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Neoconstitucionalismo origens Jus Navigandi

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Neoconstitucionalismo: Origens e aspectos relevantes
Neoconstitucionalismo: Origens e aspectos relevantes
Thiago Mello d'Almeida
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Dentre  as  principais  características  do  neoconstitucionalismo,  a  ideia  de  eficácia  valorativa  da
Constituição parece contemplar todas as demais.
INTRODUÇÃO
Muitos autores têm buscado definir o atual estágio do constitucionalismo. O constitucionalismo, como se vê hodiernamente, é fruto
de uma miríade  de  transformações  na  relação  entre Estado  e  cidadão.  Tais mudanças mostram­se  tão  complexas  que  se  torna
tormentoso definir o que vem a ser propriamente o constitucionalismo.
Há quem prefira a expressão “movimentos constitucionais” para definir as mutações espaciais e temporais que marcam a evolução
do  constitucionalismo  global.  E,  neste  sentido,  tradicional  doutrina  tem  identificado  o  constitucionalismo  como  a  “teoria  (ou
ideologia) que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização
político­social de uma comunidade”  .
Em conceito moderno, delineado por Denise Auad,  o  constitucionalismo  significa um  “movimento político  e  ideológico de  luta
contra o Absolutismo”   ou, ainda, segundo Luís Roberto Barroso, a “limitação do poder e supremacia da lei”.  Neste desiderato, a
doutrina costuma dividi­lo sob dois prismas: em sentido amplo, seria o “fenômeno relacionado ao fato de todo Estado possuir uma
constituição em qualquer época da humanidade”; enquanto que, em seu sentido estrito, o termo tem sido definido como a “técnica
jurídica  de  tutela  de  liberdades,  surgida  nos  fins  do  século  XVIII,  que  possibilitou  aos  cidadãos  exercerem,  com  base  em
constituições escritas, os  seus direitos  e garantias  fundamentais,  sem que o Estado  lhes pudesse oprimir pelo uso da  força e do
arbítrio”  .
A EVOLUÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO
O constitucionalismo tem origem no liberalismo do final do século XVIII, insurgindo com o movimento jurídico, social, político e
ideológico, em que se almejava assegurar direitos e garantias  fundamentais,bem como a separação dos poderes em oposição ao
absolutismo reinante no Antigo Regime .  Contudo, o constitucionalismo lato sensu vigora desde a ser as mais primitivas. Em sua
obra, o professor Uadi Bulos assim as discrimina:
1ªEtapa: ­ constitucionalismo primitivo(de 30.000 anos a.C. até 3.000 anos a.C.);
2ªEtapa: ­ constitucionalismo antigo( de 3000 a.C. até o século V);
3ªEtapa: ­ constitucionalismo medieval (do século V até o século XV);
4ªEtapa: ­ constitucionalismo moderno(do século XV até o século XVIII);
5ªEtapa: ­ constitucionalismo contemporâneo (do século XVIII aos nossos dias);e,
6ªEtapa:­constitucionalismo do futuro ou do porvir. :
Com efeito, observa ­ se  que as gerações mais primitivas já vivenciavam, de alguma forma, o constitucionalismo. Certamente, não
pautado  por  um  documento  formal  escrito,  mas,  sobre  tudo,  pelos  costumes  geralmente  impostos  pelos  anciãos  de  cada  clã,
comunidade ou grupo. No constitucionalismo primitivo, além das normas de conduta consuetudinárias, o politeísmo também era
fonte primaz do direito constitucional vigente à época.
O constitucionalismo antigo pode ser facilmente identificado, entre os hebreus, pela limitação do poder estatal diante dos preceitos
bíblicos , assim como pela utilização do termo constitutio no período do Baixo Império  romano para se referira “qualquer lei feita
pelo imperador”.
Na Idade Média, período em que se passa o constitucionalismo medieval, o direito constitucional ocupa­se delimitar o poder estatal,
em  virtude,  originariamente,  da  difusão  de  ideias  jus  naturalistas.  Tal  período  foi  de  grande  relevância  para  a  consagração  de
liberdades  públicas  e  direitos  e  garantias  fundamentais,  mormente  quando,  em1215,  a  Inglaterra  elabora  sua  Magna  Charta
Libertatum.  A  Carta  Magna,  outorgada  por  João  Sem  Terra,  é  tida  como  o  primeiro  instrumento  solene  que  previu  direitos
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Libertatum.  A  Carta  Magna,  outorgada  por  João  Sem  Terra,  é  tida  como  o  primeiro  instrumento  solene  que  previu  direitos
incorporados até os dias atuais às constituições de todo o mundo, tais como: direito de petição, instituição do Tribunal do Júri, direito
ao devido processo legal, habeas corpus, direito ao acesso à Justiça, liberdade de religião, dentre outros.
