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DIREITO PENAL V Silmar Fernandes CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL ESTUPRO (latim – estuprum) Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. § 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. § 2º Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. Com este artigo, iniciamos o que o Código Penal agora trata pela rubrica de “crimes contra a dignidade sexual”, que antes da Lei 12.015/09 era tratado sob o título de “crimes contra os costumes” Trata-se de um delito de constrangimento ilegal específico ou pontual, posto que o agente visa à prática da conjunção carnal ou do ato libidinoso. Protege-se, portanto, com esse dispositivo, a liberdade sexual do cidadão Somente o homem pode ser sujeito ativo da primeira parte da figura penal em estudo, qual seja, a de constranger alguém a ter conjunção carnal Indispensável o constrangimento da vítima, mediante violência ou grave ameaça, exigindo-se desta uma veemente oposição ao ato sexual ou libidinoso, não bastando mera recusa verbal ou dissenso passivo ou inerte Tentativa É possível quando não houver contato físico entre o agente e a vitima, pois, caso contrário, poderá caracterizar o ato libidinoso Os crimes sexuais sofreram uma reforma a partir de 2009, sendo que antes da Lei 12.015/09 existiam dois crimes independentes, autônomos e distintos, quais sejam: estupro e atentado violento ao pudor. Após a entrada em vigor da referida lei essas duas figuras foram unificadas, revogando-se, assim, o artigo 214 do CP Antes da Lei 12.015/09, o crime de estupro consistia em constranger mulher a manter conjunção carnal mediante violência ou grave ameaça. O sujeito passivo do crime só poderia ser uma mulher e o sujeito ativo um homem, portanto, era crime próprio. Hoje, o crime é comum A Lei 12.015/09 transformou o crime de estupro em crime comum ao substituir a palavra “mulher” por “alguém”, bem como equiparou ambos os crimes às penas do estupro Assim, falava-se em tentativa de estupro, independentemente de ter havido contado físico entre a vítima e o agente, porque para que o estupro se consumasse era necessária a conjunção carnal Interfêmora (coito vestibular), coito anal, felacio in ore – são considerados atos libidinosos distintos da conjunção carnal, portanto não caracterizavam o crime de estupro Dessa forma, entendia-se que a única forma de aborto legal era aplicada quando houvesse estupro, ou seja, conjunção carnal (pênis na vagina). Assim, quando o agente praticava um desses três atos mencionados acima, e engravidasse a vitima, a mulher não tinha permissão legal para praticar o aborto, uma vez que tais atos não eram considerados como estupro Sendo assim, passou-se a interpretar de forma analógica o referido instituto, de forma a permitir que a mulher, vitima de atentado violento ao pudor, que viesse a engravidar, também poderia abortar Contudo, hoje, com a publicação da Lei 12.015, essa interpretação não tem mais sentido, uma vez que todos esses atos são considerados como estupro Em suma, mesmo com a unificação desses dois crimes – estupro e atentado violento ao pudor - ainda é possível falar em tentativa no caso de estupro, todavia, apenas quando não houver contato físico entre agente e vitima Atentado violento ao pudor – consiste em constranger alguém a praticar ato libidinoso, diverso da conjunção carnal, assim o próprio tipo penal já fazia a distinção entre ambos O crime de atentado violento ao pudor sempre foi crime comum Sujeito Ativo Com a unificação tornou-se crime comum, podendo o sujeito ativo ser tanto um homem quanto uma mulher O que não se tem como mudar é o conceito de conjunção carnal, que consiste na emissão do pênis na vagina. Dessa forma, uma mulher nunca será autora da primeira parte do “caput” do artigo 213, notadamente quanto à prática da conjunção carnal Autor e co-autor – são aqueles que praticam o núcleo do tipo Participe – é aquele que pratica atos que auxiliam o autor ou os co-autores a praticar o núcleo Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas,na medida de sua culpabilidade. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. Em se tratando de Código Penal, a figura do participe só surgiu em 1984, sendo considerada moderna a referida teoria, uma vez que o Código é de 1940 Artigo 29, CP – tal inovação tem por base o princípio da proporcionalidade das penas. Determinou que o agente que tem conduta ativa deve ser punido com a pena cheia, enquanto aquele que apenas deu apoio ou auxilio fosse punido com uma pena mais branda o Esse conceito pode ser percebido pela expressão “na medida de sua culpabilidade”, ou seja, de sua participação na prática do crime Parágrafo 1º – trata-se do “iter criminis”, ou seja, do tempo ou duração do crime. Assim, quanto mais perto o agente chegar de alcançar o resultado pretendido, menor a redução sofrida na pena, sendo válido o raciocínio inverso Parágrafo 2º – se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser- lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. Diz respeito às situações em que um dos agentes aceita ser participe pensando que um crime menos grave será praticado, quando na verdade o autor pratica um crime mais grave. Contudo, o mencionado artigo estabelece que o resultado mais grave não pode ser previsível Teoria do domínio do fato – determina que aquele que pratica o núcleo do tipo é o mandante, o autor ou o co-autor, sendo este o que domina o fato. Enquanto aquele que apenas ajuda a praticar o crime, mas não domina