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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Discente : Moacir José Outeiro Pinto Curso : Bacharelado em Direito / Turma: 1o ano -‐ Noturno 2012 Disciplina : Direito Civil I Data : 01/11/2012 Discente: Moacir José Outeiro Pinto-‐ UFMT – E-‐mail: moacirjop@superig.com.br Cel: (65 ) 9643-‐8266 – Cuiabá -‐ MT 1 ESTUDO E COMENTÁRIOS À DECISÃO Disponível em: http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/noticias/56045/tj-‐ rs+autoriza+laqueadura+em+adolescente+de+15+anos+portadora+de+doenca+men tal.shtml; acessado em 27 out 2012. JUSTIÇA AUTORIZA LAQUEADURA EM ADOLESCENTE DE 15 ANOS PORTADORA DE DOENÇA MENTAL • Pinto, Moacir José Outeiro; Discente da Faculdade de Direito da UFMT – Turma 2012 – Período Noturno – Disciplina: Direito Civil I ; e-‐mail: moacirjop@superig.com.br O FATO: O TJ-‐RS (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul) autorizou a realização de laqueadura tubária em uma adolescente de 15 anos, portadora de doença mental, após o nascimento do seu primeiro filho. Segundos os laudos psiquiátricos, a adolescente não tem qualquer discernimento, sendo necessária a laqueadura tubária para que não volte a engravidar. O procedimento foi indicado como a única alternativa para o seu caso, pois a autora não consegue utilizar contraceptivos orais ou injetáveis e o DIU é contra indicado pela situação de promiscuidade. ( Da Redação do sítio www.ultimainstancia.uol.com.br, 2012 ) COMENTÁRIO: A presente decisão do TJ-‐RS através de Acordão, datado de 22 mar 2012 sobre a Apelação Nº 70047036728, decerto foi tomada por observância criteriosa na prudência jurídica a que todos os conflitos jurídicos devem ser submetidos, procurando estabelecer relação direta não tão somente sobre o pedido do requerente, mas também com os efeitos materiais a que uma decisão pode disseminar no meio social, jurídico e principalmente nos veios jurisprudenciais da justiça brasileira. Considerar que todos os adolescentes no Brasil, em especial aqueles convivas em lares humildes e sem sustentação social e cultural possuem educação familiar digna para formação humana, é aceitar a falsa realidade de um país estabilizado no processo socioeducacional e sociocultural de seu povo, ficando em destaque as próprias crianças e adolescentes, em especial aquelas com deficiência mental, que sofrem a marginalidade da segregação social, e quando mais grave porém não difícil, a própria segregação familiar, tanto para o convívio fraterno, quanto a saúde e bem estar. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Discente : Moacir José Outeiro Pinto Curso : Bacharelado em Direito / Turma: 1o ano -‐ Noturno 2012 Disciplina : Direito Civil I Data : 01/11/2012 Discente: Moacir José Outeiro Pinto-‐ UFMT – E-‐mail: moacirjop@superig.com.br Cel: (65 ) 9643-‐8266 – Cuiabá -‐ MT 2 Com agravo, o Acordão em epígrafe, tipifica a situação jurídica da adolescente no que diz respeito a sua real condição de absolutamente incapaz prevista no Art. 3º, Inciso I e II do CC-‐02, in verbis, também aplicam-‐se na decisão a observância nos arts. 3º e 4º em seus caputs, e inciso (a) do § único do art. 4º , todos do ECA – 90. A IMPROCEDÊNCIA DA PETIÇÃO INICIAL: Em primeira instância, a juíza de Direito Vanessa Lima Medeiros, da 1ª Vara Judicial da Comarca de Giruá julgou o pedido improcedente. ( Da Redação do sítio www.ultimainstancia.uol.com.br, 2012 ) COMENTÁRIO: A Propositura inicial para 2a Instância, foi protocolada na 1a Vara Judicial da Comarca de Giruá na data de 29/11/2011 sob o número 100/1.11.0001683-‐9 transcorrendo sob segredo de justiça, tendo como advogado a defensoria pública do Estado do Rio Grande