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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA CURSO DE FARMÁCIA HELANO DA COSTA LIMA DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE GEL LUBRIFICANTE ÍNTIMO COM EXTRATO DE Myracrodruon urundeuva FR. ALL. (AROEIRA-DO-SERTÃO) PARA MULHERES NO CLIMATÉRIO FORTALEZA 2016 HELANO DA COSTA LIMA DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE GEL LUBRIFICANTE ÍNTIMO COM EXTRATO DE Myracrodruon urundeuva FR. ALL. (AROEIRA-DO-SERTÃO) PARA MULHERES NO CLIMATÉRIO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Farmácia da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Farmácia. Orientadora: Profª Drª Juvenia Bezerra Fontenele. FORTALEZA 2016 HELANO DA COSTA LIMA DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE GEL LUBRIFICANTE ÍNTIMO COM EXTRATO DE Myracrodruon urundeuva FR. ALL. (AROEIRA-DO-SERTÃO) PARA MULHERES NO CLIMATÉRIO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Farmácia da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Farmácia. Aprovada em ___/___/______. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________ Profª. Drª. Juvenia Bezerra Fontenele (Orientadora) Universidade Federal do Ceará (UFC) ___________________________________________ Profª. Drª. Francisca Maria Barros de Souza Universidade Federal do Ceará (UFC) ___________________________________________ Farmacêutica Maria do Socorro Vieira Moreira Universidade Federal do Ceará (UFC) À minha família. Aos meus amigos. AGRADECIMENTOS Primeiramente à minha família pelo apoio e por sempre acreditar em mim. À Profª. Drª. Juvenia Bezerra Fontenele, pela excelente orientação. Aos participantes da Banca examinadora Profª. Drª. Francisca Maria Barros de Souza e Farmacêutica Maria do Socorro Vieira Moreira pelo tempo e pelas valiosas colaborações e sugestões. Aos meus professores da graduação, de um modo geral, pelos ensinamentos passados em sala de aula, não só para mim, mas para todos os outros alunos presentes. À Profª. Drª. Cristiane Lopes Capistrano que, como diretora da Farmácia-Escola desta universidade gentilmente cedeu o espaço físico e o material para realização deste trabalho. Aos funcionários da Farmácia-Escola por serem prestativos e estarem sempre dispostos a me ajudar no que fosse preciso durante o desenvolvimento do trabalho. Ao Farmacêutico Emídio Alves dos Santos pelas sugestões dadas para enriquecimento deste trabalho. Ao Prof. Dr. Said Gonçalves da Cruz Fonseca pela ajuda fornecida e por ceder espaço e equipamentos para realização de alguns testes. À Chamini do Nascimento Lino pela grande ajuda fornecida durante todo o decorrer da realização deste trabalho. À Farmacêutica Samia Sousa de Queiroz pelos conselhos recebidos para que eu chegasse à escolha do tema de monografia. Ao Rafael Andrade por sempre estar à minha disposição para o que eu precisasse e, principalmente, nos momentos mais difíceis. Aos meus colegas de curso pelas reflexões, críticas e sugestões recebidas. Aos amigos que fiz durante minha graduação, não apenas do meu curso, mas também aqueles que conheci em ambientes alheios à faculdade, pelos momentos de descontração, a mim, proporcionados. RESUMO O climatério é tido pela Organização Mundial de Saúde como a transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da mulher. Existem diversos sinais e sintomas do climatério, que estão divididos em transitórios e não transitórios, mas como sintomas mais frequentes observamos os fenômenos atróficos geniturinários, que são decorrentes do hipoestrogenismo. Após o declínio do estrogênio, os tecidos de revestimento da vagina, da vulva, da bexiga e da uretra sofrem atrofia, causando vários sintomas, incluindo diminuição da lubrificação e ressecamento da mucosa vaginal, podendo causar lesões e desconforto durante relações sexuais e até mesmo em seu dia a dia. Com isso, faz-se necessário o uso de cosméticos e medicamentos diariamente para aumentar artificialmente a lubrificação vaginal e promover cicatrização dessas possíveis lesões. O extrato da casca do caule da aroeira-do- sertão (Myracrodruon urundeuva Fr. All., Anacardiaceae) é popularmente utilizado em cosméticos e medicamentos como anti-inflamatório do trato genital feminino. Este trabalho visa o desenvolvimento e caracterização de um gel lubrificante íntimo hidrofílico e sem adição de glicerina, com extrato de aroeira-do-sertão, voltado para mulheres que sofrem com esses sintomas que aparecem durante climatério e perduram pelo resto de suas vidas. O produto foi desenvolvido seguindo as Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para o Uso Humano em Farmácias e seus Anexos, conforme RDC 67/2007 e RDC 87/2008, e foi avaliado conforme as especificações da RE 01/2005, do Guia de Controle de Qualidade de Produtos Cosméticos e da 5ª edição da Farmacopeia Brasileira para estudos de estabilidade preliminar. Os resultados mostraram-se satisfatórios e coerentes com características de géis hidrofílicos, bem como apresentou variação mínima nos valores dos parâmetros avaliados. Os ensaios microbiológicos se mostraram de acordo com as especificações para produtos vaginais, bem como a identificação de taninos catequínicos se mostrou positivo. E, uma vez que se trata de um novo produto para promover a saúde dessas mulheres, faz-se necessária a realização de mais testes para assegurar sua estabilidade e segurança através de estudos de estabilidade acelerada, com duração de 90 dias, para fins de registro pelo órgão competente. Palavras-chave: Tecnologia de Cosméticos. Estabilidade de Cosméticos. Lubrificante. Aroeira. Climatério. ABSTRACT According to the World Health Organization, climacteric is the transition between the reproductive and non-reproductive periods in women. It has several signs and symptoms, which are divided into transitory and non-transient. The most common symptoms show atrophic genitourinary phenomena, which are a result of estrogen deprivation. After estrogen decline, vaginal lining tissues, vulva, bladder and urethra undergo atrophy causing a diverse of symptoms, including decreased lubrication and drying of the vaginal mucosa, may causing injuries and discomfort during intercourse and even daily activities. Thus, the daily use of cosmetics and medicine is necessary to artificially increase vaginal lubrication and promote healing of those possible injuries. The bark extract of aroeira-do-sertão (Myracrodruon urundeuva Fr. All., Anacardiaceae) is popularly used in cosmetics and medicine as an anti- inflammatory for the female genital tract. This work aims to the develop and characterize an intimate glycerin-free lubricant hydrophilic gel with addition of aroeira-do-sertão extract aiming to be used for treat women who suffer with climacteric symptoms that persist forthe rest of their lives. The product was developed following the “Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para o Uso Humano em Farmácias e seus Anexos” (Good Handling Practices of Magisterial and Officinal Preparations for Human Use in Pharmacies and its Annexes), in accordance with RDC 67/2007 e RDC 87/2008 by ANVISA, and evaluated using preliminary stability studies, following RE 01/2005, Guide for Quality Control of Cosmetics and the 5th edition of the Brazilian Pharmacopoeia specifications. The results were satisfactory and consistent with the characteristics of hydrophilic gels, and the obtained data showed minimal variation in the evaluated parameters. Microbiological tests were satisfactory according to the specifications for vaginal products. Identification of catechin tannins was positive as well. Since it is a new product to promote the health of women on climacteric, it is necessary to carry out more tests to ensure its stability and security through accelerated stability studies, lasting 90 days, for registration by the competent supervisory office. Keywords: Cosmetic Technology. Cosmetic Stability. Lubricants. Anarcadiaceae. Climacteric. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 10 2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 13 2.1 Geral .......................................................................................................................... 13 2.2 Específicos ................................................................................................................. 13 3 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 14 3.1 Climatério.................................................................................................................. 14 3.1.1 Síndrome geniturinária da menopausa .................................................................... 15 3.2 Géis lubrificantes íntimos ........................................................................................ 17 3.3 Myracrodruon urundeuva Fr, All. (aroeira-do-sertão) ......................................... 18 4 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 20 4.1 Preparação do gel ..................................................................................................... 20 4.2 Estudos de estabilidade preliminar......................................................................... 20 4.2.1 Centrifugação ............................................................................................................ 23 4.2.2 Características organolépticas .................................................................................. 23 4.2.2.1 Aspecto ....................................................................................................................... 23 4.2.2.2 Cor e odor .................................................................................................................. 24 4.2.3 Determinação de pH .................................................................................................. 24 4.2.4 Determinação da densidade relativa ......................................................................... 24 4.2.5 Determinação da viscosidade .................................................................................... 25 4.3 Testes adicionais ....................................................................................................... 25 4.3.1 Espalhabilidade ......................................................................................................... 25 4.3.2 Ensaio microbiológico para produtos não estéreis .................................................. 26 4.3.3 Pesquisa de microorganismos patogênicos .............................................................. 27 4.3.4 Perda de água ............................................................................................................ 27 4.3.5 Identificação de taninos ............................................................................................ 27 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 28 5.1 Preparação do gel ..................................................................................................... 28 5.2 Estudos de estabilidade preliminares ..................................................................... 28 5.2.1 Centrifugação ............................................................................................................ 28 5.2.2 Características organolépticas .................................................................................. 28 5.2.3 Determinação do pH.................................................................................................. 29 5.2.4 Determinação da densidade relativa ......................................................................... 29 5.2.5 Determinação da viscosidade .................................................................................... 30 5.3 Testes adicionais ....................................................................................................... 32 5.3.1 Espalhabilidade ......................................................................................................... 32 5.3.2 Ensaio microbiológico para produtos não estéreis .................................................. 35 5.3.3 Pesquisa de microorganismos patogênicos .............................................................. 35 5.3.4 Perda de água ............................................................................................................ 35 5.3.5 Identificação de taninos ............................................................................................ 36 6 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 37 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 38 10 1 INTRODUÇÃO Na vida da mulher há marcos concretos e objetivos que sinalizam diferentes fases, tais como a menarca, a gestação, ou a última menstruação. São episódios marcantes para seu corpo e sua história de vida. A menstruação e a menopausa são fenômenos naturais da fisiologia feminina e por longo tempo foram tratados como incômodos e vistos como doença (BRASIL, 2008). O climatério é tido pela Organização Mundial da Saúde como uma fase biológica da vida, e não um processo patológico, que compreende a transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da vida da mulher (WHO, 1996). A menopausa é um marco dessa fase, e corresponde a cessação permanente de ciclos menstruais após a perda de atividade folicular ovariana, que somente é reconhecida depois de passados 12 meses do último ciclo menstrual e acontece geralmente em torno dos 48 aos 50 anos de idade (DAVIS et al., 2015). Os sinais e sintomas do climatério são divididos em transitórios, representados pelas alterações do ciclo menstrual e pela sintomatologia mais aguda, e em não transitórios, representados pelos fenômenos atróficos geniturinários, distúrbios no metabolismo lipídico e ósseo. Dentre as alterações transitórias destacam-se os clássicos sintomas neurovegetativos ou vasomotores como os fogachos, com ou sem sudorese e uma variedade de sintomas neuropsíquicos, como ansiedade, nervosismo, irritabilidade, melancolia, baixa auto-estima, depressão,dificuldade para tomar decisões, insatisfação pessoal e isolamento emocional (BRASIL, 2008; PÉREZ-RONCERO et al., 2013). Os fenômenos atróficos geniturinários estão entre as mais frequentes alterações não transitórias, e são decorrentes do hipoestrogenismo. A anatomia e função do trato genital inferior feminino é dependente de estrogênio. Após o declínio do estrogênio na menopausa, os tecidos de revestimento da vagina, da vulva, da bexiga e da