime impossível por absoluta ineficácia do meio. Luiz Flávio Gomes entende que não há como se
tratar de crime impossível, pois o meio é eficaz e o objeto é existente. Fernando Capez e
Bitencourt creem que há tentativa de furto. Rogério Sanches defende a análise do caso concreto,
até porque, o fato da presença da câmera excluir o crime, fomentaria práticas criminosas, pois,
no máximo, o indivíduo teria que devolver a coisa.
O STF crê que há tentativa, pois, equipamentos de segurança apenas dificultam a consumação,
mas não a impede por completo. A 6ª Turma do STJ se manifestou da mesma forma (HC
115555/SP).
 Veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado (inclusão pela lei
9.426/96): A consumação deste parágrafo só ocorrerá quando o veículo de fato chagar ao outro
estado ou ao exterior. Se consegue-se mostrar a intenção do transporte, pode-se falar em tentativa.
5.2. Artigo 156 – Furto de coisa comum: “Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou
para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum” – Não se pune a subtração de coisa
comum fungível, cujo valor não exceda a quota a que tem direito o agente. A ação penal é privada
mediante representação. O crime de furto de coisa comum é próprio (só pode ser praticado pelo
condômino, coerdeiro ou sócio), e não se pune quando o bem é substituível e o agente não excedeu
sua quota-parte. Segundo Rogério Sanches, o objeto jurídico aqui é o mesmo do furto (propriedade,
posse ou detenção), entretanto, muda-se a qualidade da coisa subtraída, agora não mais alheia, e
sim comum, ou seja, pertencente a várias pessoas, dentre elas o próprio sujeito ativo. Vale ressaltar
que o crime de furto de coisa comum é punido a título de dolo, ou seja, é necessário que haja a
vontade consciente de subtrair para si ou para outrem coisa comum.
5.3. Artigo 157 – Roubo: “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade
de resistência” – a diferença entre roubo e o furto está na violência ou grave ameaça à pessoa, pois
é um elemento indispensável ao roubo. O roubo é crime complexo, ou seja, tutela a um só tempo
mais de um bem jurídico (tutela o patrimônio e a liberdade individual da vítima). Por ser conduta de
elevada ofensividade, não aplica-se o princípio da insignificância. Admite-se aqui dupla sujeição
passiva, pois, a violência pode se direcionar a um sujeito e a subtração da coisa a outro. De acordo
com o STJ, o roubo se consuma no momento em que o agente se torna possuidor da coisa, ainda
que com breve lapso, sendo desnecessária a posse mansa e pacífica (STJ; Resp. 1440167, RS e STF;
HC 110642, RS). Enquanto o caput traz o roubo próprio ou propriamente dito, o parágrafo primeiro
traz o roubo impróprio, e, neste caso, a violência ou grave ameaça ocorre após o ato. Discute-se a
possibilidade de aplicação de tentativa no roubo impróprio.
 Uso de arma: “A pena aumenta –se de 1/3 até metade se a violência ou ameaça é exercida com
emprego de arma” – A arma aqui poderá ser tanto uma arma própria (fabricada com o intuito de
ferir alguém), quanto uma arma branca (não é criado para ferir, mas poderá ser utilizado com essa
finalidade). A respeito da arma de brinquedo o STJ possuía entendimento pacificado através da
Súmula 174, que previa especificamente que a arma de brinquedo seria considerada para fins de
aumento de pena de roubo. Esse entendimento perdurou por muitos anos, até o momento que a
súmula foi cancelada pela própria corte. Com o cancelamento da súmula, as cortes superiores vêm
externando que a causa não mais incide nos roubos perpetrados com arma de brinquedo. O mesmo
aplica-se às armas quebradas ou desmuniciadas. Segundo Cézar Roberto Bitencourt, é necessário
que efetivamente tenha-se o emprego de arma, ou seja, apenas portá-la não enseja a incidência da
majorante (a não ser que se trate de porte de arma ostensivo). 
O desvalor de uma conduta pode decorrer da própria ação ou do resultado que dela sobrevém. No caso do
uso de arma de brinquedo, tem-se o desvalor da ação, mas não do resultado, e por isso, não se equipara a
arma de brinquedo à arma de fogo.
