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NARCIZO ateismo cristão

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TEOLOGIA DA MORTE DE DEUS: INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE DIETRICH 
BONHOEFFER E SEU ATEÍSMO CRISTÃO 
Makchwell Coimbra Narcizo 
makch01@hotmail.com 
 
 Considerações iniciais 
Dietrich Bonhoeffer é conhecido fora do meio teológico como um opositor de Adolf Hitler, 
é que, assim como Karl Barth e Paul Tillich se opuseram a apropriação feita pelo Regime Nazista 
de símbolos cristãos, produzindo uma resposta veemente a esse. Nessa época Bonhoeffer 
assim como os outros dois já eram teólogos muito respeitados na Alemanha e na Europa, tendo 
Bonhoeffer uma posição de destaque entre esses, com uma produção teológica de altíssimo 
valor. Por isso, destacamos Bonhoeffer pelo seu pensamento e não meramente por ter sido 
opositor de Hitler ou considerado um mártir da fé cristã protestante. 
 
Bonhoeffer e o Nazismo 
Apesar de ser a intenção desse trabalho uma análise do pensamento bonhofferiano será 
destacado brevemente o seu envolvimento com a já citada oposição ao governo de Hitler. 
Entre os teólogos anteriormente citados Dietrich Bonhoeffer foi quem teve o fim mais 
trágico, sendo que após o Concílio de Barmen1 o teólogo assumiu uma posição política mais 
radical, ingressando na resistência militar ao regime, na qual em conjunto com o general Beck e 
o almirante Canrer, participaram de um plano para assassinar Hitler. O plano fora descoberto e o 
teólogo preso em 5 de abril de 1943, ficando detido em uma seção militar em Tegel nas 
proximidades de Berlim durante dezoito meses. No princípio de 1945 Bonhoeffer foi transferido 
para o campo de concentração de Bunchenwald, onde fora enforcado em 8 de abril, pouco antes 
da queda do Terceiro Reich. Aconteceu o que ele e Barth diziam desde o princípio de sua 
resistência ao nazismo “A única coisa que o nazismo pode fazer contra nós é nos matar.” 
(MONDIN, 2003, p. 204). 
 
Sua obra 
Fora enforcado pelo nazismo aos 39 anos. Mesmo com sua morte precoce, podem ser 
destacadas algumas obras de elevada importância que o coloca entre os grandes teólogos do 
século XX. Diferentemente do que alguns possam pensar que Bonhoeffer só é respeitado por ser 
um mártir cristão, afinal já era um teólogo altamente importante quando vivo. Dentre suas 
principais obras podem ser destacadas: Sanctorum Comunio2 (1930), Ark und Sein: 
Transzendentalphilosophie und Ontologie in der Sistematichen Theologie (1931), Nachfolge 
(1937), (Imitação), Etik (1939), (Ética) e um livro póstumo que é uma coletânea de cartas 
enviadas pelo teólogo a amigos e à família quando estava na prisão em Berlim, Widerstand und 
Ergebung: Briefe und Aufzeichnungen aus der Haft (1951), (Resistência e Submissão), esse 
último um livro magnífico, que mostra uma fé incrivelmente inabalável, quando o autor passava 
por um momento de turbulência extrema, com certeza é um livro que merece ser lido, não 
 
1
 Concílio que se postou contra o Governo Social-Nacionalista. Contando com grandes lideranças do 
protestantismo alemão. Nesse concílio fora redigida a Confissão de Barmen, um dos documentos cristãos 
mais importantes do século XX. 
2
 As obras com referência em português entre parênteses são as que existem tradução para o português e 
edição brasileira. 
 2
apenas por teólogos e cristãos, mas por todos aqueles que se sensibilizam com os sentimentos 
humanos. 
 
Suas influências 
Dentre seus principais influenciadores podem ser destacadas: Lutero (o qual o autor 
tentou atualizar para a modernidade), Kant (trabalhando com a concepção de limites da razão), 
Harnack (mesmo indo contra seu antigo mestre, que era adepto da teologia liberal, tão criticada 
por Bonhoeffer), Thomas de Kemps (adotando seu conceito de imitação), Karl Holl e Renhold 
Seeberg (promotores do chamado “renascimento luterano”) e Karl Barth e Emil Brunner (apesar 
de ter rompido com esses posteriormente). 
 