uretra sofrem atrofia, causando um conjunto de sintomas, incluindo diminuição da lubrificação e ressecamento da mucosa vaginal, relações sexuais dolorosas (dispareunia), prurido vulvar, ardor e desconforto, assim como infecções urogenitais recorrentes (KINGSBERG et al., 2013; CALLEJA-AGIUS & BRINCAT, 2009; MEHTA & BACHMANN, 2008). Síndrome Geniturinária da Menopausa (GSM – Genitourinary syndrome of menopause) é a nova terminologia proposta pela International Society for the Study of Women’s Sexual Health (ISSWSH) e a North American 11 Menopause Society (NAMS) para descrever os sintomas decorrentes da atrofia vulvovaginal, devido à deficiência de estrogênio (PORTMAN & GASS, 2010; DAVIS et al., 2015). Estudos relatam um aumento na prevalência de sintomas, como dores nas articulações, fogachos, parassonia, redução da lubrificação com consequente ressecamento vaginal e dificuldades nas relações sexuais durante a menopausa. (FREEMAN & SHERIF, 2007; CRAY, WOODS & MITCHELL, 2010; MISHRA & DOBSON, 2012; MISHRA & KUH, 2012). O uso sistemático de hormônios durante o climatério tem sido uma prática usual na medicina. O tratamento pela administração de hormônios visa, em especial, combater os sintomas vasomotores, o ressecamento vaginal (que causa a dispareunia) e da pele, preservar a massa óssea, melhorar o sono, impedir a deterioração da função cognitiva e estimular a libido. Além do uso oral, alguns profissionais de saúde recomendam o uso de estrógenos por via vaginal, na forma de óvulos, anéis, pessários, comprimidos, géis, supositórios ou cremes (RAHN et al., 2015; BACHMANN et al., 2008; BACHMANN et al., 2009; CASPER & PETRI, 1999; CANO et al., 2012; GRIESSER et al., 2012; MATTSSON & CULLBERG, 1983). Em muitos casos, a terapia hormonal por via oral ou vaginal possui contraindicações. Embora raros, a hiperplasia endometrial e o adenocarcinoma foram eventos adversos relatados em pacientes que receberam estrogênio vaginal (BACHMAANN, 2008; SIMON et al., 2008; BARENTSEN, VAN DE WEIJER & SCHRAM, 1997). Nos últimos anos, devido ao aumento da expectativa de vida das mulheres e a um maior acesso a informação, o interesse por alternativas, como o uso de lubrificantes íntimos, que melhoram o desempenho e aumentam a satisfação sexual e diminuam a laceração e dor vaginal durante o coito (HERBENICK et al., 2011) tem crescido bastante (BRASIL, 2008; SCHROBSDORFF, 2008). Aliada à lubrificação artificial, o uso de substâncias com ação anti-inflamatória e cicatrizante pode ser uma boa opção para ajudar as mulheres climatéricas a ter relações sexuais mais satisfatórias, facilitando a cicatrização em regiões laceradas, como é o caso dos cremes vaginais à base de aroeira. A aroeira-do-sertão ou aroeira (Myracrodruon urundeuva Fr. All., Anacardiaceae), é uma planta medicinal tradicionalmente usada no Nordeste Brasileiro. O extrato aquoso da casca do caule é popularmente utilizado como anti-inflamatório do trato genital feminino, mas também é empregado em cosméticos, como por exemplo em sabonetes 12 em barra ou líquido empregados de um modo geral no corpo inteiro por homens, mulheres e crianças. Muitos trabalhos têm demonstrado os efeitos anti-inflamatório, cicatrizante, antiúlcera e antimicrobiano dos extratos e dos taninos isolados da aroeira (GOES et al., 2005; BOTELHO et al., 2007; BOTELHO et al., 2008; SOUZA et al., 2007). Recentemente, foi demonstrado que o extrato, assim como as frações ricas em chalconas, isoladas da aroeira, possuem atividade analgésica, anti-inflamatória, antioxidante e neuroprotetora (NOBRE- JÚNIOR, 2009; CALOU et al., 2014). O presente trabalho tem como finalidade o desenvolvimento e caracterização de um gel lubrificante íntimo com extrato de aroeira-do-sertão para uso em mulheres climatéricas com o intuito de reduzir a sintomatologia da GSM, sem, contudo, utilizar a terapia hormonal. 13 2 OBJETIVOS 2.1 Geral Desenvolver e caracterizar um gel lubrificante vaginal com extrato de Myracrodruon urundeuva Fr. All. (Aroeira-do-sertão) através de ensaios de estabilidade preliminares. 2.2 Específicos Formular e elaborar um gel para uso vaginal com propriedades lubrificantes; Incorporar o extrato de Myracrodruon urundeuva à formulação durante o processo de produção; Avaliar os caracteres organolépticos como aspecto, cor e odor do gel lubrificante de aroeira antes, durante e após os testes de estabilidade; Identificar qualitativamente os tipos de taninos presentes na formulação; Avaliar a estabilidade acelerada do gel a partir de ensaios de viscosidade, potenciometria, densidade relativa e espalhabilidade antes, durante e após os estudos de estabilidade; Avaliar a perda de água após os estudos de estabilidade preliminar; Avaliar microbiologicamente o produto final antes e após os estudos de estabilidade preliminar. 14 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Climatério O climatério, palavra de origem grega que significa “crise” ou “transição” (CAMPOLIM, 2002), é o período da vida das mulheres marcado por diversas transformações e mudanças que caracterizarão o término do período reprodutivo (DAVIS et al., 2015). A menopausa é um marco dessa fase, correspondendo ao último ciclo menstrual. A menarca e a menopausa são fenômenos naturais da fisiologia feminina. São episódios marcantes e inexoráveis, para o corpo da mulher e sua história de vida, que em cada cultura recebem significados diversos (BRASIL, 2008). Entretanto, é fundamental que haja, durante o climatério, um acompanhamento sistemático visando a promoção da saúde, o diagnóstico precoce, o tratamento imediato dos agravos e a prevenção de danos à saúde da mulher. Em 2001, a Sociedade Norte Americana de Menopausa formou um grupo de estudo, com o objetivo de padronizar a nomenclatura dos estágios da vida reprodutiva feminina, denominado STRAW (Stages of Reproductive Aging Workshop). Cinco estágios precedem e dois sucedem o final do período menstrual (SOULES et al., 2001, DAVIS et al, 2015). A perimenopausa é conceituada como o período que abrange a fase de transição menopausal e o primeiro ano após a última menstruação, com duração média de cinco anos. O período de transição menopausal é dividido em duas fases: a inicial, caracterizada por ciclos que variam em duração, mais do que sete dias, quando comparados com o padrão individual, e a tardia, em que pelo menos dois ciclos estão alterados, com pelo menos um período de amenorreia excedendo a sessenta dias. A idade do início da transição menopausal é estimada entre 44-48 anos, com uma variação entre 31-54 anos. A idade em que habitualmente ocorre a última menstruação situa- se entre 48 e 52 anos, com uma variação de 35-58 anos. Quando a menopausa ocorre antes dos 45 anos é considerada precoce. Mulheres que entram na menopausa antes da idade de 40 anos, são consideradas como tendo uma falência prematura dos ovários (FEBRASGO, 2010; SOULES et al., 2001). Na perimenopausa a exaustão progressiva dos folículos propicia alterações no eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal, que desencadeia redução progressiva e paulatina dos estrogênios. O resultado final das alterações morfofuncionaisda perimenopausa é o hipoestrogenismo, que é, em última análise, o responsável pela maioria das alterações clínicas 15 que advirão neste período. Cerca de 75-80% das mulheres são atingidas por estes distúrbios, sendo que 40% delas sentem-se “muito afetadas” (SÁ & PETRACCO, 2001) Dentre os principais sintomas do climátério, Mishra e Kuh (2012) destacam cinco: problemas para dormir, dores nas articulações, ondas de calor, falta de lubrificação com consequente ressecamento da mucosa vaginal e dificuldades durante as relações sexuais. 