A arma de brinquedo justifica à grave ameaça do caput, mas não aumento. Pode haver concurso
entre porte ilegal de arma e o roubo aumentado. O concurso não se aplica no caso da arma de
brinquedo. A arma desmuniciada ou quebrada porém verdadeira caracteriza o roubo do caput
podendo ocorrer concurso com o porte, visto que este trata-se de crime de perigo abstrato,
justificando a punição autônoma inclusive. Para a incidência da majorante, a perícia faz-se
necessária, seja de modo direto, seja indireto. Caso não haja a possibilidade perícia, pode-se
frustrar a incidência da majorante.
 Concurso de pessoas: No computo mínimo da quantidade de pessoas deve-se considerar
eventuais inimputáveis ou agentes não identificados. “Apesar de divergente, tem-se decidido não
configurar bis in idem a condenação do réu pelos crimes de bando e roubo qualificado pelo
concurso de pessoas porque as infrações são distintas e independentes (RT 631/321; 719/412).
 Transporte de valores: Trata-se de importante aumento de pena. Trabalha-se com o transporte de
valores caso o agente possua o conhecimento (uma outro correte acrescenta a necessidade do
transporte ser próprio). Esta majorante liga-se ao interesse do Estado em garantir segurança ao
transporte de valores.
Questão: O assalto ao office boy ou ao cobrador de ônibus aceitam a incidência da majorante?
Resposta: No caso do office boy, a qualificadora incide se a vítima está trabalhando com
transporte de valores. Já nos casos de assalto a ônibus, entende-se não ser possível a incidência:
“A qualificadora de transporte de valores (art.157, §2º, III, do CP) não incide no roubo verificado
em ônibus coletivo, por se tratar de serviço de transporte de passageiros e não de transporte de
valores” – TJMG, AP: 2.0000.00.483776-3/000.
 Veículo automotor transportado para outro estado ou exterior.
 Manter a vítima em seu poder restringindo sua liberdade: o roubo com aumento de pena
pela restrição de liberdade não se confunde com a hipótese de concurso de crimes entre roubo e
cárcere privado. A diferença reside na utilidade da privação de liberdade e sua duração, pois no
roubo, a privação somente existe para o estrito fim de viabilizar a fuga e o êxito do criminoso,
portanto, caso o tempo de privação extrapole o necessário, fala-se em concurso de crimes.
 Roubo agravado pelo resultado: Segundo o §3º do art.157 “se da violência resulta lesão
corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a
reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa”. Deve-se perceber que o roubo seguido de
lesão grave não se confunde com o latrocínio. Latrocínio é o roubo seguido de morte, seja a mortetentada ou consumada, entretanto, deve haver a intenção. O latrocínio é classificado com crime
qualificado pelo resultado, portanto, o elemento subjetivo desdobra-se em dois momentos: a
conduta antecedente e o resultado consequente. O roubo seguido de lesão grave também é crime
qualificado pelo resultado, todavia, aqui, ou havia a intenção de lesionar ou a lesão é culposa – não
se fala em roubo qualificado por lesão grave se a intenção do agente em algum momento foi a de
matar vítima. No plano objetivo, não há diferença entre a tentativa de latrocínio e o roubo
qualificado pela lesão grave, mas, subjetivamente, no que diz respeito ao resultado consequente, a
conduta se diferencia (há a análise da intenção). O latrocínio também não deve ser confundido com
o homicídio seguido de furto, pois, nesse caso, a intenção é matar sem finalidade de subtração
patrimonial, e, uma vez alcançada a morte, inaugura-se uma nova linha subjetiva, em que o agente
subtrai um bem da vítima.
MOMENTO CONSUMATIVO DO LATROCÍNIO
Conduta antecedente
(subtração)
Resultado consequente
(morte)
Iter criminis
Consumada Consumada Latrocínio consumado
Tentada Tentada Latrocínio tentado
Tentada Consumada Latrocínio consumado (súmula
610, STF).
Consumada Tentada Latrocínio tentado (lógica
inversa)
O latrocínio é crime complexo, e encontra-se situado no título que trabalha os crimes contra o
patrimônio (tutela complexamente os bens jurídicos patrimônio e vida). O momento consumativo do
crime se dá pela ocorrência ou não da morte. A competência, em todo e qualquer caso de
latrocínio, não será matéria do tribunal do júri.