o fato, é o participe Assim, quanto ao crime de estupro, a mulher não pode ser autora da primeira parte do artigo, mas sim co-autora (domina o fato) ou participe (não domina o fato) Nos crimes sexuais a palavra da vítima tem um valor significativo para o deslinde do feito, sendo este o entendimento majoritário na doutrina e jurisprudência, excepcionando-se, assim, o principio do in dubio pro reu Crime hediondo O crime de estupro é considerado hediondo (Lei 8.072/90) por força do disposto no art. 4º da Lei 12.015/09, pelo que, insuscetível de anistia, graça, indulto, fiança e liberdade provisória, além de iniciar-se o cumprimento da pena no regime fechado Lei 8.072/90 Art. 1º – crimes hediondos originais o Homicídio qualificado, genocídio, latrocínio, extorsão mediante sequestro, extorsão mediante sequestro seguido de morte, estupro, falsificação de medicamentos Art. 2º – crimes equiparados o Tráfico de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e tortura Perdão da pena – anistia (coletivo), graça (individual) e indulto (coletivo) o Não pode ser aplicado aos crimes hediondos Progressão de regime o Antigamente, a pena era cumprida integralmente no regime fechado. Após alteração legislativa, a pena deve ser cumprida inicialmente em regime fechado. A progressão poderá ocorrer após cumprimento de 2/5 da pena quando o réu for primário, e 3/5 quando for reincidente o A alteração ocorreu por causa da Lei de Tortura, que dizia que a pena ia ser cumpridainicialmente no regime fechado Lei benéfica retroage para todos os efeitos o Em 2007, a redação foi alterada Lei 9.455/97 – Lei de Tortura Definiu o que é tortura – infligir mal físico ou mental desnecessariamente a alguém, com o fim de obter informações Criação do crime hediondo privilegiado – tem todas as proibições da Lei dos Crimes Hediondos, mas a pena é cumprida inicialmente em regime fechado, e não integralmente Aumento de pena Ainda, haverá aumento de metade da pena se a vítima engravidar, e de um sexto até metade se a vítima for contaminada ou exposta à doença sexualmente transmissível (DST), por força do previsto no art. 234-A, CP Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada: III - de metade, se do crime resultar gravidez; e IV - de um sexto até a metade, se o agente transmite à vitima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador. Tipo misto cumulativo ou alternativo Com a nova redação decorrente da Lei 12.015/09, parte da doutrina passou a entender que o art. 213, CP descreve um tipo misto cumulativo, ensejando a possibilidade de concurso de crimes (Vicente Grecco Filho, Julio MIrabete e Ricardo Andreucci). Outra parte da doutrina interpreta o delito em questão como um tipo misto alternativo, o que implica na configuração de crime único, afastando a possibilidade de concurso de crimes (André Stefan, Guilherme de Souza Nucci e Damásio de Jesus). Na mesma esteira da divergência doutrinária, a jurisprudência também não é pacífica, tanto que a 5ª Turma do STJ interpreta como sendo tipo misto alternativo, enquanto que a 6ª Turma do mesmo Tribunal Superior entende que o tipo é misto cumulativo Lei 12.015/09 Antes da Lei 12.015/09, tínhamos dois crimes autônomos: estupro (art. 213, CP – conjunção carnal) e atentado violento ao pudor (art. 214, CP – ato libidinoso coito anal), ou seja, se o agente praticasse as duas condutas, seria caso de concurso de crimes (concurso material ou formal) A Lei 12.015/09 revogou o art. 214, CP, introduzindo o disposto neste artigo no art. 213, CP (estupro) Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: o O STF ainda não decidiu se o tipo é cumulativo ou alternativo Hoje em dia é possível pleitear unificação da pena, pois são crimes da mesma espécie o Antigamente eram crimes do mesmo gênero, mas não da mesma espécie Corrente severa – tipo misto cumulativo o Dois crimes Corrente garantista – tipo misto alternativo o Crime único Praeludia coito Entende a doutrina e a jurisprudência até aqui predominante, que os atos libidinosos praticados “antes” da conjunção carnal violenta são absorvidos pelo crime de estupro É considerado ato libidinoso quando o agente, mediante ameaça, obriga a vítima a se masturbar, desfrutando ele da contemplação lasciva. Logo, não é indispensável para a configuração dessa figura do delito o contato físico entre o agente e a vítima Crime doloso e que não exige exclusivamente a intenção do agente em saciar a lascívia, pois poderá ele ser movido por outro intuito, como a vingança, ódio ou desprezo Atos libidinosos em progressão do estupro Preliminares – crime meio para atingir o objetivo o São absorvidas pelo estupro o Os atos libidinosos são absorvidos pela conjunção carnal Ato libidinoso diverso – coito anal e felação o Não são atos libidinosos em progressão, ou seja, não são absorvidos pelo estupro o Antigamente, se fossem praticados depois, não eram absorvidos. Com a edição da Lei n. 12.015/09, a corrente garantista considera crime único, ou seja, os atos libidinosos podem ser praticados antes ou depois do estupro, e serão absorvidos pelo mesmo o Para a corrente severa, se os atos libidinosos são praticados antes do estupro, são absorvidos pelo mesmo; se praticados depois, são considerados outros crimes Não se exige dolo especifico o O estupro exige dolo genérico o Havia discussão se o estupro ocorria apenas quando cometido para satisfazer desejo sexual. Hoje em dia não se exige dolo específico, ou seja, se uma pessoa atenta contra a dignidade sexual de outra em razão de ódio ou vingança, estaremos