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O ESTADO BRASILEIRO E OS DIREITOS HUMANOS NO CASO GARIBALDI

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O ESTADO BRASILEIRO E OS DIREITOS HUMANOS NO CASO GARIBALDI¹
Karine Arnemann ²
Eliete Vanessa Schneider ³
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo estudar a internacionalização dos direitos humanos, analisar a formação dos sistemas global e regional de proteção e identificar se houve omissão do Estado Brasileiro no julgamento do Caso Garibaldi. A metodologia utilizada para atingir este objetivo foi a pesquisa do tipo exploratória, utilizando em sua confecção a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores. O artigo foi estruturado de acordo com os objetivos, portanto, primeiramente serão estudados os marcos históricos, em seguida os sistemas de proteção e finalmente os Direitos Humanos no Brasil. 
Palavras-chave: Direitos Humanos; sistemas de proteção; caso Garibaldi.
ABSTRACT
This article aims to study the historical development of human rights internationalization, analyze the formation of global and regional systems of protection and identify if there was omission of the Brazilian State in the trial Case Garibaldi. The methodology used to achieve this goal was the research of the exploratory type, using in its production data collection in bibliographic sources in the media and on the web. The article was structured according to the objectives, therefore, will be first studied the landmarks, then the protection systems and finally the Human Rights in Brazil.
Keywords: Human Rights; protection systems; If Garibaldi.
1. INTRODUÇÃO
A proposta deste estudo é analisar a formação histórica e evolução dos Direitos Humanos, apresentando os marcos decisivos para a sua internacionalização. O processo de universalização dos Direitos Humanos iniciou a sua fase legislativa com a elaboração de Pactos e Tratados que trouxeram caráter normativo aos direitos consagrados, refletindo na construção de um Direito Internacional dos Direitos Humanos, um complexo das normas que regulam a promoção e a proteção universais da dignidade da pessoa humana. 
Apesar dos primeiros passos rumo à construção de um Direito Internacional dos Direitos Humanos terem sido dados logo após o fim da Primeira Guerra Mundial, com o surgimento da Liga das Nações e da Organização Internacional do Trabalho, a consolidação deste novo ramo do Direito ocorre apenas com o fim da Segunda Guerra Mundial.
O sistema internacional de proteção dos direitos humanos insere – se no lento e gradual processo de positivação das garantias dos direitos humanos iniciado nas Declarações Liberais de Direitos. Foram, porém, os perversos acontecimentos da Era Hitler e da Segunda Guerra Mundial que colocaram os direitos humanos na pauta de preocupações mais urgentes das nações, levando-as à necessidade de adoção de medidas realmente efetivas para sua proteção no âmbito internacional. Nesse contexto, surge o sistema global de proteção aos direitos humanos e paralelamente os sistemas regionais de proteção a esses direitos. 
O Estado Brasileiro integra o sistema Interamericano de Direitos Humanos, devendo, portanto, respeitar o estabelecido na Convenção Americana de Direitos Humanos, sua base normativa. Neste aspecto, será analisada a conduta do Estado Brasileiro no Caso Garibaldi, julgado no âmbito deste sistema.
2. TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
A ideia de direitos humanos ganhou demasiada importância ao longo da história, tendo em vista que seus pressupostos e princípios têm como finalidade a observância e proteção da dignidade da pessoa humana de maneira universal. Diante disso serão apresentados os principais marcos históricos que contribuíram para o reconhecimento e evolução destes direitos. 
A partir destes marcos, a maneira como cada Estado trata seus cidadãos não é mais competência sua, mas passa a ser de interesse internacional. 
2.1 A Convenção de Genebra
O primeiro grande marco na formação histórica da internacionalização dos direitos humanos foi a Convenção de Genebra. A partir deste momento nasce a proteção humanitária em caso de guerra, para proteger os militares e civis feridos na guerra. 
Em 1859, ocorreu a Batalha de Solferino, um combate decisivo no processo de independência italiana. Durante este período de guerra o comerciante Jean Henri Dunart, em uma de suas viagens presenciou os horrores da guerra e comovido com o sofrimento e mortalidade dos civis reuniu um grupo de pessoas para estudar e discutir a insuficiência de serviços sanitários dos exércitos. Ainda, escreveu um livro “Lembranças de Solferino” narrando todos os horrores e as condições desumanas que presenciou na batalha. O livro ficou conhecido internacionalmente, e a partir daí alguns países aceitaram a intervenção na sua soberania, ou seja, começa a haver limites na liberdade e autonomia dos Estados. 
A Convenção de Genebra, ocorrida na cidade suíça com o mesmo nome, tinha o objetivo de garantir alguns direitos mínimos para os civis durante as guerras, portanto foram determinadas regras para proteger, em caso de guerra, os militares fora de combate, ou seja, os feridos, doentes, náufragos e prisioneiros.
Neste mesmo contexto, surge a Cruz Vermelha, um órgão imparcial, criado para garantir a vida. Hospitais e ambulâncias passaram a receber o símbolo da Cruz Vermelha e tornaram-se imunes de ataques hostis, pois os militares feridos e os doentes deveriam ser tratados sem discriminação. A Cruz Vermelha tinha sua sede na Suíça, foi criada com uma estrutura de ONG, entretanto o Direito Internacional a reconhece como uma organização internacional que possui personalidade jurídica. Portanto, na sua área de atuação, podia firmar tratados.
