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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Faculdade de Direito Arthur Roberto da Silva Ítalo Castro Liniker Corrêa de Souza Rafael de Oliveira Melo Thiago Floriano ECONOMIA POLÍTICA: Desenvolvimento e subdesenvolvimento econômico Porto Alegre 2016 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Faculdade de Direito ECONOMIA POLÍTICA: Desenvolvimento e subdesenvolvimento econômico Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito para a conclusão da disciplina de Economia Política, sob a orientação do Professor Doutor Ricardo Antônio Lucas Camargo. Porto Alegre 2016 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 2 1. CONCEITOS BÁSICOS ....................................................................................................................... 3 1.1 MACROECONOMIA .................................................................................................................. 3 1.1.1 Produto Bruto ................................................................................................... 3 1.1.2 Produto Líquido ................................................................................................ 4 1.1.3 Renda Nacional ................................................................................................ 4 1.1.4 Renda Disponível ............................................................................................. 5 1.2 DESENVOLVIEMENTO SUSTENTÁVEL ....................................................................................... 5 2. DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO ............................................................................ 6 2.1. DEFINIÇÃO ............................................................................................................................... 6 2.2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO ......................................................... 6 2.3. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO SUBDESENVOLVIMENTO ................................................... 7 3. CAUSAS E ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO E A FUNÇÃO DO ESTADO NO PROCESSO ................. 8 3.1. CAUSAS E ETAPAS .................................................................................................................... 8 3.2. PAPEL DO ESTADO NO PROCESSO ........................................................................................... 9 4. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO .................................................................... 12 5. O CONTEXTO HISTÓRICO BRASILEIRO .......................................................................................... 15 CONCLUSÃO .......................................................................................................................................... 18 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................................ 19 2 INTRODUÇÃO Este trabalho tem o objetivo de apresentar os conceitos de desenvolvimento e subdesenvolvimento econômico, explicando os conceitos da macroeconomia, definindo os indicadores de desenvolvimento e diferenciando o de crescimento econômico. O texto pretende enfocar nos aspectos qualitativos do desenvolvimento econômico, assim como demonstrar por quais processos uma economia deve passar para que se alcance tal desenvolvimento. Deste modo, procuramos compreender a importância que o os conceitos da macroeconomia têm na definição de países desenvolvidos, juntamente com os processos levam a este desenvolvimento, levando em consideração, também, o desenvolvimento mediante a proteção ao meio ambiente. No final, procuramos analisar o contexto histórico brasileiro e a partir daí darmos exemplos de desenvolvimento econômico que ocorreram no Brasil no século XX. 3 1. CONCEITOS BÁSICOS 1.1 MACROECONOMIA Para que possamos entender corretamente o que é e como se dá o desenvolvimento ou subdesenvolvimento econômico, é mister estabelecermos primeiro alguns conceitos macroeconômicos, uma vez que estes serão utilizados como parâmetros e indicadores da situação econômica de um país. ...a macroeconomia enfoca diretamente os denominados grandes agregados, grandezas que abarcam um conjunto dessas atividades funcionalmente consideradas dentro do todo econômico. Fala-se, assim, na macroeconomia em consumo, renda, emprego, investimento, poupança, inflação, saldo da balança comercial e outras grandezas