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Relações Internacionais Teoria e História Módulo III

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MÓDULO III - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS - 
DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL AO SÉCULO XXI 
 
 
Unidade 1 - A Segunda Guerra Mundial 
Unidade 2 - O Sistema Internacional Pós-1945 
Unidade 3 - O Fim da Guerra Fria e a Nova Ordem da Década de 1990 
Unidade 4 - O Sistema Internacional no Século XXI: Perspectivas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 1 - A Segunda Guerra Mundial 
 
 
Ao final desta Unidade, o aluno deverá estar apto a: 
discorrer sobre os principais antecedentes da II Guerra Mundial; 
indicar os principais fatos que marcaram cada uma das fases do conflito. 
 
 
 
 
 
 
Esta Unidade é dedicada ao estudo da II Guerra Mundial, seus antecedentes 
e fases. A abordagem desse conteúdo lhe apresentará as causas que levaram 
à Segunda Guerra Mundial e os relatos de como se desenrolou a guerra em 
seus momentos principais. Siga em frente! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 2 - A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
 
A II Guerra Mundial estendeu-se de 1939 a 1945, alcançou todos os continentes 
habitados e envolveu as Grandes Potências e seus aliados em um confronto sem 
precedentes, com um saldo de mais de 80 milhões de mortos e prejuízos 
econômicos incalculáveis. Seu legado produziria uma nova configuração de 
poder mundial nas décadas que se seguiriam, em um significativo conjunto de 
transformações no equilíbrio de poder mundial, que alcançaria o século XXI. 
 
 
Ao contrário da Grande Guerra, a II Guerra Mundial foi, de fato, travada entre 
praticamente todos os povos e culturas do planeta, ampliando expressivamente 
o raio de ação das relações internacionais contemporâneas. Qualitativamente, a 
guerra colocaria um fim à supremacia europeia e ao eurocentrismo no sistema 
internacional, retiraria da França e da Grã-Bretanha a condição de Potências 
hegemônicas e deixaria a Alemanha, o Japão e a Itália sem os espaços 
internacionais conquistados à força no Entre-Guerras. Ademais, o processo de 
expansão e construção do mundo liberal seria substituído por uma nova ordem 
internacional, bipolarizada, com a emergência dos EUA e da URSS. 
 
A II Guerra Mundial pode ser dividida em duas fases. Na primeira, de1939 a 
1941, os países europeus ainda tentam manter a condução dos destinos das 
relações internacionais, e a guerra é eminentemente europeia, como o fora a I 
Guerra Mundial. Entretanto, com a segunda fase, que vai de 1941 até 1945, o 
conflito torna-se mundializado, com a participação de novos Atores, 
particularmente os EUA, URSS e o Japão, e se prenuncia uma nova ordem 
internacional. 
 
 
ANTECEDENTES: 
A Chegada de Hitler ao Poder na Alemanha 
 
 
A ascensão de Adolf Hitler ao governo alemão, em 1933, significou uma nova 
concepção de relações internacionais, marcada pelo nacionalismo ardente que 
rejeitava tanto a igualdade dos povos como a dos indivíduos, desprezava os 
tratados e buscava o expansionismo por meio do rearmamento, anexação de 
territórios onde houvesse alemães e aquisição do espaço vital para a construção 
da Grande Alemanha –Gross Deutschland. 
 
Em 1934, as ditaduras fascistas dominavam a Europa Central e Oriental e, em 
1939, a democracia era exceção minoritária no continente. Hitler movia-se para 
dominar o Leste, e Mussolini, o Adriático e o Mediterrâneo, em ações que tinham 
a indiferença ou mesmo o consentimento das Potências ocidentais, 
particularmente Grã-Bretanha e França. 
 
À medida que avançava a década de 1930, aumentava a descrença na 
Sociedade das Nações. A França passou a buscar alianças a Leste, mirando a 
Polônia e a Tchecoslováquia. A Itália e a Alemanha, os dois grandes Estados 
fascistas da Europa, aproximaram-se. A Grã-Bretanha buscava fugir de 
engajamentos militares na Europa, considerando justa a reivindicação alemã por 
mudanças ao mesmo tempo em que investia no reforço da coesão no âmbito do 
Commonwealth e da zona esterlina. A opinião inglesa endossou o pensamento 
de Keynes de reduzir as reparações alemãs, porque prejudicavam as 
exportações britânicas. 
 
 
 
Pág. 3 - A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
EUA e URSS 
 
A estratégia hitleriana de dominação do Leste forçou a URSS a aproximar-se do 
Ocidente, fazer alianças e aderir à Sociedade das Nações em 1934. Todavia, os 
objetivos soviéticos de política exterior apresentavam uma dualidade: formar 
uma frente antinacional-socialista ou atuar como o fiel da balança entre os “dois 
campos burgueses do capitalismo”. O fato foi que os ocidentais se recusaram a 
fechar um pacto, para a decepção dos soviéticos, e acabaram deixando soltos 
Hitler na Europa, Mussolini na Etiópia e o Japão na China. A partir daí, a URSS 
reforçou seu isolacionismo político, comercial e financeiro, renunciando ao ideal 
do internacionalismo proletário. E, surpreendentemente, aproximou-se da 
Alemanha, que, durante certo tempo, também fora isolada pelas Potências 
europeias. Essa associação entre as duas Grandes Potências totalitárias da 
Europa, Alemanha e URSS, que culminaria no pacto de não agressão entre os 
dois países, em 23 de agosto de 1939, gerou preocupação nos países do 
continente. 
 
Apesar de ampliarem sua presença na economia mundial, sob a ótica política, 
os EUA adotaram o isolacionismo, buscando não interferir nas relações 
internacionais do Velho Mundo, particularmente na política europeia. Ademais, 
o projeto político-comercial pan-americano dos EUA os mantinha longe da 
Europa. De fato, mesmo após o início da II Guerra Mundial, a opinião pública 
estadunidense permaneceu disposta a não se envolver no conflito, pois 
encontrava-se dividida sobre que lado apoiar. Registre-se que o Presidente 
Franklin Delano Roosevelt se reelegeu com um discurso de que os EUA não 
participariam da guerra na Europa. 
 
 
 
As relações entre as Potências Europeias 
 
 1934 foi o ano do rearmamento alemão: após se retirar da Sociedade das 
Nações no ano anterior, Hitler rompeu unilateralmente com os acordos de 
Versalhes e Locarno, assinou um pacto de não agressão com a Polônia (aliada 
tradicional da França) e encontrou-se com Mussolini para evitar choques de 
interesses na área do Rio Danúbio. A França, em reação, aproximou-se da 
URSS e propôs, em vão, um pacto geral sobre o Leste europeu. A Itália, em 
resposta, propôs um Pacto dos Quatro Grandes (Grã-Bretanha, França, 
Alemanha e a própria Itália), que havia sido tentado no âmbito da Sociedade das 
Nações, com o fim de rever tratados e liderar a Europa, o que não foi aceito pelos 
países menores. 
 
Na Conferência de Stresa, em abril de 1935, Itália, França e Grã-Bretanha 
recusaram a denúncia unilateral alemã dos tratados. A Grã-Bretanha, todavia, 
celebrou um acordo naval em junho do mesmo ano com Berlim, considerado 
uma traição política pelos franceses, italianos e até pelos soviéticos. Em outubro, 
a Itália invadiu a Etiópia, membro da Sociedade das Nações, e não recebeu 
qualquer condenação ou sanção. A segurança coletiva europeia desmoronava. 
 
O clima esquentou em 1936, com a Guerra Civil Espanhola. Era o primeiro 
experimento de uma guerra civil verdadeiramente europeia, uma vez que nela 
se confrontaram militarmente as correntes ideológicas de direita e esquerda, 
com fornecimento de armas de ambos os lados (da URSS para os republicanos 
e da Itália e da Alemanha para os franquistas). Fenômeno semelhante só voltaria 
a ser visto na época da Guerra Fria. 
 
 
 
 
Pág. 4 - A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
 A Política Exteriordo III Reich 
 
Após a consolidação do regime nacional-socialista no campo doméstico e a 
recuperação econômica da Alemanha, Hitler prosseguiu com seu projeto de 
hegemonia alemã sobre a Europa centro-oriental. Em 1938, com base no 
princípio de que todos os povos alemães deveriam estar unidos sob um único 
governo, o III Reichanexou a Áustria e parte da Tchecoslováquia – esta última 
com o consentimento formal da Grã-Bretanha, França e Itália, na Conferência de 
Munique. Hungria e Romênia aliaram-se à Alemanha, que já havia estabelecido 
o Eixo Roma-Berlim (ao qual Tóquio aderiria pouco depois). Finalmente, em 
1939, a Alemanha se aproximou da URSS, com Berlim e Moscou negociando a 
partilha da Polônia. 
 
Os regimes democráticos só buscaram unidade de ação contra Hitler após a 
aliança com os soviéticos e a invasão da Polônia, em 1º de setembro de 1939. 
De fato, franceses e britânicos foram surpreendidos pelo pacto germano-
soviético e, percebendo que não seria mais possível – pelo menos naquele 
momento – o tão esperado confronto entre os dois Estados totalitários, tiveram 
que deixar de lado a política do apaziguamento. Logo depois de divulgado o 
acordo germano-soviético, Grã-Bretanha e França ofereceram garantias para a 
Polônia, e os EUA solicitaram a Hitler que, por dez anos, não atacasse 29 
nações, cuja lista lhe fizeram chegar. 
 
Às vésperas da guerra, pareciam evidentes os objetivos da política externa 
alemã: 
 
· reduzir a influência da França no continente; 
· buscar a neutralidade da Grã-Bretanha; 
· instaurar um império alemão a Leste, incluindo o território soviético. 
 
A partir da improvável e surpreendente aliança com os soviéticos, a Alemanha 
pôde desencadear a invasão da Polônia. A reação de britânicos e franceses foi 
tardia. Os soviéticos logo atacariam os poloneses pelo leste, incorporariam os 
Estados Bálticos a seu território e, em novembro de 1939, a Finlândia seria 
atacada. Começava a II Guerra Mundial. 
 
