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EXECUÇÃO E CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DE PAGAR QUANTIA Os procedimentos da execução por quantia fundada em título extrajudicial e da execução por quantia fundada em título judicial diferenciam-se, basicamente, apenas quanto aos atos iniciais. Pode-se dizer que, a partir da penhora, eles passam a ser bastante similares. PARTE I - FASE VOLUNTÁRIA 1. Fase voluntária na execução por título judicial: O procedimento da execução por quantia fundada em título judicial está regulamentado, basicamente, nos artigos 523 e seguintes do CPC. Em regra, a execução por quem regra, a execução por quantia fundada em título judicial desenvolve-se como fase do processo no bojo do qual o direito subjetivo foi certificado, mas é possível que a sua promoção exija a instauração de um processo autônomo. É o que pode ocorrer, por exemplo, quando se tem como título executivo judicial a sentença penal condenatória, a sentença arbitral, a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 515, VI, VII, e VII do CPC, respectivamente) ou o acórdão que julga procedente a revisão criminal (art. 630, CPP). Nesses casos, deve-se tomar como base o procedimento executivo regulamentado nos arts. 523 e seguintes do CPC, fazendo-se, porém, as adaptações necessárias, conforme se verá mais adiante. O procedimento executivo da prestação de pagar quantia calcada em título judicial apresenta duas fases bem definidas, e a que vamos expor no momento é a primeira, a fase inicial, que é, como já se viu, preliminar à segunda fase, no sentido de que esta somente ocorrerá se não houver o adimplemento espontâneo durante a primeira fase. É denominada de fase inicial ou fase de cumprimento voluntário, por meio da qual se defere ao devedor um determinado prazo para que cumpra, espontaneamente, o dever que lhe foi imposto. 1.1. Requerimento do exequente (§1º, Art. 513). “O cumprimento de sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, far- se- á a requerimento do exequente.” Bernardo: O requerimento obedece alguns requisitos que estão elencados no artigo 524, CPC. Inciso I: se se trata de um requerimento para iniciar a execução que sucede a fase de conhecimento, a exigência da identificação de cpf é dispensável nesse requerimento, pq se vc qualificou corretamente a parte na petição inicial, o cpf já foi identificado anteriormente. Então qualquer defeito que se identifique pela não apresentação do cpf nessa etapa, é um defeito sanável por atitude de ofício do magistrado. Ver art. 319. OBS (código comentado): Art. 520, CPC: A efetivação provisória da sentença que reconhece a exigibilidade da obrigação de pagar quantia certa será realizada sob integral responsabilidade do exequente, que ficará sujeito a reparar eventuais danos causados ao executado na hipótese de sentença que motivou a execução provisória vir a ser reformada total ou parcialmente em grau recursal. Neste caso a liquidação dos danos ocorrerá nos mesmos autos. Art. 523, CPC: O cumprimento definitivo de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa poderá ter início por requerimento do credor ou efetivado mediante atitude do devedor, remindo voluntariamente a dívida no prazo legalmente indicado antes de ser intimado para o pagamento. 1.2. Intimação, que poderá ser realizada de ofício, para cumprimento de sentença em 15 dias (Art. 513, §2º): 1.1. Na pessoa do advogado. 1.2. Não havendo advogado ou sendo assistida por Defensor Público, a intimação deve ser pessoal. 1.3. Meio eletrônico (§1º, Art. 246). 1.4. Por edital, uma vez revel o executado na fase de conhecimento. OBS. 1. Mudança de endereço: Hipóteses elencadas nos Itens 1.2 e 1.3. Art. 513. § 3o Na hipótese do § 2o, incisos II e III, considera-se realizada a intimação quando o devedor houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo, observado o disposto no parágrafo único do art. 274. OBS. 2. Constatada má-fé na desconstituição do advogado, fica o executado sujeito à multa do art. 77 do CPC por litigância de má-fé: É possível que, por má-fé, o devedor desconstitua o seu antigo advogado, nos estertores da fase de conhecimento, como estratégia para dificultar o cumprimento da sentença, em razão da necessidade de que a sua intimação seja, então, feita pessoalmente, e não por intermédio do seu patrono. Constatada a má- fé, é caso de aplicação da sanção do art. 77 do CPC. 1.3. Permissão para averbação da admissibilidade da inicial da execução. Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida pelo juiz, com identificação das partes e do valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade. OBS: Cód. Comentado: Averbações da existência (admissão) da execução em registros públicos: As averbações previstas no art. 828 têm em vista a prevenção da fraude à execução, conforme especifica o § 4º. Sendo assim, a leitura do caput do dispositivo em conjunto com o inciso IX do art. 799 sugere que o credor, para realmente precaver-se contra a fraude, teria de proceder a duas averbações sucessivas. Uma da propositura da execução (art. 799, IX), outra, ato contínuo à propositura, de que a execução foi admitida pelo juiz (art. 828, caput). A prevenção se dá pela publicidade, a partir da qual terceiros que venham a contratar com o devedor não podem alegar desconhecimento da existência/admissão do pleito executivo. Assim, realizada a averbação da propositura é dispensável a da admissão da cobrança executiva, incidindo, não obstante, para quaisquer dessas averbações, as normas sobre informação ao juiz, cancelamento de registros, presunção de fraude e responsabilidade do exequente, conforme §§ 1º a 5º do art. 828. 1.4. Início de fluência do prazo de 15 dias para pagamento (Art. 523). Cód. Comentado: Recebido o requerimento de cumprimento da sentença o devedor será intimado para realizar o pagamento da dívida no prazo de 15 dias, acrescido do valor das custas, se houver. 1.5. Na hipótese de não pagamento, incidência de multa de 10% sobre o valor da execução (Art. 523, §1º e §2º - pagamento parcial). Não sendo efetuado o pagamento no prazo apontado, será acrescido ao débito o percentual de 10% a título de multa e serão fixados honorários advocatícios também neste mesmo percentual. Ocorrendo o pagamento não integral, o referido acréscimo – multa e honorários advocatícios – recairá sobre a diferença restante. 2. Fase voluntária na execução por título extrajudicial. A execução por quantia fundada em título executivo extrajudicial requer, necessariamente, a instauração de um processo autônomo. O procedimento executivo aqui pode ser dividido, para efeitos didáticos, em duas fases. Veremos a seguir, a fase inicial, por meio da qual se defere ao executado um prazo para cumprimento voluntário da prestação que lhe é exigida, sendo preliminar à segunda fase, no sentido de que, havendo pagamento voluntário por parte do devedor, a fase de execução forçada nem sequer deve ser iniciada. 2.1. Protocolo da inicial: importância de indicação de bens a serem penhorados. Conforme já se viu no capítulo relativo à formação do procedimento executivo, a demanda executiva, nos casos em que a execução se opera por processo autônomo, há de ser materializada num instrumento escrito, denominado de petição inicial. Agora, conforme o art. 829, pode o exequente, já na petição inicial, indicar bens a serem penhorados. A indicação de bens pelo credor, embora não seja necessária, pois o oficial de justiça, conforme se verá, pode procurá-los, é obviamente bastante recomendável. Art. 829. § 2o A penhora recairá sobre osbens indicados pelo exequente, salvo se outros forem indicados pelo executado e aceitos pelo juiz, mediante demonstração de que a constrição proposta lhe será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente. Importante anotar que o exequente, ao indicar bens do executado à penhora, não fica adstrito à ordem legal de preferência prevista no art. 835 do CPC, na medida em que se trata de ordem instituída em seu próprio favor e que, pois, pode ser por ele renunciada. A ordem de bens à penhora é meramente indicativa, conforme também será examinado no capítulo sobre penhora. 2.2. Pronunciamento do juiz a) Admissibilidade da inicial: Art. 827. Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários advocatícios de dez por cento, a serem pagos pelo executado. § 1º No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos honorários advocatícios será reduzido pela metade. § 2º O valor dos honorários poderá ser elevado até vinte por cento, quando rejeitados os embargos à execução, podendo a majoração, caso não opostos os embargos, ocorrer ao final do procedimento executivo, levando-se em conta o trabalho realizado pelo advogado do exequente. b) Fixação de honorários em até 10% (Art. 827, §1º), majoráveis a mais 10% se rejeitados ou não opostos embargos à execução (Art. 827, §2º). c) Citação para pagamento em três dias: Art. 829. O executado será citado para pagar a dívida no prazo de 3 (três) dias, contado da citação. § 1º Do mandado de citação constarão, também, a ordem de penhora e a avaliação a serem cumpridas pelo oficial de justiça tão logo verificado o não pagamento no prazo assinalado, de tudo lavrando-se auto, com intimação do executado. § 2º A penhora recairá sobre os bens indicados pelo exequente, salvo se outros forem indicados pelo executado e aceitos pelo juiz, mediante demonstração de que a constrição proposta lhe será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente. 2.3. Permissão para averbação da admissibilidade da inicial da execução. Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida pelo juiz, com identificação das partes e do valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade. 2.4. Citação 2.4.1. Teor da citação. Art. 829. § 1o Do mandado de citação constarão, também, a ordem de penhora e a avaliação a serem cumpridas pelo oficial de justiça tão logo verificado o não pagamento no prazo assinalado, de tudo lavrando-se auto, com intimação do executado. 2.4.2. O executado não é encontrado: a "pré-penhora cautelar" - a regra se aplica também à execução de pagar quantia por título judicial. Pode ser que o executado não seja encontrado durante a realização do ato citatório. Nesse caso, o oficial de justiça tem autorização legal para arrestar -lhe tantos bens quantos bastem para garantir a execução (art. 830, CPC). Veja que a providência aqui é diferente daquela prevista no art. 829, § 1 º, do CPC. Ali, pressupõe-se que o devedor tenha sido encontrado e citado, deixando escoar o prazo de três dias sem a realização do pagamento, caso em que o oficial de justiça poderá, desde logo, penhorar-lhe tantos bens quantos bastem para a garantia da execução. Aqui, pressupõe- se que o devedor não tenha sido encontrado e, por isso mesmo, não tenha sido citado. Art. 830. Se o oficial de justiça não encontrar o executado, arrestar-lhe-á tantos bens quantos bastem para garantir a execução. § 1o Nos 10 (dez) dias seguintes à efetivação do arresto, o oficial de justiça procurará o executado 2 (duas) vezes em dias distintos e, havendo suspeita de ocultação, realizará a citação com hora certa, certificando pormenorizadamente o ocorrido. § 2o Incumbe ao exequente requerer a citação por edital, uma vez frustradas a pessoal e a com hora certa. § 3o Aperfeiçoada a citação e transcorrido o prazo de pagamento, o arresto converter-se-á em penhora, independentemente de termo. Com efeito, para que o oficial de justiça possa "arrestar" os bens do executado, na forma do art. 830 do CPC, não se exige a caracterização da situação de perigo de insolvência. É suficiente, para tanto, que: (i) o devedor não seja encontrado, como já se viu, pouco importando se não foi localizado por esquivar -se intencionalmente à citação ou por força tão-somente das circunstâncias; e (ii) o oficial de justiça constate a existência de bens penhoráveis. O instituto previsto no art. 830 do CPC cuida, em verdade, de uma espécie de pré-penhora, e assim ele é comumente conhecido na dogmática processual. Recebe essa designação porque o que ele viabiliza, a rigor, é a antecipação dos efeitos de uma futura penhora. Correta a lição de ARAKEN DE Assi s , para quem "em realidade, o art. 830 prevê a consumação de ato de natureza executiva, caracterizado pela inversão da ordem natural subsumida no art. 829, porque coloca antes da citação do devedor a apreensão de seus bens" OBS. A conversão da pré-penhora em penhora. Preenchidos os pressupostos indicados anteriormente - não- localização do devedor e existência de bens penhoráveis-, a pré-penhora deve ser efetivada mediante a apreensão e depósito dos bens, o que deve ser formalizado com a lavratura, pelo oficial de justiça, de um auto, que preencha, basicamente, os requisitos previstos no art. 835 e 842 do CPC, que cuida dos requisitos do auto de penhora. Trata-se de providência fundamental, seja para fins de documentação do ato de constrição/apreensão, seja porque a tendência da pré-penhora é, no futuro, converter-se em penhora, valendo o auto já formalizado como auto de penhora. De acordo com o art. 830, §1º, CPC, formalizado o auto de pré-penhora - chamemo-lo assim -, o oficial de justiça, nos dez