do Sul. Estando sob segredo de justiça, o presente processo limita-‐se seu acesso público, o que no entanto ao consultar o Site do TJ-‐RS, foi de fácil acesso a decisão da Exma. Sra. Juíza de Direito Vanessa Lima Medeiros, conforme a seguir, em pontos que destacam-‐se no fundamento da decisão que indefere o pedido inicial: ( Pode-‐se obter na íntegra a presente decisão junto ao sitio www.tjrs.jus.br ) Antes porém, vale ressaltar que o transcorrer da fundamentação desta decisão, a Exma. Sra Juiza de Direito Vanessa Lima Medeiros, usou por analogia a apelação civil nº 70010573723, julgado em 30 mar 2005, entendimento este esposado pelo eminente Desembargador José Carlos Teixeira Giorgis, além de em dado período do textofundamentativo, apresentar dizeres pontuais do autor Luiz Fernando Calil Freitas ( in Direitos Fundamentais , Limites e restrições , Ed. Livraria do Advogado, Porto Alegre, 2007, p. 45 ), pautando a questão da inconstitucionalidade em decisões que inflijam Direitos Fundamentais previsto na CFB. Em Destaque, vistos da Decisão: (…) A seriedade da medida postulada implica ofensa aos direitos fundamentais, que estão constitucionalmente protegidos, uma vez que concedida a autorização para realização da cirurgia, tal procedimento será definitivo e irreversível. A imposição de submissão à cirurgia importaria lesão à dignidade da pessoa humana, aos direitos de liberdade, de igualdade e de intimidade, já que o resultado almejado pode ser alcançado através de UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Discente : Moacir José Outeiro Pinto Curso : Bacharelado em Direito / Turma: 1o ano -‐ Noturno 2012 Disciplina : Direito Civil I Data : 01/11/2012 Discente: Moacir José Outeiro Pinto-‐ UFMT – E-‐mail: moacirjop@superig.com.br Cel: (65 ) 9643-‐8266 – Cuiabá -‐ MT 3 outros meios menos invasivos, não sendo a medida pleiteada a única maneira de controlar os impulsos sexuais da autora. Sinale-‐ se que embora a autora seja portadora de doença mental, esta ainda não se encontra interditada, sendo plenamente capaz, segundo o ordenamento civil pátrio, de gerir, por si só, os atos da vida civil, não necessitando de autorização judicial para tanto. E, mesmo que assim não fosse, entendo que tal procedimento é desproporcional para atingir o fim colimado, dada a sua irreversibilidade (…) (…) eis que há medidas que alcançam resultado igual ou semelhante e que consubstanciam restrição menos gravosa ao direito à liberdade, direitos da personalidade e à dignidade da pessoa humana (…) (…) E concluiu, taxativamente, que inexiste norma jurídica com densidade normativa suficiente que autorize a esterilização de absolutamente incapazes, vez que o art. 10, §6º da Lei nº 9263/96 ainda carece de regulamentação... E, a rigor, mais não precisaria ser dito para desacolher a pretensão recursal. De qualquer sorte, é oportuno destacar que o art. 5º da Carta Magna garante o respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inc. III, CFB) (…) (…) Em decorrência do dever de proteção, estabelece-‐se uma dupla vinculação dos poderes públicos: no sentido negativo, a vinculação se dá em termos de vedar toda e qualquer atuação dos poderes constituídos que importe afronta aos direitos fundamentais, sob pena de inconstitucionalidade por ação; no sentido positivo, a vinculação obriga os poderes constituídos a realizarem tarefas de concretização e efetivação dos direitos fundamentais, sob pena de inconstitucionalidade por omissão (grifei). Portanto, mostra-‐se inviável o deferimento da tutela pleiteada, por afronta direta ao direito à liberdade e intimidade da interditada, configurando, como já disse, um tratamento degradante (…) (…) É que os direitos