Prévia do material em texto
Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 1 II –– IIMMPPOORRTTÂÂNNCCIIAA EE GGEENNEERRAALLIIDDAADDEESS 11.. IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO As funções fisiológicas no sistema Ter- ra-atmosfera são influenciadas pelo clima e pro- cessos meteorológicos (tempo). A agricultura é uma atividade econômica dependente do meio físico (solo e clima), que apresenta distintas aptidões para produzir diferentes culturas ou cultivares em vários níveis de rendimento. O clima determina a aptidão agrícola da região pois influi no �crescimento e desenvolvi- mento das plantas. Alguns anos atrás pouca ênfase era dada ao clima no planejamento de técnicas agrícolas que se tornavam inadequadas prejudicando o meio ambiente devido só considerar as relações solo-planta. Atualmente, sabe-se que as relações clima-planta têm grande influência na produção vegetal, o que evidência a necessidade de ajustar as práticas agrícolas às condições de clima lo- cais. Assim, podemos equacionar a produção ve- getal em função dos principais fatores, tais como: Produção vegetal = f (planta (genética); solo; tecnologia; clima) O homem (agrônomo ou agricultor) pode interferir em larga escala em alguns destes fatores: * Planta: com a seleção de cultivares, melhoramento vegetal, engenharia genética; transgênicos, etc. * Solo: mediante aração, calagem, adubação, práticas conservacionistas, etc. * Tecnologia: adoção de práticas culturais, manejo racional, plantio direto, agricul- tura de precisão, etc. * Clima: podemos interferir só em pequena escala e com custo relativamente alto (muitas vezes impraticável) com estufas, irrigação, quebra ventos, combate a geadas, cobertura solo, etc. Destarte, o aumento desordenado da população mundial torna-se necessário um aumento da produção de alimentos na mesma velocidade, o que pode ser obtido com a minimização de perdas (adversidades) e o aumento da produtividade das culturas exploradas (adaptabilidade). Atualmente busca-se a intensificação dos estudos agro-climáticos visando o aumen- to da produção mediante um plano racional de exploração agrícola associado à adaptabilidade dos cultivos (maior produtividade). Não obstante, a crescente necessidade do homem em bem utilizar, controlar e preservar os recursos naturais e principalmente os recursos hídricos (cada vez mais escassos), tornou a Meteorologia uma ciência cujo conhecimento e aplicação são necessário em detalhe e profundidade crescentes. O Clima: afeta quase todas as fases das atividades agrícolas, desde a seleção de regiões ou lugares para a implantação de culturas e experimentos agrícolas até o planejamento a longo ou em curto prazo das atividades agrícolas (cultivo, transporte, armazenamento...). Assim podemos destacar o uso das infor- mações do tempo e do clima em: * Zoneamento agro-climático: Estudos de aptidões agro-climáticas e seleção de cultivares; * Necessidade de irrigação (Planejamento e manejo da irrigação); * Épocas de semeadura e transplante; * Previsões de safras (desenvolvimento de modelos e simulação); * Controle de adversidades climáticas (seca, geada, granizo,...); * Conservação da água e do solo (Recursos naturais); * Épocas de aplicação de fertilizantes e defensivos agrícolas; Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 2 * Previsão e prevenção contra ataque de pragas e doenças; * Dimensionamento de obras e projetos agrícolas; * Condicionamento do ambiente interno das construções rurais (Ambiência); * Serviços de vigilância para segurança pública, * Subsídios para as tomadas de decisões e planejamento de operações agrícolas As variações no clima condicionam o nível de prejuízos na produção agrícola (determinando o sucesso ou fracasso desta atividade econômica). É difícil saber a magnitude das perdas agrícolas, ocasionadas pelo fator clima, e que poderiam ser evitadas por meio dos serviços meteorológicos. Estima-se que o incremento dos benefícios seria da ordem de 15 a 30% com a boa utilização das informações e previsões dos serviços de meteorologia. Estratégias gerais e preventivas para minimizar os prejuízos agrícolas com Adversida- des Climáticas: geadas, granizo, secas, tempes- tades... são: * Escolha de culturas e cultivares (com base no zoneamento agro-climático e ensaios); * Diversificação de cultivos (com base no zoneamento agro-climático e ensaios); * Época de semeadura adequada (com base no zoneamento e ensaios); * Escalonamento da semeadura e colheita (Graus-dia); * Manejo racional e tecnologias adequadas (assistência técnica). Estima-se que a humanidade está usando 20% mais recursos naturais do que o planeta é capaz de repor. Neste ritmo de crescimento populacional, desenvolvimento tecnológico e econômico em 2050 a humanidade estará consumindo o dobro da capacidade biológica da Terra, ou seja, seriam necessários dois planetas para suprir de maneira sustentável a demanda de recursos naturais. (Fonte: Relatório Planeta Vivo 2002 – Fundo Mundial da Natureza). 22.. DDEEFFIINNIIÇÇÕÕEESS BBÁÁSSIICCAASS * Tempo: é o estado atual da atmosfera em dado momento e local, sendo caracterizado pelas condições de temperatura, pressão, concen- tração de vapor, velocidade e direção do vento e precipitação. * Clima: É o estado médio da atmosfera (Definição incompleta, devido às variações cíclicas do clima). É a sequência e a variação habitual dos tipos de tempo em dado local no curso do ano. * Meteoros: são os processos físicos da atmosfera que condicionam o tempo: temperatura, precipitação, umidade, pressão, etc. * Meteorologia: ramo da física que estu- da os fenômenos atmosféricos. (meteoros). Seu campo de atuação abrange o estudo das condições atmosféricas em dado instante (o “Tempo”), dos movimentos atmosféricos e as forças que os originam (dinâmica da atmosfera), condições médias e das flutuações temporais da atmosfera em um local (clima), entre outros. * Agrometeorologia ou Meteorologia Agrícola: ocupa-se com o estudo dos processos na atmosfera que produzem o tempo e suas relações coma produção agrícola. Objetiva melhorar a produtividade ou aumentar a produção agrícola pela previsão mais precisa e pelo controle do meio atmosférico. Tem sua principal aplicação no planejamento e na to- mada de decisões numa propriedade agrícola, se- ja na produção animal ou vegetal, sendo uma fer- ramenta indispensável ao engenheiro agrônomo. * Fatores Meteorológicos: são os agen- tes que condicionam os fenômenos atmosféri- cos (meteoros), tais como: altitude, latitude, relevo, continentalidade, circulação atmosférica, Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 3 correntes marítimas, etc. * Elementos Meteorológicos: são os parâmetros que definem e quantificam os meteoros, suas propriedades e características especiais, tais como: temperatura do ar, umidade relativa do ar, evapotranspiração potencial, velocidade do vento, etc. 33.. DDIIVVIISSÃÃOO DDAA MMEETTEEOORROOLLOOGGIIAA Didaticamente pode-se dividir a meteoro- logia como a seguir: a) Meteorologia Física: Estuda os pro- cessos físicos que ocorrem na atmosfera (Radia- ção, temperatura, precipitação, geadas, evapora- ção, evapotranspiração, etc.), ou seja, as explica- ções físicas (leis fundamentais) envolvidas nos meteoros. b) Meteorologia Dinâmica: Estuda as forças e energias que originam e mantém os movimentos atmosféricos e as alterações que estes causam. c) Meteorologia Sinótica: Estuda os fenômenose processos atmosféricos a partir de observações simultâneas em uma região, com a finalidade de previsão do tempo. d) Climatologia: Estuda estatisticamente os parâmetros meteorológicos e suas inter-rela- ções, através de seus valores médios, freqüên- cias, variações e distribuição geográfica. e) Aerologia: estuda as condições mete- orológicas em altitude na atm, mediante obser- vações feitas por balões, foguetes e satélites. f) Meteorologia Aeronáutica: aplica os princípios meteorológicos à navegação aérea. g) Meteorologia Marítima: aplica os prin- cípios meteorológicos à navegação marítima e fluvial. h) Meteorologia Agrícola ou Agrometeo- rologia: estuda o efeito dos fenômenos meteo- rológicos nas atividades agrícolas. i) Biometeorologia: estuda a ação dos fenômenos meteorológicos sobre os animais. j) Hidrologia: aplica os conhecimentos dos fenômenos meteorológicos no estudo do ciclo da água na atmosfera e aproveitamento racional dos recursos hídricos. 44.. EESSTTRRUUTTUURRAA MMEETTEEOORROOLLÓÓGGIICCAA Os modelos matemáticos usados para a previsão e caracterização do clima foram deduzidos a partir do monitoramento das variações das condições do tempo e explorações das variáveis meteorológicas na atmosfera. Para atingir tais propósitos é necessário dispor de uma vasta e estratégica Rede de Postos Meteorológicos. Esta rede á composta por Postos de observações de superfície e de altitude que fazem a exploração da atmosfera com equipamentos, instrumentos e observações visuais. As informações obtidas são repassadas para os Centros Coletores que os organizam, arquivam, colecionam, analisam e difundem (por meios de comunicação diversos: publicações técnicas, científicas e de divulgação) atividades que são coordenadas pelos Serviços Nacionais de Meteorologia. Quanto à hierarquia das instituições meteorológicas temos: Em escala Nacional: os Ministérios da Agricultura (INMET), da Ciência e Tecnologia (INPE), da Marinha e Aeronáutica (SIRAM, etc), são as estâncias federais máximas responsáveis pelos estudos meteorológicos. Em escala Internacional: a Organização Meteorológica Mundial (OMM ou WMO) é responsável pelas atividades meteorológicas no Mundo, sendo o INMET o coordenador e representante oficial do Brasil e América do Sul mediante esta organização. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 4 Em escala Regional as Secretarias Estaduais (Secretaria da agricultura), as Autarquias (exemplo IRGA, IAPAR e IAC), os Institutos de ensino e pesquisa (Universidades) e as Empresas mistas e privadas (EPAGRI e Cooperativas) são responsáveis pelos serviços de meteorologia. 44..11.. OORRGGAANNIIZZAAÇÇÃÃOO MMEETTEEOORROOLLÓÓGGIICCAA MMUUNNDDIIAALL ((OOMMMM oouu WWMMOO)) O clima não respeita �fronteiras e isto �fez as nações desenvolver atividades em conjunto com objetivos econômicos e de segurança. A OMM foi fundada em 1947 para a resolução e auxílio dos problemas comuns às nações relacionados ao clima e suas adversidades, e apresenta as seguintes finalidades básicas: a) Facilitar a cooperação internacional na função de uma rede e central meteorológica, objetivando as observações do tempo e fornecimento de dados coletados. b) Promover a comunicação imediata das informações meteorológicas entre as nações. c) Promover a padronização das observações meteorológicas e uma publicação uniforme. d) Favorecer a aplicação da meteorologia nos campos da navegação aérea, marítima, agricultura e demais atividades humanas. e) Incentivar a pesquisa e o treinamento meteorológico. 44..22.. SSIISSTTEEMMAA GGLLOOBBAALL DDEE TTEELLEECCOOMMUUNNIICCAAÇÇÕÕEESS MMEETTEEOORROOLLÓÓGGIICCAASS Integra o programa de Vigilância Mundial e é formado por um "Circuito Tronco Principal” (Figura 1) que interliga os Centros Meteoroló- gicos Mundiais em Washington, Moscou e Melbourne. Figura 1.1. Fluxo das informações meteorológicas no mundo. 44..33.. EESSTTRRUUTTUURRAA MMEETTEEOORROOLLÓÓGGIICCAA NNOO BBRRAASSIILL O INMET é responsável pela: coordena- ção, observação, coleta, organização e análise dos registros das variáveis meteorológicas; Manter a rede nacional de estações meteorológi- cas; Desenvolver estudos e pesquisas na área da meteorologia básica e aplicada; Análise e pré- visão do de tempo de todo o território nacional. Em escala internacional é o responsável pela coleta, organização e difusão das obser- vações meteorológicas da América do Sul. Para estes propósitos a estrutura do INMET é composta por 1 Órgão Central (com sede em Brasília) e 10 Órgãos Regionais ou Distritos de Meteorologia (DISME). OBS. Santa Catarina e Rio Grande do Sul fazem parte do 8o DISME (com sede em Porto Alegre). 44..44.. RREEDDEE NNAACCIIOONNAALL DDEE TTEELLEECCOOMMUUNNIICCAA-- ÇÇÃÃOO MMEETTEEOORROOLLÓÓGGIICCAA É composta por 1 Centro de Telecomuni- cação (com sede em Brasília), 5 Centros Coletores (Belém, Recife, Cuiabá, Rio de janeiro, Porto Alegre), 9 Sub-centros coletores (Rio Branco, Manaus, Floriano, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba e Florianópolis) e aproximadamente 400 Estações Terminais (Esta- ções Climatológicas principais e ordinárias) que fazem o monitoramento do tempo. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 5 O trajeto das informações meteoroló- gicas pode ser resumido no esquema abaixo. Figura 1.2. Trajeto das informações meteoroló- gicas no Brasil e América do Sul. 44..55.. RREEDDEE DDEE EESSTTAAÇÇÕÕEESS MMEETTEEOORROOLLÓÓGGIICCAASS NNOO BBRRAASSIILL A maior rede de estações meteorológicas no Brasil é a do INMET (Tabela 1), sendo que as outras redes: Aeronáutica, Marinha, Empresas Estatais e Privadas, atuam isoladamente ou no sistema de cooperação com o INMET. Tabela 1. Rede de estações meteorológicas do INMET (1995). Tipo de Estação Quantidade Estação Climatológica Principal 400 Estação Climatológica Ordinária 374 Estação de Radiossondagem 18 Estação Rastreadora de Satélite 4 Estação de Radar Meteorológico 1 55.. EESSTTAAÇÇÕÕEESS MMEETTEEOORROOLLÓÓGGIICCAASS Estação ou Posto Meteorológico é o local onde são coletadas as informações que descrevem de maneira sucinta as condições meteorológicas (tempo) existentes no momento da observação na superfície ou explorando a atmosfera em altitude. Para isso os aparelhos são instalados em locais apropriados, de acordo com as variáveis meteorológicas que vão medir. Como exemplos temos, ao ar livre o Actinógrafo para medir a radiação global, o Tanque Classe A para medir a evaporação, o pluviômetro para medir a precipitação, etc. No abrigo meteorológico temos os Termômetros para medir a temperatura do ar, o Higrômetro para medir a umidade do ar, o Psicrômetro para quantificar a depressão psicrométrica, etc. Dentro do Escritório temos o Barômetro e o Barógrafo para medir e registrar a pressão barométrica ou atmosférica. Algumas recomendações para a escolha do local Estação Meteorológica são: * Deve ser um local bem exposto aos ventos mais freqüentes da região; * Apresentar largos horizontes, principal-mente nos quadrantes leste e oeste; * Local onde não haja interferências (no mínimo 15 a 20 anos), ou seja, mais afastado possível de obstáculos (construções, muros e grandes árvores); * Deve ter o solo gramado, evitar solo granítico, ou de cascalho; * Deve ser afastado de praias (quando Estações em cidades litorâneas); * Local de fácil acesso e em elevação representativa da região; * Com disponibilidade deágua e energia elétrica; * Sua porta de acesso deve estar voltada para o quadrante sul (no Hemisfério sul); * Deve-se conhecer as Coordenadas Geográficas do local para sua localização e identificação. 55..11.. EESSTTAAÇÇÃÃOO CCLLIIMMAATTOOLLÓÓGGIICCAA PPRRIINNCCIIPPAALL São estações de superfície, destinadas a avaliar e observar as condições de tempo passado, presente e da sua evolução no local da estação, através de observações visuais e instrumentais. São constituídas por: área instrumental e escritório. A área instrumental pode apresentar a forma: Retangular ou Octogonal Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 6 Figura 1.3. Formatos usuais de área instrumental em estações meteorológicas: a) Retangular b) Octogonal. Uma Estação Principal Completa contém os seguintes equipamentos: 1. Heliógrafo: luminosidade (comprimento do dia) 2. Actinógrafo: radiação 3. Geotermômetros: temperatura do solo 4. Pluviômetro: chuva (altura) 5. Pluviógrafo: chuva (altura e duração) 6. Orvalhógrafo: orvalho 7. Evapotranspirômetro: evapotranspiração po- tencial (ETP) 8. Lisímetro: evapotranspiração real (ETr) 9. Tanque de Evaporação Classe A: evaporação 10. Cata-vento Tipo Wild: velocidade do vento 11. Anemômetro: velocidade do vento 12. Abrigo Meteorológico (modelo padrão) com: 13. Termógrafo: temperatura do ar 14. Higrógrafo: umidade relativa do ar Termo-higrógrafo: temperatura e umidade relati- va do ar (em substituição aos dois anteriores) 15. Termômetro de máxima: temperatura máxima do ar 16. Termômetro de mínima: temperatura mínima do ar 17. Psicrômetro (TBS e TBU): depressão psicro- métrica (URA indiretamente) 18. Actimômetro de pichê: evaporação 19. Escritório contendo: 20. Barômetro de mercúrio: pressão atmosférica 21. Barógrafo Aneróide: pressão atmosférica 22. Anemógrafo Universal: ventos 23. Aparelhagem de Telecomunicação Meteo- rológica: Telefone, Radio-transmissor, Internet. Figura 1.4. Planta baixa e disposição dos instrumentos de monitoramento do tempo na Estação Agrometeorológica do CAV. 55..22.. EESSTTAAÇÇÃÃOO CCLLIIMMAATTOOLLÓÓGGIICCAA OORRDDIINNÁÁRRIIAA São também estações meteorológicas de superfície, para medir condições de tempo presente e passado da atmosfera próximo à superfície da Terra. São feitas observações visuais de diversos fenômenos meteorológicos, tais como: cobertura do céu (nebulosidade), descargas elétricas, trovoadas, granizo, orvalho, geada, etc. Só temperatura e chuva são medidas com instrumentos. São constituídas de: Área instrumental retangular: 3 x 4 m com bordadura de 2 a 4 m. As demais características e a escolha do local são semelhantes à estação principal. O instrumental mínimo consiste de: 1. Abrigo Termométrico (modelo pequeno) com Termômetro de máxima, Termômetro de mínima e Psicrômetro (Termômetro de bulbo seco e de bulbo úmido); 2. Pluviômetro. 55..33.. EESSTTAAÇÇÃÃOO MMEETTEEOORROOLLÓÓGGIICCAA DDEE RRAADDIIOO-- SSOONNDDAAGGEEMM Usada para medir as propriedades físicas da atmosfera em altitude, através de balões Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 7 sondas munidos de equipamentos para registrar as informações (até ±40 km). É feita a deter- minação dos gradientes verticais de Temperatura, Umidade do ar, Pressão atmosférica, Direção e velocidade do vento. Figura 1.5. Esquema simplificado de Estação Meteorológica de Radiossondagem; Foto de um balão meteorológico com sonda. Seu funcionamento pode ser descrito sucintamente como segue. A estação rastreadora recebe e registra os sinais emitidos pela sonda que contém os sensores que estão presos ao balão (ou foguete), a partir destes pode-se calcular a posição do balão (ou foguete) em momentos sucessivos e determinar as variáveis meteoroló- gicas monitoradas e suas variações em altitude (gradientes verticais). 55..44.. EESSTTAAÇÇÃÃOO RRAASSTTRREEAADDOORRAA DDEE SSAATTÉÉLLIITTEESS MMEETTEEOORROOLLÓÓGGIICCOOSS Destina-se a receber imagens da atmosfera de satélites meteorológicos. Atual- mente são também usados para a coleta e trans- missão de dados meteorológicos, principal- mente em regiões inóspitas. As imagens são armazenadas no satélite e transmitidas a estação rastreadora na terra. As trajetórias dos satélites podem ser: Polar, equatorial ou estacionário. O Brasil recebe imagens de três satélites meteorológicos, o GOES e o METEOSAT (com órbita equatorial) e o TIROS-N (com órbita polar), dois satélites de sensoriamento remoto, o LANDSAT e SPOT (com órbita polar) que enviam imagens para sensoriamento remoto e 1 de transmissão de dados. Os sistemas de recepção das imagens podem ser de duas maneiras: * Sistema APT: Estação rastreadora (em BAURÚ - SP) estimula a transmissão de fotografias, as quais são recebidas por antena de rastreamento. O sinal recebido é conduzido a um receptor q/ registra em fita magnética e filma os sinais recebidos, compondo a fotografia transmitida pelo satélite. O filme é revelado e se obtém a fotografia da nebulosidade atmosférica. Figura 1.6. Sistema APT de recepção e transmis- são de imagens. * Sistema ATS: os sinais são enviados do satélite a estação de rastreamento do Centro Nacional em Virgínia, EUA, que processa as fotografias em computador analógico e inclui os limites dos continentes, os paralelos e os meridianos terrestres, fornecendo as coordenadas geográficas da nebulosidade e repassadas via satélite p/ outros locais. Figura 1.7. Sistema ATS de recepção e transmissão de imagens e repasse das informações para outros locais da Terra. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 8 A responsabilidade destas informações é do INPE. Possibilitam previsões seguras com 24 hs de antecedência. Com o desenvolvimento da informática, previsões com até 5 dias de antecedência são atualmente obtidas com relativa precisão (50% de acerto). O INPE mantém 4 estação (Cachoeira Paulista - SP, São José dos Campos - SP, Alcântara - MA e Cuiabá - MT) que monitoram e recebem dados via satélite de transmissão de dados que são coletados nas chamadas PCI (plataformas de coletas de informações meteorológicas) instaladas em regiões de difícil acesso e permanência de um observador, tais como no interior da floresta Amazônica. Figura 1.8. A) Órbita dos Satélites Meteorológicos e de sensoriamento; B) Órbita do satélite de transmissão de dados. 55..55.. EESSTTAAÇÇÃÃOO DDEE RRAADDAARR MMEETTEEOORROOLLÓÓGGIICCOO Para observar as condições de tempo e medir vento em altitude. É constituída por um radar com rádio transmissor, receptor e antena. Seu funcionamento pode ser sucintamente descrito como segue. O transmissor gera uma onda eletromagnética (com características conhecidas), que é irradiada para a atmosfera pela antena, cuja forma é de 1 a 3o de abertura, esta onda ao incidir sobre objetos em sua trajetória, sofre reflexão e uma pequena parte retorna à antena na forma de eco. O sinal de retorno é amplificado e codificado pelo receptor na estação em Terra e é visualizado na tela do indicador de radar. Figura 1.9. a) Esquema simplificado de funciona- mento de uma estação de Radar Meteorológico b) Foto de uma imagem RHI de um radar meteorológico. 55..66.. EESSTTAAÇÇÃÃOO MMEETTEEOORROOLLÓÓGGIICCAA AAUUTTOO-- MMÁÁTTIICCAA Permite o monitoramento automático do tempo baseada em computador, é totalmente integrada e autônoma, fácil de usar e econômica para aquisição e armazenamento de dadose execução de relatórios das condições do tempo. As variáveis medidas são: Velocidade do vento; Direção do vento; Temperatura do ar; Umi- dade relativa; Pressão barométrica; Radiação solar; Precipitação; e outros como: nível d’água, umidade e temperatura do solo, temperatura da água. Figura 10. Estação meteorológica automática e sensores básicos. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 9 As características principais das estações automáticas são: * Registro (observações) em intervalos de alguns minutos; * Os dados são armazenados em fita cassete ou atualmente se usa um dataloger (com capacidade de armazenar até 3 meses de dados), ou ainda os dados podem ser repassados em tem- po real para uma central de tratamento de dados, por rádio, satélite ou conexão direta via cabo; * As medidas são feitas quando um sinal do ambiente (energia ou massa ou ambas) chega a um elemento sensível (ou sensor) previamente calibrado. A resposta ou interação do sensor a um sinal define o principio básico da medida automática; * É mantida com bateria de 12 VDC 7A recarregável para uso em aplicações remotas, que pode ser usada junto com painéis solares para alimentação contínua, ou rede elétrica comum (Transformador e estabilizador-filtro). Quanto à constituição básica além do data loger uma estação automática é composta pelos sensores instalados em uma estrutura em torre ou tripé. * Sensor de velocidade e direção do vento: anemômetro de conchas e cata-vento de uma pá e contrapeso; * Sensor de Temperatura e Umidade: termopar ou de resistência elétrica (temperatura) e elemento capacitivo (UR); * Sensor de precipitação: Pluviômetro de caçamba oscilante; * Sensor de pressão barométrica: barômetro eletrônico; * Sensor de radiação solar: piranômetro de precisão; Outros sensores: Nível d’água; temperatura do solo e d água, umidade do solo, etc. Figura 1.11. Estações meteorológicas automáticas com estrutura tipo TRIPÉ (A) ou TORRE (B). A transmissão das informações pode ser: via rede telefônica com modem; via radio; via satélite de transmissão de dados ou ainda via ondas eletromagnéticas infravermelho. As vantagens na sua utilização são: * Registros das variáveis meteorológicas em regiões que apresentam falta de observadores treinados e dignos de confiança (regiões inóspitas). * Pode operar sem atendimento (1 pessoa para mudar a fita cassete e calibrar os sensores anualmente). * É modular: facilmente montada e desmontada, facilitando a troca de equipamentos. * Os dados podem ser registrados em épocas desfavoráveis. Suas desvantagens são: * Custo relativamente alto (± U$ 8000) * Os dados necessitam processamento e listagem em computador * Utiliza equipamentos sensíveis. * No caso de falhas nos registros na fita cassete pode ocorre à perda dos dados (são detectadas no processamento dos dados). Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 10 Figura 1.12. Case (encapsulamento 12/14) e Dataloger Campbel Scientific – Modelo 21X. Figura 1.13. Sensores de direção e velocidade do vento Figura 1.14. Abrigo multi-placas e sensores de umidade relativa e temperatura Figura 1.15. Sensores de Radiação Solar (Radiação Global, Saldo de Radiação, Radiações UV e albedômetro) Figura 1.16. Sensores de Precipitação (Com báscula) Figura 1.17. Sensores de Pressão barométrica (Pressão atmosférica) Figura 1.18. Painel solar (Células fotoelétricas) e Bateria para alimentação de energia. Figura 1.19. Estações meteorológicas automáticas instaladas em locais adversos ou carentes de observador. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 11 II - COSMOGRAFIA: RELAÇÃO TERRA - SOL 11.. IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO O Sol é a fonte primária de energia para os processos atmosféricos, tais como a evapora- ção, precipitação, temperatura, etc. A energia solar que incide sobre o topo da atmosfera na forma de radiação sofre transformações que de- terminam os fenômenos que observamos. Assim há a necessidade de conhecermos as relações entre a Terra e o Sol e suas conseqüências. Figura 2.1. A energia solar mantém a vida e os processos meteorológicos no planeta Terra 2. PONTOS E CÍRCÚLOS FIXOS NA SUPER- FÍCIE TERRESTRE E NA ESFERA CELESTE A esfera celeste é uma esfera de diâmetro tão grande quanto se queira imaginar, na superfície da qual todos os astros (Sol, Lua, estrelas...) estariam localizados, e cujo centro coincide com o centro da Terra que gira ao redor do seu eixo. Na esfera terrestre temos os “pólos geográficos”: o pólo norte (Boreal ou Ártico) e o pólo sul (Austral e Antártico). Na esfera celeste temos os “pólos celestes”, pólo norte ou Boreal e pólo sul ou Austral. Figura 2.2. Esferas Terrestre e Celeste. O plano do equador cuja interceptação na superfície das esferas terrestre e celeste definem o Equador Terrestre e o Equador Celeste, respectivamente. O equador da Terra e da esfera celeste divide-as em dois hemisférios: o Hemisfério Norte ou Boreal e o Hemisfério Sul ou Austral. O equador é o círculo máximo, e paralelos a este podem ser traçados ao redor da esfera terrestre outros círculos menores que ligam pontos de iguais latitudes, denominados de paralelos variando de 0 à 90o para o norte e 0 à – 90o para o Sul (0o no equador, 90o no pólo Norte e- 90o no pólo Sul). Outro ponto fixo é o observador. Se levantarmos uma vertical, partindo do centro da Terra, passando pelo observador, prolongando até tocar a esfera celeste, teremos determinado o Zênite. Na mesma vertical e em sentido oposto, ainda na esfera celeste encontra-se o Nadir. Cada lugar de observação define uma linha vertical Nadir-Zênite e perpendicular a esta os planos horizontais que definem: * O Horizonte Visual: que passa pela vista do observador; * O Horizonte Matemático: que passa por um ponto fixo de um observatório e é a referência para as medidas e cálculos; e Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 12 * O Horizonte Astronômico (Geocêntrico): que passa pelo centro da Terra. Figura 2.3. Elementos celestes e terrestres. Os paralelos de maior importância são: Trópico de Câncer e Círculo Polar Ártico (hemisfério norte) e Trópico de Capricórnio e Círculo Polar Antártico (hemisfério sul). Os Círculos Meridianos são os círculos que passam pelos pólos geográficos. O Meridiano é o semicírculo que vai de um pólo a outro. O que passa pelo local de um observador é o Meridiano do Lugar. O astro culmina ou passa a pino quando passa pelo meridiano do lugar. O meio dia astronômico é determinado quando o Sol culmina, sendo que lugares sobre o mesmo meridiano têm o meio dia ao mesmo tempo. O horário oficial civil é determinado pelos fusos horários. O Meridiano de referência, para as longitudes e horas (fusos horários) é o que passa pelo observatório de Greenwich em Londres, chamado de Meridiano de Greenwich. Na esfera celeste os meridianos são denominados de círculos horários e seu ponto de referência de ponto vernal. 33.. CCOOOORRDDEENNAADDAASS TTEERRRREESSTTRREESS --GGEEOOGGRRÁÁFFIICCAASS Sua finalidade é o posicionamento de pontos na superfície terrestre: No sistema angular temos a latitude e a longitude. a) Latitude - φφφφ (fi): é o ângulo que a vertical de um local qualquer da Terra fazcom o Equador, ou é a distância em graus do Equador à este local, sendo 0 no Equador e 90o nos pólos. Os paralelos ligam pontos com a mesma latitude, ou seja, mesma distância (em graus) em relação ao Equador. Figura 2.4. Latitude Por convenção adota-se que no hemisfério norte as latitudes são positivas (+) e no hemisfério sul são negativas (-). Ex. Lages: latitude de -27o 49' ou 27o 49' sul b) Longitude - θθθθ (teta): é o ângulo que a vertical de um local qualquer da Terra faz com o meridiano de Greenwich (em graus), contado sobre o equador ou qualquer paralelo. Sendo 0o no meridiano de Greenwich e 180o para leste e para oeste. Os meridianos ligam pontos com a mesma longitude ou pontos que tem a mesma distância (em graus) em relação ao Meridiano de Greenwich. Figura 2.5. Longitude Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 13 Por convenção adotou-se que a oeste de Greenwich as longitudes são ocidentais (W) e a Leste de GW são orientais (E). Ex. Lages tem longitude de 50o 20' oeste GW ou 50o 20' WGW. Existe uma terceira coordenada, porém não no sistema angular, e sim linear, que complementa a localização do ponto na superfície terrestre, que é a altitude. c) Altitude (Z): é a distância vertical de um ponto qualquer na superfície da Terra em relação ao nível médio dos mares. Ex. Lages (Estação da EPAGRI) tem 938 metros de altitude. 44.. CCOOOORRDDEENNAADDAASS CCEELLEESSTTEESS São usadas para identificar a posição do Sol em relação à Terra, em qualquer instante e dia e do ano. Para uma melhor compreensão do assunto é necessário o conhecimento de alguns conceitos básicos. A órbita descreve a trajetória da Terra ao redor do Sol durante seu movimento de translação (visão heliocêntrica). Essa trajetória é semelhante a uma elipse, ora se aproximando (Periélio) e ora se afastando do Sol (Afélio). Figura 2.6. Órbita da Terra Se fixarmos a Terra (visão geocêntrica - imaginária), e projetarmos a trajetória do Sol em um plano, define-se a Eclíptica. A Eclíptica será então determinada pela Órbita Solar, ou seja, pela elipse máxima que corta o plano do equador em 2 pontos (equinócios) e forma com este plano um ângulo de 23o 27', em consequência da inclinação do eixo terrestre. A eclíptica é percorrida pelo Sol durante um ano (movimento aparente). Para determinar exatamente a órbita solar no ano, precisa-se medir diariamente a declinação solar. Figura 2.7. Planos do equador e da órbita. a) Declinação Solar (δ): é o ângulo que a linha que liga o centro da Terra e o centro do Sol faz com o plano do equador da Terra, ou é o ângulo compreendido entre o plano do equador e a direção do Sol. * Positiva acima do plano do equador e negativa abaixo do plano do equador * Duas vezes é nula (0o equinócios de outono e primavera) * Duas vezes é máxima: +23o 27' (solstício de inverno 21/06) e -23o 27' (solstício de verão 22/12) Figura 2.8. Declinação Solar O plano do equador terrestre faz com o plano da órbita em torno do Sol (Eclíptica) um ângulo de 23o 27', ocupando no espaço, as posições de Solstício e Equinócio. As intersecções das linhas de declinação máxima com a superfície da Terra determinam os Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 14 trópicos de Câncer e Capricórnio, e perpendi- culares a estas linhas passando pelo centro da Terra determinam os Círculos Polares Árticos (hemisfério N) e Antártico (hemisfério S). Assim temos: * Círculo Polar Ártico: 66o 33' N * Trópico de Cancer : 23o 27' N * Trópico de Capricórnio: 23o 27' S * Círculo Polar Antártico: 66o 33' S Figura 2.9. Círculos e Trópicos A oscilação da declinação solar devido aos movimentos diurnos (rotação) e anual (aparente - translação) faz com que o Sol descreva uma trajetória espiral de 365,24 espiras até 23o 27’ para ambos os lados do equador. Figura 2.10. Extremos positivo e negativo da declinação solar A Terra gira em seu eixo N-S dando uma volta completa em 24 horas (Movimento de Rotação) definindo o dia (na parte iluminada voltada para o Sol); e a noite (na parte oposta e escura), que vão mudando constantemente, e ao redor do Sol (Movimento de Translação - órbita elíptica), completando uma elipse em cada ano (365 ou 366 dias), definindo as estações. O eixo N-S da Terra é inclinado em relação ao plano da órbita 23o 27', sendo assim, a posição do Sol (declinação), a uma dada hora (por exemplo, meio dia), muda gradualmente a cada dia do ano. Os valores da declinação solar (δδδδ) podem ser obtidos nos Anuários do Observatório Nacional, para todos os dias do ano, ou ainda podem ser estimados com o uso de expressões matemáticas. Algumas expressões foram propostas, tal como a equação de SPENCER (1971) cuja notação é: δ = 0,006918 - 0,399912.cosx+0,070257.senx - 0,006758.cos2x+ 0,000907.sen2x - 0,002697.cos3x + 0,00148.sen3x em que, x = 2.pi.(j-1)/nda (δ e x em rad) onde, δ é a declinação solar (o); j é o dia juliano e nda é número de dias do ano. Uma outra equação mais simplificada é proposta por COOPER: δ = 23,45. sen [360.(284+j)/365] onde, δ é a declinação solar (o); j é o dia juliano e nda é número de dias do ano. A figura a seguir mostra a oscilação da declinação solar representada em um sistema de eixos onde na abscissa temos o tempo ao longo do ano e na ordenada à declinação solar em graus. Figura 2.11. Representação gráfica do curso da declinação solar ao longo do ano Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 15 Nos solstícios de inverno e verão a declinação assume o valor de ±23o 27' oscilando até 0o nos equinócios, o que faz com que os pontos diferentes da Terra em seu movimento de translação, recebam quantidades diferentes de energia e conseqüentemente de iluminação. Assim, os dias terão durações diferen- ciadas (Fotoperíodo) e variações de temperatu- ras, além de outras, definindo as estações do ano: verão, outono, inverno e primavera. Figura 2.12. Declinação solar e estações do ano A declinação é positiva (+) se o Sol está acima do plano do equador e negativa (-) se está abaixo. No ano a declinação do Sol oscila de +23o 27' (Trópico de Câncer) em 21/06 até –23o 27' (Trópico de Capricórnio) em 22/12. Devido à inclinação do eixo da Terra o centro do Sol passa na vertical de um ponto do Trópico de Câncer em 21/06 e na vertical de um ponto do Trópico de Capricórnio em 22/12. A área iluminada do hemisfério norte é maior que a área iluminada do hemisfério sul em 21/06 (δ �=23o 27'). Nesta data o hemisfério norte, está recebendo o máximo anual de energia solar e o hemisfério sul, o mínimo. Iniciam o Verão no hemisfério norte e o inverno no hemisfério sul. Diz- se que o Sol está culminando no Zênite de um ponto do trópico de Câncer. Em 22/12 a Terra se situa do lado oposto da órbita, nessa ocasião, o hemisfério sul recebe o máximo anual de energia solar e o hemisfério norte recebe o mínimo. A declinação do Sol nesse dia assume o valor mínimo anual de -23o 27'. O Sol passa no Zênite de um ponto do trópico de Capricórnio (Solstício), é o início do verão no hemisfério sul e do inverno no hemisfério norte. A cada ano, o Sol executa um movimento aparente no sentido N-S, passando uma vez no Zênite de um ponto de cada trópico e 2 em pontos do equador. Nos solstícios, o Sol incide verticalmente sobre os trópicos; ocorre a maior diferença entre asdurações do dia e da noite. No solstício de inverno a noite é maior que o dia; No solstício de verão o dia é maior que à noite. Isto ocorre quan- do a declinação solar assume seu valor máxi- mo 23o 27' (solstício de inverno em 21/06) e míni- mo -23o 27' (solstício de verão em 22/12), para o hemisfério sul e vice-versa para o hemisfério norte. Nos equinócios, o Sol incide vertical- mente sobre o equador; então a duração do dia é igual à duração da noite (12 horas) em toda a Terra (equinócio de outono em 21/03 e equinócio de primavera em 23/09). Isto ocorre quando a declinação solar é 0o. Figura 2.13. Posicionamento do Sol nos solstícios e equinócios b) Ângulo Zenital (Z): é o ângulo formado com a vertical de um local ou de um observador na Terra com a linha que liga o centro do Sol a partir daquele local. Figura 2.14. Ângulo zenital Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 16 * O valor mínimo é igual a 0o quando o Sol está sobre o meridiano * O valor máximo é igual a 90o (quando do nascer e por do Sol) * Seus valores oscilam simetricamente de 0 a 90o Pode ser estimada a partir da latitude do local, declinação solar e ângulo horário do Sol, e deduzida a partir do triângulo astronômico obtendo Z= arc cos (senφ.senδ +cosφ.cosδ.cosh) onde, Z é o ângulo zenital (o); φ é a latitude do local (o); δ é a declinação (o); h é o ângulo horário do sol (o). c) Ângulo Horário do Sol (h): é o ângulo entre o plano do meridiano do Sol e o meridiano do observador (ou do lugar), com referência ao centro da Terra. h = (12 - H).15 onde, h é o ângulo horário do Sol (graus e décimos); H é a hora do dia (horas e décimos). Figura 2.15. Ângulo horário do Sol 55.. RREELLAAÇÇÕÕEESS EENNTTRREE CCOOOORRDDEENNAADDAASS TTEERRRREESSTTRREESS EE CCEELLEESSTTEESS ((φφφφφφφφ,, θθθθθθθθ,, ZZ ee hh)) Para determinarmos a quantidade de energia solar que atinge determinado local da superfície da Terra é necessário o conhecimento do ângulo zenital que é determinado a partir da seguinte relação obtida do triângulo astronômico cosZ=senφ.senδ+cosφ.cosδ.cosh Z= arc cos (senφ.senδ+cosφ.cosδ.cosh) onde, Z é o ângulo zenital, φ é a latitude do local, δ é a declinação solar e h é o ângulo horário do Sol. A mais clássica aplicação desta relação ocorre na dedução da Lei de Lambert que relaciona a quantidade de radiação absorvida em diferentes pontos da superfície da Terra. De acordo com a Lei de Lambert: "Se um feixe de radiação de intensidade I incidir normalmente sobre uma superfície de poder absortivo A, esta superfície absorverá uma intensidade Ia de energia", assim temos: Ia = I.A Figura 2.16. 1o Enunciado de Lambert "Se este feixe de radiação de intensidade I incidir sobre a superfície segundo uma direção que forma um ângulo Z com a normal à superfície, esta superfície absorverá uma intensidade Ioa de energia", assim temos: Ioa = Ia.cosZ Ioa = I.A.( senφ.senδ+cosφ.cosδ.cosh) Figura 2.17. 2o Enunciado de Lambert Interpretando os enunciados podemos dizer que a intensidade de radiação recebida sobre uma superfície de um determinado plano Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 17 é igual à radiação sobre a unidade de área de um plano normal aos raios incidentes multiplicado pelo co-seno do ângulo formado entre as duas superfícies. Figura 2.18. Interpretação da Lei de Lambert Obs. Isto explica o maior aquecimento da Terra à medida que nos aproximamos do equador, durante as horas do dia, e também as diferenças de aquecimentos nas diferentes encostas de uma elevação (montanha). Figura 2.19. Conseqüências da Lei de Lambert na superfície da Terra 66.. MMAARRCCHHAA AAPPAARREENNTTEE DDOO SSOOLL Quando observamos o Sol durante o dia, temos a impressão de que ele cruza o céu de leste para oeste (trajetória aparente do Sol). No entanto, a Terra é que gira de oeste para leste. Quando a Terra encontra-se no equinócio o Sol nasce bem à leste e põe-se ao oeste, pás- sando ao meio dia a pino, ou pelo zênite do local. No início do inverno no hemisfério sul uma pessoa no equador vê o Sol nascer à leste, porém mais ao norte, o Sol não passa a pino, exatamente ao meio dia, passando à 23o 27' do zênite (solstício de inverno). No início do verão no Hemisfério sul uma pessoa no equador vê o Sol nascer à leste, porém mais ao sul, o Sol não passa a pino, exatamente ao meio dia, passando à 23o 27' do Zênite (solstício de verão). Uma pessoa sobre o trópico de Capricórnio, no inverno, observa o Sol ao meio dia com um ângulo de 46o 54' do Zênite. O Sol passa mais ao norte aquece menos a Terra (Lei de Lambert). Figura 2.20. Marcha aparente do Sol 77.. MMEEDDIIDDAA DDOO TTEEMMPPOO Em consequência dos movimentos diurno e anual (aparente), o Sol descreve uma trajetória espiral de 365,24 espiras até 23o 27' para ambos os lados do equador. Um giro completo da Terra em seu eixo (movimento de rotação) define um dia civil de 24 horas (mais precisamente 23 horas, 56 min e 44 seg). Um giro completo da Terra ao redor do Sol (movimento de translação) define um ano civil com 365 dias. Na verdade este movimento dura 365 dias, 5 horas e 48 minutos, um pouco mais que um ano. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 18 Figura 2.21. Movimentos da Terra: Rotação e Translação Estas horas e minutos a mais formam de 4 em 4 anos, um dia suplementar (29 de fevereiro), originando o ano bissexto com 366 dias (os anos bissextos são os divisíveis por quatro). Ao longo do movimento de rotação pontos sobre o mesmo meridiano, tem o "meio dia" ao mesmo tempo, pontos em diferentes meridianos têm "meio dia” diferentes (dia sideral). A hora dos relógios (horário civil) muda com a posição solar, no decorrer do dia. Como a Terra está girando (do oeste para leste), é natural que as horas não sejam as mesmas em diferentes longitudes (mais adiantadas nas longitudes que estejam à leste e mais atrasadas nas que estejam a oeste, onde o Sol passa primeiro). Se considerássemos rigorosamente as horas pela exata posição do Sol, elas variariam tanto que precisaríamos acertar os relógios cada vez que caminhássemos para leste ou para oeste. Para evitar esse problema, adotaram-se os fusos horários que correspondem a faixas horárias, no sentido dos meridianos, com diferença de uma hora, que definem a hora legal ou hora civil. Como o dia civil tem 24 horas e a Terra esférica possui 360o, cada fuso horário corresponde a uma faixa de 15o (360o/24 = 15o). Dentro dessa faixa de 15o a hora não variará, ou seja, todos os lugares em um mesmo fuso terão sempre a mesma hora civil. Cada fuso possui um meridiano central, cujos quais tem longitude de 15o, a partir do Meridiano de GW para cada lado, sendo que os horários serão mais cedo a oeste de GW e mais tarde a leste de GW. Figura 2.22. Definição dos Fusos Horários No 1o, 2o,3o ... fusos a oeste de Green- wich, o tempo é 1, 2, 3... horas a menos do que Greenwich, no 1o, 2o,3o ... fusos a leste de Greenwich, o tempo é 1, 2, 3... horas a mais do que Greenwich. O Brasil encontra-se a oeste de Greenwich e devido a sua grande extensão no sentido Leste-Oeste, abrange 4 fusos horários, que são os fusos de: Fernando de Noronha (-2 horas de GW), Brasília (-3 horas de GW), Manaus (-4 horas de GW) e Acre (-5 horas de GW). Figura 2.23. Fusos horários no Brasil 88.. DDIIAA EE NNOOIITTEESe a Terra estivesse parada, somente uma de suas faces seria iluminada enquanto a outra permaneceria escura. Na iluminada seria sempre dia, na escura sempre noite. Porém, a Terra gira, de modo que, durante as 24 horas, ora uma face é iluminada, ora outra, variando sucessiva e continuamente. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 19 Em consequência da rotação diária da Terra em redor do seu eixo inclinado (Rotação) e da revolução anual ao redor do Sol (Translação), a "iluminação“ (duração do dia) da Terra sofre variações diárias e anuais. Figura 2.24. Imagem mostrando a linha de separa- ção entre o dia e a noite sobre a Europa e África. Os raios solares que incidem sobre a Terra, são paralelos à linha que liga o centro da Terra ao centro do Sol. Os raios tangenciais determinam na superfície da Terra um círculo máximo que define o limite de separação entre luz e sombra. Figura 2.25. Inclinação do eixo terrestre e luminosidade A iluminação e o aquecimento da Terra são moderados pelos seus Movimentos. Sem a rotação, um lado da Terra permaneceria sempre escuro, com temperaturas baixas (trevas eternas), e o outro lado sempre iluminado com super aquecimento. Se o eixo da Terra não fosse inclinado, e seu movimento fosse ao redor do eixo AA1 (como júpiter), os dias seriam iguais às noites em todas as partes, proporcionando um clima constante sem estações definidas. Sendo assim a inclinação do eixo terrestre é o agente moderador da variação da iluminação (duração dos dias) e do rigor do clima (estações do ano). Se a Terra não girasse ao redor do Sol (translação), também vários problemas: Devido à inclinação do eixo, que permanece sempre na mesma direção, na região A1A3 sempre seria dia e na região AA2 sempre noite. No hemisfério sul seria muito quente e no hemisfério norte muito frio. O movimento de translação ao redor do Sol evita estes problemas. Levando-se em consideração os movimen- tos de Rotação e Translação e a inclinação do eixo terrestre, pode-se observar que: Só no equador os dias são iguais as noites (mesma duração) o ano todo. Nas outras latitudes os dias são maiores que as noites ou vice-versa dependendo da declinação solar. Pontos na mesma latitude têm a mesma duração do dia e da noite numa mesma data do ano. A duração máxima do dia, que varia ao longo do ano, é denominada de fotoperíodo. 