dias seguintes, procurará o devedor duas vezes em dias distintos, realizando a citação por hora certa; se não o encontrar, certificará o ocorrido. Nesse caso, o credor deverá ser intimado acerca da realização da pré- penhora, cabendo-lhe, segundo o art. 830, §2º, do CPC requerer a citação por edital do devedor, em qualquer caso sendo nomeado curador ao executado, com atribuição de ampla defesa, podendo até mesmo propor embargos de devedor. Ao fim, o arresto converte-se em penhora (art. 830, § 3º). Se o devedor, uma vez localizado e citado - seja pessoalmente (art. 830, p. único, CPC), seja por edital (art. 830, §2º,CPC) -, efetuar o pagamento, obviamente que aí já não mais haverá razão para que se mantenha a pré- penhora, que então deverá ser desconstituída. Se, porém, o devedor não for localizado ou se, embora localizado, não efetuar o pagamento no momento oportuno, a pré-penhora será automaticamente convertida em penhora (art. 830, §3º do CPC). Na lição de PONTES DE MIRANDA, "a medida cautelar passa a ser executiva: a cautelaridade que existia, converte-se em medida de executividade”. Tem início, assim, a segunda fase do procedimento executivo. 2.4.3. Atitudes do executado citado. : Uma vez citado, o executado pode adotar uma dessas posturas: a) Pagamento. Pagar em três dias, tal como lhe autoriza o art. 829, CPC, beneficiando-se da redução de que fala o art. 827, §1º, CPC; Art. 827. § 1o No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos honorários advocatícios será reduzido pela metade. b) Apresenta defesa: não pagar nos três dias e apresentar embargos de devedor, no prazo de quinze dias, contados da data da juntada aos autos do mandado de citação (art. 915, CPC); c) Requer o parcelamento da dívida (Art. 916): requerer, no prazo de quinze dias para apresentação de embargos, o benefíciode que trata o art. 916 do CPC; Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente e comprovando o depósito de trinta por cento do valor em execução, acrescido de custas e de honorários de advogado, o executado poderá requerer que lhe seja permitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e de juros de um por cento ao mês. § 1o O exequente será intimado para manifestar-se sobre o preenchimento dos pressupostos do caput, e o juiz decidirá o requerimento em 5 (cinco) dias. § 2o Enquanto não apreciado o requerimento, o executado terá de depositar as parcelas vincendas, facultado ao exequente seu levantamento. § 3o Deferida a proposta, o exequente levantará a quantia depositada, e serão suspensos os atos executivos. § 4o Indeferida a proposta, seguir-se-ão os atos executivos, mantido o depósito, que será convertido em penhora. § 5o O não pagamento de qualquer das prestações acarretará cumulativamente: I - o vencimento das prestações subsequentes e o prosseguimento do processo, com o imediato reinício dos atos executivos; II - a imposição ao executado de multa de dez por cento sobre o valor das prestações não pagas. § 6o A opção pelo parcelamento de que trata este artigo importa renúncia ao direito de opor embargos § 7o O disposto neste artigo não se aplica ao cumprimento da sentença. PARTE II - FASE EXECUTIVA 1. Início da fase executiva no procedimento executivo: Ultrapassado o prazo de três dias para cumprimento voluntário da sentença, e não tendo havido pagamento, tem início a fase de execução forçada. Ao contrário do que ocorre no procedimento de execução fundado em título judicial, a instauração desta segunda fase independe de requerimento do exequente - até porque tal requerimento já foi formulado quando do ajuizamento da demanda executiva. Assim, vale aqui a regra do impulso oficial (art. 2º, CPC). 2. As subfases do procedimento executivo: É possível dividir, para fins didáticos, a fase de execução forçada em três sub-fases: i) fase inicial, em que se buscará fazer a penhora e a avaliação de bens que respondam pela dívida; ii) fase que se inicia com o oferecimento da defesa do executado; iii) fase final, que se caracteriza pela prática de atos de que sirvam à satisfação do direito do credor, como a expropriação de seus bens. 2.1. Penhora e avaliação de bens. 2.2. Defesa do executado. 