que representam parcelas funcionalmente substantivas, globais, de todo um conjunto de atividades econômicas, sem identificar produtos ou mercados específicos 1 . Em outras palavras, a macroeconomia não se preocupa com aspectos pontuais, mas em obter respostas abrangentes e globais sobre o funcionamento do sistema econômico como um todo. Vale salientar que existe uma imensa gama de termos e conceitos dentro do campo da macroeconomia e que este trabalho se restringirá a definir apenas alguns que foram considerados, durante sua execução, como importantes para a melhor compreensão do assunto principal (desenvolvimento e subdesenvolvimento econômico). Sigamos então para a definição destes conceitos: 1.1.1 Produto Bruto 1 � NUSDEO, Fábio. Curso de Economia: Introdução ao Direito Econômico. 2ª ed. rev. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 90. 4 Trata-se do somatório de todos os bens e serviços produzidos ao longo de um dado período (medido, geralmente, anualmente). Entretanto, para esse cálculo, consideram-se apenas os bens finais (que não serão mais objeto de transformação ou absorção por outro produto). Tal medida visa evitar a dupla contagem de um mesmo produto. Por exemplo, se não fosse por essa questão, o trigo seria contado na sua extração e na produção de farinha e esta, na sua produção e na produção de pão. Da necessidade de se evitar a dupla contagem surgiu o conceito de Valor adicionado. De uma forma simples, esse conceito determina que, para o cálculo do produto bruto, no exemplo acima, do valor do pão será descontado o da farinha, do valor da farinha será descontado o do trigo e assim sucessivamente. Apesar da simplicidade dessa definição, o valor agregado tem um significado econômico denso, pois visa captar a contribuição líquida de todos os estágios de produção até o consumidor final, servindo inclusive para o cálculo de impostos (no Brasil, o ICMS). O Produto Bruto envolve outros dois conceitos, a saber, Produto Nacional Bruto (PNB) e Produto Interno Bruto (PIB). A especificação do Produto Bruto como Produto Interno Bruto – PIB – diz com o valor da produção gerada nos limites geográficos de um determinado país. Já a especificação como Produto Nacional Bruto – PNB – exclui a remuneração remetida ao exterior e inclui a que recebida do exterior para o país 2 . 1.1.2 Produto Líquido Uma parcela do que é produzido (estima-se, geralmente, cinco por cento) é destinado à reposição e manutenção de máquinas equipamentos e instalações utilizados na produção (fatores ou capitais fixos). Da dedução desse valor de 2 � CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. Economia política para ocurso de direito. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editora, 2012, p. 220. 5 reparação e manutenção (depreciação) do Produto Bruto obtém-se o Produto líquido, que, analogamente, poderá ser subclassificado em Produto Nacional Líquido (PNL) e Produto Interno Líquido (PIL), quando descontados de um ou outro. Assim: PNL = PNB – Depreciaçãoe PIL = PIB - Depreciação 1.1.3 Renda Nacional A princípio, um fluxo circular de renda considera que o somatório de tudo que é produzido compõe o Produto Bruto e o somatório de todas as rendas pagas, pelas empresas, às famílias compõem a Renda Nacional (de onde surge uma igualdade fundamental da macroeconomia: Produto Bruto = Renda Nacional). Entretanto, ainda devemos considerar que o governo executa diversas cobranças de tributos diretos (IRPF, IPVA, IPTU, etc) e indiretos (ICMS, ISS, IPI, etc) ao longo do processo produtivo até o consumidor final e, devido a isso, o produto e a renda não são idênticos. Se deduzirmos do produto estes impostos, teremos o Produto a Custo de Fatores, que então corresponderão à Renda Nacional. Assim: Renda Nacional = Produto Líquido – Impostos Indiretos 1.1.4 Renda Disponível É “aquela da qual a população como um todo poderá dispor para canalizá-la ou ao consumo ou a poupança”3. É obtida subtraindo-se o valor dos impostos diretos da Renda Nacional. 3 6 Assim: Renda Disponível = Renda Nacional – Impostos Diretos 1.2 DESENVOLVIEMENTO SUSTENTÁVEL Além dos conceitos de macroeconomia, é necessário compreender também compreender um último conceito antes de falarmos diretamente sobre o desenvolvimento econômico. Este seria o conceito de Desenvolvimento Sustentável. A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental 4 . � NUSDEO, Fábio. Curso de Economia: Introdução ao Direito Econômico. 2ª ed. rev. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 296. 