3.1.1 Síndrome geniturinária da menopausa Os sinais e sintomas clínicos do climatério podem ser divididos em transitórios, representados pelas alterações do ciclo menstrual e pela sintomatologia mais aguda, e em não transitórios, representados pelos fenômenos atróficos geniturinários, distúrbios no metabolismo lipídico e ósseo. Os fenômenos atróficos geniturinários estão entre as mais frequentes alterações não transitórias, e são decorrentes do hipoestrogenismo. A anatomia e função do trato genital inferior feminino são dependentes de estrogênio. Após o declínio do estrogênio na menopausa, os tecidos de revestimento da vagina, da vulva, da bexiga e da uretra sofrem atrofia, causando um conjunto de sintomas, incluindo diminuição de lubrificação e ressecamento da mucosa vaginal, dispareunia, prurido vulvar, ardor e desconforto, assim como infecções urogenitais recorrentes (DAVIS et al., 2015; PORTMAN & GASS, 2010; KINGSBERG et al., 2013; CALLEJA-AGIUS & BRINCAT, 2009; MEHTA & BACHMANN, 2008). Histologicamente, a perda de células epiteliais superficiais no trato geniturinário conduz ao adelgaçamento do tecido, o epitélio vaginal torna-se muito mais frágil, o que pode conduzir a rompimento, sangramento e fissuras (KARRAM, SOKOL & SALVATORE, 2015). Síndrome Geniturinária da Menopausa (GSM – Genitourinary syndrome of menopause) é a nova terminologia proposta pela International Society for the Study of Women’s Sexual Health (ISSWSH) e North American Menopause Society (NAMS) para descrever os sintomas decorrentes da atrofia vulvovaginal, devido à deficiência de estrogênio (PORTMAN & GASS, 2010; DAVIS et al., 2015). A redução das secreções vaginais que levam ao ressecamento da mucosa, e consequente dispareunia e prejuízo significativo da função sexual pode ter outras causas, além do hipoestrogenismo. Dentre elas podemos citar aleitamento, transtorno de estresse pós- traumático devido a agressão sexual, condições de saúde, tais como diabetes, doença 16 inflamatória intestinal, insuficiência cardíaca crônica e causas iatrogênicas como radioterapia e quimioterapia. Medicamentos como anti-histamínicos, alguns contraceptivos, anticolinérgicos, antidepressivos e aqueles usados no tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) também podem reduzir a produção de secreção vaginal (ANDELLOUX, 2012). Durante o período reprodutivo, o estrogênio estimula a maturação do epitélio vaginal, que por sua vez degrada glicogênio em glicose. Os lactobacilos, que controlam o crescimento de patógenos através da produção de peróxido de hidrogênio, metabolizam a glicose em ácido lático, que acidifica o ambiente vaginal. Com a redução dos níveis de estrogênio durante a menopausa, há uma diminuição desses lactobacilos, tornando o ambiente vaginal mais alcalino. Esse ambiente alcalino permite a colonização vaginal pela flora fecal e outros patógenos. A perda de estrogênio também provoca mudanças na quantidade e qualidade de secreções vaginais, perda da capacidade de retenção de água, de colágeno e tecido adiposo pela vulva, ocorre estreitamento do introito e encurtamento do canal vaginal, devido à perda da rugosidade e elasticidade da parede vaginal. A parede vaginal se torna mais friável, podendo surgir petéquias, ulcerações e hemorragia após trauma mínimo (KARRAM, SKOL & SALVATORE, 2015). Inúmeros estudos têm investigado a prevalência dos sintomas vulvovaginais causados pela diminuição de estrogênio. Na Turquia, um estudo mostrou que em 510 mulheres em período pós-menopáusico, os sintomas mais comuns foram a polaciúria (16,5%), disúria (6,5%), incontinência de esforço (10,4%), urgência miccional (8,5%), ressecamento vaginal (9,6%) e dispareunia (10%) (BOZKURT, OZKAN & KORUCUOĞLU, 2007). Essas duas últimas produzem importante repercussão na sexualidade e na qualidade de vida da mulher (OLIVEIRA-JUNIOR, 2012). Outro estudo feito nos EUA, mostrou que 39% das mulheres relataram dificuldades na lubrificação vaginal durante a masturbação ou relações sexuais (GALINSKY, 2012). O decréscimo da lubrificação íntima interfere com a atividade sexual feminina, podendo em muitos casos produzir dispareunia e redução do interesse sexual, trazendo sequelas emocionais e, em algumas situações, interferência na relação conjugal (SCHALKA & CAMARANO, 2014). Desta forma, a introdução de agentes lubrificantes suplementares para uso durante a relações sexuais e até mesmo para uso diário, pode tornar a experiência sexual mais prazerosa, aumentando assim a satisfação dos parceiros e melhorando a qualidade de vida da paciente. 17 3.2 Géis lubrificantes íntimos Os géis, matrizes poliméricas tridimensionais na forma de dispersões coloidais, com as mais variadas funções, caracteizam-se como os sistemas mucoadesivos mais estudados e a via vaginal é altamente apropriada à bioadesão (NUNES et al., 2012). Segundo Andelloux (2012), atualmente existem cinco principais tipos de geis lubrificantes, sendo os mesmos classificados de acordo com a base utilizada para sua produção: a) À base de petróleo: Apesar de alguns autores relatarem casos em que produtos à base de petróleo interferem na eficácia de preservativos e que eles desregulam a microbiota vaginal, são os mais comuns e de mais fácil acesso; b) À base de óleos naturais: Apesar de serem mais seguros que os lubrificantes à base petróleo, tendem a permanecer mais tempo no órgão sexual feminino, aumentando as chances de colonização bacteriana e fúngica alheias à microbiota natural da vagina; c) À base de água com glicerina: São os mais vendidos em supermercados e farmácias. A glicerina é adicionada com função de umectante e para um toque mais suave. Apesar de alguns estudos mostrarem que a glicerina pode causar infecção fúngica em mulheres propensas, não há nenhuma evidência que suporte essa afirmação; d) À base de água sem glicerina: São mais difíceis de serem encontrados, mas estão se tornando mais acessíveis devido à preferência dos consumidores. Se um paciente relatar recorrentes infecções fúngicas, este tipo de lubrificante pode ser a melhor opção; e) À base de silicone: Altamente recomendados para mulheres com pele sensível ou que estão lidando com ressecamento vaginal, uma vez que muitos são hipoalergênicos e duram mais que qualquer outro lubrificante que não seja à base de óleos, mas, em compensação, são caros, de difícil acesso e são extremamente inflamáveis. Formulações farmacêuticas possuem compostos ativos e excipientes, que são adicionados para facilitar a produção e, subsequentemente, a administração dessas formulações aos pacientes. As propriedades finais da formulação (como biodisponibilidade e 18 estabilidade) são, em sua maior parte, dependentes dos excipientes escolhidos, de suas concentrações e interações com o princípio ativo e entre eles mesmos (ROWE, SHERKEY & QUINN 2009). Segundo Das Neves & Bahia (2006), excipientes são substâncias desprovidas de atividade terapêutica, apesar de, nem sempre, isso ser verdade. Porém, segundo Rowe, Sherkey & Quinn (2009), eles não podemmais ser denominados como ingredientes inertes ou inativos, mas um conhecimento detalhado, não só de propriedades físicas e químicas, mas também de segurança, manipulação e status regulatório desses materiais são essenciais para formulações ao redor do mundo. Em formulações vaginais em forma de gel, diversos excipientes são empregados com diferentes funções como agentes gelificantes, conservantes, umectantes, antioxidantes, agentes quelantes e veículo, por exemplo (GARG et al., 2001). De acordo com Das Neves & Bahia (2006) os polímeros mais utilizados como agentes gelificantes em géis vaginais hidrofílicos são o carbopol ® , gelatina, hidroxietilcelulose, hidroxipropilcelulose, hidroxipropilmetilcelulose, metilcelulose, policarbofil, polietilenoglicol, polivinilpirrolidona (PVP), alginato de sódio, carboximetilcelulose sódica e amido. 