diante do crime de estupro Pode haver crime de estupro sem contato físico entre o agente e a vítima? o Sim, pois o art. 213, CP estabelece que estupro é ter conjunção carnal ou praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso Conjunção carnal – há contato entre o agente e a vítima Permitir – há contato entre o agente e a vítima Praticar – não há contato entre o agente e a vítima Antigamente, entendia-se que se tratava de constrangimento ilegal o fato de o agente determinar que a vítima se masturbasse ou que duas pessoas mantivessem relação sexual A lei não fala que a vítima só pode ser passiva, ou seja, quando a vítima for ativa, não haverá contato entre os dois, mas mesmo assim será considerado estupro consumado Estupro qualificado Caso ocorra o resultado lesão corporal de natureza grave ou morte, incidirão, respectivamente, os §§ 1º e 2º do art. 213, CP. As lesões corporais de natureza leve são absorvidas pelo crime de estupro Na vigência da lei atual admite-se, além da clássica modalidade preterdolosa, também a figura do dolo seguido de dolo, hipótese esta em que a pena pode chegar a 30 anos de reclusão A lesão corporal leve sempre será absorvida pelo estupro Antes da Lei n. 12.015/09, se fosse caso de preterdolo, seria estupro qualificado, de competência do juiz singular. Se fosse caso de dolo no estupro e dolo ou na morte, seria caso de homicídio qualificado, de competência do Tribunal do Júri o Ex: se em razão do estupro a vítima tiver o útero perfurado ou morrer Com a edição da Lei n. 12.015/09, no caso de estupro seguido de morte, a pena foi dobrada, podendo chegar até 30 anos. Com isso, existe discussão se será de competência do juiz singular ou do Tribunal do Júri ESTUPRO DE VULNERÁVEL Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. § 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. § 4º Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. Uma das principais preocupações do legislador ao elaborar a Lei n. 12.015/09 consistiu em conferir aos menores de 14 anos especial proteção contra os crescentes abusos sexuais e a proliferação da prostituição infantil e de diversas outras formas de exploração sexual Este artigo revogou expressamente o artigo 224, CP, que tratava da chamada “presunção de violência”, e que dava margem à discussão jurisprudencial sobre tal presunção ser absoluta ou relativa O atual artigo considera estupro a conjunção carnal ou ato libidinoso com menor de 14 anos, com pessoa alienada ou débil mental ou, ainda, quando não pode a vítima, por qualquer outra causa, oferecer resistência Vulneráveis Menores de 14 anos Alienados Inimputáveis Não podem oferecer resistência Ex: pessoa dopada ou sedada Presunção de violência Relativa STF – Ministro Marco Aurélio passou a adotar essa posição em 1992 Analogia com o Direito Civil o Presunção iuris tantum o Admite prova em contrário Inexistência de dolo o Exemplo: manter relações sexuais com menor de 14 anos que se prostituía, sob argumento de não ser possível identificar a idade da pessoa Fato atípico Absoluta O agente tinha conhecimento da condição de vulnerabilidade da vítima Origem da Lei n. 12.015/09 Essa lei teve origem num projeto de lei elaborado pela CPI da pedofilia Foi elaborado para acabar com o turismo sexual no nordeste VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica- se também multa. É chamado na doutrina de “estelionato sexual” Antigamente, a conduta ora proibida era prevista em dois artigos distintos, sendo que o art. 216, CP foi revogado. Agora, com a conjugação dos arts. 215 e 216, CP, o crime que era próprio (só o homem podia praticá-lo) passou a ser crime comum Exemplos retirados da jurisprudência: Pai de santo que, sob o pretexto de estar a vítima possuída por uma “pomba gira”, apregoa que a cura e o afastamento do “encosto” só será obtido mediante a imediata realização da conjunção carnal Enfermeiro que com o intuito de abusar da doente submete-a a atos de libidinagem sob o pretexto de aplicar-lhe massagens Funcionário de posto de saúde que, a pretexto de colher material para exame de vermes, introduz o dedo no ânus da vítima IMPORTUNAÇÃO OFENSIVA AO PUDOR (art. 65, LCP) Contravenção penal Pena – 10 dias de multa ou 15 dias de prisão simples É comum ocorrer a desclassificação do estupro para essa contravenção penal Ex: homem que encoxa uma mulher no ônibus durante uma brecada ASSÉDIO SEXUAL Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. § 2º A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos. Figura típica criada pela Lei n. 10.224/01, que introduziu esse artigo no nosso Código Penal, cujo meio de execução é livre, ou seja, pode ser praticado por palavras, gestos, escritos, etc. Mas é preciso bom senso para distinguir o constrangimento criminoso do simples gracejo ou paquera, eis que nem toda “abordagem” constitui assédio, haja vista que este tipo penal exige uma importunação ofensiva, insistente, embaraçosa, chantagiosa Crime próprio Trata-se de crime próprio, eis que só pode ser praticado “de cima para baixo”, nunca “de baixo para cima”. Por isso mesmo, esse delito é também conhecido como “assédio laboral” Crime doloso Crime doloso e com especial fim, qual seja, ”vantagem ou favorecimento sexual” Crime formal Trata-se de crime formal e que, portanto, não admite tentativa A vantagem sexual é exaurimento do crime Causa de aumento de pena Não incide o inciso II do art. 226, CP no que tange às relações empregatícias, se não haveria “bis in idem” Art. 226 - A pena é aumentada: II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela; A