2.2 A Liga das Nações
A liga das Nações foi criada pelo Tratado de Versalhes em 1919, após a 1ª Guerra Mundial, com o objetivo de promover a paz e a ordem internacional através da mediação e arbitragem, condenando agressões externas contra a integridade territorial e independência política dos seus membros. Neste sentido, o preâmbulo da Convenção da Liga das Nações consagrava:
As partes contratantes, no sentido de promover a cooperação internacional e alcançar a paz e a segurança internacionais, com a aceitação da obrigação de não recorrer à guerra, com o propósito de estabelecer relações amistosas entre as nações, pela manutenção da justiça e com extremo respeito para todas as obrigações decorrentes dos tratados, no que tange à relação ente povos organizados uns com os outros, concordam em firmar este Convênio da Liga das Nações.
Analisando este preâmbulo indaga-se: Depois de todos os horrores presenciados na 1ª Guerra Mundial, como a comunidade internacional, a Liga das Nações, conseguiu falhar em sua missão? Como não pensaram nas milhões de vidas perdidas? Como não se importaram com os Direitos Humanitários?
Infelizmente, não há possibilidade de respostas convictas para tais questões, apenas a elaboração de teses que justifiquem o comportamento de uma parcela da população mundial da época. Sabe-se que havia muitas divergências ideológicas entre os Estados-parte e faltava força militar efetiva da Liga das Nações, pois no contexto da época, as sanções econômicas pouco adiantavam. Além disso, as tentativas de conciliação e sanções superficiais fizeram com que os países tomassem iniciativas agressoras, dando início à Segunda Guerra Mundial.
A Liga das Nações falhou em sua missão, então não restou outra alternativa senão dissolvê-la. Porém, podemos dizer que está organização foi reformada e hoje a vemos como a ONU.
2.3 A Organização Internacional do Trabalho – OIT
	
Após a assinatura do Tratado de Versalhes em 1919, que deu fim a 1ª Guerra Mundial, a Liga das Nações instituiu a OIT, uma organização com o objetivo de regular as condições de trabalho no âmbito mundial, formando-se sobre a convicção de que a paz universal e permanente somente pode estar baseada na justiça social. 
Além disso, a OIT teve como base argumentos humanitários, políticos e econômicos. Pois, ostrabalhadores viviam em condições injustas, difíceis e degradantes e por isso havia o risco de conflitos sociais. 
Os Estados passaram a ser encorajados a cumprir com as novas obrigações internacionais, assim pode-se dizer que esta organização foi um dos marcos que mais contribuiu para a formação do Direito Internacional de Direitos Humanos, pois foi a partir dela que começou a haver uma preocupação internacional com o bem estar individual, sendo geradas várias convenções que estabeleceram padrões mínimos de condições de trabalho. 
	
2.4 A Segunda Guerra Mundial	
A Segunda Guerra Mundial teve início em 1939, quando a Alemanha invade a Polônia. Em 1941, os japoneses atacaram os Estados Unidos, fazendo com que este último declarasse guerra ao Eixo. Neste momento se formam dois grupos: os Aliados (Alemanha, Itália e Japão) e os Países do Eixo (Inglaterra, URSS, França e Estados Unidos). Neste período, os nazistas torturaram e mataram milhares de pessoas que não eram descendentes da raça ariana, pois eram considerados inferiores. A partir de 1942, os Países do Eixo começaram a sofrer sucessivas derrotas. Em 1944, ocorre o “Dia D”, dia em que os Estados Unidos desembarcam na Europa e começam a neutralizar as últimas forças nazistas que ainda permaneciam na Europa. Em 1945, Hitler suicida-se e logo após a Alemanha se rende, porém, o Japão não admite a derrota e resolve continuar sozinho na Guerra, levando os Estados Unidos a lançar duas bombas atômicas, uma sobre Hiroshima e outra sobre Nagasaki. Assim, teve fim a Segunda Guerra Mundial.
Sem dúvidas, a Segunda Guerra Mundial foi o marco histórico mais desumano já visto até hoje, foi o ápice da desconsideração da dignidade humana, pessoas foram utilizadas como cobaias em experimentos com câmaras de pressão, enxertos de ossos, baixas temperaturas e muitos outros meios de tortura. Estima-se que foram mais de 45 milhões de mortos durante este período. Por isso, é considerado o fato histórico impulsionador decisivo do surgimento e consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos. Neste sentido, Piovesan (2004) leciona que a construção dos direitos humanos é um movimento extremamente recente na história, vez que surgiu somente no período pós-guerra.
Este marco histórico na internacionalização dos Direitos Humanos mostrou o fracasso da humanidade em promover e proteger os seus direitos, mas, de uma maneira dolorosa, também fez surgir as bases desse novo Direito, que teve como impulso a urgência e a necessidade da promoção e proteção da dignidade da pessoa humana. 
