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TEORIA DAS PENAS Fichamento do livro “Vigiar e Punir” - Michael Foucault. O corpo dos condenados. O primeiro capítulo do livro, Vigiar e Punir de Michel Foucault é intitulado como, “O corpo dos condenados”, onde é descrito um sistema penal "corretivo" baseado na tortura, cujo qual era um método inerentemente irracional e desumano que estava em vigor no sistema penal até o final do século XVII, principalmente na Europa onde prevaleciam os governos monárquicos, e apontou que o castigo aplicado aos condenados era abolido devido à contínua dor física cruel que consistia em sentenças e mais sentenças. Foucault cita exemplos específicos quem descrevem a forma cruel como os condenados eram punidos e que consistia em submeter o condenado a dor e ao sofrimento, até chegar á morte, variando de acordo com a intensidade do crime. As cabeças eram mutiladas, os corpos eram esfaqueados, desmembrados muitas vezes com ajuda até mesmo de cavalos e em seguida pendurados em uma fornalha de água fervente, bem como todas as formas de tortura imagináveis. Essa violência brutal recebeu o nome de SUPLÍCIO, como o soberano tinha poder total sobre o corpo do súdito, punia o criminoso fazendo o sofrer e desta forma a vingança do soberano era também a vingança da sociedade. Em 1830 e 1848 desaparece o suplício “o castigo”, e fica então somente a encenação da dor, a pena não envolve mais o sofrimento e sim o fim da liberdade, gerando então a suspensão de direitos. Dessa forma, gradualmente a tortura, pelo menos na forma que era aplicada, começou a ceder a um novo método de punição, o esboço do sistema prisional como conhecemos hoje, que é regido pela disciplina, trabalho e educação. A execução pública é vista então como uma fornalha em que se acende a violência. A punição vai se tornando a parte mais velada do processo penal, provocando várias consequências, deixa o campo da percepção quase diária e entra no da consciência abstrata. A sua eficácia é atribuída então a sua fatalidade e não a sua intensidade visível, como era feito nas punições em praça pública, a certeza de ser punido é o que deve desviar o homem do crime e não mais o abominável teatro. O sofrimento físico, a dor do corpo não faz mais parte dos elementos constitutivos da pena. Quase sem tocar o corpo, a guilhotina suprime a vida, tal como a prisão suprime a liberdade, ou a multa tira os bens. Ela aplica a lei não tanto a um corpo real e susceptível de dor quanto a um sujeito jurídico, detentor, entre outros direito, do de existir. Nesse momento, as infrações passam a fazer parte do campo cientifico, onde passam a ser analisadas e apreciadas a fim de buscar a melhor medida para a correção do indivíduo. Para tal estudo, o Juiz passa a ter ajuda de peritos, magistrados de penas, educadores, psiquiatras e psicólogos, buscando mostrar que seu papel não é de apenas julgar, mas de também “curar”. O papel de um psiquiatra não será o de um perito responsável, mas sim o papel de “conselheiro” penal na administração da pena; cabe a ele decidir se o indivíduo é perigoso, como se proteger dele, como intervir para mudá-lo, se é melhor tentar suprimi-lo ou tratá-lo. No começo da história a perícia psiquiátrica apreciava a participação da liberdade do infrator no ato que cometera, agora tem que sugerir uma receita, um tratamento médico-judicial. A operação penal inteira carregou-se de elementos e personagens extrajurídicos. Pode-se dizer que não há nada de extraordinário nisso, que é do destino do direito absorver pouco a pouco elementos que lhe são estranhos. Mas uma coisa é rara na justiça criminal moderna: se ela se carrega de tantos elementos extrajurídicos, não é para poder qualifica-los juridicamente e integrá-los pouco a pouco no estrito poder de punir; é ao contrário, para poder fazê-los funcionar no interior da operação penal como elementos não jurídicos; é para que essa operação seja pura e simplesmente uma punição legal; é para escusar o juiz de ser pura e simplesmente aquele que castiga. A ostentação dos Suplícios Como mencionando anteriormente, o suplício era uma pena corporal dolorosa que servia como uma forma de deixar evidente a autoridade e o poder do soberano, mas esse poder era irregular, excessivo e arbitrário. Diante disso, fica clara a ostentação dos suplícios, cuja razão legítima foi encontrada no absolutismo francês, uma vez que o controle do monarca sobre a legislação é tão grande que ele transforma sua ofensa em um crime pessoal. Portanto, além de impedir o criminoso de cometer outro crime, a condenação também evidenciava a ira do monarca. O suplício foi aceito pelo povo por um longo tempo, pelo fato de ser revelador da verdade e agente do poder. Existem três critérios principais para que uma pena seja considerada um suplício: Produzir certa quantidade de sofrimento que se possa, se não medir exatamente, ao menos apreciar, comparar e hierarquizar; a morte é um suplício, na medida em que ela não é uma privação do direito de viver, mas a ocasião e ao termo final de uma graduação calculada de sofrimentos. O suplício penal não corresponde a qualquer punição corporal é uma produção diferenciada de sofrimentos, um ritual organizado para marcação das vítimas e manifestação do poder que pune. Como suplício da verdade, o interrogatório encontra seu funcionamento. A confissão é a peça complementar de uma informação escrita e secreta. Porém, vale destacar que o interrogatório não é uma maneira de arrancar a verdade a qualquer custo. É cruel, mas não selvagem. Trata-se de uma prática regulamentada que obedece a um procedimento definido. “Sofrimento, confronto e verdade estão ligados uns aos outros na prática da tortura” O ritual que produz verdade caminha juntamente com aquele que impõe a punição. O corpo, assim, continua sendo peça essencial na cerimônia do castigo público. “O ciclo está fechado: da tortura à execução, o corpo produziu e reproduziu a verdade do crime”. No entanto, essa forma de julgar, poderia ser vista como forma injusta, por exemplo, o juiz pode interrogar um assassino, que tenha forças e frieza para esconder e negar o seu crime, como pode interrogar um inocente, que ao não aguentar as pressões e torturas, acabava assumindo um crime que não cometeu. O povo é, sem dúvidas, o personagem principal das cerimônias de suplício. Atraídos pelo espetáculo feito para aterroriza-los, podem até alterar o rumo do momento punitivo, impedindo assim a execução, perseguindo os executores, fazendo tumulto contra a sentença etc. A revolta da sociedade contra os suplícios foi de grande importância, vários fatos íntimos foram ocorrendo e a indignação popular foi fundamental. Os condenados que sofriam suplícios, quando morriam, eram tidos como heróis porque se arrependiam, enquanto ainda estavam vivos e eram salvos, a população os “ressocializava”.
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