 
 
Inúmeros filmes retratam o nazismo e a Segunda Guerra Mundial. Vejamos 
alguns: 
O Grande Ditador, de Charles Chaplin. Em seu primeiro filme falado, Chaplin 
interpreta dois papéis opostos, o de um barbeiro judeu que enfrenta tropas de 
choque e perseguição religiosa e o do Grande Ditador Hynkel (sátira a Adolf 
Hitler). O clímax desse clássico é o célebre discurso final, um libelo ao triunfo 
da razão sobre o militarismo. 
A Lista de Schindler. Esse filme do diretor Steven Spielberg conta a história 
real de Oskar Schindler (Liam Neeson), empresário alemão que salvou 
centenas de judeus dos campos da morte nazistas. 
Pearl Harbor. Filme que tem como fio condutor os eventos que fizeram com 
que os Estados Unidos entrassem na 2.ª Guerra Mundial, logo após o ataque 
japonês a Pearl Harbor. 
O Pianista. Essa bela obra do diretor Roman Polanski mostra o surgimento do 
Gueto de Varsóvia, quando os alemães construíram muros para encerrar os 
judeus em algumas áreas. 
Sobre a guerra no Pacífico, vale a pena assistir aos clássicos Tora, Tora, Tora 
e Midway. 
 
 
 
 
Pág. 5 - A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
A GUERRA 
 
A Primeira Fase: 1939-1941 
 
Após a invasão da Polônia, em 01/09/1939, e a declaração de guerra à 
Alemanha por Grã-Bretanha e França, o confronto ateve-se aofront oriental, com 
a queda da Polônia em algumas semanas e os avanços soviéticos sobre os 
países bálticos e a Finlândia, e à investida alemã contra a Noruega, em busca 
das reservas de ferro e carvão, momento em que houve o enfrentamento entre 
alemães e uma Força Expedicionária Britânica, com a derrota desta última em 
Narvik. Fora isso, a guerra no fronte ocidental ainda não começara. 
 
Assim, os primeiros passos da guerra foram lentos. Cerca de dez milhões de 
soldados esperavam, na estratégia da guerra estática, os primeiros movimentos 
do inimigo. Os líderes políticos franceses e britânicos decidiram retardar ao 
máximo as ofensivas. Até maio de 1940, quando os alemães iniciaram a grande 
ofensiva militar sobre a França, não tinha havido praticamente embates entre as 
Grandes Potências no fronte ocidental. 
 
As forças mobilizadas pareciam favoráveis aos alemães. Apesar da manifesta 
superioridade, no mar, de franceses e britânicos, os alemães possuíam, em 
setembro de 1939, 3.228 aviões de guerra contra os 1.377 da Grã-Bretanha e 
os 1.254 da França. Em terra, os canhões e tanques alemães também eram 
numericamente superiores. Construída, ainda entre 1930 e 1935, a linha 
Maginot, no nordeste do país, era o símbolo da insegurança francesa (SARAIVA, 
1997). Entretanto, em termos econômicos, franceses e britânicos viam-se 
superiores, particularmente graças a seus vastos impérios coloniais. 
 
Nos primeiros meses da guerra, Grã-Bretanha e França planejavam vencer a 
Alemanha pelos bloqueios em terra e pelo cerceamento dos mares. Acreditavam 
que o isolamento levaria à ruína econômica do III Reich, uma vez que toda a 
economia alemã voltava-se para a guerra e já estava ameaçada pela 
insuficiência de matérias-primas. 
 
Reforçava a percepção de supremacia da Grã-Bretanha e da França o fato de 
também contarem com forças extra-Europa, como a venda de armas norte-
americanas no sistema cash-and-carry (pagamento à vista) no Atlântico, a partir 
de novembro de 1939, ao passo que Hitler estava reduzido aos seus próprios 
recursos e, no máximo, aos recursos continentais. 
 
Hitler propôs a paz em 6 de outubro de 1939. Grã-Bretanha e França não 
aceitaram, pois só lhes interessava a paz se a influência franco-britânica fosse 
retomada sobre todo o continente europeu. Por outro lado, para os franceses, a 
guerra era a oportunidade para arruinar definitivamente a Alemanha. Assim, 
diante da reação estática de Londres e Paris e da hesitação da França, que 
testemunhava amplos debates internos entre a anglofilia e a anglofobia, Berlim 
preparou-se para a invasão da França em 10 de maio de 1940. 
 
 
 
Pág. 6 - A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
A Queda da França 
 
Em pouco mais de trinta dias, após o início das operações contra a França, Paris 
já era dos alemães. O êxodo de 8 milhões de franceses enterrava o moral 
francês. Em manobra de pinça, e por meio da Blitzkrieg, a guerra-relâmpago, as 
forças alemãs dividiram ao meio as tropas francesas e as empurraram, 
juntamente com a Força Expedicionária Britânica, para a costa do Mar do Norte, 
no que culminou na maior operação de retirada da história, quando centenas de 
embarcações foram envolvidas no resgate de soldados britânicos e franceses 
em Dunquerque, numa fuga desesperada para deixar o continente e escapar dos 
alemães. Dunquerque foi a maior humilhação por que passaram britânicos e 
franceses na guerra. 
 
De fato, o divórcio intelectual e estratégico franco-britânico concretizou-se com 
a evacuação das tropas aliadas, em especial da Força Expedicionária Britânica, 
em Dunquerque, no nordeste francês. Dois dias antes de se iniciar a evacuação 
de Dunquerque, em 24 de maio 1940, Hitler ordenou a contenção do avanço das 
vanguardas em direção à cidade. Boulogne, Calais, Dunquerque e Ostende 
eram os quatro portos no lado oposto da parte estreita da Mancha (cabeças-de-
ponte para os ingleses no continente europeu) que, em 23 de maio, ainda não 
haviam sido capturados pelos alemães. Acreditava-se, nesse momento, que a 
grande tarefa da Luftwaffe, a Força Aérea Alemã, estava começando: o 
aniquilamento dos ingleses no norte da França pelo ar. Todavia, a concretização 
da evacuação provou para os ingleses a falta de eficácia da Luftwaffe ou, como 
acreditam alguns historiadores, que Hitler não estava dispostoa aniquilar os 
ingleses, pois esperava que se tornassem aliados do Reich. 
 
Winston Churchill, que se tornara primeiro-ministro após o início da guerra, quis 
evitar a qualquer custo que os navios franceses se rendessem aos alemães nos 
portos e acabou por afundar alguns deles, o que agravou a anglofobia francesa. 
Ao final, a libertação de 340 mil soldados britânicos e franceses seria 
fundamental para os andamentos posteriores da guerra, tendo particular 
importância política para o duelo entre Churchill e Hitler. 
 
 
 
 
Pág. 7 - A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
 
 A Queda da França (cont.) 
Em 22 de junho de 1940, a França capitulou e passou a ser o único país vencido 
a concluir um armistício. Bélgica e Holanda optaram pela rendição militar, e seus 
governos foram transferidos para Londres. Um governo francês pró-alemão se 
estabeleceu na cidade de Vichy, para onde fugira o parlamento. Marechal Pétain, 
herói da I Guerra Mundial, tornou-se o governante da França ocupada. 
 
Essas primeiras vitórias do Eixo e dos soviéticos no início da II Guerra Mundial 
podem ser vistas no Mapa 24 (em verde, as conquistas alemãs nos anos de 1939 
a 1941; em amarelo, o que restou da França – a França de Vichy). 
 
Mapa 24: A Primeira Fase da II Guerra Mundial 
As Vitórias Alemãs e Soviéticas na Europa 
Fonte:http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/guerre39_45/gdeux11
.html 
 
A batalha da Grã-Bretanha (Operação Leão-do-Mar) iniciou-se em 13 de outubro 
de 1940. A Luftwaffe iniciou os bombardeiros sobre Londres. Todavia, foi 
testemunhada, naquelas semanas, uma das maiores ondas patrióticas da 
história britânica, que, somada ao “espírito de Dunquerque”, fez com que Hitler, 
ao final do mês, encerrasse a batalha para poupar aeronaves para o seu principal 
objetivo: a destruição da URSS. É importante observar que o general Charles De 
Gaulle e parte da elite moderada francesa migraram para Londres, onde 
estabeleceram o governo francês no exílio, ou “França Livre”. 
 
 
Pág. 8 - A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
A Queda da França (cont.) 
 
A derrota francesa significou uma ruptura da velha ordem internacional do século 
XIX. O equilíbrio de poder que havia moldado a sociedade europeia, com valores 
e regras de conduta comuns, ruiu definitivamente. 
 
No Ocidente, a Itália e a Alemanha julgavam-se capazes de formular uma nova 
ordem internacional. Ademais, a instabilidade europeia ocasionada pela guerra 
criou o ambiente para as independências afro-asiáticas nas décadas seguintes 
e para que Stalin começasse a dar a sua contribuição para a modificação do 
mapa político europeu: agiu sobre os países bálticos, sobre a Grécia e comandou 
várias anexações na Romênia e na Bessarábia (transformada em Moldávia). 
 
No Oriente, a política japonesa de substituição das potências ocidentais na Ásia 
– “Ásia aos asiáticos” – levou aos privilégios econômicos sobre portos aéreos e 
marítimos. A ocupação alemã da França deixara o Japão livre no sudeste 
asiático. O Japão acreditava no nascimento de um novo império, não mais contra 
a URSS ou a China, mas a favor de prosperidade econômica, que, não obstante 
a derrota ao final da guerra, pode ser sentida até os dias de hoje. 
 
Veja a interessante animação sobre a Segunda Guerra Mundial dando dois 
cliques na imagem ao lado. Clique em qualquer lugar do mapa e acompanhem 
a movimentação das tropas alemãs e, depois, a dos aliados. ATENÇÃO: após 
assistir à animação, clique a tecla ESC para retornar ao curso! 
 