Pensamento (A Teologia da Morte de Deus) 
Bonhoeffer é o principal precursor do que ficou conhecido como: “Teologia da Morte de 
Deus” ou “Ateísmo Cristão” ou ainda “Cristocentrismo a-religioso”. No qual o teólogo ao ver a 
ineficácia da pregação cristã ao homem moderno, sendo que o autor não identifica o ateísmo 
como uma heresia ou meramente uma aversão à igreja, pois, nada mais é do que um traço 
essencial do homem moderno, que imerso nas conquistas da modernidade, não consegue mais 
ser um homem religioso; sendo assim, propõe a libertação da mensagem bíblica, fazendo isso 
em termos a-religiosos que é o único que o homem moderno compreende e pode compreender. 
A questão está centrada justamente na natureza da teologia na interpretação de 
Bonhoeffer, na medida em que para esse para uma melhor interpretação da mensagem cristã é 
necessário que se faça antes uma secularização dessa mensagem. O problema é que, existe 
uma linguagem cujo qual a mensagem cristã está posta, sendo essa uma linguagem idealista 
que é na verdade a linguagem clássica. Assim, para uma correta compreensão da mensagem 
cristã, que é o principal fundamento do teólogo de Wroclaw é necessário que essa seja feita uma 
substituição dessa linguagem para uma linguagem mais moderna. Assim, sua interpretação é 
mais radical que a de Rudolf Bultmann, que propõe rever as vestes mitológicas da mensagem 
cristã assim como suas bases filosóficas, para Bonhoeffer é necessário ir além, é necessário 
mudar a linguagem religiosa que fora expresso originalmente. (MONDIN, 2003, 211). 
Para Bonhoeffer a questão não é separar Deus e os milagres como propõe Bultmann 
(BULTMANN et. Al., 1999; 2003a; 2003b), mas sim os interpretar abertamente em um sentido 
“não-religioso”, já que para o autor essa é uma exigência do homem moderno. 
Segundo Bonhoeffer houve uma crescente secularização da igreja, que para ele 
independendo do país ser católico ou protestante, houve no período da Reforma uma 
emancipação do homem perante Deus. Esta é celebrada como a emancipação do homem na 
consciência, na razão e na cultura, e como a justificação do secular enquanto tal. A fé bíblica dos 
Reformadores em Deus afastou-os do mundo, acontecendo com o mundo da seguinte maneira: 
Preparou-se de tal forma para o florescimento das ciências 
matemáticas e experimentais que, ao passo que os cientistas dos 
séculos XVI e XVII ainda eram crentes, quando a fé em Deus decaiu, 
restou apenas um mundo racionalizado e mecanizado. (BULTMAN, 
1939, Apud: MONDIN, 2003, p. 221). 
 
Assim, a razão emancipada conquistara o mundo, levando a um triunfo da ciência 
técnica, o que relegou a igreja de um lugar de domínio a um “não lugar” frente às necessidades 
 3
do mundo. Levando não apenas a uma negação teórica da existência de Deus, mas segundo 
Mondin (2003, 222) a uma hostilidade a Deus. Até por isso como argumenta Mondin (2003, 222): 
“Aí está a característica do ateísmo ocidental. Ele não pode desfazer-se de seu passado. Não 
pode ser essencialmente senão uma religião”, essa não renegação de seu passado faz com que 
esse ateísmo seja diferente de outros ateísmos como de alguns gregos, indianos ou chineses. 
Assim, conclui Bonhoeffer: 
Seria um erro grosseiro identificar o ateísmo com a aversão à igreja: o 
ateísmo é um traço essencial do homem moderno, que, depois das 
conquistas da ciência e da técnica, não pode mais ser um homem 
“religioso” (...) O homem moderno aprendeu a enfrentar qualquer 
problema, mesmo os importantes, sem recorrer a hipótese da 
existência e da intervenção de Deus. (BULTMAN, 1939, Apud: 
MONDIN, 2003, p. 222). 
 
Bonhoeffer propõe o abandono das técnicas tradicionais tanto da teologia quanto das 
pregações, que podem ser encaradas como uma ofensa a modernidade não religiosa, fazendo 
uma atualização teológica e hermenêutica da mensagem cristã, que tem como essência o 
próprio Cristo, devendo ser apenas cristocêntrica. Assim, a pregação deve ser baseadanão na 
vivencia de cada homem como era (é) feito até então, mas de um Deus que possa explicar o 
mundo. 
Como fazer isso então, já que o homem moderno aprendeu a resolver seus problemas 
sem recorrer à hipótese da existência de Deus? A questão para Bonhoeffer é que o que 
designamos chamar Deus está confinado fora das coisas da vida, além do mais as respostas 
que antes deveriam ser dadas por Deus, saíram da alçada de da igreja e da teologia, sendo 
respondidas (ou tentativas de respostas) pela psicanálise, sociologias ou pela medicina. Assim, 
para Bonhoeffer a única chance de a igreja se fazer valer levando sua mensagem para uma 
maior parte do mundo é ter coragem de rever os fundamentos de sua mensagem: “O único modo 
de sermos honestos é reconhecer que devemos viver no mundo etsi deus non deuretur, como se 
Deus não existisse.” (BONHOEFFER, 2003, 241). 
Como então deve ser a relação da igreja com esse mundo “des-religiozizado”, já que o 
cristão tem o dever de passar a frente as “boas novas” do evangelho? A resposta de Bonhoeffer 
é simples, pelo exemplo, pois assim, talvez, com o exemplo cristão, possa se fazer com que os 
outros intuam o conteúdo da fé desses. Nas palavras de Bonhoeffer: 
Que o cristão permaneça no mundo, mas não pela bondade da criação 
ou por sua responsabilidade em relação ao curso do mundo, mas por 
amor ao Corpo de Cristo encarnado e por amor a igreja. Que 
permaneça no mundo para empenhar-se no ataque contra ele e que 
viva a vida de sua vocação secular para mostrar-se ainda mais como 
um estrangeiro nesse mundo. (BULTMAN, 1937, Apud: MONDIN, 
2003, p. 224). 
 