fundamentais devem ser analisados sob o prisma de direitos relativos e não absolutos , admitindo-‐se eventual restrição, quando ponderada pelo princípio da proporcionalidade... E, no presente caso, a esterilização, mediante realização da cirurgia de laqueadura tubária, que é procedimento cirúrgico irreversível, constitui meio desproporcional para alcançar o fim desejado, que seria a preservação moral da interditada (…) (…) Por todas essas motivações, e, porque não vislumbro a presença de requisitos que autorizem, INDEFIRO o pleito de autorização para laqueadura tubária, postulado na inicial. Outrossim, DEFIRO o benefício da assistência judiciária gratuita. Intimem-‐se (…) UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Discente : Moacir José Outeiro Pinto Curso : Bacharelado em Direito / Turma: 1o ano -‐ Noturno 2012 Disciplina : Direito Civil I Data : 01/11/2012 Discente: Moacir José Outeiro Pinto-‐ UFMT – E-‐mail: moacirjop@superig.com.br Cel: (65 ) 9643-‐8266 – Cuiabá -‐ MT 4 O MOTIVO DA PETIÇÃO INICIAL E RECURSAL : Segundo a família, a jovem que sofre de distúrbios psiquiátricos sérios e irreversíveis, não adere aos tratamentos propostos, salvo quando está internada, e a mãe e os irmãos não têm condições de contê-‐la a fim de evitar uma nova gravidez. . ( Da Redação do sítio www.ultimainstancia.uol.com.br,2012 ) COMENTÁRIO: A petição inicial, muito embora não possa ser acessada por segredo de justiça, claramente é estampada em ambas decisões , tanto de 1a Instância, quanto de 2a Instância, o que a família da adolescente se vê em desespero pela dificuldade de “controlar” as ações da menor, seja por sua condição débil no que diz respeito a mentalidade, quanto em sua condição clínica toxicológica, uma vez atestar-‐se o fato da jovem adolescente também ser usuária eventual de drogas, com impulso a pratica sexual desenfreada, o que culminou em recente gravidez sem identificação de ou de vários homens que possam ter mantido relações sexuais com a Jovem e atestarem como possíveis pais. Percebe-‐se também que antecipadamente a família conseguiu atestados profissionais de alta relevância clínica sobre/da adolescente ( ginecologia, obstrecia, psiquiatria, psicologia, entre outros) que caracterizam totalmente sua total incapacidade absoluta, com vias legais para interdição, e falta de discernimento do certo e do perigoso, tanto que , segundo as alegações familiares e clínicas, a jovem adolescente não possuindo discernimento plausível à conduta humana, se rebela, se recusa, ou não toma por atenção utilizar métodos contraceptivos de menor impacto ao corpo humano, não sendo ainda recomendado o uso do DIO, face a sua atividade sexual impulsiva que pode provocar inicialmente infecções que comprometerão sua saúde. Outrossim, há de se constatar a necessidade de se evitar a concepção intra uterina (gravidez), por motivo fático e constatado da condição mental da possível genitora, o desamparo do nascituro , bem como a possível vivencia em um Lar humilde e desprovido de condições sociais que possam sustentar com carinho, afeição e educação o desenvolvimento humano de direito natural e civil ao filho(a). UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Discente : Moacir José Outeiro Pinto Curso : Bacharelado em Direito / Turma: 1o ano -‐ Noturno 2012 Disciplina : Direito Civil I Data : 01/11/2012 Discente: Moacir José Outeiro Pinto-‐ UFMT – E-‐mail: moacirjop@superig.com.br Cel: (65 ) 9643-‐8266 – Cuiabá -‐ MT 5 Conforme constatado clinicamente, a única solução é a “Laqueadura Tubária” da Adolescente, e por tratar-‐se de um conflito jurídico diante das normas sociais e legais, apelou-‐se ao poder judiciário o socorro à decisão. O AMPARO