4 � WWF Brasil – O que é desenvolvimento sustentável? Disponível em < http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel /> Acesso em 27 de maio de 2016. 7 2. DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO 2.1. DEFINIÇÃO O desenvolvimento é um processo de crescimento de uma economia, ao longo do qual se aplicam novas tecnologias e se produzem transformações sociais, que acarretam uma melhor distribuição da riqueza e da renda. Caracteriza-se pelo aumento sustentado da produtividade ou da renda por habitante, acompanhado por sistemático processo de acumulação de capital e incorporação de progresso técnico. De acordo com Schumpeter, por desenvolvimento econômico entendem-se os aspectos quantitativos e qualitativos do crescimento econômico, sendo exemplo disso o processo de mutação por que passa a produção que revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro, destruindo os elementos antigos e criando novos. Em outras palavras, o desenvolvimento é entendido como mudanças no processo de produção, e ocorre essencialmente em virtude da introdução de inovações. Celso Furtado defende que a definição de Schumpeter é impossível em economias subdesenvolvidas, dada à fragilidade da base capitalista inicial. O desenvolvimento assumiu certa importância no debate econômico depois da Segunda Guerra Mundial, é um tema novo, que ganhou nova dimensão e importância no período que vai do pós-Segunda Guerra até o advento da crise do petróleo. Por subdesenvolvimento entende-se a situação dos países menos avançados, caracterizada por baixa renda por habitante, reduzido nível de poupança e insuficiente dotação tecnológica, ou seja, tudo que limita o crescimento econômico. É o que marca a desigualdade econômica entre os povos, sendo os subdesenvolvidos conhecidos como países de terceiro mundo, esses países foram, em regra, colônias dos países que hoje são desenvolvidos. 8 2.2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO As principais características de desenvolvimento econômico são: a) Aplicação de novas tecnologias, a começar pelo setor primário da economia. b) Crescimento econômico acompanhado do aumento geral da qualidade de vida da população. c) Prevalência dos setores terciários e quaternários na economia, sendo que estes setores exportam produtos para outros países. d) Baixa desigualdade na distribuição de renda. Nesse contexto, o processo de desenvolvimento da economia começa a partir da agricultura, onde são aplicadas novas tecnologias e, a partir daí, impulsiona a ida de trabalhadores para a cidade, trabalhadores estes que serão os responsáveis pelo desenrolar do crescimento industrial. 2.3. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO SUBDESENVOLVIMENTO As características gerais do subdesenvolvimento econômico são: a) Renda per capita baixa (cerca de um décimo ou menos da media dos mais desenvolvidos). b) Grande desigualdade na distribuição de renda, com extremos de riqueza e de pobreza. c) Alta taxa de natalidade e mortalidade. d) Prevalência do setor primário da economia na formação da renda, sendo o secundário atrofiado e o terciário inflado. Dentro desse quadro, o tamanho absoluto da economia do país é algo irrelevante, pois ele poderá apresentar um PIB elevado, mas também apresentar um baixo PIB per capita, mostrando haver precária distribuição de renda e extremos de riqueza e pobreza. 9 3. CAUSAS E ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO E A FUNÇÃO DO ESTADO NO PROCESSO 3.1. CAUSAS E ETAPAS Segundo Fábio Nusdeo, três fatores essenciais tem sido identificados na base dos processos de desenvolvimento: a acumulação de capital, a evolução tecnológica e a existência de um mercado consumidor5. Dessa forma, considerando que o desenvolvimento resulta em uma produção maior por habitante, é necessário que se criem recursos destinados ao investimento em capital fixo social para alavancar a produção. No entanto, o autor fala em um “círculo vicioso da pobreza”6 em estados subdesenvolvidos, de forma a tratar a situação em que, considerando que a renda da população de tais países tende a ser baixíssima, seria inútil até mesmo se os financeiramente mais abastados acumularem capital produtivo, porque não haveria mercado consumidor. Sendo assim, é necessário um processo de distribuição de renda que possibilite aumentar a parcela consumidora da população e, assim, haver um mercado. A exemplo disso, levando em conta que o autor considera a quebra desse ciclo “o desafio inicial de qualquer política de desenvolvimento” 7, poderiam ser lançadas obras públicas pelo governo – como fez o Presidente Franklin Delano Roosevelt com o objetivo de restaurar a economia norte americana – e serem instaladas fábricas para beneficiar ou 5 � NUSDEO, Fábio. Curso de Economia: Introdução ao Direito Econômico. 