 
 
Pág. 9 - A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
A Segunda Fase: 1941-1945 
 
Em 1941, desapareceu o mundo que o século XIX construiu e o período de 
transição iniciado na I Guerra Mundial (1914-1918). Havia um vazio de poder no 
mundo com a França invadida e a Grã-Bretanha falida. A crise do mercado 
financeiro comandado por Londres e, portanto, o fim da zona esterlina fizeram 
ruir a ordem liberal criada pelos ingleses, que até precisaram começar a usar 
reservas monetárias para pagar pelos produtos norte-americanos (cash-and-
carry), o que começou a preocupar os EUA. 
 As práticas comerciais começaram a mudar e a ter um novo articulador, quando, 
a partir de março de 1940, os EUA iniciaram o sistema do lend-lease 
(empréstimo e arrendamento) com os países que apresentassem interesse à 
defesa vital dos EUA (SARAIVA, 1997). Plantavam-se as sementes do que viria 
a ser o Plano Marshall e de um Sistema Internacional sob a égide de uma 
Superpotência, novo conceito em relações internacionais. 
Também em 1941, dois eventos importantes provocariam nova mudança no 
equilíbrio de forças da guerra e da própria ordem internacional: a invasão da 
URSS conduzida pelos alemães e o ataque japonês à base estadunidense de 
Pearl Harbor, que provocaria a entrada dos EUA no conflito. E o ano seguinte 
começaria com uma fase em que a guerra se tornara global (vide o Mapa 25 – 
em vermelho, a zona de dominação alemã; em rosa, a zona de dominação 
japonesa, em azul, a zona de guerra marítima; e em verde os aliados em guerra 
contra a Alemanha e o Japão). 
 
Mapa 25: A II Guerra Mundial – O Mundo em 1942 
 
Fonte:http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/guerre39_45/gdeux15
.html 
 
Em 22 de junho de 1941, tropas alemãs deram início à Operação Barbarossa, 
avançando sobre o território da URSS: a necessidade alemã de espaço vital 
chocava-se com a necessidade soviética de espaço vital. A operação 
desencadeava-se em três grandes frentes: em direção a Leningrado, Moscou e 
às reservas de petróleo da Ucrânia. A máquina de guerra alemã encontrou pouca 
resistência. De fato, em muitas partes da URSS, os alemães que chegavam 
eram vistos como liberdadores daqueles povos do jugo de Moscou e do 
totalitarismo stalinista. Logo essa percepção mudaria, graças à violência dos 
alemães nos territórios ocupados, motivada sobretudo pelo discurso ideológico 
nazista de destruição ou escravização daqueles considerados “inferiores” aos 
arianos. 
 
Stalin foi pego de surpresa com a invasão da URSS. O líder georgiano não 
acreditava que seu país seria atacado pelos alemães, apesar dos relatórios da 
inteligência soviética que afirmavam ser o ataque iminente. O Exército Vermelho, 
por sua vez, estava em situação de extrema fragilidade, particularmente em 
virtude dos expurgos stalinistas da década de 1930, que desarticularam o 
Estado-Maior e aniquilaram o melhor que havia da oficialidade. Demoraria algum 
tempo para as forças soviéticas se recomporem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 10 - A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
 
A Segunda Fase: 1941-1945 
Com a invasão, os EUA apoiaram a resistência soviética, e a URSS foi incluída 
na aliança ocidental já em outubro de 1941. Logo grande quantidade de 
recursos, de alimentos a armamentos, seriam enviados em socorro aos 
soviéticos. Os aliados sabiam que, se a URSS caísse, a hegemonia alemã no 
velho mundo seria incontestável. 
 
A ajuda ocidental funcionou. Esta, associada ao ímpeto e à determinação do 
povo soviético e ao sacrifício de mais de 20 milhões de vidas, contribuiriam para 
a resistência e a contraofensiva da URSS. Em território russo, Hitler perdeu, pela 
primeira vez, uma Blitzkrieg, mais devido ao despreparo das forças alemãs 
diante das péssimas condições das estradas soviéticas e do terrível inverno 
russo do que em virtude da capacidade de reação de Stalin. 
 
Outro significativo ponto de inflexão na II Guerra Mundial deu-se com o ataque 
japonês à base norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí, em 7 de dezembro 
de 1941. Dentro dos planos japonesesde projeção de poder no continente 
asiático e no Pacífico, o projeto da Grande Ásia, o choque com os interesses 
estadunidenses era apenas uma questão de tempo. A operação contra Pearl 
Harbour tinha por objetivo neutralizar os EUA no Pacífico, passo importante para 
a ulterior anexação das Filipinas, da Malásia e de Hong Kong. 
 
Pearl Harbor, considerado um ataque pérfido do Japão contra um país que até 
então se dizia neutro na II Guerra Mundial, chocou e comoveu a opinião pública 
dos EUA, conduziu o país para a II Guerra Mundial, por meio da declaração 
formal de guerra anunciada pelo Presidente Roosevelt a 8 de dezembro de 1941, 
e acarretou a união das duas guerras paralelas, a da Ásia e a da Europa, numa 
só. O gigante estadunidense fora despertado e agora envidaria todos os esforços 
para por fim às pretensões das ditaduras fascistas de dominar o mundo. A nova 
política da Grande Potência do continente americano, rompido o isolacionismo, 
tinha uma característica peculiar: raio planetário. Os EUA estavam novamente 
em guerra. 
 
No período de maio de 1942 a meados de 1943, a guerra caracterizou-se por 
movimentos marcantes. A contenção do avanço japonês pelos aliados, o 
desembarque das tropas anglo-americanas na Argélia e no Marrocos, 
neutralizando a expansão do Reich no norte da África, e a capitulação das tropas 
alemãs em Stalingrado anunciaram a reação aliada e a mudança do curso da 
guerra a seu favor. 
 
Em 1944, o rolo compressor dos soviéticos forçou o recuo gradual das tropas 
alemãs na Ucrânia, na Bielo-Rússia e na Polônia. Enquanto Tóquio perdia seus 
satélites, Moscou aumentava os seus, por um erro estratégico das forças aliadas: 
desde janeiro de 1943, Stalin denunciava o abandono do flanco oriental, o que, 
no final das contas, tornou a luta contra o Eixo uma forma de sobrevivência do 
modelo planificado e socialista de Estado. Isso lhe custou a vida de vinte milhões 
de soviéticos, quase dois quintos do total da guerra. 
 
 
 
Pág. 11 - A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
O Dia D 
 
Se os soviéticos avançavam no front oriental, a abertura de um frontocidental era 
uma exigência de Stalin e uma necessidade na estratégia aliada. O 
desembarque no continente já começara no sul da Itália, mas se esperava 
realmente por uma invasão no norte da França que perfuraria a inexpugnável 
“fortaleza do Atlântico” e estabeleceria as cabeças de ponte para a reconquista 
da Europa Ocidental e o avanço de estadunidenses, britânicos e seus aliados 
rumo à Alemanha. 
 No mapa é possível ver as linhas dos fronts de 1942 a 1945. 
 
Mapa 26: A Guerra na Europa de 1942 a 1945 
Fonte:http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/guerre39_45/gdeux23
.html 
 
 
 
 
Pág. 12 - A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
O Dia D (cont.) 
 
O “Dia D” finalmente ocorreu em 6 de junho de 1944. Na maior operação militar 
aeronaval da História, os aliados começaram a invasão do continente a partir da 
Normandia, região da França atlântica. Naquela data, 155 mil homens dos 
exércitos dos EUA, Grã-Bretanha, França e Canadá, muitos dos quais haviam 
sido evacuados de Dunquerque três anos antes, lançaram-se nas praias da 
Normandia, ocupando 80km da costa ao norte do país. A invasão deu início à 
libertação europeia do domínio nacional-socialista. Transportados por uma frota 
de 14.200 barcos, protegida por 600 navios e milhares de aviões, as tropas 
aliadas asseguraram uma sólida cabeça de praia no litoral francês (vide Mapa 
27) e dali partiram para expulsar os alemães de Paris e, em seguida, marchar 
em direção à fronteira da Alemanha. Era o primórdio do colapso final do IIIReich, 
o império que, segundo a propaganda nazista, deveria durar mil anos. 
 
Mapa 27: O “Dia D” – 6 de junho de 1944 
O Desembarque Aliado na Normandia 
Fonte:http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/guerre39_45/gdeux25
.html 
Simultaneamente ao desembarque do lado ocidental, a URSS, no Leste da 
Europa, lançou uma poderosa ofensiva contra os alemães. Onze meses depois, 
a 8 de maio de 1945, a Alemanha de Hitler rendia-se. Hitler suicidara-se em 30 
de abril de 1945, e com ele morriam as ideias megalômanas de dominação da 
Europa e da prevalência da raça ariana. Acabava a guerra na Europa. 
 O Japão capitulou quatro meses depois. Ao final de agosto de 1945, após as 
bombas atômicas norte-americanas terem arrasado Hiroshima e Nagasaki, em 
6 e 9 de agosto respectivamente, todas as ações militares foram suspensas. A 
URSS declarou guerra ao Império Japonês em 8 de agosto de 1945. Mas não 
havia mais contra quem lutar. O país já se dispusera a negociar a rendição com 
os norte-americanos. Pela primeira vez na história da milenar monarquia 
japonesa, o Imperador falou para o povo, conclamando-o à rendição 
incondicional. Terminava a maior e pior guerra que a humanidade jamais travara. 
 
 
Há, ainda, alguns clássicos imperdíveis, como O mais longo dos dias, de 
Benhard Wicki, que trata do Dia “D”, o desembarque aliado de 6 de junho de 
1944; e Uma Ponte Longe Demais, do diretor Richard Attenborough, sobre a 
Operação Market Garden, um plano ousado para obter um rápido final para a 
II Guerra por meio da invasão da Alemanha e destruição das indústrias de 
guerra do III Reich – esse ambicioso plano mostrou-se um dos grandes erros 
da guerra e causou mais baixas aos Aliados do que toda a invasão da 
Normandia. 
 