2.3. Atos de pagamento ou expropriação de bens. 3. A primeira subfase da fase executiva: a penhora e a avaliação de bens: : Assim é que, se o devedor foi encontrado e citado, mas não efetuou o pagamento, o oficial de justiça que fez a citação, munido da segunda via do mandado, procederá de imediato à penhora dos bens que encontrar ou daqueles indicados pelo credor, bem como procederá à sua avaliação, lavrando-se o respectivo auto. Deverá, na mesma oportunidade, intimar o executado acerca de tais atos (art. 829, § 1 º, CPC). Uma vez encontrados e penhorados bens do executado, o oficial de justiça deverá intimar o executado na pessoa do advogado; não tendo, será intimado pessoalmente (art. 841, §1º). Se não encontrar o executado, o oficial de justiça arresta- lhe- à tantos bens quantos bastem para garantir a execução (art. 830, p.u.). 3.1. Conceito - ato de apreensão e depósito de bens do devedor para empregá-los direta ou indiretamente na satisfação do crédito. É ato que individualiza a responsabilidade patrimonial do devedor, que antes era genérica. A partir da penhora, escolhe-se, isola-se e destina-se um bem que responderá pelo débito. Enquanto a responsabilidade é sujeição potencial e genérica do patrimônio do devedor (ou terceiros responsáveis), a penhora é sujeição efetiva e específica de um bem à execução. O bem penhorado pode ser utilizado de forma direta ou indireta para realizar o crédito. O emprego do bem penhorado na satisfação do crédito dar-se-á de forma direta, quando entregue diretamente ao credor, incorporando-se ao seu patrimônio. É o que se dá na adjudicação (modalidade de pagamento). Dar-se-á de forma indireta quando for expropriado e convertido em dinheiro. Bernardo: Depois da penhora deve haver o ato de avaliação do bem para que seja fixado um valor para o bem penhorado para que o bem faça a frente ao crédito percebido. Quem faz essa avaliação é o oficial de justiça na maioria das vezes, porém quando o bem possui uma especificidade (ex: obra de arte), o oficial de justiça não fara a avaliação e deverá ser contratado um profissional especialista para tal. 3.2. Funções da penhora no processo (efeitos processuais). a) Individualização e apreensão de bens do devedor: É função da penhora fixar a responsabilidade patrimonial sobre os bens por ela abrangidos. A penhora segrega bens do patrimônio do devedor, destinando-os à expropriação. b) Depósito e conservação do bem apreendido: Devidamente individualizado e aprendido, o bem deve ser colocado sob os cuidados do depositário, responsável pela sua guarda e conservação. O depositário assume um múnus público de proteção e preservação do bem penhorado e seus acessórios (presentes ou futuros). c) Atribuição de direito de preferência em favor do credor sobre o bem apreendido: A penhora gera, ainda, uma preferência para o credor em face dos demais credores quirografários (são chamados “quirografários” pois tudo o que existe (teoricamente) para provar juridicamente a dívida é algo assinado (‘quiro’= mão ; ‘graphos’ = grafia/escrita) sobre o bem penhorado, sem prejuízo dos títulos legais de preferência. Realizada penhora sobre um bem, isso não impede que outras sobrevenham sobre ele. Mas é dada preferência à satisfação do crédito daquele credor que primeiro a providenciou (concurso de credores). Essas são suas três funções. A penhora importa, enfim, individualização, apreensão, depósito e conservação de bens do devedor, criando preferência para o credor sobre eles. 3.3. Efeitos. Materiais: a) Alteração do título de posse ou transferência da posse. A penhora tem por efeito a perda da posse direta do bem pelo devedor -embora não fique privado da posse indireta. E isso pode ocorrer de duas formas. A primeira delas dá-se com a entrega do bem (transferência da posse) a um depositário judicial (auxiliar da justiça), para que o guarde e conserve. O executado não perde o domínio, nem a posse indireta sobre ele, mas será privado da sua posse direta. A segunda delas é com a manutenção do bem com o próprio executado, na condição de seu depositário. Neste caso, não há, propriamente, o desapossamento da coisa (posse direta), mas, sim, a alteração do título da posse, pois o devedor se transforma em depositário. b) Ineficácia relativa a atos de disposição do bem penhorado. Eventual alienação/oneração do bem penhorado para terceiro existe, é válida, mas só é eficaz inter partes (alienante e adquirente/beneficiário); não produz efeitos para a execução. "Vale, no plano do direito material, o próprio ato de transmissão, mas a ineficácia, no plano do direito processual, tem como consequência que os atos de direito