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Listas Negras por Sérgio Pinto Martins

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LISTAS NEGRAS
11/01/2006 por Sergio Pinto Martins
Há empresas que estão deixando de contratar empregados que tenham proposto ações trabalhistas contra empregadores. A isso se deu o nome de lista negra nas empresas. 
Discriminar tem o sentido de diferençar, distinguir, discernir, estabelecer diferença, porém pode ter um aspecto depreciativo quando se faz a diferenciação. 
O inciso IV, artigo 3.º da Constituição dispõe que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil promover o bem estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
Ao se adjetivar a lista de negra já se está incorrendo em discriminação. 
Dispõe o inciso XXXV do artigo 5.º da Lei Maior que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. O direito de ação é constitucional. É um direito subjetivo de qualquer cidadão. 
O inciso XXX do artigo 7.º da Lei Magna proíbe critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor, estado civil, mas não trata de lista negra. 
A Convenção n.º 111 da OIT, de 1958, versa sobre discriminação em matéria de emprego e ocupação. Foi aprovada pelo Decreto Legislativo N.º04, de 24 de novembro de 1964 e promulgada pelo Decreto n.º 2.682, de 22 de julho de 1998. Esclarece a norma internacional que o termo discriminação compreende "toda distinção, exclusão ou preferência baseada em motivos de raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social, que tenha como efeito anular a igualdade de oportunidades ou de tratamento em emprego ou profissão" (art. 1, 1, a). Discriminação compreende "qualquer outra distinção, exclusão ou preferência que tenha por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou tratamento em matéria de emprego ou profissão que poderá ser especificada pelo membro ou interessado depois de consultadas as organizações representativas de empregadores e trabalhadores, quando estas existam, e outros organismos adequados" (art. 1, 1, b). 
Isso significa que para se considerar a lista negra como discriminação há necessidade de consulta aos sindicatos de empregados e de empregadores. 
Entretanto, não é fixada nenhuma punição. 
As distinções, exclusões ou preferências fundadas em qualificações exigidas para um determinado empregado não são consideradas como discriminação (art. 1, 2). Não se consideram como discriminatórias "quaisquer medidas tomadas em relação a uma pessoa que, individualmente, seja objeto de uma suspeita legítima de se entregar a uma atividade prejudicial à segurança do Estado ou cuja atividade se encontre realmente comprovada, desde que a referida pessoa tenha o direito de recorrer a uma instância competente, estabelecida de acordo com a prática nacional" (art. 4.º). A Recomendação n.º111 da OIT complementa a Convenção n.º 111. 
A Convenção n.º 117 da OIT, de 1962, trata de objetivos e normas básicas da política social. Foi aprovada pelo Decreto Legislativo n.º 65, de 30 de novembro de 1966 e promulgada pelo Decreto n.º 66.496, de 27 de abril de 1970. Estabelece como meta a supressão de toda discriminação contra os trabalhadores que tiver por objetivo motivo de raça, cor, sexo, crença, filiação a uma tribo ou a um sindicato em matéria de: admissão aos empregos, tanto públicos quanto privados (art. XIV, b); condições de recrutamento (art. XIV, c). 
A Lei n.º 9.029, de 13 de abril de 1995, proíbe a exigência de atestados de gravidez e esterilização, e outras práticas discriminatórias, para efeitos admissionais ou de permanência da relação jurídica do trabalho. Versa sobre várias discriminações relacionadas com o trabalho, mas nada especifica sobre listas negras. Logo, não pode ser aplicada no caso em estudo. 
A CLT não contém dispositivo estabelecendo sanção pelo fato de o empregado ajuizar reclamação contra o empregador. 
O inciso XXXIII do artigo 5.º da Lei Fundamental estabelece que todos têm o direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Logo, qualquer um pode ir à Justiça do Trabalho e pedir uma certidão para verificar se existe ação trabalhista proposta por um certo empregado contra determinada empresa. 
Em 30 de agosto de 2002 o TST cancelou consulta pelo nome do trabalhador no seu site. As empresas vinham se utilizando do próprio site do TST para fazer as listas negras, pois verificavam qual era o trabalhador que tinha ajuizado reclamação contra outras empresas. 
O presidente do TST também recomendou aos tribunais regionais que só expedissem certidões se fosse indicado o motivo pelo qual ela está sendo pedida. 
O Ministério do Trabalho e do Emprego tentou regulamentar a questão por meio da Portaria n.º367, de 18 de setembro de 2002, instituindo fiscalização nas empresas. 
Pode ser considerada imoral a utilização das listas negras pelas empresas. 
Até o momento, porém, não existe lei coibindo esse procedimento dos empregadores. 
A matéria tem de ser regulamentada por intermédio de lei, que especifique responsabilidades, crimes, punições. 
Acesso em: 16/08/2016.
http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/listas-negras/215

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