3. A FORMAÇÃO DOS SISTEMAS GLOBAL E REGIONAIS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS
Apesar de todas as situações desumanas ocorridas durante estes marcos, todos contribuíram para o processo de internacionalização dos direitos humanos. A Convenção de Genebra visava proteger direitos fundamentais em situação de conflito armado. A Liga das Nações tinha como objetivo a manutenção da paz e segurança internacional e a OIT, assegurou parâmetros globais mínimos para as condições de trabalho. 
Após a Segunda Guerra Mundial nasceu no continente europeu a esperança de se implantar um “standard” mínimo de proteção aos direitos humanos. Visava-se a salvaguarda dos direitos humanos e não das prerrogativas dos Estados e alterou-se o conceito de Direito Internacional, que antes era apenas o Direito que regulava as relações entre os Estado.
Prenuncia-se o fim da era em que a forma pela qual o Estado tratava seus nacionais era concebida como um problema de jurisdição doméstica, restrito ao domínio reservado do Estado, decorrência de sua soberania, autonomia e liberdade. Aos poucos emerge a ideia de que o individuo é não apenas objeto, mas também sujeito de direito internacional (PIOVESAN, 2004, p. 130).
Portanto, esse momento Pós-Guerra foi o de reconstrução dos direitos humanos mediante a valorização da pessoa e da dignidade da pessoa humana, preocupação com o ser humano não na qualidade de minoria, mas de maneira geral. O movimento de internacionalização dos direitos humanos se deu de forma efetiva após a Segunda Guerra Mundial. As escandalosas e absurdas violações aos Direitos Humanos ocorridas fizeram com que a comunidade internacional pensasse que muito poderia ter sido evitado. Assim, dos escombros da Segunda Guerra Mundial, uma nova forma jurídica desponta para um Estado de Direito que precisava se renovar e o estímulo maior para tal renovação seria o compromisso em grau máximo com o respeito à dignidade humana.
A bárbarie do totalitarismo significou a ruptura do paradigma de direitos humanos, através da negação do valor da pessoa humana como valor fonte do Direito. Diante desta ruptura, emerge a necessidade de reconstrução dos direitos humanos, como referencial e paradigma ético que aproxime o direito da moral. Neste cenário, o maior direito passa a ser, adotando a terminologia de Hannah Arendt, o direito a ter direitos, ou seja, o direito a ser sujeito de direitos (PIOVESAN, 2004, p. 132). 
Com o término da Segunda Guerra Mundial começou a se pensar que a Alemanha deveria ser responsabilizada pelos atos bárbaros cometido durante o período, assim os países Aliados chegaram a um consenso e criaram o Tribunal de Nuremberg para julgar os criminosos de guerra (PIOVESAN, 2004).
Assim, começar a surgir os passos decisivos para a internacionalização dos direitos humanos e consequentemente a formação dos sistemas global e regionais de proteção aos Direitos Humanos.
3.1 A criação da ONU
	
A ONU foi fundada oficialmente em 24 de outubro de 1945, após o final de 2ª Guerra Mundial. Representou importante mecanismo de cooperação internacional, a fim de construir a paz no pós-guerra, e prevenir guerras futuras. A ONU substituiu a Liga das Nações, e tinha como objetivo manter a paz e a segurança internacional, promover os direitos humanos, além de desenvolver as relações amistosas entre os Estados, promovendo assim a cooperação internacional nos meios econômico, politico e cultural.
Para conseguir alcançar seus objetivos, a ONU foi estruturada em diversos órgãos, sendo estes os principais: Assembleia Geral, Conselho de Segurança, Corte Internacional de Justiça, Conselho Econômico e Social, Conselho de Tutela e o Secretariado, todos estabelecido no seu artigo 7º.
A Assembleia Geral possui competência para discutir e fazer recomendações relativas a qualquer matéria que for objeto da carta. O Conselho de Segurança é o principal responsável por manter a paz e a segurança internacionalmente, e para isso é composto por cinco membros permanentes (China, França, Reino Unido, Estado Unidos e a Rússia) e dez membros não permanentes. A Corte Internacional de Justiça é composta por quinze juízes, que podem ser reeleitos, as sentenças proferidas por ela são inapeláveis, porém podem ser revistas com a apresentação de um novo fato. O Secretariado é chefiado pelo Secretário Geral, principal funcionário administrativo da ONU. Por fim, o Conselho Econômico e Social, que tem competência para promover a cooperação nas questões econômicas, sociais e culturais. Este último órgão é o responsável por fazer recomendações destinadas a promover o respeito e a observância dos direitos humanos, além de elaborar projetos de convenções que são submetidos à Assembleia geral.
A Carta das Nações Unidas de 1945 consolida, assim, o movimento de internacionalização dos direitos humanos, a partir do consenso de Estados que elevam a promoção desses direitos a propósito e finalidade das Nações Unidas. Definitivamente, a relação de um Estado com seus nacionais passa a ser uma problemática internacional, objeto de instituições internacionais e do Direito internacional (PIOVESAN, 2004, p.142/143).
A Carta das Nações Unidas deixa clara a importância de se defender, promover e respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais, porém não há o significado da expressão “direitos humanos e liberdades fundamentais” no mencionado documento. Diante disso, o próximo passo foi dado em 1946, onde oConselho Econômico e Social da ONU criou a Comissão de Direitos Humanos com o objetivo de elaborar uma Carta Internacional de Direitos Humanos. Assim, em 1948 veio a Declaração Universal dos Direitos Humanos, para definir a expressão “direitos humanos e liberdades fundamentais” (PIOVESAN, 2004).