Lei n. 12.015/09 acrescentou parágrafo prevendo aumento de pena em se tratando de vítima menor de 18 anos Funcionário público O crime de assédio sexual pode ser cometido por funcionário público, em razão da expressão “cargo ou função” Professor O crime de assédio sexual pode ser cometido por professor, por causa da expressão “prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência” CORRUPÇÃO DE MENORES Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. O título do crime não foi modificado pela nova lei 12.015/09, mas apenas a redação, que passou a ser “induzir alguém menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem” Trata-se de uma espécie de lenocínio praticado contra o menor de 14 anos. É chamada de lenocínio a atividade de explorar a lascívia alheia, seja ou não com o intuito de lucro. Aquele que pratica o lenocínio é conhecido como lenão, ou também como proxeneta. Tal sujeito não satisfaz a sua libido, mas sim a de terceiro O núcleo do tipo é o verbo induzir, que significa embutir a ideia na vítima, isto é, convencê-la a saciar a libido alheia Não pode ter contato físico É preciso não confundir: se o agente induz o menor de 14 anos a prática da conjunção carnal ou ato libidinoso com outra pessoa, responderá como partícipe do crime de estupro de vulnerável (art. 217-A, CP). Portanto, de acordo com a doutrina , esta nova figura penal se caracteriza nos seguintes exemplos: Induzir a vítima a tomar banho na presença de alguém ou ficar despida para ser contemplada Fazer danças eróticas em trajes sumários ou seminua Fazer “streape-tease” Tratando-se de nova figura penal, discute-se o momento consumativo: uma corrente entende consumado o crime com a simples indução (formal), enquanto que segunda corrente entende consumado o crime com a prática de ao menos algum ato tendente à satisfação da lascívia alheia Aquele que tem satisfeita sua lascívia pela atuação do proxeneta não pratica o crime em questão, eis que o tipo penal exige do sujeito ativo uma conduta no sentido de satisfazer a libido de outrem, e não a própria O terceiro é apenas beneficiário, não respondendo pelo crime de corrupção de menores É diferente da corrupção de menores prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente, pois o crime de corrupção de menores visa proteger a dignidade sexual SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇAS OU ADOLESCENTES Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. A intenção deste artigo foi corrigir uma falha do antigo delito de corrupção de menores, que não previa tal situação, ou seja, se a vítima fosse maior de 14 e menor 18 anos, seria corrupção de menores, mas se fosse menor de 14 anos o fato era atípico, por falta de previsão legal. Agora, com o art. 218-A, CP, tal falha foi superada O crime ocorre de duas maneiras: Quando o agente pratica a conjunção carnal ou ato libidinoso na presença do menor de 14 anos Quando o agente induz o menor a presenciar a prática de tais atos Normalmente, a presença de um menor nesse cenário constitui-se em uma “tara” do agente que assim procede para obtenção do prazer sexual Crime doloso Crime exclusivamente doloso FAVORECIMENTO DA PROSTITUÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE VULNERÁVEL Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. § 1º Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. § 2º Incorre nas mesmas penas: I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticasreferidas no caput deste artigo. § 3º Na hipótese do inciso II do § 2º, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento. O menor de 18 anos é relativamente vulnerável, de modo que se um menor com 17 anos, por sua própria vontade iniciar-se na prostituição, sem que seja seduzido ou induzido a tal prática por terceiro, tal fato será atípico sob o ponto de vista penal. Portanto, o delito em questão pune a conduta do proxeneta que induz o menor de 18 e maior de 14 anos a ingressar na atividade do comércio do sexo Induzir o menor de 14 anos será caso de estupro de vulnerável Neste delito, por força do disposto no §2º, inciso I, pune-se também o “cliente” da vítima. Em outras palavras, o beneficiário passa a ser considerado como partícipe LENOCÍNIO A prostituição é uma fatalidade da vida social, sendo conhecida desde os mais remotos tempos, mas nem por isso deixa de ser mais preocupante. Tanto que, embora a prostituição não seja fato típico penal, nosso ordenamento jurídico pune as diversas modalidades de estímulo ou de exploração dessa modalidade de comércio carnal Entende-se por lenocínio o fato de prestar assistência à libidinagem alheia ou dela tirar proveito Quem explora o lenocínio é o lenão Mediação para servir a lascívia de outrem Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. § 1º - se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. § 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência. § 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. A proteção penal é dirigida para impedir que com a realização do tipo haja incentivo ou favorecimento à prostituição O objetivo da lei não é exatamente proteger a moralidade pública, mas sim coibir o possível ingresso da vítima no mundo da prostituição Sujeito ativo é qualquer pessoa, o mesmo dizendo-se em relação ao sujeito passivo Destinatário é aquele que, com a mediação do sujeito ativo, desafoga na vitima sua libidinagem, não sendo ele punido por esse crime, uma vez que não estará servindo a lascívia alheia, mas sim a própria O tipo penal refere-se à satisfação