 
 
 
 
 
Pág. 13 - A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
O imediato pós-guerra: 1945-1947 
 
A destruição atômica de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, simboliza o ocaso da 
velha ordem internacional do século XIX, o surgimento de um vácuo de poder na 
Europa, o fim dos sonhos de uma terceira Grande Potência (Alemanha) para 
substituir o antigo equilíbrio anglo-francês, o fim da condução europeia das 
relações internacionais e o surgimento de duas Superpotências com raios 
políticos de alcance planetário, EUA e URSS (SARAIVA, 1997). 
 
Antes da definição da polaridade EUA-URSS, que só fica clara a partir de 1947, 
houve uma tentativa de concerto anglo-americano, em março de 1943, momento 
em que já se procurava por uma nova era das relações internacionais e em que 
foram discutidos, em Washington, o futuro da Alemanha e as reivindicações 
territoriais dos soviéticos. Na ocasião, Roosevelt propôs um diretório de quatro: 
EUA, Grã-Bretanha, URSS e China, ideia que lembrava o Concerto Europeu do 
século XIX e as ideias do Congresso de Viena de 1815. Surgiu também a ideia 
de um projeto federativo para a Europa, proposto pela Polônia, que Moscou 
prontamente recusou, temendo a reconstrução do “cordão sanitário” do período 
pós-1918 e já vislumbrando as possibilidades de projeção da URSS na região. 
De Gaulle reclamou da ausência da França no diretório. 
 
As conferências internacionais de Moscou, Cairo e Teerã, no segundo semestre 
de 1943, mostraram a fragilidade da aliança entre as Potências ocidentais e a 
URSS: os EUA reapresentaram as teses idealistas wilsonianas de 
estabelecimento de um organismo internacional de segurança coletiva para 
resolver problemas territoriais; a Grã-Bretanha preocupava-se com a expansão 
soviética; e a França, com governo exilado em Londres, já não tinha voz. 
 
A Declaração de Moscou não incluiu nada a respeito de renúncias a zonas de 
influência e se resumiu a três pontos: a capitulação total da Alemanha, a 
ocupação de seu território pelos três aliados e o desarmamento completo. A 
Declaração do Cairo adicionou o Japão, exigindo a devolução de todas as 
conquistas japonesas do projeto da Grande Ásia, especialmente dos territórios 
tirados da China,como a Manchúria e Taiwan. 
 
Por fim, em Teerã, a Grã-Bretanha propôs a criação de três organizações 
regionalizadas (na América, na Europa e na Ásia), mas os EUA recusaram, pois 
insistiam numa instituição de raio mundial, que, por meio de um diretório 
composto entre os Quatro Grandes, atuaria como a “polícia do mundo”. Os EUA 
também recusaram a tese do federalismo europeu. Como se observa, EUA e 
URSS já ensaiavam, nessas discussões políticas, tornarem-se Superpotência. 
 
 
 
Pág. 14 - A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
O imediato pós-guerra: 1945-1947 
 
A Conferência de Yalta, em fevereiro de 1945, apenas consagrou todo esse 
quadro: o multilateralismo das negociações cedeu diante do unilateralismo do 
poder soviético na Europa Oriental. O Exército Vermelho já ocupava a maior 
parte da região, e sua chegada a Berlim era questão de dias. O tempo das 
relações internacionais já era outro: a política das áreas de influência na Europa 
se tornaria o modelo da política mundial nas décadas seguintes. Esse foi o 
primeiro grande legado da II Guerra Mundial. O segundo foi a materialização 
bipolarizada desse modelo, que será melhor explorada na Unidade seguinte. 
 
Os aliados, nas reuniões de São Francisco, entre abril e junho de 1945, e em 
Potsdam, entre julho e outubro de 1945, tinham como projeto a criação de 
instrumentos para o gerenciamento da paz no pós-guerra. A lógica das alianças 
e da diplomacia secreta cederia lugar ao esforço de reconstrução das relações 
internacionais com base no compromisso e no diálogo. 
 
As reuniões de São Francisco criaram a Organização das Nações Unidas (ONU), 
materializando o sonho wilsoniano, e deixaram evidente a perda de importância 
da Europa no sistema internacional que então se delineava, apesar de ter sido 
garantida a participação da Grã-Bretanha e da França no Conselho de 
Segurança da Organização. 
 
Interessante observar que, apesar de sua concepção idealista, o que se 
evidenciava na Assembleia Geral, onde cada membro tinha um voto, dentro do 
princípio da igualdade soberana entre os Estados, a ONU moldou-se em uma 
estrutura de poder realista, uma vez que tinha um Conselho de Segurança, o 
órgão legítimo para deliberar sobre o uso da força, no qual o poder concentrava-
se na mão dos cinco grandes vitoriosos da II Guerra Mundial: EUA, Grã-
Bretanha, URSS, França e China. Esses países tinham assento permanente no 
Conselho e poder de veto, mostrando a clara diferença entre eles e os demais 
Estados-membros da Organização e a desigual configuração de poder no 
Sistema Internacional. 
Portanto, a Carta de São Francisco, assinada em 26 de junho de 1945, criou 
a ONU e tornou-se um dos grandes instrumentos de regulação da nova era 
das relações internacionais: firmava-se o primado do Realismo sobre o 
Idealismo que marcara a Sociedade das Nações. O sistema do veto do 
Conselho de Segurança, que substituía o sistema da unanimidade anterior, 
construía um diretório dos cinco grandes vencedores de 1945 (EUA, URSS, 
China, Grã-Bretanha e França), para garantir o congelamento do poder e um 
compromisso de controle da segurança mundial. 
 
 
Pág. 15 - A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
O imediato pós-guerra: 1945-1947 
 
Em fevereiro de 1947, o Tratado de Paz de Paris encerrou simbolicamente os 
turbulentos anos nas relações internacionais iniciados em 1939. Desaparecia 
definitivamente o mundo eurocêntrico, e as relações internacionais teriam a paz 
garantida por um equilíbrio de poder baseado no duopólio EUA-URSS. O mundo 
seria divido entre as esferas de influência de Moscou e Washington e começaria 
um novo período no sistema internacional, que ficaria conhecido como “Guerra 
Fria”. 
 
 
Sobre o Brasil na II Guerra Mundial, não deixe de ver. 
A Revista Veja criou um sítio interessante sobre a II Guerra Mundial. Vale a 
pena conferir. 
 
 
 
 
 
Na próxima Unidade, concentraremos nossa atenção no estudo do Sistema 
Internacional pós-II Guerra Mundial. Vamos lá! 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 2 - O Sistema Internacional Pós-1945 
 
 
 
Ao final desta Unidade, o aluno deverá estar apto a: 
• assinalar as características principais do Sistema Internacional pós-Segunda 
Guerra Mundial 
• discorrer sobre os fatores da gestação da Guerra Fria; 
• identificar os principais fatos e fases desse período. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esses objetivos devem nortear seus estudos nesta Unidade, e esperamos que 
você possa, efetivamente, demonstrar os conhecimentos que eles propõem! 
 
Recorra ao material de estudo e busque solucionar suas dúvidas! 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 2 - A Guerra Fria 
 
Muitos autores defendem que, após o fim da II Guerra Mundial, não havia mais 
a ideia de uma Sociedade Internacional europeia, criada a partir de 1815. A 
instabilidade internacional no período de 1919 a1939, que culminou na II Guerra, 
corroeu um estado de equilíbrio de quase 100 anos. A Europa entrou em uma 
profunda crise de valores e testemunhou o retorno dos egoísmos nacionais, 
como ocorrera no período pós-Westfália. 
 
Um novo sistema jurídico-político-econômico internacional foi erigido ao final da 
II Guerra Mundial. Nascia a ONU, que procurava corrigir os erros de Versalhes 
e com a qual renascia o ideal da segurança coletiva. Nascia também o sistema 
de Bretton Woods, que criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco 
Mundial (BIRD) para reconstruir o mundo destruído pela guerra e fazer com que 
a ordem liberal-capitalista anterior retomasse seus passos. 
 
 
O chamado “Sistema de Bretton Woods” foi um modelo de Ordem Econômica 
Internacional que vigorou entre 1944 e 1973. Baseava-se em um esquema de 
paridades cambiais fixas (mas ajustáveis), fundamentadas no ouro-dólar – o 
dólar tornara-se a moeda forte da economia mundial em virtude da posição dos 
EUA como hegemon no sistema. O sistema também incluía as políticas 
econômicas aplicadas pelo FMI e pelo BIRD (e que, na década de 1980, ficariam 
conhecidas como “consenso de Washington”), instituições que contribuiriam 
para auxiliar e orientar as políticas econômicas domésticas. 
 
 
 
 
Pág. 3 - A Guerra Fria 
 
No âmbito político, o mundo pós-1945 foi marcado pela hegemonia dos EUA e 
da URSS e um novo modelo de política internacional: o sistema de zonas de 
influência de raio planetário, característico do novo tipo de Ator – a 
Superpotência. O mundo seria, portanto, dividido em zonas de influência 
soviética e estadunidense. O continente americano e o Ocidente Europeu 
constituíram-se em zona de influência dos EUA, e o Leste Europeu, da URSS. 
No Mapa 28, é possível identificar com clareza essa zona sob a hegemonia 
soviética. 
 
Mapa 28: A Europa em 1946 
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel1.html 
 
 
Um dos legados mais relevantes da II Guerra Mundial foi o fato do conflito ter 
trazido algumas soluções para o caos em que as relações internacionais se 
encontravam desde a I Guerra, época em que não se havia logrado criar um 
mundo pacífico e democrático. A partir de 1945, não houve mais guerra entre as 
Grandes Potências, apesar do estado de tensão constante entre as alianças 
militares ocidental e do bloco soviético, e o conflito armado foi transferido para o 
chamado Terceiro Mundo. O eurocentrismo chegou a termo, e os velhos 
impérios coloniais desapareceriam entre 1945 e a década de 1970. 
 