3.3 Myracrodruon urundeuva Fr, All. (aroeira-do-sertão) Myracrodruon urundeuva Fr. All. (Anarcadiaceae), conhecida no Brasil como aroeira, aroeira-do-sertão ou urundeúva (NUNES, 2008), e como cuchi, urunde’y mi e urundel na América Latina (CARVALHO, 2003), é uma espécie de planta arbórea medicinal, comum na caatinga (CALOU et al., 2014), mas também é encontrada nos estados de Minas Gerais e Goiás (VIANA, BANDEIRA & MATOS, 2003) e em países como Argentina, Bolívia e Paraguai (CARVALHO, 2003). Segundo Cecílio (2015), o extrato da aroeira-do-sertão, além da ação anti- inflamatória, possui também ação antioxidante, antiúlcera, cicatrizante, antifúngica, antibacteriana, antiviral, dentre outras (VIANA, BANDEIRA & MATOS, 2003; VIEIRA et al., 2015, NOBRE-JÚNIOR, 2009). Devido a essas propriedades, o extrato aquoso da casca do caule é popularmente utilizado como anti-inflamatório do trato genital feminino. A casca da aroeira-do-sertão possui taninos, com comprovada ação anti-inflamatória e antiúlcera (SOUZA et al., 2007), e outros compostos fenólicos, como flavonoides, além de chalconas dimétricas e alcaloides (MATOS, 2002; FERREIRA et al., 2011; BARBOSA et al., 2014). 19 Os compostos fenólicos estão distribuídos em toda a planta de maneira não uniforme, na forma livre ou estratificados a compostos solúveis (compartimentalizados nos vacúolos celulares) ou insolúveis (na parede celular). São encontrados amplamente em todo o reino vegetal (MACHADO, 2013) e incluem diversas estruturas químicas que podem ser classificadas pelo número e arranjo de seus átomos de carbono, sendo divididos em, pelo menos, dez grupos: fenóis simples, ácidos fenólicos, cumarinas, isocumarinas, naftoquinonas, xantonas, estilbenos, antraquinonas, flavonoides e ligninas (CROZIER et al., 2009). As chalconas e dihidrochalconas são flavonoides conhecidos por sua capacidade de melhorar a função endotelial, auxiliando a circulação e ajudando a prevenir e tratar hematomas, varizes, sangramento nas gengivas e hemorragias nasais. As chalconas também podem ser úteis no tratamento do sangramento transvaginal intenso, sem causa aparente (VIANA, BANDEIRA & MATOS, 2003; ZUANAZZI & MONTANHA, 2010). As concentrações de extrato de aroeira usualmente encontradas em cosméticos, geralmente sabonetes líquidos, são de 0,1 a 0,2%, contudo, existem no mercado formulações de cremes vaginais com concentração de até 15% de extrato fluido de aroeira. 20 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Preparação do gel A base utilizada para obtenção do gel foi a Hidroxietilcelulose (Natrosol™), que possui boas características de lubrificação (DAS NEVES & BAHIA, 2006; VILLANOVA, OREFICE & CUNHA, 2010). Os conservantes utilizados foram o Metilparabeno (Nipagin) e Propilparabeno (Nipazol), usados em associação e em solução a 20%. Inicialmente o planejado foi de uma formulação contendo Natrosol™ a 2% e extrato de aroeira a 0,5%, mas, o produto apresentou uma coloração escura e uma viscosidade muito elevada, o que dificultaria sua aplicação, bem como sua remoção a partir da higienização do órgão sexual feminino. Com isso, foram feitas várias variações da formulação a fim de dar ao produto uma característica de cor e viscosidade adequadas. Após diversas tentativas chegou-se a formulação descrita na Tabela 01. De acordo com a mesma foram preparados lotes do gel lubrificante íntimo em concentração de 0,2% de extrato de aroeira-do-sertão a 1g/mL. Tabela 1 – Protótipo de formulação do gel de aroeira EXCIPIENTES COMPOSIÇÃO CENTESIMAL Natrosol™ 1,0% Solução de Parabenos a 20% 1,0% Propilenoglicol 15% Solução de Sorbitol a 70% 2,86% EDTA Dissódico 0,1% Extrato de Aroeira-do-Sertão 1g/mL 0,2% Ácido Lático a 85% q.s. Agua Destilada q.s.p. 100mL Fonte: Própria do autor. O gel foi preparado com a adição de todos os constituintes em becker de vidro seguido de um aquecimento a 70-75ºC em fogão industrial. Ao final, e após resfriamento do produto o pH do meio foi ajustado para um valor de 3,9, utilizando-se uma solução de ácido láctico a 85%, conforme intervalo de pH aceito para produtos vaginais (3,8-4,2). Abaixo segue o fluxograma de preparação do gel (Figura 1), seguido de uma imagem de seu estado final (Figura 2). 21 Figura 1 – Fluxograma de preparação do do gel de aroeira Fonte: Própria do autor. Figura 2 – Produto acabado do gel de aroeira Fonte: Própria do autor. 22 Após 24h da fabricação de dois litros do gel para os estudos de estabilidade, o mesmo foi envasado em bisnagas de plástico e alumínio (Figura 3) a fim de comparar qual seria o melhor material de acondicionamento primário para a formulação desenvolvida. Para cada amostra de produto envasado (embalagem de alumínio e de plástico) foram feitos ensaios microbiológicos para produtos não estéreis e pesquisa de microrganismos patogênicos. Figura 3 – Produto acabado do gel de aroeira após envase Fonte: Própria do autor. 4.2 Estudos de estabilidade preliminar O lote foi avaliado conforme as especificações da RE 01/2005 (BRASIL, 2005), do Guia de Controle de Qualidade de Produtos Cosméticos (BRASIL, 2008) e da 5ª edição da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2010). Antes de iniciar os Estudos de Estabilidade, recomenda-se submeter o produto ao Teste de Centrifugação. Os Estudos de Estabilidade só prosseguirão se não houver separação de fases e a formulação não apresentar qualquer indício de instabilidade física. Após aprovado nesse teste, amostras armazenadas em suas embalagens finais ou em frascos de vidro neutro, com tampa que garantam boa vedação, foram submetidas às seguintes condições de estresse: Ciclos de 24 horas a 40±2ºC e ciclos de 24 horas a -5±2ºC durante 12 dias utilizando um refrigerador (BRASTEMP ® MOD. BRA31ABBNA) e uma estufa de secagem (LABTRADE ® MOD. EB100). Os lotes foram avaliados quanto às características organolépticas e físico- químicas. As análises foram realizadas no tempo zero, andes de serem colocados em estufa, no sexto dia, após 24 horas de descanso e 24 horas após o período de avaliação da estabilidade. O intuito dessas condições foi acelerar o aparecimento de instabilidades, a fim de auxiliar a triagem dos lotes. 