99.. FFOOTTOOPPEERRÍÍOODDOO É o intervalo de tempo que transcorre entre o nascer e o ocaso do Sol. Varia ao longo das estações do ano, depende da latitude do local. Ver tabela da duração dos dias em anexos. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 20 No equador os dias são iguais às noites durante todo o ano. À medida que se afasta do equador, a duração dos dias e das noites é maior ou menor dependendo da época do ano. Figura 2.26. Fotoperíodo ou duração do dia No equador os dias são iguais às noites durante todo o ano. À medida que se afasta do equador, a duração dos dias e das noites é maior ou menor dependendo da época do ano. No início do verão do hemisfério sul, o fotoperíodo é maior que 12 horas e a noite menor que 12 horas, em qualquer latitude do equador até o círculo polar (no hemisfério norte é o oposto). No início da primavera e do outono, o dia dura como a noite, 12 horas em todas as latitudes, exceto nas calotas polares. No início do inverno o fotoperíodo dura menos de 12 horas e a noite mais de 12 horas, em todas as latitudes do hemisfério sul, exceto nas calotas polares. Figura 2.27. Variação do Fotoperíodo com a declinação solar e estações do ano A inclinação do eixo terrestre explica a sucessão das estações do ano e determina, também, a alternância das estações do hemisfério norte para o hemisfério sul. Durante a translação, a Terra fica sempre na mesma posição: com seu eixo inclinado sempre na mesma direção. Assim, às vezes o hemisfério sul recebe mais diretamente luz e calor do Sol, outras vezes é o hemisfério norte. O eixo terrestre conserva-se sempre paralelo a si mesmo durante o curso anual da Terra (Inércia), com isso, o pólo norte ficará meio ano voltado para o Sol e o pólo sul o outro meio ano é voltado para o Sol. Nas regiões polares o dia terá 6 meses de duração e a noite 6 meses, já no equador os dias e as noites serão de 12 horas. Nos outros pontos, dos pólos ao equador, apresentam mudanças contínuas na duração dos dias e noites, dependendo da declinação solar e da latitude, como será detalhado a seguir: * Lugares sobre o Equador (latitude 0o): A duração do dia é igual à da noite durante todo o ano. Na data dos equinócios (2 vezes) o Sol passará no Zênite do lugar, iluminando por igual os dois Hemisférios. * Lugares entre o Equador e o Círculo Polar Norte (0o até 66o 33' de latitude norte): Os pontos recebem iluminações diversas. Dia 21/06 o Sol culmina no Zênite dos lugares sobre o trópico de Câncer, começando o verão no hemisfério norte. A duração do dia varia com a latitude do local em função da inclinação do eixo terrestre, sendo de 12 horas no equador (0o) até 24 horas nos pontos sobre o círculo polar (66o 33' latitude norte). Entre estes as durações dos dias variam entre 12 a 24 horas conforme a latitude do local. A partir desta data, em função do movimento de Translação, os dias irão decrescer durante 6 meses. No dia 23/09 em todos os pontos, a duração é de 12 horas, quando ocorrerá o equinócio de outono. No dia 22/12, quando ocorre o Solstício de inverno, as durações terão uma Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 21 variação de 12 a 0 horas, conforme as latitudes. A partir desta data (22/12) os dias irão crescer durante 6 meses. No dia 21/03 em todos os pontos, a duração é de 12 horas, quando ocorrerá o equinócio de primavera. No dia 21/06, quando ocorre o Solstício de verão, as durações terão uma variação entre 12 a 24 horas, conforme as latitudes. * Lugares entre o Equador e o Círculo Polar Sul (0o a 66o 33' de latitude sul): Estes pontos também recebem iluminações diversas, ocorrendo o inverso que ocorre no hemisfério norte. Dia 21/06 o Sol culmina no Zênite dos lugares sobre o trópico de Câncer, começando o inverno no hemisfério sul. A duração do dia varia com a latitude do local em função da inclinação do eixo terrestre, sendo de 12 horas no equador (0o) até 0 hora nos pontos sobre o Círculo Polar Sul (66o 33' latitude sul). Entre estes as durações dos dias variam entre 12 a 0 hora conforme a latitude do local. A partir desta data, em função do movimento de Translação, os dias irão crescer durante 6 meses. No dia 23/09 em todos os pontos, a duração é de 12 horas, quando ocorrerá o equinócio de primavera. No dia 22/12, quando ocorre o Solstício de verão, as durações terão uma variação de 12 a 24 horas, conforme as latitudes. A partir desta data (22/12) os dias irão decrescer durante 6 meses. No dia 21/03 em todos os pontos, a duração é de 12 horas, quando ocorrerá o equinócio de outono. No dia 21/06, quando ocorre o Solstício de inverno, as durações terão uma variação entre 12 a 0 hora, conforme as latitudes. * Lugares que estão sobre o Círculo Polar Norte (66o 33' de latitude norte): No dia 21/06 o Sol fica visível durante 48 horas consecutivas (2 dias de 24 horas), e após esta data diminuem durante 6 meses de 24 a 0 horas. No dia 22/12 ocorre uma noite de 48 horas consecutivas (2 noites de 24 horas), e após esta data os dias aumentam durante 6 meses de 0 a 24 horas. Durante os equinócios de outono e primavera (23/09e 21/03) os dias e as noites apresentam a mesma duração de 12 horas. * Lugares que estão sobre o Círculo Polar Sul (66o33' de latitude sul): Ocorre as mesmas durações com diferença de 6 meses. No dia 22/12 o Sol fica visível durante 48 horas consecutivas (2 dias de 24 horas), e após esta data diminuem durante 6 meses de 24 a 0 hora. No dia 21/06 ocorre uma noite de 48 horas consecutivas (2 noites de 24 horas), e após esta data os dias aumentam durante 6 meses de 0 a 24 horas. Durante os equinócios de outono e primavera (21/03 e 23/09) os dias e as noites apresentam a mesma duração de 12 horas. * Lugares que estão entre os Círculos Polares e os Pólos (66o 33' a 90o): Quanto mais perto o lugar considerado estiver do pólo norte ou sul tanto mais perto o Sol fica por cima do horizonte no verão, e por baixo do horizonte no inverno. No tempo dos equinócios os dias têm de 12 a 24 horas, crescendo depois até 6 meses conforme a latitude. * Lugar que está no Pólo Norte ou Pólo Sul (90o): Em cada um dos dois pólos há um dia de 6 meses e uma noite de 6 meses. Enquanto o pólo norte goza de seu dia de 6 meses, o pólo sul é envolvido em trevas, depois a luz passa durante 6 meses para o pólo sul e o pólo norte fica em trevas. Nos pólos o Sol descreve em 24 horas um círculo completo, paralelo ao horizonte (e ao equador). Em 21/06 tem a altura máxima de 23o 27' (igual a declinação do Sol). Em seguida a altura do Sol diminui, sendo em 23/09 igual a 0o. O Sol descreve, por conseguinte, uma curva Helicoidal, ficando no seu curso constantemente quase paralelo ao horizonte, porque nos pólos o horizonte geocêntrico coincide com o equador celeste. Em 23/09 o Sol circula sobre o horizonte do pólo norte e do pólo sul. Em 22/12 tem maior altura austral de 23o 27'. Em 21/03, está nova- mente sobre os horizontes de ambos os pólos. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 22 III. A ATMOSFERA 1. GENERALIDADES É a camada gasosa que envolve a Terra e a acompanha em seus movimentos, consiste numa mistura de gases, vapor d’água e impurezas. Se não existisse, não existiria vida na terra (animais e vegetais). Adquire coloração azulada devido a dispersão da luz solar (ondas curtas) pelas moléculas do ar. É transparente, impalpável, não tem sabor, odor e cor. Antigamente pensava-se que o ar fosse um “fluido sem peso”, ou seja, imponderável. Hoje se sabe que a atmosfera apresenta peso, ou seja, pode ser ponderada. Figura 3.1. A atmosfera é a finíssima camada gasosa que envolve a Terra. A temperatura é bastante variável nas distintas camadas da atmosfera. Na tropos-fera diminui numa proporção média de 0,65o C para cada elevação de l00 m (gradiente térmico) variando nas diversas estações do ano, conforme a hora do dia, localidade, etc. Nas camadas mais altas da Troposfera a temperatura atinge valores de –60o C. Na termosfera as temperaturas são bastante altas chegando a + de 1000o C. 2. ESTRUTURA Altura acima de 1500 Km. Dividida de forma geral em 4 ou 5 regiões distintas (características homogêneas). A subdivisão é arbitraria, constitui-se numa convenção adotada em Meteorologia. As sub-divisões (regiões) da Atmosfera são: Figura. 3.2. Regiões da atmosfera terrestre a) Troposfera: Altura de ±12 Km. É a pri- meira camada acima da superfície e apresenta-se de grande importância para os meteorologistas, onde ocorrem os fenômenos meteorológicos. Nesta ocorrem as variações atmosféricas, formam-se os ventos, nuvens e chuvas. É a camada sujeita as variações segundo a latitude e as estações do ano. São registradas as variações termométricas e barométricas. Temperatura e Pressão diminuem com a altitude. Sua espessura é variável com a latitude e com as estações do ano, sendo em torno de 8 km nos pólos e 16 km Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 23 no equador. Apresenta-se menos alta no inverno, tendendo a aumentar no verão, obedecendo a lei de expansão dos gases e a influência do calor da radiação solar acumulada na superfície da Terra. Nesta camada concentra-se 80% dos gases da atmosfera e 75% de todo seu peso. Excluindo-se o vapor d'água, a composição do ar e constante nesta camada. b) Estratosfera: Mede cerca de 65 km (40 - 70 km), iniciando-se a partir da troposfera. Apresenta-se em repouso sem vento e sem tempestades, sem chuvas, sua temperatura é muito baixa (-50o C) e constante. Predomínio de gás nitrogênio, não existe oxigênio, mas encontra-se em quantidade apreciável o hidrogênio. Nas regiões elevadas da estratosfera (20 - 35 km) encontra-se a sub-camada de ozônio (O3) ou ozonosfera com propriedades distintas do oxigênio (O2) e na região entre a troposfera e a estratosfera existe outra sub- camada denominada de Tropopausa. Ozonosfera: Sub-camada responsável pelo controle da quantidade de radiação ultravioleta (comprimento de onda 0,2 - 0,4 µ�), de origem solar, que atinge a Terra. Funciona como um "filtro solar", permitindo a vida sobre a terra. A absorção das radiações UV provoca o aquecimento desta camada, causando perturba- ções atmosféricas nas regiões superiores. Tropopausa: Entre a troposfera e a estratos- fera (11 - 17 km), é uma camada de separação, intermediária. Parece ter a função de zona de inversão térmica. Sua altura varia com a latitude e estações do ano, não apresentando altitude determinada. Apresenta-se como, uma camada deprimida nos pólos e dilatada no equador. c) Mesosfera ou Camada Hidrogenada: Com espessura de 120 km que se inicia a mais ou menos 80 km, superpondo-se a estratosfera. É formada predominantemente de hidrogênio. d) Termosfera ou Ionosfera: Esta camada esta acima de 200 km (até 500 km) de altura e estende-se por muitas centenas de quilômetros, onde as moléculas se acham ionizadas, ou seja, as radiações solares, partículas, raios cósmicos e meteoritos microscópicos provocam a fissão das moléculas de oxigênio. e) Exosfera: é a camada mais externa da atmosfera, os gases encontram-se bastante rarefeitos ou inexistem. 3. PESO DA ATMOSFERA Metade do peso da atmosfera esta abaixo de 5,6 km de altitude. A medida que consideramos camadas da atmosfera cada vez mais altas, elas se tornam menos densas. A atmosfera apresenta uma pressão de 1,033 kg.cm-2 na superf do planeta, ao nível do mar. Sabendo a superfície total do planeta, podemos calcular o peso total da atmosfera. A superfície total do globo é de 5l0 l00 800 km2, obtemos assim o peso total da atmosfera que corresponde a 5 269 341 264 000 000 de toneladas (peso equivalente a 479.031 cubos maciços de chumbo, tendo cada cubo 1 km de lado). Figura 3.3. Peso da atmosfera ao nível do mar Segundo a Lei de Pascal a pressão em um fluido é exercida em todas as direções. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 24 4. COMPOSIÇÃO DA ATMOSFERA É praticamente constante, salvo varia- ções nas quantidades de gás carbônico (CO2), ozônio (O3) e vapor d'água. Sua composição próxima da superfície (válido até 25 km de altitude) é de ar puro e seco, impurezas e vapor d’água: Tabela. Constituintes do ar seco Ar puro e seco (invariável) Componentes Volume percentual Nitrogênio 78,09 99,997 Oxigênio 20,95 Argônio 0,93 Gás Carbônico 0,03 Neônio Kriptônio Hélio Ozônio etc. Traços Sem importância como volume Tabela. Constituintes das impurezas do ar. Impurezas Fumaça, cinzas vulcânicas: com a explosãodo vulcão Krakatoa, entre Java e Sumatra, as cinzas ficaram suspensas por mais de 3 anos em toda a terra. Poeira e partículas higroscópicas. Sementes, pólen, esporos, etc.: que a chuva traz para a superfície. O Dióxido de carbono, gás que se encontra numa percentagem muito baixa na atmosfera. Importante para que os vegetais realizem a fotossíntese (Tecidos vegetais). Os seres vivos devolvem-no ao ambiente pela respiração. Permite também reter o calor na atmosfera. O Oxigênio é importante para que a vida no planeta seja possível, já que é respirado por todos os seres vivos. Permite a combustão dos materiais para obter energia, e é fonte de purificação do ar e das águas, entre outras funções. O Nitrogênio ao combinar-se com outras substancias, este gás forma excelentes fertilizantes, que permitem o crescimento dos vegetais. No entanto, sua função mais importante é tornar respirável o oxigênio, já que o dilui. O Vapor d’água, estado gasoso da água que é fundamental para a formação das nuvens. Quando o vapor d’água precipita, na forma de chuva ou outras, é utilizado pelos animais e vegetais. Também, retém o calor na atmosfera. Sua concentração é variável, e depende da distância que exista ao mar e da altitude. É a fonte dos hidrometeoros: chuva, granizo, neve, orvalho, geada, etc. Ocorre apenas na troposfera. O Ozônio cumpre uma função muito importante, já que serve de filtro da radiação solar, absorvendo radiação ultravioleta. A passagem destas radiações até a Terra provoca muitos problemas aos seres vivos, como maior dano aos olhos, câncer de pele e destruição dos vegetais e microorganismos. Suspeita-se que as emissões de alguns gases decorrentes de atividades humanas, principalmente os CFCs, são responsáveis pela destruição do Ozônio, o que é evidenciado pelos grandiosos buracos existentes na subcamada de ozônio, principalmente sobre os pólos. Figura 3.4. Subcamada de Ozônio e Buraco sobre o pólo Sul em 2000. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 25 IV–FATORES CLIMÁTICOS E METEOROLÓGICOS São os agentes que condicionam os fe- nômenos atmosféricos (meteoros). Ex: altitude, latitude, relevo, continentalidade (oceanidade), circulação atmosférica, correntes marítimas, etc. 1. ASPÉCTOS DO CLIMA: MACRO, TOPO E MICRO-CLIMA Na climatologia agrícola, o clima deve ser considerado sob três diferentes aspectos: macro-clima, topo-clima e micro-clima. a) MACRO-CLIMA: é o clima da região (clima regional ou geográfico). Caracterizado pelos elementos meteorológicos obtidos nas es- tações climatológicas padrões, onde os instru- mentos são expostos em condições conven- cionais, padronizados, para afastar influencias locais condicionadas pela forma de exposição instrumental. O macro-clima é uma característica geográfica da região e normalmente não pode ser modificado pelo homem. Depende dos fatores climatológicos, que são condicionados pelas características geográficas locais (altitude, relevo, etc.). O Agricultor aproveita das condições favoráveis do macro-clima para cultivar as plantas a ele adaptadas. Pode-se dizer: O macro-clima da região do Planalto Catarinense, de Campinas, de Pinhal, de Recife, de Buenos Aires, de Bombaim, etc. b) TOPO-CLIMA: é o clima local. Corresponde às condições climáticas próprias de um terreno em função de sua topografia, exposição cardinal, configuração topográfica, disposição dos acidentes topográficos, etc. Durante o dia, um terreno com exposição norte é mais ensolarado ou batido pelo Sol que um terreno de face sul. É, pois topograficamente mais quente. Durante a noite um terreno de baixada de configuração côncava, onde se concentra o ar frio que escorre dos outros terrenos vizinhos mais altos, é mais frio que outro terreno elevado ou convexo, não sujeito à estagnação ou convergência do ar frio. Esses terrenos baixos, em depressão são, pois, topograficamente, mais frios e mais sujeitos as geadas em noites frias, ou as neblinas em noites com atmosferas úmidas. O topo-clima não depende dos fatores geográficos, mas sim dos fatores locais e acidentes topográficos. Pode variar muito, de lugar para outro, numa mesma região. O agricultor pode escolher em sua propriedade o terreno com o topo-clima mais adequado para cada atividade agrícola que pratica. c) MICRO-CLIMA: é o clima condiciona- do pela cobertura do solo. Ex., o micro-clima de um terreno coberto com mata é diferente do micro-clima de outro coberto com grama, cana- vial ou cafezal, de água, palha, areia ou qualquer outro tipo de revestimento do solo, etc. Um terreno nu tem o micro-clima próprio. O micro-clima de um terreno cultivado pode ser modificado e condicionado pelo agricultor. Depende do tipo de cultura e cultivo que faz, do espaçamento, das praticas culturais, da poda, arborização, etc. A distinção dos três diferentes aspectos do clima é fundamental para a climatologia agrícola. Sem uma visão clara desses aspectos não se pode compreender bem a climatologia e sua aplicação na agronomia. 2. FATORES METEOROLÓGICOS MACRO- CLIMATICOS São os de ordem geográfica. Condicio- nam o clima regional, geral ou macro-clima de uma região. Podemos Citar: Radiação solar; Fatores atmosféricos; Natureza da superfície; Altitude; Circulação geral da atmosférica; Circulação local da atmosfera; Correntes marítimas; Continentalidade; Orografia... Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 26 2.1. RADIAÇÃO SOLAR O Sol é a única fonte de energia na su- perfície da Terra, ligada aos fenômenos meteoro- lógica. A superfície solar, com aproximadamente 5500 °C (5760 °k), emite grande quantidade de energia radiante, sendo que a Terra intercepta uma fração insignificante (1/2.000.000.000), mas que é suficiente para condicionar o tempo. Assim, a radiação solar (energia solar) é o móvel e o fator fundamental do clima. A energia solar que chega ao topo da atmosfera terrestre é chamada de: Radiação solar extraterrestre, Radiação solar no topo da atmosférica, ou Radiação solar na ausência de atmosfera: Esta quantidade de energia que chega verticalmente, com a radiação solar acima da atmosfera é praticamente constante, daí denomi- nada constante solar e definida como segue: CONSTANTE SOLAR: é a quantidade média de calorias por centímetro quadrado que chega por minuto a Terra, supondo a ausência da atmosfera (Cal/cm2/min). É igual a 1,97 Cal/cm2/min. Atualmente, admite-se que é ±2,0 cal/cm2/min. Em média a Terra recebe, nos trópicos acima da atmosfera, em superfície horizontal cerca de 800 cal/cm2/dia. Nas diferentes latitudes e estações do ano essas quantidades de energia solar variam bastante. A Radiação global corresponde à quanti- dade de energia solar que chega à superfície da Terra. Três causas modificam esta quantidade de energia solar recebida na superf da Terra: * Variação do angulo de incidência (Z). * Variação da duração do dia e da noite. * Variação da distância do sol. a) Variação do angulo de incidência (Z): o aumento do ângulo de incidência (Z) reduz o aquecimento da superfície pela ampliação da área a ser aquecida. Esta redução é proporcional ao co-seno de Z (Lei de Lambert). Supondo Z = 60° Cos60° = 0,5. Portanto, se a inclinação (Z) for de 60°, a redução será de 0,5 só em função da ampliação da área a ser aquecida. A redução do aqueci- mento será maior se for considerado o aumento da massa atmosférica, a ser atravessada. b) Variação da duração do dia: varia segundo a latitude e estação do ano. O eixo da Terra está inclinado de 23°27’ em relação ao plano da eclíptica.Esse fato condiciona as estações do ano. Aliado à latitu- de, à inclinação resulta a enorme variação da duração do dia no curso do ano. No geral, quan- to maior a duração do dia maior a quantidade de energia que incide no local considerado. c) Distancia do Sol: A órbita da Terra em torno do sol é ligeiramente elíptica. Dessa forma no afélio, quando a Terra esta mais afastada seria mais fria. Ao contrário, no periélio, estaria mais quente. Mas a diferença na quantidade de calor recebida pela Terra entre uma e outra posição é muito pequena, apenas de 2%. Pouco efeito representa. Como a Terra acha-se no afélio em julho (inverno do H. sul), pode-se inferir que, em igualdade de condições, o inverno nesse hemisfério seria mais rigoroso que o do H. norte, o que não ocorre. Porque? ESPECTRO SOLAR: A energia emitida pelo Sol (Radiação solar) é constituída por um conjunto de ondas eletromagnéticas de vários comprimentos, que recebe o nome de espectro solar, sendo que cada faixa de comprimento de ondas, apresenta características peculiares, principalmente quanto a seus distintos efeitos sobre as plantas. O Sol emite radiação em praticamente todos os comprimentos de onda mas, cerca de 99% da energia solar tem comprimento entre 0,2 e 4,0 micra, intervalo este chamado "domínio da radiação solar”. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 27 Figura 4.1. Espectro Solar A Comissão Holandesa de Irradiação Vegetal, em 1953, estabeleceu os efeitos específi- cos causados por determinados trechos do espec- tro, estabelecendo oito faixas diversas com características próprias: 1a faixa: Radiações com comprimento de onda maior que 1 micra (µ). Não causam danos às plan- tas e são por elas absorvidas. São aproveitadas sob a forma de calor sem que haja interferência com os processos biológicos. 2a faixa: Radiações entre 1 e 0,72µ. Exercem efei- to sobre o crescimento das plantas. Próximo a 1µ é importante para o fotoperiodismo, germinação da semente, controle de floração e coloração do fruto. 3a faixa: Radiações entre 0,72 e 0,61µ. São forte- mente absorvidas pela clorofila. Gera forte ativida- de fotossintética, apresentando também forte ati- vidade fotoperiódica. 4a faixa: Radiações entre 0,61 e 0,51µ. Tem baixo efeito fotossintético e de fraca ação sobre a formação da planta. Corresponde à região verde do espectro. 5a faixa: Radiações entre 0,51 e 0,40µ. É a região mais fortemente absorvida pelos pigmentos ama- relos e pela clorofila. Corresponde ao azul violeta e é também de grande atividade fotossintética, exercendo vigorosa ação na formação da planta. 6a faixa: Radiações entre 0,40 e 0,315 µ. Exerce efeitos de formação. As plantas tornam-se mais baixas e as folhas mais grossas. 7a faixa: Radiações entre 0,315 e 0,28 µ. É prejudicial à maioria das plantas. 8a faixa: Radiações com um comprimento de onda menor que 0,28µ. Mata as plantas. Figura 4.2. Distribuição da Energia solar na atmosfera - Espectro de Radiação solar O Balanço Radioativo do Sistema Ter- ra-Atmosfera pode ser resumido em: O ar puro (seco e transparente) e o vapor d'água absorvem pouco as radiações de ondas curtas e médias (< 0,92µ). O aquecimento principalmente nas camadas inferiores da atmosfera se dá graças a emissão da superfície da terra, que absorve e emite a energia incidente provinda do Sol em radiações caloríficas de maior comprimento de onda (infravermelho), que são absorvidas pelo vapor d'água da atmosfera, CO2 e outros gazes e poeiras existentes (principalmente nos primeiros 5 Km da Troposfera), fenômeno que se deu o nome de Efeito Estufa. Figura 4.3. A radiação solar atravessa a atmosfera e aquece a superfície da Terra e a troposfera. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 28 No Balanço energético da Radiação na atmosfera temos: Figura 4.4. Balanço de Radiação solar no sistema Terra-atmosfera 1) Difusão (Refração), reflexão e absorção pela atmosfera: diminuem a intensidade da radiação (átomos de oxigênio, Ozônio, vapor d'água e CO2). 2) Radiação emitida da atmosfera (Radiação do céu): Incide sobre o solo, vinda de todas as direções (parcela da radiação difusa). Sua intensidade depende da latitude, altitude, ângulo solar, nebulosidade e turbidez da atmosfera. 3) Radiação solar direta: aquela não é interceptada pela atmosfera. A soma da radiação difusa com a direta é a Radiação Global, ou seja, a radiação recebida na superfície da Terra. 4) Reflexão e difusão do solo: nem toda a radiação global é retida pela superfície da terra. Parte é refletida e parte é difundida. A intensidade da reflexividade depende da natureza e do estado da superfície que recebe a radiação. Albedo: é o coeficiente de reflexão (proporção da radiação refletida e a radiação total recebida), varia em função das características da superfície. EX: neve: r = 85%; vegetação: r = 25% (ver tabela em anexos). 5. Absorção pelo solo: O solo absorve parte da energia que chega, aquecendo-se e transferindo calor por condução, para as camadas mais profundas. Parte desta energia absorvida é transferida para a atmosfera por: Condução, Convecção, Irradiação (Efeito estufa) e calor latente (Evaporação da água). A radiação recebida que não é refletida ou reirradiada é conhecida como "radiação líquida", que é a medida da energia disponível na superfície do solo. 2.2. Fatores atmosféricos A atmosfera é o envoltório gasoso da Terra. Sua composição próxima da superfície é de ar puro e seco, impurezas e vapor d’água. * Características da atmosfera: densidade de- cresce com a altitude. Seu limite superior é muito difuso. Acima de 100 km, praticamente inexiste. É elástica (compressível). Exerce fricção (atrito), destruindo os meteoritos, que a atingem a altíssimas velocidades. * Efeito de termostato: controla a temperatura da Terra. Evita superaquecimento diurno e o super- resfriamento noturno. Figura 4.5. Efeito protetor da atmosfera terrestre, na redução das variações extremas das temperaturas. Obs. Lua: sem atmosfera; ha grandes diferenças termométricas entre dia e noite; Terra: com atmosfera; pequenas diferenças termométricas entre dia e noite. Efeitos da inclinação dos raios solares: A forma redonda da Terra resulta na obliquidade Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 29 da incidência dos raios na maior parte da superfície. Dois efeitos surgem: a) Aumenta a massa atmosférica a atravessar e assim aumentam as perdas; b) Dilui e espalha a radiação incidente na superfície. Figura 4.6. Ângulo de incidência e massa atmosférica. Efeitos da obliquidade dos raios solares: diluição da incidência de energia na superfície e aumento da absorção pela atmosfera (aumento da massa atmosférica). Massa atmosférica: é massa atravessada pela radiação, na distância zenital. Perdas da radiação solar na passagem pela atmosfera: a) Absorção: transformação da radiação em calor sensível (processo seletivo). * Ozônio é mais eficiente para radiação ultravioleta (< 0,3 µ). * Gás Carbônico (CO2) é mais efetivo na banda de 15 µ (ondas longas, sendo desprezível); * Vapor d’água é mais efetivo entre 0,8 a 2,7 µ e acima de 15 µ (desprezível); * Nuvens e nevoeiros: radiação infraver- melho (> 0,7 µ) e refletem a radiação luminosa. b) Espalhamento (ou Difusão): devido à refração (desvio na direção dos raios) principalmente das ondas mais curtas do espectro solar provocada pelas minúsculas partículas em suspensão no ar e pelas próprias moléculas do ar (processo seletivo),Espalhamento especialmente das de menor comprimento (< 0,4 µ, azuis, violetas e ultravioletas) o que dá a coloração azul para a atmosfera ou abóbada celeste. As radiações de ondas mais longas, acima de 0,6 µ, correspon- dentes ao amarelo, vermelho e infravermelho, praticamente, não sofrem difração e atravessam bem a atmosfera. Raios solares se tornam aver- melhados a tarde. São os que conseguem atra- vessar diretamente a grande massa atmosférica. c) Reflexão: não é seletivo, ou seja, todos os raios não absorvidos são igualmente refletidos por nuvens e nevoeiros. A luz branca é o conjunto de todas as radiações luminosas da radiação solar. A maior parte da reflexão das nuvens vai para o espaço exterior e se perde. Figura 4.7. Disposição da radiação solar na atmosfera e superfície da terra. 2.3. Fator natureza da superfície A disponibilidade de energia solar recebida na superfície depende das suas proprie- dades: terra, mar, floresta, planície, montanha, etc. Três processos ocorrem na superfície: a) Reflexão (albedo): a energia é devolvida ao espaço sem alterar a natureza da radiação. b) Absorção: a energia é absorvida pela superfície e transformada em calor sensível. c) Transmissão: a energia absorvida é transmitida por um dos processos de dissipação. * l. Radiação (Irradiação): é a transferência de calor (ou energia) de um corpo para outro através de ondas eletromagnéticas, mesmo que entre eles não exista ligação material. A transferência de energia gerada pelo Sol ocorre por Radiação Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 30 (chamada Radiação Solar), se propagando no espaço em todas as direções. Na atmosfera a radiação terrestre se propaga por ondas longas e é importante para o efeito estufa. * 2. Condução: é a transferência de calor (ou energia) de molécula para molécula sem ocorrer transporte de massa. Ex. Aquecimento de um arame. Na atmosfera a condução térmica ocorre para o solo ou para o ar. * 3. Convecção/Advecção: é a transferência de calor (ou energia) de molécula a molécula, com transporte de matéria, com as moléculas frias se deslocam para regiões quentes e vice-versa. Ex. Chaleira com água fervendo. Na atmosfera ocorre o aquecimento do ar em contacto com a superfície aquecida pela radiação solar, sendo que o ar aquecido, dilatando-se se torna mais leve e sobe, em corrente ascendente, levando a energia por convecção. Outro processo físico de transferência de calor (ou energia) que ocorre no sistema Terra- atmosfera é a mudança de estado da água, que ocorre mediante gasto ou liberação de energia. Mudança de estado (ou fase) da água: ocorre a transformação de calor latente em calor sensível (ou vice-versa) com influência na temperatura do ar. As principais características da superfície que influi na radiação são representadas pelo albedo Albedo (coeficiente de reflexão): é a porcentagem da energia devolvida, por reflexão, ao espaço em relação à energia incidente (radiação global). Depende muito da natureza da superfície. Quanto mais clara e mais lisa maior o albedo. Assim, superfícies brancas e lisas têm albedo máximo ao contrario, superfícies negras e rugosas têm o albedo mínimo. Na natureza o albedo varia bastante: Quanto menor o albedo, maior será a absorção da radiação solar e, portanto, o aquecimento da superfície. Assim, superfícies negras e rugosas aquecem-se muito quando ensolaradas e superfícies brancas e lisas, praticamente não se aquecem, quando expostas à insolação. A superfície aquecida irradia calor por ondas longas (IV) que dá origem ao efeito estufa na atmosfera. Efeito de estufa O efeito de estufa aumenta considerável- mente a temperatura nos ambientes fechados com paredes transparentes a radiação solar (ondas curtas). Exemplo: casas de vegetação. O vidro transparente à radiação solar (on- das curtas), permite a sua livre entrada na estufa. O vidro e as paredes opacos à radiação terrestre (ondas longas) impedem a saída e também sua dissipação por convecção, aumentando a quanti- dade de energia no interior, aquecendo o ambiente. Figura 4.8. Casa de vegetação de vidro (Estufa) e ilustração do Efeito Estufa. A atmosfera da Terra desempenha o papel de estufa: a energia solar que atravessa a atmosfera é absorvida pela superfície da Terra provocando seu aquecimento, e assim a superfí- cie da Terra passa a irradiar calor (ondas Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 31 longas), uma parte do qual é absorvido por nuvens, gases de estufa e por partículas em suspensão, o resto 10 a 15% se perde para o espaço. Uma parte do calor absorvido na atmos- fera é devolvida à superfície (Efeito Estufa). Figura 4.9. Efeito estufa na atmosfera. O efeito estufa aumenta com a poluição atmosférica (CO2) e tende a tornar a Terra mais aquecida. O efeito estufa é responsável por um aquecimento médio de 33° C. 2.4. Fator altitude A altitude influi decisivamente: a) na temperatura do ar: diminui com o aumento de altitude. b) na pressão atmosférica: diminui com o aumento a altitude. c) na radiação solar global: aumento de intensidade da Radiação solar principalmente de ondas curtas. d) nas precipitações: aumenta em geral, as precipitações pluviais. Distribuição vertical da temperatura na troposfera Gradiente de resfriamento normal: é a média de variação de temperatura do estado geral da atmosfera a diferentes altitudes. Em torno de 0,65°C/100 m de aumento da altitude. Gradientes adiabáticos: refere-se às variações térmicas da atmosfera com movimentos verticais (convecção). São diferentes do gradiente de resfriamento normal (estático). Gradiente adiabático do ar não saturado é 1°C/100 metros Gradiente adiabático do ar saturado (ar úmido) é 0,5°C/100 metros. O processo adiabático de modificação térmica, não envolve qualquer adição/subtração de calor. O processo não adiabático envolve ganho ou perda de calor. EFEITO FOEHN É o enorme aquecimento do ar que galgou uma montanha e desceu aquecendo-se na encosta oposta (no caso: de 21° C para 27,5° C). Figura 4.10. Ilustração do Efeito Foehn e sombra de chuva. Inversão térmica – Gradiente térmico negativo É a inversão do gradiente adiabático natural da atmosfera. Em vez de a temperatura diminuir com a maior altura, ela passa a diminuir com a proximidade do solo. É uma exceção ao gradiente natural. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 32 Há cinco casos de ocorrência de inversão do gradiente térmico da atmosfera: a) Inversão superficial: causada pelo contacto com a superfície fria, resfriada pela perda de calor, por radiação, em noites de atmosfera lím- pida e calma, como acontece em noites de geada. b) Inversão superficial em baixada: o ar frio formado, pelo contacto com a superfície fria, durante as noites sendo mais denso e pesado, escorre para as baixadas, reduzindo ainda mais a temperatura com a proximidade do solo. c) Inversão de advecção: ocorre quando há invasão do ar quente sobre uma superfície fria, como um lago com água ainda fria depois do inverno. d) Inversão frontal: quando há contato de duas massas de ar de temperaturas diferentes. A massa mais fria, como é mais densa, fica sempre por baixo. No limite dessas massas aparece a inversão. e) Inversão superior: é a inversão de altitude elevada. Ocorre quando grandes massas de ar se espalham sobre uma massa mais fria e permanece estável, ou quando há uma camada superior rica em gases de estufa. Isotermia:é a condição de uniformidade da temperatura em altitude elevada. Ausência de gradiente térmico, como ocorre na Estratosfera. Figura 4.11. Inversões do gradiente vertical térmico, na atmosfera. 2.5. Fator circulação geral da atmosfera É muito complexa, mas muito importante como processo de transporte de calor de uma região para outra, na superfície do planeta. A causa básica da circulação ou vento é a diferença de Patm na superfície, o que é conseqüência de diferenças de temperatura ou do balanço térmico na superfície. Variação vertical da pressão: A atmosfera está comprimida na base pelo seu próprio peso. Daí aumenta a pressão com a redução da altitude, resultando um gradiente de pressão vertical, que não é constante e sim aproximadamente geométrico. Variação da pressão na superfície: É muito menor que em perfil vertical. Ao nível do mar esta normalmente entre 982 e 1033 mb (73,5 a 77,5 cm Hg). É bastante variável no tempo: Estas variações podem ser aleatórias, cíclicas que são anuais ou diárias. * Aleatórias: ocorrem principalmente com a invasão de massas de ar. * Ciclo anual: máximo no inverno (ar frio mais denso) e mínimo no verão (ar quente mais leve) * Ciclo diário: valor máximo as 10 e 22 horas e mínimo as 4 e 16 horas (maré barométrica) As variações de pressão entre diferentes pontos na superfície causam os ventos. O ar se move horizontalmente dos pontos de alta pressão para os de baixa pressão. Figura 4.12. Convecção e advecção causadas pelas variações de pressão na superfície. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 33 No globo terrestre, quente no Equador (baixa pressão) e frio nos pólos (alta pressão), a circulação seria a esquematizada com duas células, não fora à influência da rotação da Terra. Figura 4.13. Circulação da atmosfera se a Terra não girasse Efeito de Coriólis ou Força de Coriólis: Efeito da rotação terrestre. Desvia a direção do vento para a direita no H Norte e para a esquerda no H Sul. Figura 4.14. Desvio dos ventos em conseqüência do Efeito de Coriólis. Circulação geral e celular: A tendência de circulação geral da atmosfera. Nas faixas de alta pressão ou de baixa pressão há em geral calmarias. Nas faixas intermediárias, entre alta e baixa pressão, aparecem os ventos predominantes da circulação geral. Figura 4.15. Esquema da circulação geral da atmosfera Massas de ar São enormes volumes de ar aproximada- mente homogêneos em suas propriedades físicas (principalmente Temperatura e umidade) que se formam pelo acumulo de grandes massas de ar sobre certas regiões geográficas, que permanecendo certo tempo sobre a área, adquire características de temperatura e umidade da referida área. Figura 4.16. Imagem de satélite onde pode-se observar o as massas de ar com nebulosidade. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 34 Ao se deslocar provocam conflitos fron- tais (Frentes) afetando as condições do tempo. Quando se movem, tendem a reter suas propriedades durante certo tempo, não se misturando com massas de propriedades diferentes. A analise e previsão do tempo se baseiam nas características e movimentação das massas de ar sobre a região. O Brasil sofre a ação das massas de ar relacionadas na figura a seguir. Figura 4.17. Massas de ar predominantes na Amé- rica do Sul. A = Alta pressão B = Baixa pressão A massa equatorial continental (cE) forma- se na região amazônica (quente e úmida), causando chuvas; a massa equatorial marítima (mE) forma-se sobre o oceano (quente e úmida), causando chuvas; a massa continental tropical (cT) forma-se na região do chaco (quente e seca), causando poucas chuvas; a massa tropical marítima (mT) forma-se sobre os oceanos (temperada úmida) e causa poucas chuvas; a massa polar marítima forma-se na região sub- antártica (fria e seca), causa chuvas frontais. Os anticiclones em sua marcha para noroeste passam muitas vezes por São Paulo. Normalmente, de cada uma a duas semanas, passa um anticiclone. São mais raros no verão. Na entrada traz vento SE e mau tempo. Quando o centro passa pela região, dois a cinco dias após, o tempo torna-se em geral bom, sem vento e com céu límpido. As massas de ar podem ser: Massas quentes: são formadas em áreas quentes, como: Golfo do México, Amazônia, etc.. Massas frias: são formadas em áreas frias como as polares: Patagônia, Sibéria, etc. A Classificação varia, mas em geral se classificam em quatro grandes tipos, segundo a: 1o - Latitude de origem: Ártica (Antártica) - A; Polar - P; Tropical - T; Equatorial – E. 2o - Natureza da superfície: Marítima – m; Continental - c 3o - Estabilidade: Massa estável: quando invade região mais fria que a de origem da massa. Massa instável: ao contrário, quando vai para área mais quente. 4o - Temperatura: Massa Quente e Massa Fria. As propriedades das massas quentes e frias são: * Massa quente: é relativamente estável; de origem tropical. É resfriada pela base, reduzindo o gradiente de resfriamento normal. Sem convec- ções e turbulências; estratificada (camadas) Sem nebulosidade, mas, frequentemente, com bruma seca, persistente. A visibilidade é baixa, pela presença da bruma seca. Ocorrem Nevoeiros matinais, comuns nas baixadas. * Massa fria: é relativamente instável, de origem polar; vem de áreas mais frias que a atual. É aquecida pela base; o gradiente de resfriamento aumenta, tornando-se instável. Desenvolvem-se convecções e turbulências atmosféricas; nuvens, do tipo cúmulus no topo de cada corrente ascendente; precipitações e aguaceiros fortes e localizados; visibilidade ótima, nos períodos de bom tempo; ar límpido. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 35 Frente É o limite ou a faixa de transição entre duas massas de ar antagônicas. Sua passagem traz mudanças rápidas na temperatura. Segundo a massa que avança temos dois tipos principais de frentes: frente quente e frente fria. Frente quente: Quando a massa mais quente e leve avança sobre a mais fria. Sua passagem ocorre com uma velocidade de ±20 km/hora e com uma duração média de 48 horas. A massa quente, mais leve, sobrepõe a fria, ao mesmo tempo em que a empurra. No processo, o ar quente se eleva, resfria, condensa a umidade, dando nebulosidade e precipitações leves e generalizadas. Sua intensidade depende do grau de instabilidade da massa quente. Figura 4.18. Esquema de um corte em uma frente quente. Frente fria: a massa quente é empurrada e elevada pela entrada da massa fria, mais pesada, que penetra por baixo. Quando o avanço é rápido ou o ar quente e instável, aparecem cumulunimbus (CB) e fortes tormentas. A frente fria chega bruscamente, com ventos de sudeste (SE) no hemisfério sul. As chuvas em geral precedem à entrada da frente. A intensidade depende da instabilidade da massa quente que é deslocada. Sendo instável, estará sujeita a grandes convecções e tempestades, freqüente- mente, tornados e granizo. Figura 4.19. Esquema de corte em uma frente fria. 2.6. Fator Circulação Local São causadas pela diferença de aquecimento das superfícies insoladas. O ar em contato com a superfície quente também se aquece, dilata-se, torna-se mais leve e sobe, produzindo correntes ascendentes (con- vecção). Isto faz diminuir a pressão na superfície. Figura 4.20. Esquema de convecção formada sobre superfície aquecida pela insolação. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso.2/2005 36 Podem ser de ciclo diário ou anual. O vento sopra então das áreas circundantes, menos quentes, de maior pressão, para a de menor pressão e assim ocupa o lugar do ar que se elevou. Surgem movimentos de convecção (vertical) e advecção (horizontal). No topo da corrente ascendente formam-se, frequentemente, nuvens Cúmulus. São as correntes ascendentes que carregam para o alto os esporos dos fungos, e outros agentes de reprodução que depois caem e vão disseminar moléstias e pragas nas plantações. Os principais tipos de circulação local são: Brisa Terra-mar, Brisa de encosta e Monções. * Brisa "Terra-Mar": de Ciclo diário, é causado por diferenças diurnas e noturnas de temperatura da superfície de água e de terra. a) brisa marítima: diurna - Inicia-se cerca das 10 horas da manha e vai até ±21 horas. Durante o dia, a Rs aquece muito mais a superfície da Terra que a massa de água. Formam-se correntes as- cendentes (convecção). Desenvolvendo-se baixa pressão, aparece a brisa de mar para a terra. Figura 4.21. Brisa marítima; circulação "terra-mar" diurna, qdo a Terra está mais aquecida que o mar b) brisa terrestre: noturna - Inicia-se ±22 horas. Menos definida, mais rasa, mais lenta, menos extensa que a brisa marítima. A radiação terrestre para o espaço sideral, durante a noite faz resfriar muito mais a Terra do que a massa de água. Desenvolve-se convecção sobre o mar e a brisa de Terra para o mar. Figura 4.22. Brisa terrestre ou circulação noturna; ocorre quando o mar esta mais aquecido. * Brisas de encosta: Também de ciclo diário. Durante o dia ensolarado a brisa é ascen- dente do vale para a montanha. Durante a noite límpida, brisa de encosta catabática (descenden- te). Em vales longos a brisa fria, catabática desce e o ar frio acumula nas baixadas e várzeas. Figura 4.23. Brisas de encostas, diurna e noturna. * Monções: (típico da índia) - ciclo anual, estacional. Monção (Árabe) = estação. É uma espécie de brisa "terra-mar", em dimensões quase continentais. Ocorre quando a costa continental é ± paralela e pouco afastada do Equador, como na Índia, Arábia e sul da Ásia. a) Monção de terra: durante o inverno. Terra ou continente frio resulta alta pressão atmosférica. O vento sopra então durante o inverno do continente frio para o oceano mais quente. b) Monção de mar: durante o verão. O continente se aquece, o ar quente mais leve sobe e a pres- são cai. O vento sopra então do mar, mais frio, com alta pressão. Provoca tremendas e prolon- gadas precipitações de verão (climas monçônicos típicos da Índia). Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 37 * Ventos ciclônicos: São ventos com movimento circular. Ciclones: quando tem baixa pressão (B) no centro do círculo, e Anticiclone: quando o centro é de alta pressão (A). Figura 4.24. Sentidos de rotação dos ciclones e dos anticiclones, no hemisfério Sul. O efeito de Coriólis desvia o vento para a esquerda no H. sul e para a direita no H. norte, condicionando o sentido da rotação das massas de ar. As massas de ar possuem normalmente cir- culação do tipo ciclônica quando são quentes e com baixa pressão no centro e são do tipo antici- clônicas, quando frias e com alta pressão no centro. Classes de ciclones: Conforme a dimen- são, duração e características, os ciclones podem ser Ciclones (propriamente ditos), Furacão (ou Tufão) e Tornado. a) Ciclones (propriamente ditos): São massas de ar quentes de dimensões continentais, que quan- do se movimentam causam as frentes quentes. Figura 4.25. Ciclone propriamente dito. b) Furacão ou Tufão (“ciclone tropical”): menores que os ciclones. Diâmetro 150 a l000 km. Forma- se no mar quente, próximo ao Equador, e dirige-se sempre para oeste. Não ocorrem no Brasil. Freqüentes no Caribe, na Índia, Japão, etc. Sua duração é longa; algumas semanas, durante seu curso, sua passagem dura cerca de 10 horas. Ocorrem cerca de 8 a 10 por ano durante o verão. Tem nomes de mulher (ordem alfabética em cada estação). Ex: Ana, Beatriz, Carmem, Dione, etc. Os ventos são regulares a fortíssimos, 20 a 100 km/h, ou até 400 km/h, na periferia do furacão. O centro (olho) é calmo, com diâmetro de cerca de 10 a 50 km. Seus prejuízos são enormes, pela força do vento ou pelas pesadas precipitações e inundações que provocam. Desloca-se com 15 a 35 km/h. Em sua rota percorre milhares de quilômetros. Figura 4.26. Imagem de satélite do Fenomeno Catarina que atingiu o Sul do Brasil em 2004. c) Tornado: Bem menor com diâmetro de 500 a 1000 metros, apenas. Duração de algumas ho- ras, percorrendo algumas dezenas de quilome- tros. Sua Frequência é muito variável. Suas princi- pais características são: extremamente violento, centro muito rarefeito. Gira a velocidade tremenda, 300 - 500 km/h. Seu deslocamento é variável, 50 a 70 km/hora. Sua passagem, em cada ponto, geral- mente, persiste menos de um minuto. Apresenta aspecto de grande tromba ou funil que desce das nuvens. Nem sempre atinge o solo. O funil sobe e desce, gira, retorce. Onde atinge a Terra pode fa- zer grande destruição. A faixa de destruição pode variar de 100 a 1000 ou mais metros de largura. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 38 Provoca destruição, devido: a) violência do vento; b) efeito explosivo, pela possibilidade de baixar subitamente, com baixíssima pressão sobre um edifício; c) efeito ascendente do interior do funil, que poderá levantar e transportar objetos a grandes distâncias. Quando se forma sobre a água (Tromba d´água) suga até peixes, para cima. Sua formação ocorre na entrada dos anticiclones, frentes frias, ou em lugares com grande variação de tempera- tura de um terreno para outro: mata ao lado de terreno nu. São muito frequentes e violentos no meio-oeste dos E.U.A. Ocorrem também no Brasil. É relativamente frequente no litoral do Estado de São Paulo e mesmo no planalto. Figura 4.27. Tufão sobre o continente e série de tufões sobre o oceano. 2.7. Correntes Marítimas São verdadeiros rios que correm no oceano. Causados pelos ventos predominantes da circulação geral, ventos alísios e predomi- nantes de oeste. É um importante fator climático. Pode afetar consideravelmente o clima das regiões costeiras onde banham. Podem ser quentes ou frias, conforme a região de origem: Quentes quando provem das regiões equatoriais e se dirigem para as polares. Frias, ao contrario, quando vem dos pólos para o equador. Efeitos das Correntes como fator climático * Correntes quentes: aumentam a umidade do ar e a temperatura das costas. Ex: Costa do Brasil e da Europa: águas quentes, litoral chuvoso. * Correntes frias: reduzem a umidade do ar e a precipitação das costas. Ex: Costa do Chile e Peru, Costa Sudoeste da África: águas frias, litoral desértico. Efeito na piscosidade do mar: Correntes frias são em geral mais piscosas (corrente do Peru). São águas mais ricas de elementos nutritivos (N, P, K, etc). e com abundancia de luz solar, haverá grande atividade fotossintética e maiores possibilidades de alimentação da fauna marinha. Correntes quentes são pouco piscosas. Suas águas quentes permanecem na superfície. Os elementos nutritivos são carregados para o fundo e não mais retornam a superfície. Correntes marítimas de maior importância nas Américas são (Figura): Figura 4.28. Correntes marítimas, no oceano Atlântico e Pacífico, próximo a América do Sul. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 39 2.8. Continentalidade e OceanidadeContinentalidade é o maior ou menor afastamento de uma área em relação ao litoral. Oceanidade: é o quão próximo ou no interior do oceano está o local considerado. * Efeito moderador do oceano: Massas de água (oceano, lagos, represas) têm efeito moderador térmico devido sua alta capacidade térmica. As amplitudes das temperaturas (diárias e anuais) são, portanto maiores no interior dos continen- tes, livres desse efeito moderador, e naturalmente menores quanto mais próximo dos oceanos. * Efeito de defasagem térmica da oceanidade: As grandes massas de água armazenam considerável quantidade de energia solar, resultando em um atraso ou defasagem no curso anual das temperaturas médias mensais em relação à energia solar recebida. * Efeitos da Circulação "Terra-Mar": Os efeitos das brisas de Terra e de Mar afetam bastante e diferentemente a oceanidade dos climas litorâneos. * Correntes quentes tornam o clima costeiro mais quente e úmido, como no litoral Paulista. * Correntes frias provocam clima costeiro mais frio e seco, como no litoral peruano e norte chileno (costa do Pacífico). 2.9. Orografia Orografia está relacionada à disposição dos acidentes naturais (montanhas). Apresenta com efeitos importantes: a) Aumento das precipitações: Na encosta batida pelo vento (barlavento) o ar sobe pela encosta sofrendo resfriamento, condensação, formação de nuvens e de precipitações. b) Sombra de chuva: é a redução das precipitações nas encostas das montanhas opôs- tas a incidência das correntes de ar (sotavento) em regiões cercadas de montanhas ou em grandes depressões do terreno. Ex: o interior do estado do Ceara; a depressão central do Vale do Rio Doce; a depressão do Vale do Paraíba, em SP. c) Efeito de Foehn: é o sufocante e desagradável aumento das temperaturas verificado nas proximidades das bases das serras, quando o vento quente e seco desce por suas encostas. Ex: vento noroeste, verificado no litoral Paulista. Figura 4.29. Efeito Foehn e Sombra de chuva. d) Canalização dos ventos: Cadeias de monta- nhas guiam a direção dos ventos podendo apare- cer diferentes efeitos, não só nas velocidades e direção dos ventos, mas também, na intensifica- ção ou redução das chuvas. Ex: Ventos predomi- nantes nas direções SW - NE no vale do Paraíba (SP), condicionado pelas direções gerais da Serra do Mar e da Mantiqueira. e) Redução das temperaturas médias e aumen- to geral das precipitações pluviais nas cadeias de montanhas. 3. FATORES TOPO-CLIMATICOS São os agentes modificadores do clima local. Dependem da exposição, da configura- ção topográfica e dos acidentes do terreno. Podem ser indicados e mapeados em escala topográfica, ao nível de propriedade ou de pequeno vale. Escalas de 1:100.000 ou 1:50.000 (IBGE ou Instituto Geográfico e Geofísico de SP). Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 40 Podem alterar e afetar drasticamente o clima regional ou macro-clima, condicionando um topo-clima particular, próprio do terreno. São duas as ordens de fatores topo- climáticos: a) diurnos; b) noturnos. 3.1. Fatores Topo-climáticos diurnos São efeitos da exposição cardinal da encosta ou face do terreno (N, S, L ou W). No hemisfério sul os efeitos da exposi- ção são: * Face Norte: mais insoladas, mais secas e mais quentes; * Face Sul: menos insoladas, mais úmidas e mais frias. (Inverno: batida pelo vento SE, anticiclônico, frio). * Face Leste (nascente): mais quente e seca pela manha. Batida também pelo vento SE, frio. * Face Oeste (poente): mais quentes e secas no período da tarde. Esses efeitos devem ser considerados nos planejamentos da agricultura e da pecuária. 3.2. Fatores Topo-climáticos Noturnos São condicionados pela configuração topográfica e pelos acidentes do terreno, como fator de represamento do ar frio noturno. Vários aspectos da topologia do local podem ser considerados: a) Configuração do terreno: plano, inclinado, côncavo, convexo; b) Extensão da bacia: pequena, grande, profunda, rasa, longa etc; c) Acidentes: renques, barragens, pastagens, lagos, gargantas, etc. (montante ou jusante). Esses aspectos influem na concentração e acumulação do ar frio no terreno e bacias fluviais. Drenagem e acumulação do ar frio As superfícies vegetadas perdem calor, por radiação ao espaço, em noites estreladas e se resfriam consideravelmente. As camadas de ar mais próximas ao solo também se resfriam pelo contacto com a superfície fria. O ar frio, mais denso e mais pesado se acama sobre a superfí- cie, onde formam uma camada fria concentrada. Se o terreno for plano essa camada fica cada vez mais intensa e espessa, provocando a inversão do "gradiente de resfriamento normal da atmosfera“ (INVERSÃO TÉRMICA). Figura 4.30. Inversão térmica superficial, noturna. Se o terreno for inclinado o ar frio, mais pesado, escorre pela encosta abaixo (brisa catabática) e vai se estagnar e acumular nas baixadas, ou seja, nas configurações côncavas ou "Talvegues" do terreno. Figura 4.31. Efeitos da convexidade e concavi- dade do terreno, na drenagem e acumulação do ar frio Obstáculo ao escoamento do ar frio: barreiras, renques, maciços arbóreos, e outros obstáculos ao escoamento, represam o ar frio sobre o terreno e agravam consideravelmente o resfriamento e seus efeitos. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 41 Figura 4.32. Efeito de barragem de árvores, ao escoamento do ar frio, em encostas de terreno. Os terrenos de baixada, ou de montante de barragens, para onde converge o ar frio das adjacências, tornam-se cada vez mais frios e mais úmidos, durante as noites estreladas e calmas. Ficam muito mais sujeitos às grandes quedas das temperaturas e as grandes geadas. Reduzindo-se a temperatura, aumenta a umidade atmosférica e as condições para a ocorrência de orvalho e neblina, e assim, a incidência de muitas moléstias e pragas. Ao contrario, nos terrenos de espigão convexos e encostas elevadas, bem drenadas, ha escoamento do ar frio e as temperaturas se mantém relativamente elevadas nas noites de alta radiação. Ficam assim, livres de geadas e da formação de neblinas matinais. 3.4. Contradição entre efeitos topo e macro- climáticos sobre a temperatura No aspecto topo-climático, as temperaturas se reduzem com a menor altura, são mais baixas nas depressões topográficas do terreno (à noite), do que nos terrenos elevados. Figura 4.33. Efeitos macro e topo-climáticos sobre as temperaturas do ar na superfície do solo. Ao contrario, no aspecto macro-climático, as temperaturas se reduzem com o aumento da altitude. Quanto mais alta a região, mais fria e1a se apresenta. A redução normal é de 0,65°C para cada 100 m de ascensão (gradiente de resfriamento normal). 4. FATORES MICROCLIMATICOS São os agentes modificadores locais do ambiente. Condicionados pelo revestimento ou cobertura do terreno. As formas básicas de revestimentos do terreno são: a) Solo nu, sem cobertura; b) Cobertura vegetal viva; c) Cobertura vegetal morta (mulch); d) Água livre. 4.1 Cobertura do terreno * Solo nu: absorve a Rs e conduz a energia (calor) para o interior do solo, durante o dia. Durante a noite, o calor armazenado é reconduzido para a superfície e impede a queda acentuada da temperatura. Tem assim, um efeito moderador térmico. As temperaturas caem pouco durante as noites de radiação e as geadas são bem menos severas em terrenos desnudos. * Vegetação arbórea (mata): parte ativa éa superfície da copa onde ocorrem as trocas térmicas. Como a copa é relativamente difusa e distante da superfície do solo, não há concentração de calor, durante o dia, nem de frio, durante a noite. No caso do ar frio noturno, sendo mais denso e pesado, ele tem a tendência de se acamar e se difundir por toda a massa vegetal da floresta. Assim, não ha dentro da floresta variações sensíveis da temperatura no curso do dia. Ela tem um grande efeito moderador em seu micro-clima. A mata não produz frio concentrado que possa resultar a conhecida brisa catabática. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 42 Figura 4.34. Efeito micro-climático da vegetação arbórea. Não produz frio concentrado * Cobertura baixa (gramado ou relva): a superfí- cie ativa fica concentrada. Por isso, o calor diurno e o frio noturno ficam muito mais intensos e concentrados. Intensifica os efeitos micro-climáti- cos. Fonte de ar frio noturno, muito eficiente. Agrava a incidência das geadas. * Cobertura vegetal densa: não permitindo a penetração da Rs, a superfície ativa fica reduzida e concentrada. As trocas térmicas se dão apenas na superfície das copas. O interior fica sombreado, e com pequena variação térmica no curso do dia. * Cobertura vegetal rarefeita: permite penetra- bilidade da Rs, incidindo em grande volume de folhagem, permite melhor aproveitamento da energia solar no processo de fotossíntese sem grandes aquecimentos durante o dia e nem resfriamentos concentrados durante a noite. * Cobertura vegetal morta "mulch": esta cober- tura tem efeito micro-climático semelhante ao da relva ou gramado, porém, bem mais intensificado. Como não transpira, provoca maior aquecimento, em dias ensolarados, que a relva. Durante a noite, a cobertura morta, acentua os resfriamentos, pelo fato de ser mal condutor térmico e impedir que o calor armazenado no solo venha à superfície do mulch para contrabalançar as perdas térmicas. * Superfície de água livre: massas de água têm um grande efeito moderador do micro-clima. Elas se aquecem pouco durante o dia e cedem fácil- mente calor para aquecer o ambiente durante a noite. Figura 4.35. Efeito da cobertura morta – mulch. 4.2 Arquitetura foliar Refere-se à disposição e à densidade da folha vegetal relacionada à eficiência fotossinté- tica, ao arejamento e à duração da presença de água livre nas folhas (orvalho). A temperatura das folhas não deve ultrapassar a 40ºC para não prejudicar a função fotossintética. A) Fatores que interferem nos efeitos micro- climáticos diurnos da arquitetura foliar. a) Folhas verticais, pendentes, claras, ralas, reduzem a absorção da Radiação solar e o superaquecimento. b) A penetrabilidade da Radiação solar na folhagem, ou seja, a baixa densidade foliar, uniformiza a absorção e reduz as áreas superaquecidas bem como as muito sombreadas no interior das copas. c) O afastamento, ou seja, o maior espaçamento das copas das plantas aumenta a incidência da luz difusa (da abobada celeste) que não superaquece a folhagem. B) Fatores que interferem nos efeitos noturnos. a) Baixa densidade foliar favorece a ventilação, a evaporação da água e o tempo de molhamento pelo orvalho (orvalhamento). b) A elevação da copa, evita a formação de área úmida entre a folhagem e o solo, que seria viveiro de esporos e fungos. Facilita a drenagem do ar frio, reduzindo efeito das geadas. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 43 VV -- EELLEEMMEENNTTOOSS EE FFEENNÔÔMMEENNOOSS ((PPRROOCCEESS-- SSOOSS)) MMEETTEEOORROOLLÓÓGGIICCOOSS 11.. GGEENNEERRAALLIIDDAADDEESS Elementos meteorológicos são os parâ- metros que definem e quantificam os meteoros, suas propriedades e características especiais, tais como: temperatura do ar, pressão de vapor, umidade relativa do ar, evapotranspiração potencial, velocidade do vento, etc. Estudaremos com maiores detalhes os seguintes elementos e fenômenos: radiação solar; temperatura do ar e do solo; pressão atmosférica; ventos; umidade do ar; evaporação e evapotrans- piração; precipitação; granizo; e geadas. A importância do conhecimento e uso dos elementos e fenômenos meteorológicos está em: a) Quantificar os fenômenos: em meteorologia não nos interessa uma análise do fenômeno somente do ponto de vista qualitativo. A meteorologia baseia-se em observações passadas e através destas quantifica os fenômenos. b) Tratamento estatístico: de posse dos dados obtidos por instrumentos procede-se à aná- lise estatística (médias, variações e frequên- cias), verificando-se de fato os valores observa- dos. Só assim então se pode avaliar os fenôme- nos meteorológicos. c) Uso na solução de problemas e projetos: de posse dos dados analisados pode-se fazer uso dos valores encontrados, nos mais diversos campos de aplicação. Como na: previsão do tempo; contabilidade do balanço hídrico de determinada região; previsão de chuvas máximas para o dimensionamento de obras hidráulicas; implementação de praticas conservacionistas; recomendação de épocas de semeaduras de culturas ou cultivares; épocas de aplicação de defensivos e fertilizantes; zoneamento agro- climático, etc. 2. METODOLOGIA DA OBSERVAÇÃO a) Normas e Horários: as observações meteoro- lógicas seguem determinadas normas e horários. Na rede do INMET as leituras são feitas em três horários: 9, 15 e 21 horas para observações oficiais para previsão do tempo e caracterização climática das regiões. Ex. Temperatura máxima, mínima e a evaporação são observadas às 9:00 h; Temperatura do ar à sombra às 9:00, 15:00 e 21:00 h ; Insolação ou horas de iluminação e a radiação global às 21 h. b) Leitura em Instrumentos: feita diretamente no instrumento (terminação: ”metro”). Ex: Tempera- tura do ar: Termômetros; Precipitação total: Pluviômetros, Umidade Relativa: Higrômetros. c) Registro Contínuo: alguns aparelhos ("grafo") possuem um dispositivo que registra continua- mente a variável em um gráfico que é trocado em horários pré-estabelecidos (9 ou 21 h). d) Observação Visual: feita a olho nu, sem o auxílio de aparelhos. Ex. Nebulosidade ou cober- tura do céu, Descargas elétricas, Granizo, Nuvens, etc. e) Observações de Satélites Meteorológicos: atualmente utiliza-se de satélites para previsão do tempo, previsão de safras, plantações clandes- tinas, previsão de possíveis ataques de pragas, etc, e mais recentemente para a aquisição e trans- ferência de dados meteorológicos, principalmente de lugares bastante restritos. f) Estações Meteorológicas automáticas: atualmente estão sendo difundidas as estações de monitoramento automático com sensores mecânico-eletrônicos que armazenam ou transmitem em tempo real os valores medidos das variáveis meteorológicas, as quais necessitam de processamento em computador. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 44 3. RADIAÇÃO 3.1. Generalidades O Sol é a principal fonte de energia para os processos naturais no sistema Terra-atmos- fera (Radiação solar). As variabilidades espaciais e temporais (transformações) da energia solar induzirão fenômenos diversificados na resposta do sistema Terra-atmosfera. A produção de energia solar pelo sol é constante, mas a quantidade que alcança a superfície da terra, em um determinado local qualquer não é constante. No estudo mais detalhado da energia solar devemos ter em mente algumas definições que estão relacionadas com a interação da energia radiante (radiação) com a matéria. Os corpos podem emitir, absorver, ou transmitirenergia radiante. Corpo Negro: é aquele corpo que absorve totalmente e igualmente as radiações de todos os comprimentos de onda e emite energia. A energia total emitida depende da temperatura do corpo. Lei de Stefan-Boltzmann: todos os corpos emitem uma radiação cuja intensidade total é proporcional à quarta potência da temperatura absoluta (t o K). O Sol pode ser considerado um corpo negro à elevada temperatura (5760oK), emitindo para o espaço sideral grande quantidade de energia. Constante Solar: é a quantidade de energia solar (Radiação solar) que incide sobre uma superfície plana com área unitária (1 cm2), perpendicular aos raios solares e situadas, fora da atmosfera, a uma distância do Sol igual à distância média Terra-Sol. A quantidade de radiação solar que incide numa superfície é normalmente expressa em cal/cm2/min. “Caloria é a energia necessária para elevar de 14,5 a 15,5ºC a temperatura de 1 grama de água”. Cada centímetro quadrado do Sol emite segundo a Lei de Stefan-Boltzmann: 4Ts.E σ= onde, E é a energia emitida pelo Sol (cal/cm2/min); σ é a constante de Stefan – Boltzmann (0,827.10-10 cal/cm2/min/k4); Ts é a temperatura do sol (5760º K ou 5500º C). A emissão total do Sol (Et) As.Ts.Et 4σ= onde, As é a área da "superfície" esférica do sol, 2r..4As pi= onde, r é o raio do sol (6,96.105 km = 696.000.000 m) Figura 5.1. Esquema para dedução da constante solar Sendo "d" a distância média da Terra ao Sol, o fluxo de energia por unidade de área (iluminamento) ao nível externo da atmosfera da terra será: 2d..4 EtIo pi = como As.Ts.Et 4σ= 2 24 d..4 r..4.Ts.Io pi piσ = 2 24 d r.Ts.Io σ= onde, Io é a Constante solar (energia recebida por uma superfície perpendicular aos raios solares); d é a distância média da terra ao sol (1,495.108 km); Periélio (d=1,461.108km) e Afélio (d=1,512.108km). Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 45 Substituindo os valores de r, d, e Ts (r=6,96.105km; d=1,495.108km; σ=0,827.10-10 cal/cm2/min/T4 ; Ts = 5.760ºK) temos: 28 254-10 )(1,495.10 ).(6,96.10.57600,827.10Io = Io = 1,973 cal/cm2/min � 2,0 cal/cm2/min (∆ = 2%) Esta seria a quantidade de energia que chegaria à superfície da Terra em superfície horizontal se não houvesse atmosfera, porém, a quantidade de radiação que atinge a superfície é menor devido as seguintes causas: a) variação do ângulo de incidência (horas do dia e época do ano); b) variação do comprimento do dia (latitude e estações do ano); c) variação da distância do Sol (2% do afélio ao periélio). 3.2. Medição da Radiação Solar O balanço de radiação e seus componen- tes apresentam múltiplas aplicações, e podem ser medidos com instrumentos específicos. Nas Estações Meteorológicas do BR, utili- za-se o Actnógrafo (Radiação Global) e o Helió- grafo (insolação). Outros aparelhos relacionados à medição da radiação solar são: Piranômetros, Piranógrafos, Pireliômetros, e radiômetros. 1. HELIÓGRAFO (Pireliógrafo) Para medir o número de horas de inso- lação, ou seja, o número de horas durante o dia, nas quais os raios solares atingem diretamente a superfície da Terra, em um dado local, ou ainda, o intervalo de brilho direto do Sol em horas. Compõe-se de uma perfeita esfera de cristal suspensa em um sólido suporte semicircular, tendo em baixo uma armação metálica em forma de concha, em cuja face interna existem vãos formados por seis ranhuras, independentes e concêntricas com a esfera, nas quais são colocadas tiras de papelão para o registro da insolação. Figura 5.2 Heliógrafos tipo Campbel-stokes Os raios solares são focaliza-dos através do cristal numa tira de papelão colocada, conforme a época do ano, em um dos vãos da concha, queimando progressivamente o papelão (desde que não haja nuvens para interceptar os raios solares). A posição do eixo da esfera deve ficar paralelo ao eixo da Terra, podendo ser alterada, adaptando-se a qualquer latitude (0 a 70º latitude S ou N) na escala graduada do suporte. As tiras de papelão para o registro possuem três tipos distintos: * Tiras Curvas Compridas: utilizadas entre meados de outubro (16/10) até o fim de fevereiro. * Tiras Curvas Curtas: utilizadas entre os meados de abril (15/04) até o fim de agosto. * Tiras Retas: usadas de março até os meados de abril e de setembro até meados de outubro. Todas são divididas em horas, meia-horas e minutos (2') e tem gravados em intervalos de 3 h caracteres romanos (VI, IX, XII, III, VI h) ou arábicos (6, 9, 12, 3, 6 h) respectivamente. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 46 Figura 5.3. Tiras do heliógrafo d) Instalação: dentro da área instrumental da estação, em posição livre nos limites do nascer e por do Sol (livre de interferências - sombras). É instalado sobre um pilar de sustentação (metálico ou alvenaria), com sua base superior nivelada e lisa, sendo suas faces laterais orientadas corretamente para a direção norte-sul, leste-oeste. O aparelho é colocado sobre a base do pilar nivelado, com as ranhuras curtas para cima, e com o pólo superior voltado para o Sul. Figura 5.4. Pilar de sustentação do Heliógrafo Para o correto funcionamento deve-se proceder aos seguintes ajustes. * Ajustamento de nível: o nivelamento deve ser feito na direção leste-oeste com o nível de bolha (norte-sul, ajustamento da latitude). * Ajustamento de concentricidade: a esfera de cristal deve ocupar a posição central, sendo que a superfície da esfera deve estar em posição concêntrica com a concha. * Ajustamento de meridiano: são ajustados os pólos do aparelho para a direção Norte-Sul (ajus- tagem da hora solar com as horas do relógio). * Ajustamento de latitude: o eixo da esfera deve ficar paralelo ao eixo da Terra, e assim regula-se a latitude com a do local. Seu manejo consiste na troca das tiras que é feita às 21 horas de cada dia. Registra o número de horas de insolação ou simplesmente insolação, que é determinada a partir das fitas queimadas. A partir da insolação pode-se determinar outras grandezas importantes em cálculos de balanço de energia, como por exemplo à razão de insolação (w). RAZÃO DE INSOLAÇÃO (w) é o quociente entre o número real de horas de insolação (n) e o número máximo possível de horas de insolação (N) do referido dia. N nW = onde, N é o número máximo possível de horas de insolação (duração do dia), varia com a época do ano e latitude do local (h) (calculado ou tabelado); n é o número real observado de horas de insolação (h). O comprimento do dia (Fotoperíodo), ou o número máximo de horas de brilho solar desde o nascer ao por do Sol (N), é calculado em função das relações entre a latitude (φ), declinação solar (δ) e o ângulo horário do Sol (h), como segue: Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 47 cosh.cos.cossen.senZcos δφ+δφ= Ao nascer e por do sol, o ângulo zenital é igual a 90º (z = 90º), então cos Z = 0, então: cosh.cos.cossen.sen0 δφ+δφ= Isolando o cosh, tem-se: δφ δφ = cos.cos sen.sen cosh Assim temos: )tg.tgarccos(h δφ−= Como durante o dia o Sol descreve dois semi-arcos idênticos, e sendo a velocidade angular da Terra igual a 15º/hora, resulta a seguinte relação: 15 h.2N = , ou h.1333,0N = e substituindo h pela sua expressão, tem-se: )tg.tgarccos(.1333,0N δφ−= em que, ] nda )j284( .360[sen.45,23 +=δ onde, N é o número máximopossível de horas de insolação (h), j é o dia Juliano e nda é o número de dias do ano. Exemplo: Estimar a declinação solar (δ) e a duração do dia 15 de setembro para a Lages. Solução: Latitude (φ) de Lages = 27º 49´ e 15/09 corresponde ao dia Juliano = 258 (31+28+31+30+31+30+31+31+15 = 258) Assim temos, que a declinação será: ] 365 )258284( .360[sen.45,23 +=δ = 2,2169º δ = 2º 13’ 01” A duração deste dia para Lages será: )2169,2tg).81667,27(tgarccos(.1333,0N −−= N = 11,84 horas = 11 hs 50 min e 28 seg Resposta: No dia 15 de setembro em Lages a declinação solar será de 2º 13’ 01” (2,2169º) e a duração do dia 11 hs 50 min e 28 seg (11,84 hs). 2. ACTINÓGRAFO Sua finalidade é medir a quantidade de energia que atinge a superfície da Terra na unidade de tempo (cal/cm2/min), ou seja a energia global ou Radiação Solar Global (Rg). Constitui-se de um elemento sensível à radiação solar (junções termoelétricas, anéis ou placas bi-metálicas), protegido por uma cúpula de vidro, que aciona um sistema de alavancas, que por sua vez determina o registro da energia sobre uma faixa de papel colocada sobre um tambor, acionado por um mecanismo de relógio. Figura 5.5. Actnógrafo A radiação solar é recebida em três placas bi-metálicas, sendo uma enegrecida e duas brancas. A diferença de dilatação das placas (ou de potencial) é proporcional a absorção diferencial da radiação incidente. Há um hemisfério de quartzo que funciona como um filtro, compor- tando-se transparente às radiações de ondas curtas, e opaco às radiações de ondas longas. Desta forma, a dilatação diferencial das placas do Actinógrafo é a medida da Radiação Solar Global. A dilatação é amplificada por sistemas de alavancas sendo posteriormente Registrada sobre o tambor, calibrado em cal/cm2/min. É instalado da mesma forma que o Heliógrafo, sobre um pilar, em nível, em posição tal que nenhum objeto possa fazer-lhe sombra. Os ajustamentos (nivelamentos) são semelhantes ao do Heliógrafo para que ocorra o correto registro da radiação. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 48 Figura 5.6. Instalação do actnógrafo. Os registros são feitos em um gráfico. A partir deste, podemos obter a energia em qualquer instante do dia (cal/cm2/min), e o número de horas de insolação do dia. Em dias completamente limpos o gráfico assemelha-se a uma parábola. Figura 5.7. Gráfico do Actnógrafo com o registro da Radiação global (abaixo da curva). Para calcular o total de energia que atinge a unidade de área (cm2), deve-se determinar a energia média (ordenada média em cal/cm2/min) e multiplica-la pelo intervalo de tempo (t em min) que houve a insolação, ou então para obter a energia total do dia, determina-se a área da parábola por integração (através da regra de SIMPSON, soma de trapézios). A energia registrada pelo Actinógrafo (Rad. Global em cal/cm2/min) pode ser expressa em lâmina de água evaporada: mmH2O/hora ou mmH2O/dia. Divide-se pelo calor latente de vaporiza- ção. Vaporização é a mudança de estado da água da fase líquida para a fase gasosa (vapor). Esta troca de fase necessita de energia: 1 grama de H2O líquida a 20º C requer 585 calorias de energia (conhecido como calor latente de vaporização). ou seja: 585 cal 1gH2O = 1 cm3 = 1 ml Por exemplo: Converter uma energia de 496 cal/cm2/dia em mm H2O /hora e dia. x mm H2O /h =cal.cm-2.h-1/58,5 R mmH2O /h = 496/24/58,5= 0,353 mm/h x 24 = 8,5 mm/dia Regra prática: cal/cm2/dia dividido por 58,5 cal resulta em mm H2O /dia. 3. RADIÔMETRO LÍQUIDO (NET RADIOMETER) Para medir a Radiação Líquida acima do solo, mediante uma soma algébrica dos balanços da radiação de ondas curtas e ondas longas acima desta superfície (fluxos verticais na direção da superfície são positivos e os fluxos verticais na direção do espaço negativos). R = Rc – Rl onde, R é a radiação líquida; Rc é a radiação de ondas curtas; Rl é a radiação de ondas longas. Consta de um conjunto de junções termoelétricas montadas na face dorsal e ventral de uma placa, protegida por cápsulas de polietile- no, as quais permitem a transposição de todos os comprimentos de onda, do espectro solar, ou da emissão da superfície. As faces sendo sensíveis à onda longa e curta dão resposta proporcional à diferença dos fluxos líquidos que sobre elas incidem. Apresenta também um sistema de registro. Outro tipo de Radiômetro Líquido fornece as energias, distintamente, em cada face. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 49 Figura 5.8. Saldo radiômetro ou radiômetro líquido. Na instalação devem ser seguidos os mesmos critérios que o Heliógrafo e o Actinógrafo. São usados em parcelas experimentais. Permite o registro dos valores de Radia- ção Líquida através de um sistema de registro ou leitura direta. Ultimamente acentuou-se a fabrica- ção desses aparelhos em escala comercial face sua grande importância em estudo de Balanço de energia, Balanço hídrico e Assimilação fotossinté- tica. 4. Outros instrumentos ligados à medição da Radiação solar e seus componentes São equipamentos mais usados ao nível de pesquisa, assim não entraremos em muitos detalhes. Figura 5.9. Medidores da radiação solar e albedo. 3.3. CÁLCULOS E ESTIMATIVAS DA RAD. SOLAR a) Radiação Solar Global (Rg): é a quantidade de energia solar que atinge uma superfície horizontal na superfície da Terra. Na ausência de instrumentos de medida da radiação (Actnógrafo e o Radiômetro) pode-se obter os valores da Radiação mediante de estima- tivas (equações) a partir de razão de insolação, com os dados do Heliógrafo. "Existe uma relação entre a energia solar que atinge a superfície da Terra (Rg) e a insolação (n)". Assim tem-se a seguinte relação: � � � � � � += N n .ba Rs Rg (y = a + b.x relação linear) onde Rg é a energia que atinge uma superfície horizontal na superfície da terra (Radiação Global) em cal/cm2/dia; Rs é a energia que atingiria uma superfície horizontal no topo da atmosfera, em cal/cm2/dia (tabela ou equação); n é a insolação diária (em horas); N é a insolação máxima possi- vel, ou horas disponível de insolação desde o nas- cer até o por do Sol (em horas) tabela ou equação; "a" e "b" são parâmetros a determinar para cada localidade (constantes de Angstron): a = 0,29.cosφ e b = 0,52 (variam de local para local); n/N é a razão de insolação (igual a 1 em dias limpos e 0 em dias completamente encoberto) A Radiação Solar (Rs) pode ser estimada a partir da Declinação do Sol (δ) e latitude do local (φ), além de outros parâmetros, sendo uma grandeza variável, ou obtida em tabelas. Como a declinação varia diariamente, existe um valor diferente de radiação para cada dia, e para cada latitude. Pode ser estimada integrando a equação abaixo: cosh).cos.cossen.sen.( R Io dt dRs 2 δφ+δφ= �� δφ+δφ= dtcosh).cos.cossen.sen.(R IodRs 2 )Wscos.cos.cossen.sen.Ws.(Eo.S.kRs δφ+δφ= Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 50 onde, Rs é a radiação solar no topo da atmosfera (cal/cm2/dia); S é a constante solar (S = 1367 W/m2); Eo fator de correção da excentricidade da órbita terrestre (-); Ws é a duração do dia solar (rad); δ é a declinação solar (rad); φ é a latitude do local (rad). Exemplo: Estime a radiação global (Rg) para Lages no dia 15 de março sabendo que a insolação foi de 10 horas. Solução: Na tabela 5.2 (anexos) obtemos para a latitude de Lages e o mês de março um valor de radiação solarRs = 839 cal/cm2/dia. O coeficiente a de Angstron é obtido em função da latitude do local, a = 0,29.cosφ = 0,29.cos (-27,81667º) a = 0,2565 A declinação solar será: ] 365 )74284( .360[sen.45,23 +=δ = -2,8189º δ = -2º 49’ 08” A duração deste dia para Lages será: ))8189,2(tg)81667,27(tgarccos(1333,0N −−−= N = 12,195 horas = 12 hs 11 min e 44 seg A radiação global (Rg) pode ser estimada então, a partir da relação linear, tal como: � � � � � � += N n .ba Rs Rg e isolando Rg, temos, � � � � � � += N n .ba.RsRg � � � � � � += 195,12 10 .52,02565,0.839Rg Rg = 572,96 cal/cm2/dia Obtenção dos coeficientes de ANGSTRON Os parâmetros "a e b" são determinados, para qualquer local, estabelecendo uma relação entre os dados experimentais obtidos a partir de um Actinógrafo e Heliógrafo. Através de regressão linear entre a razão de radiação (Rg/Rs) e a razão de insolação (n/N), temos: Figura 5.10. Relação de Angstron: Insolação x ra- diação. N nf= Rs Rg f = função linear y = a + b.x (equação de reta) ou N nb. + a= Rs Rg )( N n .ba.RsRg += onde, y é a variável dependente (Razão de radia- ção); x é a variável independente (Razão de inso- lação); a e b são parâmetros da equação de reta, sendo "a" constante ou ordenada onde a reta corta o eixo y e b a inclinação ou declividade da reta. Tendo-se "n" pares de valores de Rg/Rs e n/N podemos facilmente determinar os parâmetros da equação de reta pelo processo dos mínimos quadrados (regressão linear): A Radiação global diária pode ser estimada ainda pela nebulosidade diária, mediante a equação de BLACK: )C.458,0C.34,0803,0.(RsRg 2−−= onde,Rs é a radiação solar e C é a nebulosidade média diária (em décimos, exemplo: C = 0,5) Exemplo: No dia 10 de abril a nebulosidade observada foi de 5 décimos de céu encoberto, estime a radiação global (Rg). Solução: Na tabela 5.2 (anexos) obtemos para a latitude de Lages no mês de abril um valor de radiação solar Rs = 682 cal/cm2/dia. A radiação global (Rg) estimada pela equação de Black será: )C.458,0C.34,0803,0.(RsRg 2−−= )5,0.458,05,0.34,0803,0.(682Rg 2−−= Rg = 353,617 cal/cm2/dia Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 51 b) Estimativa da Radiação Líquida (R): é a radiação que resulta no sistema depois que todas as trocas radioativas se efetuarem. Pode ser estimada coma equação de BRUNT: R = Rc - Rl como, Rc = Rg.(1 - r) e Rg = Rs (a + b. n/N) então, Rc = Rs.(a + b.n/N).(1 - r) e Rl = sTa4 (0,56 - 0,09.ea1/2).(0,1 + 0,9 n/N) sendo R = Rc - Rl resulta em R=Rs(a+b.n/N)(1-r)-σTa4 (0,56 - 0,09.ea1/2)(0,1+0,9n/N) onde, R é a radiação líquida (cal/cm2/dia); Rc é a radiação de ondas curtas (cal/cm2/dia); Rl é a ra- diação de ondas longas (cal/cm2/dia); Rg é a ra- diação global (cal/cm2/dia); r é o albedo (-), tabela em f(características da superfície); Rs é a radiação solar no topo da atmosfera (cal/cm2/dia); a e b são os constantes de Angstron para o local; n é a ilu- minação real (h); N é a insolação máxima possí- vel (h); σTa4 é a radiação teórica do corpo negro à temperatura média (Ta) do ar (cal/cm2/dia); ea é a tensão atual do vapor d'água (mmHg); (ea=UR.es/100) es é a tensão de saturação do vapor d'água na temperatura do ar (mmHg), (tabe- las ou equações, função da temperatura); UR é a umidade relativa do ar. A Radiação Líquida disponível durante o dia apresenta um saldo positivo. Admitindo que Rc = + (radiação solar que chega no sistema) e que Rl = - (emissão do sistema), temos: Dia: Rc > Rl R = Rc - Rl R > 0 (saldo positivo) A Radiação Líquida disponível durante à noite apresenta um saldo negativo. Admitindo que Rc = 0 (a noite não tem raios do Sol) e que Rl = - (emissão do sistema), temos: Noite: R < 0 (saldo negativo), porém é relativamente pequeno. Em noites de céu limpo, sem vento e baixa umidade o saldo negativo pode ser significativo. Exemplos: 1) Estimar a Rg para Lages a partir das seguintes informações: Dia 08/09 Rad. Solar (Rs) = 850 cal/cm2/dia e Nebulosidade (C) = 6 (0,6) Solução: Rg = Rs.(0,803 – 0,34.C – 0,458.C2) Rg = 850.(0,803 – 0,34.0,6 – 0,458.0,62) Rg = 369, 002 cal/cm2/dia Rg = 369 cal/cm2/dia 2) Estimar a Rg para Lages a partir das seguintes informações: Dia 10/01/2002; Rs = 850 cal/cm2/dia; Coef. Angstron: a = 0,29.cosφ ; b = 0,52 e n = 8. Solução: N = 0,1333.arc cos (-tgφ.tgδ) δ=23,45.sen[(284+j)360/nda] Rg = Rs (a + b. n/N) δ =23,45.sen[(284+10)360/365]= -22,0396º N=0,1333arccos(-tg(-27,8167)tg(22,0396)) N = 13,64 h Rg=850 (0,29.cos(-27,8167)+0,52.8/13,64) Rg = 477,25 cal/cm2/dia Rg = 477 cal/cm2/dia 3) Estimar a Radiação Liquida para Lages a partir das seguintes informações: dia 10/01/2002; Rg = 477 cal/cm2/dia; Albedo = 25% σTa4 = 880 cal/cm2/dia e ea = 17 mmHg Solução: R=Rs.(a+b.n/N).(1-r)-σTa4 (0,56-0,09.ea1/2).(0,1+0,9.n/N) R=477(1-0,25)–880(0,56-0,09.170,5)(0,1+0,9. 8/13,64) R = 253,37 cal/cm2/dia R = 253 cal/cm2/dia Exercício: 1) Obter a declinação solar, a duração do dia e a radiação global para Lages durante os solstícios e equinócios. Considere que a insolação foi de 8 horas em todas as situações. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 52 2) Calcule a Declinação Solar (δ) para o 15º dia de cada mês do ano e para as datas de início das estações (21/03; 21/06; 23/09; 22/12) e represente graficamente em um sistema cartesiano; y para as declinações e x para os dias julianos. Ex: 15º dia de janeiro: dia juliano 15; 15º dia de fevereiro : dia juliano = 46; ... 3) Calcule os ângulos zenitais para a cidade de Lages (φ�= -27º 49'), nas datas de início de cada estação, (21/03; 21/06; 23/09; 22/12); às 12 hs de cada dia. 4) Estime o fotoperíodo máximo (N) para o 15º dia de cada mês, para a cidade de Lages, e represente no plano X,Y. 5) Calcule a razão de insolação para o 15º dia de cada mês, sendo que as leituras de heliógrafo apresentaram os seguintes valores: janeiro=11 hs; fevereiro= 9,5 hs; março= 8 hs; abril = 9 hs; maio = 8 hs; junho = 5 hs; julho=7 hs; agosto= 6 hs; setembro=7hs; outubro=7hs; novembro=8 hs; dezembro=10 hs. OBS: use os valores de N calculado na questão 4. 6) Determine a Radiação Global, em cal/cm2/min e mmH2O/dia, para Lages. A insolação do dia foi de 9,0 horas. A radiação no topo da atmosfera é de 970 cal/cm2/dia. A latitude é -27º 49'. A declinação para o dia é - 17º. 7) Calcule a radiação líquida para uma radiação global de 600 cal/cm2/dia. Albedo é 24% e a radiação de emissão de onda longa da terra é obtida a partir das seguintes informações: Insolação no dia foi de 7 horas e a insolação máxima igual a 13 horas. A temperatura média do dia foi de 21º C, umidade relativa 81%, tensão de vapor de saturação 18,61mmHg, emissão do corpo negro 881 cal/cm2/dia (σ.Ta4) 8) Calcule a radiação líquida para uma radiação no topo da atmosfera igual a 970 cal/cm2/dia. Albedo é 24% e a radiação de emissão de onda longa da terra é dado a partir das seguintes informações: A insolação no dia foi de 7 horas e a insolação máxima igual a 13 horas. A temperatura média do dia é de 21º C, umidade relativa 81%, tensão de vapor de saturação 18,61 mmHg, emissão do corpo negro 881 cal/cm2/dia (σ.Ta4) 9) Estime a Radiação Global através da equação de BLACK em função da nebulosidade: a) C = 9 (0,9); b) C = 5 (0,5); c) C = 1 (0,1); d) C= 0 Rs = 450 cal/cm2/dia 10) Transformar a energia registrada em um acti- nógrafo (Rg =584 cal/cm2/dia) em lâmina de água evaporada (mm/h e mm/dia). 11) Estime a Radiação Global (Rg em cal/cm2/dia e mmH2O/dia) a partir da radiação solar no topo da atmosfera e as constantes de ANGSTRON, segundo Mc CULLOSH & GLOVER. A insolação no dia 18/02/1986 no Posto Meteorológico foi igual a 9,5 hs. A latitude do Posto é de -27º 49'. Consulte Tabelas em ANEXOS ou em livros. 12) Calcule a radiação líquida através do balanço da energia para Lages; dia 18/02/86, em cal/cm2/dia e mmH2O/dia, conforme dados do Posto Meteorológico da EPAGRI. O cálculo deverá ser efetuado da seguinte forma: a) Cálculo da radiação líquida utilizando a radiação global real observado (481,24 cal/cm2). b) Estimativa da Radiação líquida utilizando a radiação global estimada na questão anterior (questão 11). Dados do Posto Meteorológico: Emissão do corpo negro = 881 cal/cm2/dia; Temperatura média diária: T = 20,9º C; Albedo = 24 %; Umidade relativa do ar média diária: UR = 60,33%; Insolação: 9,5 horas; Precipitação: 0 mm; Pressão atmosférica local: 904,6 mb; Velocidade do vento: 1,4 m/s; Altitude do Posto: 936,38 m acima do nível do mar; Latitude do Posto: 27º 49'; Longitude do Posto: 51º20' 13) Estimar a Radiação Global (Rg) a partir das seguintes informações: Data: 10/01/2002; Insolação n = 8 horas; Radiação solar Rs = 850 cal/cm2/dia; Coeficientes de Angstron: a=0,29cosφ e b = 0,52. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 53 4. TEMPERATURA DO AR 4.1. INTRODUÇÃO A temperatura do ar é um dos efeitos mais importantes da Radiação Solar. O aquecimento da atmosfera próximo à superfície terrestre ocorre por transferência (transporte) de calor, a partir do aquecimento da superfície terrestre. A principal fonte de calor para a baixa atmosfera é a camada superficial do solo, devido ao efeito estufa. A atmosfera é praticamente transparente à Radiação solar de ondas curtas, mas devido principalmente a presença de CO2 e vapor d'água a atmosfera absorve fortemente as radiações de ondas longas que são emitidas pela superfície da terra, aquecendo o ar (Efeito Estufa). Da radiação líquida disponível na superfície do solo, uma parcela sofre processo de transferência de energia em direção à atmosfera, utilizando-se das moléculas que constituem o ar atmosférico, aquecendo-o de baixo para cima. Além disso, outros processos contribuem para o aquecimento da atmosfera: * Condução: transferência entre molécu- las vizinhas; * Convecção: movimento vertical das massas de ar; * Radiação: absorção das ondas longas, principalmente pelo CO2 e vapor d'água...). Além desses, a Transição de fase da água (calor latente de condensação e evapora- ção). A significância de um em relação a outro depende do estado da atmosfera (Tempo). Os diferentes fluxos de calor por estes processos irão contribuir para a variação da temperatura: Figura 5.11. Fluxos de energia numa camada de atmosfera: H é a convecção; LE é o calor latente de vaporização; R é a radiação e C a condução. As diferenças de densidade dos fluxos de calor que entram e saem da camada considerada são responsável pela variação de temperatura na mesma. Normalmente a temperatura diminui com a altura, dando origem ao gradiente térmico vertical (variação da temperatura por unidade de altura - o C/km). Chama-se gradiente negativo ou inversão térmica, quando a temperatura aumenta com a altitude. No capítulo anterior vimos que a inversão térmica pode ocorrer segundo 5 causas que são: a) Inversão superficial; b) Inversão superficial em baixada; c) Inversão por advecção de ar quente; d) Inversão frontal; e) In- versão superior. Também ocorre quando uma camada muito rica em moléculas de CO2, vapor d'água ou moléculas poluentes, absorve fortemente as radiações emitidas, aquecendo-se mais que as camadas inferiores. Figura 5.12. Variação da temperatura com a altura na atmosfera: a) gradiente térmico vertical positivo b) Inversão térmica superficial. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 54 4.2. AQUECIMENTO DA ATMOSFERA PRÓXIMO À SUPERFÍCIE DA TERRA – EFEITO ESTUFA A energia solar (ondas curtas - Oc) ao penetrar na atmosfera é parcialmente absorvida, desviada e refletida por constituintes do ar (Ozônio, CO2, vapor d'água, CFCs, metano, etc), sofrendo uma atenuação. Da energia solar que chega à superfície terrestre parte é absorvida pela superfície provo- cando seu aquecimento. A superfície aquecida passa a irradiar calor (ondas longas -Ol), uma grande parte do qual é absorvida por nuvens, gazes e por partículas em suspensão, o resto se perde para o espaço (±10%). Uma parte do calor absorvido pela atmos- fera é devolvido à superfície, fenômeno que é chamado Efeito Estufa, que aumenta com a poluição atmosfera e tende a tornar a Terra mais aquecida. O efeito estufa é a propriedade que a atmosfera terrestre tem de permitir que a maior parte da radiação solar chegue à superfície e impedir que a radiação térmica (Ol), emitida por esta, escape totalmente para o espaço exterior. Sem o efeito estufa a temperatura média da superfície terrestre seria de -18o C, porém esta temperatura gira em torno de 15ºC, sendo assim o efeito estufa é responsável por um aumento de temperatura de 33º C. Figura 5.13. Esquema simplificado do Efeito Estufa A hipótese da intensificação do efeito estufa baseia-se no fato de que aumentando as concentrações dos gases absorvedores de radiação térmica, mais calor fica aprisionado no sistema Terra-atmosfera e a temperatura do planeta aumenta. Observações indicam que a concentração de gás carbônico [CO2] passou de 280 ppm na metade do século passado, para os 350 ppm atualmente, correspondendo a um aumento de 25% em 150 anos, sendo que 50% desta variação ocorreu apenas nos últimos 30 anos. Estima-se que a [CO2] dobre por volta da metade deste século (2050). Existem várias pesquisas correlacionando [CO2] na atmosfera e aumento da temperatura do ar, e com o uso de modelos matemáticos de previsão do clima (Modelos Globais do Clima, que prevêem um aumento na temperatura média da superfície da Terra em torno de 1,5 a 5ºC com a duplicação da [CO2]) e modelos de previsão de produção de culturas pode-se inferir sobre possíveis mudanças no comportamento das culturas economicamente exploradas. Mediante estas previsões podemos esperar: * Alterações no regime hídrico, com secas mais longas e chuvas em menor freqüência, porém, mais fortes; Aumentando a necessidade de Irrigação (seca) e Drenagem (chuvas). Encurtamento da duração do ciclo dos cultivos devido a maior temperatura e disponibili- dade de CO2; Intensificação do metabolismo das plantas, aumentando a fotossíntese devido a maior disponibilidade de CO2 e temperaturas mais altas, tendendo a uma maior produção vegetativa; O cultivo de Culturas hibernais (de inverno) tenderá a ser deslocado para maiores latitudes (lugares mais frios) devido sua grande necessidade por horas de frio. As conseqüentes alterações no clima tenderão a modificar a distribuição da vegeta- ção na superfície da Terra. Derretimento das geleiras dos pólos, com conseqüente aumento do nível dos mares e inundações nas áreas litorâneas dos continentes e dos paises baixos (altitudes negativas). Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 55 4.3. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS TEMPERATURAS A distribuição das temperaturas na superfície terrestre está diretamente condicionada ao balanço de energia na superfície, depen- dendo basicamentedos seguintes fatores: a) Latitude: a temperatura média anual decresce do equador aos pólos. Lei de Lambert: no equador os raios tendem a serem mais perpendiculares em relação à superfície (maior absorção e aquecimento) e nos pólos os raios são mais inclinados em relação à superfície (menor absorção e aquecimento). b) Continentes e Oceanos: o solo (menor capacidade térmica) aquece e esfria mais rapidamente que as superfícies de água (maior capacidade térmica) sob a ação das radiações diurnas e noturnas. Quanto mais para o interior dos continentes (continentalidade), maior será a amplitude térmica, e mais rápidas serão as variações de temperatura. c) Altitude: em maiores altitudes: temperaturas mais baixas. Por estarem mais expostas à circulação atmosférica (ventos) e pela menor absorção de radiação solar devido a inclinação da superfície. d) Vegetação: faz com que uma menor quantidade de radiação solar chegue ao solo (interceptação) e uma parte da radiação solar é absorvida pelas plantas (evapotranspiração e metabolismo) diminuindo a temperatura. e) Variação no Tempo: as variações de temperatura anuais seguem a intensidade da ra- diação solar e nebulosidade apresentando uma defasagem (máxima e mínima: 1 mês após solstícios nas regiões continentais e após 2 meses nas regiões marítimas); As variações de temperatura diárias de- pendem da posição do Sol (inclinação dos raios solares em relação à superfície: Lei de Lambert), a temperatura começa a subir pouco depois da aurora e alcança o máximo de 1 a 3 h depois que o Sol vem chegando a sua altura máxima nas regiões continentais. 4.4. TEMPERATURA DO AR E AS PLANTAS Os seres vivos sobrevivem e se desenvolvem normalmente apenas a certos limites de temperatura do ar. A temperatura do ar influi decisivamente na fisiologia e no desenvolvimento adequado das plantas. As várias fases do ciclo de vida vegetal correspondem a faixas térmicas ótimas. É importante um conhecimento mais detalhado, a fim de se obter resultados satisfatórios na agricultura. A) TEMPERATURAS CARDEAIS: São os valores máximo e mínimo de temperatura que definem a faixa de temperatura para o bom desenvolvimento das plantas (entre 0 e 40°C), fora deste o desenvolvimento da planta cessa. Entre estes limites, existe um ótimo de temperatura no qual o crescimento se dá com maior rapidez. Estes três valores (mínimo, máximo e ótimo) são conhecidos como temperaturas cardeais. Variam para diferentes culturas, cultivares e estádio de desenvolvimento da planta e tem influencia na distribuição vegetal na superfície da Terra. Para culturas típicas de estação fria (aveia, o trigo e cevada) temos: Mínimo: 0 a 5°C; Ótimo: 25 a 31°C; Máximo: 31 a 37°C. Para as culturas de verão (melão e sorgo) temos: Mínimo: 15 a 18°C; Ótimo: 31 a 37°C; Máximo: 44 a 50°C. A fotossíntese freqüentemente mostra uma faixa subótima, um ótimo, regularmente am- plo, e um decréscimo acima de 35°C de temperatura. A respiração tem sua faixa dobrada com um aumento de 10°C na temperatura. Acima de 45°C, ocorre um abrupto declínio na respiração. Obs: A temperatura mínima, abaixo da qual as plantas não se desenvolvem é chamada de Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 56 temperatura base (tb), sendo seu valor diferente para cada cultura e estádio de desenvolvimento. B. UNIDADES TÉRMICAS DE CRESCIMENTO - DESENVOLVIMENTO (UTC/UTD): O crescimen- to/desenvolvimento de uma planta é diferente de acordo com a quantidade de calor (energia) à qual ela é submetida durante toda a sua vida. Esta quantidade de calor pode ser quantificada pelas unidades térmicas de crescimento/desenvolvimen- to (UTC/UTD) expressas em graus-dia (GD). B.1. Graus-dia (GD): é a medida da diferença da temperatura média diária acima do mínimo de temperatura necessário para uma planta, ou seja, é a quantidade de calor ou energia usado para o crescimento (desenvolvimento) da planta. Varia para cada cultura, cultivar e estádio de desenvolvimento. GD = t – tb onde, t é a temperatura média diária e tb é a temperatura base. Ex. No milho, a temperatura base (temperatura mínima) de crescimento é de 10°C. Se a temperatura média diária é de 16°C, teremos 6 graus-dia acumulados. (GD = 16 – 10 = 6 ºC/dia) B.2. Soma térmica ou Constante Térmica (ST): é a quantidade de unidades de calor (graus-dia) acumuladas (somadas) desde os primeiros dias até a maturação da planta (ST = SGD). É aproximadamente constante para cada estação de crescimento e para cada cultura que cresce num mesmo local. A soma térmica (ST) poderá apresentar pequenas variações devido à população de plantas, fertilidade e tipo de solo e umidade do solo, porém para condições semelhantes tenderá a ser constante. Quando se estuda a duração de um cultivo no calendário (dias), observa-se que não é constante, variando segundo as regiões e local, de acordo com anos e a época de semeadura, porém observou-se que a soma de unidades para o crescimento/desenvolvimento (constante térmica) tinha uma variação pequena e desprezível, ou seja seu valor era praticamente constante. Ex. Trigo: em algumas regiões, o período entre a germinação e maturação foi de 142 dias, e em outras; 155 dias; e sua constante térmica em ambas as condições foi de ± 2000º C. Em média a soma térmica, desde a germinação até a maturação, para a cevada é de 1700°C aproximadamente, trigo 2000°C e milho 1500°C (aproximadamente). A estas somas fixas para cada cultura deu-se o nome de constante térmica ou soma térmica. Estes valores podem variar para diferentes cultivares de uma mesma cultura, o que permite classifica-los em cultivares de ciclo precoce, ciclo médio e ciclo tardio. Assim pode-se prever com maior precisão a data de maturação das culturas e cultivares, mediante o uso das unidades térmicas de cresci- mento/desenvolvimento. Exemplo: Estimar a possível data de maturação do milho, considerando uma cultivar que apresen- ta uma constante térmica (soma térmica) de 1500º C, temperatura base de 10º C e plantada em 21 de outubro, numa região que apresenta as seguintes temperaturas médias: out = 20ºC; nov = 23ºC; dez = 25ºC; jan = 25ºC; fev = 24ºC; mar = 21ºC. Temos então que acumular os valores me- dios de graus-dia para cada mês até atingir a so- ma térmica necessária para a cultura completar seu ciclo: ST=10.(20-10)+30.(23-10)+31.(2510) +31.(25-10)+6.(24-10)=1504ºC (1420+84) Assim a maturação será aproximadamente em 6 de fevereiro. Exercício: Considerando a mesma região estimar a provável data de maturação para uma cultivar de milho com ST= 1300ºC, temperatura base 9ºC e data de semeadura em 15 de outubro. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 57 C. TERMOPERIODISMO É o efeito da variação da temperatura do ar no desenvolvimento dos vegetais superiores. Esta variação, num ciclo completo de um dia, um ano ou vários dias, constituem um termoperiodismo diário, anual ou aperiódico, respectivamente, e se caracteriza por apresentar 2 setores bem definidos: a termofase positiva e a negativa. Figura 5.14. Variações diárias, anuais ou aperiódicas de temperatura - Termoperiodismo A importância da periodicidade anual se manifesta na distribuição geográfica das culturas O êxito ou fracasso das introduções de espécies exóticas depende em grande parte da semelhança ou não entre as condições termope- riódicas anuais da região de origem e das regiões aonde se pretende cultivá-las. Como estas variações resultam em conse- quências distintas em diferentes espécies vege- tais, determina-se 3grupos principais de plantas: * Termocíclicas: espécies que apresen- tam tecidos ativos à temperatura durante um ou mais períodos anuais de variação na temperatura (termofases positivas e negativas). Ex. Plantas perenes e bianuais. * Paratermocíclicas: espécies anuais com tecidos ativos à temperatura em uma parte das termofases negativas ou positivas. Ex.: Ce- reais de inverno. * Atermocíclicas: espécies anuais com tecidos ativos à temperatura somente na termo- fase positiva do período anual. Ex.: Milho e sorgo. D. VERNALIZAÇÃO É o acumulo de baixas temperaturas pelas plantas, desde da fase de semente germinada até a formação do talo, essencial para o seu desenvolvimento, pois as mesmas armazenam reservas em seus tecidos. É um processo, muito comum em plantações de trigo na Europa (variedades de inverno). São semeadas no outono, passando seu estádio inicial de desenvolvimento sob uma camada de neve. Sugere-se que passar por um período de baixas temperaturas em alguma época de seu ciclo seja essencial para o seu melhor desenvolvimento. E. EXIGÊNCIAS DE FRIO São as horas de frio necessárias às culturas de clima temperado, para que reestabele- çam suas reservas fisiológicas, ou seja, o número de horas mínimas para que as plantas tenham vigor para quebrar a dormência das gemas vegetativas e reprodutivas. É variável para cada cultura, porém, em todas, existe uma faixa considerada ótima, sendo que abaixo ou acima desta ocorrerá prejuízo para a planta. Os efeitos positivos das baixas temperatu- ras podem ser enumerados: vernalização; quebra de dormência das sementes; quebra de dormência das gemas das plantas de clima frio. As horas de frio serão contabilizadas, conforme cálculo. 4.5. OBSERVAÇÃO DA TEMPERATURA DO AR O termo à sombra decorre do fato que a temperatura deve ser medida num ambiente padrão de leitura que é o abrigo termométrico ou meteorológico. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 58 A) ABRIGOS METEOROLÓGICOS Também são chamados de abrigos termo- métricos. Sua finalidade é proteger instrumentos (precipitação e de insolação direta) e garantir leitu- ras representativas (condição de referência: para uniformizar o local da observação (medição) para comparações entre diferentes pontos da terra). Figura 5.15. Abrigo Meteorológico ou abrigo termométrico: Modelo Padrão e simplificado. Constitui-se de uma caixa de teto duplo (madeira ou ruberóide) com paredes de venezia- nas duplas e invertidas (EMA, multiplacas), para a circulação livre de ar, de cor branca, sendo que uma delas (voltada para a direção sul) deve abrir como porta. Suas dimensões devem possibilitar a instalação dos aparelhos afastados das paredes. Os aparelhos instados dentro do abrigo são: Termômetro de máxima e Termômetro de mínima; Psicrômetro (Termômetro de bulbo seco e Termômetro de bulbo úmido); Termógrafo e Higrógrafo ou Termo-Higrógrafo, outros. Figura 5.16. Abrigo meteorológico aberto Instalado na área instrumental da estação, em terreno plano, coberto de grama rasteira, em área descampada, onde o ar pode circular livremente. A base deve estar a 1,2 metros da superfície do solo (sobre um cavalete de madeira). Em um local de fácil acesso ao observador. Os principais medidores dentro do abrigo meteorológico são os termômetros que podem ser distinguidos quanto ao seu princípio de funcionamento em: 1) Dilatação de Líquido: é o tipo mais comum constituindo-se de um capilar onde uma coluna de líquido (álcool ou Mercúrio) se dilata com o aquecimento. Ex: Termômetro de máxima, Termo-metro de mínima, geotermômetros e psicrômetro. 2) Dilatação de sólido: um sólido aquecido dilata-se. Assim pode-se usar uma placa metalica em forma de anel que se dilata ou se contrai com maior ou menor temperatura. Ex: Termógrafo. 3) Pares termoelétricos (termopar): a força eletromotriz (Fem) é proporcional à diferença de temperatura. Estes termômetros são de ótima precisão e sensibilidade, porém necessitam de calibração. 4) Resistência elétrica: a resistência elétrica de um metal (níquel, platina, tungstênio e cobre) varia com a temperatura. Assim temos termômetros de resistência elétrica em EMAs. 5) Infravermelho: baseia-se na detecção da radiação eletromagnética emitida pelos corpos, normalmente na faixa do infravermelho (IV). São usados para determinar a temperatura da superfí- cie de um corpo. Os 4 primeiros tipos são usados para determinar a temperatura do ar, sendo que os 2 primeiros são mais usados em estações meteoro- lógicas convencionais e os outros 2 em estações meteorológicas automáticas. O ultimo tipo é usado para medir a temperatura da superfície de um corpo, muito usado em Zootecnia. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 59 B. TERMÔMETRO DE MÁXIMA Usado para medir a temperatura máxima diária do ar à sombra. É semelhante a um termômetro (clínico) comum, porém, com maiores proporções, sendo o elemento sensível um bulbo de vidro (forma de pêra) cheio de mercúrio (Hg) ligado a um tubo capilar que tem uma constrição (estreitamento) nas proximidades da união com o bulbo. Figura 5.17. Termômetro de máxima Aquecido o Hg dilata-se pelo capilar, cessada a ação do aquecimento, o Hg tende a voltar ao bulbo, mais isto não acontece porque a coluna de Hg se rompe na constrição, ficando inalterada a coluna capilar acima dela, registrando a expansão ou temperatura máxima. É instalado dentro do abrigo termométrico padrão, geralmente em um suporte duplo junto com o termômetro de mínima, em posição horizontal levemente inclinada. Figura 5.18. Instalação do termômetro de máxima e termômetro de mínima. A leitura é igual como para qualquer termômetro, sendo o horário de leitura às 9:00 h. Após a leitura se faz o Hg voltar para o bulbo com movimentos sucessivos de rotação. Os dados diários de temperatura máxima são anotados em planilhas, onde posteriormente são calculadas as médias aritméticas da temperatura máxima mensal e anual e obtido seus extremos. OBS: A temperatura máxima do dia ocorre próximo às 14:00 h (1 a 3 h após o meio dia solar). A temperatura máx anual ocorre aproximadamente 1 mês após o solstício de verão nos continentes e aproximadamente 2 meses após o solstício de verão nos oceanos. C. TERMÔMETRO DE MÍNIMA Usado para medir a temperatura mínima diária do ar à sombra. Seu tamanho é idêntico ao termometro de máxima, com a forma do bulbo em U. Figura 5.19. Termômetro de mínima O elemento sensível dentro do tubo capilar é o álcool com um pequeno altere de vidro, que permanece imóvel quando o álcool se expande. Ao se contrair, porém, o menisco da coluna capilar de álcool arrasta para trás o altere, ficando assim registrada a temperatura mínima, mesmo que o álcool se dilate novamente na coluna capilar, ele não arrastará o altere. É instalado em suporte apropriado junto com o termômetro de máxima, em posição horizontal. Figura 5.20. Instalação do termômetro de máxima e termômetro de mínima no interior do abrigo meteorológico. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 60 A leitura igual a qualquer termômetro, sendo o horário de leitura às 9:00 h. Após a leitura faz-se o altere voltar para o bulbo e entrar em contato com o álcool virando-o de ponta-cabeça. Os dados de temperatura mínima diária são anotados em planilhas, onde depois são obtidos as médias aritméticas das temperaturas mínimas mensais e anuais e seus extremos. OBS: A temperaturamínima do dia ocorre próximo às 5:00 h da manhã. A temperatura mínima anual ocorre aproximadamente 1 mês após o solstício de inverno nos continentes e aproximadamente 2 meses após os solstício de inverno nos oceanos. D. PSICRÔMETRO Para determinar a temperatura do ar à sombra a qualquer instante de tempo (termômetro de bulbo seco); e determinar a umidade do ar indiretamente a partir das temperaturas fornecidas pelos 2 termômetros (depressão psicrométrica). Consiste em um conjunto de 2 termômetros montados num suporte, sendo um termômetro de bulbo seco (TBS) e outro de bulbo úmido (TBU). O termômetro de bulbo úmido tem seu bulbo enrolado por um cadarço (algodão) que vai até um reservatório contendo água, que man- tém o bulbo úmido constantemente. Figura 5.21. Psicrômetro ventilado (aspirado), não ventilado (não aspirado) e Psicrômetro de Funda. Quanto aos tipos os psicrometros podem ser: não ventilados (não aspirados) e ventilados (aspirados) quando possuem um dispositivo (ventilador) que faz a circulação forçada do ar, e ainda existe o psicrômetro de funda (portátil com cabo giratório). A temperatura do termômetro de bulbo úmido (tu) é inferior à do termômetro de bulbo seco (t) e esta diferença é denominada de "Depressão Psicrométrica“, DP = t – tu = ∆t A diferença de coluna de mercúrio entre os dois termômetros, dividida pela diferença de tem- peratura entre os termômetros é denominada de "Constante Psicrométrica“ t Hg ∆ ∆ =γ onde, γ é a constante psicrométrica do aparelho (mmHg/oC); ∆Hg é a diferença de coluna de Hg entre os dois termômetros (mmHg) e ∆t é a diferença de temperatura entre os termômetros de bulbo seco "t" e de bulbo úmido "tu" (oC) (Depressão Psicrométrica). É instalado dentro do abrigo sobre o suporte apropriado. Figura 5.22. Instalação do Psicrômetro. As leituras são realizadas nos três horários oficiais: 9, 15 e 21 horas. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 61 São obtidos dados diários de temperatura do ar à sombra, temperatura do bulbo úmido e a depressão psicrométrica (diferença entre as leituras). Estes dados são usados para o cálculo da tensão de vapor e umidade do ar. E. TERMÓGRAFO Usado para registrar continuamente a temperatura do ar à sombra. O elemento sensível é um anel metálico, ou seja, a medição é feita segundo o princípio da dilatação de um sólido proporcional à temperatura. Este anel esta em contato com um sistema de alavancas que registra a variação da temperatura em gráfico. Figura 5.23. Termógrafo. Para seu funcionamento um elemento bi- metálico sensível a variações de temperatura aciona um sistema de alavancas que registra a temperatura sobre uma faixa de papel (gráfico temperatura x tempo) colocada sobre um tambor acionado por um mecanismo de relógio. O elemento sensível pode ser também um líquido (álcool) que aciona um sistema de alavancas para o registro de temperatura. É instalado no abrigo meteorológico em nível. O gráfico deve ser trocado diária ou semanalmente, conforme o mecanismo de relógio do aparelho (diário ou semanal), sendo que se deve dar corda no mecanismo. Figura 5.24. Parte de um Termograma. Obtém-se o registro contínuo da temperatura do ar à sombra. 4.6. CALCULOS DE TEMPERATURA DO AR a) Temperatura média diária: quanto maior o número de leituras diárias maior é a precisão da temperatura média, porém torna-se impraticável. Sendo assim obtém-se o valor médio a partir das leituras diárias comuns (9:00; 15:00 e 21:00 h). 5 tmTMt.2tt h21h9 +++= INMET onde, t é a temperatura média do ar à sombra (oC); t9h é a temperatura do ar à sombra observada às 9 h (oC); t21h é a temperatura do ar à sombra observada às 21 h (oC); TM é a temperatura máxi- ma (oC); tm é a temperatura mínima à sombra (oC) ou ainda pode-se obter a temperatura média por: 2 tmTMt += padrão americano – EUA 4 t.2ttt h21h14h7 ++= padrão IAC b) Temperatura média mensal: é obtida pela média aritmética dos valores de temperatura média diária, n tt �= onde, t é a temperatura média mensal (oC); t é a temperatura média diária (oC); n é o número de dias do mês. Existem também equações para a estimativa da temperatura média do ar mensal em Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 62 função das coordenadas do local, que deve ser ajustada para cada local, tm = a + b.alt+c.lat+d.long onde, a, b e c são constantes determinadas estatisticamente para cada local, alt é a altitude, lat é a latitude e long é a longitude do local. c) Temperatura média anual: é obtida pela média aritmética dos valores de temperatura média diária 12 t at �= onde, at é a temperatura média anual (oC); t é a temperatura média mensal (oC). d) Temperatura média verdadeira: é aquela que corresponde à ordenada média do diagrama traça- do por um termógrafo, em um mesmo intervalo de tempo. Pode-se obtê-la a partir da integração da área abaixo da curva do gráfico e dividindo esta pelo intervalo de tempo (24 hs). Figura 5.25. Termograma indicando a temperatura média verdadeira. 4.6. APRESENTAÇÃO DOS DADOS DE MEDIDA DA TEMPERATURA As informações de temperatura podem ser apresentados em forma de: Tabelas cronológicas; Gráficos cronológicos ou Mapas de isotermas (Cartas de isotermas: isolinhas que ligam pontos com igual temperatura) contendo os dados de temperaturas médias diárias, mensais e anuais, máximas e mínimas. A seguir apresenta-se alguns exemplo de apresentação de informações de temperatura. Figura 5.26. Gráfico cronológico das temperaturas do ar, máxima e mínima. Figura 5.27. Mapa das isotermas de temperatura média no verão do Brasil. Tabela cronológica. Temperatura do ar (oC) Data Temperatura média Temperatura máxima Temperatura mínima 01/10/04 25,4 26,6 21,3 02/10/04 19,2 22,7 17,4 03/10/04 21,5 24,5 19,0 04/10/04 26,7 31,1 24,1 05/10/04 22,3 26,7 19,4 06/10/04 17,8 21,1 14,5 07/10/04 19,4 25,6 14,3 08/10/04 20,6 25,5 14,6 09/10/04 19,8 24,6 17,4 10/10/04 20,9 27,4 19,7 Decendio1 21,4 25,6 18,2 11/10/04 22,4 27,5 20,1 12/10/04 24,6 29,4 19,8 13/10/04 19,8 23,4 14,6 14/10/04 21,2 27,4 16,7 15/10/04 23,4 29,6 18,7 16/10/04 26,7 32,3 23,4 17/10/04 26,8 31,2 22,6 18/10/04 23,2 27,5 17,8 Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 63 EExxeerrccíícciiooss:: 1) Calcule a temperatura média diária e a média decendial a partir dos registros de um termômetro de mercúrio obtidas no posto meteorológico duran- te o 1o decêndio de janeiro. A partir dos valores médios diários obtenha a temperatura média decendial. Dia/mês Temperatura horários de leitura temperaturas extremas 9:00 hs 15 hs 21 hs Tmáxima Tmínima 01/01 18,6 25,9 19,0 26,0 17,5 02/01 19,7 27,8 20,0 30,0 18,9 03/01 16,6 25,0 18,9 26,8 15,7 04/01 15,4 23,0 18,0 24,3 14,3 05/01 19,0 28,9 19,0 30,5 18,9 06/01 20,0 30,6 17,0 31,2 16,5 07/01 16,7 25,8 18,0 26,5 16,7 08/01 13,0 24,0 16,8 25,0 12,0 09/01 14,0 25,0 15,0 27,0 13,8 10/01 16,0 26,0 19,0 28,0 15,9 2) Calcule a temperatura média diária pelo padrão brasileiro (INMET) para Lages segundo os registros do Posto Meteorológico da EPAGRI, referente ao dia 04/02/86. Termômetros Horários de leituras T (oC) 9:00 hs 15:00 hs 21:00 hs Bulbo seco 19,30 26,60 21,30 Bulbo úmido 17,20 18,70 18,10 Máxima 28,00 Mínima 16,40 3) Estimara possível data de maturação do milho, considerando uma cultivar que apresenta uma constante térmica (soma térmica) de 1500o C, temperatura base de 10o C e que foi plantada em 16 de outubro, numa região que apresenta as seguintes temperaturas médias: outubro = 20o C; novembro = 23o C; dezembro = 25o C; janeiro = 25o C; fevereiro = 24o C; março = 21o C. 4) Considerando a mesma região estimar a provável data de maturação para uma cultivar de milho com soma térmica de 1300o C, temperatura base igual a 9o C e data de semeadura em 15 de outubro. 5) O que é temperatura média diária verdadeira. Explique com auxílio de um gráfico e como é obtida. 6) A partir do gráfico abaixo obtenha: a) A temperatura mínima do dia 04/12/2004 (terça- feira). Em que horário ocorreu a mesma? b) A temperatura mínima do dia 04/12/2004 (terça- feira). Em que horário ocorreu a mesma? c) Obtenha as 24 temperaturas em cada hora do dia no gráfico abaixo (termograma) e calcule a temperatura média diária (média aritmética) d) Obtenha as temperaturas das 9, 15 e 21 horas e calcule a temperatura média pelo padrão INMET. Compare com o resultado do item anterior. 7) Com base na abordagem da Soma térmica ou Constante térmica de uma cultura (soma de graus- dia) faça inferências a respeito de como pode ficar o ciclo das plantas anuais com a intensificação do aquecimento global. 8) a) O que são unidades térmicas de crescimento e constante térmica (soma térmica)?; b) Uma cultura cuja constante térmica é aproximadamente de 2000o C foi plantada em um local cuja a temperatura média é de 20o C, alcançando a maturação em 120 dias. Se esta cultura fosse plantada em um local cuja temperatura média é de 17o C o que aconteceria na duração de seu ciclo? Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 64 55.. TTEEMMPPEERRAATTUURRAA DDOO SSOOLLOO 5.1. INTRODUÇÃO A temperatura do solo (ts) é o indicativo da quantidade de energia (Rs) absorvida pela superfície e que foi transferida por condução para o interior do solo. Às vezes é mais importante que a temperatura do ar. É responsável pelos contraste entre estações de crescimento nas encostas com diferentes inclinações. Temperaturas do solo extremamente altas ou baixas são letais para as raízes das plantas, sendo que temperaturas do solo baixas impedem a absorção de nutrientes e água pelas plantas. Também tem fundamental importância nos seguintes processos: Germinação de sementes; crescimento e atividade funcional das raízes; velocidade e dura- ção do crescimento das plantas; reações químicas e biológicas que ocorrem no solo; absorção e transporte de nutrientes; ocorrência e severidade de doenças; decomposição da matéria orgânica e respiração radicular; estrutura orgânica da fauna e flora do solo; evaporação da água; troca de íons nos minerais (solução do solo: nutrientes). 5.2. FATORES INTERVENIENTES NA TEMPE- RATURA DO SOLO Os principais fatores que afetam a tempe- ratura do solo são: a) Saldo líquido de calor absorvido pelo solo; b) Energia calorífica exigida para a mudança de temperatura (capacidade térmica); c) Energia necessária para evaporação (água); e d) Energia gasta pela fauna e flora do solo (desprezada). 55..33.. AABBSSOORRÇÇÃÃOO EE PPEERRDDAA DDEE EENNEERRGGIIAA SSOOLLAARR A quantidade de calor absorvida pelos solos é determinada pelo total de energia que atinge a superfície (Rg), que representa parte da Rs total (Radiação emitida pelo Sol). Assim temos: * Regiões Áridas (sem nuvens): 75% da radiação solar atinge o solo * Regiões Úmidas (com nuvens): 35 - 40% atinge o solo. * Média global: 50% da Rs atinge o solo. Da fração que atinge o solo: 35 - 45% é refletida (albedo) ou perdida por irradiação térmica (ondas longas: E.E). Da parcela que não retorna (saldo radia- ção), 5% é consumida pela fotossíntese mais rea- ções metabólicas; 5-15% do saldo é absorvido e transferido (armazenado) como calor no interior do solo. 5.4. FATORES QUE AFETAM A ABSORÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR (Rs) NO SOLO Em qualquer local a radiação solar (Rs) depende, em princípio, do clima. Porém a quantidade de energia que penetra no solo depende de outros fatores, tais como: a) Cor (Albedo): caracteriza a reflexão (faixa do visível). Superfície branca reflete todos os comprimentos de onda e superfície negra absorve todos os comprimentos de onda. Solos escuros absorvem mais energia, tendo, portanto, maiores temperaturas. b) Declividade (Inclinação) e Exposição: influi no ângulo de incidência dos raios solares sobre a superfície (Lei de Lambert); tem pequena importância para baixas latitudes (<10º), sendo importante para regiões situadas fora dos trópicos (médias e altas latitudes). Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 65 Figura 5.28. Influência da inclinação da encosta sobre a absorção de energia pela superfície No hemisfério sul as encostas Norte (N) apresentam maiores temperaturas do solo. As maiores amplitudes térmicas entre as encostas são observadas na primavera-verão, sendo que a diferença entre as temperaturas mínimas é menor que entre as máximas. Culturas plantadas em encostas N iniciam mais cedo seu crescimento. As encostas sudoestes (SO) são mais quentes que as encostas sudestes (SE), pois, há um prolongado resfriamento devido a evaporação do orvalho, além disso durante a manhã a superfície encontra-se mais fria do que à tarde. A radiação solar que chega a superfície é composta de radiação direta e radiação difusa (radiação do céu), sendo que: * Radiação Direta é função da exposição e inclinação do terreno; * Radiação Difusa é função da inclinação do terreno. Encosta com inclinação de 8º, exposta ao Sul (S) recebe a mesma quantidade de radiação difusa que uma encosta com 8º exposta ao Norte. Quanto maior for a proporção de radiação difusa, menor será a diferença de energia recebida entre as exposições. Em dias nublados o efeito da exposição é minimizado. c) Cobertura Vegetal: solo nú está sujeito a intensas variações da temperatura nas camadas da superfície. A cobertura do solo tem efeito moderador da variação de temperatura, pois a interceptação vegetal transforma a energia solar em calor latente de Evaporação. Cobertura morta “Mulch” funciona como uma camada isolante impedindo variações acentuadas de temperatura. d) Textura do Solo: solos arenosos possuem: * menor Capacidade térmica (necessita menor quantidade de energia para variar a temperatura); * menor Condutividade Térmica (o fluxo de calor é mais lento no solo); * menor resfriamento por evaporação (menor quantidade de água retida no solo), conseqüentemente aquecem-se mais rápido na primavera (comparado aos argilosos). Assim, solos arenosos tornam-se quentes mais cedo, ini- ciando o crescimento vegetal mais cedo, no entan- to, no outono os solos arenosos resfriam-se mais rápido. A energia recebida pelos solos arenosos concentra-se na superfície do mesmo, isto devido à má Condutividade Térmica desse tipo de solo. 5.5. PROPRIEDADES TÉRMICAS DOS SOLOS a) Calor Específico (Capacidade Térmi- ca) dos solos: é a relação entre a quantidade de calor necessária para elevar de 1ºC a temperatura do solo e a exigida para a mesma elevação de temperatura de igual peso de água. Solos minerais têm uma capacidade térmica de ± 0,20 cal/g e o Húmus ± 0,45 cal/g. A absorção de determinada quantidade de calor não assegura elevação de temperatura do solo. Para os outros fatores constantes, soloscom elevada capacidade térmica (CT) apresentam variações lentas de temperatura. O teor de umidade se constitui no principal fator a determinar a energia necessária para elevar a temperatura do solo. Por exemplo: Solo mineral seco tem uma capacidade térmica CT = 0,20 cal/g, com umidade gravimétrica de 30% sua CT será 0,38 cal/g. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 66 A umidade gravimétrica é expressa em gramas de H2O/100g de solo seco, neste solo há a disponibilidade de 30g de água em cada 100g de solo. Então para calcular a CT de um solo úmido fazemos: No de calorias para elevar 1ºC 30g H2O = 30g .1 cal/g = 30 cal No calorias para elevar 1ºC 100g solo = 100g.0,2 cal/g = 20 cal Total = 50 cal Então, para 130g de solo úmido tem-se neste caso, 50cal/130g = 0,38 cal/g. Exercício: Calcule a CT para um solo com 25% de UG e 5% de M.O. R: CT= 0,36 cal/g. b) Condutividade térmica: é a quantida- de que flui por unidade de tempo, através de uma unidade de área (superfície) de solo de espessura unitária ou é a velocidade de aquecimento por unidade de profundidade de perfil na unidade de tempo e temperatura (cal/cm/min/oC). Depende da porosidade, teor de M.O., tipos de partículas do solo e umidade do solo. A condutividade térmica da água é ±150 vezes maior do que a do solo, assim o teor de umidade é importante para o aquecimento e resfriamento do solo. Quanto maior a condutividade térmica do solo menor são as variações de temperatura na superfície do solo. 5.6. MÉTODOS PARA MODIFICAR A TEMPE- RATURA DO SOLO Os princípios mais importantes para modificar a temperatura do solo são: regular o recebimento ou a perda de energia e alterar as propriedades térmicas da superfície do solo. As práticas para regular o recebimento de energia no solo são: * Colocar uma camada de um material isolante, sobre ou perto da superfície do solo, tal como palha, papel, vidro, polietileno, etc.; * Aquecer ou resfriar a superfície do solo; * Mudar a absorvidade do terreno (alterar a inclinação com sistematização); * Variar a temperatura do ar pelo uso de ventiladores ou abrigos (quebra-ventos). As práticas para controlar a perda de radiação da superfície do solo são: * Emprego de vários materiais isolantes e * Geração de cortina de fumaça ou neblina no ar. As propriedades térmicas do solo podem ser modificadas: * Aumentando a absorvidade do terreno (inclina- ção, cor) * Mudando a condutividade térmica pelo cultivo, irrigação e compactação; * Alterando a capacidade térmica pela irrigação ou drenagem de água; * Fazendo variar a razão de evaporação, removen- do ervas daninhas, regulando a umidade do solo, usando-se abrigos, telas, areias, etc., sobre a superfície do solo. 5.7. MOVIMENTO DO CALOR NOS SOLOS Grande parte da energia solar é dissipada na atmosfera, entretanto parte dela penetra sob a forma muito lenta no perfil do solo por condutibilidade. Condutibilidade é a condutividade ter- mica de um solo, ou seja, a velocidade de aque- cimento por unidade de profundidade na uni- dade de tempo e temperatura (cal/cm/min/oC). O calor se transfere do solo para a água, cerca de 150 vezes mais facilmente do que do solo para o ar. Na medida em que aumenta a quantidade de umidade do solo, diminui igual- mente a quantidade de ar nos poros do solo e a resistência à transferência de calor é diminuída. Quando existir quantidade suficiente de umidade para unir a maioria das partículas do solo, adições posteriores de água terão efeito pequeno na condutividade térmica. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 67 Nas regiões temperadas, os solos de superfície são, em geral, mais quentes no verão e mais frios no inverno, quando comparados aos subsolos, especialmente os horizontes mais profundos destes últimos. Isso se explica em parte devido a grande umidade que o solo possui no inverno. As curvas que indicam os valores da temperatura ao longo do perfil dos solos são chamadas de Tautócronas. Na figura a seguir observa-se as tautócronas em 5 horários do dia obtidas de um experimento com um Latossono desnudo (sem vegetação) Figura 5.29. Variação da temperatura do solo em profundidade em Latossolo desnudo. 5.8. OBSERVAÇÃO DA TEMPERATURA DO SOLO 1. Termômetros de Solo (Geotermômetros) São usados para determinar a temperatura do solo em diferentes profundidades. O tipo mais comum é o de coluna de mercúrio (Hg), com uma haste que atinge a profundidade desejada no solo. Geralmente é graduado de -13 a +60ºC, com graduação de 0,2ºC, podendo-se estimar 0,1ºC. O bulbo é enterrado à profundidade que se deseja saber a temperatura do solo, uma saliência em sua haste que é o ponto de referência e, o qual, deve ficar na superfície do solo. Existe, portanto, um termômetro para cada profundidade. Atualmente, utiliza-se geotermômetros de termopar (pares termo- elétricos) ou de resistência elétrica, principalmente em estações automáticas. Figura 5.30. Geotermômetros As profundidades padrões de instalação são: 1, 2, 5, 10, 20, 40 e 80cm (mais comuns: 2, 5, 10 e 20cm). São dispostos em linha, com direção L-O, para diminuir erros (incidência direta de raios solares), a extremidade superior do termômetro fica voltada para o N. O termômetro de menor profundidade fica instalado do lado O e o mais profundo do lado L. São fixados em suporte em forma de “U” invertido. O local deve ser protegido contra animais (cercado de tela). Figura 5.31. Baterias de geotermômetros instala- dos em solo com diferentes coberturas. No manejo não se retira os termômetros do solo, lê-se diretamente a temperatura no local por ocasião das 3 observações diárias (9, 15 e 21 horas). 2) Fluxímetros: constituem-se de placas medido- ras de fluxo para medir o fluxo de calor no solo, através de placas com junções termoelétricas. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 68 5.9. CALCULOS COM DADOS DE TEMPERA- TURA DO SOLO a) Determinação do Gradiente Vertical de Temperatura: vem a ser a variação de temperatura do solo por unidade de profundidade do mesmo, calculada pela seguinte expressão. 12 BA v hhdh dG − θ−θ = θ = onde, Gv é o gradiente vertical de temperatura do solo (oC/cm); θA é a temperatura do solo à profundidade h1 (oC); θB é a temperatura do solo à profundidade h2 (oC). Figura 5.32. Temperatura do solo em duas profundidades do perfil do solo. Este gradiente sofrerá variações com o passar do tempo em seu transcurso diário, assim teremos: Dia Gv positivo (+): (θA > θB), temperatura mais alta na superfície. Noite Gv negativo (-): (θA < θB), inversão de gradiente, se deve a perda por irradiação na superfície, diminui a temperatura na superfície em relação às zonas mais profundas. Exemplo: Foram observadas as temperaturas em duas profundidades do solo, sendo 15ºC à 5 cm e 18ºC à 10 cm de profundidade. Calcule o Gv. 12 BA v hhdh dG − θ−θ = θ = 6,0 510 1815Gv −= − − = oC/cm Este gradiente mostra que a temperatura diminui na razão de 0,6ºC/cm da profundidade de 10 cm para 5 cm. b) Estimativa do Fluxo de Calor: o fluxo de calor entre duas superfícies paralelas, no interior do solo, pode ser calculado por: ) hh (k dh dKFc 12 BA − θ−θ −= θ −= onde, Fc é o fluxo de calor no perfil do solo (cal/cm2min); K é a condutividade térmica do solo (cal/cm.min.oC); dθ/dh é o gradiente de temperatu- ra do solo (ºC/cm).Exemplo: Na camada de 0 - 5 cm, mediu-se as temperaturas de 10 e 14º C. K = 0,18cal/cm.min.oC ) 05 1410 .(18,0 dh dKFc − − −= θ −= Fc = 0,144 cal/cm2.min OBS: O fluxo ocorre de um ponto mais quente para o mais frio. Assim neste exemplo o fluxo ocorre de baixo para cima. c) Variação Diária do Fluxo de Calor: por convenção, quando a energia estiver em dire- ção à superfície será positiva (+) e quando estiver em direção ao interior do solo será negativa (-). Durante o dia: a superfície recebe calor, mandando o mesmo para o interior do solo. Durante a noite: a superfície não recebe energia, o solo perde calor por irradiação (inversão do fluxo). Figura 5.33. Fluxo de calor durante o dia e fluxo de calor durante a noite. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 69 5.10. TEMPERATURA DE GERMINAÇÃO E EMERGÊNCIA A temperatura do solo afeta a germina- ção das sementes. Algumas espécies só germi- nam assim que as condições externas de tempe- ratura, umidade e concentração de oxigênio sejam favoráveis. Baixas temperaturas do solo entre 0 a 10ºC, por algumas semanas ou meses tem efeito na quebra de dormência (macieira, pereira, pessegueiro, etc.) Pesquisas estabelecem três pontos principais com respeito à temperatura do solo em relação às plantas: * Uma temperatura mínima abaixo da qual não há atividade. * Uma temperatura ótima onde ocorre o máximo de atividade. * Uma temperatura máxima acima da qual a atividade é nula. Temperaturas elevadas no solo causam degeneração dos tubérculos de batata. Sendo recomendado como temperatura ideal para a batata 17ºC, temperaturas de solo superiores a 29ºC inibem o crescimento. O rendimento do milho é influenciado pela temperatura do solo na ocasião da germinação. Temperaturas abaixo do normal, por ocasião da semeadura do milho, e as condições indicarem tempo úmido e frio, comprometerão o rendimento. Pode-se aumentar a temperatura do solo através da semeadura em camalhões, com aração leve para arejar o solo. A temperatura do solo tem mostrado ser um importante fator a condicionar a duração do ciclo de algumas culturas. Tendo maior ou menor influência dependendo da cultura e até mesmo da variedade. Na tabela a seguir observam-se os valores de temperatura do solo mínima, máxima e ótima para a germinação e o crescimento inicial de algumas culturas cultivadas. É importante observar que estes valores são médias de um determinado período, pois o tempo de exposição à temperaturas extremas é um parâmetro importante a ser considerado, ao se estudar danos causados às sementes e materiais de propagação. Tabela . Temperaturas do solo mínimas, ótimas e máxima para germinação e crescimento inicial de algumas plantas cultivadas. Cultura Temperatura do solo Mínima Ótima Máxima Algodão 15 20 – 30 33 – 37 Aveia 0 – 5 25 – 31 31 – 37 Centeio 0 – 5 25 – 31 31 – 37 Cevada 0 – 5 25 – 31 31 – 37 Ervilha 3 – 5 25 – 31 31 – 43 Feijão 9,4 33,7 46,1 Girassol 5 – 10 31 – 37 37 – 44 Milho 5 – 10 37 – 44 44 – 50 Trigo 0 – 5 25 – 31 37 – 44 O controle da temperatura do solo pode ser obtido pelos mais diferentes meios. Fazendo- se variar a razão de evaporação, através da remoção de ervas daninhas, controle da umidade do solo, uso de abrigo, redução na perda de radiação pela adição de fumaça ou neblina, uso de quebra-ventos, cultivo do solo, irrigação, drenagem, etc. Exercícios: 1) Calcule a capacidade térmica (CT) para um solo com 25% de umidade gravimétrica (Ug) e 5% de M.O. (húmus). R: CT= 0,36 cal/g. 2) Um solo com densidade do solo de 1,45 g/cm3, 29% de umidade volumétrica (Uv) e 10% de M.O. (húmus). R: CT=0,342 cal/g. 3) Qual o fluxo de calor Fc (kcal/ha.min) em um solo que apresentou as seguintes leituras no perfil do solo de 0 - 10 cm, 16 e 10º C, respectivamente, a condutividade térmica é K = 0,20 cal/cm.min.oC. R: Fc = -0,12 cal/cm2.min = -12.000 kcal/ha.min Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 70 6. PRESSÃO ATMOSFÉRICA 6.1. INTRODUÇÃO A atmosfera da Terra é composta por uma mistura de gases: ar seco e vapor d’água, os quais possuem peso que agindo sobre uma superfície resulta na Pressão atmosférica. Esta pressão depende da altura (carga) da atmosfera, que como já vimos é variável no tempo e espaço. Ao nível do mar a pressão é maior do que em relação a pontos mais elevados (maior altitude). Figura 5.34. Peso e Pressão atmosférica Segundo a Lei (ou Princípio) de Pascal “um fluido (liquido ou gás) transmite em todas as direções e em todos os sentidos com a mesma intensidade qualquer pressão que se exerça sobre qualquer de seus pontos”, ou seja, sendo a atmosfera uma mistura gasosa sua pressão age em todas as direções e sentidos. A Patm é enorme, e em conseqüência da distribuição da mesma em todas as direções os corpos sobre a superfície da terra não são esmagados. 6.2. EXPERIENCIA DE TORRICELLI (1643) Experiência quantitativa, de muita simplicidade e clareza. O que impede o mercúrio (Hg) de descer é a pressão atmosférica. Se for provocado vácuo a coluna desce. Figura 5.35. Experiência de Torricelli A altura da coluna de Hg alcança exatamente 76cm ao nível do mar (NM), na latitude de 45º e temperatura de 0oC. Esta altura de Hg independe do formato, diâmetro e inclinação do tubo. Se fosse uzado água: 13,6.76 cm=1033cm = 10,33 mca (metro de coluna de água). Conclusão: “a Patm equivale à pressão exercida por uma coluna de Mercúrio com aproximadamente 760mm de altura ou 10,33mca”. 6.3. VARIAÇÃO DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA A Patm não é constante, varia no espaço e no tempo, ou seja, de um lugar a outro, e com o tempo num mesmo lugar. Depende da gravidade, densidade do ar, altitude e temperatura, o que resulta em variações verticais, horizontais, diárias, anuais e transientes (aleatórias). A Patm diminui com a altitude, ou seja, é menor em maiores altitudes (menor camada de atmosfera). A coluna de Hg em equilíbrio com a Patm, ao NM, latitude 45º é igual a 76cmHg, diminuindo aproximadamente 1cm para cada 100m de altura acima do nível do mar. Assim a Patm serve para determinar, aproximadamente, a altura ou altitude de um lugar. Ex: Dois lugares com diferença de Patm de 4cmHg corresponde a uma diferença de altitude de 400m. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 71 A Patm não é constante no tempo, depende das condições meteorológicas, de modo que num mesmo momento podemos encontrar elevada Patm numa região e baixa noutra e, num outro instante acontecer o inverso. O fator meteorológico principal na variação da Patm é a temperatura. Duas massas de ar aquecendo-se de modo diferencial ocasionam diferença de Patm. Isso faz com que a Patm sofra variações: * Regulares: ocasionada por aquecimento de origem solar (diárias e anuais); * Irregulares: devido ao turbilhonamento das massa de ar (responsáveis pelas mudanças de tempo). O curso anual dos valores médios de Patm demonstra uma defasagem em relação à temperatura, ou seja, no verão a Patm é baixa e no inverno é alta. O transcurso diário normal da Patm (sem influências externas) evidência 2 ondas na marcha da pressão, com 2 picos (10 e 22 horas) e 2 cavados (4 e 16 horas), ”Maré Barométrica”. Figura 5.36. Transcurso normal anual e diário da Pressão atmosférica As variações transientes decorrem das mudanças do “Tempo” (estado da atmosfera) influenciadas pelas invasões de massas de ar. As diferençasespaciais de Patm dão origem ao movimento das massas de ar (ventos), por isso o estudo da Patm é de muita importância, pois permite a previsão do tempo e, sua representação sobre mapas da região permite o traçado de linhas denominadas “Linhas Isobári- cas” (linhas de mesma pressão atmosférica) usa- das para a previsão de invasão de massas de ar. 6.4. UNIDADES USADAS PARA EXPRESSAR A PRESSÃO ATMOSFÉRICA Torricelli mostrou que ao nível do mar, latitude 45º e a temperatura de 0oC a coluna é de 760mmHg, valor este adotado como PADRÃO. Assim temos que: 1 atm = 760 mmHg = 10330 kg/m2= 10,33 mca = 1 kg/cm2= 1013,33 mb Modernamente é adotada como Unidade Internacional para expressar a Patm o milibar (mb), para facilitar a representação Sinóptica. 