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3 -Aristóteles e a Justiça

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Aristóteles e a Justiça 
(V Século A.C.) 
Grécia - Atenas 
“Justiça como máxima virtude (areté) 
e, como toda virtude, um justo meio 
(mesótes), não inata, mas alcançável 
pela educação (paidéia), pelo viver 
ético (éthos) e deliberadamente 
escolhida pela reta razão (ortós logos) 
dentro de um Estado político (pólis), 
em que a noção de felicidade 
(eudaimonía) é algo absolutamente 
humano...” 
No período Clássico (Grécia Antiga), pode-
se dizer que Sócrates formulou problemas 
(ironia), Platão arquitetou (ideal) e 
Aristóteles dedicou-se à aplicação da Ética 
e da Justiça a partir do possível, ou seja, do 
prático. 
Para Aristóteles, o justo nos faz viver 
conforme as leis e a equidade. 
 
O injusto nos leva à ilegalidade e à 
desigualdade. 
 
Justo é tudo aquilo que é capaz de criar ou 
salvaguardar, em sua totalidade ou em 
parte, a felicidade individual e comunitária. 
Noutras palavras, a Justiça é, em si 
mesma, a felicidade individual e 
comunitária. Ela não é meio e, sim, um fim. 
A felicidade, como condição de vida, 
apenas decorre de um viver justo, 
independentemente das circunstâncias. 
A lei prescreve, inclusive, a cada pessoa, 
portar-se de forma valente e forte. 
 
Prescreve a sociabilidade: manda, por 
exemplo, não agredir nem falar mal de 
ninguém. 
 
A Justiça, assim entendida, é uma virtude 
completa. 
Conforme palavras de Aristóteles: 
 
"Essa forma de Justiça é, portanto, uma 
virtude completa, não em sentido absoluto, 
mas nas nossas relações com os outros. É 
por isso que muitas vezes a Justiça é 
considerada como virtude mais perfeita e 
nem a estrela vespertina e nem a estrela 
matutina são mais admiradas que ela”. 
E, por essa mesma razão, empregamos 
comumente esse provérbio: na Justiça, 
estão contidas as demais virtudes. 
Tipos de Justiça 
Assim, ideia de Justiça, em Aristóteles, a 
partir da Ética a Nicômaco (Livro V), está 
centrada nas virtudes. 
Porém, Aristóteles trata a Justiça, 
dividindo-a em Geral e Especial. 
A justiça, como VIRTUDE GERAL, também 
chamada LEGAL, segundo Aristóteles: 
“Em geral, a maioria das disposições legais 
estão constituídas por prescrições da 
virtude total, porque a lei manda viver de 
acordo com todas as virtudes e proíbe que 
se viva de conformidade com todos os 
vícios. 
E, das disposições legais, servem para 
produzir a virtude total todas aquelas 
estabelecidas sobre a educação para a vida 
em comunidade. Assim, a lei esgota o 
domínio ético do cidadão, sendo, por isso, 
a medida objetiva da justiça no seu 
mencionado sentido. A justiça geral 
consiste, pois, no cumprimento da lei. 
Inversamente, a injustiça total é a sua 
violação”. 
Quanto à Justiça Especial, está dividida em 
distributiva e corretiva. 
JUSTIÇA DISTRIBUTIVA 
 
Ao elaborar um pensamento, através de uma 
medida geral, considerada como "virtude", o 
Aristóteles também formula uma teoria da 
Justiça, como medida axiológica para o 
Estado e o Direito, uma forma particular desta 
medida, que pode ser relacionada a todas as 
virtudes relativas à comunidade e à política, 
por intermédio de uma igualdade 
proporcional. 
Leva em consideração a desigualdade de 
méritos. 
 
A Justiça Distributiva é explicada na Ética a 
Nicômaco, como aquela que se aplica na 
repartição das honras e dos bens da 
comunidade, segundo a noção de que cada um 
perceba o proveito adequado a seus méritos. 
Partindo daí, podemos observar claramente a 
presença da Justiça distributiva nos dias 
atuais, como o princípio geral das igualdades 
das relações jurídicas e da justa repartição de 
bens. Um exemplo disto é o dispositivo 
constitucional que versa "todos são iguais 
perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no país a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade". 
Aristóteles afirmou: "a virtude da Justiça é a 
essência da Sociedade Civil". 
Porém, Aristóteles observa que a sociedade, 
na prática, não é feita de iguais apenas. O 
pressuposto teórico da igualdade (isonomia) 
seria válido se todos fossem iguais. Na 
realidade fática (histórica), a sociedade é 
constituída de iguais e desiguais. 
Assim, se as pessoas não são iguais, não 
terão igualdade na maneira como são tratadas. 
Daqui vêm as disputas e contendas, quando 
as pessoas, em pé de igualdade, não obtêm 
partes iguais, ou quando, em pé de 
desigualdade, obtêm um tratamento igual. 
Para resolver o problema prático da adequada 
aplicação da Justiça, Aristóteles recorre ao 
principio da “igualdade proporcional”. Deste 
modo, podemos afirmar que o justo é o 
proporcional e o injusto é o que quebra a 
proporcionalidade. 
A coisa fica clara, se se tem em conta o 
mérito das partes. 
 