Portanto, com a assinatura da Carta das Nações Unidas, a comunidade internacional se comprometeu a promover e encorajar o respeito aos direitos humanos, para isso a Comissão de Direitos Humanos, principal órgão da ONU, foi incumbido de elaborar uma Carta Internacional de Direitos, e assim começou a elaboração de uma Declaração. 
3.2 A Declaração Universal dos Direitos Humanos
	
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada em 1948, sob a forma de resolução, após aprovada pela Assembleia Geral, com o objetivo de delinear uma ordem pública mundial com base no respeito à dignidade humana, onde a condição de pessoa é o único requisito para a titularidade de direitos. 
Esta Declaração se caracteriza, primeiramente, por sua amplitude. Compreende um conjunto de direitos e faculdades sem as quais um ser humano não pode desenvolver sua personalidade física, moral e intelectual. Sua Segunda característica é a universalidade: é aplicável a todas as pessoas de todos os países, raças, religiões e sexos, seja qual for o regime político dos territórios nos quais incide (PIOVESAN, 2004, p. 145). 
A Declaração estabeleceu duas categorias de direitos: os direitos civis e políticos e os direitos econômicos, sociais e culturais. E neste aspecto foi inovadora, pois até então apenas os direitos civis e políticos eram consagrados, ou seja, a Declaração combinou o discurso liberal da cidadania com o discurso social, pois passou a elencar tanto os direitos civis e políticos, como direitos sociais, econômicos e culturais. Assim, a Declaração demarca a concepção contemporânea de direitos humanos, classificando tais direitos em gerações, onde uma geração de direitos interage com outra, não havendo sucessão de direitos, pois estes se complementam e se fortalecem.
A primeira geração desses direitos inclui os direitos cívicos e políticos, dirigidos, originalmente, à defesa dos cidadãos perante os possíveis abusos perpetrados pelo Estado. A segunda geração inclui os direitos sociais, econômicos e culturais que permitem aos cidadãos usufruir das condições materiais necessárias a uma vida digna, sem a qual não é possível o exercício efetivo dos direitos da primeira geração. E, por fim, a terceira geração de direitos humanos engloba os direitos relacionados ao acesso e usufruto de bens que pertencem em comum à humanidade, ou seja, direitos relacionados com o ambiente, bens culturais, a identidade, a solidariedade entre outros. 
A Declaração Universal foi adotada pela Assembleia Geral sob a forma de resolução, logo não possui força de lei. O seu propósito é o de promover o reconhecimento internacional dos direitos humanos e das liberdades fundamentais consolidando um parâmetro internacional para a proteção desses direitos, já os Estados membros da ONU têm a obrigação de promover o respeito e a observância universal dos direitos proclamados pela Declaração (PIOVESAN, 2004).
Apesar de ter sido adotada como resolução, muitos defendem que a Declaração possui força jurídica vinculante por integrar o direito costumeiro internacional, e ainda que não assuma a forma de tratado internacional, apresenta força jurídica obrigatória e vinculante, na medida em que constitui a interpretação autorizada da expressão “direitos humanos”.
Neste contexto, partindo da corrente que defende a Declaração como uma resolução, sem força jurídica obrigatória e vinculante, instaurou-se uma discussão sobre qual a maneira mais eficaz para assegurar o reconhecimento e a observância universal dos direitos nela previstos. Houve o entendimento de que ela deveria ser recebida em forma de tratado internacional. Esse entendimento teve início com a elaboração de dois tratados internacionais, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, que incorporaram os direitos contidos na Declaração (PIOVESAN, 2004).
A partir da elaboração desses tratados, forma-se a Carta Internacional de Direitos Humanos que inaugurou o Sistema Global de proteção aos Direitos Humanos. Paralelamente, também se formaram os sistemas regionais de proteção, nos âmbitos europeu, interamericano e africano.
3.3 Os sistemas regionais de proteção aos Direitos Humanos
Todos os instrumentos analisados até aqui integram o Sistema Global de Proteção aos Direitos Humanos, na medida em que foram produzidos no âmbito das Nações Unidas, que representa os Estados participantes da comunidade internacional. Portanto, o campo de incidência do sistema global não se limita a uma determinada região, mas pode alcançar qualquer Estado integrante da ordem internacional. 
Ao lado do sistema global, surgem sistemas regionais de proteção, que buscam internacionalizar os direitos humanos no plano regional. Os sistemas global e regionais são complementares interagindo com o sistema internacional de proteção, para tornar mais eficaz a proteção de direitos fundamentais. Ambos os sistemas são inspirados pelos valores e princípios da Declaração Universal (PIOVESAN, 2004).
A ONU estimulou a criação de sistemas regionais de proteção aos direitos humanos. O envolvimento de dois países, às vezes três, num conflito, não justifica o acionamento do sistema global de proteção aos direitos humanos, sendo um sistema regional mais ágil e eficaz no recebimento de denúncias, investigação e resolução de violações aos pactos.