O constitucionalismo moderno ganha contorno no fim do século XVIII, com o advento das constituições – agora escritas e rígidas –
dos Estados Unidos  da América  em  1787,  e  da  França  em  1791.  Tais  documentos  assinalam,  derradeiramente,  a  separação  de
poderes. Nesta fase, começa a surgir o movimento pós­positivista, pautado, principalmente, nos princípios jurídicos, em detrimento
da análise fria do normativismo exacerbado.Insurge­se, assim, a ideia de que os princípios, sejam eles explícitos ou não, fazem parte
da constituição material, devendo, portanto, ser observados ainda que não expressos no texto constitucional.
Finalmente, nos tempos atuais, observa­se o constitucionalismo contemporâneo, remanescente do Estado Social, a partir do qual “as
leis  fundamentais  passam  a  imiscuir­se  em  novas  áreas,  não  só  instituindo  direitos  de  caráter  prestacional[...],  como  também
disciplinando assuntos sobre os quais elas antes silenciavam, como ordem econômica, relações familiares, cultura, etc” .
O  constitucionalismo contemporâneo  comporta,  ainda,  a  sua divisão  em dois movimentos  chamados de neocontitucionalismo e
transconstitucionalismo. O neoconstitucionalismo seria o reflexo das mutações do direito constitucional no plano interno de cada
Estado, a partir do pós­guerra, notadamente expresso com a elaboração da Lei Fundamental de Bonn, de 1949 (Constituição Alemã)
.  Em  outras  palavras,  o  neoconstitucionalismo  seria  “uma  gama  de  fenômenos  no  âmbito  do Direito  Constitucional,  que,  em
conjunto, acabaram por gerar uma constitucionalização do Direito como um todo”. Já o transconstitucionalismo é “o fenômeno pelo
qual  diversas  ordens  jurídicas  de  um  mesmo  Estado,  ou  de  Estados  diferentes,  se  entrelaçam  para  resolver  problemas
constitucionais” .
Neste tocante, pode­se constatar que a distinção principal baseia­se na abrangência dos efeitos relativos a cada “movimento” do
constitucionalismo  contemporâneo.  Isto  porque,  o  neoconstitucionalismo  repercute,  embora  oriundo  de  mudanças  globais
ocorridas pós­guerra, no Direito Constitucional aplicado no direito interno de cada Estado; enquanto que o transcontitucionalismo
trata de uma reunião de  interesses globais  face aos problemas constitucionais encontrados pelo ordenamento  jurídico de  todo o
mundo.
Superados  os  dias  atuais,  a  doutrina,  por  meio  do  pensamento  de  José  Roberto  Dromi ,  tem  procurado  identificar  possíveis
características  do  constitucionalismo do  futuro  que,  convencionou­se  chamar  de  “constitucionalismo do  porvir”.  Para Dromi,  o
direito  constitucional  do  futuro  irá  se  pautar  nos  primados  da  veracidade,  solidariedade,  continuidade,  participatividade,
integracionalidade e universalidade.
Como se pode notar, independentemente da época referendada pelo movimento constitucionalista, tal postulado sempreobjetivou,
de algum modo, limitar a atuação do Estado, do Governo ou da liderança reinante à sua vigência, conforme previsto no aclamado
art.16 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, datada de 1789: “Toda sociedade na qual não está assegurada agarantia
dos direitos, nem determinada a separação dos Poderes, não tem constituição”.
Atualmente, além da antiga ideia baseada na imposição de prestações negativas ao Estado, a evolução constitucionalista caminha,
pari passu, para a construção de um sistema normativo supra estatal que objetiva infligir prestações positivas ao Estado, moduladas
pelo princípio matriz da dignidade da pessoa humana.
A NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL: O NEOCONSTITUCIONALISMO
A hodierna fase do direito constitucional tem sido motivo de farta discussão doutrinária, a começar pelo próprio nome em que se
intitula  a  atual  era  do  constitucionalismo. O  vernáculo  “neoconstitucionalismo”,  apesar  de mais  utilizado,  costuma  também  ser
denominado  de  “constitucionalismo  pós­positivista”,  “constitucionalismo  neopositivo”,  dentre  outras  terminologias.  A  própria
origem teórica do neoconstitucionalismo tem demonstrado incoerências no que tange ao pensamento de autores que, supostamente,
teriam embasado o surgimento do movimento neoconstitucionalista, conforme descreve Daniel Sarmento:
Os  adeptos  do  neoconstitucionalismo  buscam  embasamento  no
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Os  adeptos  do  neoconstitucionalismo  buscam  embasamento  no
pensamento  de  juristas  que  se  filiam  a  linhas  bastante  heterogêneas,
como  Ronald  Dworkin,  Robert  Alexy,  Peter  Häberle,  Gustavo
Zagrebelsky, Luigi Ferrajoli e Carlos Santiago Nino, e nenhum desses se
define  hoje,  ou  já  se  definiu  no  passado,  como  neoconstitucionalista.
Tanto dentre os referidos autores, como entre aqueles que se apresentam
como  neoconstitucionalistas,  constata­se  uma  ampla  diversidade  de
posições  jusfilosóficas  e  de  filosofia  política:  há  positivistas  e  não
positivistas,  defensores  da  necessidade  do  uso  do método na  aplicação
do Direito e  ferrenhos opositores do emprego de qualquer metodologia
na  hermenêutica  jurídica,  adeptos  do  liberalismo  político,
comunitaristas e procedimentalistas. Neste quadro, não é tarefa singela
definir o neoconstitucionalismo, talvez porque, [...] não exista um único
neoconstitucionalismo, que corresponda a uma concepção teórica clara e
coesa,  mas  diversas  visões  sobre  o  fenômeno  jurídico  na
contemporaneidade,  que  guardam  entre  si  alguns  denominadores
comuns relevantes, o que justifica que sejam agrupadas sob um mesmo
rótulo,  mas  compromete  a  possibilidade  de  uma  conceituação  mais
precisa.
O  que  se  sabe,  discorre  o  autor,  é  que  o  termo  “neoconstitucionalismo”  é  oriundo  da  Europa,  muito  embora  também  haja
divergências  neste  sentido.  Há  autores  que  sustentam  que  o  movimento  neoconstitucionalista  surgiu  na  Espanha  e  Itália ,
enquanto  outros  o  definem  como  originário  da  Alemanha  e  Itália.
Entretanto,aindaquesemexatidãodedataelocal,ofatoéqueestanovaordemconstitucionalsurgecomotérminoda2ªGuerraMundialeaconsequente
“reconstitucionalização” daEuropa.
Neste  sentido,  conforme  aduz  Gustavo  Binenbojm,  a  catástrofe  mundial  serviu  para  se  concluir  que  o  positivismo  jurídico
exacerbado, outrora visto como instrumento assecuratório dos direito se garantias fundamentais face ao Estado, pode resultarem
barbáries,in verbis: :
[...]a  jurisdição  constitucional  foi  se  ampliando e  fortalecendo em  todo
mundo ao longo do século XX, sobre tudo após a traumática experiência
do  nazi­facismo.  A  barbárie  perpetrada  pelas  potências  do  Eixo,  como
beneplácito  do  legislador  revelou,  com  eloquência,  a  imperiosa
necessidade  de  fixação  de  limites  jurídicos  para  a  ação  de  todos  os
poderes públicos, inclusive os parlamentos.
Em igual sentido, discorre Rodrigo Padilha :
As  atrocidades  cometidas  por  Adolf Hitler  só  foram  possíveis  graças  a
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As  atrocidades  cometidas  por  Adolf Hitler  só  foram  possíveis  graças  a
este entendimento; e.g., através de Decreto expedido em 07.04.1933, os
Judeus  foram  afastados  do  funcionalismo  público,  do  exército  e  das
universidades; através da Lei publicada em 14.07.1933,  foram retirados
os  direitos  de  cidadão  dos  Judeus  imigrantes  no  Leste  Europeu;  a
chamada  ‘Lei  da  Cidadania’  tirou  dos  judeus  alemães  a  cidadania
alemã;a  ‘Lei  da  Proteção  da  Honra  e  Sangue  Alemão’  proibia  os
casamentos dos Judeus com não Judeus, proibia o emprego de judeus na
Alemanha  e  proibia  os  Judeus  de  exibirem  a  bandeira  alemã,  entre
outras  medidas.  Porfim,  através  de  Decreto  assinado  pelo  então
presidente  Paul  Von  Hindenburg,  foram  suspensas  sete  seções  da
Constituição de 1919 da República de Weimar, que garantiam liberdades
individuais e civis ao povo.