As organizações internacionais após a II Guerra Mundial são Atores importantes 
da segunda metade do século XX. Veja os sítios da ONU e da OEA, a partir dos 
quais é possívelter acesso aos sistemas de organizações vinculadas a esses 
organismos mundial e regional. 
Pág. 4 - A Guerra Fria 
A Gestação da Guerra Fria 
 
"A Guerra Fria foi um período em que a guerra era improvável, e a paz, 
impossível." 
 
Com essa frase, o pensador Raymond Aron definiu o período em que a opinião 
pública mundial acompanhou o conturbado relacionamento entre os EUA e a 
URSS. O termo “Guerra Fria” deve-se ao fato de nunca ter ocorrido um 
enfrentamento bélico direto entre as duas Superpotências, o qual poderia acabar 
culminando na utilização dos arsenais nucleares e na consequente destruição 
massiva do planeta. 
 
A Guerra Fria substituiu o jogo da hegemonia coletiva da Europa sobre as 
relações internacionais. Há muitas teorias sobre em que momento a ordem 
internacional da Guerra Fria foi gestada. Alguns defendem ter sido na Revolução 
Bolchevique e no cerceamento internacional da Rússia nos primeiros anos da 
Revolução, outros no “cordão sanitário” do Entre-Guerras, e há os que defendem 
ter sido gerada nos anos finais da II Guerra Mundial. O fato é que, após a 
liberação recente dos documentos, arquivos e memórias antes proibidos para 
pesquisas, os fatos que cercam a Guerra Fria passaram a ganhar novas 
interpretações, reforçando a tese da sua gestação ao final da II Guerra Mundial 
e como obra do erro estratégico dos aliados com relação ao flanco oriental a 
partir de 1943 e da rejeição da URSS à ajuda do Plano Marshall, promovido pelos 
EUA. 
 
 
 
O Realismo nas relações internacionais parece ter tido mais influência na política 
soviética do que a ideologia propriamente dita. Stalin, com seus mais de 20 
milhões de mortos na guerra, ensaiava a reconstrução do país com base nas 
reparações de guerra e na política de zona de ocupação. As ações do líder 
soviético acabaram por confundir os formuladores da política externa dos EUA, 
que associaram os movimentos de Moscou à ótica de um projeto expansionista. 
A assistência norte-americana para a reconstrução soviética, acertada na 
conferência de Teerã de 1943, nunca aconteceu. O bloqueio de Berlim, em 1948, 
que marcou o início da tensão, foi feito por Stalin ao perceber o desenvolvimento 
da doutrina antissoviética por parte dos EUA, a Doutrina Truman, que pregava a 
necessidade de contenção da URSS e do expansionismo dos regimes 
comunistas a qualquer custo. Em resposta à Doutrina Truman, os soviéticos 
desenvolveram a Doutrina Idanov, que percebia a URSS como um baluarte do 
Estado proletário sob constante ameaça das Potências imperialistas e que não 
deveria poupar esforços para defender-se, sendo o maior deles a expansão do 
comunismo pelo mundo. 
 
Pág. 5 - A Guerra Fria 
A Gestação da Guerra Fria 
Para os EUA, o conceito de Superpotência correspondia à conjugação da 
capacidade econômica hegemônica com a vontade de construção de uma 
grande área sob a influência dos valores do capitalismo, ou seja, a fusão dos 
interesses da indústria e do comércio norte-americanos com a busca da 
hegemonia mundial. Para a URSS, correspondia à conjugação da necessidade 
de sobrevivência do modelo político-econômico planificado e centralista com a 
necessidade de compensar sua fraqueza diante do Ocidente com a criação de 
uma área sob a influência dos valores do socialismo. 
 
Ao final da II Guerra Mundial, os países beligerantes haviam-se tornado um 
campo de ruínas habitado por povos muito propensos à radicalização e à 
revolução contrária ao sistema da livre empresa, do livre comércio e 
investimento. O Primeiro-Ministro da França foi a Washington advertir que, sem 
apoio econômico, era provável que se inclinasse para os comunistas. 
Assustados com o aumento dos votos para os comunistas nas eleições 
europeias no imediato pós-guerra, os estadunidenses desenvolveram a versão 
econômica da Doutrina Truman: o Plano Marshall, que visava orientar a 
presença dos EUA na reconstrução econômica da Europa Ocidental, o que seria 
uma maneira de reverter o quadro de debilidade das democracias ocidentais e 
do capitalismo diante da penetração soviética. 
 
 
A ajuda do Plano Marshall foi oferecida aos países da Europa envolvidos na II 
Guerra Mundial, inclusive à URSS. Stalin rejeitou o dinheiro americano e 
denunciou o Plano Marshall como uma declaração de guerra econômica à 
URSS. Ademais, impediu os países ocupados pela URSS (Polônia, Países 
Bálticos, Tchecoslováquia, Romênia, Hungria, Bulgária e Alemanha Oriental) de 
aceitá-lo. E, como resposta ao Plano Marshall, a URSS criou o Conselho de 
Assistência Econômica Mútua (COMECOM), com o objetivo de organizar 
economicamente o bloco socialista. 
 
 
Em valores, a ajuda era de US$ 13 bilhões na época, o que seria equivalente a 
cerca de US$ 100 bilhões em 2002. 
 
 
 
 
Costuma-se dividir a Guerra Fria em três fases: 
 
 
· fase “quente”, que vai de 1945 a 1955; 
· fase da “coexistência pacífica”, de 1955 a 1979; 
· fase da “nova Guerra Fria”, de 1979 a 1991. 
 
 
Todavia, há os que separam a segunda fase em duas, com uma fase conhecida 
como détente (distensão), entre 1969 a 1979, que marca a fundação de um 
concerto americano-soviético e o início da decomposição ideológica do conflito 
Leste-Oeste. 
Pág. 6 - A Guerra Fria 
A Fase “Quente”: 1945-1955 
 
 
O período inicial da Guerra Fria é marcado pelo início da rivalidade entre EUA e 
URSS e pela divisão do mundo em um modelo bipolar. Nos EUA, que entre 1945 
e 1949 eram os únicos detentores da arma atômica, George Kennan denunciou 
as pretensões soviéticas de expandir o modelo socialista pelo mundo e formulou 
a “doutrina da contenção”. 
 
Em termos militares, houve reformas na organização militar interna dos EUA, em 
1947, e na estrutura militar da aliança atlântica. No campo doméstico, a Lei de 
Segurança Nacional (1947) criava o Departamento de Defesa, a Agência Central 
de Inteligência (CIA) e o Conselho de Segurança Nacional. Também foi criada a 
Força Aérea estadunidense. 
 
No plano internacional, o bloco liderado pelos EUA constituiria um sistema 
mundial unificado de defesa, e foi criada, em 1949, aOrganização do Tratado do 
Atlântico Norte (OTAN), composta por EUA, França, Grã-Bretanha, Bélgica, 
Canadá, Dinamarca, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Noruega e 
Portugal. Tratava-se de um sistema de defesa que deveria fazer frente a uma 
eventual agressão soviética contra seus membros. 
 
A contenção do avanço comunista deveria ocorrer nos campos político e militar, 
mas também nas áreas ideológica e econômica. Daí o advento do Plano 
Marshall, cujo objetivo era, por meio da ajuda econômica, garantir a presença 
norte-americana na Europa Ocidental e a sua reconstrução segundo os valores 
democráticos e capitalistas. Acompanhava o Plano Marshall o estabelecimento 
da Organização Europeia de Cooperação Econômica (OCDE), instituição que se 
encarregaria de aplicar a ajuda estadunidense e servir de foro para novas 
iniciativas de cooperação europeia. O Plano Marshall estabeleceria os alicerces 
da reconstrução europeia e do processo de integração, que teve como marco os 
Tratados de Roma de 1957, embrião da atual União Europeia. 
 
Pág. 7 - A Guerra Fria 
A Fase "Quente": 1945-1955 
Segundo Giovanni Arrighi (1996), a expansão econômica mundial e a integração 
europeia exigiam uma reciclagem muito maior da liquidez mundial do que estava 
implícito no Plano Marshall. O rearmamento foi uma forma de superar as 
limitações do Plano. A ideia era fazer com que uma economia nacional não mais 
ficasse dependente da manutenção de um superávit de exportações (em uma 
época de câmbio fixo,sob pena de depreciação de sua moeda). O rearmamento 
nacional era um meio de sustentar a demanda, por meio do seguinte processo: 
 
rearmamento (produção industrial e desenvolvimento tecnológico) 
 
-> 
 
tecnologias colocadas no mercado 
 
-> 
 
sustentação e excitação da demanda doméstica 
 
-> 
 
fortalecimento do mercadodoméstico 
 
A assistência militar dos EUA à Europa foi um meio de continuar a prestar 
assistência ao velho continente após o fim do Plano Marshall. Os gastos militares 
no exterior (que saltaram entre 1950 e 1958 e entre 1964 e 1973) forneceram à 
economia mundial a liquidez necessária para se expandir, num processo de 
“keynesianismo militar” global. 
 
Havia, ainda, a preocupação particular com a Alemanha. Foram feitos 
investimentos em grandes quantidades na Alemanha Ocidental ao final da 
década de 1940, com o objetivo de fazer do país reconstruído e de Berlim 
Ocidental a vitrine do capitalismo, solidificando a ideia da área como fronteira 
das democracias capitalistas. Também se buscava evitar qualquer sentimento 
revanchista alemão por meio da incorporação plena do país à Aliança Atlântica. 
Os EUA percebiam uma Alemanha Ocidental forte, econômica e militarmente, 
como a primeira linha de defesa contra uma eventual expansão soviética rumo 
à Europa Ocidental. 
 
Diante das ações estadunidenses, a URSS reagiu. Intensificou o processo de 
militarização das fronteiras, o recrudescimento da política de espaços na Europa 
Oriental e a aceleração do projeto de desenvolvimento da bomba atômica: essa 
seria a resposta de Moscou à política antissoviética adotada pelos EUA. 
 