5.4. Artigo 158 – Extorsão: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o
intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça
ou deixar de fazer alguma coisa”. A extorsão é um crime formal, portanto, crime de consumação
antecipada – o momento consumativo se dá com o resultado jurídico, ou seja, com o atingimento do
bem jurídico, e não com o resultado naturalístico, qual seja, a obtenção da vantagem econômica
(Súmula 96, STJ). A extorsão possui três estágios: (1) exigência da vantagem; (2) constrangimento
da vítima; (3) obtenção da vantagem – resultado naturalístico, que no caso é prescindível e
dispensável. A extorsão se consuma com o efetivo constrangimento da vítima, isto é, quando esta
está disposta a ceder à exigência. Jurisprudencialmente, este momento é identificado a partir da
prática de qualquer ato da vítima que identifique esta disposição de ceder à chantagem. Cabe falar
em tentativa de extorsão, entretanto, a configuração é difícil.
Questão: Rafael liga para Karen e ameaça matar a mãe da mesma caso ela não transfira a
quantia de R$: 10.000,00 para sua conta. Karen engana Rafael dizendo que faria a transferência,
mas que não possuía tal quantia em conta. Desesperada com a situação, Karen vai a uma
delegacia, narra a situação ao delegado, e vai ao encontro de Rafael para, supostamente lhe
entregar o valor exigido. Durante a ação monitorada por policiais, Rafael é preso em flagrante.
Resposta: 
 Roubo x extorsão:
ROUBO EXTORSÃO
Material Formal
Ameaça é contemporânea à lesão
patrimonial
Ameaça transferida para o futuro (chantagem)
Agente independe da ação da vítima A “colaboração” da vítima é imprescindível para a
obtenção da vantagem
 Concurso de pessoas e emprego e arma: Aqui, pode haver cumulação da extorsão com a
associação criminosa e com o aumento previsto pelo §1º do art.158. Indica Rogério Sanches que é
necessário, para caracterizar o concurso de pessoas que, efetivamente, dois ou mais agentes
executem o núcleo constranger (a mera participação não serve para constituir a causa de
aumento). Concorrentes inimputáveis ou não identificados serão computados.
 Lesão corporal grave e morte: aplica-se a qualificadora prevista no §3º do crime de roubo. A
lesão corporal ou morte deve ocorrer por dolo ou culpa.
 Sequestro relâmpago: Art.158, §3º. Aqui, tem-se a figura do sequestro relâmpago. Antes desta
figura ser expressamente prevista pelo Código Penal, havia grande polêmica acerca da questão da
tipificação. O entendimento jurisprudencial era de que esta conduta era extorsão: não acatava a
tese de roubo com restrição de liberdade porque neste caso a restrição é forma de viabilizar a fuga,
e aqui não há essa finalidade. A tese de que a figura do sequestro relâmpago era extorsão
mediante sequestro também não era aceita, pois, não há a exigência de resgate, como ocorre na
extorsão mediante sequestro. Os tribunais já entendiam que o sequestro relâmpago se tratava de
extorsão, mas, por conta das dúvidas geradas, houve a introdução legislativa, consolidando a
matéria. Vale ressaltar que a lei de crimes hediondos considera hedionda somente a extorsão
qualificada por morte – no caso da extorsão mediante sequestro, tem-se crime hediondo em todas
as suas modalidades. Em havendo lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no
art.159, §§ 2º e 3º, respectivamente.
 Constrangimento ilegal x extorsão: “A finalidade que orienta os dois delitos é diversa, pois no
constrangimento busca-se a restrição da liberdade (eis o fim almejado); na extorsão, o
enriquecimento do agente (o constrangimento, aqui, é meio)” – Rogério Sanches.
OBS: Se a indevida vantagem visada for de natureza moral, há constrangimento ilegal. Se a
vantagem for sexual, há estupro. Se a vantagem for devida, há exercício arbitrário das próprias
razões.
5.5. Artigo 159 – Extorsão mediante sequestro: “Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si
ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate”.
Extorsão x extorsão mediante
sequestro
A diferença está no meio, na forma em que se dá o
constrangimento da vítima.
Sequestro x extorsão mediante
sequestro
A diferença está na finalidade – no sequestro tem-se
crime contra a liberdade, sem elemento subjetivo
específico.
Sequestro relâmpago x extorsão
mediante sequestro
No sequestro relâmpago não há o pedido de resgate
como condição para a libertação da vítima.