Padilha concluia firmando que “por mais estarrecedor que seja, Hitler não praticou muitas ilegalidades ou inconstitucionalidades;
quase todas as atrocidades eram legitimadas por normas jurídicas”. Com efeito, a própria Constituição de Weimar, em seu art.48,
outorgava  “poderes  ao Presidente do Reiche  seu  governo para  adotar medidas necessárias  à  restauração da  segurança  e  ordem
pública[...]valendo­se para isso, se necessário, das forças armadas, bem como suspendendo, temporariamente, o exercício, total ou
parcial, de direitos fundamentais”. 
Tal fato demonstra, por si só, que não basta a norma se revestir de uma formalidade constitucional se o seu conteúdo não trouxer a
liberdade, a igualdade e a solidariedade que dela se espera. A mera condição de “ser lei” não mais legitimaria a ação estatal, que
perde sua premissa irrefutável de meio assecuratório de estabilidade para as relações sociais em detrimento da ponderação destas
com princípios que norteiam toda a ordem jurídica.
Outro aspecto observado a partir do 2º pós­guerra foi a “intervenção estatal na economia e nas relações sociais,[...] na tentativa de
minimizar  algumas mazelas  oriundas  do  período  liberal”. Neste  contexto,  com  a  consequente  concretização  do Welfare  State
(Estado Social de Direito), as constituições vindouras ,passam a ser analíticas, carregadas de valores e princípios.
Sobreotema,sustentaDanielSarmento :
As  constituições  europeias  do  2º  pós­guerra  não  são  cartas
procedimentais,  que  quase  tudo  deixam  para  as  decisões  das maiorias
legislativas,  mas  sim  documentos  repletos  de  normas  impregnadas  de
elevado teor axiológico, que contêm importantes decisões substantivas e
se  debruçam  sobre  uma  ampla  variedade  de  temas  que  não  eram
tratados pelas constituições, como a economia, as relações de trabalho e
a família.
Assim, com o reconhecimento da força normativa de princípios e valores constitucionais (estejam eles expressos ou não no texto
constitucional), a expansão da jurisdição constitucional e o desenvolvimento de uma nova hermenêutica constitucional, insurge­se o
movimento neoconstitucionalista. 
Com efeito, não estaria mais a mera norma escrita apta a satisfazer os anseios da sociedade. As inúmeras atrocidades praticadas ao
longo  do  século  XX,  em  sua  maioria  com  respaldo  na  lei  formal,  levaram  à  conclusão  de  que  os  princípios  e  valores
constitucionalmente protegidos devem constituir, prioritariamente, os fundamentos de um Estado pautado nos ideais de justiça,
igualdade, liberdade.
O NEOCONSTITUCIONALISMONO BRASIL
No Brasil, especificamente, o marco histórico do movimento neoconstitucionalista é a promulgação da Constituição da República de
1988, que rompeu com o Estado autoritário brasileiro para consagrar um Estado Democrático de Direito.  O advento da aclamada
constituição dirigente pós­ditadura, consagradora da democracia, do Estado de Direito, dos direitos fundamentais, e, mormente, do
fundamento na dignidade da pessoa humana, se coaduna aos preceitos de Estado interventor trazidos com o WelfareState.
É  bem  verdade  que  algumas  características  do  neoconstitucionalismo  já  podiam  ser  notadas  antes mesmo  da  promulgação  da
Constituição  de  1988,  como  o  controle  de  constitucionalidade  já  existente  desde  os  tempos  de  proclamação  da  República.
Ademais, a Lei Fundamental de 1988, não trouxe apenas uma modificação na sua estrutura formal, mas no ordenamento jurídico
pátrio como um todo, como sustenta Sarmento:
[...] até então, as constituições não eram vistas como autênticas normas
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[...] até então, as constituições não eram vistas como autênticas normas
jurídicas, não passando muitas vezes de meras fachadas. [...] Até 1988, a
lei  valia  muito  mais  do  que  a  Constituição  no  tráfico  jurídico,  e,  no
Direito  Público,  o  decreto  e  a  portaria  ainda  valiam mais  que  a  lei.  O
Poder Judiciário não desempenhava um papel político tão importante, e
não  tinha  o  mesmo  nível  de  independência  que  passou  a  gozar
posteriormente.  As  constituições  eram  pródigas  na  consagração  de
direitos, mas estes dependiam quase exclusivamente da boa vontade dos
governantes de plantão para saírem do papel – o que normalmente não
ocorria.  Em  contextos  de  crise,  as  fórmulas  constitucionais  não  eram
seguidas,  e  os  quartéis  arbitravam  boa  parte  dos  conflitos  políticos  ou
institucionais que eclodiam no país.