23dyna/cm10=mb 1 (CGS) 6.5. MEDIÇÃO DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA Os Instrumentos mais usados são: Barô- metro de Mercúrio; Barômetro Aneróide e Barógra- fo Aneróide. 1) BARÔMETRO DE MERCÚRIO Usado para medir a Patm (a partir da leitura da pressão aparente). É igual ao de Torricelli, se consti-tuindo no aparelho + preciso para medir a Patm. Os mais modernos são: de Cuba Fixa com Escala Corrigida ou de Cuba Móvel com Escala Natural. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 72 São constituídos de uma pequena cuba que é o reservatório e de uma coluna ambos metálicos. Sendo um ou outro tipo, sempre tem que se ler uma coluna de Hg. Figura 5.37. Foto e esquema simplificado do Barômetro de Mercúrio. A Patm é determinada pelo comprimento da coluna, entre o nível do reservatório e o menisco. A leitura é feita em escala graduada inscrita no instrumento, com complementação pelo vernier. Solidário ao barômetro existe um termômetro que indica a temperatura do aparelho. O aparelho fica suspenso livremente e se põe verticalizado (a prumo). Por uma janela vê-se um segmento de tubo, onde se encontra o extremo (menisco) da coluna de Hg. Deve ser mantido a prumo, colocado suspenso, onde um anel ao redor da cuba fixa, evita qualquer movimento brusco do instrumento. É instalado dentro do escritório da Estação, a alti- tude da cuba barométrica, assim como a altitude barométrica devem ser conhecidas, por causa das reduções e correções que devem ser realizadas. As leituras são feitas nos três horários oficiais (9, 15 e 21 horas). Para a posição correta da leitura, o raio visual do observador deve ser tangente à superfície da coluna de mercúrio, sendo feita no menisco superior, evitando assim o “erro de paralaxe”. Figura 5.38. Posicionamento correto para a leitura em barômetro O vernier permite completar a leitura na ordem de centésimos. Essa leitura fornece a “Pressão Aparente” (Pa) da Estação. Efetuamos ao mesmo tempo a leitura da temperatura. Para determinar a pressão da estação são necessárias algumas correções que podem ser aditivas ou subtrativas, possibilitando a comparação das medidas realizadas. 1º. Correção Instrumental (Ci): envolve erros referentes à subdivisão da escala, compri- mento da escala, ajuste do zero do vernier, capila- ridade, vácuo imperfeito. Tal correção vem de fá- brica (aferição), podendo ser aditiva ou subtrativa, devendo ser menor do que 0,15 mmHg. Após essa correção a leitura passa a ser “Leitura Barométrica”. 2o. Correção da Temperatura (Ct): variações de temperatura provocam mudanças no comprimento da escala e na densidade do Hg. Reduz-se a leitura a 0oC. A correção leva em conta o coeficiente de dilatação do latão e do Hg, obtida em tabela (Tabela 5.10, anexos), em função da temperatura, sendo: Se temperatura Hg < 0oC: aditiva (+) e Se temperatura Hg > 0oC: subtrativa (-). Após esta correção a leitura passa a ser “Leitura Barométrica a 0oC”. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 73 3o. Correção da Gravidade - Altitude (CgA): o peso da coluna de Hg é função da gravidade e esta varia com a altitude. Reduzimos a uma altitude padrão, para que possamos comparar com leituras realizadas em outras altitudes. A Altitude Padrão é a do nível do mar. A correção é obtida em tabela (Tabela 5.11, em anexos) em função da leitura barométrica aparente e altitude local: Se altitude < 0 m: aditiva (+) e Se altitude > 0 m: subtrativa (-) Após esta correção a leitura passa a ser “Leitura Barométrica à altitude local”. 4o. Correção da Gravidade - Latitude (CgL): o peso da atmosfera também é função da gravidade e esta varia com a latitude, reduzimos para a Lati-tude Padrão de 45º. A correção é obtida em tabela (Tabela 5.12, anexos), em função da leitura barométrica aparente e da latitude local, sendo: Se latitude < 45º: Aditiva (+) Se latitude > 45º: Subtrativa (-) Após esta correção a leitura passa a ser “Leitura Barométrica à latitude local”. f) Pressão da Estação (Ph): é a soma algébrica da Pressão aparente (Pa) e as Correções. CgLCgACtCiPaPh ±±±±= onde, Ph é a Pressão atmosférica da estação; Ci é a correção instrumental; Ct é a correção da temperatura ; CgA é a correção da gravidade; CgL é a correção da latitude. Exemplo: Sendo a leitura barométrica igual a 700 mmHg com uma temperatura de 22º C em Lages (latitude = 27º49’ (28º), Altitude = 960m) considere a correção instrumental Ci = 0,10mmHg. Qual é a pressão da estação (Ph). Solução: Nas tabelas correspondentes encontra- mos os valores das correções de temperatura e gravidade em função da latitude e altitude, obtendo-se: Ct = 2,51 ; CgA = 0,13 e CgL = 1,02 CgLCgACtCiPaPh ±±±±= 02,113,051,210,0700Ph +−−+= Ph = 698,48 mmHg Exercício: Determinar a pressão da estação dado: Leitura barométrica (Pa) = 680 mm Hg t = 20ºC, Latitude = 28º, Altitude = 960 m, Ci = 0,15 mmHg 2) BAROMETRO ANERÓIDE OU METÁLICO Usado para medir a pressão atmosférica. O Barômetro de Hg requer cuidados especiais, o que o torna impróprio para certos usos. Em virtude disso foi desenvolvido um barômetro menos exato, mas de fácil manejo, pois, não contém líquido, sendo chamados de Aneróides. Sua grande vanta- gem é que suas leituras não precisam correções, ou seja, já fornece a Pressão da Estação. Consta de um elemento sensível na forma de cápsula metálica, no interior da qual se fez vácuo, sendo o mais comum o de VIDI. Dentro da cápsula há molas que proporcionam elasticidade a parede. A cápsula apresenta a superfície ondulada, proporcionando maior sensibilidade. As vezes são várias cápsulas. Figura 5.39. Barômetro aneróide ou metálico. Com a variação da cápsula, em conseqüência da variação da Patm, um ponteiro indica a variação da pressão sobre um escala. É menos preciso e deve ser freqüentemente aferido. São portáteis, de fácil transporte e manuseio. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 74 É instalado em suporte próprio junto ao Barômetro de Hg, no escritório da Estação. Não necessita correção, somente aferição periódica. É usado como Altímetro, dando a Pressão da Estação (Ph) diretamente. 3) BARÓGRAFO Usado para o registro contínuo da Patm. É chamado de Barógrafo de Richard, se constituindo numa combinação de vários de Vidi. É composto por uma série de cápsulas aneróides sobrepostas. A deformação é amplificada e regis- trada sobre um tambor com mecanismo de relojoaria. Figura 5.40. Barógrafo aneróide. Em suporte junto ao Barômetro de Mercú- rio, no Escritório da Estação. Dá a Pressão da Estação (Ph) diretamente, sendo usado como altímetro. Figura 5.41. Barógrafo em operação dentro do escritório da estaçãometeorológica. Seu manejo consiste de cuidados com o mecanismo de registro, tinta, pena, troca do gráfico, não necessita correções, somente aferição periódica. 6.6. CALCULO DA PRESSÃO REDUZIDA AO NÍVEL DO MAR (Po) Para usar os dados de Patm em cartas do tempo. Os valores são lançados em mapas e as pressões reduzidas ao nível do mar (Po), pontos de Patm de mesmo valor são unidos entre si por linhas (Isóbaras), sobre as quais meteorologistas sinóptico prevêem a direção e velocidade de ventos, invasão de frentes. É calculada pela seguinte expressão: Po = Ph + Ch onde, Po é a pressão atmosférica reduzida ao nível do mar; Ph é a pressão da estação; Ch é a correção devido a coluna atmosférica “h” (m) de altura (h = altitude), dada em tabela em função da temperatura e altitude. Exemplo: Sendo a pressão da estação (Ph) igual a 698,5 mmHg com uma temperatura de 22º C em Lages (latitude = 27º49’ (28º), Altitude = 960m), determine a Pressão reduzida ao nível do mar (Po). Solução: Na tabela correspondente encontramos a correção (Ch) em função de temperatura e altitude, obtendo-se: Ch = 79 mmHg Po = Ph + Ch = 698,5 + 79 = 777,5 mm Hg Exercício: Determine a pressão reduzida ao nível do mar a partir das seguintes informações: Leitura barométrica (Pa) = 680 mm Hg t = 20ºC, Latitude = 27º49’ (28º), Altitude = 960m, Ci = 0,15mmHg. Obtenha a Ph e Po a partir destas informações. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 75 7. VENTOS 7.1. DEFINIÇÃO É o movimento de massas de ar seco e úmido em relação à superfície da Terra que são provocados por diferença de potencial de pressão atm entre duas regiões, devido ao aquecimento diferencial de locais próximos ou distantes da superfície da Terra, sendo que as massas se deslocam de um ponto de alta pressão (região mais fria) para um ponto de baixa pressão (região mais quente). 7.2. CARACTERIZAÇÃO DO VENTO Conforme a definição o vento é caracte- rizado por sua velocidade (grandeza vetorial), havendo a necessidade de defini-lo em termos de Módulo (intensidade), Direção e Sentido. a) Velocidade (modulo): representa a intensidade do vento (em m/s, km/h e km/dia) b) Direção: indica a trajetória do vento det sobre a Rosa dos Ventos (N-S, NE-SW...) c) Sentido: indica de onde está vindo o vento, det sobre a Rosa dos Vento (N, S, NE...). Figura 5.41. Rosa dos ventos 7.3. ESCALA DE BEAUFORT Método prático para estimar a velocidade do vento, de forma expedita, sem recursos de apa- relhos. A cada número está associada uma faixa de velocidade do vento, assim como as caracterís- ticas principais provocadas pelo movimento do ar. Quadro. ESCALA DE BEAUFORT N. DA ESCALA DESIGNAÇÃO VELOCIDADE (m/s) EFEITO APRECIÁVEL SOBRE A TERRA 0 CALMO 0 – 0,5 Não se nota o menor deslocamento nos mais leves objetos. A fumaça eleva-se verticalmente. 1 QUASE CALMO 0,6 – 1,9 A direção é indicada pelo desvio da fumaça mas não pelos cataventos. 2 BRISA LEVE 2,0 – 3,5 Sente-se o vento nas faces; as folhas das árvores são levemente agitadas, os cataventos comuns são acionados. 3 VENTO FRESCO 3,6 – 5,5 As folhas e os pequenos arbustos ficam em agitação continua, as bandeiras leves começam a se estender. 4 VENTO MODERADO 5,6 – 8,6 Movem-se os pequenos galhos das árvores, poeira e pedaços de papel são levantados. 5 VENTO REGULAR 8,7 – 10,9 As árvores pequenas com folhagem começam a oscilar, aparecem ondas com cristas nas superfícies de rios e lagos 6 VENTO MÉDIO FORTE 11,0 – 13,9 Galhos maiores das árvores agitados, ouve- se o assobio produzido pelo vento ao passar pelos fios telegráficos, torna-se difícil usar o guarda-chuvas. 7 VENTO FORTE 14,0 – 17,4 Os troncos das árvores oscilam, torna-se difícil andar contra o vento. 8 VENTO MUITO FORTE 17,5 – 20,0 Geralmente torna-se impossível andar contra o vento. Quebram-se os galhos das árvores. 9 VENTANIA 20,1 – 24,7 Ocorrem pequenos danos nas edificações (telhas arrancadas, etc...) 10 VENDAVAL 24,8 – 28,7 As árvores são derrubadas e as edificações sofrem danos materiais consideráveis. 11 TEMPESTADE 28,8 – 32,9 Resultam grandes destruições, as árvores são arrancadas. Observado muito raramente. 12 FURACÃO 33,0 – 38,5 Produzem efeitos devastadores. 7.4. MEDIÇÃO DO VENTO 1) CATAVENTO Usado para dar a direção e o sentido do vento, alguns dão a velocidade expedita do vento. Consiste num varão metálico, onde uma extremidade tem a forma de cone (indica de onde vem o vento) e na outra tem 2 aletas (superfícies) separadas em um ângulo de 22º. Este conjunto é móvel, juntamente com um ponteiro, que indica sobre parte fixa, a direção do vento. Na parte fixa estão gravados os pontos cardeais e números representativos da direção. Figura 5.42. Tipos de cataventos com aletas. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 76 É instalado dentro da Estação Meteoro- lógica ou em local onde se deseja observar a direção e sentido do vento. É fixado sobre um mastro no canto Sul da Estação Meteorológica, com o eixo perpendicular ao horizonte e a altura de 8 (7) à 10 m. Entre vários tipos podemos destacar: * Biruta: é um tipo de cata-vento muito utilizado em navegação aérea, além da direção e sentido do vento nos dá uma idéia aproximada da velocidade do vento. * Catavento tipo Wild: consiste numa superfície metálica disposta verticalmente, articulada em seu bordo superior, ficando sempre perpendicular a direção do vento. Figura 5.43. Tipos de cataventos: A) Biruta; B) Ca- tavento tipo Wild 2) ANEMÔMETRO Usado para determinar a velocidade (módulo) do vento. São vários os tipos, dos quais podemos destacar: * Anemômetro de Dines (pressão- sucção): Consiste em um tubo em U contendo um líquido no seu interior, sendo a intensidade do vento proporcional ao desnível “h” ocasionado no líquido (semelhante ao manômetro diferencial). * Anemômetro de Conchas ou Canecas: consiste num conjunto de 3 ou 4 conchas instaladas sobre um eixo vertical, fixado à engrenagens que movimentam um mostrador. Nos dá o vento percorrido num determinado intervalo de tempo, em m ou km. Os dados são acumulados e no fim de um determinado período (1 dia) divide- se o no de m ou km pelo intervalo de tempo considerado. Figura 5.44. Tipos de anemômetros: a) Anemô- metro tipo Dines; b) Anemômetro de Conchas ou Canecas. Figura 5.45. Fotos de Anemômetros de conchas ou canecas. É instalado em um mastro no canto Sul da Estação Meteorológica a altura de 2 m e também a 0,80 m da superfície. São realizadas 3 leituras por dia, obtendo-se a velocidade do vento em km/dia ou km/h. 3) ANEMÓGRAFO Sua finalidade é registrar continuamente a intensidade, direção e sentido do vento. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 77 Existem dois tipos principais: * Anemógrafo de Contato: é um Anemógrafo de canecas ao qual é adaptado um sistema de registro elétrico. Após a passagem de 100 m de vento, fecha-se um contato e um pulso elétrico aciona um sistema de registro. * Anemógrafo Universal: o registro é feito de forma direta, por meio de mecanismo de relojoaria. Registra simultaneamente a velocidade instantâ- nea, velocidade acumulada e a direção do vento. É todo mecânico dispensando a eletricidade. A ve- locidade instantânea é monitorada por um sensor tipo Dines (registra as rajadas) e a velocidade acumulada é mensurada por um sensor tipo canecase um integrador de trajetória do vento em um dado tempo. Figura 5.46. Anemógrafo de contato e anemógrafo universal. O anemógrafo é instalado na parte Sul da Estação Meteorológica, a 10 m da superfície e, a unidade registradora é instalada no escritório a 1,50 m. 7.5. VELOCIDADE DO VENTO COM A ALTURA A velocidade do vento varia numa função logarítmica, sendo a equação utilizada para con- verter velocidades tomadas a alturas diferentes: ( ) ( ) � � � � = 0 1 0 2 Z Z Z Z 12 ln ln .VV onde, V2 é a velocidade do vento que se deseja saber a altura Z2 (m/s);V1 é a velocidade do vento que se dispõe a altura Z1 (m/s); Z2 é a altura que se deseja saber a velocidade do vento (m); Z1 é a altura em que foi medida a velocidade do vento (m); Zo é a altura do parâmetro rugoso, referente ao gramado do posto é igual a 0,01 m. Figura 5.47. Variação da velocidade do vento com a altura na atmosfera Exemplo: Determinar a velocidade do vento a 2 m de altura, sabendo que a velocidade do vento medida a 10 m de altura é 2 m/s. Zo=0,01m � � � � = )ln( )ln( .VV 01,0 10 01,0 2 102 = 1,534 m/s (x 3,6 = km/h) V2= 5,52 km/h Exercício: 1) Determinar a velocidade do vento (m/s e km/h) a 1m de altura, sabendo que a veloci- dade do vento medida a 8m de altura é 5m/s. 2) No dia 02/02/86 registrou-se as seguintes velocidades instantâneas do vento e sua direção pelo Catavento tipo WILD, a 10 metros de altura: horário de leitura 9:00 hs 15:00 hs 21:00 hs Velocidade (m/s) 1,80 2,00 4,20 Direção NE NW SE Calcule: a) A velocidade média diária do vento em: m/s; km/h. b) Classifique os ventos, segundo a escala de Beaufort; c) Indique na Rosa dos Ventos, para cada horário, a direção do vento, nome do vento e no correspondente da rosa. d) Calcule o valor da velocidade média diaria dos ventos (m/s) e após em km/h para uma altura de 2,00 m a partir do terreno do posto, portanto faça a correção de 10 m para 2 m. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 78 7.6. EFEITOS FAVORÁVEIS E DESFAVORÁVEIS Entre os efeitos favoráveis do vento podemos destacar: a) Transporte de calor de regi- ões mais quentes para regiões mais frias, ou vice versa; b) Transporte de vapor d'água; c) Dispersão de gases e partículas, diminuindo suas concen- trações; d) Remoção de calor, diminuindo a tem- peratura de plantas e animais; e) Remoção do ar saturado e suprimento de CO2 para as plantas (até 6 km/h); f) Dispersão de esporos, pólen e sementes. Os efeitos desfavoráveis são: a) Erosão eólica; b) Eliminação de insetos polinizadores; c) Desconforto animal, diminuindo a temperatura corporal ocasionando o aumento no metabolismo; d) Deformação de plantas (acamamento); e) Abra- são de partículas; f)Desfolha; g) Aumento da ET, com fechamento dos estômatos (redução da fotossíntese) e maior nec. de água. 7.7. ESTATÍSTICA DOS VENTOS O conhecimento das características de vento predominante (Direção), freqüência e época do ano são indispensáveis no: * planejamento de sistemas de irrigação por aspersão (deriva e eficiência); * planejamento de instalações e construções agrícolas que abrigam animais domésticos; * aplicação mecanizada de produtos fitossanitários (via aérea ou terrestre); * implantação de quebra ventos (abrigos artificiais) Freqüência de Direção e Sentido: Para a análise estatística de freqüências devemos considerar algumas definições: * Vento Predominante: é a percentagem de tempo de duração dos ventos de maior duração em cada direção, que é determinado sobre a rosa dos ventos. * Vento Dominante: é a velocidade do vento (ao quadrado) multiplicada pelo tempo trans- corrido (determinado no anemograma). Determina- se pela seguinte expressão, D = v2.T onde, v é a velocidade do vento e T é o tempo de duração do vento. A freqüência pode ser estabelecida em rel ao vento predominante ou vento dominante (trabalho estatístico com “N” anos de registro), onde pode-se construir a Rosa dos Ventos com as Freqüências ou Probabilidades de ocorrência: F = n/N � P onde, F é a frequência de ocorrência; n é o número de ocorrências do evento no período; N é o número de observações da série analisada e P é a probabilidade de ocorrência (considerada igual a frequência). O ideal é ajustar os dados a uma Distribuição Estatística de Probabilidade. 7.8. APROVEITAMENTO DOS VENTOS No Brasil há zonas onde sopram ventos de média velocidade aproveitáveis para: * Produção de energia elétrica (para as principais necessidades); * Produção de potência motriz (bomba hidráulica e outros fins). Os motores eólicos justificam-se em zonas ventosas, sendo mais importante a constância do vento do que a sua intensidade. No Brasil as Regiões com maior potencial energético são: * Nordeste: 3.750 kWh/KW; * Litoral: 2.250 - 3.750 kWh/KW; * Lages: 750 - 2.250 kWh/KW. Para a avaliação do potencial eólico com fins de instalação de aero-motores, interessam os dados de velocidade do vento tomados entre 6 - 15 m acima da superfície do solo, que são plotados na curva de duração. Curva de duração: Determina-se a veloci- dade média para cada hora do dia, em todos os dias do ano. Se define níveis crescentes desde Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 79 zero até a máxima velocidade média observada, a intervalos predeterminados (5, 10 ou 20 km/h). Para cada nível soma-se o número de horas durante as quais a velocidade média horária do vento manteve-se igual ou superior ao valor da velocidade daquele nível. Obtém-se dessa maneira a duração do vento para cada nível. A partir desses dados é construído um gráfico em sistema cartesiano, na abscissa o tempo em horas e na ordenada os níveis de velocidade. Figura 5.48. Curva de duração da velocidade dos ventos Com a Curva de Duração, determina-se o número de horas ou dias do ano que poderá funcionar um aero-motor, quando se conhece suas velocidade limites operacionais (Velocidade de Partida = 10km/h e velocidade de Fechamento ou Parada = 50km/h). Constituem-se informações importantes do fabricante que deverão ser incluídas na Curva de duração da velocidade e na Curva de potência. Nenhum motor pode ser projetado para operar, eficientemente, em todos os níveis de velocidade. Apesar do alto potencial energético dos ventos de alta velocidade, o tempo de ocorrência durante o ano é reduzido, assim, o aero-motor construído para utilizar-se dessas velocidades passa a maior parte do ano inativo (ou ocioso). Por outro lado, a construção de aero- motores para operarem a baixa velocidade encontra limitações no projeto e insuficiente capacidade para realizar trabalho útil apreciável. Para que o motor possa atender, adequadamente, as condições de regime dos ventos de uma localidade, seu projeto deve se basear na velocidade nominal do vento. Velocidade Nominal do Vento: é o nível de velocidade do vento que torna máxima o potencial energético eólico anual, ou seja, torna máximo o produto do cubo da velocidade por sua duração (V3.Tdur). Curva do Potencial Eólico: sabendo-se que a potência é proporcional ao cubo da velocidade, elevam-se ao cubo as velocidade da Curva de Duração, obtendo-se a Curva de Duração da Potência. No gráfico assinala-se os pontos correspondentes às características operacionais (velocidade de partida e velocidade de fechamento). A área achurada corresponde as características de energia ou Energia Disponível anualmente. Em função dessas características pode-se determinar o número de horas ou onúmero de dias prováveis de funcionamento e a potência instalada. Figura 5.49. Curva do Potencial Eólico 7.9. VENTOS E AGRICULTURA O vento se constitui um fator ecológico com- ponente do clima, tendo sua aplicação ligada a: * Transpiração vegetal (ET); * Crescimento, reprodução e distribuição dos vegetais; * Absorção de CO2 (velocidade moderada repõe constantemente a quantidade de CO2), taxa de fotossíntese; * Efeitos mecânicos, com a quebra de planta, galhos e acamamento; * Disseminação de pólen, doenças e poluentes; Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 80 * Altas velocidades do vento com partículas de areia, a ação daninha é acentuada pelo “esmerilhamento” das folhas, galhos, e troncos; resultando em ferimentos que favorecem o ingresso de bactérias, vírus e fungos, além de diminuir a eficiência fotossintética. As plantas respondem de maneira diversa as variações da velocidade do vento: * Baixa Resposta: cereais de inverno; * Resposta Moderada: arroz, trevo, alfafa; * Alta Resposta: batata, morango, melão, melan- cia, frutíferas de clima temperado, fumo, chá. Cada cultura tem uma velocidade de vento ótima para seu desenvolvimento. Exemplo: um ex- perimento conduzido com morango mostrou que: * Velocidade mais favorável: ±1 m/s * Velocidade de 4 - 8 m/s o crescimento caiu 50% * Velocidade > 11 m/s o crescimento parou completamente * Velocidade diminuindo de 1,6 para 1,1 m/s ocorreu um aumento de 56% na produção. Concluiu-se que tanto a estagnação como altas velocidade são prejudiciais ao bom desenvolvi- mento da cultura. Vento moderado é o ideal (1,0 a 1,6 m/s). Além das influencias diretas, os dados de velocidade do vento de uma dada região tem im- portância na estimativa da ETP e Evaporação de superfícies livres, na irrigação por aspersão, influi nas características operacionais do aspersor, dimi- nuindo a uniformidade de distribuição da água, na eficiência de irrigação (valores baixos demandam maior quantidade de água e consumo de energia). 7.10. PROTEÇÃO CONTRA VENTOS Algumas alternativas para atenuar os efeitos negativos dos ventos são: a) Locais protegidos: evitar terrenos voltados para o quadrante Sul, nas regiões Sul e Sudeste, devido a predominância de ventos frios nesta direção. b) Quebra-Ventos (QV): são estruturas físicas que servem para reduzir a velocidade do vento. As várias formas de defesa contra o vento, feitas por meio de faixas compridas e estreitas, são orientadas perpendicularmente à direção dos ventos. Utilizam-se materiais os mais variados possíveis, tais como, barreiras mortas, paliçadas, muretas, esteiras, barreiras vivas, etc. O uso de QV é uma técnica importante para o controle do micro-clima e propiciam uma melhoria nas condi- ções ambientais, com reflexos nas produtividades agrícola e pecuária. Algumas doenças vegetais, como por exemplo, o cancro cítrico e a mancha aureolada do café são controlados eficientemente com a instalação dessas estruturas, que também produzem matéria prima florestal e embelezam a paisagem, além de outros objetivos específicos, tais como: a) redução da erosão eólica; b) prote- ção da sede a do campo; c) proteção de culturas; d) proteção de pomares; e) proteção de animais domésticos; f) produção de lenha, mourões e to- ras; g) proteção aos inimigos naturais das pragas; h) produção de pólen para as abelhas;i) abrigo para a fauna silvestre; j) embelezamento da pro- priedade; k) influi na amplitude térmica dos solos... Tipos de QV: Temporários (plantas anuais ou semi-perenes), Permanentes (árvores) e Mistos Espécies: devem adaptar-se as condições ecológicas, apresentar crescimento rápido (tam- bém utilizar espécies de crescimento lento), altas e eretas, com raízes pivotantes e profundas, apre- sentar boa retenção de galhos, folhas perenes, copa densa, resistência a pragas, levando em conta as características da madeira, possibilidade de produção de pólen para criação de abelhas. * Espécies Arbóreas: Casuarina (Casuarina equisetifolia); Leucena (Leucena leucocephala); Pinus (Pinus spp); Eucalipto (Eucaliptos spp); Bragatinga (Mimosa scabrella). * Espécies Arbóreas Perenes: Dracena (Dracena deremensis); Hibisco (Hibiscus spp); Banana Prata (Musa spp). Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 81 * Espécies Arbustivas Temporárias: Guandu (Cajanus cajan); Cana de Açúcar (Saccharum sp); Mamona (Ricinus sp) Limitação (desvantagen) dos QV: con- corrência com as culturas; efeito de sombreamen- to e competição por nutrientes (é difícil separar); podem ser hospedeiros de doenças; em caso de apresentarem falhas observa-se um aumento sensível na velocidade do vento, “Efeito Jato”. Planejamento de QV: A proteção depende de características dos quebra ventos: Orientação: mais perpendicular possível à direção predominante dos ventos na região. Altura (H): os QV reduzem a velocidade do vento numa amplitude proporcional a sua altura; a distância protegida é expressa em múltiplos da altura (H) dos quebra ventos. A extensão de proteção, realmente efetiva, à Sotavento (direção para onde vai o vento) da barreira raramente supera 15 a 20 vezes a altura da barreira (15 - 20.H) à Barlavento (direção de onde vem o vento) não passa de 2 a 5 vezes a altura (2 - 5.H). A percentagem de redução na velocidade do vento a distância H qualquer da barreira é relativamente constante e não depende da velocidade original do vento. Comprimento: QV muito curto o vento penetra pelos lados, o comprimento ideal é obtido pela razão entre o Comprimento/Altura, que deve ser de no mínimo 20:1. Densidade: deve apresentar média densidade, os melhores resultados têm sido alcançados com porosidade de 40 a 50%, dependendo do tipo de árvores e espaçamento entre elas. QV muito aberto não reduz o vento adequadamente, e muito fechado cria turbilhões. QV muito denso, reduz fortemente a velocidade do vento logo atrás da barreira, formando uma região de intensa turbulência; QV de média densidade, reduz menos próximo a barreira, mas é mais eficiente a médias distâncias. Composição dos QV: diz respeito às espécies que os compõem (árvores, arbustos variados). Estrutura: a forma transversal de um “V” invertido é a ideal, com árvores altas na linha central, flanqueadas nos dois lados por arbustos ou árvores de menor porte. Distância entre fileiras: Paralelos: 15 a 30 x H e Compartimentos: 30 x H. Sistemas de QV: os sistemas de defesa com QV podem ser planejados de 2 tipos: * Sistema em Paralelo: quebra ventos paralelos entre si e perpendiculares a direção do vento. * Sistema em Compartimentos: são mais eficazes e proporcionam a defesa do vento soprando em qualquer direção. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 82 8. UMIDADE DO AR 8.1. INTRODUÇÃO A atmosfera contém vapor d'água em percentagem bastante variável (0 a 4% em volu- me) no espaço e no tempo, devido a evaporação irregular das superfícies de água (rios, mares, solo...) e transpiração vegetal que são distribuí- dos irregularmente na superfície da Terra e também devido a disponibilidade de energia, que provém, principalmente, da Rs que apresenta variações tanto no tempo como no espaço. Num mesmo local, observa-se que a com- centração de vapor é máxima próximo à superfí- cie, diminuindo com a altitude na atmosfera. Em resumo, a quantidade de umidade do ar depende da disponibilidade de água e ener- gia, as quais são variáveis no tempo e no espaço. A umidade do ar é um elemento importante no ponto de vista físico efisiológico e no estudo Bioclimatológico (conforto ambiental e funções vitais). A molécula do vapor d'água é um arma- zenador de energia no meio atmosférico (calor latente; armazenamento de energia), transpor- tando energia de um local para outro, através da movimentação atmosférica (transporte de energia). A evapotranspiração das plantas é condicionada ao conteúdo de vapor d'água no meio atmosférico. É importante no ciclo de pragas e fitopa- tógenos influenciando na intensidade de ataque. Sendo assim, influi direta e indiretamente no rendimento agrícola das culturas. 8.2. PRESSÃO (TENSÃO) DE VAPOR Tensão de vapor ou Pressão de vapor é a parcela da patm devido o vapor d'água, então: patm = parseco + pvapor d'água patm = pas + pva .: pva = patm – pas onde, patm é a pressão atmosférica; pas é a pres- são do ar seco; pva é a pressão do vapor d'água. Três princípios básicos regem o vapor d'água na atmosfera: 1) "a pressão (tensão) de vapor (e) é pro- porcional à massa (m) de vapor retida pelo ar"; 2) "a uma dada temperatura existe um máximo de massa de vapor que o ar pode reter"; 3) "quanto maior a temperatura do ar maior é a massa de vapor que o ar pode reter". Figura 5.51. Gráfico Psicrométrico A pressão (tensão) de vapor pode ser: a) Pressão (tensão) atual (ea): é a pressão de vapor para uma condição qualquer de umidade no ar; ou seja, é a situação atual de vapor no ar. b) Pressão (tensão) de saturação (es): é a pressão de vapor com o ar saturado, ou seja, o ar encontra-se saturado de vapor, a partir daí ocorrerá a condensação do vapor (nuvens, nevoeiros...). Seu valor depende da temperatura. Pode ser obtida em tabelas determinadas em laboratório ou com equações (TETENS) em função da temp, como a seguir: ( )t3,237 t.5,710.1078,6es += , para t � 0oC ( )t5,265 t.5,910.1078,6es += , para t < 0oC onde, es é a tensão de saturação de vapor (mb) e t é a temperatura do ar (oC). Ponto de orvalho: é a temperatura em que o ar atinge a saturação, ou é a temperatura em que o déficit de saturação é nulo. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 83 8.3. DEFINIÇÕES BÁSICAS a) UMIDADE ATUAL (Ua): massa de vapor d'água por unidade de volume do ar, para uma condição qualquer. A umidade atual pode ser estimada pela expressão: 273t ea .288Ua + = onde, Ua é a umidade atual do ar (g/m3: gramas de vapor d'água por m3 de ar); ea é a tensão ou pressão de vapor (mmHg) e t é a temperatura do ar (oC). b) UMIDADE DE SATURAÇÃO (Us): massa de vapor d'água por unidade de volume do ar, quando o ar está saturado. A umidade de saturação pode ser estimada pela expressão: 273t es .288Us + = onde, Us é a umidade de saturação do ar (g/m3: gramas de vapor d'água por m3 de ar); es é a tensão ou pressão de saturação de vapor (mmHg) e t é a temperatura do ar (oC). Exemplo: Considerando uma temperatura de 24oC e ea igual a 19 mb. Calcule a Ua e Us. Solução: A Tensão de saturação para a temperatura do ar (es) será, �� � � �� � � +� � � � �� � � + == 243,237 24.5,7 t3,237 t.5,7 10.1078,610.1078,6es mb 84,29es = (x0,75) = 22,38mmHg Necessitamos converter a tensão atual em mmHg: ea = 19,0 mb (x0,75) = 14,25 mmHg Assim a umidade atual e a umidade de saturação serão, respectivamente, 27324 25,14 .288 273t ea .288Ua + = + = Ua = 13,82 g/m3 (g de vapor/m3 de ar) 27324 38,22 .288 273t es .288Us + = + = Us = 21,70 g/m3 (g de vapor/m3 de ar) c) UMIDADE RELATIVA (UR) É a relação entre a tensão atual de vapor e a tensão de saturação do ar relativa à temperatura do ar, ou é a rel entre a umidade atual e a de saturação do ar à temperatura do ar. 100. es eaUR = ou 100. Us UaUR = onde UR é a umidade relativa do ar (%); ea é a tensão atual de vapor, relativo à temperatura do ar (mmHg); es é a tensão de saturação de vapor, relativo à temperatura do ar (mmHg); Ua é a umidade atual do ar (g/m3) e Us é a umidade de saturação do ar para a temperatura do ar (g/m3). A partir desta equação, temos: 100 es.UR ea = e 100 Us.URUa = que são parâmetros usados no cálculo da Evapo- transpiração potencial e Balanço de Radiação. d) DÉFICIT DE SATURAÇÃO (D) É a tensão de vapor que falta para o ar alcançar a tensão de saturação, ou seja: D = es - ea onde, D é o Déficit de saturação (mmHg); es é a tensão de saturação (mmHg) e ea é a tensão de saturação de vapor do ar (mmHg). O Déficit de saturação tem grande influência no processo de evaporação e evapotranspiração. Exemplo: Calcule a umidade relativa UR e o défi- cit de saturação D na situação do exemplo anterior Solução: A umidade relativa do ar será, 100. 38,22 25,14100. es eaUR == UR = 63,67% O déficit de saturação será, D = es – ea = 22,38 – 14,25 = D = 8,13 mm Hg Exercício: Dado UR=62% e t=20ºC, obter Ua e Us Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 84 8.4. MEDIÇÃO DA UMIDADE RELATIVA DO AR 1. HIGRÓGRAFO DE CABELO Sua finalidade é registrar continuamente a umidade relativa do ar (UR). É constituído por um sensor (feixe de ca- belos humanos); sistema de alavancas; dispositivo de registro (tambor movido a mecanismos de relógio) e suporte com estojo. Figura 5.52. Higrógrafo A umidade relativa é correlacionada diretamente com a variação da tensão mecânica (dilatação e compressão) que sofre um feixe de cabelos (humanos) ao absorver ou perder umidade do ar, que é amplificada por um sistema de alavancas e registrado continuamente sobre uma tira de papel adequado sobre um tambor com mecanismo de relógio. Figura 5.53. Gráfico de registro da umidade do ar É colocado em nível, junto com o termógrafo no abrigo meteorológico. No manejo troca-se diária ou semanal- mente a fita de papel as 21 horas e deve-se dar corda no mecanismo de relógio. Se necessário deve-se carregar tinta na pena do registrador. Para a calibração usam-se dados do psicrômetro, ou câmaras especiais com umidade controlada. Seu gráfico fornece direta e continua- mente a Umidade Relativa do ar. 2) TERMO-HIGRÓGRAFO É usado para registrar continuamente a temperatura do ar à sombra e a umidade relativa do ar. A temperatura do ar é mensurada com sensores bi-metálicos, e a medida da umidade relativa com um sensor de feixe de cabelos humanos. Figura 5.54. Termo-higrógrafos É colocado dentro do abrigo meteorológico em nível. Seu manejo consiste na troca da fita de papel (diária ou semanalmente) durante a leitura das 21 horas e dá-se corda no mecanismo de relógio. Para a calibração usam-se dados de outros equipamentos ou câmaras especiais com temperatura e umidade controladas. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 85 Figura 5.55. Gráfico do Termo-higrógrafo para registro da umidade do ar e da temperatura do ar O gráfico fornece registros contínuos de temperatura do ar à sombra e umidade relativa do ar. 3) HIGRÔMETRO Seu funcionamento é semelhante ao higró- grafo (sensor é um feixe de cabelo humano), sem- do a medida ampliada por alavancas e registrada em uma escala graduada (não registra em gráfico) As medidas (leituras) de UR do ar são realizadas diretamente na escala graduada nos horários convencionais de observação (9, 15 e 21 horas). Figura 5.56. Higrômetro 4) PSICRÔMETRO Para determinar a "Depressão psicromé-trica" (diferença de leituras da temperatura do termômetro de bulbo seco e termômetro de bulbo úmido: t - tu). A partir desta pode-se estimar indiretamente a Umidade Relativa do ar, mediante o emprego da expressão abaixo: 100. es )tut.(s´eUR −γ−= onde, UR é a umidade relativa do ar (%); e's é a tensão de saturação de vapor à temperatura do termômetro de bulbo úmido (mmHg), obtida em tabelas ou equações de TETENS; g é a constante psicrométrica que depende do tipo de psicrômetro (0,59: não ventilados); es é a tensão de saturação à temperatura do ar no termômetro de bulbo seco (mmHg), obtida em tabelas ou equações de TETENS; t é a temperatura do ar no termômetro de bulbo seco (oC); tu é a temperatura do termômetro de bulbo úmido (oC). Figura 5.57. Psicrômetro não aspirado Uma outra forma de determinar a UR é através das Tabelas PSICROMÉTRICAS, conheci- das as temperatura "t" e "tu" no psicrômetro, como a seguir: Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 86 TABELA PSICROMÉTRICA Por exemplo: Leu-se no psicrômetro os seguintes dados: T = 24 oC e tu = 20 oC. Na tabela psicrométrica podemos obter diretamente a umidade relativa do ar sendo igual a 68%. Pela aplicação das equações temos os seguintes cálculos: a) Tensão de saturação p/a temperatura do bulbo úmido (e’s). �� � � �� � � + = tu3,237 tu.5,7 10.1078,6s'e mb38,2310.1078,6s'e 203,237 20.5,7 == �� � � �� � � + (x0,75) e’s=17,54mmHg b) Tensão de saturação p/a temperatura do ar (es) �� � � �� � � + = t3,237 t.5,7 10.1078,6es mb84,2910.1078,6s'e 243,237 24.5,7 == �� � � �� � � + e’s=22,38mmHg c) Tensão atual de vapor (ea) )tut.(59.0s'eea −−= mmHg18,15)2024.(59.054,17ea =−−= E assim podemos calcular a UR e umidades absolutas 100. es )tut.(59.0s'eUR −−= %82,67100. 38,22 )2024.(59.054,17UR =−−= A umidade atual e de saturação: 3m/g72,14 27324 18,15 .288 273t ea .288Ua = + = + = 3m/g70,21 27324 38,22 .288 273t es .288Us = + = + = O déficit de saturação: D = es – ea = 22,38-15,18 = 7,20 mmHg 8.7. UMIDADE RELATIVA DO AR MÉDIA Segundo o INMET o padrão nacional: 4 2.UR + UR + UR = UR 21159 onde, UR é a umidade relativa do ar média diária (%); UR9 é a umidade relativa do ar medida às 9 horas (%); UR15 é a umidade relativa do ar medida às 15 horas (%); UR21 é a umidade relativa do ar medida às 21 horas (%); Exemplo: No dia 23/10 foram obtidas as seguintes leituras em um higrômetro: 63% às 9 h, 58% às 15 h e 82% as 21 horas. Qual é o valor da UR média diária (%). 4 82.25863 4 2.UR + UR + UR = UR 21159 ++= UR = 71,25% Exercícios: 1) Obtenha a UR média diária a partir das medidas no psicrômetro listadas a seguir: Horário (h) Tbs (oC) Tbu (oC) 9:00 16 15 15:00 24 19 21:00 18 16 2) Em qual das situações existem uma maior quantidade de vapor d´água no ar? A) UR = 60% e temperatura de 15º C B) UR = 40% e temperatura de 28º C 3) Obtenha a umidade de saturação, umidade atual e a umidade relativa do ar, dados: temperatura 18º C e ea = 15 mmHg. 4) Foram efetuadas as seguintes leituras: TERMÔMETROS HORÁRIOS DE LEITURAS T (oC) 9:00 hs 15: hs 21:00 hs Tbs 21,0 25,5 20,2 Tbu 19,9 20,6 17,8 Máxima 25,5 Mínima 18,8 Baseado nos dados acima calcular a Temperatura média do ar e a Umidade Relativa do ar, média diária, em décimos e porcentagem. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 87 9. EVAPORAÇÃO 9.1. INTRODUÇÃO Constitui-se em uma fase importante e contínua do ciclo hidrológico (trajeto da água no sistema terra-atmosfera). Sua previsão é importante por ser elemento decisivo em projetos que envolve a água, como por exemplo: açudagem, irrigação, condução de água em canais, etc. É também de interesse em várias áreas de aplicação, tais como: * Para os Meteorologistas por sua influência nas características das massas de ar da atmosfera e por ser condicionador do balanço energético da mesma. * Para os Hidrologistas é importante conhecer a perda de água em canais, rios e reservatórios e para saber a quantidade de água a ser adicionada pela irrigação. * Para os Engenheiros Florestais é importante seu conhecimento para a secagem de madeira, relva ou parte vegetativa das árvores. * Para os Fitopatologistas é importante pela sua relação com a expansão de determinadas doenças de plantas ligadas ao grau de umidade da superfície vegetal. * Para os Botânicos e Fisiologistas é importante o conhecimento das perdas de água das plantas em relação ao seu crescimento. * Para os Agrônomos no conhecimento das perdas de água do solo e cultura (Evapotranspiração), principalmente para o manejo da irrigação e previsão de safras. 9.2. DEFINIÇÕES a) EVAPORAÇÃO (Ev) é o conjunto de fenôme- nos físicos que transformam em vapor a água precipitada sobre a superfície da Terra (solo, mares, lagos, rios e reservatórios de acumulação de água, etc.). Fisicamente é a passagem lenta da água, do estado líquido para o vapor. Envolve gasto de energia: 1gH2O (líq) � 585 cal � vapor b) TRANSPIRAÇÃO (T) é o processo de evapora- ção decorrente de ações fisiológicas dos vegetais que através das raízes retiram do solo a água necessária às suas atividades vitais, restituindo parte dela à atmosfera sob a forma de vapor que se forma na superfície das folhas. Fisicamente é igual à evaporação: passagem lenta da água do estado líquido para o vapor. c) EVAPOTRANSPIRAÇÃO (ET) é o conjunto da evaporação da água do solo mais a transpiração das plantas. 9.3. GRANDEZAS CARACTERÍSTICAS E UNIDADES a) Perdas por Evaporação/Transpiração: É a quantidade total de água (lâmina ou espessura) evaporada/transpirada por unidade de área hori- zontal, num certo intervalo de tempo. Expressa em "mm" (representa a espessura da lâmina evapora- da no local). Exemplo. 30 mm evaporou em 6 dias b) Intensidade de Evaporação/Transpiração: ou apenas evaporação/transpiração é a velocidade média com que se processa o fenômeno (mm/h; mm/dia; mm/dec; mm/mes; mm/ano). Do exemplo anterior temos: Ev = 30 mm/ 6 dias = 5 mm/dia. 9.4. FATORES QUE INFLUEM NA EVAPORAÇÃO * Da atmosfera: Demanda (poder) evaporativa da atmosfera (Rs, Temp, Ventos e UR do ar). Caracterizam o estado do ar atmosférico próximo a superfície evaporante (Poder evaporativo do ar) * Da superfície evaporante: natureza da superfície (superf. livre para a atmosfera, solo, vegetação...). Caracterizam o estado da superfície evaporante e sua capacidade de manter a evaporação. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 88 9.5. EVAPORAÇÃO NA SUPERFÍCIE LIVRE EXPOSTA À ATMOSFERA Superfície líquida livre exposta à atmos- fera, pode ser um lago, rio, oceano, reservatórios, copo d’água, etc., ou seja à qualquer massa líquida em contato direto com a atmosfera. A Ev, neste caso, é a passagem lenta da água do estado líquido para o de vapor que se efetua na superfície livre do líquido, com absorção de calor ou energia (aproximadamente 585 cal por grama de H2O evaporada). A energia gasta é proveniente da Rs, ar circulante, ou energia armazenada na superfície líquida. A evaporação realiza-se a qualquer temperatura, basta existir energia. Figura 5.58. Evaporação de uma superfície livre de água. A Força de coesão do liquido é bem maior que a do vapor. A energia cinética quebra a força de coesãosendo função da temperatura, favorecendo a evaporação. 9.6. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS da Evapora- ção de um líquido para a atmosfera Dalton estudando a evaporação de um líquido para a atmosfera, chegou empiricamente à várias leis, expressas pela seguinte equação: patm P) -K.S.(Pmax = t m = V onde, V é a velocidade de evaporação que é a razão entre a massa "m" do líquido evaporante no intervalo de tempo "t"; K é um coeficiente que depende da natureza do líquido e do ar, do estado de agitação da atmosfera, etc (K encerra várias leis); S é a área da superfície livre do líquido; Pmax é a pressão máx de vapor na superfície, à temperatura do líquido; P é a pressão de vapor do líquido considerado, existente no ar atmosférico (tensão parcial de vapor); patm é a pressão atmosférica reinante no momento. ENUNCIADOS DA LEI DE DALTON * "A velocidade de evaporação "V" é diretate proporcional à volatilidade do líquido". * "A velocidade de evaporação "V" é diretate proporcional à superfície do líquido evaporante". * "A velocidade de evaporação "V" é diretate proporcional à temperatura do líquido evaporante" (maior temperatura aumenta a Ec e as moléculas rompem o vínculo entre elas (coesão) com mais facilidade). * "A velocidade aumenta com a agitação do ar" (vento arrasta o ar saturado que cobre a superfície do líquido, diminuindo a pressão do líquido "P" na atmosfera). * "A velocidade de evaporação "V" é diretate proporcional à diferença "Pmax - P" no instante de tempo considerado". (Pmax – P) é o fator de evaporação. Se Pmax=P: não ocorre evaporação (ar saturado); Se P=0: evaporação instantânea (vácuo). Quanto mais seco estiver o ar, maior é a evaporação. * "A velocidade de evaporação "V" é inversate proporcional à pressão atmosférica. Porém como esta apresenta uma pequena variação sua influência será pequena. OBS: A principal fonte de energia para o processo de evaporação é a radiação solar, sendo assim a evaporação varia com a latitude, estação do ano, hora do dia e nebulosidade (estado do céu). 9.7. CÁLCULO DA EVAPORAÇÃO DE SUPERFÍCIE LIVRE DE ÁGUA. Estas fórmulas são chamadas de fórmulas do tipo Dalton, pois são deduzidas dos enunciados Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 89 acima e tem como variáveis principais o vento, a temperatura e a pressão atmosférica. São fórmulas empíricas que apresentam a seguinte forma: Ev = f(k; es - e; v) a) Meyer (EUA): foi desenvolvida para clima temperado. ) 609,1 v1).