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Análise do SCU e Vulnerabilidade Socioambiental

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UFPB
FUNDAMENTOS DE CLIMATOLOGIA 2013.2
PROFESSOR Marcelo De Oliveira Moura
SISTEMA CLIMA URBANO E SEUS PRODUTOS SOB O PRISMA DA VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
ANTONIO ARCANJO DOS SANTOS TARGINO, matrícula: 10921269
O clima é fator fundamental dos sistemas ambientais físicos (ou geossistemas). Ele está diretamente ligado à quantidade e qualidade disponível de calor e água. O clima não é um componente materializado e não é visível na superfície terrestre, por isso é difícil estudá-lo. No decorrer de vários anos, estudiosos têm analisado o clima em seus diversos aspectos e consequências. Vários artigos científicos relacionam o clima diretamente com a qualidade de vida dos animais, vegetais e seres humanos.
O professor Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, formado em geografia e história pela Faculdade Nacional de Filosofia em 1950, ensinou Fundamentos de Climatologia, Climatologia Urbana e diversas outras disciplinas. Sua tese de livre-docência Teoria e Clima-Urbano (1975) é um dos principais estudos sobre clima urbano no Brasil. Monteiro também escreveu diversos livros e artigos sobre o clima, entre eles o livro escrito em conjunto com Francisco Mendonça: Clima Urbano. Neste livro, o professor descreve uma proposta teórica e técnica de sustentação e fundamentação aos trabalhos sobre climatologia urbana. É o Sistema Clima Urbano (S.C.U.).
Em sua dissertação de mestrado o professor Marcelo Moura explicou:
A teoria Clima Urbano é composta por critérios e enunciados básicos, questões de consistências, além da constituição dos níveis do sistema. Os critérios estabelecidos se referem ao emprego de dinamismo, pragmatismo, empirismo e modelismo, já os enunciados, em dez, são apresentados a seguir:
O clima urbano é um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização. (MONTEIRO, 1976:95);
O espaço urbanizado, que se identifica a partir do sítio, constitui o núcleo do sistema que mantém relações íntimas com o ambiente regional imediato em que se insere. (MONTEIRO, 1976:96);
O S.C.U. importa energia através do seu ambiente, é sede de uma sucessão de eventos que articulam diferenças de estados mudanças e transformações internas, a ponto de gerar produtos que se incorporam ao núcleo e/ou são exportados para o ambiente, configurando-se como um todo de organização complexa que se pode enquadrar na categoria dos sistemas abertos. (MONTEIRO, 1976:96)
As entradas de energia no S.C.U. são de natureza térmica (oriundas da fonte primária de energia de toda a terra-Sol), implicando componentes dinâmicas inequívocas determinadas pela circulação atmosférica, e decisivas para a componente hídrica englobada nesse conjunto. (MONTEIRO, 1976:97)
A avaliação dessa entrada de energia no S.C.U. deve ser observada tanto em termos quantitativos como, especialmente, em relação ao seu modo de transmissão. (MONTEIRO, 1976:98)
A estrutura interna do S.C.U. não pode ser definida pela simples superposição ou adição de suas partes (compartimentação ecológica, morfológica ou funcional urbana), mas somente por meio da íntima conexão entre elas (MONTEIRO, 1976:99)
O conjunto-produto do S.C.U. pressupõe vários elementos que caracterizam a participação urbana no desempenho do sistema, sendo variada e homogênea essa produção, faz-se mister uma simplificação classificadora eu deve ser constituída através de canais de percepção humana. (MONTEIRO, 1976:100)
A natureza do S.C.U. implica condições especiais do dinamismo interno consoante o processo evolutivo do crescimento e desenvolvimento urbano, uma vez que várias tendências ou expressões formais de estrutura se sucedem ao longo do processo de urbanização (MONTEIRO, 1976:100)
O S.C.U. é admitido como passível de auto-regulação, função essa conferida ao elemento homem urbano que, na medida em que se conhece e é capaz de detectar suas disfunções, pode, através do seu poder de decisão, intervir e adaptar o funcionamento do mesmo, recorrendo a dispositivos de reciclagem e/ou circuitos de retroalimentação capazes de conduzir o seu desenvolvimento e crescimento seguindo metas estabelecidas. (MONTEIRO, 1976:101)
Pela possibilidade de interferência auto-reguladora, acrescenta-se ao S.C.U., como sistema aberto, aquelas propriedades de entropia negativa pela sua própria capacidade de especialização dentro do crescimento através de processos adaptativo, podendo ser qualificado, assim como um sistema morfogenético. (MONTEIRO, 1976:102)
Neste Sistema Clima Urbano há três canais de percepção humana. O primeiro canal, denominado Conforto Térmico, trata de componentes termodinâmicos do clima e se desenvolve com a participação da natureza – homem - natureza e dá para ser visto em todo o S.C.U.
