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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Legislação Penal Especial Professor: Luiz Fernando Vaggione Aulas: 05 | Data: 11/06/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO CRIMES HEDIONDOS – Lei 8.072/90 1. Prisão Temporária – Lei 7.960/89 2. Estabelecimentos Federais de Segurança Máxima 3. Livramento Condicional 4. Delação Premiada e Crimes Hediondos TORTURA – Lei 9.455/97 1. Crimes de Tortura 2. Condenação CRIMES HEDIONDOS – Lei 8.072/90 1. Prisão Temporária – Lei 7.960/89 Tem caráter excepcional. Em se tratando de crimes hediondos o art. 2º, §4º, Lei 8.072/90 traz os crimes passiveis de prisão temporária. Art. 2º, § 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. No tocante aos requisitos da prisão temporária lembramos que deverá ser aplicado o artigo 1º da Lei 7.960/89 que exige uma das seguintes situações para o cabimento da prisão temporária: 1- Imprescindibilidade para as investigações policiais. 2- Investigado sem residência fixa ou elementos insuficientes para sua identificação. 3- Indícios razoáveis de autoria ou participação nos crimes previstos na Lei. O prazo da prisão temporária é de até 5 dias prorrogáveis por mais 5 dias. Contudo, a Lei dos crimes hediondos traz o prazo de até 30 dias prorrogáveis por igual período de 30 dias. Atenção: O tempo de prisão temporária inicialmente decretado pelo juiz, limitará a prorrogação dessa prisão, assim fixados “X” dias inicialmente, a prorrogação não pode ser superior a “X” dias. 2. Estabelecimentos Federais de Segurança Máxima (art. 3º) A transferência de presos condenados ou provisórios é regulada por outra lei especial (Lei 11.671/2008). A transferência desses indivíduos presos será da iniciativa: da autoridade administrativa, do Ministério Público, ou do próprio preso. O juiz estadual, fara um exame da admissibilidade desse pedido, e positivo o exame, encaminhara ao juiz federal que decidirá sobre a transferência ou não. Essa transferência tem como pressuposto a segurança pública ou a segurança do próprio preso. Página 2 de 5 3. Livramento Condicional (art. 83 do CP) Exige requisitos de duas naturezas: a. Natureza Objetiva = Se o condenado é primário deve cumprir 1/3 da pena. Se o condenado for reincidente deve cumprir 1/2 da pena Se condenado por crime hediondo o prazo de pena cumprida exigida será de 2/3 da pena, independente da primariedade ou reincidência. Contudo não pode ser reincidente específico, quando não terá direito ao benefício. Obs.: Reincidência específica, para a maioria, deve ser entendida como a condenação anterior e a posterior envolvendo crimes hediondos ou assemelhados, sem a necessidade de que se tratem do mesmo tipo penal (mas há discussão com as carreiras defensivas que exigem o mesmo tipo penal). b. Natureza Subjetiva = Continua sendo, como regra, o bom comportamento carcerário. Excepcionalmente o juiz pode determinar o exame criminológico. Obs.: A figura do artigo 6º não enseja preocupação porque as alterações nas penas, nos crimes que indica, já foram realizadas. 4. Delação Premiada e Crimes Hediondos Pontos Comuns - Colaboração Voluntária - Informações prestadas à autoridade judicial (Juiz ou MP) . Delação Premiada – Lei 8.072/90 A delação resulta na redução da pena de 1/3 a 2/3. O juiz atento à qualidade e relevância das informações recebidas fixará quanto da redução. . Delação Premiada nos Crimes Hediondos No crime de extorsão mediante sequestro (art. 159, §4º, CP) a finalidade da delação é alcançar a liberdade do sequestrado. No art. 8º, parágrafo único, temos a referência ao crime de associação criminosa do art. 288 do CP (antiga quadrilha ou bando), e se busca o desmantelamento (total ou parcial) da associação criminosa. Nota: Como a Lei 8.072/90 silencia sobre a forma e regramento para concessão desse benefício podemos buscar na Lei 12.850/13 (Lei do Combate ao Crime Organizado), especificamente nos artigos 4º a 7º as informações que supriram as lacunas mencionadas. Ressalta-se o disposto no § 16 do art. 4º, mencionado, que trata da valoração probatória ligada as informações obtidas com a colaboração. Segundo o § 16 nenhuma sentença condenatória será proferida com base exclusivamente nas informações obtidas pela colaboração. Associação Criminosa (art. 288 do CP) Condenado o réu como incurso nesse dispositivo, três soluções diversas podem ser aplicadas, dependendo da hipótese: Página 3 de 5 1ª. Condenação do art. 288, caput: Reclusão de 1 a 3 anos. 2ª. Condenação no art. 288, parágrafo único: Aumenta-se a pena até a 1/2 em caso de associação armada ou com a participação de crianças ou adolescente. 