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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Penal Parte Especial Professor: Victor Gonçalves Aula: 06 | Data: 20/05/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 1. Extorsão 2. Extorsão Mediante Sequestro 3. Apropriação Indébita CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 1. Extorsão (art. 158, CP) Art. 158, CP - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. – Consumação e Tentativa A própria redação do artigo 158 do Código Penal deixa claro que se trata de crime formal, que se consuma independentemente da obtenção da vantagem visada. Neste sentido existe inclusive a Súmula 96 do STJ STJ, 96. O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida. A redação do artigo 158, CP indica também que o crime se consuma no momento da ação ou omissão da vítima. Haverá mera tentativa se o agente faz a ameaça e a exigência, mas a vítima resolve não colaborar. – Extorsão Majorada (art. 158, § 1º, CP) A pena é aumentada de 1/3 até a 1/2 se o crime é praticado com o emprego de arma, ou se é cometido por duas ou mais pessoas. Art. 158, § 1º, CP - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. – Extorsão Qualificada pelo Resultado (art. 158, § 2º, CP) Aplicam-se absolutamente todas as regras estudadas em relação ao roubo qualificado pela lesão grave ou morte. Art. 158, § 2º, CP - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior. Página 2 de 5 – Extorsão Qualificada pela Restrição da Liberdade (art. 158, § 3º, CP) A pena será de 6 a 12 anos de reclusão se o crime é praticado mediante restrição da liberdade, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem visada. É o chamado Sequestro Relâmpago, em que o agente em regra obriga a vítima a fornecer a senha do seu cartão bancário, enquanto ela permanece em poder de um dos envolvidos o comparsa efetua compras ou saques com o referido cartão. Art. 158, § 3o, CP - Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. É muito comum quer os bandidos inicialmente subtraiam bens e valores da vítima para só em seguida exigir a senha do cartão e efetuar saques ou compras. O STF e o STJ entendem que os crimes são autônomos, respondendo os réus pelos dois crimes em concurso material. Não se admite a continuidade delitiva entre roubo e extorsão porque os crimes não estão no mesmo tipo penal, não sendo, portanto, da mesma espécie. Esses mesmos Tribunais entendem que não se trata de concurso formal por serem duas as ações: Primeiro a de se apossar dos bens e segundo a de exigir a senha. De acordo com a parte final deste § 3º se resultar lesão grave a pena será de 16 a 24 anos, se resultar morte a pena será de 24 a 30 anos. 2. Extorsão Mediante Sequestro (art. 159 do CP) Este crime é hediondo em todas as suas figuras, ou seja, quer nas modalidades simples, quer nas modalidades qualificadas, quer o crime seja consumado ou tentado. – Extorsão Mediante Sequestro Simples (art. 159, “caput”, CP) Consiste em sequestrar pessoa com o fim de obter qualquer vantagem como condição ou preço do resgate. A pena é de reclusão de 8 a 15 anos. Art. 159, CP - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de oito a quinze anos. – Consumação De acordo com o texto legal o crime se consuma no momento do sequestro, da captura, ou seja, quando os bandidos efetivamente levam a vítima do local da abordagem. Se a vítima já foi sequestrada o crime estará consumado ainda que os bandidos não consigam fazer a exigência do resgate, e ainda que não consigam receber o respectivo valor. O recebimento do resgate é mero exaurimento do crime, mas deve ser levado em conta pelo juiz na fixação da pena base (art. 59, CP). Página 3 de 5 O crime em analise é complexo porque tutela mais de um bem jurídico: A liberdade e o patrimônio. Enquanto a vítima está em poder dos sequestradores, sua liberdade está continuamente afetada, razão pela qual trata-se de crime permanente e que a prisão em flagrante é possível enquanto não ocorrer a libertação. Se a vítima for sequestrada em uma comarca, mas é mantida em cativeiro em outra comarca, o artigo 71 do CPP permite que a ação penal seja proposta em qualquer delas, devido ao caráter permanente do delito, devendo ser utilizado o critério da prevenção. De acordo com o art. 111, III do CP a prescrição só começa a correr quando cessa a permanência, ou seja, quando acaba o sequestros. A tentativa é possível somente em uma situação, ou seja, quando os bandidos iniciam a execução do crime mediante a abordagem da vítima, mas não conseguem captura-la por circunstâncias alheias a sua vontade. É evidente que nesse caso deve haver alguma prova de que a intenção era capturar a vítima e exigir algum resgate. Para configuração do delito não é necessário que a pessoa sequestrada seja também a dona do dinheiro. São sujeitos