Nas palavras de Luís Roberto Barroso, “sob a constituição de 1988, o direito constitucional no Brasil passou da desimportância ao
apogeu em menos de uma geração”.
Com efeito, foi com a promulgação da Constituição Cidadã , de 1988 que surge a Nova República, destinada a instituir o Estado
Democrático  de  Direito  em  uma  sociedade  baseada  noexercíciodedireitossociaiseindividuais,liberdade,segurança,bem­
estar,desenvolvimento,igualdadeejustiça.
CARACTERÍSTICAS DO NEOCONSTITUCIONALISMO
Dentre as principais características do neoconstitucionalismo, a ideia de eficácia valorativa da Constituição parece contemplar todas
as demais. Isto porque, todas as facetas do neoconstitucionalismo objetivam, em maior ou menor grau, extrair o sentido axiológico do
texto constitucional, fundado, principalmente, na dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CRFB/88).
Em  interessante  esboço,  Pedro  Lenza  conclui  que,  no  campo  ideológico  do  constitucionalismo moderno,  a  hierarquia  entre  as
normas e a limitação do poder seria suas vigas mestres; enquanto que, no neoconstitucionalismo, há uma hierarquia entre normas
não apenas formais, mas axiológicas, que objetivam, mormente, a concretização dos direitos fundamentais.
Já o professor Luís Roberto Barroso, divide tais características em três “grandes transformações”:
Sob o impulso do novo constitucionalismo, três grandes transformações
subverteram o conhecimento convencional relativamente à aplicação do
direito  constitucional  no  mundo  romano­germânico:  a)  o
reconhecimento  da  força  normativa  da  Constituição;  b)  a  expansão  da
jurisdição constitucional; c) o desenvolvimento de uma nova dogmática
da interpretação constitucional.
Em que pese haver miríades de correntes doutrinárias acerca das características do neoconstitucionalismo, pode­se sintetizar como
fatores marcantes: (i) Constituição como centro e a fonte norteadora de todo ordenamento jurídico, gerando, por conseguinte, uma
“constitucionalização  do Direito”;  (ii)  o  reconhecimento  da  força  normativa  dos  princípios  jurídicos  e  sua  efetiva  utilização  nas
hipóteses  de  aplicação  do  Direito  ao  caso  concreto;  (iii)  substituição  do  formalismo  da  subsunção  pela  ponderação;  (iv)
concretização da influência da Moral, da Ética e do primado da Justiça no Direito; e (v) o ativismo judicial.
Tendo a Constituição como centro do ordenamento  jurídico, deve­se observar sua  influência e orientação em relação a  todos os
ramos do Direito. Com efeito, em virtude de a Constituição de 1988 apresentar­se analítica e esmiuçar os mais diversos ramos do
Direito,  vislumbra­se,  inequivocamente,  a  preocupação  do  constituinte  em  estabelecer  parâmetros  a  serem  seguidos  nas mais
diversas áreas,  sejam elas, econômicas,  sociais, esportivas,  familiares, etc. Tal constatação  também se deve à adoção do sistema
normativo aberto de regras e princípios pelo constituinte de 1988, do qual se extraem normas (assim entendidas em seu sentido lato
como regras e princípios), carregadas de caráter axiológico que passam a pautar toda conduta das esferas dos poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário entre estes, entre estes e a sociedade e, inclusive, na relações desencadeadas dentro da própria sociedade,
entre particulares.
Neste ponto, Gustavo Binenbojm assinala:
[...] toda legislação infraconstitucional tem de ser interpretada e aplicada
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[...] toda legislação infraconstitucional tem de ser interpretada e aplicada
à luz da Constituição, que deve tornar­se uma verdadeira bússola, a guiar
o  intérprete  no  equacionamento  de  qualquer  questão  jurídica.  Tal
concepção, que vem sendo rotulada como neoconstitucionalismo, impõe
aos  juristas  a  tarefa  de  revisitar  os  conceitos  de  suas  disciplinas,  para
submetê­los a uma releitura, a partir da ótica constitucional. Trata­se de
uma  verdadeira  filtragem  constitucional  do  direito,  de  modo  a
reinterpretar os seus institutos, buscando­se não só evitar conflitos com
a Lei Maior, mas  também potencializar  os  valores  e  objetivos  que  esta
consagra
A força normativa da Constituição  desmistifica a ideia de que o texto constitucional teria caráter meramente político, passando a
possuir caráter vinculativo e imperativo como qualquer outra norma jurídica já detinha, podendo, em consequência, ser tutelada
por mecanismos próprios de coação. .