O Canal I, com seu Subsistema I (Conforto Térmico/Termodinâmica), pode ser descrito de maneira bem simples. Seu estudo é feito em campo. A energia solar entra em contato com meio urbano, que dará respostas diferentes dependendo das condições estruturais e dos materiais usados em sua construção. Ambientes com muita área construída com concreto e também possuem espaço natural alterado, como aterros, represas e etc. percebem mais facilmente este efeito termodinâmico. Os principais produtos deste canal são as ilhas de calor e/ou frescor, alteração na ventilação e precipitação. Seus efeitos são o desconforto e redução no desempenho humano.
O Canal II, chamado de Qualidade do Ar se associa ao seu nível de resolução, o Subsistema II, Físico-Químico. Este canal está diretamente relacionado à saúde humana. Com o aumento da poluição do ar as crianças e idosos são os primeiros e mais suscetíveis à adquirir doenças respiratórias. Este canal de desenvolve com as atividades urbanas, aumento do número de veículos lançando gases no ar, indústrias, obras e etc. Seus produtos são a poluição do ar, inversão térmica e chuvas ácidas, e pode provocar problemas sanitários, doenças respiratórias, oftalmológicas e outras. A inversão térmica aumenta a concentração de poluentes no ar na altura das cidades. Isto ocorre principalmente nas megalópoles e grandes centros econômicos. 
A tabela abaixo mostra os principais gases lançados na atmosfera e os principais efeitos que eles causam.
Tabela 01
O terceiro canal, Impacto Meteórico e o Subsistema III, Hidrometeórico se dá na atmosfera e seus desvios rítmicos. Fruto dos susbsistemas I e II. Gera ataques à integridade urbana: alagamentos, enchentes, inundações. Provoca problemas de circulação e comunicação urbana. A figura acima mostra claramente algumas das situações causadas pelo subsistema III.
Conhecendo estes três canais de percepção do S.C.U., deduz-se que as principais áreas de risco á integridade humana são as que se encontram em vulnerabilidade socioambiental, que se dá com a junção de risco ambiental com vulnerabilidade social.
Apesar de estarmos em um país tropical, com uma média de temperatura por volta dos 25ºC, é possível encontrar no sul do Brasil, lugares com temperatura abaixo dos 5ºC em algumas épocas do ano. Em outros lugares, como no Nordeste e Norte, os termômetros chegam nos 35ºC, 40ºC. A sensação térmica ainda pode variar estas temperaturas, tanto para frio quanto para calor.
Situações de riscos a desconforto térmico estão sendo observadas em todas as cidades brasileiras, mas quem mais sofre com isto são as pessoas mais pobres, por não terem condições financeiras de se proteger dessas mudanças de temperatura. Esta vulnerabilidade socioambiental pode ser vista em outros aspectos do S.C.U.
Nas cidades com o ar muito poluído, por exemplo, as crianças das famílias mais pobres são as que mais são hospitalizadas por doenças respiratórias ou oftalmológicas. Em algumas épocas do ano há chuvas excessivas em lugares de risco ambiental, como deslizamento de barreiras, alagamentos, enchentes, inundações. As pessoas que não tem condições socioeconômicas de se mudarem destes lugares são as mais afetadas. Casas são destruídas, pessoas ficam doentes e outras morrem.
É verdade que nem todo mundo sofre de maneira igual à ações da natureza.Assim, o professor Mendonça esclarece:
Os riscos socioambientais de origem climática respondem, preponderantemente, à uma condição de riscos naturais, que levam à uma primeira avaliação de sua ocorrência a partir de uma configuração climática de uma dada localidade. Assim, faz-se mister a identificação e análise das condições climáticas habituais da localidade para, em seguida, abordar a manifestação de condições meteorológicas e climáticas excepcionais, dando um melhor e mais detalhado conhecimento da formação dos riscos climáticos.
No curta-metragem Ilha das Flores, escrito e dirigido pelo cineasta Jorge Furtado em 1989, podemos ver que há certo grupo de pessoas que, por serem bastante pobres, não tem condições nem de comprar seus alimentos. Provavelmente estas pessoas moram nas ruas em ou palafitas ou casebres. Neste lugar, Ilha das Flores, há um lixão a céu aberto. E as pessoas que vivem deste lixão são as mais propícias a ficarem doentes e sofrer com as mudanças de temperatura durante o dia.
Por causa dos gases produzidos no lixão e também o chorume, o ambiente sofre com poluição do ar, elevação de temperatura, água contaminada. É um ambiente de constante risco ambiental e a comunidade que mora aí vive em constante vulnerabilidade social. Em contraponto a esta situação, o filme inicia com o produtor de tomates que tem seu carro, plantação e casa. Uma mulher com uma casa boa, conforto e dinheiro para comprar seus alimentos. Estas duas últimas pessoas não se encontra na mesma situação de risco que aquelas que se alimentam de restos de comida.
Assim, podemos dizer que o Sistema Clima Urbano, com seus canais e subsistemas, pode ser analisado por todos, mas as sensações e os efeitos da natureza no ser humano têm repercussões diferentes. Um empresário em seu escritório com ar-condicionado pode nem perceber que lá fora está com 45º. Uma pessoa que mora ao lado de um barranco, logo nos primeiros minutos de chuva, já fica preocupado se a barreira vai deslizar.

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