da lascívia de pessoas determinadas. Se o sujeito incentivar a vítima a satisfazer a libido de pessoas indeterminadas incorrerá no fato criminoso previsto no art. 228, CP Trata-se de crime material, exigindo a satisfação da luxúria alheia, ainda que o beneficiado não alcance o clímax sexual Distinção: se a mediação do agente for habitual e com o fim de lucro, estará tipificado o art. 230, CP (rufianismo) Favorecimento da prostituição Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 1º Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. § 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, além da pena correspondente à violência. § 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. Como já dito, a prostituição não é punida pelo nosso ordenamento jurídico. Por vezes, poderá a prostituta incorrer nas contravenções penais dos artigos 61 e 65 quando perturbar a tranquilidade alheia, promovendo algazarra e distúrbios em horário de repouso noturno, bem como importunar o pudor quando se apresentar de maneira inadequada, em via pública, aos bons costumes. Poderá ainda, eventualmente, responder pelo crime de ato obsceno Induzir significa persuadir, convencer; atrair pressupõe que quem atrai já se encontra no ambiente da prostituição; facilitar significa prestar auxílio, tornar mais fácil, criar condições; impedir significa convencer ou praticar ato que impeça a prostituta de abandonar a comercialização de seu corpo Exemplos da prática deste crime extraídos da jurisprudência: 1. Arranjar a instalação para as meretrizes e arranjar-lhes fregueses 2. Encaminhar mulheres para locais determinados com a finalidade de participar de orgias 3. Fornecer casa ou apartamento para propiciar os encontros da prostituta Quem comete esse crime é o facilitador Crime comum ou próprio Na modalidade induzir é crime comum, porque qualquer pessoa pode induzir Na modalidade atrair é crime próprio, pois só uma pessoa “de dentro” pode atrair o Atrai para pessoas indeterminadas, pois se fossem pessoas determinadas seria o caso do art. 227, CP o Ex: prostituta que leva outra para a mesma atividade – é uma facilitadora Na modalidade impedir é crime comum o Impede através do valor moral (autoridade moral – ex: pais) Casa de prostituição Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e sujeito passivo é a coletividade O núcleo do tipo fala em manter, que significa sustentar, prover, conservar, continuadamente, reiteradamente, exigindo-se, portanto, a habitualidade, não bastando o comportamento ocasional Entende-se por prostíbulo o lugar onde a meretriz permanece para o exercício do comércio carnal. Logo, a prostituta que recebe seus clientes em casa não pratica esse crime, eis que não estará “mantendo”, mas sim “exercendo” o meretrício Motéis, hotéis, drive-in, casa de massagem, saunas e outras não são consideradas casas de prostituição, porque elas não visam, normalmente ou exclusivamente, explorar a atividade das prostitutas, mas sim mera atividade comercial aberta ao público em geral. Sob a égide da antiga redação tal posicionamento era pacífico. Hoje, com a nova redação dada pela Lei n. 12.015/09, alguns doutrinadores passaram a polemizar o tema, eis que os estabelecimentos comerciais acima mencionados poderiam se enquadrar na elementar do tipo chamada de “exploração sexual” Erro de fato Há entendimento jurisprudencial de que certos locais abrigam prostitutas às claras e com tolerância das autoridades administrativas e policiais, permitindo, com isso, retirar de seu proprietário a exata noção da ilicitude de seu ato (interpretação decorrente do já mencionado “princípio da adequação social”) Rufião = cafetão Art. 217, CP – sedução Seduzir mulher virgem, entre 14 e 18 anos, justificando sua inexperiência Foi revogado Rufianismo Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1º Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. § 2º Se o crime é cometido medianteviolência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência. Pune-se ainda a exploração sexual alheia. Esse crime pune a pessoa que vive exclusivamente dos rendimentos da prostituta. Inexiste o crime, porém, se o agente é sustentado pela prostituta com rendimentos de outra fonte que não a prostituição (ex: aluguéis, salário comprovado, rendimento de bens adquiridos por herança, prêmio de loteria, etc.) Trata-se de crime habitual e que, por decorrência, não admite a tentativa Crítica doutrinária Alguns doutrinadores (dentre eles Guilherme Nucci) entendem que esse artigo é inconstitucional porque demonstra uma simples repressão moral, passando o direito penal a censurar o modo de vida das pessoas. Afinal de contas, indaga o citado Nucci: “qual a diferença entre o rufião e, por exemplo, a esposa do traficante ou do assaltante que, sabedora dessa atividade ilícita, usufrui dos bens materiais daí advindos?” Tráfico internacional de pessoas para fim de exploração sexual Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. § 1º Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. § 2º A pena é aumentada da metade se: I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. § 3º Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. Segundo o ensinamento de Magalhães Noronha “tutela-se a honra sexual contra o ataque dos lenões internacionais, porque tal figura tem o fim específico de incriminar um fato que lesa não só o interesse de um Estado, mas sim dos Estados em geral” A finalidade do agente é dar entrada, em território nacional, de pessoa que nele venha a exercer o meretrício ou visa a saída