Ressalte­se que os Estados Unidos reconhecem o caráter normativo de sua Constituição desde a decisão proferida em 1803 pelo juiz
Marshall no famoso caso Marbury versus Madison.  De igual forma, a constitucionalização do Direito pode ser observada desde
1958, a partir de precedente do Tribunal Constitucional Federal alemão no caso Lüth, no qual aquela Corte “assentou que os direitos
fundamentais, além de sua dimensão subjetiva de proteção de situações individuais, desempenham uma outra função: a de instituir
uma ordem objetiva de valores”.
Neste  contexto,  verifica­se  que  “ao  invés  da  insistência  na  subsunção  e  no  silogismo  do  positivismo  formalista,  ou  no  mero
reconhecimento da discricionariedade política do intérprete nos casos difíceis [...] o neoconstitucionalismo se dedica à discussão de
métodos ou teorias da argumentação que permitam a procura racional [...] da melhor resposta”  a ser aplicada nos casos concretos
em que a mera análise das normas mostra­se inócua. Assim, depreende­se que a argumentação baseada na razão prática, e limitada
pela  proporcionalidade,  volta  a  ter  grande  importância  para  o  neoconstitucionalismo,  em  detrimento  da  simples  comprovação
experimental ou inferidodas normas jurídicas.
Isto repercute, intrinsecamente, em uma releitura do Direito, sob a ótica da Moral,da Ética e da Justiça no pós­positivismo após
derrocada do positivismo jurídico em meados do século XX. Com o término da 2ª Guerra Mundial, “a ética e os valores começam a
retornar ao Direito” gerando reflexões sobre o Direito, sua função social e interpretação, de modo a substituir a legalidade estrita sem
desprezar, integralmente, o direito positivo.
Por  tudo  já exposto, o ativismo  judicial – ou seja, o protagonismo do Poder Judiciário – surge como característica marcante do
neoconstitucionalismo.  Infere­se,  ainda,  a  crescente  atuação  do magistrado  em demandas  propostas  em  virtude  de  violação  às
normas constitucionais, bem como a omissão ou improficuidade legislativa que criam óbices à hábil resolução de determinados
casos concretos. Acrescenta­se que a inflação legislativa e a falta de legitimidade dos atuais parlamentos também contribuem para o
protagonismo judicial.
OPOSIÇÕES À TEORIA NEOCONSTITUCIONALISTA
Apesar  de  grande  parte  da  doutrina  acolher  a  teoria  neoconstitucionalista  e  reconhecer  suas  peculiaridades  e  efeitos  no
constitucionalismo contemporâneo, a questão não é mansa e pacífica. Há autores que refutam, veementemente, sua existência, suas
premissas ou, até mesmo, sua novidade.
Neste toar, sustenta­se que o ativismo judicial feriria o ideal de Estado Democrático, abriria precedentes para condutas arbitrárias e
ilegais e violaria a autonomia privada.
A “judiciocracia”  limitaria o poder do povo em se autogovernar, visto que se estaria retirando das mãos de representante eleitos
para o exercício da função legislativa  importantes decisões da sociedade e as delegando ao Poder Judiciário que, obviamente, é
composto por membros oriundos de concurso público ou indicação política. Assim, defende­se que, com a delegação de poderes
concretos – para a materialização dos valores constitucionais – ao Poder Judiciário, estar­se­ia, na verdade, criando um poder de
reforma constitucional permanente pelo Judiciário.
Outra crítica contumaz ao neoconstitucionalismo seria a possibilidade de deturpação de um sistema jurídico pautado por conceitos
abertos e indeterminados, atribuindo­se ao Poder Judiciário a tarefa de substanciá­los, mormente no Brasil, pelo seu histórico de
corrupção e patrimonialismo.
Sob outro aspecto, advoga­se que a irradiação dos valores constitucionais por todo o ordenamento jurídico e, inclusive, nas relações
travadas entre particulares, pode vir a representar uma unificação da conduta social, criando óbices à sua autonomia individual, o
que tornaria tal movimento constitucional antidemocrático.