23 Além disso, as amostras foram submetidas a testes adicionais de identificação de taninos, compostos químicos majoritários presentes na aroeira-do-sertão, de espalhabilidade e de perda de água para as amostras que ficaram nos ciclos de gelo e degelo. O lote passou, também, por uma avaliação microbiológica para produtos não estéreis antes do início dos estudos de estabilidade e ao final destes, além de pesquisa por microorganismos patógenos. 4.2.1 Centrifugação O teste de centrifugação produz estresse naamostra simulando um aumento na força de gravidade, aumentando a mobilidade das partículas e antecipando possíveis instabilidades que só seriam percebidas após um tempo prolongado. Estas podem ser observadas na forma de precipitação, separação de fases, formação de caking, coalescência, entre outras, dependendo do tipo de forma farmacêutica avaliada. Amostras de 5g foram centrifugadas em tubos de ensaio à temperatura ambiente, a 3.000 rpm por 30 minutos (centrífuga EVLAB ® MOD. EV:04). O teste foi feito em duplicata. 4.2.2 Características organolépticas A avaliação das características organolépticas consiste na avaliação da formulação através dos órgãos dos sentidos. As amostras foram analisadas levando-se em consideração as propriedades organolépticas, através da visualização, avaliando qualquer alteração de coloração, odor ou sinal de perda da viscosidade do gel. A análise foi feita segundo os critérios apresentados na Tabela 2, adaptados por Bühler & Ferreira (2008). 4.2.2.1 Aspecto O aspecto foi avaliado por inspeção visual, onde se verificou se houve formação de precipitado, turvação e/ou surgimento de grumos. Um produto estável se mantém íntegro durante todo o período avaliado, mantendo seu aspecto inicial em todas as condições experimentais, exceto em temperaturas elevadas ou em ciclos de gelo e degelo, em que pequenas alterações são aceitáveis. O produto foi avaliado em triplicata. 24 4.2.2.2 Cor e odor A cor foi analisada visualmente e o odor será verificado através do olfato. Para um produto estável, ambas as características devem permanecer estáveis. Pequenas alterações são aceitáveis em temperaturas elevadas. O produto foi avaliado em triplicata. Tabela 2 – Avaliação das características organolépticas N Normal LMA Leve Modificação da Aparência LMC Leve Modificação da Cor LMO Leve Modificação do Odor MA Modificação da Aparência MC Modificação da Cor MO Modificação do Odor IMA Intensa Modificação da Aparência IMC Intensa Modificação da Cor IMO Intensa Modificação do Odor Fonte: Bühler & Ferreira (2008). 4.2.3 Determinação de pH A análise de pH da formulação foi realizada por potenciometria utilizando um pHmetro digital (GEHAKA ® MOD. PG2000) devidamente calibrado com soluções tampão de pH 4,0 e 7,0. A determinação foi feita pela diferença de potencial entre dois eletrodos imersos na amostra em estudo sem diluição. Produtos estáveis não apresentam alterações significativas nos valores de pH, e, tendo em vista que o produto será utilizado na região genital feminina, deverá apresentar valores de pH entre 3,8 a 4,2, uma vez que esses valores são os valores de pH vaginal em condições normais (BROLAZO et al., 2009). O teste foi feito em triplicata. 4.2.4 Determinação da densidade relativa Para determinação da densidade relativa (𝑑20 20) foi utilizado um picnômetro de metal, utilizado para produtos semissólidos e/ou viscosos, com capacidade de 50mL, previamente calibrado. A calibração consiste na determinação da massa do picnômetro vazio e da massa de seu conteúdo preenchido com água a 20°C. A amostra a 20°C foi transferida 25 para o picnômetro, foi removido o excesso do produto, se necessário, e, em seguida, o picnômetro será pesado. O peso da amostra foi obtido através da diferença de massa do picnômetro cheio e vazio. A densidade relativa foi calculada determinando-se a razão entre a massa da amostra e a massa de igual volume da água, ambas à mesma temperatura (20°C), conforme 5ª ed. da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2010, p. 86). O resultado foi expresso em g/ml. O teste foi feito em triplicata. 4.2.5 Determinação da viscosidade De acordo com a 5ª ed. da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2010, p. 87-89), a viscosidade pode ser analisada por diversas metodologias: a) Resistência de líquidos ao escoamento, tempo de vazão de um líquido através de um capilar (viscosímetro de Oswald, Ubbelohde, Baumé e Engler); b) Medida do tempo de queda de uma esfera através de tubos contendo o líquido sob ensaio (Höppler); c) Medida da resistência ao movimento de rotação de eixos metálicos quando imersos em líquidos e/ou produtos semissólidos (reômetro de Brookfield). O método de Brookfield foi escolhido devido ao fato de ser o método mais completo e que nos dá informações de viscosidade a diversas velocidades de rotação desse eixo metálico. Para medir a viscosidade, foi utilizado um viscosímetro (HAAKE® MOD. VISCO TESTER 6L) com um spindle (eixo metálico) de nº 4 acoplado, geralmente utilizado em produtos viscosos e/ou semissólidos, em intervalo de rotação entre 2 e 200 rotações por minuto (RPM). As amostras foram analisadas no tempo 0, 6 e 12 dias. O resultado foi expresso em centipoise (cP). O teste foi feito em triplicata 4.3 Testes adicionais 4.3.1 Espalhabilidade Para medir a espalhabilidade do gel, foi utilizada a metodologia de Knorst (1991) com adaptações. O teste consiste na adição de placas de vidro por cima de uma quantidade de aproximadamente 0,1g do produto testado, seguida da adição de pesos fixos (50g, 100g e 26 200g). Cada placa de vidro foi pesada previamente e seu peso foi anotado. Com o peso aplicado, o produto se espalhou, formando uma circunferência. A cada placa de vidro ou peso de metal adicionado, o diâmetro da circunferência aumentou, possibilitando a obtenção de um gráfico da área da circunferência pelo peso aplicado sobre produto. Essa área foi calculada a partir de uma digitalização da área do gel adicionado às placas através de um scanner e da utilização de um software de domínio público chamado ImageJ ® para se fazer análise de imagens digitais, onde a medição de áreas em pixels está incluída. A cada placa adicionada, um tempo de 1 minuto foi aguardado antes de se fazer a digitalização. Após a medição, em pixels, da área da circunferência, a mesma foi convertida em milímetros quadrados (mm²). 4.3.2 Ensaio microbiológico para produtos não estéreis Segundo a 5ª edição da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2010), a determinação da carga microbiológica pode ser efetuada pelo Método de filtração por membrana, Método de contagem em placa ou Método dos Tubos Múltiplos (MNP). Foi empregado o método de contagem em placas para a análise microbiológica do produto por ser o mais simples, menos dispendioso e por apresentar resultados semelhantes aos demais métodos. O produto foi diluído em solução tampão cloreto de sódio-peptona pH 7,0 por se tratar de uma solução hidrossolúvel. Inicialmente pegou-se 10g do gel para preparar a diluição 1:10, onde, desta, preparou-se a diluição 1:100. Foi adicionado 1mL de cada uma das diluições preparadas anteriormente (1:10 e 1:100), em placas de Petri e, em seguida, foi adicionado, separadamente, 15-20mL de ágar caseína soja e ágar Sabouraud-dextrose mantidos, ambos, a 45-50°C. Foi utilizada uma placa para cada meio como teste branco, que consiste na avaliação do meio de cultura quanto ao crescimento de microrganismos, sem o produto. As placas contendo ágar caseína-soja foram incubadas a 32,5ºC±2,5°C durante 5 dias e as placas contendo ágar Sabouraud-dextrose a 22,5ºC±2,5°C durante 7 dias para determinação do número de microrganismos aeróbicos totais e bolores e leveduras, respectivamente. Somente as placas que apresentassem número de colônias inferior a 250 (bactérias) e 50 (bolores e leveduras) por placa deveriam ser consideradas para o registro dos resultados. Tomou-se a média das placas de cada meio (1:10 e 1:100) e calculou-se o número de unidades formadoras de colônia (UFC) por grama do produto (BRASIL,2010, p. 236- 242). O teste foi feito em duplicata. 