de pessoa que vá exercê-la no estrangeiro Crime doloso cujo momento consumativo ocorre com a efetiva entrada ou saída do território nacional, não importando se a vítima venha de fato a exercer a prostituição Por se tratar de crime que não depende do resultado, em tese, não é admita a tentativa. Todavia, há alguma divergência doutrinária (principalmente por parte dos doutrinadores oriundos do MP), no sentido da admissibilidade como, por exemplo, na hipótese do lenão que, após preparar os documentos necessários para a viagem, é preso em flagrante delito no momento em que embarcava a vítima em um avião, estando ela já destinada a servir uma casa de prostituição ou outro estabelecimento congênere O professor entende não haver possibilidade de tentativa, devendo o agente ser enquadrado no art. 228, CP (favorecimento da prostituição) Competência da justiça federal Tráfico interno de pessoas Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. § 1º Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. § 2º A pena é aumentada da metade se: I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. § 3º Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. Há uma conexão lógica entre esse crime e o delito anterior, de forma que não há como interpretar um sem o outro. Assim, quando o Código Penal fala em tráfico interno está se referindo às pessoas que aqui chegaram pelo tráfico internacional, de maneira que as ações previstas neste artigo pressupõem que tenha sido previamente realizada a conduta descrita no artigo 231, CP Crime acessório Com a entrada da pessoa em território nacional, para o exercício do meretrício, esgota-se a atividade do traficante internacional e, daí em diante, qualquer ação realizada no território nacional, no sentido de facilitar o acolhimento da pessoa que venha a exercer a prostituição, constituirá o delito de tráfico interno Ex: A trafica B da Itália para o Brasil. Após a entrada de B no Brasil, C, sócio de A, trafica B para Belo Horizonte. Nesse caso, A responderá por tráfico internacional de pessoas, enquanto C responderá por tráfico interno o A pessoa deve entrar no Brasil por meio do tráfico, pois se vier por conta própria e for agenciada, será caso de favorecimento da prostituição Logo, caso sejam os mesmos autores do tráfico internacional e depois do tráfico interno, deverá ser aplicado o princípio da consunção, pois os atos posteriores configurarão mero exaurimento da conduta anterior, respondendo o agente apenas pelo primeiro delito Conflito aparente de normas Princípio da especialidade – art. 231, CP é autônomo e existe por si só, enquanto o art. 231-A, CP é acessório O crime de tráfico interno diz respeito apenas ao “remanejamento” de vítimas do tráfico internacional, porque se for de brasileiro será favorecimento da prostituição (art. 228, CP) Competência estadual ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR Neste capítulo, visa o legislador proteger o sentimento de moralidade sexual vigente em uma sociedade em determinado momento. A moralidade sexual (pudor público) possui conceito variável no tempo e no espaço. Exemplificando, essa variação de conceito, o jurista Damásio de Jesus cita, em sua obra, o seguinte exemplo: “se uma moça se vestisse ao tempo da promulgação do Código Penal com um biquíni de pequenas proporções, sem dúvida que o pudor da sociedade seria atingido, o mesmo não ocorrendo hoje em face da evolução dos costumes. Se alguém se apresenta despido em um campo de nudismo, o pudor daquele grupo não restará afetado, o mesmo não se podendo dizer se alguém resolver andar nu por alguma rua do centro da cidade de São Paulo. O pudor público é, portanto, um conceito variável e dependente dos costumes do grupo social” Ato obsceno Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. Ofende o pudor coletivo, ou seja, quando um fato não obedece às regras costumeiras, observadas pela grande maioria dos cidadãos, daí ofendendo a moralidade média da população Urinar em via pública com a exibição do pênis, via de regra, ofende o pudor público. Da mesma forma são considerados obscenos, pela jurisprudência, os seguintes atos: Exibir os órgãos genitais Andar ou correr nu Praticar ato sexual ou libidinoso em local aberto ou acessível ao público, como por exemplo, no interior de automóveis, elevadores, em escadarias de prédio, piscinas, cinemas, teatros, etc. Trata-se de crimede perigo abstrato, consumando-se com a mera possibilidade de ofender ao pudor coletivo, daí porque não é necessário que alguém veja o ato obsceno, bastando a potencialidade de que seja visto por alguém CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR Abandono material Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País. Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada. Objeto jurídico – a subsistência do organismo familiar, evitando a mendicância e a delinqüência. Decorre da obrigação constitucional do dever de assistência recíproca entre pais e filhos. Assim é que o artigo 229 da Constituição Federal estabelece que “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência e enfermidade”, enquanto que o art. 230 do mesmo diploma legal impõe à família, além da sociedade e do Estado, o dever de amparar as pessoas idosas, notadamente garantindo-lhes o direito à vida Crianças, idosos ou enfermos em qualquer idade Subsistência – meios necessários à vida, como os alimentos, vestuário, habitação e medicamentos Mínimo necessário Sem justa causa – atípica a conduta se o sujeito não fornece aos familiares os recursos necessários por absoluta carência de tais recursos. Logo, exige-se a deliberada intenção de realizar uma das condutas descritas no tipo penal, tanto que na modalidade de pagamento de pensão alimentícia não basta o mero inadimplemento, mas sim a comprovação de que o agente, propositadamente, possuindo recursos para arcar com a pensão, frustra o seu pagamento Sem justa causa – pessoa solvente, ou seja, tem condições de sustentar e não sustenta porque não quer o Deve ter dolo na conduta o Ex: parar de pagar pensão por raiva da ex-mulher Se tiver justa causa será fato atípico no âmbito penal o Estado de necessidade – excludente de ilicitude o No âmbito penal, de acordo com a jurisprudência, o desemprego afasta a justa causa para ação penal, pois retira o dolo (in dubio pro reu), mas não tem o condão de afastar a obrigação de pagar os alimentos Crime omissivo puro – significa que não admite tentativa. A conduta de omitir o dever de assistência a vários parentes não configurará concurso formal de crimes, mas sim delito único, uma vez que o objeto da tutela penal é a família. Todavia, possível a ocorrência do crime continuado na conduta do agente que deixa, por mais de um mês, de efetuar o pagamento da pensão alimentícia na data estipulada, considerando-se, ai sim, cada falta um novo delito Consequências Civil – execução de prestação alimentícia (arts. 732 e 733, CPC) o Medida processual coercitiva Citação para pagamento dos alimentos, sob pena de penhora Prisão civil (não é sanção, mas sim medida processual coercitiva) Com o pagamento, será expedido alvará de soltura Art. 732 - A execução de sentença, que condena ao pagamento de prestação alimentícia, far-se-á conforme o disposto no Capítulo IV deste Título. Parágrafo único - Recaindo a penhora em dinheiro, o oferecimento de embargos não obsta a que o exeqüente levante mensalmente a importância da prestação. Art. 733 - Na execução de sentença ou de decisão, que fixa os alimentos provisionais, o juiz mandará citar o devedor para, em 3 (três) dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. § 1º - Se o devedor não pagar, nem se escusar, o juiz decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses. § 2º - O cumprimento da pena não exime o devedor do pagamento das prestações vencidas e vincendas. § 3º - Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da ordem de prisão. Penal – crime de abandono material Crime único Como o objeto é a família, não importa a quantidade de pessoas que foram abandonadas o Ex: se A deixar de pagar pensão para 3 filhos, responderá uma vez pelo crime de abandono material, porque a proteção é para a família o Não existe hipótese de crime formal, mas poderá ser caracterizado crime continuado Ex: não pagar pensão durante 5 meses Pena – detenção, podendo ser aplicada pena restritiva de direitos Abandono intelectual Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa. Trata-se de crime omissivo próprio, posto que a Constituição Federal e o Código Civil impõem aos pais o dever jurídico de educar os filhos. Deve a omissão se dar sem justa causa, como, por exemplo, quando o pai mora em região deserta e não possui condição financeira de custear o transporte do filho para cidade distante Sujeito ativo – somente os genitores do menor podem praticar esse delito, excluindo-se a figura do tutor ou do curador Crime próprio Consumação – consuma-se o delito quando o sujeito deixa de tomar medidas necessárias para que o filho em idade escolar (dos 6 aos 14 anos) receba instrução Crime doloso Professor particular Quando os filhos são educados em casa, eles não estão abandonados, mas a educação deles é informal (deve frequentar o sistema educacional formal de ensino) Crime – não houve o abandono material de fato, mas sim de direito, ou seja, deve ser punido Objetivo – evitar o analfabetismo forçado Subtração de incapazes Art. 249 - Subtrair menor de 18 (dezoito) anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial: Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 2 (dois) anos, se o fato não constitui elemento de outro crime. § 1º - O fato de ser o agente pai ou tutor do menor ou curador do interdito não o exime de pena, se destituído ou temporariamente privado do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda. § 2º - No caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode deixar de aplicar pena. Trata-se de crime comum, sendo certo que qualquer pessoa pode praticá-lo, inclusive o genitor que estiver destituído ou temporariamente privado da guarda ou do próprio poder familiar Trata-se de norma expressamente subsidiária, tendo em vista que prevê o tipo penal a aplicação da pena “se o fato não constitui crime mais grave”, que bem pode ser crime contra a dignidade sexual, cárcere privado, sequestro, extorsão mediante sequestro, colocação de menor em lar substituto (venda de menor – art. 237, ECA), etc. Consuma-se o delito com a subtração do menor da esfera de vigilância de seus responsáveis, sendo irrelevante que a posse do agente não seja tranquila Se o menor fugir sozinho da companhia de seu guardião legal, não haverá responsabilização daquele que lhe deu guarida Ex: filho que foge da mãe e vai morar na casa do pai Crime comissivo – subtrair menor ou interdito do poder de quem detém sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial Este crime tem fim educacional, ou seja, a pessoa subtrai o menor para cuidar dele Ex 1: ex-marido que tem o direito de visitas de sábado até domingo e não devolve a criança para a mãe,que tem a guarda legal do mesmo