material foram ineficazes e continuam ineficazes. Isso porque a penhora não tira o bem do domínio do devedor, podendo ele aliená-lo ou onerá-lo validamente. Mas esse ato de disposição será relativamente ineficaz; isto é, não obstante subtraído do patrimônio do executado, o bem continuará respondendo pela execução em que foi penhorado. Permanece penhorado e sujeito aos atos executivos. A penhora expropria a eficácia do poder do executado de dispor do bem penhorado. c) Efeitos penais. Ao proprietário em geral é dado desfazer-se ou destruir o que lhe pertence. Mas, ao devedor/proprietário de coisa penhorada, não; ao menos não sem responder por isso noâmbito criminal. Código Penal Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa. 3.4. Objeto da penhora e impenhorabilidade. Podem ser objeto de penhora os bens do patrimônio do devedor (art. 789) e do patrimônio de terceiros responsáveis (art. 790). Jamais deve ser atingido o patrimônio de terceiros estranhos à obrigação ou à responsabilidade originada do seu inadimplemento. Dentre os bens integrantes do patrimônio do devedor e terceiros responsáveis, só devem ser penhorados aqueles: a) que tenham expressão econômica. Poderá recair sobre quaisquer bens economicamente avaliáveis do devedor (ou outros), corpóreos ou incorpóreos. Dentre os corpóreos, há o dinheiro, as pedras e metais preciosos, os móveis, os veículos etc. Dentre os incorpóreos, os títulos da dívida pública, títulos de crédito que tenham cotação em bolsa e direitos; b) que não se enquadrem em nenhuma das hipóteses de impenhorabilidade a serem analisadas no item subsequente. 3.4.1. Impenhorabilidade é resultado de incidência de regra de ordem pública? As regras de impenhorabilidade não servem à proteção da ordem pública. Servem à proteção do executado. a) Exercício da vontade do executado para penhorar bem impenhorável por Lei. A impenhorabilidade é um direito do executado, que pode ser renunciado se o bem impenhorável for disponível. Se a impenhorabilidade é disponível, não pode ser considerada como regra de ordem pública. Considerar uma regra como de ordem pública e, ao mesmo tempo, renunciável, é pensamento que contraria a lógica jurídica. b) Preclusão consumativa diante da omissão em combater penhora de bem impenhorável. Penhora sobre bem impenhorável disponível. Intimado a defender-se, o executado não a questiona, deixando de exercer o seu direito de não ter aquele bem penhorado. Há, no caso, preclusão, pois a invalidade do ato deve ser requerida no primeiro momento em que couber à parte falar nos autos. c) Preclusão ao magistrado, que poderá conhecer ex officio da impenhorabilidade até manifestação do executado. Por uma questão de economia processual, pode o órgão jurisdicional controlar a validade da penhora que recaiu sobre bem impenhorável. Sucede que esse poder somente pode ser exercido até a manifestação do executado, a quem efetivamente interessa a observância da regra. 3.4.2. Hipóteses de impenhorabilidade – art. 833. O beneficium competentiae (benefício de competência) é a impenhorabilidade do "estritamente necessário à sobrevivência do executado, e de sua família, e à sua dignidade. Art. 833. São impenhoráveis: I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; II - os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida; III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor; IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2o; V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do executado; VI - o seguro de vida; VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social; X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos; XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político, nos termos da lei; XII - os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra. 3.4.3. Inoponibilidade da impenhorabilidade do bem: O § 1º do art. 833 prevê exceção à impenhorabilidade em execução de dívida relativa ao próprio bem, inclusive àquela contraída para sua aquisição. Não se trata apenas dos financiamentos bancários, incluindo empréstimos pessoais para aquisição de móveis e imóveis que se tornem impenhoráveis. Incluem-se, ainda, despesas de condomínio e de manutenção predial ou de automóveis. § 1o A impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa ao próprio bem, inclusive àquela contraída para sua aquisição.
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