4 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005, p.349. 6 � NUSDEO, Fábio.Curso de Economia: Introdução ao Direito Econômico. 4 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005, p.350. 7 ³ NUSDEO, Fábio. Curso de Economia: Introdução ao Direito Econômico. 4 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005, p.350. 10 industrializar o produto local, o que geraria uma diferenciação salarial, bem como uma classe média consumidora e, posteriormente, um estímulo para investimentos que poderão acarretar na substituição de importações. No entanto, é necessário a existência de um contingente populacional – já com mínima qualificação ou capaz de qualificar-se a ponto de se tornar-se um mercado e retornar o capital à sociedade – e de iniciativa empresarial para que isso seja possível. Além disso, observa-se que a tecnologia, por aumentar a produtividade de todas as formas de produção, é algo essencial e decisivo no processo de desenvolvimento. Inicialmente, como base desse processo, permitirá a liberação de mão de obra do setor primário para os setores da indústria e dos serviços, o que, quando aconteceu na Europa e nos Estados Unidos, gerou a chamada Revolução Industrial. Após isso, tendo em vista o fato de que a tecnologia amplia a força produtiva do capital e do trabalho, faz-se possível a continuidade do processo por outros setores e a conversão da população em fator trabalho – com graus de qualificação - e em mercado. Ainda sobre o papel da tecnologia, para exemplificar, cabe à observação o comentário de Luiz Carlos Bresser-Pereira: “Para que a Revolução Capitalista pudesse se desencadear, a partir do século XI, na Europa, foi necessário que, primeiro, houvesse uma revolução agrícola que, através do uso de arados com lâminas de ferro e outras ferramentas capazes de cortar terras duras, viabilizou a exploração de terras altas e férteis, mas não de aluvião que caracteriza esse continente, e produzisse o excedente econômico necessário para que trabalhadores pudessem ser transferidos para o comércio e a indústria. Este excedente foi inicialmente investido em catedrais, palácios, e no comércio de bens de luxo, primeiramente ao nível da própria Europa, do Norte da África e do Oriente Médio, e, em seguida, a nível mundial, deu origem à Revolução Comercial” 8. Nota-se que – como fica nítido no trecho “através do uso de arados 8 11 com lâminas de ferro e outras ferramentas capazes de cortar terras duras” – todo o desenvolvimento foi impulsionado pela implementação de uma tecnologia na agricultura. 3.2. PAPEL DO ESTADO NO PROCESSO Contudo, é necessário observar que, para que o processo prossiga, é preciso que haja presença do Estado na forma de estímulos a determinados setores ou atividades e criação de empresas públicas ou sociedades de economia mista – essas com o objetivo de garantir os suprimentos de insumos estratégicos. As principais áreas de atuação do estado são as políticas tributária, creditícia, monetária e a adaptação institucional9. No que se refere à política tributária, segundo Fábio Nusdeo,: Inclui a elevação de tarifas de importação para reserva a indústria nacional, a concessão de incentivos fiscais para investimentos em determinadas áreas geográficas, setores ou mesmo para a capitalização de empresas, penalização tributária do consumo em alguns de seus segmentos, tributação progressiva de terras e terrenos ociosos e outras medidas da espécie a integrarem uma complexa legislação, que vêm enriquecer e dar mais vida ao Direito Tributário clássico, empenhado, como já se disse, apenas em coletar recursos para o Erário. Dado o seus caráter de especificidade e particularismo, os tributos prestam-se adequadamente a essa intervenção para atingir certas atividades relevantes na condução do processo 10 . � BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. O Conceito Histórico de Desenvolvimento Econômico. 2006, p. 3. 9 � NUSDEO, Fábio. Curso de Economia: Introdução ao Direito Econômico. 4 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005, p.354. 10 � NUSDEO, Fábio. Curso de Economia: Introdução ao Direito Econômico. 4 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005, p.354. 