Passo importante na fundação do sistema bipolar seria a detonação da primeira 
bomba atômica soviética, em 1949. Os soviéticos haviam obtido tecnologia 
nuclear dos EUA e da Grã-Bretanha por meio de uma eficiente operação de 
espionagem. Isso desencadearia uma perseguição aos comunistas – ou aqueles 
suspeitos de simpatia à URSS – que provocaria um período de terror nos EUA 
conhecido como Macartismo. De toda maneira, com a bomba, a URSS mostrava 
ao mundo que havia, a partir de então, uma outra Potência nuclear. Começava 
a corrida armamentista entre as duas Superpotências. 
 
 
 
 
 
Pág. 8 - A Guerra Fria 
A Fase "Quente": 1945-1955 
Além da força nuclear, Moscou buscou garantir também um sistema de defesa 
convencional baseado em uma aliança militar para contrapor-se à OTAN (que, 
em 1952, incorporava a Grécia e a Turquia) e, em 1955, foi criado o Pacto de 
Varsóvia, integrado por URSS, Albânia, Bulgária, Tchecoslováquia, Hungria, 
Polônia e Romênia: estabelecia-se o guarda-chuva militar de Moscou sobre a 
Europa Oriental. 
 
Ainda no que concerne à Europa Oriental, ocupada pelo Exército Vermelho, esta 
foi rapidamente “sovietizada”. Moscou não aceitaria democracias populares 
multipartidárias em sua área de influência. Em 1947, foi criado o Kominform, em 
substituição à Internacional Comunista. O Kominform tinha por objetivo propagar 
a revolução comunista no mundo e garantir o controle ideológico dos partidos 
comunistas no Leste por Stalin, momento em que ficou clara a liderança soviética 
sobre os movimentos de organização dos comunistas franceses, italianos, 
iugoslavos, tchecos, poloneses, húngaros, romenos e búlgaros. 
 
Mas Moscou também mostrava-se disposta a patrocinar a revolução socialista 
em qualquer parte do mundo. Daí seu apoio à Revolução Chinesa de 1949, 
talvez o evento mais importante da história da Ásia no século XX. Com a vitória 
comunista sobre os nacionalistas, a China foi reorganizada nos moldes 
comunistas, com a coletivização das terras e o controle estatal sobre a 
economia. Do dia para a noite, um quinto da população do planeta passava a 
viver sob regime comunista. Ademais, nascia uma nova Potência, que logo 
ocuparia seu espaço no cenário mundial e rivalizaria com a URSS a liderança do 
bloco socialista. 
 
No campo econômico, foi criado o Conselho Econômico de Ajuda Mútua 
(COMECOM) para estruturar as relações econômicas entre os membros do 
bloco socialista e para se contrapor ao Plano Marshall. O COMECOM 
simbolizava o internacionalismo soviético na Economia. Composto inicialmente 
por seis países (Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia, Tchecoslováquia e a 
própria URSS), o COMECOM teria a adesão da Alemanha Oriental em 1950. Em 
1962, o ingresso da Mongólia representou um primeiro passo para uma 
estruturação do COMECOM para além da Europa. Entre 1956 e 1968, Coreia e 
República Democrática do Vietnã obtiveram o status de observadores junto ao 
COMECOM. Em 1964, foi assinado acordo com a República Federativa 
Socialista da Iugoslávia e, em 1972, Cuba ingressou na Organização. 
Pág. 9 - A Guerra Fria 
A Fase "Quente": 1945-1955 
A hegemonia soviética na Europa Oriental criou uma área de influência a que 
Churchill chamou de “cortina de ferro”. 
O bloco socialista na Europa e a cortina de ferro estão registrados no Mapa 29, 
com as respectivas datas de ingresso de cada país no bloco socialista. 
 
 
Mapa 29: A Expansão da URSS no Leste Europeu 
no Pós-II Guerra e a Cortina de Ferro 
 
 
 
Fonte:http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel3.html 
 
 
 
 
Para conhecer o clima de tensão da Guerra Fria, assista a Treze dias que 
abalaram o 
mundo (Thirteen days, 2000), dirigido por Roger Donaldson, com Kevin Costner 
e 
Bruce Greenwood. O filme conta a história da Crise dos Mísseis de Cuba (1962), 
com 
ênfase na maneira como se conduziu o processo decisório no Governo Kennedy 
e as 
negociações com os soviéticos, que culminariam na reestruturação das relações 
entre as 
Superpotências. 
Outro filme fundamental para a compreensão do período e da maneira como 
eram 
tomadas as decisões é Sob a Névoa da Guerra, dirigido por Errol Morris. 
Vencedor do Oscar de melhor documentário de 2004, o filme se molda a partir 
de 
uma longa entrevista do cineasta com Robert Strange McNamara, Secretário de 
Defesa estadunidense dos governos de John F. Kennedy e Lyndon Johnson 
(entre 
1961 e 1967). McNamara apresenta, de forma realista, como se conduziram a 
política externa e as relações com a URSS e outros atores em uma das épocas 
mais 
conturbadas da Guerra Fria. 
 
 
Pág. 10 - A Guerra Fria 
A Guerra da Coreia e a disputa bipolar na Ásia 
 
Estavam, portanto, definidos os dois “condomínios” internacionais de influência. 
Entre 1950 e 1953, as duas Superpotências jogaram todos os seus esforços na 
demonstração de poder mundial na Guerra da Coreia. Com a proclamação da 
República Popular Democrática da Coreia pelos revolucionários comunistas, os 
EUA desembarcam tropas no sul do país e estabeleceram um governo 
antirrevolucionário de notáveis. A ONU reconheceu a divisão do país em dois 
pelo Paralelo 38 e uma guerra se iniciou em 1950, quando os norte-coreanos 
invadiram o território ao sul do paralelo em resposta ao envio norte-americano 
de esquadras para Taiwan e para a Coreia do Sul. Foi o maior conflito armado 
desde a II Guerra Mundial. 
 
A ONU enviou tropas multinacionais sob o comando dos EUA, e os norte-
coreanos recuaram de volta ao Paralelo 38. Migs soviéticos sobrevoaram e 
bombardearam a Coreia do Sul e, com o apoio de tropas chinesas, impuseram 
vitória sobre as tropas norte-americanas, as quais, por sua vez, por meio da 
Operação Killer, jogaram bombas de napalm e ameaçaram a China com o uso 
de armas atômicas. Só se chegou a um equilíbrio militar ao final de 1951, quando 
as tropas dos EUA se retiraram, e teve início uma política de acomodação.Em 1953, foi assinado o armistício de Panmunjom, por meio do qual se criou 
uma zona de segurança separando as duas Coreias, compreendendo uma área 
de quatro quilômetros ao longo do Paralelo 38, sob a vigilância da ONU. Convém 
lembrar que o armistício apenas suspendeu os embates bélicos, de modo que, 
tecnicamente, a guerra continua até nossos dias. As duas Coreias se tornaram 
um monumento dos anos quentes da Guerra Fria (SARAIVA, 1997). 
 
Outro país a se dividir foi o Vietnã, em 1954: Vietnã do Norte, comunista, e o do 
Sul, capitalista. A posição dos EUA na Ásia estava fragilizada, e os norte-
americanos mais que nunca temiam o risco do “efeito dominó”, ou seja, de que 
o que acontecera na China, na Coreia e no Vietnã acabasse repercutindo por 
toda a Ásia, com o estabelecimento de regimes comunistas de influência 
soviética pelo continente e a consequente perda de poder estadunidense na 
região. Em virtude dessa ameaça, os tomadores de decisão nos EUA concluíram 
que o país deveria envidar todos os esforços possíveis para conter o avanço do 
comunismo pelo mundo. Essa decisão teria grandes repercussões pelas 
décadas da Guerra Fria, entre as quais a entrada dos EUA na guerra do Vietnã 
e o apoio estadunidense a regimes capitalistas do extremo oriente – Japão, 
Coreia do Sul e Taiwan, por exemplo. 
 
 
 
No que concerne à Guerra do Vietnã, dois filmes são sugeridos: Apocalipse Now, 
de Francis Ford Copolla, estrelado por Marlon Brando, e Platoon, de Oliver 
Stone. 
Ambos foram produções marcantes que revelaram muitos dos horrores da 
Guerra 
do Vietnã, a grande chaga na política externa dos EUA na segunda metade do 
século XX. 
 
Pág. 11 - A Guerra Fria 
 
Mais disputa bipolar 
 
 
 
A fragilidade dos EUA em relação à hegemonia global também começava a 
acontecer em outras regiões do planeta. A Comunidade Econômica Europeia foi 
instituída, em 1957, pelo Tratado de Roma, tendo como núcleo a unidade franco-
germânica, e se apresentou como alternativa ao plano norte-americano de 
integração do continente. Na incontestável zona de influência norte-americana, 
a América Latina, o estabelecimento de um regime comunista pró-soviético em 
Cuba, após a Revolução de 1959 (que, inicialmente, nem tendências comunistas 
tinha), com o fracassado desembarque na Baía dos Porcos, revelou que as 
estruturas da Guerra Fria não eram tão absolutas quanto se desejava, e que era 
claro o risco da perda da influência norte-americana em quaisquer regiões do 
planeta. 
 
Os EUA começaram a perceber que grandes volumes de bombas e maciços 
investimentos na segurança internacional não eram suficientes para construir a 
legitimidade internacional. A URSS, por sua vez, tornava-se mais forte, mas 
pouco disposta a bater de frente com os EUA. 
Desembarque na Baía dos Porcos - trata-se de uma fracassada tentativa de 
cubanos contrários à Revolução de desembarcarem na ilha e porem fim ao 
regime de Fidel Castro. Os anticastristas encontravam-se nos EUA e tiveram 
apoio da CIA e do governo norte-americano para realizar a ação armada contra 
o regime de Castro. 
 
 
 
 
Com a morte de Stalin e a chegada ao poder de Nikita Krushev, acabariam os 
anos quentes e começaria a fase da coexistência pacífica. 
 