A intenção de Bonhoeffer não é como muitos podem interpretar e têm intepretado 
alguns, de fazer a linguagem cristã adotar uma linguagem seular, mas sim, de faze-la perder a 
eficácia frente ao testemuno. 
Como expresso anteriormente esse teólogo morrera jovem, no auge de sua produção, 
assim, não pode concluir alguns de seus pensamentos e tampouco responder a algumas 
 4
indagações a esse. Como a questão de como funciona então essa circularidade entre o cristão 
que testemunha o mundo a religioso? Na medida em que, as pessoas que porventura aceitem a 
mensagem cristão estão nesse mundo a-religioso. Além de não ter visto a falência da religião da 
ciência após a destruição da Europa, que muito se deu por ideais cientificistas ou se apoiando 
nessas. 
Não concordamos com quem liga diretamente o pensamento de Bonhoeffer e sua 
“Teologia da Morte de Deus” com o que ficou conhecida em especial na década de 1960 como 
“Teologia Radial”. Esse pensamento tratava que uma vez que Deus não era empiricamente 
verificável, a visão do mundo bíblico foi tida por mitológica e inaceitável para a mente moderna. 
A verdade é que essa ala teológica se apropriou não tanto do pensamento bonhoefferiano, afinal 
a questão da morte de Deus está presente no Ocidente desde muito tempo, passado desde 
Nietzsche a Dostoievski, o que esses teólogos apropriaram de fato de Bonhoeffer foi mais um 
vocabulário do que o pensamento propriamente dito. 
No Brasil Bonhoeffer nunca foi muito conhecido nem mesmo nos círculos acadêmico-
teológicos, entretanto isso começa a mudar, nos últimos anos há uma campanha de divulgação 
do pensamento do teólogo, feita especialmente pala Escola Superior de Teologia (EST) da Igreja 
Evangélica Luterana no Brasil (IECLB). Em 1995 na ocasião do cinqüentenário do assassinato 
de Bonhoeffer, a EST promoveu o “dia de Bonhoeffer”, no qual estudantes e teólogos tiveram 
como pauta a vida e a teologia do teólogo alemão. Desde então obras do autor passaram a ser 
publicadas e republicadas. 
No caso de Bonhoeffer não se pode falar de uma influência posterior à Segunda Guerra 
Mundial, afinal esse não sobreviveu a ela, sendo silenciado um dos teólogos mais brilhantes que 
o protestantismo já produziu, entretanto, é importante ressaltar que no período em que esteve 
prezo sua teologia ressaltava ainda mais a necessidade da mensagem cristã atingir o homem 
moderno, mas infelizmente não pode desenvolver seu pensamento. A teologia bonhoeffiana veio 
denunciar que o homem moderno não aceitava a pregação cristã e que algo deveria ser feito 
para que atingisse esse objetivo, talvez seja essa a grande contribuição desse autor à teologia 
do século XX. Na crise em que a modernidade vive, sendo criticada por algumas correntes, o 
pensamento bonhoefferiano se faz ainda mais necessário para os cristãos. 
 
Bibliografia 
 
A Bíblia Sagrada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2003. 
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo: 7.ed. Sinodal, 2002. 
_____________________. Ética. São Leopoldo: 6.ed. Sinodal, 2002. 
_____________________. Resistência e submissão. São Leopoldo: 8.ed. Sinodal, 2003. 
_____________________. Tentação. São Leopoldo: 4.ed. Sinodal, 2002. 
_____________________. Vida em comunhão. São Leopoldo: 5.ed. Sinodal, 2002. 
BULTMANN, Rudolf . Demitologização. São Leopoldo: Sinodal, 1999. 
__________________. Milagre: Princípios de interpretação do Novo Testamento. São Paulo: 
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__________________. Jesus Cristo e mitologia. São Paulo: Novo Século, 2003. 
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 5
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HÄGGLUND, Bengt. História da Teologia. Porto Alegre: Concórdia, 1986. 
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