12 Quanto às políticas creditícia e monetária, nota-se que a primeira trata-se de aplicar crédito seletivo a setores ou atividades enquadradas em programa de estímulo, ou seja, fornecê-los empréstimos com prazos maiores e juros menores. Já a segunda, pelo fato de trabalhar com investimentos, precisa ser muito técnica e precisa, pois implica tensões inflacionárias. Tais investimentos, em curto prazo, causam prejuízo, pois geram renda para os titulares dos fatores de produção envolvidos sem que haja produção imediata. Afirma-se que, por essa razão, muitos dos países em desenvolvimento têm convivido com elevadas taxas inflacionárias até a década de 90. Já no que tange a adaptação institucional, tem-se uma medida muito importante, porém difícil. Diz-se isso porque envolve a remoção da estrutura jurídico-institucional vigente – que costuma ser arcaica e, muitas vezes, impeditiva do próprio desenvolvimento – e sua substituição por outra mais aperfeiçoada e propícia ao desenvolvimento. A legislação de caráter econômico mais explícito é a primeira a ser adaptada, mas o processo continua em outras leis e áreas do Direito que influenciam o desenvolvimento, como o Direito Civil, o Direito Penal e o Direito administrativo. Além disso, Luiz Carlos Bresser-Pereira afirma: “Para que haja desenvolvimento econômico a experiência histórica ensina que é essencial que as instituições garantam, em primeiro lugar, a ordem pública ou a estabilidade política, em segundo lugar, o bom funcionamento do mercado, e, em terceiro lugar, boas oportunidades de lucro que estimulem os empresários a investir e inovar. É necessário, portanto, que o estado, na sua qualidade de instituição maior, seja forte: tenha legitimidade e capacidade para formular políticas, cobrar impostos e impor a lei”11. 11 � BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. O Conceito Histórico de Desenvolvimento Econômico. 2006, p. 6. 13 Sobre a força do Estado, o mesmo autor esclarece que força e tamanho são características diferentes, ou seja, um Estado forte não necessariamente é um Estado grande, pois existem exemplos que contradizem a igualdade desses termos.12 Assim, cabe citar Bresser-Pereira novamente: “Para que um estado democrático seja realmente forte é necessário que sua ordem jurídica e seu governo tenham legitimidade, ou seja, apoio na sociedade civil” 13. Ademais, ainda analisando ideias de Bresser-Pereira, considerando que diferentes classes e grupos políticos estão sempre em conflito, observa-se que também é função do Estado estabelecer o equilíbrio entre o desenvolvimento e a distribuição, entre os lucros e os salários, entre os investimentos e as despesas sociais14. 12 � BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. O Conceito Histórico de Desenvolvimento Econômico. 2006, p. 5,6. 13 � BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. O Conceito Histórico de Desenvolvimento Econômico. 2006, p. 6. 14 � BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. O Conceito Histórico de Desenvolvimento Econômico. 2006, p. 8. 14 4. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO De forma equivocada se confundem os termos crescimento e desenvolvimento econômico ou tratam como se fossem a mesma coisa.Em síntese, crescimento e desenvolvimento econômico são duas coisas ou situações diferentes. 4.1 CRESCIMENTO Segundo Siedenberg, crescimento é um processo de mudanças de caráter principalmente quantitativo, significando aumento em dimensão, volume e/ou quantidade. Para Schumpeter o crescimento seria o mero aumento da renda per capita enquanto que o desenvolvimento envolveria transformações sociais e políticas. Nessa linha de raciocínio, considera-se o crescimento econômico como o aumento da capacidade da produção de uma economia, em determinado período de tempo. Geralmente é medido pela variação do PNB (Produto Nacional Bruto) ou do PIB (Produto Interno Bruto) O crescimento de uma economia é indicado também pelo crescimento da força de trabalho, pela receita nacional poupada e investida e pelo grau de aperfeiçoamento tecnológico. Fabio Nusdeo diz que pode ocorrer um crescimento, em razão de fatores externos, que pode aumentar o PIB e a renda, sem alterar as estruturas produtivas nem sociais. Bresser Pereira também ressalta este ponto de vista, dizendo que em casos de países com recursos naturais abundantes pode ocorrer crescimento de renda por habitante sem que haja desenvolvimento, como é o caso dos países ricos em petróleo. Cabe salientar, que nem todo crescimento econômico é benéfico à economia como um todo, pois pode estar ocorrendo transferência de excedentes 15 para outros países ou o excedente produzido pode estar sendo apropriado apenas por poucas pessoas ou grupos sociais. 