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Importância social do conhecimento geográfico e suas características principais Estabelecer as bases teóricas que norteiam o ensino da Geografia, caracterizando-a e destacando a importância social do conhecimento geográfico. As características relevantes da Geografia para o ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental Para o geógrafo francês Yves Lacoste, pensar de maneira eficaz sobre a complexidade do espaço exige que se criem estratégias que incluem os elementos do método científico. Este método tem seus fundamentos na Geografia que fundamenta seus procedimentos "a partir da observação dos múltiplos conjuntos espaciais que se podem formar e isolar pelo raciocínio e pela observação precisa de suas configurações cartográficas" (LACOSTE, 2006, p. 68). Considerar os conjuntos espaciais como objeto de estudo é importante para as decisões curriculares na esfera do ensino da Geografia escolar. Historicamente o que se estudava em Geografia, sobretudo nos anos iniciais do Ensino Fundamental, era a relação homem–natureza com o objetivo de enumerar os fatos, de memorizar os dados e descrever as paisagens em seus aspectos aparentes. Essa Geografia tradicional focou seus métodos na reprodução dos mapas, na organização de dados, fruto da descrição das paisagens observadas. A partir dos anos de 1970 o movimento da Geografia crítica passou a introduzir nas práticas de pesquisa o questionamento dos processos complexos dos conjuntos espaciais. Vieram as perguntas sobre a análise do espaço geográfico. O que explicaria as manifestações das desigualdades sociais observadas nas diferentes paisagens? E as exclusões e segregações espaciais com a ocupação desordenada das periferias? Como explicar essas desigualdades, na esfera do ensino, observadas no espaço? A partir daí, buscaram-se estratégias de formação de crianças e jovens capazes de incorporar a interpretação ampla de dados, mapas, gráficos, textos, informações que se referissem a paisagens diversas, ao lugar e ao território com o objetivo de desvelar, por meio do ensino, da pesquisa e da reflexão a compreensão e o discernimento das informações e conhecimentos que se sistematizam na escola, por intermédio de arranjos curriculares comprometidos com a base cientifica, filosófica e estética de seus conteúdos/conceitos. O ensino da Geografia vem se revitalizando permanentemente. As pesquisas no campo da educação, do desenvolvimento infantil e da pesquisa didática indicam que as noções espaciais marcam a trajetória de desenvolvimento das crianças. O ensino dos princípios da cartografia, das relações espaciais, dos processos de orientação e localização com seus sistemas próprios constroem condições apropriadas para que a criança compreenda o espaço de sua vivência, amplie sua consciência espacial e desenvolva seu raciocínio geográfico em condições de interpretar e criticar os elementos da paisagem, do lugar em que vive e das outras escalas presentes nesses contextos. A importância do conhecimento geográfico na formação das crianças As pesquisas educacionais indicam a importância de se valorizar os saberes que as crianças trazem de suas vivências cotidianas, os quais ocorrem no lugar em que vivem, ou seja, em sua casa, sua escola, seu lazer. A Geografia traz para a escola a possibilidade de desenvolver práticas de ensino que garantam a experiência que desenvolva as capacidades para compreender as relações entre a sociedade e a natureza por meio da leitura da paisagem e dos espaços geográficos. Toda criança traz para a escola saberes prévios sobre o lugar geográfico em que vive. Uma dimensão importante na pesquisa didática da Geografia é a que considera apropriado garantir que a criança se coloque numa diversidade de situações de aprendizagem que tratem de fenômenos que se manifestam em espaços e tempos diferentes. A criança tem direito a aprender que a vida se organiza em seu bairro, mas que há outros, bem como vilas, lugarejos em espaços e tempos distantes que constroem a totalidade do mundo. Ela tem direito a compreender, progressivamente, as diversas escalas de análise que permitem analisar as condições de vida em outros países e continentes em dimensão global. Esse trabalho deve estar baseado nos procedimentos que apresentem a leitura do mapa e sua construção e a interpretação de dados, do espaço geográfico a partir da observação, comparação, levantamento de hipóteses e explicações para as mudanças e permanências nas paisagens e na vida social, em seu contexto. O