Ratificando as críticas ao neoconstitucionalismo, Dimitri Dimoulis assinala que os ideais neoconstitucionalistas estariam baseados
em premissas já ventiladas no Direito Constitucional desde o século XIX, de maneira que o neoconstitucionalismo apenas agregaria
“solução para problemas que acompanham o direito desde a sua estruturação com base na Constituição”. 
De igual modo, Bulos entende que o neoconstitucionalismo apenas refletiria o desenvolvimento do constitucionalismo a partir do fim
do século XVIII.
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do século XVIII.
Não  obstante  as  críticas  mencionadas,  deve­se  ter  em  mente  que,  apesar  das  semelhanças  com  o  desenvolvimento  do
constitucionalismo  e  o  ressurgimento  de  ideias  já  ventiladas  em  outros  movimentos  constitucionais,  o  modo  de  ver  o
constitucionalismo como se vê no neoconstitucionalismo, de  fato,  é  inédito. Até porque, os problemas  sociais que o movimento
neoconstitucionalismo pretende elucidar também o são. Necessitou­se de um ambiente traumático pós­guerra para que se dê a
devida atenção aos valores e princípios que devem reger uma sociedade – acima de qualquer documento formal –, muito embora
isto não resulte, peremptoriamente, no abandono à subsunção como principal fonte de segurança jurídica para a coletividade. Como
expõe Rafael Oliveira “divergências a parte, não se pode olvidar que a tendência hodierna é o estabelecimento de uma abordagem
não positivista do Direito”
CONCLUSÃO
Divergências à parte, o neoconstitucionalismo, inequivocamente, representa uma nova ordem constitucional. A Constituição emerge
como  centro  efonte norteadora de  todo o  ordenamento  jurídico. Releva­se  o  reconhecimento da  força normativa dos princípios
jurídicos,  sobrepondo­se  o  formalismo  da  subsunção  pela  ponderação  racional  da  norma,  diante  dos  valores  constitucionais.
Desconstrói­se o paradigma de aplicação cega da lei, de modo que esta encontre seu fundamento de validade diretamente na norma
constitucional, entendida assim, como as regras e princípios constitucionais, notadamente o catálogo de direitos fundamentais.
O ordenamento resgata ideais jusnaturalistas, com a retomada da influência da Moral, da Ética e do primado da Justiça no Direito,
de forma a concretizar os valores e princípios jurídicos que, muitas vezes, passam ao largo da lei.
Por fim, a separação de poderes na esquemática prevista por Montesquieu também sofre uma mudança substancial com o chamado
ativismo  judicial e a  ideia de  juridicidade administrativa. Entende­se, hodiernamente, que os poderes constituídos não mais se
limitam – apenas e exclusivamente – pelas leis, mas sim, pelo Direito, vinculando agentes públicos e cidadãos, diretamente ao texto
constitucional que irradia seus valores por toda a sociedade.
NOTAS
 CANOTILHO. J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7ª edição. Coimbra: Almedina, 1941, p.51. In: LENZA,
Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado. .13ª edição. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 4.
AUAD,Denise.  A  perspectiva  dinâmica  do  constitucionalismo.  Revista  de  direito  constitucional
internacional,nº.77,out./dez.2011,p.41­61.
BARROSO,Luís Roberto.Curso de direito constitucional contemporâneo.São Paulo: Saraiva,2009,p.6.
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 6ª edição. São Paulo: Saraiva, 2011. P. 64.
Idem,p.65.
Ibidem,p.66.
 BULOS, op. cit., p. 67.
LENZA,Pedro. Direito constitucional esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2009, p.5.
 De acordo com Gilberto Salomão o Baixo Império seria “o período final do Império Romano do Ocidente, caracterizado por sua
decadência  e  queda,  em  453,  em  meio  às  invasões  dos  povos  germânicos”.  Disponível  em:
http://educacao.uol.com.br/historia/roma­baixo­imperio.jhtm. Acesso em 08 de junho de 2012.
BULLOS,2011,p.66.
Idem.
 LENZA, op.. cit., p. 6.
BINENBOJM,  Gustavo.  Uma  teoria  do  direito  administrativo:  direitos  fundamentais,  democracia  e  constitucionalização.  2ª
edição. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. P. 63.
 A Constituição alemã, promulgada em 1949, tem a designação originária de "Lei Fundamental", que sublinhava seu caráter
provisório,  concebida  que  foi  para  uma  fase  de  transição.  A  Constituição  definitiva  só  deveria  ser  ratificada  depois  que  o  país
recuperasse  a  unidade.  Em  31  de  agosto  de  1990  foi  assinado  o  Tratado  de  Unificação,  que  regulou  a  adesão  da  República
Democrática Alemã  (RDA) à República Federal da Alemanha  (RFA). Após a unificação não  foi promulgada nova Constituição.