A extorsão mediante sequestro possui dolo específico/especial, pois, há um especial fim de agir,
qual seja, a vantagem patrimonial. A art.159 admite perfeitamente a dupla sujeição passiva: pode
ser que a pessoa sequestrada não seja aquela que irá suportar o prejuízo patrimonial, e isso não
descaracteriza o crime.
Questão: Orlando, para obter vantagem no resgate, sequestra Mateus e Suzana, irmãos gêmeos,
e, exige que seus pais paguem pela libertação dos jovens. Concluída a ação, Orlando é preso em
flagrante e o promotor está em dúvida sobre quantas vezes imputará ao denunciado o art.159,
pedindo a sua opinião.
Resposta: 
A consumação da extorsão mediante sequestro se dá com a privação da liberdade: enquanto durar
a privação da liberdade, o crime estará se consumando. Desta forma, trata-se de crime
permanente, permitindo o flagrante a qualquer tempo da privação, começando a correr a prescrição
somente após cessada a permanência. Haverá crime ainda que a vítima não seja removida para
outro local. Note que, o crime de extorsão mediante sequestro é formal, consumando-se com a
privação de liberdade da vítima – o recebimento do resgate é mero exaurimento.
 Qualificadoras:
a) Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou
maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha – não existe
necessidade de prazo mínimo para a caracterização da extorsão mediante sequestro. Se a ação
durar mais de 24 horas, se está diante de uma qualificadora. A qualificadora por conta da idade se
dá diante da maior vulnerabilidadedos agentes. Existem diversos julgado do STJ no sentido de que,
o concurso da extorsão mediante sequestro qualificada pelo concurso de pessoas cumulada com o
crime de associação criminosa não constitui bis in idem (ex: HC 230/484/SP).
b) Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave. A lesão corporal deve decorrer de dolo ou
culpa.
c) Se resulta morte. A morte deve decorrer de dolo ou culpa.
 Causa de diminuição:
d) Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a
liberação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços – Trata-se de inserção
realizada pela lei 9.269/96. Posteriormente, a lei 9.807/99, lei de proteção às vítimas, testemunhas
e réus colaboradores, passou a prever no art.13, a possibilidade de concessão de perdão judicial.
Recentemente, a nova lei de organização criminosa (12.850/13), passou a prever a
colaboração/delação premiada, como causa de diminuição de pena, substituição ou perdão judicial,
conforme o caso.
OBS: Concorre para a extorsão mediante sequestro o agente a quem, na divisão de tarefas, cabe
providenciar alimentos para os sequestradores e vítimas, alugar locais para servir de cativeiro, ou
prestar outros apoios táticos. Ainda que não tenha abordado e dominado os ofendidos (RJTACRIM
66/85).
Questão: É possível que pessoa jurídica seja vítima de crime de extorsão mediante sequestro?
Resposta: Segundo Rogério Grego, sim: “também é possível que a pessoa jurídica goze do status
de sujeito passivo do delito de extorsão mediante sequestro, uma vez que seus sócios podem,
por exemplo, ser privados da sua liberdade, para que se efetue o pagamento do resgate por
intermédio do patrimônio da pessoa jurídica a eles pertencente.
6. DO DANO:
6.1. Artigo 163 – Dano: Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. Trata-se de crime
necessariamente doloso. Tem-se aqui crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa
que não seja o proprietário da coisa. Trata-se de crime de ação múltipla, envolvendo três verbos
nucleares. O crime de dano, via de regra, poderá ser absolvido se a intenção é a prática de crime
mais gravoso. Para que se fale em crime de dano, a intenção deve ser a de destruir a coisa. O crime
de dano é de menor potencial ofensivo, portanto, de competência dos juizados especiais. Além dos
benefícios penais, é cabível a suspensão condicional. A conduta pode ser comissiva ou omissiva (o
agente se abstém de zelar pela coisa).
 Dano qualificado: Nos casos do crime de dano qualificado, não há menor potencial ofensivo, mas,
cabe a suspensão condicional do processo. O dano qualificado ocorre: (1) se o crime for cometido
com violência ou grave ameaça; (2) se há emprego se substancia inflamável ou explosiva, se o fato
não constituir crime mais grave; (3) se for contra patrimônio da União, Estado, Município, empresa
concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista; (4) por motivo egoístico ou
com prejuízo considerável para a vítima. No caso do dano qualificado onde há violência ou grave
ameaça à pessoa, além de responder pela forma qualificada do dano, poderá ser imputado ao
agente, conforme o caso, crime contra a integridade (depende da interpretação do magistrado).