4.2 DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento econômico ocorre historicamente no contexto de estados nacionais. O sistema capitalista caracteriza-se, no plano internacional, por uma competição econômica permanente. Desde que o capitalismo começa a surgir no século XIV; esta competição foi acompanhada de guerras, já que cada nação não tinha suas fronteiras plenamente definidas, e a abertura de mercado no exterior continuava a ser realizada de forma monopolista, através da constituição de colônias Bresser Pereira O Conceito histórico de desenvolvimento econômico 2006. O conceito de Desenvolvimento Econômico está relacionado à melhoria do bem estar da população. É o processo de acumulação de capital e do progresso técnico ao trabalho e ao capital que leva ao aumento da produtividade, dos salários, e do padrão médio de vida da população. Geralmente, o desenvolvimento econômico é medido pelo aumento da renda por habitante e por decorrência desta mede o aumento geral da produtividade. Avelãs faz uma crítica à visão rostowniana do processo de PENGO BAGOLIN, Izete (2007) “Crescimento E Desenvolvimento Econômico Do Brasil: Uma Análise Comparativa Da Desigualdade De Renda Per Capita Dos Níveis Educacionais.” NUSDEO, Fabio (2005) “CURSO DE ECONOMIA Introdução ao Direito Econômico.” BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos (2008) “CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO” Notas para uso em curso de desenvolvimento econômico na Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.; AVELÃS NUNES, Antônio José. Industrialização e Desenvolvimento- A Economia Política do Modelo Brasileiro de Desenvolvimento. São Paulo, Editora Quartier Latin, 2005. 16 desenvolvimento, que diz que o desenvolvimento é um processo natural da evolução humana, e que os países subdesenvolvidos deveriam percorrer o mesmo caminho histórico que percorreram os países desenvolvidos, diz também que os autores defensores desta visão acham completamente normal e desejável que haja o agravamento das desigualdades na distribuição de renda. Conforme conceituado por Siedenberg, o desenvolvimento é um processo de mudanças sociais e econômicas que ocorrem numa determinada região. Considerando que a abrangência dessas mudanças envolve uma série de inter- relações com outros elementos e estruturas presentes nessa região, configurando um complexo sistema de interações e abordagens. De acordo como apresenta a Dr.ª Izete Bagolin o autor Vasconcellos classifica as fontes de crescimento para diferenciá-los de desenvolvimento econômico. Demonstra também, que o crescimento da produção e da renda resulta de mudanças na quantidade e na qualidade de dois insumos básicos: capital e mão-de-obra. As fontes de crescimento são: a) aumento na força de trabalho, derivado do crescimento demográfico e da imigração; b) aumento do estoque de capital, ou da capacidade produtiva; c) melhoria na qualidade da mão-de-obra, por meio de programas de educação, treinamento e especialização; d) melhoria tecnológica, que aumenta a eficiência na utilização do estoque de capital; e) eficiência organizacional referente à interação dos insumos. Em suma, afirma-se que desenvolvimento econômico é algo que combina crescimento com distribuição de renda. Um exemplo de crescimento sem desenvolvimento é o da cidade de Mossoró, que nos últimos anos apresentou um aumento considerável do fluxo comercial vindo do setor salineiro e do parque industrial impulsionada pela Petrobras, aumento razoável no nível de exportação de seus produtos primários, 17 na criação de crustáceos, na verticalização do mercado imobiliário e no setor terciário, cujos recursos advindos deste crescimento não causaram modificações estruturais que pudessem induzir incremento complementar em outros setores ou segmentos da economia local e não implicaram em modificações institucionais que melhorassem a qualidade de vida da população. O crescimento econômico de Mossoró, não impede que a cidade apresente um alto índice de desemprego, sendo visível o grande número de famílias que vivem abaixo da linha internacional de pobreza e os índices de desemprego, violência, prostituição infantil e desigualdades sociais crescem em progressão geométrica. O desenvolvimento econômico não pode ser analisado, somente, pelos indicadores como crescimento