Desde o dia 3 de outubro de 1990 a Lei Fundamental vigora em toda a Alemanha (BARROSO, op. cit)
RODRIGUES, Marco Antônio dos Santos. Neoconstitucionalismo e legalidade administrativa: a juridicidade administrativa e sua
relação com os direitos fundamentais. In: XXXIII Congresso Nacional de Procuradores do Estado, Rio de Janeiro, 2007
BULOS,op.cit.,p.90.
DROMI, José Roberto. Lar e forma constitucional:El constitucionalismo del “por­venir”.In:LENZA,Pedro. Direito constitucional
esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2009, p.7.
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esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2009, p.7.
 SARMENTO, Daniel. O neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. In: SARMENTO: Daniel (coord.). Filosofia e
teoria constitucional e contemporânea. Rio de Janeiro. Editora Lumen Juris, 2009 P. 114.
Idem.
 BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito. O  triunfo  tardio do Direito
Constitucional  no  Brasil.  Jus  Navigandi,  Teresina,  ano  10,  n.  851,  1  nov.  2005.  Disponível  em:
<http://jus.com.br/revista/texto/7547 (http://jus.com.br/revista/texto/7547) >. Acesso em: 3maio2011.
BINENBOJM,op.cit.,p.62.
PADILHA,Rodrigo. Direito constitucional sistematizado. Rio de Janeiro: Forense, 2011,p.5.
GUERRA FILHO, Willis Santiago. A pós modernidade do direito constitucional: Da gestação em Weimar à queda do muro de
berlim  e  subsequente  colapso  das  torres  gêmeas.  In:  SARMENTO:  Daniel  (coord.).  Filosofia  e  teoria  constitucional  e
contemporânea. Rio de Janeiro. Editora Lumen Juris, 2009 P.
OLIVEIRA, Rafael  Carvalho Rezende Oliveira.  Constitucionalização  do  direito  administrativo:  o  princípio  da  juridicidade,  a
releitura da legalidade administrativa e a legitimidade das agências reguladoras. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris,
2010,p.11.
 Em especial a constituição do México de 1917 e de Weimar em 1919.
SARMENTO,op.cit.,p.117.
BARROSO,op.cit.
Ibidem.
SARMENTO,op.cit.,p.123.
Idem.
BARROSO,op.cit.
Nas palavras do presidente da Assembleia Nacional Constituinte Ulysses Guimarães.
Consoante o disposto no Preâmbulo Constitucional.
LENZA,op.cit.,p.10.
BARROSO, Luís Roberto. A americanização do Direito Constitucional e seus Paradoxos: Teoria e Jurisprudência Constitucional
no mundo contemporâneo.  In: SARMENTO, Daniel  (coord.). Filosofia e  teoria constitucional e contemporânea. Rio de Janeiro.
Editora Lumen Juris, 2009, p. 314.
 BINENBOJM,op.cit.,p.65.
Termo  utilizado  inicialmente  por  de  Konrad Hesse  em  sua  obra.  “A  força  normativa  da  Constituição”,traduzida  por  Gilmar
Ferreira Mendes.
BARROSO,2005,p.209.
OLIVEIRA,op.cit.,p.24.
BARROSO,2005,p.220.
SARMENTO,op.cit.,p.119.
Idem.
Idem.
SARMENTO,op.cit.,p.132.
Expressão utilizada por Daniel Sarmento.
SARMENTO,op.cit.,p.141.
DIMOULIS,  Dimitri.  Neo  constitucionalismo  e  moralismo  jurídico.In:SARMENTO,  Daniel  (coord.).  Filosofia  e  teoria
constitucional e contemporânea. Rio de Janeiro. Editora Lumen Juris, 2009.
BULOS,op.cit.,p.89.
 OLIVEIRA, op. cit., p. 18.
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Thiago Mello d'Almeida
Bacharel  em  Direito  pela  Universidade  Federal  do  Estado  do  Rio  de  Janeiro  ­  UNIRIO.  Pós­
graduando em Direito Público pela Universidade Cândido Mendes ­ UCAM. Residente Jurídico da
Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro. Advogado.
Informações sobre o texto
Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT)
D'ALMEIDA, Thiago Mello. Neoconstitucionalismo: origens. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3738, 25 set. 2013.
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/25205>. Acesso em: 4 mar. 2016.

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