27 4.3.3 Pesquisa de microorganismos patogênicos Por se tratar de um produto para uso vaginal, segundo a 5ª ed. da Farmacopéia Brasileira (BRASIL, 2010), o produto deve ter ausência de Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa e Candida albicans em 1g ou 1mL, de produto. O teste foi realizado conforme metodologia descrita na 5ª ed. da Farmacopéia Brasileira (BRASIL, 2010). Foi retirado 10mL da diluição 1:10 preparada anteriormente e 90mL de caldo Caseína-soja e encubado em estufa a 33-35ºC por 24h. Após o período de incubação, foi feito estriado em placa contendo ágar Sabouraud para pesquisa de C. albicans e ágar Caseína-soja para pesquisa de S. aureus e P. aeruginosa. O teste foi feito em duplicata. 4.3.4 Perda de água Foi pesada a embalagem primária totalmente fechada, porém vazia, a qual o gel foi envasado e seu peso foi anotado. Em seguida, a mesma embalagem foi pesada novamente, mas contendo aproximadamente 50g de gel e o peso total (embalagem+gel) também foi anotado. Após os testes de gelo e degelo, as mesmas embalagens foram pesadas mais uma vez para verificação da diferença de peso existente antes e após os Estudos de Estabilidade Preliminar, consequentemente, verificando a perda de água sofrida. O teste foi feito em triplicata. 4.3.5 Identificação de taninos O teste foi feito segundo metodologia descrita pela Sociedade brasileira de Farmacognosia (2009), onde a identificação de taninos foi realizada através da reação da amostra contendo o extrato de aroeira com cloreto férrico. Adiciona-se à amostra, algumas gotas de solução metanólica de cloreto férrico a 1%. Dependendo do tipo de tanino presente no produto, este deverá apresentar coloração azul na presença de taninos gálicos ou hidrolisáveis e coloração verde escura caso estejam presentes taninos catequínicos ou condensáveis. 28 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Estudos de estabilidade preliminares 5.1.1 Centrifugação O teste, que é realizado antes dos estudos de estabilidade preliminares, não ocasionou nenhuma formação de grumos e/ou precipitados, bem como não houve separação de fases, demonstrando que o produto em questão não apresentou nenhuma instabilidade física aparente. A partir deste resultado (Figura 4), o produto foi submetido aos ensaios que caracterizarão sua estabilidade preliminar. Figura 4 – Resultado do teste de centrifugação do produto Fonte: Própria do autor. 5.1.2 Características organolépticas As tabelas abaixo mostram as características organolépticas iniciais (Tabela 3) e após os ciclos de gelo-degelo (Tabela 4). Tabela 3 – Características Organolépticas do gel de aroeira. CARACTERÍSTICAS Aspecto Gel viscoso Cor Alaranjado Odor Característico Fonte: Própria do autor. 29 Tabela 4 – Avaliação das características organolépticas do gel de aroeira para tempos de 0, 6 e 12 dias de teste de gelo e degelo. MATERIAL DE ACONDICIONAMENTO 0 DIAS 6 DIAS 12 DIAS Plástico N N N Metal N N N Fonte: Própria do autor. 5.1.3 Determinação do pH Conforme mostra a Tabela 5, os resultados de pH não sofreram alterações significativas, uma vez que estes permaneceram dentro dos limites aceitos para produtos de uso vaginal. Tabela 5 – Avaliação do pH para tempos de 0, 6 e 12 dias de teste de gelo e degelo. MATERIAL DE ACONDICIONAMENTO 0 DIAS 6 DIAS 12 DIAS Plástico 3,90 3,89 3,88 Metal 3,90 3,89 3,88 Fonte: Própria. O pH é um dos mais importantes parâmetros a ser avaliado, principalmente para aplicações cutâneas e em mucosas, visto que este deve ser compatível com o pH natural de onde ele será aplicado. Segundo Brolazo e colaboradores (2009), o pH vaginal natural varia entre 3,8 e 4,2. Formulações que apresentam grandes variações de pH em seus estudos de estabilidade proporcionam grandes preocupações, uma vez que se faz necessário intervenção em seus excipientes para que essa variação seja reduzida e/ou inexistente. 5.1.4 Determinação da densidade relativa Na Tabela 6 encontram-se os resultados referentes à densidade relativa do gel nos tempos 0, 6 e 12 dias de estudos, separados por material de embalagem primário. Tabela 6 – Densidade relativa do gel. MATERIAL DE ACONDICIONAMENTO 0 DIAS 6 DIAS 12 DIAS Plástico 1,0133g/mL 1,0150g/mL 1,0169g/mL Metal 1,0133g/mL 1,0140g/mL 1,0153g/mL Fonte: Própria do autor. 30 No tempo zero, as duas amostras possuem o mesmo valor de densidade pelo fato de que as mesmas ainda não tinham sido envasadas em suas respectivas embalagens primárias, quando a densidade relativa foi calculada. Segundo Isaac e colaboradores (2008), após testes com sistemas emulsionados e não emulsionados, variações de densidade acima de 20% podem indicar instabilidade. Com a variação de densidade inferior a 10%, podemos inferir que as chances de ocorrerem instabilidades do produto são baixas com relação a esse parâmetro. 5.1.5 Determinação da viscosidade Os resultados das viscosidades dos dias que se seguiram os Estudos de Estabilidade são apresentados nas Figuras 5 e 6, bem como a comparação entre o dia zero e o dia 12 de cada gel em sua embalagem (Figura 7). Entende-se como “Dia Zero” a viscosidade do gel antes de ser envasado em seus materiais de embalagem primários (metal e plástico). Figura 5 – Viscosidade do gel em embalagem de alumínio nos dias 0, 6º e 12º. Fonte: Própria. 1000 3000 5000 7000 9000 11000 13000 15000 17000 19000 21000 23000 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 Dia Zero 6º Dia 12º Dia 31 Figura 6 – Viscosidade do gel em embalagem de plástico nos dias 0, 6º e 12º. Fonte: Própria do autor. Conforme mostrado (Figuras 5 e 6), o gel em questão apresentou características de fluido pseudoplástico por não apresentar relação linear entre a tensão e a taxa de cisalhamento e por diminuir sua viscosidade a medida que a velocidade de rotação do spindle aumenta, estando de acordo com o comportamento típico de géis (NUNES et al, 2012). Além disso, o gel apresentou comportamento tixotrópico, caracterizado pelo retorno da viscosidade original pelo produto conforme o spindle reduzia sua velocidade de rotação. Um produto tixotrópico tende a ter maior vida de prateleira, uma vez que sua viscosidade é constante quando ele está em repouso, o que melhora a estabilidade físico- química do gel. Outra vantagem de um produto com caráter tixotrópico é a deformação que ele sofre durante a aplicação tópica, tornando-o mais fluido, facilitando o espalhamento. Então, logo em seguida à finalização da aplicação, este volta a adquirir sua viscosidade inicial, o que evita que o produto escorra (CORRÊA, 2005). É interessante, também, que o produto tenha um valor de tixotropia mediano não só para evitar que ele escorra pela pele, mas também para evitar que sua espalhabilidade seja comprometida. 