Também é vantajoso no sentido de que um sistema regional possui um aparato jurídico próprio, que reflete com maior autenticidade e proximidade as peculiaridades e características históricas dos países envolvidos.
Cada sistema regional de proteção apresenta um aparato jurídico próprio. O Sistema europeu conta com a Convenção Europeia de Direitos Humanos, que estabelece a Comissão e a Corte Europeia de Direitos Humanos. Já o sistema africano apresenta como principal instrumento a Carta Africana de Direitos Humanos de 1981, que, por sua vez, estabelece a Comissão Africana de Direitos Humanos. O sistema interamericano tem como principal instrumento a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969, que estabelece a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana. Por fim, como quarto sistema regional, embora de forma insipiente, tem-se o Sistema Árabe de proteção aos direitos humanos, que conta com a Carta Árabe de proteção. 
3.3.1 O Sistema Europeu de Proteção aos Direitos Humanos
	
	Após a Segunda Guerra Mundial nasce no continente europeu a esperança de se implantar um “standard” mínimo de proteção aos direitos humanos. Os países europeus buscaram união e cooperação entre si, principalmente em razão da situação política econômica pós-guerra que os deixou fragilizados para atuar individualmente no cenário internacional. Assim, começaram a nascer várias organizações internacionais na Europa Ocidental.
Neste momento, alguns estados europeus (Bélgica, Luxemburgo, Dinamarca, França, Holanda, Irlanda, Itália, Reino Unido e Suécia) reuniram-se em Londres, em 05 de maio de 1949, para fundar o Conselho da Europa, uma organização representativa dos Estados da Europa Ocidental, com o objetivo de promover a unidade europeia, proteger os direitos humanos e fomentar o progresso econômico e social. Além do Conselho, foram criadas a União Européia e a Organização para segurança e cooperação na Europa. 
Em 1950, foi fundada a Convenção Européia de Direitos Humanos que visava estabelecer padrões mínimos de proteção. A Convenção Europeia, aberta à assinatura em 4 de novembro de 1950, é o Tratado Regente do Sistema Europeu de Proteção aos Direitos Humanos. Entrou em vigor internacional em 3 de setembro de 1953, quando dez Estados europeus a ratificaram.
Na primeira parte da Convenção, sãoelencados direitos e liberdades fundamentais, essencialmente civis e políticos. Na Segunda Parte, a Convenção regulamenta o funcionamento da Corte Europeia de Direitos Humanos. E, por fim, na terceira parte, A Convenção estabelece algumas disposições diversas, como as Requisições do Secretário Geral do Conselho da Europa, poderes do Comitê de Ministros, reservas à Convenção, sua denúncia, entre outros. 
A Convenção Europeia, em seu texto original, instituiu três órgãos distintos: Um semijudicial, a Comissão Europeia de Direitos Humanos; um judicial, a Corte Europeia de Direitos Humanos; um diplomático, o Comitê de Ministros (Conselho da Europa).
A função de decidir se houve ou não violação da Convenção Europeia passou a ser uma função exclusiva da Corte Europeia de Direitos Humanos. A Corte foi instituída em 20 de abril de 1959 através do protocolo nº 11 da Convenção. A Corte possui competência consultiva (formular opiniões consultivas sobre questões jurídicas relativas à interpretação da Convenção e de seus protocolos) e contenciosa (as decisões da Corte são juridicamente vinculantes e têm natureza declaratória).
O Sistema Europeu trouxe órgão de fiscalização em relação ao cumprimento da Convenção e elevou o indivíduo como sujeito de direito internacional, no que tange à proteção dos direitos humanos.
3.3.3 O sistema africano de proteção aos Direitos Humanos
O sistema regional africano surgiu em momento posterior, quando comparado aos Sistemas Europeu e Interamericano. Tal Sistema teve origem no ano de 1963, durante a realização da sessão ordinária da Assembleia de Chefes de Estado e Governo, que criou a OUA, o alicerce do Sistema Regional Africano.
Quando descoberta pelos Europeus, a África foi alvo de exploração, vista apenas como uma fonte de dinheiro pelos seus descobridores. O continente foi dividido e colonizado pelos europeus sem considerar as diferentes tribos, idiomas, religiões e culturas presentes. Os africanos eram vistos como inferiores pelos europeus e, devido a isto, muitos deles foram tomados como escravos, as riquezas naturais encontradas no continente eram extraídas e exportadas para as metrópoles não restando nada para os nativos. 
A origem deste sistema encontra-se nos debates ocorridos durante a sessão ordinária da Assembleia de Chefes de Estado e Governo da antiga Organização da Unidade Africana. Em junho de 1981, o projeto da Carta Africana foi votado, aprovado e assinado pelos membros da organização. Cinco anos mais tarde, em 21 de outubro de 1986, após atingir o número mínimo de ratificações necessárias, a Carta entrou em vigência. 
Em 2002, foi assinado protocolo à Carta Africana, que somente alcançou o número necessário de Estados aderentes (15), em 2006, somente então entrando em vigor. O referido protocolo criou a Corte Africana de Direitos Humanos, nos moldes do Sistema Europeu e Interamericano, tendo função consultiva e contenciosa. 