 
Pág. 12 - A Guerra Fria 
A Fase da Coexistência Pacífica: 1955-1968 
 
Alguns autores conjugam as fases da coexistência pacífica com a dadétente. 
Outros, porém, consideram que essa segunda fase marca o início da 
flexibilização da ordem bipolar, e a terceira, mais tardia, marca um momento de 
deliberada atitude das duas Superpotências de pôr fim à era de diferenças. Por 
motivos didáticos, adotamos essa posição. 
 
A coexistência pacífica foi a fase da flexibilização da política externa dos EUA e 
da URSS em que, respectivamente, Eisenhower substituiu Truman e Krushev 
substituiu Stalin. 
 
 
Também caracterizaram essa segunda fase os seguintes acontecimentos: 
 
 
 
 
v 
 
Recuperação econômica e política da Europa Ocidental: tentava-se o retorno da 
Europa ao centro das relações internacionais, após a reconstrução 
proporcionada pelo êxito dos investimentos e doações norte-americanas por 
intermédio do Plano Marshall. A Europa deixava gradativamente de ser um 
centro de poder alinhado automaticamente aos EUA. 
 
 
 
v 
 
 
 
Início da desintegração do bloco comunista: a ruptura chinesa (com a disputa 
sino-soviética no início dos anos de 1960) e o casamento de crenças divergentes 
de alguns partidos comunistas com o nacionalismo (Albânia, Bulgária, Romênia 
e Tchecoslováquia) começavam a descaracterizar a unidade comunista na 
Europa Oriental. O condomínio comunista não deu sinais de expansão 
significativa entre a Revolução Chinesa e a década de 1970. 
 
 
 
v 
 
Descolonização das nações afro-asiáticas: a multiplicação repentina de Estados 
soberanos e o discurso de igualdade jurídica modificaram o quadro dos 
organismos internacionais, como a ONU. Traziam-se aos foros internacionais 
novas reivindicações por parte do chamado “Terceiro Mundo”. 
 
 
 
v 
 
O não alinhamento dos novos Estados pós-coloniais: a maior parte dos novos 
Estados não era comunista em sua política interna e considerava-se “não 
alinhada” em sua política externa (Movimento dos Países Não Alinhados, que 
conjugou seu discurso com o discurso do Grupo dos 77, criado pelos países do 
Terceiro Mundo, por uma nova ordem econômica internacional na década de 
1970). 
 
 
 
v 
 
Articulação independente e própria dos países mais industrializados da América 
Latina: Brasil e Argentina começaram a construir seus próprios interesses na 
inserção internacional do período. A noção de “quintal” dos EUA foi substituída 
pela noção moderna de alinhamento negociado. 
 
 
 
v 
 
A crise dos mísseis em Cuba (1962): tentativa de Krushev, por meio da alocação 
de mísseis na ilha de Cuba, de alterar o equilíbrio de poder mundial em prol da 
URSS, tendo em vista o avanço do projeto de Mísseis Antibalísticos (ABMs) dos 
EUA e a nova doutrina militar da OTAN na Europa (nuclearização). 
 
 
 
v 
 
O declínio gradual das armas nucleares no equilíbrio de poder entre as 
Superpotências: após a crise de Cuba, criou-se um acordo tácito entre a Casa 
Branca e o Kremlin e iniciaram-se os processos de negociações de acordos para 
controle e limitação das armas nucleares, como os SALT I e II e o acordo sobre 
ABMs; 
 
 
 
v 
 
Surgimento de um novo Ator importante: a China de Mao Tsé-Tung. Ao explodir 
sua primeira bomba atômica, em outubro de 1964, a China mudava a correlação 
de forças no cenário internacional. 
 
 
 
v 
 
O Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), de 1968: as Grandes 
Potências conclamavam os países não nucleares a não fazerem experimentos 
e os países nucleares a congelarem os seus arsenais. 
 
 
 
 
Pág. 13 - A Guerra Fria 
A Fase da Coexistência Pacífica: 1955-1968 
Assim, o mundo continuava dividido entre as esferas de poder das duas 
Superpotências. Entretanto, sobretudo após a crise dos mísseis de Cuba, 
quando EUA e URSS quase entraram em um confronto direto, a decisão de 
Washington e Moscou foi de estabelecer mecanismos que permitissem a 
convivência entre os dois blocos e evitassem uma hecatombe nuclear. 
 
O Mapa 30 ilustra o mundo dividido entre as esferas de influência de Washington 
e Moscou. 
 
Mapa 30: Os Dois Blocos em 1955 
 
 
 
 
 
Fonte:http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel8.htmlPor mais estranho que possa parecer, há dois filmes que simbolizam bem a 
percepção 
norte-americana dos valores do capitalismo na Guerra Fria na década de 1980: 
Rambo 
III e Rocky IV. Em Rambo III, um veterano da Guerra do Vietnã (Sylvester 
Stallone) é 
enviado ao Afeganistão para libertar seu mentor, que caiu nas mãos dos 
soviéticos, 
durante a ocupação daquele país, e conta com o apoio dos Talibãs. Interessante, 
sobretudo, se relacionarmos o filme à realidade de duas décadas depois: a 
película 
retrata os vínculos dos EUA com os guerrilheiros afegãos no combate aos 
soviéticos. 
Stallone passa a ser o símbolo do herói estadunidense dos anos 1980 e a causa 
Talibã, 
um dos focos da política externa dos EUA. Atente para a dedicatória ao final do 
filme. 
Já em Rocky IV, o personagem de Stallone encontra um adversário diferente 
para 
lutar nos ringues de boxe: Drago (Dolf Lundgren), um lutador de 1,90 m de altura 
e 130 kg que representa a URSS. O programa de treinamento de Rocky o leva 
à 
fria Sibéria, onde ele se prepara para o combate em Moscou. O filme é marcado 
pela exaltação ao patriotismo norte-americano. 
 
 
 
 
 
Pág. 14 - A Guerra Fria 
 A Fase da “Distensão”: 1969-1979 
 
Muitos autores defendem que só se pode falar em Guerra Fria até o final dos 
anos de 1960, uma vez que a fase que se segue é apenas um concerto entre as 
duas Superpotências. Outros preferem chamar essa fase de “Segunda Guerra 
Fria”, pois é o momento em que as duas Superpotências transferem sua 
competição para o chamado Terceiro Mundo (Vietnã, Angola, Afeganistão, Líbia, 
entre outros). 
 
Se a década de 1960 fez transparecer uma perda de poder dos soviéticos, a 
década de 1970 assinalava uma perda do domínio norte-americano e seu 
relativo isolamento: na Guerra do Vietnã (1959-1975) e na Guerra do Yom Kippur 
(1973), os EUA não receberam ajuda europeia. A crise do petróleo parecia 
sugerir enfraquecimento no domínio internacional dos EUA, enquanto fez os 
preços das jazidas de petróleo e gás natural da URSS quadruplicarem. Entre 
1974 e 1979, regimes na África, na Ásia e na América Latina começaram a ser 
atraídos para o lado soviético. Além disso, o escândalo envolvendo a 
administração Richard Nixon (Watergate) causou uma certa desordem na 
presidência dos EUA. 
 
Quatro fatos são relevantes nessa fase: 
 
 
 
 
1) 
O concerto americano-soviético, que anunciava a flexibilização deliberada no 
relacionamento das duas Superpotências: 
 
· os planos SALT (Strategic Arms Limitation Talks) congelaram por cinco anos 
o desenvolvimento e a produção de armas 
 estratégicas e o controle sobre mísseis intercontinentais e lançadores balísticos 
submarinos; 
 
· os encontros pessoais, entre 1972 e 1974, dos dois chefes de Estado 
reativaram fluxos comerciais e financeiros estagnados, como aqueles entre a 
URSS e os países capitalistas ocidentais (de 1970 a 1975, as exportações 
ocidentais para a URSS quadruplicaram). 
 
 
 
 
 
 
 
2) 
Consciência da diversidade de interesses no Sistema Internacional: 
· a confirmação da vocação integracionista da Europa: a Europa dos Seis de 
1957 (França, Alemanha, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo) passa a 
ser a Europa dos Nove em 1973 (com a adesão da Grã-Bretanha, Dinamarca e 
Irlanda), matriz do que viria a ser, duas décadas depois, o núcleo de poder da 
União Europeia: criava-se uma alternativa ao sistema bipolar, mas não da forma 
harmônica e autônoma que qualificara a hegemonia coletiva europeia do século 
XIX; 
· a América Latina aproveita o clima da détente para a sua reinserção 
internacional: com a crise da liderança norte-americana na região, as relações 
internacionais são desideologizadas em seus países mais importantes, como 
Brasil, México e Argentina, que passam a adotar linhas de condutas próprias nos 
negócios internacionais; 
 
. quatro grandes Atores na Ásia desenvolvem capacidades de defesa de 
interesses próprios na agenda internacional: Vietnã, Índia, China e Japão. 
Destaque para a República Popular da China, a China comunista, que rompe 
com o seu isolacionismo e retorna ao sistema internacional na década de 1970 
(inclusive passando a assumir a cadeira chinesa no Conselho de Segurança da 
ONU em 1971), recusando a hegemonia soviética e ensaiando uma 
aproximação com os EUA, e para o Japão, que iniciava sua caminhada para se 
tornar a segunda economia do planeta. 
 
