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Direito Civil Aplicado 9 sem 2014 1

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Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 1 
 
 
Direito Civil Aplicado 
 
"Pouco importa às pessoas saber que têm os direitos reconhecidos em princípio, se 
o exercício deles lhes é negado na prática." 
Francisco Sá Carneiro 
 
 
Por Rommel Andriotti 
1º semestre de 2014 
 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 2 
 
 
 
NOTA DA EDIÇÃO 
Olá caro colega, e seja bem-vindo ao maravilhoso mundo do Direito! 
O resumo que você tem em mãos foi confeccionado com o maior esmero possível, e é resultado 
do meu entendimento das aulas que assisti e das pesquisas que realizei sobre o tema. 
Em razão disso, nenhum professor, aluno, instituição, é responsável por este conteúdo. Ele foi 
elaborado como um caderno de estudante, e por isso não há garantia de isenção de erros. 
Entretanto, conforme mencionado, o que você lerá foi confeccionado com muita dedicação, e 
por isso certamente poderá acrescentar valor aos seus estudos. 
É importante ressaltar ainda que esse material não tem fins lucrativos. Você tem minha 
autorização para utiliza-lo como desejar, bem como para divulgar esse material a vontade. 
Conhecimento é para ser disseminado, multiplicado e perpetuado! 
Por fim, com a devida vênia, gostaria de com essas poucas palavras dedicar este material à minha 
mãe, Cristina Andriotti, cujo apoio irrestrito e encorajamento constante me são 
indispensáveis na perseguição de meus objetivos. 
Como ler esse material 
Cada aula é iniciada com um título grande que indica o número da aula, a data que ela me foi 
lecionada, e seu tema principal. 
Ex.: 
AULA C4 (12.12.2013) - OS REGIMES DE CASAMENTO 
Depois, vocês verão textos corridos, eventualmente divididos por outros títulos e subtítulos, 
como esse: 
1. As citações 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 3 
 
 
Quando eu for citar algum autor, jurisprudência, notícias, etc., eu seguirei padrões para facilitar 
a identificação do que está sendo lendo. 
O layout normal é este que você está lendo agora. Quando eu fizer um comentário pessoal, 
ele estará escrito dessa forma, como anotações em um caderno. 
Se eu transcrever uma citação ou dica especifica do professor, a observação estará assim, 
em giz. 
Quando transcrevermos um artigo de lei, ele estará assim: 
CF. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção 
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e 
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do 
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade (...) 
Ao transcrevermos uma sumula ou jurisprudência o layout será esse: 
STF Súmula nº 691 - 24/09/2003 - DJ de 9/10/2003, p. 5; 
DJ de 10/10/2003, p. 5; DJ de 13/10/2003, p. 5. 
Competência - Conhecimento de Habeas Corpus Contra 
Indeferimento de Liminar em HC Impetrado em Tribunal 
Superior. 
Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de 
habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que, 
em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere 
a liminar. 
(Conhecimento na Hipótese de Flagrante 
Constrangimento Ilegal - HC 85185, HC 86864 MC-DJ de 
16/12/2005 e HC 90746-DJ de 11/5/2007)! 
Se eu for citar um filosofo ou mesmo um cientista antigo, a fonte será essa, como 
se escrito em papiro. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 4 
 
 
Se faremos uma citação jornalística, a forma será a seguinte, em homenagem à máquina de 
escrever: 
Folha de São Paulo - 23/08/2013 - 23h40 
Brigas de Joaquim Barbosa com membros do STF são tema de matéria do 'New York 
Times' 
As brigas entre Joaquim Barbosa e os demais membros do (STF) Supremo Tribunal 
Federal foram tema de matéria do jornal americano "The New York Times" nesta sexta-
feira (23). À publicação, o chefe do Judiciário brasileiro voltou a dizer que não pretende 
se candidatar a nenhum cargo. 
A matéria caracterizou Barbosa como uma pessoa "direta" e "sem medo de aborrecer o 
status quo". "Quando o presidente do Tribunal, Joaquim Barbosa, adentra a corte, os outros 
dez ministros se preparam para o que pode vir depois", escreveu o correspondente 
americano Simon Romero, que viajou do Rio à Brasília para a entrevista.1 
Por fim, estrangeirismos estarão em itálico (fumus boni iuris et Periculum in mora), e partes 
importantes estarão devidamente destacadas. 
Você pode ajudar na confecção desse resumo notificando quaisquer erros que você encontre ou 
me enviando material para complementarmos a aula. Estarei disponível 24/7 no e-mail: 
rommel.andriotti@outlook.com 
Enfim, espero que vocês gostem e aproveitem este material. 
Bons estudos! 
Rommel Andriotti 
 