o Decorrente de ordem judicial o Separação de fato – a guarda de direito pertence aos dois, mesmo se a guarda de fato for de um só (fato atípico) Solução – guarda provisória Ex 2: terceiro que pega o filho de um casal (os pais têm a guarda legal do filho) para cuidar o Decorrente da lei Consequências Civil – ordem judicial de busca e apreensão do menor Penal – crime de subtração de incapazes CRIMES DE PERIGO COMUM Incêndio Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. Aumento de pena § 1º - As penas aumentam-se de um terço: I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio; II - se o incêndio é: a) em casa habitada ou destinada a habitação; b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura; c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo; d) em estação ferroviária ou aeródromo; e) em estaleiro, fábrica ou oficina; f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável; g) em poço petrolífico ou galeria de mineração; h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta. Incêndio culposo § 2º - Se culposo o incêndio, pena é de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. Sujeito ativo – qualquer pessoa, inclusive o proprietário do local incendiado Consumação – crime formal, bastando a criação do perigo, causando efetivo risco para um número indeterminado de pessoas e coisas. A situação de risco pode também decorrer de pânico provocado pelo incêndio, como em um teatro, cinema, edifício, etc. Se o incêndio for praticado em casa afastada e isolada, não colocando em risco a coletividade, não caracterizará o crime de incêndio, mas sim o crime de dano Crime contra número indeterminado de pessoas Se uma pessoa coloca fogo numa casa no meio do deserto onde não mora ninguém, será crime de dano (destruir, inutilizar ou deteriorar algo), porque não colocou a vida de ninguém em perigo Bem jurídico – vida ou integridade corporal (perigo abstrato) O perigo é presumido pelo legislador Crime doloso ou culposo Ex 1: colocar fogo na casa de um pessoa por motivo de vingança (doloso) Ex 2: jogar bituca de cigarro no mato (culposo) CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa. Sujeito ativo – na primeira conduta, qualquer pessoa pode cometer o crime. Na segunda conduta (excedendo-lhe os limites), trata-se de crime próprio, praticado apenas por médicos, dentistas e farmacêuticos, como por exemplo o médico que prepara medicamentos; farmacêutico que expede receitas ou o dentista que pratica intervenção cirúrgica para extração de um câncer na boca Ex 1: crime comum – qualquer pessoa pode exercer ilegalmente a medicina, sendo considerada um falso médico Ex 2: crime próprio – farmacêutico que receita medicamentos ou médico que faz fórmulas Crime que coloca em perigo um número indeterminado de pessoas Crime de perigo abstrato – não precisa fazer prova de que o falso médico colocou a vida de alguém em risco (o perigo é presumido pelo legislador) Bem jurídico – saúde Trata-se de crime doloso e que exige a habitualidade Se for uma conduta isolada, única, será fato atípico Se outra for a profissão ilegalmente exercida pelo agente restará tipificado o art. 47, LCP (exercício ilegal da profissão – ex: advogado) Se após determinação judicial impeditiva ou suspensiva do direito de clinicar, responderá o agente não por este delito, mas sim pelo crime do art. 359, CP Art. 359, CP – descumprimento de ordem judicial Concurso material ou consunção Se uma pessoa, para exercer a profissão de médico em um hospital, falsifica um diploma de medicina, estará cometendo dois crimes ou apenas um? o Concurso material – art. 298, CP (falsificação de documento particular) + art. 282, CP (exercício ilegal da medicina) o Princípio da consunção – art. 298, CP é crime meio para atingir o crime fim (art. 298, CP), respondendo apenas pelo exercício ilegal da medicina Charlatanismo Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. O verbo italiano “ciarlare”, que significa “falar muito” é que dá origem ao “nomem juris” deste tipo penal Crime de perigo abstrato, sendo presumido o risco à coletividade Indispensável o dolo na conduta, não se exigindo habitualidade (basta uma conduta) Pode haver concurso formal com o crime de estelionato quando o charlatão, por exemplo, também cobra consultas ou aufere vantagem financeira com o exercício do charlatanismo Ex: charlatão que diz ter descoberto a cura do câncer e vende o “remédio” Curandeirismo Art. 284 - Exercer o curandeirismo: I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância; II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio; III - fazendo diagnósticos: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa. É o exercício da arte de curar, por meios não científicos, por quem não possui nenhuma habilitação profissional Assim como o crime do art. 282, CP exige habitualidade Práticas religiosas – não serão consideradas como curandeirismo, desde que não extrapole o âmbito da religião Distinção entre as três figuras No exercício ilegal, o agente possui suficiente noção e conhecimentos da medicina, farmacologia ou odontologia, mas exerce tais atividades sem possuir autorização legal ou excedendo-lhe os limites. O charlatão propala de forma mendaz a cura de um mal por meio só dele conhecido, podendo ou não ter conhecimentos médicos. O curandeiro, por sua vez, não possui qualquer noção de medicina, tratando-se de uma pessoa ignorante em tal ciência, rude, que todavia utiliza para a cura de doenças métodos e práticas rudimentares
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