início do processo acontece com a abordagem dos hemisférios corporais, com as crianças pequenas. O trabalho com as relações espaciais topológicas são importantes para que a criança desenvolva sua capacidade de identificar as características das relações de vizinhança, ordem, sucessão, continência que se observa na paisagem e no lugar. Para as crianças do Ensino Fundamental I as experiências com as atividades que envolvam as relações projetivas permitem que construa, a partir de sua consciência espacial, o ponto de vista de observação do espaço geográfico. A rua ensina as relações topológicas e projetivas. Um procedimento importante na aula é a observação que se faz a partir da atividade escolar. Para que ela se desdobre em outras competências é importante que a criança aprenda a registrar o resultado dessa ação. Isto pode ser feito por meio do texto, da fotografia, da representação gráfica e cartográfica. Para trabalhar com a cartografia é necessário que se alfabetize a criança nesse campo de saber científico. A alfabetização cartográfica permite que a criança aprenda a representar o que observa e que inclua nessas representações códigos que identifiquem os elementos da realidade, como as legendas dos mapas. A alfabetização cartográfica A alfabetização cartográfica se desenvolve a partir da capacidade de usar a visão oblíqua e a vertical, a qual se refere ao reconhecimento de elementos representados a partir do volume que mantêm em sua representação, vista de um ponto aéreo, suspenso, que dá a ideia de suas características daquele ponto de vista. Veja o exemplo a seguir. Ver de cima, do céu, do avião, sem perder a noção do volume dos prédios: eis a visão oblíqua. Nessa visão ficam mantidas características tridimensionais dos elementos. Ver de cima é importante para a percepção da criança, de modo que abstraia elementos cartográficos, de base geométrica, ao interpretar os mapas. Já a visão vertical permite reconhecer os elementos representados em um plano, de maneira bidimensional, já que os volumes desaparecem dessa representação. Os telhados e o traçado das ruas dão ideia da organização espacial, mas os detalhes das edificações desaparecem. Ver exatamente de cima, do céu, do avião, sem poder ver o volume dos prédios: eis a visão vertical. As duas formas de ver são a base para a interpretação dos mapas. A alfabetização cartográfica, ainda, utiliza "recursos variados apoiados em imagens diversas, de produtos cartográficos elaborados, de processos de elaboração de mapas para a formação de um aluno mapeador consciente para desenvolvimento das capacidades de leitura e crítica da criança ao espaço geográfico" (SIMIELLI, 1996, p.25). As crianças fazem desenhos para representar o que pensam e o que sentem. Podemos dizer que, quando desenham trajetos que percorrem no dia a dia, estão elaborando mapas intuitivos, pois desenham o que vêm no espaço. Para Almeida (2013) toda possibilidade de desenhar o espaço deve ser oferecida às crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental. As atividades podem ser organizadas a partir dos lugares de vivência, da livre expressão que a criança propoe e pode, progressivamente, incluir aspectos mais complexos que dependerão da qualidade da observação que possa fazer do espaço. Nisto dependerá da mediação do professor e seu plano de trabalho. A criança que pode mudar de ponto de vista porque mudou o lugar de sua observação do espaço geográfico poderá aprender em condições coerentes com seu contexto socioespacial que a vida, a sociedade, as pessoas, a paisagem e o território também mudam e exigem que o homem aprenda a lidar com essas mudanças, fazendo permanecer valores princípios que preservem a vida de todos. O lugar e a paisagem podem nos surpreender com tensões e rupturas que devemos aprender a enfrentar. Por outro lado, observar as tensões no espaço suscita a oportunidade de, sobretudo na escola, ensinar a compreender os enfrentamentos e confrontos inevitáveis das diversas paisagens em que nos inserimos para viver. Referências BRASIL/MEC/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: História e Geografia. Secretaria de Educação Fundamental. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. SIMIELLI, M. E. R. Cartografia e Ensino: proposta e contraponto de uma obra didática. SP: 1996. (sistematização crítica de obra publicada, apresentada para Concurso de Livre- Docência – FFLCH- USP) ______. Primeiros Mapas: como entender e construir. São Paulo: Ática, 1993.
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