Conhecida também como Carta de Banjul, a Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos procura espelhar e preservar contornos característicos da cultura e da formação histórica africana. A Carta africana trouxe uma inovação em relação aos sistemas Europeu e Interamericano, qual seja, a obrigatoriedade de, a cada 2 anos, todos os Estados Membros enviarem um relatório à Comissão, com as medidas tomadas em relação à efetividade das garantias de Direitos Humanos. 
Após conquistada a independência, muitos Estados permaneceram com seus governos sob domínio militar. Assim, diante de tal situação política, a OUA defendia veementemente a não intervenção nos assuntos internos dos Estados e adotava formas não contenciosas para a resolução de divergências entre os seus Estados-membros.
A Organização da Unidade Africana (OUA), importante órgão, que foi fundado em 25 de maio de 1963 na Etiópia, através da assinatura de sua constituição por representantes de 32 países africanos independentes, era composta por 53 membros, porém em 1985 o Marrocos se afastou da organização em protesto a entrada da "República Árabe Sarauí Democrática", atual Saara Ocidental. 
Este órgão teve grande importância no processo de Descolonização da África, em 1966 foi criado o Comitê de Libertação ou de Descolonização que tinha como função apoiar os movimentos de libertação. Posteriormente, em 11 de julho de 2000, a OUA passou a ser denominada UA, cujas atividades iniciaram em 2001. A UA é composta pelos países do continente africano, com exceção do Marrocos pelo motivo anteriormente exposto.
Após a análise do Sistema Africano, entende-se a necessidade de se destacar um fato histórico que marcou a história recente do continente africano, em especial, por ter sido uma atrocidade à questão central do presente artigo, a proteção aos direitos humanos. Tal evento histórico é o genocídio que ocorreu em 1994, em Ruanda, que, em menos de cem dias, deixou mais de 800 mil mortos em uma guerra interna decorrente de conflitos étnicos. 
3.3.4 O sistema americano de proteção aos Direitos Humanos
O Sistema Interamericano foi instituído por meio da Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA). Essa carta, que leva o nome oficial de Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, foi aprovada em 1948.
O principal instrumento do Sistema Interamericano é a Convenção Americana de Direitos Humanos, ela estabelece a estrutura do Sistema Interamericano, formado por dois órgãos: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, com sede em Washington, Estados Unidos da América, e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, sediada em San José, na Costa Rica. 
Órgão central da Organização dos Estados Americanos (OEA), a Comissão Interamericana atua na supervisão e no monitoramento do grau de cumprimento das obrigações internacionais pelos Estados-membros em matéria de direitos humanos no âmbito regional.
A competência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos alcança todos os Estados-Partes da Convenção Americana, bem como os membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) em relação aos direitos humanos consagrados tanto na convenção quando na Declaração Americana de 1948. A principal função da Comissão é promover a observância e a proteção dos direitos humanos na América (PIOVESAN, 2004).
A Corte Interamericana é um órgão jurisdicional que possui competência consultiva e contenciosa. No exercício da competência consultiva, qualquer membro da OEA pode solicitar o parecer da Corte. No plano contencioso, a competência da Corte para o julgamento de casos é limitada aos Estados-Partes da Convenção. Ainda, somente a Comissão e os estados-parte podem submeter um caso à Corte.
As decisões da corte têm força jurídica vinculante e obrigatória, devendo os Estados cumprir de imediato. O Brasil possui condenação perante a Corte Interamericana por violação às garantias judiciais, no caso Garibaldi, conforme será verificado no próximo capítulo.
3.3.5 O Sistema árabe de proteção aos Direitos Humanos
A liga dos Estados Árabes, ou Liga Árabe, é uma associação voluntária de países que são predominantemente de língua Árabe. A liga foi fundada no Cairo em 1945 por Egito, Iraque, Arábia Saudita, Síria, Transjordania (Jordania a partir de 1950), e Yemen. Os principais objetivos da Liga são o de estabelecer relações mais estreitas entre os Estados membros e coordenar a relação entre estes, com o fim de proteger sua independência, soberania, defender de modo geral os assuntos e interesses dos países Árabes.
 A tomada de consciência dos Estados Árabes sobre a necessidade de adequar seus ordenamentos jurídicos, em conformidade com o Direito Internacional dos Direitos Humanos, começa a partir dos anos 70. A partir desta data, o mundo Árabe-muçulmano começa as diversas declarações sobre Direitos Humanos.
A Declaração Universal Islâmica sobre Direitos Humanos, de 19 de setembro de 1981, foi elaborada pelo Conselho da Organização da Conferência Islâmica e compilada por juristas Islâmicos e pelos representantes de diversas escolas de pensamentoIslâmico, sobre a inspeção da Unesco. Em seu teor, trouxe características bastantes peculiares adaptativas em relação à Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas de 1948. Ainda, percebe-se que a Declaração Islâmica se trata de uma adaptação da declaração original voltada aos princípios da fé-islâmica, invocados constantemente ao longo do documento. 
Do mesmo modo, os Direitos Humanos se integram com o quadro do ordenamento jurídico islâmico, proclamando as liberdades tradicionais liberais como o direito a vida, a liberdade, a igualdade, a proibição contra a discriminação, o direito a justiça, e a um justo processo penal. Igualmente a carta Islâmica, reconhece os direitos sociais, económicos, e alguns direitos coletivos, como o direito as minorias religiosas, individualizando e expressamente o pluralismo religioso.