OBS: O ato de pichação atualmente se encontra tipificado no art.65, da Lei 9.065/98. Deteriorar
objetos destinados ao culto religioso gera o crime do art.208, CP. Dano sobre documento (público ou
particular), em benefício próprio ou alheio ou em prejuízo de terceiro, se ajusta ao disposto no
art.305, CP. Dano praticado por militar se subsume ao art.259 do Decreto-Lei 1.001/69 (Código
Penal Militar). Rasgar ou de qualquer forma inutilizar ou conspurcar (colocar ou deixar cair sujeira
sobra) edital afixado por ordem de funcionário público, violar ou inutilizar selo ou sinal empregado,
por determinação legal ou por ordem de funcionário público, para identificar ou cerrar qualquer
objeto, caracteriza o crime do art.336, CP. Subtrair ou inutilizar livro oficial, processo ou documento
confiado à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público configura
o crime previsto no art. 337 CP. Inutilizar ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de valor
probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou procurador, se adequa ao previsto no art.
356, CP.
7. APROPRIAÇÃO INDÉBITA:
7.1. Artigo 168 – Apropriação indébita: “Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem posse
ou a detenção”. O bem jurídico tutelado é a propriedade – o agente, abusando da sua condição de
possuidor ou detentor da coisa, passa a ter o bem como seu. Trata-se de crime próprio, uma vez
que o sujeito ativo é necessariamente o possuidor ou detentor da coisa. O momento consumativo
se dá pela inversão do animus da posse que, inicialmente é de boa-fé, toada via, em um segundo
momento, o sujeito passa a desejar a coisa como sua (animus rem sibi habendi). Caso não haja a
inversão do animus da posse, não consiste em apropriação indébita o simples atraso na devolução
da coisa, seja intencional ou não. Jurisprudencialmente, a consumação é identificada quando o
antes possuidor, passa a agir como o dono da coisa. Se o funcionário público, apropriando-se de
coisa, pública ou particular, em seu poder em razão do ofício, comete crime de peculato.
Para que haja apropriação indébita, a vítima deve voluntariamente entregar o bem. A posse ou
detenção deve ser desvigiada (se o funcionário se aproveita de descuido do patrão e apropria-se de
algo, há furto). A ação do agente deve recair sobre coisa alheia móvel. Deve ocorrer inversão do
ânimo da posse.
 Majorantes: (1) se o agente recebeu a coisa em depósito necessário; (2) em razão da qualidade
pessoal do agente (tutor, curador, síndico, inventariante, testamentário ou depositário judicial; (3)
em razão de cargo, ofício, emprego ou profissão.
ESTELIONATO X APROPRIAÇÃO INDÉBITA
No estelionato, o agente atua de má-fé
desde o momento inicial da conduta
Na apropriação indébita o sujeito inicialmente
atua de boa-fé
Questão: O manobrista que fica com o veículo do cliente, fugindo com o automóvel, pratica furto
qualificado pela fraude ou apropriação indébita?
Resposta: Pratica apropriação indébita, pois, o animus inicialmente era de boa-fé. Quando ocorre
a inversão do animus da posse, ocorre a apropriação. 
 
8. DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES:
8.1. Art. 171 – Estelionato: “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
fraudulento”. Trata-se de crime material, portanto, não se consuma com o simples emprego do ato
fraudulento, mas sim quando da obtenção da vantagem indevida. Este crime é tratado como crime
de conduta vinculada, há um meio que marca a pratica do estelionato, qual seja, a fraude. A fraude
se dá quando há o induzimento ao erro criado pelo próprio estelionatário. A manutenção do erro
ocorre quando a vítima já encontra-se espontaneamente equivocada e o estelionatário se aproveita
disso. No estelionato, o dolo ocorre desde o início da prática da conduta. Veja-se que, para existir o
crime, e necessário a presença de três elementos: fraude, vantagem ilícita (se a vantagem for lícita,
há exercício arbitrário da razão) e prejuízo alheio.
Disposição de coisa alheia como própria: I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia
coisa alheia como própria; 
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria: II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia
coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante
pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
Defraudação de penhor: III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a
garantia pignoratícia, quando tem a posse

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