(ees.(36,0Ev +−= onde, Ev é a evaporação (mm/dia); v é a velocidade média do vento a 8 metros de altura sobre a superfície da água (Km/dia); es é a tensão de saturação de vapor (mb); e é a tensão atual de vapor (mb). b) Lugeon: para clima tropical. ) es-patm 760)( 273 Tmm+273 ea)(-0,398nd(es = Ev onde, Ev é a evaporação (mm/mês); es é a tensão de saturação de vapor (mmHg); ea é a tensão atual de vapor (mmHg); nd é o número de dias do mês (dias); Tmm é a temperatura média mensal das máximas diárias (oC); patm é a pressão atmosfera média mensal (mmHg). c) Serviço Meteorológico da URSS: Apli- cação para regiões frias. 0,072.v)+ea).(1-s0,15.nd.(e = Ev onde, Ev é a evaporação (mm/mês); nd é o número de dias do mês (dias); es é a tensão de saturação de vapor (mmHg); ea é a tensão atual de vapor (mmHg); v é a velocidade do vento medido a 2 metros de altura da superfície (km/dia). d) outras: FITZGERALD; ORSTON... Cada uma das equações citadas aplica-se para determinada região para a qual fora derivada. Em outras regiões necessitam de ajustes ou correções de seus coeficientes. 9.8. EVAPORAÇÃO DO SOLO Teoricamente os mesmos fatores da Evaporação de uma superfície livre d'água vão condicionar Evaporação no solo. Porém no solo a Ev é mais complexa: além da diferença (es-ea), ainda existe a diferença de tensão de vapor na superfície da água retida no solo e a tensão de vapor contidos nos poros do solo. A tensão de vapor na superfície da água retida no solo depende dos seguintes fatores: 1. Curvatura (negativa) da superfície líquida que vai diminuir a tensão de vapor. 2. Concentração de sais na solução. 3. Adsorção (adesão da água às partículas do solo). Entre outros fatores importantes temos : 1. Grau de umidade do solo 2. Natureza do solo. A vegetação diminui a perda por evaporação más é compensada pela transpiração da vegetação que poderá ser alta, chegando a aumentar a perda total. Evaporação de solos nus Para um determinado valor de poder Eva- porativo da atmosfera, a intensidade de evapora- ção de um solo é função entre outras coisas da umidade do solo, reposta pela água proveniente do lençol freático por capilaridade (franjas capilares), que depende da natureza do solo. Neste caso têm-se três situações: 1. Solo não saturado: franja não atinge a superfície: evaporação diminui até ficar nula. 2. Solo não saturado: franja atinge a superfície: sempre ocorre a evaporação (menor do que a potencial) 3. Solo saturado: evaporação atinge valores máximos (Evaporação Potencial). Estimativa da evaporação em solos nus Pode-se estimar a Ev em solos nus a partir da Fórmula de Turc. Verificou-se que para períodos curtos (10 dias ou 1 mês) a Ev de um solo nu é função direta do poder evaporante da atmosfera e das precipitações. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 90 2) L a + P( + 1 a + P = E onde, E é a evaporação no solo nu em 10 dias (mm/dec); P é a precipitação total no decêndio (mm/dec); a é quantidade máx de água que se evapora do solo em 10 dias (mm) (a = 10 mm para solo úmido e 1 mm para solo seco); L é o Fator Hélio-Térmico: )Rg2. + T.( 16 1 = L em que, T é a temperatura média do ar do decêndio (oC); Rg é a radiação solar global média do decêndio (cal/cm2/dia). 9.9. OBSERVAÇÃO DA EVAPORAÇÃO A avaliação direta do poder evaporante da atmosfera é realizada pela medida das taxas de evaporação (Ev): em pequenas superfícies de água (EVAPORÍMETROS); em superfícies úmidas de papel de filtro (EVAPORÍMETROS DE PICHÊ); ou em superfícies de porcelana porosa (ATMÔMETRO DE LIVINGSTONE). TANQUES DE EVAPORAÇÃO (Evaporímetros): Utilizados largamente no mundo todo para: * medir a capacidade de evaporação da atmosfera; * medir a evaporação de superfícies livres. A vantagem de sua utilização é por constituir-se num método simples e barato de obter-se dados que de outra forma seriam de alto custo monetário e operacional. Tipos de Tanques: São vários os tipos, variando com: a forma geométrica; o tamanho; a exposição no terreno; etc.. Figura 5.59. Tipos de tanques de evaporação. * Tanque USWB - Classe A: instalado sobre a superfície do solo; * Tanque Australiano: encerrado em recipiente maior contendo água e enterrado no solo; * Tanque Padrão Inglês (B.S.): enterrado no solo; * Tanque do Serviço Geológico dos EUA (USGS): flutuante. O principal Evaporímetro em uso no Brasil, para fins agrícolas é o “Tanque Classe A”, que tem mostrado ser um método padrão de estimativa da evaporação em superfícies livres de água, bem como da Evapotranspiração. Tanque de Evaporação Classe A (USWB) Usado para determinar a evaporação de uma superfície livre de água, num período qualquer, em mm/dia, mm/mês... Constituí-se num recipiente circular com diâmetro de 1,22 m x 25,4 cm de altura, construído em chapa galvanizada no 22. É assentado sobre um estrado de madeira com dimensões de 0,10 x Meteorologia e Climatologia.Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 91 0,05 x 1,24m. Para evitar a entrada de galhos, objetos estranhos, animais beberem água, coloca- se tela de malha hexagonal, o que provoca a redução da evaporação, devendo-se corrigir a evaporação, multiplicando-se o valor obtido por 1,144; deve-se evitar a colocação de tela. Figura 5.60. Tanque classe A e acessórios de leitura de nível d’água (micrometro de gancho e poço tranqüilizador). É instalado sobre estrado de madeira (5x10x124 cm), nivelado sobre o terreno. O estrado é pintado de branco (tinta óleo). Nas estações meteorológicas o estrado é assentado sobre o terreno gramado e plano. Nas estações, geralmente instala-se 2 tanques iguais, 1 utilizado para as determinações e o outro auxiliar (depósito de água com torneira). Deve estar equipado com termômetro de máx e mín flutuantes e com um anemômetro totalizador. Figura 5.61. Instalação tanque classe “A”. Observa-se: anemômetro, termômetros flutuantes e poço tranqüilizador. Quanto ao manejo e operação, coloca-se água limpa entre os níveis: até 5 cm da borda superior; e 7,5 cm o nível máximo admitido. Figura 5.62. Faixa ideal de leitura em um tanque classe “A”. A variação de nível devido a chuva ou evaporação é medida um micrômetro de gan- cho, com precisão de 0,01 à 0,02 mm, bem como mediante outros dispositivos, como por ex., bóia. Figura 5.63. Dispositivos de medida da evapora- ção no tanque classe “A”. a) Micrometro de gancho b) Bóia com régua milimetrada. As leituras são realizadas todos os dias às 9 horas e, a diferença de nível de duas leituras consecutivas nos dá a evaporação. Pode-se utilizar a seguinte expressão: )j()j()1j()j( RLLEv +−= + onde, Ev(j) é a evaporação do dia j (mm/dia); L(j+1) é a leitura do tanque no dia j+1 (mm); L(j) é a leitura do tanque no dia j e R(j) é a reposição de água ou precipitação no dia j (mm) caso tenha ocorrido. Exemplo: dia 19/03/1980 às 09h00 a leitura do nível de água foi 10,04 mm; no dia 20/03/1980 às 09h00 a leitura foi de 6,64 mm A Ev do dia 19/03/1980 será: Ev = 10,64 - 6,04 (+ 0) = 4,60 mm (não houve reposição nem chuva) A restauração (reposição) do nível d’água no tanque, para os limites fixados, é feita no Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 92 momento da observação, logo após a leitura, ao passo que o valor da precipitação não, pois este é lido no pluviômetro junto com a segunda leitura do tanque. Por esse motivo acompanha o tanque Classe A, um pluviômetro para podermos efetuar a correção devido a precipitação, por exemplo: no dia 08/01/1982 às 9:00 h a leitura foi 15,00 mm; no dia 09/01/1982 às 9:00 h a leitura foi 14,00 mm; a chuva no dia 08/01/1982 foi igual a 6,0 mm. A evaporação do dia 08/01/1982 será: Ev = 15,00 + 6,0 - 14,00 = 7,00 mm Exercício: Determine a evaporação (Ev) para o dia 01/01 a partir das seguintes informações: no dia 01/01 a leitura do nível da água no tanque Classe A foi de 10 mm no dia 02/01 foi de 12 cm e a reposição (R) foi igual a 4,7 litros de água. As leituras devem ser corrigidas, pois a perda de água por evaporação (Ev) no Tanque é superior a ocorrida para condições de superfície infinita de água, a diferença se deve ao vento e temperatura, sendo que a correção varia de 0,60 à 0,80, sendo em média igual a 0,70. Ereal = 0,70.Etanque O coeficiente de correção deve ser determinado para cada local específico. Os dados são submetidos à tratamento estatístico; A apresentação dos resultados é feito na forma de Tabelas e Gráficos; Traçado das curvas de iguais perda por evaporação médias diárias, mensais, sazonais e anuais; a partir das estimativa da evaporação que pode ocorrer num determinado intervalo de tempo (Freqüência). * Acessórios do Tanque de Evaporação: Poço Tranquilizador; Micrômetro de Gancho; Anemômetro Totalizador; Termômetros Flutuantes (máx e mín); Pluviômetro (é o próprio da estação) Figura 5.64. Acessórios do tanque classe “A”. * Precisão dos Tanques de Evaporação: deve- se ficar atento aos seguintes problemas: * Animais que possam beber água (pássaros, cavalos, bovinos); * Crianças possam tomar banho; * Erro no pluviômetro, devido chuvas fortes (15 - 25%); * Borda livre fora dos limites; * Evitar a entrada de gordura na água (herbicidas, inseticidas). Diferença entre a Ev do Tanque Classe A e a Evaporação nas Culturas: esta diferença é devido à: - cor do tanque é diferente da cor das plantas, conseqüentemente a absorção de energia para manter a Ev será diferente; - perfil do vento (maior e mais turbulento no tanque Classe A); - calor no Tanque (a temperatura é maior no tanque, conseqüentemente a evaporação é maior) - Período que ocorre a evaporação (no tanque ocorre evaporação durante o dia e a noite, nos vegetais ocorre somente durante o dia); Correlação com a Evapotranspiração Potencial (ETP), o Tanque não oferece nenhuma resistência a evaporação como os estômatos (no caso de transpiração excessiva), desta forma podemos correlacionar somente com a ETP, mediante o uso de um coeficiente de correção cujo valor médio é igual a 0,9: ETP = kt.Ev(TCA) (kt = 0,9) Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 93 Evaporímetro de Pichê Para medir a evaporação potencial, tendo em vista fazer a comparação entre condições de evaporação de diferentes lugares (Regiões). Constitui-se em um tubo de vidro cilíndrico com 35 cm de comprimento e 1,50 cm de diâmetro externo, graduado em 30 cm3, com divisões de 0,10 cm3. Uma extremidade fechada (superior) outra aberta (inferior) com corte transversal em ângulo reto. Também apresenta um “olhal” para suspensão do aparelho e uma presilha para fixação do disco de papel absorvente. O disco de papel absorvente tem diâmetro de 30 mm e espessura de 0,50 mm. Figura 5.65. Evaporímetro de Pichê. É instalado dentro do abrigo meteorológico suspenso pelo “olhal” ou garra fixa num suporte de madeira, em posição vertical. Para seu manejo enche-se o tubo com água destilada (ou da chuva), tampa-se a extremidade com o disco de papel absorvente. A água embebe o papel e evapora-se para o ambiente, progressivamente, diminuindo o nível dentro do tubo. A quantidade evaporada é obtida pela diferença de 2 leituras consecutivas, em mm. A observação é feita uma vez por dia, na observação das 9 h, devendo-se colocar água antes que o tubo fique vazio (caso o tubo esteja vazio deve-se anular a leitura daquele dia. O disco de papel deve ser trocado quando danificado, em caso de locais próximo a orla marítima, deve-se trocar o mesmo com maior freqüência. Os dados obtidos devem ser submetidos a tratamento estatístico. A apresentação dos resultados é feita através de tabelas ou gráficos. Traça-se as curvas de igual evaporação (Ev). Exercícios: 1) No dia 10/02/86 no Posto de Meteorologia da EPAGRI-Lages-SC, compreendendo um intervalo de 24 horas, afetuou-se as seguintes leituras no Tanque evaporímetro classe A e pluviômetro: Ev? Ontem (L(j-1)) Precipitação (P(j)) Hoje (L(j)) 32,72 mm 1,70 mm 33,40 mm 1)(j-(j)(j)(j) L - P + L = Ev 2) Em um evaporímetro tanque CA efetuou-se as seguintes medições: leitura do nível do tanque no dia 19/03/1999 às 9:00 horas igual a 6,64 mm e leitura no dia 20/03/1999 igual a 10,14. Determine a Ev do período. 3) Em um evaporímetro tanque CA efetuou-se as seguintes medições: leitura do nível do tanque no dia 08/01/1999 às 9:00 horas igual a 15,56 mm e leitura no dia 09/01/1999 igual a 14,11 e a chuva lida no dia 09/11/1999 foi de 5 mm. Determinea Ev do período. 4) Em um evaporímetro tanque CA (diâmetro de 1,21 m) efetuou-se as seguintes medições: leitura do nível do tanque no dia 01/03/2000 às 9:00 horas igual a 10,24 mm e leitura no dia 02/03/2000 igual a 12,76 e a reposição foi de 4,7 litros. Determine a Ev do período. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 94 10. EVAPOTRANSPIRAÇÃO (ET) ET = Evaporação (solo) + Transpiração (plantas) É um processo vital para as plantas: a água é o veículo para absorção de nutrientes e constitui-se elemento extremamente necessário ao seu metabolismo (fotossíntese e outras funções vitais). 10.1. DEFINIÇÃO: ET é o conjunto de processos físicos e fisiológicos que causam a transformação da água em vapor d'água e sua passagem simultânea da superfície do solo e das plantas para a atmosfera. CHANG (1968): “ET é a evaporação de toda a superfície de um certo local mais a transpiração das plantas ali existentes”. Para sua ocorrência é necessário: - Energia (líquido para vapor ~ 585 cal/g), forne- cida pela Radiação Solar ou ar circundante. - Água disponível no solo: fornecida pela precipitação e/ou irrigação. - Mecanismo de transmissão da água no sistema solo-planta-atmosfera: diferenças de potenciais da água nas partes do sistema. A água move-se do maior para um menor potencial e quanto maior a diferença de potencial da água no sistema mais acelerado será o movimento da água. Quanto maior a demanda evaporativa da atmosfera, menor o potencial da água na atmosfera e maior a diferença de potencial tendendo a acelerar o processo de evaporação. 10.2. IMPORTÂNCIA: para saber o consumo de água: durante o ciclo e estádios de desenvolvi- mento das plantas cultivadas. Também dá suporte para: a) manejo da irrigação (dose e frequência); b) ajuste de épocas de semeadura (períodos críticos água x períodos de disponibilidade hídrica; c) regionalização de cultivares (Zoneamento agroclimático); d) previsão de safras (potencial de rendimento em função das disponibilidades hídricas), (Y/Yo = f( ETr/ETm)); e) classificação de climas. 10.3. FATORES QUE INFLUEM NA ET São relacionados ao clima, planta e solo: - Do clima (atmosfera): Demanda evaporativa (Rs, temperatura, ventos e UR) e pluviometria. - Da cultura (planta): Variedade ou cultivar (arquitetura, número de estômatos, necessidade hídrica, eficiência de uso da água, capacidade de extração de água), desenvolvimento fisiológico (estagio de desenvolvimento), densidade de cobertura (IAF), albedo, etc. - Do solo: Textura e estrutura (capacidade de retenção da água no solo), umidade, condutivi- dade hidráulica, nível freático e salinidade, etc. 10.4. DEFINIÇÕES PARA O ESTUDO DA ET: dependem das condições da avaliação da ET. a) EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL (ETP): quantidade de água que evapotranspira uma superfície natural, com uma cultura verde (bem adaptada ao local), de porte baixo, cobrindo completa e uniformemente a superfície do solo, em plena atividade vegetativa e onde as suas necessidades hídricas são plenamente satisfeitas (umidade próximo à capacidade de campo). Neste caso são as condições climáti- cas que determinam o valor da ET. A ETP serve de referencia da perda de água da vegetação em comparações com diferentes locais. A cultura de referência geralmente é uma gramínea (grama batatais, Paspalun notatun). Em regiões temperadas: cultura mais resistente ao frio (alfafa, Medicago sativas) (arquitetura semelhante culturas cultivadas e manter-se verde no inverno). b) EVAPOTRANSPIRAÇÃO MAXIMA (ETm): é a quantidade máxima de água que evapotranspira uma determinada cultura em pleno desenvolvi- mento (sem restrições fisiológicas: patógenos, pragas e nutrição) e com suas necessidades hídricas plenamente satisfeitas. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 95 OBS: Estabelece o nível ideal de relacionamento entre planta, solo e atmosfera: resultando em produção máxima possível (quanto à água). Sua estimativa pode ser feita com o método proposto pela FAO, multiplicando a ETP por um coeficiente Kc (coeficiente de cultivo): ETm = Kc.ETP onde, ETm é a evapotranspiração máxima da cultura, ETP é a evapotranspiração potencial do local em questão e Kc é o coeficiente de cultivo. Coeficiente de Cultivo ou de Cultura (Kc): é determinado experimentalmente para diferentes culturas, em seus vários estádios de desenvolvimento (Tabela FAO n.24). COEFICIENTE DE CULTIVO - Kc No inicio do estabelecimento (Estádio I) o Kc é pequeno (pois uma pequena fração do solo é coberta pela cultura que tem um sistema radicular pouco desenvolvido); Na fase de pleno desenvolvimento, o valor de Kc atinge o seu máximo, podendo assumir valores maiores do que 1. Se Kc > 1, a cultura está perdendo mais água que a grama batatais, ambas submetidas as mesmas condições climáticas. O Kc é variável nos diferentes estádios da cultura: variação do IAF (índice de área foliar) e desenvolvimento do sistema radicular. A ETm então poderá ser inferior igual ou superior a ETP. Figura 3.66. Variação do coeficiente de cultivo (médio) durante o ciclo de culturas anuais c) EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL (ETr): quanti- dade de água que evapotranspira uma determina- da cultura nas condições reinantes de atmosfera e de umidade do solo prevalecentes no local. Independe da cobertura da área, porte da planta e condições de umidade do solo, ou seja, ocorre em qualquer condição. A ETr poderá ser igual ou inferior a ETm. Se há água disponível no solo e o fluxo de água na planta atender a demanda evaporativa da atmosfera , ETr = ETm. Se houver restrição de água no solo e a demanda evaporativa da atmosfera não for atendida, ETr < ETm. De uma forma geral tem-se: ETr � ETm. A relação evapotranspiração real e a eva- potranspiração máxima (ETr/ETm) é denominada evapotranspiração relativa, e é um importante índice da falta de água para as plantas e para a previsão do rendimento das culturas (alta correlação entre disponibilidade de água no solo e produtividade). A situação ideal para a cultura é que ETr seja igual a ETm (ETr=ETm). Toda a vez que ETr<ETm, existe restrição de água e a produtividade pode ser afetada. 10.5. RELAÇÃO ENTRE A ET E SUPRIMENTO DE ÁGUA NO SOLO. O solo é um reservatório ativo que controla a taxa de perda de água pelas plantas. Figura 3.67. Relação entre evapotranspiração relativa (%) e água disponível no solo (%) em três condições de demanda evaporativa. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 96 Situação A (ETP < 5 mm/d – Demanda evaporativa baixa) a planta consegue extrair água ate níveis bem baixos de água no solo. As condições climáticas determinam a evapotrans- piração por muito tempo, isto é, durante o consumo da água disponível. Neste caso, a velocidade da evapotranspiração é menor que a velocidade do movimento da água até as raízes. Situação C (ETP > 7,5 mm/d – Demanda evaporação alta) mesmo com bastante umidade no solo, a planta não consegue extraí-la numa ta- xa compatível com as suas necessidades hídricas, resultando em fechamento temporário dos estô- matos para evitar o dessecamento das folhas. Neste caso a velocidade da evapotranspiração é maior do que a velocidade do movimento da água no solo até as raízes. Essa condição ocorre nor- malmente nas horas mais quentes do dia. O solo (propriedades físico-hídricas) passa a ocupar um lugar importante na determinação da evapotranspiração. Resumo: A evapotranspiração é contro- lada pela demanda evaporativa da atmosfera e pela umidadedo solo que influi na condutivi- dade hidráulica do mesmo. Em geral, para um mesmo solo quanto menor a umidade menor será sua condutividade hidráulica. 10.6. AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA ET A avaliação experimental da evapotranspi- ração consiste em isolar uma parcela de cultura e medir as entradas e saídas de água nesta parcela. a) Métodos diretos: Balanço hídrico, lisímetros e parcelas experimentais no campo (controle da umidade do solo). b) Métodos indiretos: Evaporímetros e equações (Empíricas ou conceituais). BALANÇO HÍDRICO Consiste num sistema contábil de monito- ramento da água do solo resultante da aplicação do princípio da conservação da massa, para a água num volume de solo vegetado. Assim a partir da equação hidrológica da continuidade temos para um balanço que integra a planta para estudos de Evapotranspiração a seguinte expressão: ARDIPET ∆±±±+= onde, ET é a evapotranspiração; P é a precipita- ção; I é a irrigação; D é a drenagem (- para perco- lação para fora do vol de solo considerado e + quando ocorre ascensão capilar); R é o escoa- mento superficial (+ para entrada e – para a saída de água do volume de solo considerado); ∆A é a variação do armazenamento (+ quando aumenta a umidade e – quando diminui a umidade do solo). Limitações: dificuldade de mensurar (medir) a drenagem e a variação de umidade no solo; são demorados e de difícil execução (principalmente em períodos extremos: de seca ou de muita chuva). LISÍMETROS O lisímetro consta de um tanque (alvenaria ou cimento amianto, etc) com terra, enterrado no terreno, dentro da área na qual será plantada a cultura da qual se deseja medir a evapotranspiração. Sua área superficial não deve ser menor que 1 m2. A profundidade deve ser superior a 0,5 m sendo ideal 1 m para culturas anuais. O solo deve ser colocado obedecendo as camadas de seu perfil original. Deve ter um sistema de drenos para medir a drenagem profunda (percolação). Figura:3.68. Parcelas de culturas isoladas: Lisímetros Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 97 Sua vantagem está na precisão dos resultados e a desvantagem é ser de difícil instalação e calibração. São restritos à pesquisa ficando a cargo das universidades e institutos de pesquisas. Quanto aos tipos de Lisímetros temos: a) Lisímetro de balança: a ET é obtida pela diferença de peso entre duas leituras (pesagens), considerando as quantidades de entrada (precipi- tação e/ou irrigação) e saída de água (drenagem). São constituídos de uma cuba aberta em sua parte superior, cheia de terra do solo que se quer avaliar e instalado sobre uma balança, onde determina-se a diferença de peso a intervalos de tempo ∆t. São de difícil construção, manuseio e calibragem. Custo de instalação relativamente alto, por isso são raros. São os que apresentam os melhores resultados (maior precisão) qdo calibrados corretamente. Figura 3.69. Esquema de um lisímetro de balança b) Lisímetro de drenagem: A variação da umidade do solo é determinado pelas medidas de umidade do solo a diferentes profundidades, por métodos diretos ou indiretos. Assim temos: RDr-P=ETr ∆± onde, ∆R pode ser medida pela determinação da umidade do solo à diferentes profundidades. Como a variação de umidade é de dificil determinação, determina-se a ETr para um longo período de tempo (semana, mês). Figura 3.70. Esquema de um lisímetro de drenagem. Outros Tipos de Lisímetros: Lisímetro Flutuador: a ET é medida através do nível de água dentro da qual o Lisímetro flutua. Uma bóia com indicador de nível dá a leitura da Evapotranspiração. A diferença de peso faz com que varie o nível de água. Figura 3.71. Lisímetro flutuador Lisimetros Naturais: são os ideais para a avalia- ção experimental da ETr, pois os mesmos são de fácil instalação, manuseio e baixo custo de cons- trução, apesar de exigirem técnicos com boa for- mação em Hidrologia Agrícola, para a correta cole- ta de dados e interpretação dos dados coletados. Existem diferentes tipos de Lisímetros Naturais: Figura 3.72. Lisímetro não drenado. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 98 Figura 3. 73. Lisímetro drenado EVAPOTRANSPIRÔMETRO: É o lisímetro destinado a determinação da ETP (deve-se obedecer as condições conceituais da ETP: cultura cobrindo completamente o solo, umidade próxima a capacidade de campo,...). Figura 3.74. Evapotranspirômetro. Evapotranspiração Potencial ETP (Thornthwaite 1944): evapotranspiração que ocorre em um terreno totalmente coberto por vegetação, exposta a atmosfera, onde nunca falte umidade ao solo para uso das plantas. O interesse do estudo da ETP está ligado ao planejamento e manejo de projetos de irrigação, açudagem, etc.. Pode-se determinar diretamente a ETP, como fez THORNTHWAITE, através de Evapotranspirômetros. Manejo: irrigar periodicamente com cerca de 6 - 8 litros por dia para a fase de pleno crescimento, em caso de solo desnudo 2 - 3 litros por dia , a fim de conseguir-se a drenagem de 1 litro ou menos por dia. De posse dos dados de drenagem, irrigação e precipitação, calcula-se a ETP, para períodos de 7 à 10 dias, através da expressão: 10.7. CORRELAÇÃO ENTRE ETP E EV TANQUE CLASSE A A ET pode ser estimada a partir de dados de evaporação de evaporímetros (tanque Classe A) e de um coeficiente apropriado (Kt), como a seguir: ETP = Ev(TCA).Kt onde, ETP é a evapotranspiração potencial (mm/dia); Ev(TCA) é a evaporação do tanque classe A e Kt é o coeficiente de tanque, que deve ser det. para o local ou obtido em tabela em função das características de exposição do tanque (bordadura, velocidade do vento e umidade relativa do ar). (Reichardt, pg 103) 10.8. ESTIMATIVAS DA ET (ETP, ETm e ETr) a) ETP: Medidas diretas da ETP (lisímetros) geral- mente não existem para cada região e condição climática. Pode-se utilizar equações que estimam a ETP a partir das variáveis climáticas do local. São equações conceituais ou científicas e empíricas para a estimativa da ETP, que podem variar de simples a mais complexas: Ex. THORNTHWAITE (simples e fácil) e PENMAN (complexa, precisa e versátil). Equação de Thornthwaite: empírica, obtida de experimentos com evapotranspirômetros. Consi- dera apenas valores termométricos locais, neces- sita de correções(f: latitude do local e mês do ano), fc I tETP a .).10.(16= �= iI 514,1)5( ti = 49,0I.10.79,1I.10.71,7I.10.75,6a 22537 ++−= −−− ou 5,0I.10.6,1a 2 += − em que ETP é a evapotranspiração potencial mensal (mm); t é a temperatura media mensal (°C), calculada das medias diárias; I é o índice Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 99 térmico anual, resultado do somatório dos índices térmicos mensais (i); fc é o fator de correção em função da latitude e do mês (tabela) OBS: Sem a correção a ETP obtida equivale a de um mês com 30 dias com insolação de 12 horas. Equação de Blaney-Criddle: É uma das mais conhecidas equações empíricas para estimar as exigências hídricas das culturas. Foi obtida no Oeste dos EUA e relaciona o consumo de H2O das plantas com a temperatura média mensal (t), porcentagem mensal de horas de luz solar anual (p) e um fator de cultura. É recomendada para regiões onde somente dados de temperatura estão disponíveis. Sua expressão é: p).t.457,013,8).(t.0312,024,0.(kETP ++= onde, ETP é a evapotranspiração potencial (mm/dia); t é a temperatura média diária (oC); p é a percentagem diária de horas de luz (-), pode ser calculado ou obtidoem tabelas em função do mês e da latitude do local; k é um fator ou coeficiente que depende da cultura em questão (tabelado, grama = 0,75) Equação de Hargreaves: Esta equação empírica tem como variáveis principais a temperatura e a radiação solar global, apresentando a seguinte notação: Rg).32t.8,1.(0075,0ETP += onde, ETP é a evapotranspiração de referência para grama (mm/dia); t é a temperatura média (oC); Rs é a radiação solar global (mm/dia). Equação de Ivanov: É empírica, tendo como variáveis de entrada a temperatura e a umidade relativa do ar, sendo sua expressão: 2)t25).(UR100.(0018,0ETP +−= onde, ETP é a evapotranspiração potencial mensal (mm/mes); t é a temperatura média mensal (oC); UR é a umidade relativa média mensal (%) Equação de Penman: A equação de Penman e calcada no balanço de energia combinada com um termo aerodinâmico, sendo considerada como conceitual, ou seja com embasamento científico, e por isso é a mais utilizada quando se requer precisão, porém apresenta a limitação quanto sua complexidade e necessidade de um grande número de variáveis meteorológicas, que nem sempre estão disponíveis para o local do estudo, sendo sua notação básica a seguinte: 1)/( Ea59/Rn)./(ETP +γ∆ +γ∆ = onde, ETP é a evapotranspiração potencial (mm.dia-1); ∆ é a declividade da curva de pressão de saturação de vapor x temperatura (de/dt), determinada a temperatura média do ar (mb.°C-1); γ é a constante psicrométrica; Rn é o balanço de radiação (cal.cm-2); Ea é o termo aerodinâmico (mm.dia-1), que pode ser estimado por: Ea = 0,35.(0,5+0,537.V2).(es - ea) sendo, V2 é a velocidade média do vento tomada a 2 metros de altura (km.dia-1); es é a pressão de saturação de vapor para a temperatura média diária (mb), estimada pela equação de Tetens; ea é a pressão atual de vapor (mb). A declividade da curva de pressão de saturação de vapor em função da temperatura (∆) à temperatura média do ar pode ser determinada pela seguinte expressão: ]0000342,0)8072,0t.00738,0.(05904,0.[8639,33 7 −+=∆ onde t é a temperatura média do ar (oC). A constante psicrométrica (γ) pode ser obtida em tabelas ou estimada em função da temperatura do ar, pressão atual de vapor e pressão atmosférica, com a seguir: )t.34,065,370).(ea.38,0Patm( Patm).ea.035,0Patm.24,0( −− + =γ onde, γ é a constante psicrométrica (mb/oC); Patm é a pressão atmosférica (mb); ea é a pressão atual de vapor (mb); t é a temperatura do ar (oC). Equação de Penman - Monteith: Este ultimo pesquisador modificou a equação de Penman com a introdução de parâmetros que determinam a resistência aerodinâmica (resistência da atmosfera e da cobertura na camada limite). Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 100 b) ETm: pode ser estimada a partir da ETP através de uma relação proposta pela FAO, a partir da seguinte expressão: ETP.KcETm = onde ETm é a evapotranspiração máxima da cultura (mm/dia); Kc é o coeficiente de cultivo que varia ao longo do ciclo da cultura (ver tabela); e ETP é a evapotranspiração potencial do local (mm/dia) que pode ser obtida diretamente através de evapotranspirômetro ou estimada por equações como visto anteriormente. c) ETr: pode ser estimada através de modelos matemáticos de balanço hídrico (BH), fazendo o cotejo algébrico entre entradas e saídas de água no sistema solo-planta-atmosférica, a partir de informações das variáveis climáticas, propriedades do solo e características das plantas. A expressão geral, em que os modelos de BH se baseiam, apresenta a seguinte expressão: ARDIPETr ∆±±±+= onde ETr é a evapotranspiração real da cultura; P é a precipitação; I é a irrigação; D é a drenagem; R é o escoamento superficial; ∆A é a variação do armazenamento de água do solo. Exercícios 1) Estimar a Evapotranspiração Potencial (mm/dia) com a equação de PENMAN a partir dos dados abaixo: Temperatura média do ar: 21ºC; Insolação (HELIÓGRAFO): 9 hs; Insolação máxima para o dia: 13 hs; Umidade relativa do ar: 74,5%; Velocidade do vento (10 metros de altura): 1,82 m/s; Radiação solar no topo da atmosfera: 937,72 cal/cm2/dia; Latitude de Lages: 27o49'; Razão entre a tangente a curva de tensão de saturação e a constante psicrométrica: ∆/γ = 2,41; Radiação do corpo negro: 882,76 cal/cm2/dia (σ.Ta4); Albedo: 25%; Tensão de saturação: 18,65 mmHg; Constante de Angstron: a = 0,29.cos θ ; b = 0,52; Pressão atmosférica: 910 mb 2) Determine a ETP (mm/dia) de Blaney-Criddle sendo dados: temperatura = 25º C; porcentagem de brilho solar p = 0,31 e coeficiente K = 0,80. 3) Calcule a ETP (mm/dia) pela equação de Ivanov sendo dados: umidade relativa do ar UR = 60% e temperatura do ar t = 20º C. 4) Calcule a ETP (mm/dia) pela equação de Hargreaves sendo dados: temperatura média do ar t = 18º C e radiação global Rg = 560 cal/cm2/dia. 5) Calcule a ETP mensal (mm/dia) com a equação de Thornthwaite a partir dos dados listados abaixo: Tabela. Valores de temperatura média mensal e fator de correção de Thornthwaite para Lages. Mês temperatura Fator de correção - Fc Janeiro 27 0,91 Fevereiro 25 0,88 Março 21 1,03 Abril 17 1,07 Maio 14 1,16 Junho 11 1,16 Julho 7 1,18 Agosto 14 1,13 Setembro 17 1,02 Outubro 19 1,02 Novembro 21 0,90 Dezembro 26 0,90 5) A partir dos dados da tabela a seguir calcule a ETP usando as equações de Ivanov, Hargreaves e Blaney-Criddle e Thornthwaite (Fc tab anterior). Tabela. Valores de temperatura média mensal (oC), umidade relativa do ar (%), brilho solar (%) e radiação solar global (cal/cm2/dia) Mês temp UR p Rg Jan 29 50 0,31 671 Fev 26 52 0,30 672 Mar 20 56 0,28 500 Abr 16 60 0,26 397 Mai 14 67 0,24 284 Jun 10 85 0,23 253 Jul 7 84 0,24 258 Ago 14 76 0,25 290 Set 17 74 0,27 467 Out 19 84 0,29 548 Nov 24 68 0,31 667 Dez 27 58 0,32 693 Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 101 11. PRECIPITAÇÕES (CHUVAS) 11.1. IMPORTÂNCIA E GENERALIDADES É o processo em que a água da atmosfera volta à superfície da Terra após a condensação do vapor d’água atmosférico. Por definição “Entende-se por precipita- ções atmosféricas o conjunto de águas origina- das do vapor d’água atmosférico que cai, no estado líquido ou sólido, sobre a superfície da Terra”. Podem ser: chuva, granizo, orvalho, geada, neve, sereno, etc. A chuva é a precipitação mais importante: é responsável pelo restabelecimento dos recursos hídricos da Terra e o condicionamento do clima e tipo de vida da região considerada. Outras precipitações têm importâncias isoladas: granizo e geada são importantes para a agricultura devido aos prejuízos econômicos gerados. No Ciclo Hidrológico: precipitação é o elo de ligação entre os fenômenos hidrológicos, propriate ditos, e os de escoamento superficial e de infiltração na superfície do solo, que interessam aos engenheiros civis, agrícolas e agrônomos para o dimensionamento de projetos tais como: Acuda- gem; drenagem; irrigação; bueiros; prevenção de inundações; mecanização agrícola; conservação de solos, etc. Para isso, parâmetros das chuvas são obtidos a partir de Análise Estatísticas das séries de registros pluviométricos. Cabe definirmos Chuva efetiva que para o engenheiro civil, “é a fração de chuva que gera escoamento superficial” e, para o agrônomo, “é a fração de chuva que infiltra na superfície do solo abastecendo-o de água para ser usada pelas plantas”. Para a agricultura: não só uma quantidade suficiente de chuva, mas também sua distribuição são essenciais para bons rendimentos das culturas, ou seja, tanto a escassez comoa distribuição irregular de chuva afetam a produção vegetal. 11.2. MECANISMO DE FORMAÇÃO DA CHUVA O ar atmosfera (reservatório potencial de água) possui vapor d'água (não visível) em quanti- dade suficiente para saturar o ar e condensar o vapor ao redor de núcleos de condensação “NC” (minúsculas partículas sólidas em suspensão na atmosfera) dando origem a gotículas de água e gelo que formam as nuvens que podem ou não precipitar. A origem das precipitações está ligada ao crescimento das gotículas das nuvens, que só ocorre quando forem reunidas “certas condições”, que muitas vezes existem sem produzirem chuvas, evidenciando a necessidade de processos que desencadeiam a precipitação. Condições fundamentais para a formação das nuvens: a) Elevação e resfriamento adiabático de ar com umidade (Instabilidade atmosférica: gradiente de temperatura da atmosfera maior que o gradiente da adiabática seca) que alcançam pontos de menores pressões e temperatura; b) Saturação e condensação do vapor d’água; c) Presença de núcleos de condensação: são partículas sólidas, íons, substâncias higroscópicas (cloreto de sódio, acido nítrico, acido sulfúrico, iodeto de prata) em suspensão na atmosfera. Obs.: A condensação do vapor ocorre somente com a presença de núcleos de condensação: as moléculas de água vão se acumulando ao seu redor; d) Crescimento das gotículas pela condensação de vapor d’água, rompendo a força de ascensão que começa a cair; e) Aceleração do processo pelas coalescências diretas; f) Abastecimento do aerosol com a umidade. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 102 Estruturas das nuvens: A nuvem é um conjunto visível de partículas minúsculas de água líquida ou de gelo ou ambas, em suspensão na atmosfera. É um aerosol: mistura de ar, vapor d’água e gotículas de água, em estado sólido ou líquido, sendo que o ar das nuvens apresenta- se próximo a saturação ou supersaturado. Este aérosol fica estável, em suspensão pelo efeito da turbulência devido a existência de correntes de ar ascendentes que contrabalançam a força da gravidade. Formação da Precipitação: É necessário que as gotas das nuvens alcance um volume (pe- las coalescências diretas e indiretas) tal que seu peso se torne superfície às forças que mantém as gotículas das nuvens em suspensão, ou seja, que adquiram uma velocidade de queda superfície às componentes verticais ascendentes dos movimen- tos da atmosfera como a velocidade de queda é alta as gotas se deformam e se subdividem em gotas menores, devido a resistência do ar. 11.3. TIPOS DE CHUVA QUANTO A ORIGEM Quanto a origem ou processo de formação podemos classificar as chuvas em: chuvas convectivas (ou de tempestade), chuvas orográficas (ou de relevo) e chuvas frontais (ou ciclônicas). a) CHUVAS CONVECTIVAS: (chuvas de tempestades). Formam-se quando o ar úmido aquecido desigualmente (torna-se menos denso) eleva-se e se expande (adiabaticamente) ocupando pontos mais elevados de menor pressão e temperatura, o que faz com que a umidade do ar atinja seu nível de condensação com a formação de nuvens (cúmulus) e muitas vezes causando precipitações. Ocorrem com maior frequência nas regiões equatoriais e nas regiões temperadas durante o verão. São geralmente chuvas de grande intensidade e pequena duração, restritas a pequenas áreas. São as mais importantes para o dimensionamento das galerias pluviais, bueiros e pontes (vazões críticas). Figura 5.75. Chuva convectiva. b) CHUVAS OROGRÁFICAS: (chuvas de relevo). Formam-se quando ventos quentes e úmidos, soprando geralte dos oceanos para o continente, encontram uma barreira montanhosa, elevam-se e se resfriam (adiabaticamente), havendo condensa- ção de vapor, formação de nuvens e chuvas. Ex. Garoa de São Paulo e as chuvas da Serra do Mar. São de baixa intensidade e grande duração, cobrindo grandes áreas. Figura 5.76. Chuva orográfica. c) CHUVAS FRONTAIS: (chuvas ciclônicas). São originadas pelo deslocamento de grandes massas giratórias cujo centro a pressão barométrica é baixa. Associada às superfície de contato ou frentes, entre massas de ar antagônicas, com temperaturas e umidades diferentes, ou seja, frentes quentes e frias. O ar quente e úmido é violentamente impulsionado para cima, resultando Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 103 em seu resfriamento e condensação, com a formação de nuvens e chuva. São de grande duração, atingem grandes áreas e suas intensidades são variadas, as vezes altas (Sul do BR). Figura 5.77. Chuva Frontal. 11.4. FATORES QUE INFLUEM NA DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS PRECIPITAÇÕES Quanto a distribuição espacial, a maior ocorrência está associada à áreas de baixa pressão ou em altas altitudes. Porém alguns fatores influem na distribuição espacial das precipitações, tais como: a) Latitude: associada à distribuição das temperaturas e pressões, que condicionam a circulação das massas de ar e consequentemente a distribuição das precipitações; b) Distância do mar: quanto mais distante do mar menor são as precipitações originadas das águas dos oceanos. c) Altitude: Aumenta as precipitações até um determinado ponto e depois decresce a ocorrência das chuvas. d) Orientação das encostas: em relação a direção dos ventos (sombra de chuva). e) Vegetação: influência discutida (alguns defen- dem que a vegetação influi na distribuição das chuvas, devido a evapotranspiração que aumen- taria a umidade do ar e a ocorrência de chuvas, outros defendem que as chuvas que influem na distribuição da vegetação, ou seja, em regiões mais úmidas maior ocorrência de vegetação). Quanto à distribuição temporal das chuvas podemos destacar que o regime pluviométrico é diferente nas várias regiões durante o ano. Como exemplo: Região Sul: as precipitações mensais variam pouco durante o ano, não há diferenciação de período mais ou menos chuvosos; Região Sudeste e Centro-oeste: as chuvas concentram-se na época quente do ano (solstício de verão) sendo escassas na época mais fria (solstício de inverno). Região Nordeste: a época mais chuvosa situa-se no equinócio de outono ao solstício de inverno, a época menos chuvosa situa-se no equinócio de e primavera. Região Norte: embora precipitações mensais sejam elevadas, a época mais chuvosa localiza-se no equinócio de outono e a menos chuvosa no equinócio de primavera. De modo geral o Brasil é favorecido em termos de precipitação, exceção ao nordeste onde os índices anuais giram em torno de 1000 mm podendo alcançar em determinados pontos valores inferiores a 500 mm/ano. A região Amazônica recebe mais de 2000 mm/ano, alcançando isolinhas de 3500 mm/ano. As regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste apresentam índices que variam de 1000 a 2000 mm/ano. Lages total anual: 1523 mm (normal climatológica) 11.5. GRANDEZAS CARACTERÍSTICAS São os elementos usados para medir ou caracterizar uma chuva, os quais são: altura, duração, intensidade tempo de retorno (frequência) da chuva. a) Altura da Chuva - h: é a espessura média da lâmina de água precipitada, que cobriria uma região, não infiltrando-se, não evaporando-se, nem escoando para fora dos limites considerados. Unidade: milímetros (mm). Exemplo, 30 mm. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 104 b) Duração da Chuva - Tdur: tempo decorrido do início até o fim da chuva. em minutos, horas, dias. Exemplo, 60 min. c) Intensidade da Chuva - i: é a relação entre a altura de chuva e seu respectivo tempo deduração (mm/h, mm/min.). É calculado por: durT h =i Exemplo: Usando os dados dos exemplos citados obtenha a intensidade média da chuva (mm/h) === 60.min/mm 5,0 60 30 T h =i dur i = 30 mm/h d) Freqüência ou Tempo de Retorno - F ou Tr: A frequência representa o número de ocorrên- cias de dada chuva, caracterizada por sua intensidade “i” e pelo seu tempo de duração “Tdur”, no decurso de um espaço de tempo fixado. Em Hidrologia a Freqüência (F) é expressa de preferência em termos de Tempo de Retorno (Tr), medido em anos, com o significado de que para um mesmo tempo de duração (Tdur) a intensidade (i) será, provavelmente, igualada ou ultrapassada apenas uma vez em Tr anos. Como exemplo, temos: Uma chuva de 15 mm/h ocorreu 2 vezes em 10 anos. %202,0 10 2F === anos 5 = 0,2 1 = F 1 =Tr Interpretação: Esta chuva será igualada ou superada pelo menos uma vez em 5 anos. 11.6. FORMAS DE PRECIPITAÇÃO ATMOSFÉRICA Podemos distinguir várias formas de precipitações, tais como: a) Chuvisco (Neblina ou Garoa): precipitação extremamente fina, com diâmetro da gota menor que 05 mm (φg < 0,5 mm), e intensidade menor ou igual à 1 mm/h. b) Chuva: precipitação com diâmetro de gota vari- ando de 0,5<φg<5,5 mm, sendo classificada como: Fraca: i < 2,5 mm/h; Moderada: 2,5 < i < 10 mm/h; Forte: 10 < i < 25 mm/h; Muito Forte: 25 < i <100 mm/h Tempestade: i > 100 mm/h, diâmentro da gota > 3 mm e velocidade vento de > 8 m/s. c) Chuva Congelada: precipitação de gotas resfriadas que se congelam instantaneamente quando chocam-se contra objetos ou o solo, formando uma camada de gelo. d) Neve: precipitação de cristais de gelo que durante a queda coalescem formando flocos de dimensões variáveis. e) Saraiva: precipitação de pequenas pedras de gelo arredondadas com diâmetro da gota < 5 mm. f) Granizo: precipitação de pedras redondas ou ir- regulares, que atingem grande tamanho (diâmetro da gota maior que 5 mm) e caem em regiões de clima temperado por ocasião da primavera-verão. g) Orvalho ou Sereno: precipitação em noites clã- ras e calmas: os objetos expostos amanhecem encobertos por gotículas de água. Originam pela condensação do vapor d’água da atmosfera quan- do este se torna saturado à temperatura da super- fície dos objetos que se resfriaram durante à noite. h) Geada (branca): origina-se da deposição de cristais de gelo, semelhante ao orvalho, só que ocorrem com temperatura inferiores a zero grau (T< 0oC). Além destas formas de precipitação, devem ser citados os fenômenos (não são precipitações): Nevoeiro: origina-se da permanência, em suspensão no ar, de gotículas de água (gelo) provindas da condensação do vapor nas proximidades do solo. Ficam em suspensão, só que neste caso não há precipitação. Ocorre a dissipação devido ao aquecimento do ar, de baixo para cima, devido a radiação solar. Cerração: nevoeiro mais espesso. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 105 11.7. PLUVIOMETRIA Ocupa-se com a medida das chuvas. Foi a primeira medida meteorológica feita pelo homem. Na Índia já no Século IV e na Europa no Século XV. Medidas das precipitações são na forma de altura equivalente de água sobre a superfície (mm).Os instrumentos medidores são os pluviô- metros e pluviógrafos. 