A Declaração universal dos direitos humanos das Nações Unidas de 1948 foi muito criticada por muitos muçulmanos, qualificando-a de ter exclusivamente uma visão ocidental, sem ter em consideração a realidade cultural, religiosa e histórica, não só do islã senão de todos os países não ocidentais. Alguns muçulmanos opinam inclusive que esta declaração não é compatível com a Charia. Por isso, em 1990, todos os países da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) adotaram a Declaração do Cairo sobre Direitos Humanos no islã. A Declaração do Cairo baseia-se fundamentalmente na charia e no conceito de "O Islã, como representante de Alá na terra".
Com relação ao conteúdo desta declaração, se afirma o discurso teológico-jurídico iniciando na Declaração Islâmica Universal de 1981, no sentido de colocar os Direitos Humanos em um quadro complementar ao Islam.
A Carta Árabe de Direitos Humanos foi adotada pelo Conselho da Liga dos Estados Árabes em 1994, e em março de 2008 entrou em vigor após a ratificação do sétimo Estado, Os Emirados Árabes Unidos. Este é um dos resultados das iniciativas dos países árabes de aderir ao movimento internacional de tutela dos Direitos Humanos. 
4. O ESTADO BRASILEIRO E OS DIREITOS HUMANOS
Embora o Brasil tenha aderido prontamente à formação da OEA, em 1952, com o decreto assinado por Getúlio Vargas, foi somente depois do período da redemocratização do país, em 1985, que a participação brasileira em organismos e instituições dedicadas aos direitos humanos passou a ser mais efetiva.
O Brasil ratificou alguns instrumentos internacionais do Sistema Global, dentre estes, a Carta das Nações Unidas de 1945 ratificada pelo Brasil neste mesmo ano, assim como a Declaração Universal dos Direitos Humanos ratificada em 1948. Quanto ao Sistema Regional Interamericano o Brasil ratificou a Convenção Americana de Direitos Humanos em 1992.
A Constituição Federal de 1988 foi a primeira Constituição brasileira a elencar o princípio da prevalência dos direitos humanos, como princípio fundamental a reger o Estado nas relações internacionais. Além disso, ela também recebe as determinações dos tratados internacionais como norma constitucional, ou seja, as normas contidas nos tratados internacionais integram e complementam os direitos constitucionais com a finalidade de ampliar os direitos e garantias fundamentais já previstos. 
Feitas essas breves considerações, analisa-se a decisão proferida pela Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso Garibaldi versus Brasil, onde o Estado brasileiro foi responsabilizado pela não apuração da execução extrajudicial de um trabalhador sem terra, tomando-se como parâmetro normativo a Convenção Americana de Direitos Humanos, mais conhecida como Pacto de San José da Costa Rica.
4.1 Análise do caso Garibaldi
Diante de inúmeras desocupações de terra ocorridas todos os anos, em que os direitos humanos são frequentemente violados, o caso Garibaldi ganha relevo em razão de sua atualidade e das consequências gravosas ao Estado brasileiro, onde o mesmo foi responsabilizado pela não apuração da execução extrajudicial de um trabalhador sem terra, tomando-se como parâmetro normativo a Convenção Americana de Direitos Humanos, mais conhecida como Pacto de San José da Costa Rica (MONTEIRO, 2014).
Na tramitação do processo perante a Corte, já acentuava a Comissão Interamericana de Direitos Humanos que o Brasil deveria adotar “medidas eficazes com o fim de evitar a proliferação de grupos armados que pratiquem desocupações clandestinas violentas”. Com a sentença proferida pela Corte, recupera-se, embora não tendo o propósito de se sobrepor à decisão nacional, o sentido para o qual o Poder Judiciário se justifica (MONTEIRO, 2014).
Durante a desocupação extrajudicial de um acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, Sétimo Garibaldi foi morto em Querência do Norte, noroeste do Paraná, em ação de cerca de 20 pistoleiros encapuzados. Com a conivência das autoridades locais, foi arquivado o Inquérito, apesar dos indícios e das inúmeras testemunhas.
Diante dessa omissão, a Terra de Direitos, a Justiça Global, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e a Rede Nacional de Advogados Populares (RENAP) denunciaram o caso em 2003 à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que foi informada também do posterior arquivamento não fundamentado do inquérito policial. Em 2007, a Comissão submeteu o caso à Corte, resultando na condenação do Estado brasileiro. 
Para a Corte o caso expõe a parcialidade do Poder Judiciário no tratamento da violência no campo e as falhas das autoridades brasileiras em combater milícias privadas formadas por latifundiários. 
A obrigação de investigar violações de direitos humanos está incluída nas medidas positivas que os Estados devem adotar para garantir os direitos reconhecidos na Convenção. No caso de uma morte violenta, o Estado, ao tomar conhecimento do fato, deve iniciar ex oficio e sem demora, uma investigação séria, imparcial e efetiva, devendo ser realizada por todos os meios legais disponíveis e orientada à determinação da verdade (MONTEIRO, 2014).