No que se refere às partilhas, todo mundo 
admite que se deve fazer de acordo com os 
méritos de cada um. 
Porém, deve-se levar em conta a natureza 
do mérito. 
 
Os democratas colocam o mérito na 
liberdade; os oligarcas, na riqueza ou na 
estirpe, e os aristocratas, na virtude. 
Dai deriva a ideia de tratar os iguais, 
igualmente; os desiguais, desigualmente. 
 
A ideia de tratar os iguais, igualmente, e os 
desiguais, desigualmente, está no cerne da 
estrutura de concepção e funcionamento da 
Constituição (Carta Magna) dos Estados 
contemporâneos. 
Com base no princípio da igualdade 
proporcional de Aristóteles, o Direito atual 
elaborou o princípio da hipossuficiência, 
base de formulação do Direito do Trabalho 
e do Direito do Consumidor ( inversão do 
ônus da prova e foro privilegiado). 
Resumindo, esta modalidade regula as 
relações entre a sociedade e seus 
membros. 
JUSTIÇA REPARATIVA (CORRETIVA) 
 
A espécie Corretiva é a segunda prevista na 
Ética a Nicômaco e está divida em 
Comutativa e Judicial. 
A Justiça Reparativa ou Corretiva resulta de 
um "princípio corretivo" frente às relações 
privadas, sejam elas voluntárias ou 
involuntárias, as primeiras, contratuais, e 
as últimas delituosas. 
O princípio da igualdade é encarado de 
forma diversa, em proporção matemática, 
cuidando somente de medir os ganhos e 
perdas de modo impessoal, as coisas e as 
ações são levadas em conta pelo seu valor 
objetivo, e não mais pela qualidade das 
pessoas. 
Esta ideia de Justiça fica centrada no ponto 
intermediário, no meio termo entre a 
vantagem e o dano, ou na correspondente 
entre o delito e a pena. Em resumo, todas as 
relações de troca, sejam penais ou civis, 
são objetos dessa figura Corretiva. 
Portanto, a Justiça Corretiva ordena as 
relações dos membros entre si mesmos. 
Como subdivisão desta última, temos a 
Justiça Comutativa, que tem sua origem no 
latim "comutare", que pode ser traduzido 
por "trocar". 
Ela tem o intento de regular as relações de 
troca em conformidade com certa medida, é 
aplicada nas relações voluntárias, visando 
à igualdade entre o que se dá e o que se 
recebe, entre a prestação e a 
contraprestação; tendo como principal 
meta ordenar as relações jurídicas. 
Portanto, é bilateral e tem por finalidade 
estabelecer a igualdade das relações entre 
os particulares, de modo a adequar-se, 
caso a caso, para a efetivação de uma real 
isonomia. 
Na atualidade, o pensamento de Aristóteles 
se manifesta, de forma mais clara, no 
Direito Civil, na forma da ResponsabilidadeCivil e no Direito Contratual, ou seja, nas 
relações autônomas. 
 
Trata-se das relações autônomas. 
A segunda subdivisão é a Justiça Judicial, 
aquela que é aplicada em casos de 
violação, exigindo uma igualdade 
proporcional entre o dano e o 
ressarcimento, entre o delito e a pena, 
fazendo prevalecer o critério equitativo nas 
controvérsias que exigem a presença do 
juiz. 
 
Trata-se das relações heterônomas. 
Para Aristóteles, "um homem é injusto 
quando seu ato viola a proporção da 
igualdade". 
Assim, considerando o princípio da 
proporcionalidade, base da Justiça 
Corretiva, é irrelevante se uma pessoa boa 
lesa uma pessoa má, ou vice-versa. Elas 
serão tratadas igualmente. O que é levado 
em conta é o ganho do infrator e a perda da 
vítima, procurando um meio termo, entre 
eles, o que será igual ao justo. 
De fato, quando uma pessoa recebe 
pancadas e outra as dá, quando um 
indivíduo causa uma morte e outro morre, o 
dano e o delito não têm entre eles nenhuma 
relação de igualdade. 
O juiz tenta remediar essa desigualdade 
por meio da pena que aplica, reduzindo, 
através dela, a vantagem obtida. 
Quando o juiz avalia o mau trato, o primeiro 
vem a ser o que perde e o segundo o que 
ganha. 
 
De maneira que o igual vem a ser o exato 
meio termo entre o mais e o menos. 
Em consequência, a Justiça corretiva ou 
reparativa será o termo médio entre a 
ganância de um e a perda de outro. 
 
“Virtus medium est” 
Por isso, quando ocorre entre os homens 
alguma diferença, eles recorrem ao juiz, 
que é, por assim dizer, a Justiça encarnada. 
 
Aplica-se o princípio da razoabilidade. 
Referências 
 
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco (Livro V), e 
Política. 
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Conteúdo 
Jurídico do Princípio das Igualdade. 3.ed. São 
Paulo: Malheiros, 1999. 
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à 
Ciência do Direito. 11.ed. São Paulo, Saraiva, 
1999. 
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 
24.ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

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