LEGAL DA DECISÃO DE 2ª INSTÂNCIA: De acordo com o processo, o pedido está amparado na Lei 9.263/96, que trata do planejamento familiar e prevê a possibilidade de esterilização voluntária, mediante autorização judicial, no caso de pessoas absolutamente incapazes. . ( Da Redação sítio do www.ultimainstancia.uol.com.br, 2012 ) COMENTÁRIO: A princípio a Lei 9263/96 , segundo constatado, regula o § 7o do art. 226 da Constituição Federal, que trata do planejamento familiar, estabelece penalidades e dá outras providências, e per si, em seu art. 10o § 6º prescreve que “A esterilização cirúrgica em pessoas absolutamente incapazes somente poderá ocorrer mediante autorização judicial, regulamentada na forma da Lei” , além do que demais artigos da mesma Lei apresentam substâncias analógicas ao referido caso. Podemos também colocar em destaque, e acredito seja o que auxiliou a decisão da 2a Instância, o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente , que em contra-‐partida às alegações iniciais do indeferimento quanto a regulamentação da Lei 9263/96, o presente Estatuto em seus arts. 3º e 4º e seus caputs, e inciso (a) do § único do art. 4º , todos do ECA – 90, prescrevem claramente os direitos fundamentais e a prioridade a que estes ( Crianças e Adolescentes ) estão submetidos nos conflitos judiciais a que forem inseridos. Neste conflito jurídico, entende-‐se , também coube a aplicação dos Principais Gerais do Direito, conforme prescrito na LINDB em seu art. 4o , in verbis, muito além daquilo que está positivado no arcabouço Legal do País, a base filosófica e sociológica do Direito dão apoio e coerência, e respaldam o ideal de Justiça , onde no eventual e fatídico entendimento da existência da lacuna ou da omissão legal, estes princípios sustentaram a decisão do magistrados de 2a Instância. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Discente : Moacir José Outeiro Pinto Curso : Bacharelado em Direito / Turma: 1o ano -‐ Noturno 2012 Disciplina: Direito Civil I Data : 01/11/2012 Discente: Moacir José Outeiro Pinto-‐ UFMT – E-‐mail: moacirjop@superig.com.br Cel: (65 ) 9643-‐8266 – Cuiabá -‐ MT 6 FUNDAMENTO DA DECISÃO DE 2ª INSTÂNCIA: ...No entanto, o desembargador Luiz Felipe Brasil Santos, da 8ª Câmara Cível do TJ-‐RS, votou pela procedência do pedido, alegando que caso não autorizada a laqueadura, muito em breve o Judiciário poderá estar julgando processos de destituição de poder familiar dos filhos da adolescente, notoriamente incapaz de exercer a maternidade responsável. O magistrado, relator do processo, também analisou que o contexto familiar em que a adolescente se encontra inserida tem um longo histórico de acompanhamento pelo Conselho Tutelar, em razão da vulnerabilidade social. "Não podemos negar a providência jurisdicional que nos é reclamada. Não pode o Judiciário permitir que essa jovem, doente mental, inserida num contexto familiar completamente comprometido e vulnerável, esteja sujeita a repetidas gestações, trazendo ao mundo crianças fadadas aos abandono, sem falar nos riscos à própria saúde da gestante, que por todas as suas limitações, sequer adere ao pré-‐natal", afirmou o magistrado. . ( Da Redação do sítio www.ultimainstancia.uol.com.br, 2012 ) COMENTÁRIO: ( vide anexo 2, “Acordão da Apelação 70047036728” ). A exemplo do indeferimento provido na 1a Instância, a seguir destacamos alguns trechos da decisão de 2a Instância, o que notoriamente pode-‐se perceber os contrapontos entre ambas decisões , principalmente no que se refere a termos Constitucionais e Princípios Gerais do Direito, o que em 1a Instância praticamente tomou-‐se como fundamento a positivação do Direito em forma de Lei “ipsi literis” com