3ª. Condenação art. 8º, caput, Lei 8.072: Reclusão de 3 a 6 anos, desde que os associados visem o cometimento de crimes hediondos ou assemelhados. Art. 9º da Lei dos Crimes Hediondos Foi tacitamente revogado pela Lei 12.015/09, pois esta lei ao revogar expressamente o art. 224 do CP, inviabilizou a incidência do art. 9º, pois um dos seus requisitos era justamente a situação de maior vulnerabilidade da vítima, que deveria ser menor de 14, ou alienado ou debilmental, ou que não pôde resistir ao crime por outro motivo. A inaplicabilidade do art. 9º estende-se a todos os crimes que ele próprio menciona. TORTURA – Lei 9.455/97 1. Crimes de Tortura Art. 1º, inciso I – Constranger alguém: O sujeito passivo é qualquer pessoa. No sujeito ativo, por ser um crime comum, pois pode ser cometido por qualquer indivíduo. As convenções assinadas pelo Brasil têm como primeira preocupação os agentes públicos – A pena será aumentada se o crime for cometido por funcionário público. O “modus operandi” do crime de tortura pode ser praticado mediante violência ou grave ameaça. O resultado é o sofrimento da vítima, que pode ser físico ou mental. O crime exige finalidades específicas: a. Tortura-prova: O agente pretende obter declaração, informação ou confissão da vítima ou de terceira pessoa. b. Tortura para a prática de crime: Busca-se uma ação ou omissão de natureza criminosa. c. Tortura discriminação: Discriminação de natureza racial ou religiosa. Atenção: Observe que não está dentre as finalidades do agente prevista o objetivo de satisfação com a dor alheia, ou seja, a tortura pelo prazer de ver o outro sofrer. Art. 1º, inciso II – Submeter alguém: O sujeito passivo é uma pessoa sobre a guarda, poder ou autoridade do sujeito ativo. Será um crime comum, desde que o agente tenha uma ascendência sobre a vítima, ou seja, essa pessoa deve estar sobre sua guarda, poder ou autoridade. É por essa razão que se sustenta que no inciso II o sujeito ativo tem qualidade especial, levando a firmação de que se trata de um crime próprio. Será praticado por meio de violência ou grave ameaça. O resultado é o intenso sofrimento físico ou mental. A intensidade reclamada no inciso II, ora estudado, tem como objetivo distinguir a tortura de crime muito mesmo grave, isto é dos maus tratos previsto no art. 136 do CP. Página 4 de 5 Outras diferenças entre essas figuras: Em primeiro lugar destaca-se os meios de execução do crime: No artigo 136 do CP temos a privação de alimentos, cuidados necessários, trabalha excessivo ou não adequado, situações não verificadas na pratica da tortura. Ainda o abuso dos meios de correção. Em relação a esses meios de correção, quando gerarem intenso sofrimento aplicaremos o crimede tortura. As finalidades também devem ser ressaltadas, pois no art. 136, CP cuida-se do objetivo educação, ensino, tratamento ou custódia. O inciso II exige que o agente busque uma das duas situações nele previstos: a. Castigo pessoal b. Aplicação de medida de caráter preventivo Art. 1º, §1º Impõe-se a mesma pena de reclusão de 2 a 8 anos àquele que submete pessoa presa ou sujeita ao cumprimento de medida de segurança causando-lhe sofrimento físico ou mental. Atenção1: O §1º, ora estudado, não exige finalidade específica, o que só se reclama nos incisos I e II. Atenção2: O “modus operandi” também é diverso dos incisos precedente: a. Prática de ato não previsto em lei b. Ato não decorrente de uma medida legal São enquadráveis nesse parágrafo quaisquer atos de autoridade ou seus agentes que dolosamente apliquem medidas ilegais ou que excedam aquelas permitidas. Se o crime for cometido por agente público a pena é aumentada de 1/6 a 1/3, nos termos do parágrafo 4ª, inciso I do artigo 1º da Lei. Se o sujeito passivo desta feita é gestante, criança ou adolescente, idoso ou deficiente, aplica- se o mesmo aumento. Aplica-se ainda o mesmo aumento se o crime é praticado mediante sequestro. Nessa hipótese a tortura especialmente agravada pode absorver o crime do Código Penal. Artigo 1º, §3º Se do crime resulta lesão grave ou gravíssima, a pena é de 4 a 10 anos de reclusão. Se resultar na morte do ofendido a pena é de 8 a 16 anos de reclusão. Se a morte era o objetivo do torturador, que se valeu da tortura para impor, infringir à vítima especial sofrimento ele responderá com incurso no art. 121, §2º, III do CP, que absorverá o crime de tortura aqui estudado. Na verdade os resultados qualificadores previstos na lei de tortura são imputados a título de culpa (previsíveis os resultados, mas não desejados). 2. Condenação a. O crime de tortura é assemelhado aos hediondos, aplicando-se a Lei 8.072/90. Página 5 de 5 b. A condenação acarreta a perda automática de cargo, função ou emprego público e a interdição para o seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. c. A Lei repete no § 6º que o crime é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. Acrescenta-se o indulto. d. O regime inicial é qualquer um dos previstos no CP, muito embora o §7º do art. 1º da Lei disponha que o regime inicial é o fechado. Sabemos que o regime inicial fechado é inconstitucional, aplicando-se o que estudamos na Lei 8.071/90. Nota1: A Lei de tortura revogou expressamente o art. 233 do ECA. Nota2: A tortura prevista no §2º do art. 1º da Lei não é crime de tortura para os fins da Lei 8.072/90. Trata-se de crime punido tão somente com detenção de 1 a 4 anos, o que por si só demonstra sua menor gravidade. Aquele que tem o dever de evitar a tortura e se omite, deveria responder por tortura, regra geral, como participe. Entre tanto o §2º, estudado, criou uma exceção à Teoria do concurso de pessoa (Teoria Monista – aqueles que concorrem na infração penal respondem pelas mesmas penas), atribuindo ao omitente um crime específico e menos grave.
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