da produção ou da renda por habitante. Deve ser complementado por indicadores que representem a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos, e a elevação das condições sociais dos habitantes. Siedenberg aponta que é necessário para o desenvolvimento social e econômico uma série de estratégias, políticas e mecanismos implementados com sucesso, já o desenvolvimento socioeconômico também é decorrência de uma série de acasos oportunos que ocorrem de forma casual, desordenada e abundante em um determinado lugar e tempo. “Em conclusão, o desenvolvimento econômico promove a melhoria dos padrões de vida mas não resolve todos os problemas de uma sociedade. Por isso ele é apenas um dos cinco grandes objetivos políticos a que se propõem as sociedades nacionais modernas, ao lado da segurança, da liberdade, da justiça social, e da proteção do ambiente. É um objetivo fundamental que não se opõe aos outros quatro no médio prazo, mas que terá PENGO BAGOLIN, Izete (2007) “Crescimento E Desenvolvimento Econômico Do Brasil: Uma Análise Comparativa Da Desigualdade De Renda Per Capita Dos Níveis Educacionais.” INDICADORES ECONÔMICOS DA CIDADE DE MOSSORÓ http://www.prefeiturademossoro.com.br/indicadores/ 18 que estar sendo permanentemente submetido a compromissos em função dos conflitos de curto prazo” (Bresser Pereira). 5. O CONTEXTO HISTÓRICO BRASILEIRO O Brasil possuía um conjunto de características que claramente o definiria como país subdesenvolvido (ou em desenvolvimento), pois, num retrato tirado nas primeiras décadas do século XX,a maior parte do seu Produto Interno Bruto - PIB vinha do setor primário, a maior parte de sua população estava na área rural, a renda per capita era muito mal distribuída e as técnicas de produção empregadas eram muito rudimentares. Após a Crise de 1929, o Brasil implementou o Processo de Substituição de Importações15, no ano de 1930. O objetivo dessa política consistia basicamente no fato do país começar a produzir internamente o que antes importava. Esse fato trouxe como consequência uma expressiva expansão do seu setor industrial e a transformação do país, que teve sua velocidade intensificada após a Segunda Guerra Mundial. O processo durou cerca de cinco décadas e já em meados da década de 50 o PIB do setor primário é superado pelo industrial. Com o impulso de industrialização, a população urbana supera pela primeira vez a população rural em 1965 e a tendência é aumentada nos anos seguintes. Há uma tese, que explica o processo anterior ocorrido no Brasil, conhecida como Teoria dos Choques Adversos16. Ela é atribuída a economistas 15 � REGO, José Márcio e MARQUES, Rosa Maria. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Editora Saraiva, 2003. 16 � PEREIRA, José Maria Dias. Artigo: Uma Breve História do Desenvolvimentismo no Brasil, página 129. Disponível em http://www.centrocelsofurtado.org.br/arquivos/image/201111011216170.CD9_artigo_5.pd f. Acesso em 25 de maio de 2016. 19 da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe – CEPAL e resume- se de forma simplificada no fato de que um choque adverso, como por exemplo, uma guerra ou crise externa, impulsiona a economia a voltar-se para o mercado interno. No caso, o estímulo à produção industrial interna. Até o final da década de 70, o Brasil concluiu as etapas do processo de substituição de importações e estabeleceu sua matriz industrial. Chegando a figurar entre as grandes economias do planeta no início da década de 80. No entanto, apesar do desenvolvimento trazido com as conquistas, o modelo adotado trouxe alguns problemas como: uma indústria dependente e pouco competitiva, um elevado grau de intervenção estatal na economia, concentração regional e pessoal de renda, inflação ascendente e endividamento externo e interno elevados. Então, ao final desse processo, o país passou a vivenciar um momento agudo de crise e a era desenvolvimentista, característica das décadas de 30 até 70, foi descontinuada. A partir de 1980, o desenvolvimento nacional fica fragilizado devido à instabilidade macroeconômica, motivada em parte pela inflação, e a fragilização da máquina estatal, após suas intervenções desenvolvimentistas. Então, a ideologia econômica liberalista ganha força. Após o final do governo militar, inicia-se a Nova República, em 1985. Surge então a nova Constituição Federal de 1988 – CF/88, apelidada de “Constituição cidadã”, por trazer vários direitos aos cidadãos. No entanto, é interessante destacar nesse ponto a crítica do economista Roberto