interpretação fria e sem sopesar questões puramente de Direitos em sua Totalidade, o que entendo que se houvesse o mínimo “olhar” do Direito em âmbito Social e Filosófico , observando os princípio gerais que norteiam a preventiva justiça, e seu modo pluralista, com certeza não haveria a necessidade da apelação. Deste modo, destacam-‐se a seguir os devidos trechos decisivos do respectivo Acordão: (RELATÓRIO) DES. LUIZ FELIPE BRASIL SANTOS (RELATOR) (...) AO CONTRÁRIO DO AFIRMADO NA SENTENÇA, HÁ INDICAÇÃO MÉDICA EXPRESSA PARA A LAQUEADURA, COMO ÚNICA ALTERNATIVA PARA O SEU CASO, POIS NÃO CONSEGUE UTILIZAR CONTRACEPTIVOS ORAIS OU INJETÁVEIS E O DIU É UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Discente : Moacir José Outeiro Pinto Curso : Bacharelado em Direito / Turma: 1o ano -‐ Noturno 2012 Disciplina : Direito Civil I Data : 01/11/2012 Discente: Moacir José Outeiro Pinto-‐ UFMT – E-‐mail: moacirjop@superig.com.br Cel: (65 ) 9643-‐8266 – Cuiabá -‐ MT 7 CONTRAINDICADO PELA SITUAÇÃO DE PROMISCUIDADE; (5) SE NÃO FOR REALIZADO O PROCEDIMENTO, A AUTORA VOLTARÁ A ENGRAVIDAR SUCESSIVAMENTE E SEUS FILHOS FICARÃO AO DESAMPARO, POIS PADECE DE ENFERMIDADE PSIQUIÁTRICA IRREVERSÍVEL; (6) SUA SITUAÇÃO SE INSERE PERFEITAMENTE NA PREVISÃO LEGAL DO §6º DO ART. 10 DA LEI 9263/96. PEDE PROVIMENTO (...) (VOTOS) DES. LUIZ FELIPE BRASIL SANTOS (RELATOR) Tem razão a apelante. O caso dos autos se insere perfeitamente na hipótese prevista no § 6º do art. 10 da Lei 9263/96, que rege o planejamento familiar, uma vez que prevê a necessidade de autorização judicial para os casos de esterilização cirúrgica de absolutamente incapazes. A menor ANGÉLICA sofre de distúrbios psiquiátricos sérios e irreversíveis (CID 10 F19, F29 e F79), não adere aos tratamentos propostos, salvo quando está internada e a família não tem condições de contê-‐la a fim de evitar uma nova gravidez. (...) (...) Há nos autos parecer conjunto (fls. 13/16) dos profissionais que atendem a menina (psiquiatra, psicóloga e fisioterapeuta) indicando a laqueadura tubária como a melhor alternativa para evitar novas gestações (...) (...) Na mesma linha a conclusão do laudo da obstetra Cínara De Oliveira Kopacek Gonçalves, lançada nos seguintes termos (fl. 11): “Se mesmo as medicações essenciais para a sua saúde mental ela não usa, concluo que contraceptivos orais ou injetáveis também estão fora de questão, o uso de DIU (dispositivo intra-‐uterino) está contra indicado em situações de promiscuidade e de risco de infecções pélvicas, os quais não estão descartados, o uso de preservativos necessita de aceitação pelo parceiro, o qual ninguém sabe quem é. Sem mais a acrescentar, chego a que se não for realizada laqueadura tubária na paciente ela tornará a engravidar em pouco tempo, e com sua patologia psiquiátrica irreversível os seusfilhos estarão à margem da sociedade”. (...) Não podemos negar a providência jurisdicional que nos é reclamada. Não pode o Judiciário permitir que essa jovem, doente mental, inserida num contexto familiar completamente UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Discente : Moacir José Outeiro Pinto Curso : Bacharelado em Direito / Turma: 1o ano -‐ Noturno 2012 Disciplina : Direito Civil I Data : 01/11/2012 Discente: Moacir José Outeiro Pinto-‐ UFMT – E-‐mail: moacirjop@superig.com.br Cel: (65 ) 9643-‐8266 – Cuiabá -‐ MT 8 comprometido e vulnerável, esteja sujeita e repetidas gestações, trazendo ao mundo crianças fadadas ao abandono, sem falar nos risco à própria saúde da gestante, que por todas as suas limitações, sequer adere ao pré-‐natal (...) (...) Ora, que dignidade há na procriação involuntária e irracional que despeja crianças indesejadas no mundo, sem