passivos desse crime a pessoa sequestrada e a pessoa a quem é feito o pedido de resgate. Como o artigo 159 exige o sequestro de uma pessoa não configura o crime em estudo a captura de um animal de estimação, e neste último caso se for feito um pedido de resgate em troca do animal o crime será o de extorsão. Como o artigo 159 está previsto no título contra o patrimônio, a vantagem visada deve ser patrimonial, econômica. Se o agente sequestra alguém, mas a vantagem visada é de outra natureza, teremos concurso material entre o crime de sequestro do art. 148 com outro crime qualquer dependendo do caso (Ex.: Agente sequestra filho e pede como resgate que a mãe da criança faça sexo com ele – estupro quanto à mãe e sequestro e cárcere privado quanto ao filho). – Extorsão Mediante Sequestro Qualificado (art. 159, §1º, CP) Art. 159, § 1o, CP - Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Pena - reclusão, de doze a vinte anos. Nesse dispositivo existem três qualificadoras: a. Se o sequestro dura mais de 24 horas. b. Vítima é menor de 18 ano ou maior de 60 anos: Se a vítima é sequestrada com 59 anos, mas ao fazer 60 ainda está no cativeiro aplica-se a qualificadora devido ao caráter permanente do delito. c. Se o crime for praticado por quadrilha ou bando: Como a Lei 12.850 que modificou o artigo 288 do CP trocando o nome de quadrilha para associação criminosa e diminuindo para três o numero de integrantes envolvidos, não modificou o §1º do artigo 159 a qualificadora em analise só pode ser aplicada tendo por base o conceito tradicional de quadrilha: associação de 4 ou mais pessoas para a pratica reiterada de crimes. Página 4 de 5 – Extorsão Mediante Sequestro Qualificado pela Lesão ou pela Morte (art. 159, § 2º, CP e art. 159, § 3º, CP) A pena é de 16 a 24 anos se qualificada pela lesão e a pena é de 24 a 30 anos se do fato resulta morte. Art. 159, § 2º, CP - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. Art. 159, § 3º, CP - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. Essas qualificadoras só se aplicam se a lesão grave ou morte forem na própria pessoa sequestrada. Ex.: Se os bandidos matam o segurança para sequestrar o empresário, tal morte constitui crime autônomo de homicídio qualificado e não a qualificadora em analise. As qualificadoras existem quer o resultado agravador seja doloso ou culposo. Quando no mesmo caso estiverem presentes qualificadores de parágrafos diversos, que tem penas distintas, deve ser aplicada somente a maior, servindo as demais como circunstâncias judiciais do art. 59 do CP. – Delação Eficaz (art. 159, § 4º, CP) A pena será reduzida de 1/3 a 2/3 se o crime for praticado por duas ou mais pessoas e se qualquer dos envolvidos no crime delatar o fato as autoridades, facilitando a libertação da vítima. Tem natureza jurídica de causa de diminuição de pena. Art. 159, § 4º, CP - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. Premissas: . Que o crime seja praticado por duas ou mais pessoas. . Que a delação seja eficaz, ou seja, que tenha efetivamente colaborado na libertação da vítima. Critério de redução: Quanto maior a contribuição para soltura da vítima, maior a redução. 3. Apropriação Indébita (art. 168, CP) O crime consiste em apropriar-se de coisa alheia móvel de que tem a posse ou detenção. A pena é de reclusão de 1 a 4 anos e multa. Art. 168, CP - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Neste delito a própria vítima, ou alguém em seu nome, entrega o bem ao agente para que este exerça a posse ou detenção de forma temporária e depois restitua o bem ou o entregue a terceiro. O agente entre tanto comete o crime quando resolve tornar como sua a coisa alheia. Página 5 de 5 A existência do crime de apropriação indébita pressupõe que a entrega ocorra de forma livre espontânea e consciente. A entrega deve ser livre e espontânea porque a vítima não pode ter sido coagida a entregar, pois se for o crime será de extorsão. A entrega deve ser consciente porque a vítima não pode estar em erro, pois se estiver o crime será de estelionato (art. 171, CP) ou de apropriação de coisa havida por erro (art. 169, CP). Conforme estudado anteriormente só existe apropriação indébita quando o agente recebe o bem e é autorizado a sair do local em seu poder (posse desvigiada), pois se a posse for vigiada o crime será o de furto. Na apropriação indébita o agente recebe o bem de boa-fé e o dolo é posterior ao recebimento do bem, sendo que o crime se consuma no momento da inversão do animo, isto é, quando surge a má-fé, o dolo posterior. No estelionato o agente já recebe o bem de má-fé e o dolo é sempre antecedente. Além disso, no estelionato o agente emprega a fraude e a vítima entrega o bem em erro, sendo que na apropriação indébita nada disso acontece.
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