Campos que escreveu sobre a CF/88: É um balaio de confusos anseios, sem custo calculado ou indicação de pagador. (...) Na Constituição, promete-se uma seguridade social sueca com recursos moçambicanos. Na Constituição de 1988 está previsto em seu art. 3º, II, tem como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil garantir o desenvolvimento nacional. Esse desenvolvimento deve ser entendido em sentido amplo, tal como desenvolvimento econômico e social. Os inúmeros direitos previstos na Carta Magna tem um custo e para garanti-los foi necessário 20 um aumento da carga tributária. Essa medida impacta a economia e a qualidade de vida da sociedade. Como forma de controlar a alta inflação para a retomada do desenvolvimento, foram lançados planos econômicos, os quais, na tentativa de estabilização, congelaram salários e fizeram reformas monetárias. Chegando ao ápice do confisco das aplicações financeiras e limitação dos saques nas contas. Nesse período, o desenvolvimento do país foi baixo, dado o contexto econômico e o pesadelo da alta inflação. Em 1994, foi criado o Plano Real, o qual conseguiu conter a inflação, fazendo-a chegar à casa de um dígito no mês. Isso permitiu a estabilização da economia e a consequente retomada do desenvolvimento. Foi possível implementar projetos como o “Brasil 2020”, criado em 1998, que consistiu num exercício de reflexão para traçar as visões sobre o futuro do Brasil e, com isso, elaborar cenários para guiar a trajetória do desenvolvimento brasileiro, num projeto estratégico de desenvolvimento de longo prazo para o Brasil. Para concluir, transcrevem-se as palavras de Bresser Pereira em seu artigo “Crescimento e Desenvolvimento Econômico”: As nações definiram historicamente a autonomia nacional e o desenvolvimento econômico como seus objetivos políticos centrais. Hoje, a importância do desenvolvimento econômico entre os objetivos políticos das sociedades modernas fica clara pela simples leitura dos jornais. No noticiário interno sobre cada país, vemos que uma grande parte dos esforços de seus governantes está voltada para promover o desenvolvimento econômico do país. 21 CONCLUSÃO Da análise dos assuntos tratados ao longo deste trabalho, amparados nas bibliografias dos diversos autores que foram utilizadas para a composição do mesmo, podemos concluir que o desenvolvimento econômico tem sido definido como um processo de crescimento constante e autossustentado da renda per capita ao longo dos anos, baseado numa mudança da estrutura econômica do país em questão. Esta mudança estrutural basicamente significa um crescimento do setor secundário da economia seguido de um crescimento do setor terciário. Observamos ainda que os países subdesenvolvidos apresentam uma alta proporção do produto e da renda provindos do setor primário, com setores secundário e terciário diminutos. Entretanto, às vezes o setor terciário é preenchido com serviços de reduzida produtividade, o que demonstra um “desemprego disfarçado”. Chegamos à distinção dos conceitos de crescimento e desenvolvimento. Este último é um crescimento do produto e da renda per capita sem que se altere a estrutura da economia – fato que ocorre com os países plenamente desenvolvidos, cujas mudanças estruturais já se completaram. Compreendemos que o desenvolvimento exige progressos em uma série de dados qualitativos da economia, indicando melhoras na qualidade de vida. Por fim, verificamos o Brasil em seus diversos momentos na labuta em busca do desenvolvimento, com seus planos e ações que apontam para uma melhoria, mas que ainda estão longe de completar plenamente todas as etapas do desenvolvimento econômico. 22 BIBLIOGRAFIA AVELÃS NUNES, Antônio José. Industrialização e Desenvolvimento- A Economia Política do Modelo Brasileiro de Desenvolvimento. São Paulo, Editora Quartier Latin, 2005. BAGOLIN, Izete Pengo. Crescimento E Desenvolvimento Econômico Do Brasil: Uma Análise Comparativa Da Desigualdade De Renda Per Capita Dos Níveis Educacionais, 2007. BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. O Conceito Histórico de Desenvolvimento Econômico. Trabalho preparado para curso de desenvolvimento econômico na Fundação Getúlio Vargas, 2006. BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Crescimento e Desenvolvimento Econômico, Notas para uso em curso de desenvolvimento econômico na Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, 2008. CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. 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