Ainda, um inquérito deve ser conduzido de oficio pelo Estado, e como podemos observar não foi o que ocorreu no caso em estudo, pois o andamento do processo se deu por impulso dos familiares de Sétimo Garibaldi e não do Estado Brasileiro. A corte ainda entendeu que não foram convocadas testemunhas essenciais para esclarecer o ocorrido. 
Segundo a Corte, as falhas e omissões apontadas demonstram que as autoridades estatais não atuaram com a devida diligência nem em consonância com as obrigações derivadas dos artigos 8.1 e 25.1 da Convenção Americana, assim declarou, por unanimidade, que o Estado brasileiro violou os direitos às garantias judiciais e à proteção judicial reconhecidos em tais artigos (MONTEIRO, 2014).
Diante disso foi condenado a: Dar ampla publicidade à decisão no Diário Oficial e em jornais de circulação nacional e estadual; Buscar identificar, julgar e, eventualmente, sancionar os autores da morte do Senhor Sétimo Garibaldi; Investigar as eventuais falhas funcionais nas quais possam ter incorrido os funcionários públicos a cargo do inquérito e, se for o caso, sancioná-los; Pagar indenização à Sra. Iracema Garibaldi e filhos, a título de danos material e imaterial, no prazo de um ano; e, restituir à Sra. Garibaldi as custas e gastos processuais.
A sentença do caso Garibaldi demonstra a importância de um segundo nível de proteção dos Direitos Humanos, pois o Brasil foi responsabilizado por um órgão regional internacional, pela conduta das autoridades públicas ao violaram direitos humanos.
CONCLUSÃO
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, foi necessária a adoção de um efetivo sistema de proteção internacional dos direitos humanos, capaz de responsabilizar os Estados pelas violações por eles cometidas, ou ocorridas em seus territórios. A comunidade internacional foi obrigada a tomar consciência de que o mundo não precisaria ter vivenciado os horrores perpetrados pelos nazistas, ao menos não em tão grande escala, se um sistemaefetivo tivesse sido adotado.
Diante da urgente necessidade da reconstrução dos direitos humanos após a Segunda Guerra Mundial, pôde-se observar neste período o surgimento de diversas organizações internacionais com o objetivo de promover a cooperação internacional, que culminaram na formação do Sistema Global de proteção aos direitos humanos. 
A atuação de um Sistema Global eficiente e eficaz de promoção, proteção e reparação dos direitos humanos é uma exigência do processo de internacionalização construído na história recente da humanidade, para a salvaguarda da dignidade da pessoa humana.
Nesse contexto, a Carta das Nações Unidas abriu um grande leque de possibilidades para o contínuo desenvolvimento dos direitos humanos em nível mundial. Pois, após a adoção da Declaração Universal houve uma preocupação em formular tratados internacionais com força jurídica obrigatória e vinculante, que pudessem garantir de forma mais efetiva o exercício dos direitos e liberdades fundamentais.
Paralelemente ao Sistema Global surgem os Sistemas regionais, tendo sua importância devida as peculiaridades culturais e históricas de cada continente, pois a implantação desses sistemas facilita a adoção de mecanismos de controle respeitando a cultura de todos os povos. 
Sobre o caso Garibaldi ficou muito claro na sentença da Corte que na investigação de fatos que violem direitos humanos não pode um Estado-parte alegar a presença de obstáculos internos, tais como a falta de infraestrutura ou de pessoal. Carências de tal espécie não excluem a sua responsabilidade internacional. Ainda, é inegável que graves falhas e demoras relacionadas à apuração dos fatos, que afetem vítimas pertencentes a grupo vulnerável, propiciam a repetição crônica das violações de direitos humanos.
Apesar de o fortalecimento da rede de proteção institucional internacional dos direitos humanos ser um processo lento e gradual, até mesmo na consciência crítica da comunidade jurídica atuante, a cada recomendação, ou decisão proferida pela Corte internacional, faz com que os Estados ao menos avaliem se é recompensador permanecer na prática de violações, pois certamente a simples divulgação dos casos já representa constrangimento perante a comunidade internacional.
O que resta evidente com o presente estudo, é a importância de um segundo nível de proteção aos direitos humanos, seja regional ou global. A certeza de que ainda existe uma esperança para as violações aos direitos humanos não julgadas, ignoradas ou julgadas acobertadas pela injustiça no plano doméstico dos estados. A certeza de que o indivíduo, enquanto sujeito de direito em âmbito internacional, tem ao seu alcance uma segunda opção para fazer valer seus direitos fundamentais, consagrados em Tratados internacionais, direitos estes garantidos a todos os humanos, pura e simplesmente pela condição de humanidade que lhes pertence. 
REFERÊNCIAS
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WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi. Sistemas Regionais de Direitos Humanos: perspectivas diversas. 1ª ed. Santa Cruz do Sul, Essere nel Mondo, 2015.
1 Artigo escrito para o IV Seminário Internacional Direito, Democracia e Sustentabilidade da IMED; 
2 Acadêmica do Curso de Graduação em Direito da Unijuí, karinearnemann@hotmail.com;
3 Mestre em Direito, Docente da UNIJUÍ, � HYPERLINK "mailto:eliete.schneider@unijui.edu.br" �eliete.schneider@unijui.edu.br�

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