 
 
 
 
 
 
3) 
Esforço de construção de uma nova ordem econômica internacional pelos países 
do Terceiro Mundo para a redução da dependência com relação aos centros 
hegemônicos de poder: 
· reforço das ilusões igualitaristas dos países afro-asiáticos: irrompem tentativas 
dos países do Sul de estabelecerem um diálogo sólido com o Norte; 
 
· a África como um todo e parte da América Latina e da Ásia buscam afirmar o 
conceito de Terceiro Mundo nas relações internacionais; 
 
· as dificuldades de diálogo encontradas na década de 1960, no âmbito das 
sessões da Conferência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento 
(Unctad), levaram o Terceiro Mundo a propor a Declaração e o Programa de 
Ação sobre o Estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Internacional 
(NOEI), convertida em Resolução da ONU em 1979. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4) 
Crise energética e financeira, que testou o grau de adaptabilidade do capitalismo: 
· os choques do petróleo em 1973 e 1979 tornam o Sistema Internacional da 
détente vulnerável e abalam os componentes da produção, do comércio e das 
finanças internacionais; 
 
· a crise de conversibilidade do dólar, pondo fim ao sistema monetário de 
Bretton Woods: diminuição da importância da economia dos EUA e elevação das 
taxas de juros internacionais, anunciando o desastre para as economias que 
haviam orientado a sua inserção nas relações econômicas internacionais pela 
via do endividamento externo, como o Brasil, o México e a Argentina; 
 
· os países árabes, detentores do petróleo, tornam-se Atores de relevo no 
sistema internacional, passando a reivindicar posições-chaves no planejamento 
das atividades econômicas em escala global; 
 
· aceleração do processo de globalização dos mercados: as empresas, em 
reação à estagnação da produção de bens, à inflação dos preços e ao custo 
energético, desenvolvem novos processos de produção de bens e de 
organização do mundo do trabalho e do consumo, o que acabará por provocar 
uma revisão dos próprios papéis dos Estados nacionais na política internacional; 
o surgimento de uma nova economia sustentada na concentração de inteligência 
e na robótica, criando um novo paradigma tecnológico-industrial (momento 
também conhecido como “Terceira Revolução Industrial”). 
 
 
Pág. 15 - A Guerra Fria 
O Fim da Guerra Fria: 1980-1991 
 
A década de 1980 marcou o que muitos autores chamam de “Nova Guerra Fria”. 
No período, mereceu destaque a exacerbação anticomunista do novo presidente 
norte-americano, Ronald Reagan, estabelecendo-se um retorno ao Realismo 
nas relações internacionais (em substituição ao Idealismo de Jimmy Carter). As 
concessões unilaterais efetuadas pelo governo Carter foram substituídas por 
uma política de confrontação diplomática e de endurecimento econômico, com 
bloqueio econômico e tecnológico aos países do sistema soviético. 
 
O aumento das despesas militares resultou em acúmulo de déficits 
orçamentários para ambos os lados. No entanto, os EUA possuíam uma clara 
vantagem nesse processo: os estadunidenses podiam financiar sua dívida 
públicapor meio de emissão de uma moeda que era o principal meio de reserva 
internacional ou pela colocação de títulos do Tesouro dos EUA no mercado – 
mecanismos impossíveis de serem utilizados pela URSS, dada a sua tradicional 
separação da economia mundial. Assim, segundo Paulo Roberto de Almeida, o 
ocaso final do modo de produção socialista teve início quando os EUA adotaram 
o programa armamentista conhecido como Guerra nas Estrelas, forçando a 
URSS a tentar reproduzir o “keynesianismo militar” do governo Reagan, que se 
revelava oneroso demais. 
 
No final da década de 1980, o mundo veria o bloco socialista desmoronar, em 
um processo intensificado a partir das reformas do novo líder soviético, Mikhail 
Gorbatchev, que chegou ao poder em 1985. Em alguns meses, o sistema 
socialista desapareceria da Europa Oriental, escapando das mãos soviéticas 
sem que Moscou tivesse como impedir o processo. O assunto será tratado na 
Unidade seguinte. 
 
O Mapa 31 mostra o colapso do bloco socialista, com as novas fronteiras 
europeias ao final do século XX. 
 
 
Mapa 31: O Colapso do Bloco Socialista (1987-1990) 
 
 
 Fonte:http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel20.html 
 
 
Do ponto de vista econômico, a década de 1980 testemunhou amplo processo 
de conversão das economias planejadas em economias de mercado: reformas 
econômicas introduzidas na República Popular da China pela equipe de Deng 
Xiao-Ping; liberalização do regime soviético a partir de 1985, com a adoção da 
Perestroika por Gorbatchev, que alcançou o Vietnã a partir de 1986, espalhou-
se pela Europa Oriental a partir da queda do Muro de Berlim, em 1989, e 
culminou na conversão para a economia de mercado de praticamente todas as 
ex-repúblicas socialistas que apareceram após a desintegração da URSS, 
concluída em 1991. Do período que vai de1917 a 1991, algo ficou claro para o 
mundo: o capitalismo mostrava-se muito mais adaptável ao Sistema 
Internacional do que o socialismo. 
 
 
Há muitos sítios interessantes sobre a Guerra Fria. Veja, por exemplo o da TV 
Cultura que reserva um espaço interessante com textos sobre a Guerra Fria. 
Confira também o da Educaterra, que traz no História por Voltaire Schilling, o 
texto: Os Estados Unidos e o início da Guerra Fria (1945-49). 
 
 
 
 
 
 
O cinema procurou explorar a temática da Guerra Fria em vários filmes 
interessantes. 
Destacamos um filme-catástrofe de 1983, O Dia Seguinte, de Nicholas Meyer. 
Trata da 
vida de estadunidenses após o desencadeamento da guerra nuclear contra a 
URSS e a 
destruição causada pelas Superpotências. As cenas são fortes, sobretudo as 
que mostram 
os efeitos da radiação sobre as pessoas, e marcou uma posição de parte da 
opinião 
pública dos EUA contrária à corrida nuclear. 
Recentemente foi produzido mais um filme retratando esse período conturbado 
da 
relação entre as Superpotências nos anos 60, K-19: The Widowmaker, dirigido 
por Kathryn Bigelow, com elenco principal formado Harrison Ford e Liam 
Neeson. A 
história é um thriller de conspiração de guerra baseada em fatos reais, 
envolvendo 
um acidente com o submarino nuclear russo “K-19”, em 1961, que poderia ter 
causado um conflito internacional de grandes proporções, culminando até numa 
guerra atômica. Esse acontecimento real foi ocultado por vinte e oito anos pelos 
russos. Os marinheiros envolvidos na operação foram afastados de suas 
funções e 
proibidos de revelar a história, até que finalmente os fatos vieram à tona após o 
fim 
da União Soviética. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Uma sugestão de leitura é Construtores da Estratégia Moderna, de Peter Paret, 
editado 
pela Biblioteca do Exército. Outras obras interessantes podem ser encontradas 
no sítio 
dessa editora. 
 
Unidade 3 - O Fim da Guerra Fria e a Nova Ordem da Década de 1990 
 
 
 
 
 
 
Ao final desta Unidade, o aluno deverá estar apto a: 
 
• discorrer sobre o surgimento de um mundo multipolar após o fim da Guerra 
Fria; 
• apresentar as principais características da nova ordem internacional pós-
Guerra Fria. 
 
 
 
 
Estamos na reta final do nosso estudo introdutório! Seja perseverante, estude 
com afinco! 
 
 
Pág. 2 - Antecedentes: as transformações da década de 1980 
 
A década de 1980 foi, para muitos, uma década de ruptura. Começaram a 
aparecer, na doutrina internacional, expressões como: “queda dos impérios”, “fim 
do Estado-nação”, “fim do Estado-territorial” e ascensão do “Estado-comercial”, 
“fim do Terceiro Mundo”, “fim das ideologias”. A década marcou o fim do 
dualismo econômico entre socialismo e capitalismo e o aprofundamento da 
diferenciação entre países pobres e países ricos, com as crises da dívida externa 
nos países em desenvolvimento. 
 
Do ponto de vista das relações internacionais, o período foi de superação do 
conflito Leste-Oeste e de fragmentação do Terceiro Mundo. Surgia um sistema 
pós-hegemônico, no qual vários grandes Atores mundiais passavam a reger 
coletivamente os negócios internacionais (multipolaridade estratégica). Um 
desses novos Atores, que funcionava em uma espécie de consórcio informal, foi 
o Grupo dos Sete (G7), composto por EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, 
Grã-Bretanha e Canadá, as nações mais ricas do planeta. A partir de 1992, a 
Rússia, apesar de não ser a oitava economia do globo, incorporou-se ao Grupo, 
que passou a ser conhecido como G8. 
 
 
 
 
A tentativa de Gorbatchev de reforma do regime soviético, com a Perestroika e 
a Glasnost, e o rápido abandono do comunismo nos países da Europa Central e 
Oriental, seguido pelo desaparecimento da própria URSS, em 1991, provocaram 
a mais expressiva transformação no sistema internacional desde o final da II 
Guerra Mundial. Após a perda de controle do bloco socialista, em virtude das 
rápidas transformações nos antigos regimes do Leste Europeu, a URSS viu sua 
influência declinar no cenário internacional. No início da década de 1990, 
começou o que seria praticamente inconcebível dez anos antes: a sua 
desintegração. As primeiras Repúblicas a se separarem foram os Estados 
bálticos – Letônia, Estônia e Lituânia –, que haviam sido incorporados à URSS 
no início da II Guerra Mundial. Após uma grave crise institucional em agosto de 
1991, marcada pela vitória popular liderada por Boris Yeltsin sobre uma tentativa 
de golpe da linha dura soviética, o governo de Gorbatchev perdeu a legitimidade 
e, em 25 de dezembro de 1991, o último líder soviético anunciava formalmente 
o fim da URSS. 
A Perestroika, ou “reestruturação econômica”, é iniciada em 1986, logo após a 
instalação do governo Gorbatchev. Constituía-se em um projeto ambicioso de 
reintrodução dos mecanismos de mercado, renovação do direito à propriedade 
privada em diferentes setores e retomada do crescimento, tendo, entre seus 
objetivos, o de liquidar os monopólios estatais, descentralizar as decisões 
empresariais e criar setores industriais, comerciais e de serviços em mãos da 
iniciativa privada nacional e estrangeira. O Estado continuava como principal 
detentor dos principais meios de produção, mas foi autorizada a propriedade 
privada em setores secundários de bens de consumo, comércio varejista e 
serviços não-essenciais. Na agricultura, foi permitido o arrendamento de terras 
estatais e cooperativas por grupos familiares e indivíduos. A retomada do 
crescimento seria projetada por meio da conversão de indústrias militares em 
civis, voltadas para a produção de bens de consumo, e pelo

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