1) PLUVIÔMETRO Usado para determinar a altura da precipitação pluvial em mm. Consiste num recipiente com certa área de captação “S”, pela qual é coletado um volume “Vo” de água de chuva. O modelo mais utilizado é o “Ville de Paris”, constituído por um recipiente cônico, com área de capitação conhecida (diâmetro 22,57 cm), com uma torneira na sua parte afunilada, sendo sua capacidade de armazenamento de 5 litros. A chuva é medida por meio de uma altura “h” de água ou seja, h = Vo/S (Vo = h.S). Figura 5.78. Pluviômetros tipo: a) Ville de Paris b) Hellmann e c) Paulista. É instalado na Estação Meteorológica, num moerão, com a área de captação a 1,5 m do solo e em nível, livre de obstáculos. Após a chuva, retira-se a água do plu- viômetro (torneira instalada no fundo), ou todo o dia na observação das 9 horas. No caso da prove- ta ser graduada em mm, lê-se diretamente a altura de chuva precipitada, no caso da proveta ser grã- duada em cm3, calcula-se a altura h de chuva por: 10. S V =h )cm( )ml ouo(cm (mm) 2 3 (Vo = h.S) Exemplo: Em um pluviômetro com área de captação de 250 cm2 foi coletado um volume de chuva de 1.000 cm3 (=1000 ml), calcule a altura h: == 10. 250 100010. S V =h )cm( )ml ouo(cm (mm) 2 3 40mm R: A altura da chuva é de 40 mm. Obs: 1 cm3 = 1 ml. 1 litro = 1000 ml = 0,001 m3 = 1 dm3 = 1000 cm3 2) PLUVIÓGRAFO Registra continuamente, a cada intervalo de tempo “∆t”, a precipitação pluvial, informações do total de chuva (altura em mm) e o tempo para tal (Tempo de duração). São essenciais para grande número de projetos, para calcular a intensidade “i” da chuva em mm/min e mm/h. É um aparelho registrador de chuva, sendo de vários tipos. O mais utilizado no Brasil é o modelo Hellmann Fuess, o qual é de uso generalizado na rede Meteorológica. Apresenta uma área de captação de 200 cm2, a qual descarrega o volume coletado em um depósito que apresenta uma bóia. A medida que o depósito se enche, a bóia se eleva, acionando uma pena que registra em gráfico (pluviogramas) acoplado sobre um tambor acionado por mecanismo de relojoaria, registrando desta forma a chuva acumulada e seu respectivo tempo. O depósito tem tamanho limitado sendo que a cada 10 mm de chuva ocorre o esgotamento por sifão. O cilindro faz uma volta completa em 24 h ou 1 semana (registro diário ou semanal). Como o registro dos Pluviógrafos é contínuo, os “pluviogramas” nos dão a altura de chuva num dado período, sua intensidade máxima ou média. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 106 Figura 5.79. Pluviógrafos tipo a) Hellmann; b) IH É instalado sobre uma base de cimento, de forma semelhante ao Pluviômetro. Para seu manejo troca-se a fita diariamen- te, esgotando-se a água após a chuva, dá-se corda e coloca-se tinta. Os pluviogramas dever ser retirados, ser datados e assinados pelo responsável e, trocados sempre a mesma hora ou dia, em caso de serem de troca diária ou semanal, respectivamente. O gráfico obtido (pluviograma) possui o seguinte aspecto: na ordenada tem-se a escala da altura de chuva (h), a intervalo de 0 - 10 mm, na abscissa a escala do tempo (Tdur) a intervalos de 10 minutos. Figura 5.80. Pluviograma e registro da chuva. Curva ascendente no gráfico significa chuva, sendo possível, com facilidade, determinar a intensidade i a intervalos de 10 min., curva horizontal significa ausência de chuva. A intensidade da chuva i é obtida do plu- viograma, dividindo-se a altura de chuva h tomba- da pelo respectivo tempo de duração Tdur. Nota-se que quanto menor for o tempo de duração tomado para esse cálculo, maior será a intensidade da chuva. Conclusão: chuvas de alta intensidade são de baixa duração. 11.8. ESTUDO DAS CHUVAS Dados coletados sofrem tratamento estatístico. Definições necessárias: a) Totais Anuais: soma total de todas as alturas de chuva em um ano. É uma das mais importantes característica de uma Estação Pluviométrica, fornece de imediato uma idéia do fenômeno no local. Varia de região para região. Valor mínimo conhecido: próximo a zero (desertos); Valor máximo conhecido 25000 mm (Índia 1836). Os valores ajustam-se melhor à distribui- ção estatística normal(ou de Gauss). b) Chuvas Mensais: as grandes variações ao longo de um ano exigem uma análise do fenôme- no com base em um intervalo de tempo mais curto, neste caso o mês, obtendo-se as médias e máximas mensais. A curva das médias mensais é em geral bastante regular, apresentando um máximo e um mínimo. Os valores ajustam-se a distribuição teórica de freqüências de Gauss (ou normal). c) Chuvas Máximas: o estudo mais detalhado leva a reduzir o intervalo de análise ao dia (corresponde a observação do Pluviômetro). Em geral tal estudo é chamado “Estudo das Precipitações Intensas”. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 107 Os valores se ajustam melhor a distribuição teórica de frequência de Gumbel que é recomendada para ajustar os valores extremos de quaisquer variável meteorológica. d) Definição de Chuvas de 1 dia e de 24 horas: hidrologicamente são diferentes, podemos distingui-las como: Chuva de 1 dia: chuva que foi medida no intervalo de um dia, que não necessariate corres- ponde a 24 horas de duração, ou seja, apresenta duração igual ou menor do que 24 h, de ocor- rência diária; Corresponde as informações obti- das nos pluviômetros, já que estes não registram o tempo de inicio, duração e término da chuva. Chuva de 24 horas: chuva com duração de 24 horas, podendo ocorrer durante 12 h de um dia e 12 h de outro dia. São obtidas nos pluvió- grafos, os quais registram o tempo de inicio e término da chuva. e) Apresentação dos dados: Após o tratamento estatístico dos dados de chuva os resultados podem ser apresentados em tabelas, gráficos (curvas) e mapas com isolinhas (isoietas). Tabelas: apresentam os resultados em ordem cronológicas ou para diferentes tempos de retorno. Tabela. Alturas máximas médias de chuvas inten- sas (mm) para as durações e períodos de retorno selecionados para Lages-SC, obtidas com o modelo de desagregação de chuvas diárias. Duração Período de retorno (ano) 2 5 10 20 25 50 100 1 dia 77,80 103,30 120,20 136,40 141,50 157,30 173,00 24 h 88,70 117,80 137,00 155,40 161,30 179,30 197,20 12 h 75,40 100,10 116,40 132,10 137,10 152,40 167,60 10 h 72,70 96,60 112,30 127,50 132,30 147,10 161,70 8 h 69,20 91,90 106,90 121,30 125,80 139,90 153,80 6 h 63,90 84,80 98,60 111,90 116,10 129,10 142,00 4 h 55,90 74,20 86,30 97,90 101,60 113,00 124,30 2 h 46,10 61,20 71,20 80,80 83,90 93,30 102,60 1 h 37,30 49,50 57,50 65,30 67,70 75,30 82,80 30 min 27,60 36,60 42,60 48,30 50,10 55,70 61,30 25 min 25,10 33,30 38,70 44,00 45,60 50,70 55,80 20 min 22,30 29,60 34,50 39,10 40,60 45,10 49,70 15 min 19,30 25,60 29,80 33,80 35,10 39,00 42,90 10 min 14,90 19,80 23,00 26,10 27,10 30,10 33,10 5 min 9,40 12,40 14,50 16,40 17,00 19,00 20,80 Fonte: Cardoso et al. 1998. Gráficos: com Curvas de Altura-Duração, Curvas de Altura-Duração-Frequência (Tempo de retorno) ou Curvas Intensidade-Duração-Frequên- cia (Tempo de retorno) que são traçados num sistema de eixos cartesianos. Figura 5.81. Gráficos com curvas para apresen- tação dos dados de chuvas analisadas: a) Curva de Altura -Duração, b) Curvas de Altura-Duração- Frequência (Tr) c) Curvas Intensidade-Duração- Frequência (Tr). Gráficos de colunas (aturas de chuvas em determinados intervalos de tempo) que são chamados de hietogramas e gráficos de barras que representam totais de chuvas em determina- dos períodos. Figura 5.82. Gráficos de colunas e barras: a) Hie- tograma indicando as partes de uma chuva e b) Gráficos de barras indicando totais de chuva ao longo de um ano. Mapas com Isoietas: (altura-duração- frequência) são curvas que ligam pontos de igual precipitação (altura ou intensidade máximas ou médias para determinados tempos de duração) traçados sobre um mapa geográfico da região. Figura 5.83. Mapas de Isoietas para a região Sul do Brasil. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 108 f) Chuvas Analisadas no Brasil: São publicações de estudos realizados em algumas regiões ou cidades do Brasil. Estes estudos tem larga aplicação em Hidrologia para o dimensionato de projetos Civis e Agrícolas, tais como: Chuvas Intensas no Brasil de Otto Pfafstetter - DNOS em 1957, dados de 98 Postos Pluviométricos, que correspondem em média (1 para cada 85000 km2). Foram obtidas tabelas com 5, 10, 20, 25, 30 min., 1, 2, 4, 8, 10, 12, 14, e 24 h de duração e as correspondentes alturas pluviométricas (mm) e Tempos de Retorno de 2, 5, 10, 15, 20, 25, 50 e 100 anos. para SC utilizou-se os dados de Florianópolis, Blumenau e São Francisco. Isoietas de 30 minutos de duração para a Região Sul e Centro do Brasil de Souza Pinto - as freqüências das chuvas são apresentadas em 3 mapas com Isoietas de 30 min. e Tempos de Retorno de 10, 25 e 50 anos, dados coletados de 55 postos. para determinar a altura de chuva para outros Tempos de Duração, utiliza-se a expressão, onde, h é a altura de chuva para qualquer tempo de duração (mm);Td é o Tempo de duração considerado (min.); Análise de chuvas intensas a partir da desagregação das chuvas diárias para Lages e de Campos Novos (SC) Cardoso, Ullmann e Bertol: em 1998 obtiveram as Curvas de Chuvas Máximas para Lages e Campos Novos (Intensidade-Duração-Frequência) a partir de dados de pluviômetros (Chuvas de 1 dia) e o Modelo de Desagregação de Chuvas estimou-se as chuvas de 24 h de duração e, a partir destas, chuvas de curta duração 12, 10, 8, 6 e 1 h, 30, 25, 15, 10 e 5 minutos para diferentes tempos de retorno. (Revista Brasileira de Ciência do Solo, 1989). 11.9. PROCESSAMENTO DE DADOS DE CHUVAS E SEU TRATAMENTO ESTATÍSTICO 11.9.1. Preenchimento de Falhas Muitas estações pluviométricas apresen- tam falhas em seus registros devido à ausência do observador ou por defeitos no aparelho. Entretanto, como há necessidade de se trabalhar com series contínuas, essas falhas devem ser preenchidas. Um método bastante utilizado para fazer esta estimativa tem como base os registros pluviométricos de três estações localizadas o mais próximo possível da estação que apresenta falhas nos dados de precipitação. Nesse caso, a série de dados de que se dispõe numa estação "X" dos quais se conhece a média “Mx" num determinado numero de anos, apresenta lacunas, que devem ser preenchidas. Em geral adota-se o procedimento dado a seguir: l. Supõe-se que a precipitação no posto X (Px) seja proporcional às precipitações nas estações vizinhas A, B, C, num mesmo período, que são apresentadas por Pa, Pb e Pc; 2. Supõe-se que o coeficiente de propor- cionalidade seja a relação entre a Mx e as médias Ma, Mb, Mc, no mesmo intervalo de anos; isto é que as precipitações sejam diretamente proporcio- nais às suas medias; 3. Adota-se como valor Px a média entre três valores calculados a partir de A, B e C. � � � � � � ++= Pc. Mc MxPb. Mb MxPa. Ma Mx . 3 1Px onde, Px é a precipitação no posto onde houve falhas; Mx é a média no posto X; Ma, Mb, Mc são as precipitações nos postos vizinhos num mesmo período. Por exemplo, a tabela 8.2 a seguir mostra os registros de chuvas de 4 postos A,B,C e X. Os dados referem às chuvas registradas no mês de Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 109 janeiro durante 15 anos de observação, onde no posto "X" houve 4 falhas nos registros do mês de janeiro, isto é, durante 4 anos não foram registradas as chuvas do mês. Cálculo das médias: aplicando a fórmula da média aritmética com os dados existentes em cada estação, tem-se: 65,9 15 70,144 n PaMa === �Ma = 9,65 mm 62,10 15 29,159 n PaMa === � Ma = 10,62 mm 14,10 15 06,152 n Pa Ma === � Ma = 10,14 mm 80,11 11 70,144 n Pa Ma === � Ma = 11,80 mm Aplicando a equação, teremos para as respectivas ordens (i) números 3, 4, 12 e 13 os seguintes valores corrigidos para os quais houve falhas: i=3 � � � � � � ++= 30,8. 14,10 80,1100,15. 62,10 80,1120,12. 65,9 80,11 . 3 1Px Px = 13,74 mm i=4 � � � � � � ++= 00,7. 14,10 80,1126,12. 62,10 80,1130,11. 65,9 80,11 . 3 1Px Px = 11,86 mm i=12 � � � � � � ++= 42,10. 14,10 80,1100,5. 62,10 80,1100,8. 65,9 80,11 . 3 1Px Px = 9,15 mm i = 13 � � � � � � ++= 20,10. 14,10 80,1100,10. 62,10 80,1100,8. 65,9 80,11 . 3 1Px Px = 11,87 mm Portanto, os valores a preencher são respectivamente 13,74; 11,86; 9,15 e 11,87 mm. Tabela 8.2. Dados de chuvas do mês de janeiro (mm) Ano Ordem i Postos A B C D 1960 1 7,40 10,90 11,10 15,30 1961 2 7,30 9,00 6,20 14,60 1962 3 12,20 15,00 8,30 * 1963 4 11,30 12,26 7,00 * 1964 5 8,20 9,19 10,10 11,20 1965 6 11,20 13,10 12,10 10,00 1966 7 8,30 9,00 10,89 10,00 1967 8 12,30 14,30 11,05 9,10 1968 9 9,20 5,80 10,90 8,00 1969 10 8,80 11,60 10,60 11,60 1970 11 8,50 12,00 10,80 11,60 1971 12 8,00 5,00 10,42 * 1972 13 11,80 10,00 10,20 * 1973 14 11,00 11,96 10,90 14,50 1974 15 9,20 10,18 11,50 15,00 � 144,70 159,29 152,06 129,80 11.9.2. Verificação da homogeneidade dos dados (Análise de consistência) Esta verificação, também chamada de análise de duplas massas, é o método utilizado para se verificar a homogeneidade dos dados de uma estação pluviométrica, tais como a mudança de local ou das condições do aparelho ou modificação no método de observação. Esse método consiste em se construir uma curva dupla acumulativa na qual são relacionados os totais anuais acumulados de um determinado posto e a média acumulada dos totais anuais de todos os postos da região, considerada homogênea, sob o ponto de vista meteorológico. Um exemplo de aplicação desse método é apresentado na figura 8.2, onde a curva obtida apresenta uma mudança na declividade, o que significa que houve alguma anormalidade, devendo, portanto os dados ser corrigidos para as condições atuais da seguinte forma: Po. Mo MaPa = onde, Pa são as observações ajustadas à condição atual de localização exposição ou método de observação no posto; Po são os dados observados a serem corrigidos; Ma é o coeficiente angular da reta no período mais recente, onde houve mudança de declividade; Mc é o coeficiente Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 110 angular da reta no período em que fizeram observações Po. Embora possa acontecer que o número de anos em que o posto foi operado nas condições iniciais seja maior do que nas atuais, é mais interessante corrigir os dados referindo-se às últimas. Isso porque, a qualquer instante, pode-se fazer uma inspeção local e conhecer o estado de operação e conservação do mesmo na atualidade. Uma vez feita essas verificações e correções, os dados estão prontos para serem processados. A primeira etapa do processamento, em geral, é o cálculo das médias a seleção de máxi- mos e mínimos observados e o cálculo do desvio padrão e coeficiente de variação, que podem, ser feitos tanto para observações diárias como para totais de períodos maiores (mensais e anuais). Assim tem-se uma idéia bastante boa da amostra de dados disponível pode-se conjecturar qual seja a lei de repartição das frequências. Em seguida são mostrados alguns casos de análise estatística mais comum em pluviometria (análise de chuvas). Conforme mostra a figura a seguir deveremos corrigir os dados a partir do ano de 1940 até o ano de 1955 para que tenhamos toda uma série homogênea ou consistente. Nota-se no gráfico que no ano de 1955 a reta tomou outro rumo, ou seja, mudou de inclinação. Para este caso, se, por exemplo, em 1955 houve mudança de posto (mudança de local), consideraremos os dados homogêneos ou consistentes de 1955 até a atualidade (ano de 1980) e corrigem-se os dados observados de 1940 até 1955. Para isso basta tomar o valor anual e multiplicar pelo fator de correção que é dado pela relação dos coeficientes angulares Ma/Mo, ou seja, tgα/tgβ para obter o novo valor de precipitação X no período de 1940 a 1955, onde o novo valor Pa é ajustado à condição atual (de 1955 a atualidade). Figura 5.84. Verificação da homogeneidade dos dados de um posto meteorológico. 11.9.3. Frequência dos totais precipitados Em agronomia e engenharia agrícola o conhecimento das características das chuvas apresenta grande interesse de ordem técnica, por sua aplicação nos projetos hidráulicos (irrigação, drenagem, projetos de vertedores ou escoadouros em barragens e acumulação de água, no dimen- sionamento de canais, cálculos de bueiros), onde deve-se conhecer a magnitude das chuvas que poderiam ocorrer com uma com uma determinada frequência (com correspondente período de retor- no) para o correto dimensionamento destas obras. Nos projetos de irrigação, conservação de solos (traçado de curvas de nível e terraços) e abasteci- mento de água, há que se conhecer a grandeza das estiagens ou enxurradas que adviriam e com que frequência ocorreriam. Portanto, há a necessi- dade da determinação das chuvas extremas esperadas. Nos projetos de obras hidráulicas, por exemplo, as dimensões são determinadas em fun- ção de considerações de ordem econômica, por- tanto corre-se o risco de que a estrutura venha a falhar durante a sua vida útil. É necessário então conhecer este risco. Para isso analisam-se estatis- ticamente as observações realizadas nos postos verificando-se com que frequência elas assumi- riam cada magnitude. Em seguida, pode-se avaliar as probabilidades técnicas de ocorrência das mesmas. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 111 Os dados observados podem ser conside- rados em sua totalidade o que constitui uma série total, ou apenas os superiores a um certo limite inferior (série parcial) ou ainda, só o máximo de cada ano (série anual). Os dados observados de- vem ser classificados em ordem crescente ou de- crescente, e a cada um atribui-se o seu número de ordem. A frequência com que foi igualado ou inferior (caso de ordem crescente) ou a frequência com que foi igualado ou superado (caso de ordem decrescente) um evento de ordem "m" é: N mF = (Método Califórnia) ou 1N mF + = (Método Kimbal) onde, F é a frequência de ocorrência do evento com que foi igualado ou superado (ordem decrescente) ou foi igualado ou inferior (ordem crescente); m é a ordem do evento; N é o número de anos de observação. Considerando-se como uma boa estimativa da probabilidade técnica (P) e definindo o tempo de retorno como sendo o período de tempo médio (medido em anos) em que um determinado evento deve ser igualado ou inferior (ordem crescente) pelo menos uma vez, tem-se a seguinte relação: F 1Tr = ou P 1Tr = onde, Tr é o tempo de retorno (anos); f é a frequência (-); P é a probabilidade (-). Para períodos de retorno (Tr) bem menores que o número anos de observação, o valor encontrado para "F" pode dar uma boa idéia do valor real de "P", mas para grandes períodos de retorno a repartição de frequências deve ser ajustada a uma lei probabilística teórica de modo a possibilitar um cálculo mais correto da probabilidade. Tem-se verificado que se a série de observaçõespluviométricas anuais é bastante longa, a repartição das frequências se adapta bem a lei de Gauss, desde que os elementos da serie sejam considerados sem ordem de sucessão. A função de Distribuição de Gauss pode assim ser entendida: um fenômeno completa- mente aleatório segue a distribuição normal de probabilidade normal. Para que o fenômeno seja completamente aleatório, deve depender de um numero muito grande de fatores, tendo cada fator um peso muito pequeno. Analisando por exemplo pluviogramas de uma série (muitos anos) pode-se observar que as chuvas são quase que completa- mente aleatórias. Elas dependem de um grande número de fatores tais como, temperatura, umidade do ar, pressão atmosférica, evapotranspiração, estação do ano, etc., fatores estes que entram com um fator peso para que tal ocorra. Para uma distribuição normal, seja h (chuva) uma variável aleatória, teremos que a media h é igual ao valor: N h h )i(�= onde, h é a média de chuvas; h(i) são as medidas da variável h; N é o número de medidas (no de anos de observações no caso de medidas anuais). Dá-se o nome de Desvio Padrão de "h" à grandeza: ( ) 1N h)i(hSh 2 − − = � A probabilidade F(P) de se encontrar um valor menor ou igual a um extremo "x" ao medir "h" (se os dados são colocados em ordem crescente) é dado pela Lei de Gauss: � ∞− − pi =≤= z Z. 2 dz.e. Sh2 1)hxh(P)x(F 2 2 1 onde, "Z" é uma função linear de "x", denominada de variável reduzida e é dada por: � � � � � � σ µ− = hxZ onde, µ é a media do universo dada pela média amostral h ; σ é o desvio padrão do universo estimado pelo desvio padrão amostral Sh. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 112 A integral, acima, que fornece o valor de f(h) só pode ser avaliada numericamente, e foi tabelada, podendo ser encontrada em qualquer obra de referência em estatística. As entradas na tabela são: Sh )hhx(Z −= onde, a variável reduzida "Z" (chamada normalizada) terá média zero e desvio padrão unitá-rio. Os pontos estatísticos conhecidos de uma distribuição normal são, conforme figura. P( h ) = 0,50 (50%) P( h - σ) = 0,1587 (15,87%) P( h + σ) = 0,8413 (84,13%) � ∞− � � � � � � � � − − pi =≤= z sh hhx . 2 dz.e. Sh2 1)hxh(P)x(F 2 2 1 Figura 5.85. Curva de Gauss (distribuição normal) É comum apresentar-se o ajuste da lei de Gauss em forma gráfica, relacionando o total anual de precipitação pluvial (hx) com seu respectivo tempo de retorno (Tr). Assim para qualquer valor de hx, calcula-se o valor, de "Z" correspondente, obtém-se F(h) da tabela em anexos, e calcula-se finalmente Tr = 1/F(h) =1/P(h). A figura é um exemplo do gráfico resultante. A escala vertical é tal que a lei de Gauss é linearizada, esse gráfico é denominado "Papel Probabilístico Aritmético Normal". Para o cálculo da frequência de precipitação mensal e trimestral que às vezes interessa conhecer a distribuição de totais precipitados em intervalos menores que um ano. O procedimento é semelhante ao caso de totais anuais, e as frequências são avaliadas como anteriormente (Método de Kimbal). Figura 5.86. Papel Probabilístico Aritmético Normal 11.9.4. Precipitação média sobre uma bacia hidrográfica A altura média de chuva de uma área específica é necessária em muitos tipos de problemas hidrológicos, notadamente na determinação do balanço hídrico de uma bacia hidrográfica, cujo estudo pode ser feito com base em temporal isolado, ou com totais de uma estação do ano, ou ainda com base em totais anuais. Verificada a ocorrência de uma chuva sobre uma bacia hidrográfica, há o interesse em determinar a sua altura media para se obter o volume de precipitação da mesma. Para esse objetivo, existem 3 processos principais: a. Média aritmética; b. Média verdadeira, ou determinação a partir de isoietas; c. Média ponderada, pelos pesos ou áreas parciais de influencia (Método de Thienssen). a. Método aritmético Este método consiste em determinar-se a média aritmética entre as quantidades medidas na área. Colhidas as chuvas em alturas pelos diversos postos pluviométricos instalados na bacia, a média aritmética das alturas respectivas representará a altura media "h" de chuva sobre a Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 113 bacia, sejam h1, h2, h3, h4, h5 e h6 as alturas dos 6 postos de uma pequena bacia, a media aritmética será o valor da altura media. 6 hhhhhhh 654321 +++++= A figura mostra uma bacia hidrográfica em planta com 6 postos distribuídos com suas alturas de chuva "h" respectivas. Nota-se que existem postos fora da área da bacia, cujos seus valores de chuva não são computados na média. 6 0,12770,7530,11430,6880,4810,37h +++++= mm50,78h = Figura 5.87. Bacia hidrográfica com 6 postos pluviométricos e suas alturas médias de chuva para dado período. O Método aritmético só apresenta uma boa estimativa da média se os aparelhos forem distribuídos uniformemente e a área for plana ou de relevo muito suave. É necessário também que a medida efetuada em cada aparelho individual- mente varie pouco da média. b. Método das isoietas Também chamada de média verdadeira, pois é o método mais preciso para avaliar a precipitação média em uma área. Nesse método, em vez dos pontos isolados da precipitação, determinados pelos aparelhos de medida, utilizam- se curvas de igual precipitação (Isoietas), o traçado, dessas curvas é extremamente simples e semelhante ao das curvas de nível. Na construção dos mapas de isoietas, o analista deve considerar os efeitos orográficos e a morfologia do temporal, de modo que o mapa final represente um modelo de precipitação mais real do que o que poderia ser obtido de medidas isoladas. A chuva média sobre uma área é calculada ponderando-se a precipitação média entre isoietas sucessivas (normalmente fazendo a media, entre duas isoietas consecutivas) pela área entre as isoietas, ou seja, o volume da chuva em cada área compreendida entre duas isoietas consecutivas é dado pela área compreendida e pela altura média para essa área (média aritmética) totalizando-se esse produto e dividindo- se pela área total da bacia, ou seja: A A. 2 hh h )i( )1i()i( � �� � � � � � � − = + Para os mesmos dados dos postos da Figura 5.83, vamos agora determinar o mapa das isoietas e calcular a chuva média sobre a bacia como segue: Tabela. Valores das isoietas e suas respectivas áreas de abrangência. 1 2 3 4 5 Isoieta (mm) Área acumulada Aa (km2) * Área líquida A(i) (km2) Precipitação média h(i) (mm) Vol precipitado (mm.km2) 127,00 33,67 33,67 134,60 4532,00 101,60 233,10 199,43 114,30 22794,80 76,20 533,54 300,44 88,90 26709,10 50,80 1041,18 507,64 63,50 32235,10 25,40 1541,05 499,87 38,10 19045,00 25,40 1621,34 80,29 20,30 1629,90 Σ 1621,34 106945,94 * Área dentro da bacia hidrográfica Obs.: Foi tomado como centro de chuva o valor igual a 142,20 mm o qual se obteve assim: 127,00 + 15,20 = 142,20 mm A primeira média entre isoietas se obteve da seguinte relação: 127,00 + 142,00 ÷ 2 = 134,60 mm Com os dados do quadro pode-se facilmente calcular a média: mm96,65 34,1621 94,106945 A A. 2 hh h )i( )1i()i( == � � � � � � � � − = � + Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 114 Figura 5.88. Determinaçãoda chuva média sobre uma bacia - método das isoietas. c. Método de thienssen É um método ponderado, que pode ser utilizado mesmo para uma distribuição não unifor- me dos aparelhos, consiste em atribuir um fator de peso aos totais precipitados em cada aparelho, proporcional à área de influência de cada um. Essas áreas de influencia (pesos) são determinados em mapas da bacia contendo estações, unindo-se os postos adjacentes por linhas retas e, em seguida, traçando-se as mediatrizes dessas retas formando polígono (Mediatriz é a perpendicular que passa na parte média de cada lado do triangulo. Essas mediatrizes têm o tamanho suficiente para se encontrarem, ou quando na periferia deixar a superfície do terreno às superfícies determinadas pelas mediatrizes são as consideradas no método). Os lados dos polígonos são os limites das áreas de influência de cada estação. Figura 5.89. Traçado das mediatrizes A chuva média sobre a bacia é calculada pela média ponderada entre a precipitação "hi" de cada estação e o peso a ela atribuída "Ai" que é a área de influência de "hi". � � = )i( )i()i( A A.h h sendo, h é a chuva média e ΣA(i) é a área total da bacia. O método de Thienssen, embora seja mais preciso do que o aritmético, também apresenta li- mitações, pois não considera as influências oro- gráficas, ele simplesmente admite uma variação linear da precipitação entre as estações e designa cada porção da área para a estação mais próxima. A seguir é mostrada a determinação da chuva media sobre a mesma bacia hidrográfica na qual foi aplicado o método aritmético e o das isoietas, através do traçado de polígonos cujos lados são limites das áreas de influência de cada estação pluviométrica. Figura 5.90. Determinação da chuva média sobre uma bacia pelo método de Thienssen Tabela. Planilha de cálculo para a determinação da chuva média pelo método de Thienssen. (1) Precipitação observada h(i) (mm) (2) Área do polígono A(i) (km2) (3) % do total (4) Chuva ponderada (1).(3) 16,50 18,13 1,12 0,185 37,10 310,80 19,17 7,112 48,80 262,20 16,17 7,891 71,60 20,11 1,24 0,888 68,30 310,80 19,17 13,093 39,10 51,80 3,19 1,247 75,70 238,28 14,70 11,128 127,00 194,86 12,02 15,265 44,40 17,50 1,08 0,480 114,30 196,84 12,14 13,876 Σ 1621,34 100,00 71,16 � � = )i( )i()i( A A.h h 1649,71 34,1621 51518,115382 = Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 115 Comparando os resultados temos: Método aritmético = 78,5 mm Método das isoietas = 65,96 mm Método do polígono de Thienssen = 71,16 mm 11.9.5. Análise das chuvas intensas a) Introdução: Para uma utilização prática dos dados de chuva nos trabalhos ou nos projetos no campo da agronomia, principalmente na área da Engenharia Rural, faz-se necessário conhecer a relação entre as quatro características principais fundamentais da chuva: Altura, Intensidade, Duração e Freqüência. O conhecimento sobre a distribuição superficial das chuvas (distribuição espacial) pode ser obtido por análise regional dos dados dos diversos postos pluviométricos distribuídos sobre a área, conforme visto no item 8. Portanto, aqui neste estudo só considerar-se-á a relação intencidade-duracão-frequência. b) Variação da intensidade com a duração: Os dados sobre precipitações intensas são obtidos dos registros pluviográficos, sob a forma de pluvio- gramas, ou seja, diagramas de precipitação açu- mulada ao longo do tempo, cujos registros corres- ponde a 24 hs de registro contínuo e a altura equi- valente a 10 mm de chuva (figura). Nesses gráfi- cos pode-se estabelecer, para diversas durações, as máximas intensidades ocorridas durante uma dada chuva, sem que necessariamente as durações devam incluir as menores. Figura.3.91. Pluviograma e registro contínuo da chuva Nos pluviogramas pode-se estabelecer, para diversas durações, as máximas intensidades ocorridas durante uma dada chuva, isto é, as intensidades máximas medias, onde as durações usuais são de: 5, 10, 15, 30, 45 minutos, 1, 2, 3, 6, 12, e 24 horas. Os limites de duração são fixados em 5 minutos e 24 horas porque, para durações maiores (48, 72 hs) podem ser utilizados dados observados em pluviômetros se houve chuva de 48 e 72 hs de duração. O número de intervalos de durações citado fornece pontos suficientes para definir curvas de intensidade-durarão da chuva, referentes a diferentes frequências de ocorrência. A intensidade máxima média é tirada do pluviograma, conforme mostra a figura 8.8. Inicialmente estudaremos relações entre intensidade e duração das chuvas. Verifica-se que quanto mais intensa for uma chuva, menor será a sua duração. A curva intensidade-duração pode ser apresentada por dois tipos de equações: 1. Para um tempo de duração de chuva inferior a 120 minutos utiliza-se a hipérbole tb ai + = (Equação de TALBOT) onde "a" e "b"= parâmetros constantes, cujos valores variam com o local, cabendo ao técnico determiná-los; t = tempo de duração (minutos ou horas); i = intensidade da chuva (mm/hora). A figura mostra uma curva intensidade- duração onde o número de intervalos de duração, fornece pontos suficientes para definir curvas de intensidade-duração da chuva. Figura 5.92. Curva intensidade - duração Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 116 Em lugar de se tentar o ajustamento de uma curva complicada é preferível fazer uma transformação para um tipo de curva mais simples. Depois de determinar as constantes "a" e "b" desta curva volta-se à curva complexa, é a anamorfose, no caso, pode-se ter a linearização. Da equação, tb ai + = tem-se i atb =+ i 1 a t a b =+ ou ainda t. a 1 a b i 1 += que é a equação de uma linha reta da forma: y = m + n.x onde, i 1y = a b m = ; a 1 n = ; x = t; b= a.m ; n 1 a = O ajustamento da reta pode ser feito a sentimento (mas a reta interpolatriz deve obrigató- riamente passar pelo ponto de coordenadas médias) ou pelo método dos mínimos quadrados. Figura 5.93. Ajustamento gráfico da equação de Talbot para duração menor que 120 min. 2. Para tempos de duração da chuva superiores a 120 minutos é empregada a equação: nt ai = onde, "a" e "n" são parâmetros a determinar para o local pelo técnico; t é o tempo de duração da chuva (min., hora); i é a intensidade da chuva (mm/h). Esta hipérbole pode ser linearizada da seguinte forma: nt.ai −= ou seja: log i = log a – n.log t que é uma equação de reta y = m + n.x onde y = log i ; m = log a; n=-n ; x=log t. As considerações feitas para o caso anterior continuam aqui válidas. Figura 5.94. Ajustamento gráfico da equação de intensidade para duração superior a 120 min. c) Variação da intensidade com a frequência: Em engenharia e nos trabalhos hidrológicos em geral interessa não somente o conhecimento das máximas precipitações observadas nas séries históricas, mas principalmente prever, com base nos dados observados, e utilizando princípios de probabilidade, quais as máximas precipitações que possam vir a acontecer em certo local, com uma determinada frequência ou probabilidade. As séries de máximas intensidades pluvio- métricas observadas podem ser constituídas pelos mais altos valores observados em cada ano (séri- es anuais) ou pelos "n" maiores valores observa- dos no período total de observação (séries par- ciais) sendo "n" o número de anos do período considerado . As séries anuaistem como termo de distribuição o tempo (ano) , enquanto que as séries parciais tem como termo de distribuição a magnitude dos valores extremos. Quando interessa principalmente, analisar os valores das intensidades extremas, elegem-se as séries das máximas anuais , ou seja, para cada duração (dt) escolhe-se a máxima intensidade (i= h/dt) pluviométrica observada em cada ano. As séries anuais são mais significativas, pois são definidas em termos de sua ocorrência em vez de sua magnitude. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 117 Em geral, as distribuições de valores extremos (máximos ou mínimos) de grandezas hidrológicas, tais como as chuvas e as vazões de cursos d'água por exemplo, ajustam-se à Distri- buição de Gumbel ou Distribuição dos Valores Extremos. A lei dos extremos ou de Gumbel será objeto de estudo na disciplina de Hidráulica II, no capítulo de Hidrologia, motivo pelo qual não nos deteremos no assunto. No presente estudo analisaremos uma metodologia mais simplificada, para o ajuste de eventos extremos, a proposta Ven Te Chow - Gumbel. Chow e Gumbel estabeleceram, apos longas pesquisas, uma metodologia relativamente simples de ser aplicada para determinar as freqüências com que podem ocorrer determinados valores de intensidades médias máximas para diferentes durações. A metodologia é inclusive largamente utilizada e aplicada na análise de frequência de outras variáveis hidrológicas com sucesso, como por exemplo em vazões máximas de rios. Segundo Ven To Chow é possível determinar a distribuição de frequência de variáveis hidrológicas diversas pela fórmula geral: Sx.KXX += onde, X = é o valor procurado da variável hidrológica para o período de retorno desejado (no caso uma intensidade média máxima de chuva) ; X = é a média aritmética simples dos valores observados da variável hidrológica (no caso, os "N" valores de intensidades médias máximas observadas com uma determinada duração, ao longo de N anos); Sx= desvio padrão dos valores observados Xi; K= fator de frequência determinado em função do número N de anos da amostra e do tempo de retorno desejado. Os valores de "K" estão na tabela 8.3. - K= f(N, Tr). Para determinação de "K" é usado o método de Gumbel, baseado na "Teoria estatística dos extremos de Amostras ocasionais". A tabela calculada por M.D.Reid dá os valores de K em função de N (número de anos de observação) e do desejado período de recorrência ou período de retorno – Tr (Hidrologia, Linsley). O intervalo de Tr é de 5, 10, 20, 25, 50 e 100 anos. Para aplicação deste método, são calculadas as medias (Xi) e o desvio padrão da amostra (Sx) para as intensidades médias máximas, para todas as durações de chuva consideradas. Obtidos esses elementos estatísticos, são então calculadas as intensidades máximas prováveis para os vários intervalos de recorrência, como já explicado. Por exemplo a intensidade máxima provável de uma precipitação com duração de 5 minutos, para tempo de retorno (Tr), será: X= X + K.Sx X=130,10 + 0,866.28,50 X= 154,80 mm/h Exercícios: 1) Conforme dados de precipitação "Totais anuais" de Aragarças-GO, Latitude 15 14', Longitude 50o 24', calcule: a) Frequência observada das chuvas totais anuais (%); b) Calcule o respectivo tempo de retorno (anos); c) Interprete o número de ordem 4. ano 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 H(mm) 1157 1396 1143 1521 1996 1103 1438 1523 1260 Procedimeto: a) Colocar na planilha abaixo as chuvas em ordem decrescente; b) calcular a Probabilidade observada para cada chuva: F = (m/n).100; onde, P é a probabilidade ou frequência observada (%); m é o número de ordem da referida chuva; n é o número total de observações (n = 9); c) calcular o tempo de retorno observado (anos): Tr = 1/F Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 118 2) Calcule a altura de chuva (mm) para as seguintes características do pluviômetro: * Volume de água coletado no pluviômetro: 700 ml * Diâmetro do pluviômetro - captação: 22,60 cm; 3) Calcule a intensidade da chuva (mm/h) para a chuva da questão anterior, com duração de chuva igual a 70 minutos; classifique a chuva quanto sua intensidade. 4) O que representa "1 mm" de chuva em termos de volume e área. Vol = h.A Ex. A = 1 m2 ou 1 há 5) No pluviograma abaixo, calcular: a) Altura da chuva (mm) e intensidade média (mm/h) ocorrido entre os pontos B-C no pluviograma. b) Altura da chuva (mm) e intensidade média (mm/h) ocorrido entre os pontos D-G no pluviograma. 6) Dado o pluviograma do Posto de Meteorologia da EPAGRI-Lages-SC, do dia 17/09/1986, determinar: a) A altura da chuva (mm) ocorrida entre o intervalo de tempo das 9 hs e 10 min até 14 hs e 30 min; b) qual é a intensidade média (mm/h) desta chuva? c) Calcular a intensidade média de chuva (mm/h) entre o intervalo de tempo das 11:00 hs e 12 hs e 30 min. 7) Representar graficamente em papel milimetrado (anexo) o número médio mensal de dias de chuva para Lages-SC. Fonte: Posto Meteorológico da EPAGRI. Representar graficamente a variação mensal do total de precipitação de Lages-SC. mês Jan fev mar Abr mai jun jul ago set out nov dez dias 14,3 12,9 11,7 10,0 9,1 10,0 9,3 10,1 11,4 11,9 10,0 11,5 H(mm) 147 139 111 92 97 109 107 131 144 156 114 132 8) Em um pluviômetro com área de captação de 250 cm2 foi coletado um volume de chuva de 1.250 ml, calule a altura de chuva: 9) A partir dos dados de chuvas do mês de janeiro (mm) para os postos de uma dada região, realize o preenchimento dos dados para o posto D. Ano Ordem i Postos A B C D 1960 1 9,40 10,90 11,10 15,30 1961 2 7,30 9,00 8,20 14,60 1962 3 12,20 15,00 8,30 * 1963 4 11,30 12,26 7,00 * 1964 5 8,20 9,19 10,10 11,20 1965 6 11,20 13,10 12,10 10,00 1966 7 8,30 9,00 10,89 11,00 1967 8 12,30 14,30 11,05 9,10 1968 9 9,20 5,80 10,90 8,00 1969 10 8,80 11,60 10,60 11,60 1970 11 8,50 12,00 10,80 11,60 1971 12 8,00 5,00 10,42 * 1972 13 11,80 10,00 10,20 * 1973 14 11,00 11,96 10,90 14,50 1974 15 9,20 10,18 11,50 15,00 � 145,70 159,29 154,06 130,80 10) Calcule a altura média da bacia abaixo pelo método das isoietas, a partir do mapa e tabela a seguir: Precipitação obs h(i) (mm) Área do polígono A(i) (km2) % do total Chuva ponderada 16,50 18,13 1,12 0,185 37,10 310,80 19,17 7,112 48,80 262,20 16,17 7,891 71,60 20,11 1,24 0,888 68,30 310,80 19,17 13,093 39,10 51,80 3,19 1,247 75,70 238,28 14,70 11,128 127,00 194,86 12,02 15,265 44,40 17,50 1,08 0,480 114,30 196,84 12,14 13,876 Σ 1621,34 100,00 71,16 Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 119 12. GRANIZO 12.1. IMPORTÂNCIA Granizo é um fenômeno atmosférico em que gotas de água, sob a forma de grãos de gelo, caem violentamente das nuvens sobre a superfície da terra, ou seja, é a precipitação atmosférica sob a forma de pedras de gelo que se originam do vapor atmosférico. Tem grande importância para a agricultura devido aos prejuízos causados nas atividades agrícolas, resultante dos efeitos mecânicos causados as plantas, quedas de frutos pequenos e ferimentos e manchas nos frutos grandes. Felizmente o granizo atinge pequenas áreas e seu nível de prejuízo na agricultura também depende do estágio em que a cultura se encontra quando da sua ocorrência. O granizo ocorre mais frequentemente nas regiões continentais das médias latitudes (20 a 55º) diminuindo em regiões marítimas e equato- riais. Apresenta também grande frequência nas altas altitudes dasregiões tropicais. Figura 5.95. Ferimentos e manchas decorrentes do granizo. 12.2. FORMAÇÃO DO GRANIZO O Granizo forma-se a partir de nuvens de grande desenvolvimento vertical (nuvens de tormenta), originadas pela elevação do ar quente e úmido, em ambiente instável, com gradiente térmico maior que -1,0oC/100 m. A probabilidade de formação do granizo ou saraiva será tanto maior, quanto maior for o desenvolvimento vertical da uma nuvem cumulunimbus. Figura 5.96. Nuvem Cumulunimbus e chuva de granizo 12.3. TIPOS DE GRANIZO a) Granizo brando (Soft Hail): grânulo de 2 a 5 mm, branquicento, opaco quebradiço e desmanchável pelos dedos ao ser friccionado. Ao tocar o solo, em seguida se rompe. São formados por adesão de gotas d’água sub-fundidas sobre um cristal de neve. b) Granizo duro ou Granizo miúdo (Small Hail - Gresil Dur): Granizo recoberto por uma camada de gelo. Se forma quando o granizo brando atravessa uma nuvem de água liquida. As gotículas de água se esparramam sobre o mesmo, antes de congelar-se. Aspecto vítrio, semi-transpa- rente não se deforma facilmente, não se rompe e nem pula quando toca o solo. Se forma em nuvens tipo cúmulus. c) Granizo (Hail Grele): Grão de gelo de tamanho considerável. Os de menos de 5 mm de diâmetro chamam-se de granizo, os maiores de 5 mm de granizo Grosso (Pedrisco). O granizo pode ter uma forma homogênea, enquanto que o Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 120 granizo grosso ou saraiva se observa comumente uma alternância de camadas transparentes e opacas. Estas camadas se formam em uma nuvem com temperatura inferior a 0oC. É composta de gotículas de água em sub-fusão; aqueles (transparentes) se formam em nuvens de tempestade com temperatura superior a 0oC em região de gotículas de água líquida. Figura 5.97. Granizo grosso ou pedrisco. A "saraiva" é sinônimo de granizo grosso, comumente chamado de granizo com mais de 20mm de diâmetro. Tanto o granizo como a saraiva são produtos de dias calorosos e de muita umidade, ocorrendo em dias de "tormentas". Os cumulunimbus se formam nestas tormentas e são nuvens potentes, de grande desenvolvimento vertical. A maior ocorrência de granizo é verificada nos dias de primavera e início de verão, à tarde. São precipitações características de continentes. d) Chuva congelada (Grain Ofice-Sllet): grão de gelo de 1 a 4 mm de diâmetro, comumente transparente ou translúcido, duros, quando tocam o solo se rebotam. São gotas da chuva que se congelaram ao atravessarem uma camada de ar frio que cobre o solo, cuja temperatura é inferior a 0oC. Quando não se congelam totalmente, só a periferia, se rompem ao tocar no solo, aspergindo a água de seu interior, chama-se neste caso de chuva congelada. Na formação de granizo é condição indis- pensável à formação de nuvens de grande desen- volvimento vertical, as chamadas nuvens de tor- mentas (cumulunimbus), para que ocorra o fenômeno é necessário que um volume de ar se eleve da superfície do solo, com grande umidade e aquecimento. Este fenômeno ocorre quando o gradiente térmico vertical é superior a –1,0oC/100 m, e o ar apresenta no caso, grande instabilidade. Uma massa de ar fria, pequena, movimentando-se, que se aqueça na superfície ou uma massa de ar descendente que se deposite sobre uma região aquecida, é condição de impulso por convecção violenta, podendo então o ar se elevar em velocidade (valores de até 30 m/s). Assim, o resfriamento adiabático é rápido e a formação da nuvem tormentosa e impetuosa. A queda da precipitação se efetua com determinada ordem. A série inicia-se com uma saraivada ou granizada, continua com chuva forte, prossegue com chuva moderada para encerrar com chuva fina. O granizo também ocorre em chuvas frontais, principalmente no inverno, no entanto, os danos que causam são relativamente insignificantes, pelas seguintes razões: Normalmente, as condições atmosféricas, neste tipo de chuva de chuva, não favorecem a ocorrência de granizo grosso. A. duração é pequena, não causando maior dano; Na época de maior frequência de chuvas frontais (predominante no inverno), dependendo da região, como se pode citar Rio Grande do Sul, a cultura explorada na época é o trigo. No entanto o mesmo encontra-se em estádio de crescimento vegetativo pouco sensível a danos por granizo. 12.4. DANOS CAUSADOS EM CULTIVARES POR GRANIZO O grau do dano causado às plantas depende: * do tamanho e formato das pedras (pedras oblongas ou esféricas causam danos, e, pedras tipo disco, em geral, não causam danos). Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 121 * da densidade por área, (menos que 10 pedras por 0,10 m2, não causa danos apreciáveis); * da duração da tempestade (+ de 15 minutos); * da velocidade de queda (precipitações intensas e ventos fortes quando acompanham o granizo aumentam danos). * da idade das plantas (depende também do tipo de cultura e sua importância econômica). Em geral a maioria das plantas é mais danificada na época da floração. Interessa também saber a época do ano em que ocorre. Em algumas áreas o granizo é muito frequente, mas a maioria das regiões é livre de danos por granizo O dano por granizo é muito variável numa mesma área. Varia de 5 a 100%, dependendo da propriedade agrícola, com uma média de 10 a 15%. O granizo causa danos por destruição as folhas e no colmo. Além do dano direto causado pelo granizo, ocorre também o ataque por fungos, nas lesões causadas pelo granizo. O dano depende do estágio de desenvolvimento da planta. Figura 5.98. Danos decorrente do granizo. 