envolvimento por parte dos genitores e sem condições para o exercício da parentalidade responsável? É uma medida extrema, sem dúvida, mas que visa evitar um mal maior, qual seja, o nascimento de bebês fadados ao abandono e à negligência. Nada mais triste. Por tudo isso é que DOU PROVIMENTO à apelação para autorizar a laqueadura tubária e ser realizada pelo SUS na menor ANGÉLICA N. R. (...) DES. RICARDO MOREIRA LINS PASTL (REVISOR) Examinando os autos, consigno a complexidade do tema, que reclama reflexão frente a cada caso concreto que bate nas portas do Poder Judiciário (...) (...) estou acompanhando o voto do eminente Relator, na medida em que o quadro de saúde física e mental da adolescente, que é portadora de patologias psíquicas e usuária de drogas e álcool, é grave e sem perspectiva de melhora, recusando-‐se ainda Angélica a aderir ao tratamento medicamentoso (...) (...) bem como à conclusão de que "a paciente não percebe a relação de causa e efeito de seus comportamentos" (fls. 10 e 14), sufragam o entendimento de que a laqueadura tubária é medida necessária para conter o agravamento da situação e evitar que crianças já sabidamente desamparadas sejam geradas. Aspecto de maior relevância e digno de nota é que a opção pelo procedimento cirúrgico como método contraceptivo não advém de opinião pessoal da mãe de Angélica, mas, isso sim, de profissionais responsáveis pelos tratamentos ministrados à adolescente (ginecologista, psiquiatra, psicóloga e terapeuta ocupacional, fls. 10/11 e 13/15), não podendo esse posicionamento técnico ser ignorado em detrimento de elucubrações teóricas a respeito de violações, em tese, ao direito à intimidade, à liberdade e suposto resguardo à sua dignidade, quando, em verdade, as reiteradas gestações é que a colocam em risco (...) (...) Todavia, aqui, a situação retratada, que há tempos vem sendo acompanhada por experts, recomenda a utilização do método ante a gritante ausência de perspectivas e até mesmo de UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Discente : Moacir José Outeiro Pinto Curso : Bacharelado em Direito / Turma: 1o ano -‐ Noturno 2012 Disciplina : Direito Civil I Data : 01/11/2012 Discente: Moacir José Outeiro Pinto-‐ UFMT – E-‐mail: moacirjop@superig.com.br Cel: (65 ) 9643-‐8266 – Cuiabá -‐ MT 9 esperanças acerca da melhora do quadro psíquico de Angélica, que nem com internação psiquiátrica consegue manter-‐se lúcida e ter ciência da consequência de seus atos. Impera sopesar ainda a alta probabilidade de os concepturos não terem chances mínimas de conviver dignamente na sua família natural, até porque nem se tem conhecimento da identidade dos companheiros de Angélica. (...) (...) Assim, mesmo que o art. 10, § 6°, da Lei n° 9.263/96 ainda não tenha sido regulamentado, na compreensão de que a vida é mais rica do que a lei, e muito mais dinâmica do que o processo de edição das normas, deve o julgador enfrentar o caso concreto, encontrar uma solução, não podendo se evadir de seu mister (...) (... ) Para encerrar, registro que evidentemente não se está aqui a tolher o direito de constituir família, mas, diversamente, reconhecendo a patente incapacidade de a adolescente gerar filhos e responsabilizar-‐se por eles (...) (...) Portanto, sopesando as peculiaridades do caso concreto, subscrevo a lúcida fundamentação contida no voto do nobre Relator, para dar provimento do apelo.DES. RUI PORTANOVA (PRESIDENTE) De acordo com o(a) Relator(a). FIM ANEXOS: 1 – Texto da Redação do Sítio: www.ultimainstancia.uol.com.br 2 – Acordão da Apelação 70047036728 – TJ-‐RS Cuiabá, 27 de Outubro de 2012. MOACIR JOSÉ OUTEIRO PINTO RA 201211211022
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