1000 3000 5000 7000 9000 11000 13000 15000 17000 19000 21000 23000 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 Dia Zero 6º Dia 12º Dia 32 Com relação à diferença no valor da viscosidade no decorrer dos estudos de estabilidade quando comparamos os gráficos dos dias 0, 6º e 12º, foi observada uma pequena redução. Esta redução pode ter sido causada por uma desordem no sistema pela temperatura a qual o gel estava exposto durante o ciclo de gelo e degelo. Quando comparamos os gráficos da viscosidade entre os materiais de embalagem primários, podemos observar que o plástico favoreceu um poucomais essa desordem, mas que, aparentemente não chegou a ser algo expressivo (Figura 7). Figura 7 – Comparação entre as viscosidades registradas no dia zero, antes do envase, e no 12ª dia de cada gel acondicionado em sua respectiva embalagem primária. Fonte: Própria do autor. 5.2 Testes adicionais 5.2.1 Espalhabilidade Os resultados do teste de espalhabilidade dos dias que se seguiram aos Estudos de Estabilidade podem ser vistos nas figuras abaixo (Figura 8 e 9). Entende-se como “Dia Zero” a espalhabilidade do gel antes de ser envasado em seus materiais de embalagem primários (metal e plástico). 1000 3000 5000 7000 9000 11000 13000 15000 17000 19000 21000 23000 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 Dia Zero Alumínio Plástico 33 Figura 8 – Espalhabilidade do gel em embalagem de alumínio nos dias 0, 6º e 12º. Fonte: Própria. Figura 9 – Espalhabilidade do gel em embalagem de plástico nos dias 0, 6º e 12º. Fonte: Própria. 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Dia Zero 6º Dia 12º Dia 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Dia Zero 6º Dia 12º Dia 34 Os resultados demonstraram que as amostras que se foram submetidas aos ciclos de gelo e degelo apresentaram valores de espalhabilidade discretamente maiores em relação aqueles observados no dia 0. Este aumento da espalhabilidade corrobora com a diminuição da viscosidade mostrada anteriormente, uma vez que estes dois parâmetros estão inversamente ligados. Conforme mostra a Figura 10, as amostras armazenadas em material de plástico apresentaram valores de espalhabilidade maiores em relação aos armazenados em embalagem de alumínio. Figura 10 – Comparação entre espalhabilidade do dia zero e do 12º dia de cada amostra de gel acondicionado em sua respectiva embalagem primária. Fonte: Própria. Essa diferença se dá, principalmente, pelo fato do plástico ser um material de embalagem que permite a passagem de certas substâncias por não ser um completamente impermeável, diferente do alumínio. Mas, apesar de haver essa diferença, a mesma não foi expressiva a ponto de comprometer a qualidade do produto acondicionado em material de embalagem plástica. 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Dia Zero Alumínio Plástico 35 5.2.2 Ensaio microbiológico para produtos não estéreis Para análise do limite microbiológico de produtos não estéreis e de uso vaginal é preconizado pela 5ª edição da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2010) que não pode haver crescimento maior que 10² UFC/g. Não houve crescimento microbiológico, logo, o resultado foi considerado menor que 10 UFC/g, mostrando que o produto foi considerado aprovado. Os resultados foram condizentes com a forma de produção do gel, uma vez que a preparação do mesmo se deu em ambiente limpo, seguindo as Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em Farmácias e seus Anexos, conforme a RDC 67/2007 e RDC 87/2008 da ANVISA. Além disso, o sistema conservante utilizado na produção do gel lubrificante mostrou-se eficaz. 5.2.3 Pesquisa de microorganismos patogênicos O produto foi considerado aprovado, pois não houve crescimento dos microorganismos Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa e Candida albicans em caldo Caseína-Soja, tanto antes dos testes de estabilidade preliminar, quanto após o fim destes, como também o nível microbiológico apresentado se dentro dos limites especificados pela 5ª edição da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2010). 5.2.4 Perda de água Na Tabela 7 está representada a perda de água das respectivas amostras após os ciclos de gelo e degelo. Tabela 7 – Perda de água após finalização dos ciclos de gelo e degelo. AMOSTRA PLÁSTICO METAL 1 0,24% 0,16% 2 0,19% 0,21% 3 0,20% 0,22% MÉDIA 0,21% 0,20% Fonte: Própria. 36 A porcentagem de perda de água se mostrou baixa, não havendo a necessidade de adição de outros excipientes com ação umectante, que impedem a perda de água pela formulação. 5.2.5 Identificação de taninos As amostras de gel foram testadas com solução de cloreto férrico a 1% em metanol, seguindo metodologia descrita pela Sociedade brasileira de Farmacognosia (2009). Como pode ser visto na Figura 11, a coloração do gel passou para verde, identificando, assim, a presença de taninos catequínicos ou condensáveis. Figura 11 – Identificação de taninos presentes no gel de aroeira. Fonte: Própria do autor. 37 6 CONCLUSÃO A realização deste trabalho nos permitiu concluir que a metodologia empregada neste estudo se mostrou adequada e satisfatória. Tanto a produção do gel, quanto a incorporação do extrato de Myracrodruon urundeuva Fr. All. (aroeira-do-sertão) se mostrou sem maiores problemas quando todos os constituintes foram adicionados antes do aquecimento para intumescimento do gel. Mesmo após o aquecimento do gel com o extrato de aroeira-do-sertão já incorporado não houve dificuldades para a identificação dos taninos, demonstrando que a temperatura utilizada na produção do gel não interferiu quimicamente na estrutura dos taninos presentes no extrato. Conforme os resultados obtidos, concluímos também que o gel lubrificante a base de hidroxietilcelulose (Natrosol™) contendo extrato de Myracrodruon urundeuva Fr. All. (aroeira-do-sertão) se mostrou estável em seus estudos de estabilidade preliminar e o sistema conservante utilizado se mostrou eficaz. Estudos sobre a estabilidade de produtos cosméticos são necessários, pois fornecem informações importantes sobre o comportamento das formulações frente a condições diversas no decorrer do tempo, garantindo, assim, a eficácia e a segurança dos produtos. E, uma vez que se trata de um novo produto, faz-se necessária a realização de estudos complementares para assegurar sua estabilidade e segurança através de estudos de estabilidade acelerada, com duração de 90 dias, para fins de registro pelo órgão competente. 38 REFERÊNCIAS ANDELLOUX, M. Products for sexual lubrication: understanding and addressing options with your patients. Nurs Womens Health. Jun-Jul, 2012. p. 253-7. BACHMANN, G. et al. Efficacy and safety of low-dose regimens of conjugated estrogens cream administered vaginally. Menopause. v. 16, p. 719-27. 2009. BACHMANN, G. et al. Efficacy of low-dose estradiol vaginal tablets in the treatment of atrophic vaginitis: a randomized controlled trial. 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