12.5. COMBATE AO GRANIZO Uma chuva de granizo pode liquidar em minutos o trabalho de um ano. Há vários métodos para difusão do Iodeto de Prata nas nuvens. Estes métodos tem como principio a introdução de um grande número de “núcleos de condensação” no interior da nuvem suspeita de causar granizo. Formação de granizos pequenos que ao caírem desmancham-se, transformando-se em chuva (gotas líquidas). a) FOGUETES ANTI-GRANIZO: São carregados com uma infinidade de núcleos de condensação (NC). O melhor NC, devido suas características, é o Iodeto de Prata (AgI). Um grama deste produto contém um trilhão de NC. Cada foguete leva 28 gramas de AgI, que ao explodir, libera aproxte 28 trilhões de NC (AgI) no interior da nuvem. Procura-se colocar no centro da nuvem a maior quantidade possível de AgI, saturando-a com núcleos de condensação. para formarem granizos de pequenos diâmetros que, ao caírem, transformam-se em chuva. Os foguetes são lançados sob as nuvens e explodem ao atingir aproximadamente 2.500m de altitude. Devido à incerteza de que a nuvem representa ou não ameaça, implicava em grande desperdício de foguetes. Tal problema foi, resolvido com a instalação de estações de radar. Figura 5.99 Foguetes anti-granizo. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 122 b) AVIÃO: Atualmente, começou-se a adotar o método de combate ao granizo na forma de espalhar os produtos de núcleo difusão, através da utilização de aviões pois é mais seguro e barato do que utilizar foguetes. Na Alemanha, é proibido se utilizar foguetes, devido ao perigo oferecido, então o bombardeio de nuvens se faz com avião. Figura 5.100. Avião equipado com sistema de pulverização. c) CHAMINÉ: Atualmente é o método mais difundido no Brasil, que consiste na queima e evaporação dos produtos que irão combater o granizo. Consta de uma chaminé onde ocorrerá a queima do produto comos NC e por dois galões armazenadores, um para o gás que ira possibilitar o transporte dos NC até a nuvem, e o outro galão que conterá o produto que liberará os NC para o combate do granizo. Figura 5.101. Chaminé para combate ao granizo O produto que irá combater o granizo favorecerá na agregação das partículas o que formara varias pedras de granizo com tamanho reduzido, ou seja, ao atingirem a superfície já estarão na forma liquida ou de tamanho muito reduzido e assim não prejudicando as plantas. d) COBERTURA DA ÁREA: Se faz uso de lonas e telas, em cultivares de baixo porte, só que não é muito utilizado pela pouca praticidade que este método oferece em grandes áreas; é de difícil instalação. Figura 5.102. Sistema de proteção direta com o uso de tela. Atualmente sugere-se o uso de ondas ionizantes diminuem o tamanho das pedras de gelo (granizo) que se formam no interior de uma nuvem do tipo cumulonimbus. Figura 5.103. Sistema de proteção ao granizo com o uso de ondas ionizantes. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 123 13. NEBULOSIDADE 13.1. DESCRIÇÃO A condensação do vapor atmosfera pode causar a formação de nuvens e nevoeiros, para isso há necessidade da presença de NC próximo a superfície do solo ou na atmosfera em altitude. Nuvens e nevoeiros diferem principalte no que diz respeito a sua origem e estrutura, porém ambos são causados pelo resfriamento, saturação e condensação de massas de ar úmidas: * Nuvens: pelo movimento vertical atingindo temperaturas baixas em altitude na atm; * Nevoeiro: por contato de ar com temperaturas baixas próximo à superfície do solo. 13.2. DEFINIÇÕES: a) NEVOEIROS: São suspensões de inúmeras e minúsculas gotículas de água ou de cristais de gelo na atmosfera, próximo à superfície reduzindo a visibilidade na superfície da terra, a menos de 1 km de distância. b) NUVENS: São conjuntos visíveis de partícu-las minúsculas de água líquida ou de gelo, ou de ambas ao mesmo tempo, em suspensão na atmosfera em altitude. CLASSIFICAÇÃO DOS NEVOEIROS Quanto a Origem: de acordo com o processo de formação: a) Nevoeiro de Irradiação: formam-se a noite, devido ao resfriamento da superfície e da camada atmosférica em contato com a superfície do solo. b) Nevoeiro de Advecção: originam-se em conseqüência da passagem de corrente de ar quente e úmido sobre superfícies frias. c) Nevoeiro Orográfico (ou de Encosta): originam-se do deslocamento do ar ao longo de uma encosta (montanha), o que produz o resfriamento do ar ascendente e conseqüente formação do nevoeiro (esta condicionado ao conteúdo de umidade do ar que é elevado). d) Nevoeiro de Evaporação: ocorre quando uma massa de ar frio desloca-se sobre uma superfície de água mais aquecida, o vapor d água evapora da superfície e satura o ar frio (freqüente no outono inverno). Quanto a Intensidade: de acordo com a visibilidade nos mesmos. a) Leves: pode-se ver através deles a uma distância pouco superior a 1 km. b) Moderados: com visibilidade de 500 a 1.000 m. c) Densos: visibilidade de 200 a 500 m. d) Fortes: a visibilidade é inferior a 200 m. CLASSIFICAÇÃO DAS NUVENS Classificam-se de acordo com a sua forma, aparência, altura, o processo físico de formação, assim como sua luminância e cor. Segundo a Classificação Internacional, as nuvens são agrupadas em famílias, gêneros, espécies e variedades. Apesar do grande dinamismo das nuvens que ficam mudando constantete, é possível definir formas características que permitem classifica-las em diferentes grupos. Assim as nuvens são agrupadas em: Famílias: considera-se 4 Famílias: 1. Nuvens Altas (altitude > 6 km): Cirros, Cirrocumulus e Cirrostratus; 2. Nuvens Médias (altitude 2 - 8 km): Altocumulus e Altostratus; 3. Nuvens Baixas (altitude 0 - 2 km): Stratocumulus, Stratus e Nimbostratus; 4. Nuvens de Grande Desenvolvimento Vertical (altitude 600 m - 10km): Cúmulus e Cumulonimbus Gêneros: foram definidos 10: Cirrus, Cirrocumulus, Cirrostratus, Altocumulus, Altostratus, Nimbostratus, Stratocumulus, Stratus, Cumulus, Cumulonimbus. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 124 Figura 5.104. Gêneros de nuvens Espécies: se excluem mutuamente dentro do gênero, porém, há espécies que podem pertencer à vários gêneros. Exemplo: A espécie “Lenticulares” pode pertencer aos gêneros “Cirrocumulus, Altocumulus e Stratocumulus. Variedades: são determinadas pelas características particulares que as nuvens apresentam, tais como, disposição dos elementos das nuvens e transparência. A predominância de ocorrência dos gêneros é feita de acordo com sua posição em altitude na atmosfera: Estágio Alto: Cirros, Cirrocumulus, Cirrostratus; Estágio Médio: Altostratus, Nimbostratus; Estágio Baixo: Stratocumulus, Stratus; Base no Estágio Médio a Baixo com Cumes até o Estágio Alto: Cúmulus e Cumulonimbus. Figura 5.105. Predominância de nuvens em altitude. As características principais das nuvens, principalmente sua forma, dependem de como o ar move-se verticalmente e da altura na qual o ar resfria-se até seu ponto de condensação. As nuvens são importantes pois indicam as condições predominantes, passadas e as futuras condições da atm, sendo então indispensáveis para as previsões do tempo. Descrições mais minuciosa desta classificação pode ser obtida em livros de meteorologia e no Atlas das nuvens. OBSERVAÇÃO DA NEBULOSIDADE A nebulosidade é definida como a fração do céu encoberta por nuvens no momento da observação, sendo adotado dois sistemas de ponderação (quantificação), assim tem-se: * Décimos de Céu Coberto (uso na Climatologia): 0 - céu limpo 5 - céu meio encoberto 10 - céu encoberto * Oitavos de Céu Coberto (uso na Met. Sinóptica): 0 - céu limpo 4 - céu meio encoberto 8 - céu encoberto Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 125 14. ORVALHO (ou RÓCIO) 14.1. DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA O orvalho constitui-se em numerosas gotículas (líquidas) pequenas (quase invisíveis) que se depositam sobre as superfícies expostas, em particular durante as noites de verão. Este fenômeno tem origem quando ocorre um resfriamento muito súbito do solo, durante a noite há em consequência, a condensação do vapor d’água atmosférico que se encontra próximo às superfícies e deposição das gotículas sobre as superfícies. A ausência de vento favorece o aparecimento do orvalho, pois a evaporação é mais lenta. Em resumo o orvalho é a deposição de gotas de água por condensação direta do vapor d’água do ar ambiente sobre as superfícies resfriadas pela radiação noturna. Tem importância para agricultura porque favorece o ataque de doenças e pragas em várias culturas de exploração econômica. 14.2. PONTO DE ORVALHO É a temperatura na qual o déficit de saturação é igual a zero ou a temperatura na qual o ar atinge a saturação para o vapor d’água atmosférico, podendo condensar-se. Figura 5.107. Ponto de orvalho 14.3. FORMAÇÃO DO ORVALHO O orvalho forma-se toda a vez que a temperatura da superfície cai a valores iguais ou inferiores ao ponto de orvalho do ar ambiente. É um processo intermitente, pois com a condensação é liberado calor latente, que irá aquecer a superfície e o ar adjacente. O processo é retomado quando a temperatura baixar a um novo ponto de orvalho (conteúdo de umidade diminui). O orvalho ocorre em noites de céu limpo, em presença de massas de ar de pequena umidade, com pequenasvelocidades do vento, mas não nulas. Juntamente ao período de formação do orvalho ocorre o período de molhamento da superfície. 14.4. MEDIÇÃO DO ORVALHO São utilizados os Orvalhômetros (Drosô- metro) ou ainda os Orvalhógrafos (Aspergígrafo). Figura 5.108. Orvalhógrafos de balança e com fio de cânhamo. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 126 15. GEADA 15.1. INTRODUÇÃO A agricultura constitui-se uma atividade de risco, devido ao fato de que no inverno em altas latitudes a ocorrência de temperaturas baixas é bastante freqüente provocando geadas (principal- mente no outono/inverno) o que acarreta em prejuízos nas culturas economicamente explora- das devido as quebras de safras, principalmente as culturas estivais (de verão) em final de ciclo. As geadas precoces (outono) e geadas tardias (primavera|) são as mais danosas. A proteção contra os efeitos letais da geada é um problema de grande importância na agricultura, especialmente, para as lavouras de elevada rentabilidade (frutíferas de clima tropical, o café, a seringueira, entre outras). A suscetibilidade das culturas às geadas varia muito, de acordo com a espécie e estádios fenológicos. Em geral, a temperatura na folha que se iniciam os danos nas culturas, é considerado ser de -2°C para as menos resistentes como a ba- nana, mamão e arroz, e para as mais resistentes como café, cana de açúcar e especialmente citros, o limite é de -4°C. Quanto maior for a queda de temperatura abaixo desses limites, mais grave e extensos serão os danos a estas plantas. No Brasil, a geada é frequente, principal- mente, abaixo do paralelo 19°S, estados de MG (Triangulo Mineiro e região sul), SP, MS, PR, SC e RS, onde sua ocorrência resulta em graves prejuízos econômicos nos vários ramos da agricultura, principalmente quando ocorrem precoce ou tardiamente. 15.2. DEFINIÇÃO Na meteorologia: é a ocorrência de temperatura do ar abaixo de 0oC, podendo dar origem ou não à formação de gelo sobre as super- fícies expostas (geada branca ou geada negra). Pode ocorrer por condensação e congelamento (vapor�líquido�gelo) ou sublimação (vapor� gelo). Definição Popular: processo pelo qual ocorre deposição de gelo sobre plantas e objetos expostos ao relento. Isso ocorre toda vez que a temperatura da superfície atinge 0°C e a atmos- fera tenha umidade (geada branca). Figura 5.109. Geada branca Definição Agronômica: fenômeno atmosférico que provoca a morte das plantas ou de suas partes (folhas, caule, frutos, ramos), em função da baixa temperatura do ar, que acarreta congelamento dos tecidos vegetais. Figura 5.110. Efeitos da geada na cultura do café. 15.3. PRINCÍPIOS FÍSICOS DA OCORRÊNCIA DE GEADAS As geadas podem ocorrer em função de dois processos meteorológicos: advecção de ar frio e radiação. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 127 O 1º caso é o resultado do transporte advectivo de massas de ar frio, provenientes da região polar, que atingem as regiões sub-tropicais. Essa massa de ar no seu deslocamento em direção ao equador traz ventos com baixa energia, causando maiores danos durante o inverno e nas nuances do relevo de face sul. Os danos causados por esse tipo de geada são tanto pelas baixas temperaturas como pela injuria mecânica provocada pelo vento. O 2º caso tem origem a partir da atuação de um centro de alta pressão estacionário, sendo a massa de ar relativamente fria, porém, muito seca. Nessa massa de ar, as temperaturas na su- perfície se mantêm acima do ponto de congela- mento durante o dia. Porém, durante a noite a per- da de energia da superfície através do processo de radiação de ondas longas, se inicia nas primei- ras horas após o por do sol. Enquanto na superfí- cie a temperatura cai drasticamente, nos níveis mais elevados, acima do solo, ela permanece praticamente constante, formando, assim, camada de "Inversão Térmica", ou seja, as temperaturas aumentam com a altitude, ao invés de diminuírem. 15.4. EFEITOS DA GEADA NOS VEGETAIS A morte do tecido vegetal por baixas temperaturas é um processo físico-químico. Pesquisas indicam que o processo se inicia assim que a temperatura letal da planta é atingida, havendo o congelamento da solução extracelular, que resulta em um desequilíbrio do potencial químico da água da solução intracelular em relação ao potencial químico da solução extracelular, parcialte congelada. Isso gera um processo continuo no sentido intra para extracelular, ate que o equilíbrio seja restabelecido, provocando a desidratação da célula ou o congelamento da solução intracelular. Os primeiros sinais resultantes desse processo são: desidratação da célula; perda do potencial de turgescência aumento na concentra- ção de solutos; redução do volume celular; ruptura da membrana plasmática (plasmólise). Figura 5.111. Efeitos da geada em alface e tomate 15.5. TIPOS DE GEADA Classificados quanto a sua gênese (ori- gem) ou pelos efeitos visuais que elas produzem: Quanto a gênese do fenômeno: geadas de advecção, geadas de radiação e mistas. a) Geada de advecção ou de vento: pela invasão de massas de ar com temperatura muito baixa e baixa UR, originadas dos pólos, que se deslocam para as baixas latitudes. Se caracterizam por um vento de 3 Beaufort (3,5 - 5 m/s). Essa massa de ar no seu deslocamento em direção ao equador traz ventos de baixa energia causando maiores danos nas partes altas do relevo principalmente nas faces sul das elevações. b) Geada de radiação (ou irradiação): são provocadas quando massas polares estacionam sobre uma determinada região (local), permitindo intensa irradiação noturna (devido à baixa umidade do ar e baixa nebulosidade), provocando resfriamento das superfícies e ar adjacente. O resfriamento é mais intenso pela maior perde energia durante as noites de céu limpo, sem vento e sob domínio de um sistema de alta pressão (massa de ar polar). A velocidade do vento não passa de Zero Beaufort (0 - 0,5 m/s). uma das características da geada de irradiação é a inversão térmica do ar próximo ao solo. O céu permanece limpo e o ar seco. Os maiores danos são causados nas partes mais baixas do relevo, nas partes altas os danos são menores. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 128 c) Geada mista: quando ocorrem os dois processos sucessivamente. Quanto ao aspecto visual, as geadas classificam-se em geadas brancas e geadas negras. a) Geada Branca: mais comum, caracteri- za-se pela formação de cristais de gelo nas super- fícies das plantas que morrem por congelamento da camada superficial das folhas. (umidade- saturação-condensação-congelamento-gelo) b) Geada Negra: as plantas atingidas por este tipo de geada apresentam aspecto enegre- cido e seco. Morrem por congelamento interno em razão do contato com o ar frio e seco (umidade é tão baixa que não satura o ar, assim não forma camada de gelo, são as mais prejudiciais). 15.6. FATORES DE FORMAÇÃO DE GEADAS NO BRASIL Fatores Macro-climáticos: são aqueles relacionados ao macro-clima, ou seja, relaciona- dos a escala regional ou geográfica do clima. a) Latitude: quanto maior a latitude maior a ocorrência de geadas. b) Altitude: quanto maior a altitude maior a ocorrência de geadas. c) Continentalidade/Oceanalidade: qto + distante das massas de água (oceanos) maior será a ocorrência de geadas. d) Massa de ar polar: invasões de massas polares (frias), via continente, aumentam a ocorrência de geadas. FatoresTopo-climáticos: rel. à topografia do terreno (configuração e exposição do terreno). a) Terreno plano: sujeito a estagnação de ar frio, pois não há para onde escorrer, favorecendo a ocorrência de geada. Devem ser reservadas para culturas anuais durante o verão, ou aquelas resistentes ao frio. b) Terreno côncavo: facilita o acumulo de ar frio, o que torna frequente a ocorrência de geadas. c) Terreno convexo: geralmente esta livre de geadas, desde de que não esteja circundada por terrenos mais elevados. d) Meia-encosta: favorece o escoamento do ar frio formando a brisa catabática, que pode afetar o caule das plantas (geada de canela) dependendo da intensidade do resfriamento. e) Face sul: exposição do terreno voltada para o sul recebe menos energia durante o inverno, sendo naturalmente mais fria e também mais sujeita aos efeitos dos ventos predominantes de SE (frios). f) Face norte: naturalmente mais quente, recebe mais energia durante o inverno, menos sujeita aos ventos frios. Fatores Micro-climáticos: são aqueles ligados à cobertura do terreno. a) Cobertura com mato, mulch, outras, funciona como um isolante térmico. b) Solo nu: armazenador de calor durante o dia, e fonte de calor durante a noite, aquecendo a superfície. c) Compactação - solos mais compactos conduzem melhor calor do que solos afofados, e o d) Grau de umidade - solos úmidos perde calor mais lentamente durante a noite retardando o resfriamento. 15.7. AGENTES AGRAVANTES NATURAIS DAS GEADAS a) Barragem a jusante (abaixo): facilita o acumulo de ar frio. O represamento de ar frio é danoso as plantas. O plantio deve ser acima da cota (nível) onde naturalmente o ar frio atinge. b) Mata em garganta a jusante: funciona como barragem natural represando o ar frio. Para minimizar o problema deve-se ralear o sub-bosque (mata ciliar) para permitir a drenagem do ar frio. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 129 c) Vegetação de porte baixo a montante (acima): vegetação de porte baixo funciona como fonte de ar frio pois se resfria rapidamente. Para se evitar esse derramamento de ar frio sobre a encosta e baixada deve-se deixar um renque de árvores e arbustos nas beiradas do campo. 15.8. CONDIÇÕES FAVORÁVEIS À OCORRÊNCIA DE GEADAS Normalmente, vento calmo, céu limpo e ar seco favorecem a ocorrência de geadas de radiação, devido a intensificação do processo de emissão de ondas longas pela superfície terrestre. Esse resfriamento intenso faz com que a superfície atinja a temperatura do ponto de orvalho permitindo que a pequena concentração de umidade do ar adjacente à superfície se condense e congele (Geada branca). Nesse processo há liberação de calor latente de condensação, diminuindo a velocidade de perda radiante. Quando não há presença de vapor d’água não ocorre condensação e congelamento, resultando assim na chamada geada negra de radiação. 15.9. PREVISÃO DE GEADA A previsão de ocorrência de geada é realizada dependendo do tipo desta quanto ao processo de formação. Geada de Advecção: a previsão em um determinado local esta baseada na estimativa da trajetória da massa polar que está causando o fenômeno em latitudes maiores. Conhecendo-se a temperatura e a umidade relativa e a velocidade do vento e as variações desses parâmetros na unidade de tempo, podemos estimar a extensão do fenômeno, necessitando-se para isto, de vasta rede de Estações Meteorológicas. Normalmente é anunciada com 2 - 3 dias de antecedência. Geada de Irradiação: fenômeno de caráter local, sua previsão esta baseada na capa- cidade de liberação de calor. É preciso que sejam baixas a velocidade do vento, a umidade do ar, a temperatura e não ocorra nebulosidade. Estabelecida estas condições, pode-se através da leitura de um Psicrômetro, prever a ocorrência da mesma com 12 horas de antecedência. A leitura no psicrômetro deve ser feita às 19 e 20 horas, no local para o qual se deseja fazer a previsão. Cota- se as leituras do psicrômetro no Gráfico de Beaufort de Matos para a previsão de geadas. Figura 5.112. Gráfico de Beaufort para previsão de geada. No gráfico de previsão, verifica-se em que região cai o ponto de intersecção das duas temperaturas, se cair: * Geada Provável: efetua-se nova leitura 1 hora depois; * Geada Certa: procede-se ao combate; * Livre de Geada: não há perigo de ocorrência. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 130 15.10. MEDIÇÃO DA GEADA A intensidade da geada é observada pela temperatura mínima atingida abaixo de 0oC no termômetro de mínima instalado junto da superfí- cie do solo (termômetro de Relva). Lê-se as 9 h a temperatura mínima da relva, a qual, é inferior a temperatura mínima do abrigo meteorológico (±3oC) em função da intensidade do resfriamento. Figura 5.113. Termômetro de relva 15.11. MEDIDAS PARA MINIMIZAÇÃO DOS EFEITOS DA GEADA Medidas preventivas: são medidas que devem ser tomadas antes da implantação da exploração agrícola. a) Local e época de plantio: Por meio de modelos probabilísticos adequados, pode-se esti- mar os níveis de risco de ocorrência de tempera- turas mínimas absolutas e das geadas (Distribui- ção dos valores extremos - Gumbell), em diferen- tes locais e períodos do ano, com base em séries históricas dessas informações. O resultado deste tipo de analise possibilita a escolha dos locais e épocas de plantio de modo a se evitar os mais críticos com relação a ocorrência de geadas. b) Utilização de variedades resistentes: conhecimento das temperaturas letais das diferentes espécies cultivadas - escolha daquelas mais adequadas para cada região. Medidas Topo-climáticas: As medidas topo-climáticas se baseiam na localização correta da implantação dos cultivos na bacia hidrográfica (encostas, espigões e terrenos convexos). Deve- se primeiramente evitar baixadas. Medidas Micro-climáticas: Essas medi- das são também muito importantes. Podem ser de curto ou longo prazo. As medidas de curto prazo são: manter o solo desnudo no período sujeito a geadas, de maio a setembro (manter o solo sempre limpo pois o calor armazenado durante o dia com a insolação, compensa perdas noturnas). As medidas a longo prazo, são aquelas to- madas logo no plantio. São utilizadas, principal- mente, em culturas perenes como o café, e con- siste da arborização ou sombreamento das áreas. Medidas de uso de produtos químicos: Esse método se baseia no principio de que aumentando a concentração de solutos na planta, o ponto de congelamento deve cair, aumentando, assim, a tolerância dessas plantas as baixas temperaturas. Os produtos que vem sendo utilizados a nível experimental são: inseticidas sistêmicos (Disyston 85% e Thimet 95%); e adubos minerais como o cálcio e o potássio. Medidas de proteção direta: São aqueles realizados no momento da ocorrência da geada. Devem ser antecipadamente planejados, porque sua utilização requer grande disponibilidade de mão de obra e treinamento, para que seja rápida. Entre essas medidas temos: a) Nebulização artificial da atmosfera: são de dois tipos, com neblina aquosa e oleosa. b) Aquecimento: utilização de vários aparelhos de aquecimento ou pequenas fogueiras. c) Ventilação: consiste em promover uma mistura do ar mais quente (acima) com o ar mais frio (abaixo), com a instalação de ventiladores acima da culturas (+ ou - 12m). Aplicável somente em pequenas áreas. d) Irrigação: consiste da aplicação de água, através de aspersão, na cultura durante a noite sujeita a geada, com uma taxa constante de 1 a 2 mm/h.Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 131 Figura 5.114. Combate a geada em pomar com irrigação por aspersão. e) Coberturas plásticas e outros materiais sintéticos: O uso da plasticultura vem crescendo acentuadate em todo o Br. Figura 5.115. Combate a geada em pomar com plasticultura. f) Exaustor de ar frio: o ar frio é impulsionado acima da camada de inversão térmica com o uso de um grande exaustor de ar. Figura. 5.116. Exaustor de ar para combate a geada. Em Resumo: podem ser utilizados vários métodos, o agricultor tem que escolher qual o método ou conjunto de métodos que melhor atenda o seu caso em particular. Levando-se em conta a natureza da lavoura (intensiva ou extensiva), aspectos topográficos, condições microclimáticas que favoreçam ou não a formação do ar frio, freqüência de ocorrência, condições econômicas e, se o interesse de proteção da lavoura ultrapassa ou não os inconvenientes. Tais variações explicam por que determinados métodos funcionam bem em determinadas condições e podem vir a falhar em outras. Exercício 1) Faça a previsão da Geada com os seguintes dados meteorológicos: TEMPERATURA horários de leitura (oC) 9:00 hs 15:00 hs 21:00 hs Bulbo úmido 8,0 12,0 8,0 Bulbo seco 10,0 13,0 10,0 Máxima 13,0 Mínima 0,0 Utilize o ábaco em anexos para a previsão. Faça um croqui explicando a previsão, indicando os dados utilizados. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 132 VI. DINÂMICA DA ATMOSFERA 1. INTRODUÇÃO Os movimentos do ar na atmosfera procedem de um conjunto de causas complexas cujos detalhes ainda continuam desconhecidos. a) Radiação terrestre: A Terra quando aquecida pela radiação solar passa a ser fonte emissora de radiação de onda longa. Sendo a temperatura média da Terra na ordem de 18oC, a radiação emitida esta em sua maior parte na faixa do infravermelho, cujo comprimento de onda oscila entre 4 - 50 micras com seu pico em 10 micras. A radiação de onda longa não se origina exclusivamente da superfície da Terra, também provem dos constituintes atmosféricos, que emitem na faixa do infravermelho. A superfície da Terra é considerada como um corpo emissor de radiação infravermelho, sendo caracterizado pela lei de Stefan-Boltzman. Fluxo Terrestre = 4T..σε onde, ε é a emissividade ou absorção do infra- vermelho; σ é a constante de proporcionalidade de Stefan-Boltzmann e T a temperatura da superfície terrestre. A atmosfera terrestre é praticamente transparente a radiação de ondas curtas, no entanto, absorve rapidamente a radiação terrestre (ondas longas), sendo que os absorventes são: * Vapor d'água: 5,3 - 7,7 µ e acima de 20µ * Ozônio: 9,4 - 9,8 µ * CO2: 13,1 - 16,9µ * nuvens - todos os comprimentos de onda Cerca de 9% da radiação terrestre escapa em direção ao espaço, principalmente na faixa de 8,5 a 11µ, sendo o restante absorvido pela atmosfera. No entanto, a atmosfera reemite a ra- diação terrestre absorvida, parte para o espaço e parte de volta a superfície terrestre (radiação contrária ou conter radiation). Sendo reduzida, consideravelmente, a radiação que deixa a Terra, quando comparada com uma atmosfera perfeita- mente transparente. Se não houvesse a radiação contraria, a temperatura da superfície terrestre seria de 30 a 40 oC mais baixa. A este fenômeno atmosférico dá-se o nome de "Efeito Estufa". Figura 6.1. Radiação solar e radiação emitida pela Terra. O Efeito Estufa é a re-emissão contrária, por parte da atmosfera, da radiação absorvida pela mesma. A atmosfera terrestre é uma fonte absorvedora de radiação de onda longa (calor) em todas as latitudes, enquanto que a superfície terrestre, excetuada as proximidades dos pólos, é uma fonte emissora de radiação de onda longa. A energia é continuamente transferida da superfície para a atmosfera, evitando assim um continuo aquecimento da Terra e um contínuo esfriamento da atmosfera. Figura 6.2. Esquema simplificado do Efeito Estufa. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 133 Próximo aos pólos o déficit de radiação da atmosfera supera o excesso de radiação emi- tido pela superfície o que resulta num balanço ne- gativo (-). O contrario ocorre em direção ao equa- dor, onde o excesso de radiação superficial ex- cede o déficit da atmosfera, o que resulta num ba- lanço positivo (+). Em direção aos pólos a absor- ção da atmosfera é maior do que a fonte emissora terrestre, o inverso ocorre em direção ao equador, onde a emissão de radiação da superfície é maior do que a absorção da atmosfera. Assim podemos concluir que: Nos pólos há déficit de radiação na super- fície, onde a radiação (onda longa) atmosférica será a emitida pela superfície, resultando em balanço negativo (-). No equador há excesso de radiação (onda longa) da superfície e déficit na atmosfera, resultando num balanço positivo (+). b) Equilíbrio Energético: Para que ocorra o equilíbrio energético, evitando o esfriamento continuo dos pólos e o aquecimento contínuo dos trópicos, deve haver transferência de energia (calor) das baixas para as altas latitudes, ou se- ja, do equador para os pólos. Portanto, ha duas maneiras de transferência de calor: da superfície para a atmosfera e do equador para os pólos. c) Movimento Atmosférico - Célula de Hadley: As diferenças no balanço de radiação associadas a diferenças da superfície terrestre ocasionam diferenças de aquecimento na super- fície e conseqüentemente diferenças da pressão atmosférica, mantendo assim, a atmosfera em continuo movimento. Tal movimento tende a eli- minar as diferenças de pressão removendo a ener- gia térmica das regiões de maior ganho para as de menor ganho. Em deslocamento, as massas de ar interagem entre si e com a superfície do plane- ta, gerando alterações nas condições meteoro- lógicas. No equador o ar mais quente e menos denso é forçado a subir devido às forças ascen- dentes atuantes. Já o ar mais denso dos pólos tem movimento descendente devido à força gravitacio- nal mais intensa. Nos pólos o ar se dirige em dire- ção ao equador a baixas altitudes e, em sentido oposto, na alta troposfera, dirige-se o ar quente do equador para os pólos. A esse modelo da circulação celular chamamos Célula de Hadley, em homenagem a George Hadley que desenvol- veu esse modelo no século XVIII. O modelo de circulação proposto por George Hadley pressupõe que a Terra esteja parada, onde haveria a formação de células meridionais de circulação constituídas de massas frias se dirigindo para o equador, junto à superfície, e de massas quentes dirigindo-se para os pólos, pela parte superior da atmosfera. Em consequência o vento na superfície seria de sul no hemisfério sul e de norte no hemisfério norte, como mostra a figura 6.3. Figura 6.3. Célula de Hadley. Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 134 2. PRESSÃO E VENTOS A pressão atmosférica e os ventos são importantes fatores de controle do clima. As dife- renças de pressão são as causas dos ventos, e estes são os meios pelos quais o calor é transmiti- do entre as diferentes latitudes e o vapor d'água transportado dos oceanos para os continentes. A pressão é maior quando o ar é mais frio e tende a descer das grandes altitudes. A pressão é menor quando o ar é mais quente e leve e tende a se elevar. As diferenças de pressão se originam também decorrentes de causas dinâmicas, como a força centrífuga que acompanha a rotação daTerra e devido ao atrito no deslocamento sobre diferen-tes superfícies. Como foi visto, as massas de ar se deslocam das regiões de alta pressão para as de baixa pressão, sendo a sua velocidade propor- cional a diferença de pressão. O diferente aque- cimento da superfície da Terra e as forças de de- flexão que acompanham a rotação da Terra con- tribuem para uma distribuição latitudinal dos ventos e formação de cinturões de pressão. Este aspecto geral da distribuição em cinturão ou zonal de pressão não é totalmente exato para as partes da superfície terrestre, devido aos diferen- tes graus de aquecimento e resfriamento da Terra e superfícies de água, porém nos auxiliam a com- preender porque há diferentes climas na Terra. Todo movimento relativo entre os pólos e o equador esta sujeito à ação de uma força, cujo efeito é evidenciado por um deslocamento para a direita, se o movimento for entre o pólo Norte e o Equador, e para a esquerda se o movimento for entre o pólo Sul e o Equador. Esta força é denominada de Força de Coriolis. As pressões e os ventos são diferentes fases do mesmo problema, que lida com a distri- buição do ar sobre a Terra, suas variações du- rante a distribuição e os processos pelos quais se fazem os transportes das grandes massas de ar. Este constitui o problema central da meteorolo- gia do qual muitos detalhes ainda continuam desconhecidos, devido a grande extensão da atmosfera e a variedade e complexidade das influencias que afetam seus movimentos. Figura 6.4. Esquema simplificado do Efeito de Coriolis. Observações mostram que a Terra é dividida em diferentes regiões as quais apresentam características próprias. A divisão da Terra em zonas ou faixas pode ser verificada na figura 6.5, que mostra a circulação geral na atmosfera para o globo terrestre em rotação. Da observação das Cartas Isobáricas Anuais, delimitaram-se sobre o globo terrestre zonas ou faixas de ocorrência de altas e baixas pressões denominadas: Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 135 1. Zona dos Doldrums (latitude 0o): é uma faixa, nas regiões equatoriais, onde as pressões são inferiores a 1013 mb ao longo de toda a faixa. Esta faixa varia de largura, porém envolve toda a Terra. Seu centro localiza-se um pouco ao norte do equador. Os ventos são calmos e variáveis. Os ventos convergem para essa região (área) provenientes do norte e do sul, sendo o principal movimento do ar ascendente. São os Alísios de Nordeste e Sudeste. As temperaturas são altas o ano todo. Figura 6.5. Distribuições das pressões e ventos - Tendência geral. 2. Zonas Sub-tropicais de Altas (latitude 30o): situam-se nas proximidades das latitudes 30° sul e 35o norte, ocorrendo faixas irregulares com pressão media acima de 1016 mb. Esta região também é conhecida como “latitude de cavalos”. Nestas zonas o ar que subiu a grandes altitudes provenientes dos Doldrums, dirigiu-se em direção aos pólos e desceu para a superfície pelo resfriamento e pela deflexão causada pela rotação do globo. Ao atingir a superfície, os ventos divergem, parte deslocando-se em direção aos pólos e parte em direção ao equador. No hemisfério norte a deflexão é à direita e no hemisfério sul é à esquerda do sentido da trajetória, devido à força de Coriolis. Os ventos são de Oeste predominantes. A faixa do norte, onde as grandes massas oceânicas e continentais se alternam, é mais irregular que a faixa do sul em que predominam os oceanos, o que lhe garante uma influencia mais uniforme. São zonas de ventos fracos e que variam com as estações do ano. São às vezes invadidas por ventos tempestuosos. 3. Zonas Sub-Polares de Baixas Pres- sões ou Frentes Polares (latitude 35° - 65°): são zonas descontínuas onde há ascensão e queda de ar, que representam áreas de contato entre os ventos de Oeste e os ventos Polares de Leste. São, geralmente, áreas de perturbações atmosféri- cas. Muitos meteorologistas, atualmente rejeitam a descrição tradicional dos sistemas de ventos no globo como visto acima e interpretam a circulação atmosférica em forma de espirais oceânicas, irrup- ções polares, monsões e os "Jet Streams". O com- portamento dos ventos dominantes na superfície terrestre é visto como governado por gigantescas aspirais oceânicas centralizadas no atlântico Norte e Sul, no pacifico Norte e Sul e no oceano indico essas aspirais são centros de massas de ar de altas pressões que se deslocam no sentido horário no hemisfério norte e anti-horário no hemisfério sul Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 136 4. Zonas Polares de Alta Pressões: originam-se pelo acumulo de ar frio e pesado provenientes de grandes altitudes. São zonas de pressões elevadas, e o ar se move em direção ao equador. Os ventos que se originam dessas zonas são chamados ventos polares de leste, pois sopram em ambos os hemisférios no sentido Leste-Oeste (E-W): Polares de Leste. Assim, em vez de uma circulação continua entre o equador e os pólos, tal como seria para o globo terrestre considerado uniforme e estacio- nário no espaço, verificamos que a circulação de cada hemisfério se apresenta dividida em 3 zonas de circulação mais ou menos independentes. 3. CÉLULA DE WALKER a) Circulação Atmosférica no Pacifico Sul: O modelo de Circulação proposto por George Hadley, Célula de Hadley, mesmo com as corre- ções posteriores, não é obedecida fielmente em todas as regiões do planeta. Pois, o clima é condi- cionado pelo movimento de grandes massas de ar (ciclones e Anticiclones) que interagem e se deslocam também com uma certa regularidade em determinadas latitudes. Gilbert Walker (1920), descobriu um sistema de circulação bastante peculiar, em cuja homenagem é denominado "Célula de Walker". É um sistema que ocorre no hemisfério sul entre as regiões da Indonésia a oeste e a costa da América do Sul a leste, no oceano Pacífico. Figura 6.6. Esquema representando a Célula de Walker. Tal célula de circulação compreende dois sistemas circulatórios, um atmosférico e outro de correntes marítimas. Em condições normais existe um anticiclone mais ou menos estacionário acima da costa do equador e peru e em correspondên- cia, com o qual interagem, existe um ciclone estacionário sobre a Indonésia. Do centro de baixa pressão, cuja convecção é a mais ativa do planeta, ha elevação do ar quente e úmido que se dirige com grande velocidade (Jet Streams) e a grande altitude ao longo do Equador em direção a América do sul. Ao esfriar-se e descer (fenômeno conhecido como subsidência) forma o Anticiclone de ar frio. Os ventos que sopram dai, sopram de volta para oeste (Alísios de sudeste) fechando o ciclo. Ao mesmo tempo existe uma corrente marítima fria ao longo da costa Americana, proveniente da antártica (Corrente de Humboldt). Ao atingir o Peru é desviada para o oeste pelos ventos alísios e se aquece ao longo do Equador, mudando para corrente quente descendente entre a Indonésia e a Austrália de volta a Antártica, como mostra a figura 6.6. Figura 6.7. Condições oceânica e atmosférica no Pacífico em condições normais (Fonte: NOAA). b) Perturbações da Célula de Walker: Tem sido observado anomalias climáticas intensas na região do Pacifico Sul, com sucessão irregular. A ocorrida com maior intensidade até então, foi em 1983, a qual provocou no sul do Brasil índices Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 137 pluviométricos extremos com inundações e com grandes prejuízos materiais em toda a região. A Célula de Circulação de Walker enfra- quecida passa a ser substituídapelo sistema circu- latório de Hadley. As causas reais de origem da anomalia (fenômeno) são ainda discutidas. O que ocorre é uma redução na diferença de pressão entre as duas regiões opostas do Pacífico, de mo- do que a circulação atmosférica é mais lenta enfra- quecendo os ventos Alísios. Com isso a corrente de Humboldt mais lenta permite um superaque- cimento das águas do Pacífico ao longo do Equa- dor. Tal aquecimento proporciona grandes movi- mentos convectivos (ar quente e úmido) a grandes altitudes. O ar quente e úmido é empurrado na di- reção sudeste justamente porque passou a predo- minar o sistema circulatório da Célula de Hadley. Com isso o ar quente ultrapassa os Andes bloque- ando as frentes frias no cone sul do continente gerando precipitações intensas e prolongadas, fenômeno este conhecido como "EL NIÑO". Figura 6.8. Condições oceânica e atmosférica no Pacífico em condições de El ninho (Fonte: NOAA). As variações dos índices pluviométricos são um dos principais parâmetros meteorológicos, sobretudo quando se trata de regiões tropicais. Todo um conjunto de atividades, a começar pelas agrícolas e hidrológicas, das quais tantas outras dependem, estão estreitamente ligadas ao regime pluviométrico, sendo afetadas pelas secas ou enchentes. O fenômeno "El Ninho" tem sido apresen- tado como o grande vilão dos flagelos climáticos que tem afetado o planeta nos últimos anos. Mas as variações da circulação atmosférica de escala global que determinam essas variações (anoma- lias) só podem ser compreendidas se considerar- mos a ação combinada de "El Ninho" com a de outro importante fenômeno, a “Oscilação Sul", conjugação a que seu deu o nome de ENOS. O ano de 1983, como foi dito anteriormente, foi marcado por um evento ENOS considerado o mais forte de que se tem registro, cujos efeitos se fizeram sentir em todo mundo. As precipitações pluviométricas são diretamente relacionadas com as convecções. Estas por sua vez, são controladas (intensificadas ou inibidas), pela circulação geral da atmosfera. Uma das mais espetaculares manifesta- ções da variação anual dessa circulação geral o fenômeno da Oscilação Sul. Trata-se de uma es- pécie de gangorra barométrica com dois centros principais de ação: uma localizada sobre a Indoné- sia e norte da Austrália e outro sobre o Pacifico Oriental, próximo à costa Oeste da América do sul. As águas do Pacífico Ocidental (região da Indonésia e norte da Austrália) são normalmente mais quentes que as da porção oriental desse oceano. Por isso, ocorrem ali pressões atmosféricas mais baixas junto à superfície e, consequentemente, convecções, que determinam chuvas abundantes. O ar, que sobe nessa região até uma altitude aproximada de 10 km, tende a se deslocar, vindo a descer lentamente sobre o Pacifico Central e Oriental. Essa descida do ar, chamada subsidência, faz com que a pressão atmosférica junto à superfície se eleva (movimento já descrito anteriormente - Célula de Walker). A Oscilação Sul é representada por um índice (IOS) que expressa sua intensidade e sua fase. O IOS é determinado pela diferença entre os desvios de pressão atmosférica ao nível do mar (PNM) registrados nas estações meteorológicas Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 138 de Darwin (Austrália), e do Taiti (Pacífico Oriental), que são os dois centros de pressão. O IOS é dado pela PNM do Taiti menos a PNM de Darwin (IOS = PNMT – PNMD). Figura 6.9. Variação do Índice de Oscilação Sul (IOS) no período de 1950 a 1998. A fase positiva da Oscilação Sul ocorre quando o sistema de altas pressões do Pacifico Oriental e os de baixas pressões na Indonésia se intensificam. Assim, quando a PNM do Taiti eleva- se acima de sua média ao mesmo tempo em que a de Darwin reduz-se abaixo da sua, tem-se um IOS positivo. Nestas condições, os movimentos convectivos intensificam-se, aumentam as precipi- tações sobre a Indonésia e norte da Austrália. Si- multaneamente, cresce a atividade convectiva so- bre a Amazônia e nordeste do Brasil. O ar ascen- dente, nestas regiões, desse sobre o Pacífico Oriental bem como sobre todo o atlântico subtro- pical, contribuindo para o aumento PNM e inibindo a formação de nuvens e chuvas nessas regiões. Durante a fase positiva da Oscilação Sul, o aumento da diferença de PNM entre o Pacífico Oriental e Ocidental intensifica os ventos alísios de Sudeste. Em consequência, há um acentuado transporte de água na direção Oeste, o que provoca o fenômeno da Ressurgência, isto é; o afloramento de águas mais frias, desde a costa Oeste da América do Sul até o Pacifico Central. Na fase negativa, tanto o sistema de baixa pressão, na Indonésia e no Norte da Austrália, como o de alta pressão, no Pacifico Oriental, enfraquecem. A diferença de PNM entre os dois centros reduz-se e, consequentemente, os ventos alísios diminuem de intensidade. Com isto, o transporte de águas e a res- surgência diminuem, o que dá lugar a uma série de fenômenos oceânicos, destacando-se as ondas de KELVIN. Estas, internas ao oceano, deslocam- se rapidamente do Pacifico Ocidental para o Oriental, ocasionando um brusco aquecimento das águas de superfície próximo à costa da América do Sul. É esse aquecimento anormal de temperatura da superfície do mar nessa região que configura o fenômeno "El Ninho". A convecção inteiriça se desloca sobre as águas anormalmente aquecidas, mudando por completo a configuração da circulação de WALKER. A origem desse fenômeno, cuja física já é relativamente conhecida, ainda não foi desvendado. Os cientistas, em sua maioria concordam que o ENOS é uma decorrência do acoplamento entre oceano e atmosfera, mas a causa primaria da mudança da fase negativa para positiva e vice-versa ainda não foi elucidada. Uma das hipóteses hoje consideradas é a de que esse fator basicamente determinante se- jam apenas variações na rotação da Terra. Outra hipótese considerada é a de que ENOS seria consequência da liberação submarina da grande quantidade de calor de vulcões ativos no fundo do Oceano. Em 1982 e 1983 o evento El Ninho, marcado por excepcional elevação da temperatura da superficial do mar, causou grandes anomalias climáticas no mundo inteiro. No Brasil, praticamente todo o sul e sudeste apresentaram, nos trimestres março-abril-maio e junho-julho- agosto de 1983, precipitações que superaram os níveis normais. Na cidade de São Paulo os índices pluviométricos apresentaram uma elevação de mais de 300%, enquanto os de Lages - SC, exce- Meteorologia e Climatologia. Prof. Dr. Célio Orli Cardoso. 2/2005 139 deram o normal em mais de 650% em junho. Segundo Kousky e Cavalcanti, a precipitação excessiva deve-se ao bloqueio de frentes frias sobre a região. Normalmente estas frentes frias penetram na América do Sul e avançam rapidamente em direção ao Equador. Quando a velocidade da corrente de Jato (Jet Streams) se intensifica, ela impede o deslocamento dessas frentes. Neste caso, a forte atividade convectiva associada às frentes produz chuvas abundantes. Se a fase negativa da Oscilação Sul esta associada a eventos “El Ninho”, a fase positiva (IOS Positivo) correlaciona-se a um evento contra- rio, a que se deu o nome de Anti-El-Ninho, ou La Ninha. Neste caso, a pressão atmosférica eleva-se acima do normal no Taiti a cai em Darwin. Obser- vou-se que nessas circunstancias, a atividade convectiva sobre a Amazônia e o Nordeste aumenta e, com ela, os totais pluviométricos. Ocorrências típicas de Anti-el-ninho reduzem os índices pluviométricos no sudeste e sul do Brasil. Em 1986 ocorreu redução das chuvas, que chegou a 70% em Cruz Alta e a 67% em Porto Alegre.