 
1 Obviamente, citações bibliográficas ou jornalísticas estarão devidamente apontadas em notas de rodapé como 
essa. No caso, a notícia acima foi encontrada em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/08/1331441-brigas-
de-joaquim-barbosacom-membros-do-stf-e-tema-de-materia-do-new-york-times.shtml 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 5 
 
 
1 SUMÁRIO 
2 Direito civil constitucional .................................................................................................................................... 9 
2.1 Princípios filosóficos do direito civil brasileiro atual .................................................................................... 9 
2.1.1 Princípio da socialidade ....................................................................................................................... 9 
2.1.2 Princípio da eticidade ........................................................................................................................ 10 
2.1.3 Princípio da operabilidade ................................................................................................................. 10 
3 Personalidade..................................................................................................................................................... 11 
3.1 Personalidade Jurídica ............................................................................................................................... 11 
3.2 Teorias para a personalidade jurídica ........................................................................................................ 12 
3.2.1 Teoria da realidade ou das instituições jurídicas .............................................................................. 13 
3.3 Diferença entre direitos humanos, fundamentais, e da personalidade..................................................... 13 
3.4 Início do direito da personalidade ............................................................................................................. 14 
3.4.1 Religiosa ............................................................................................................................................ 14 
3.4.2 Doutrinária minoritária ..................................................................................................................... 14 
3.4.3 Doutrinária majoritária ...................................................................................................................... 14 
3.4.4 Início da atividade cerebral ............................................................................................................... 14 
3.4.5 Teoria do nascimento ........................................................................................................................ 15 
3.5 Correntes para a proteção do nascituro .................................................................................................... 15 
3.5.1 Teoria da natalidade (ou natalista) ...................................................................................................15 
3.5.2 Teoria da viabilidade ......................................................................................................................... 15 
3.5.3 Teoria da concepção.......................................................................................................................... 15 
3.6 Classificação dos direitos da personalidade ............................................................................................... 16 
3.6.1 Direitos da personalidade ligados à Integridade física ...................................................................... 16 
3.6.2 Direitos da personalidade ligados à Integridade moral ..................................................................... 16 
3.6.3 Direitos da personalidade ligados à Integridade intelectual ............................................................. 16 
3.7 Formas de proteção dos direitos da personalidade ................................................................................... 16 
3.7.1 Tutela indenizatória ........................................................................................................................... 16 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 6 
 
 
3.7.2 Tutela Inibitória ................................................................................................................................. 17 
4 Direito das obrigações........................................................................................................................................ 17 
4.1 Conceito de Obrigação ............................................................................................................................... 17 
4.2 O devedor para as obrigações .................................................................................................................... 18 
4.3 Elementos das obrigações .......................................................................................................................... 20 
4.3.1 Subjetivo ............................................................................................................................................ 20 
4.3.2 Elemento objetivo ............................................................................................................................. 21 
4.3.3 Elemento imaterial ............................................................................................................................ 21 
4.4 Classificação das obrigações quanto a presença de dívida e responsabilidade ......................................... 22 
4.4.1 Obrigações perfeitas ......................................................................................................................... 22 
4.4.2 Obrigações imperfeitas ..................................................................................................................... 22 
4.5 Conceito de Obrigação ............................................................................................................................... 24 
5 Responsabilidade Civil ........................................................................................................................................ 24 
5.1 Responsabilidade contratual ...................................................................................................................... 24 
5.2 Responsabilidade extra contratual ............................................................................................................ 25 
6 Inadimplemento obrigacional ............................................................................................................................ 25 
6.1 Classificação do Inadimplemento .............................................................................................................. 26 
6.1.1 Quanto ao alcance do inadimplemento ............................................................................................ 26 
6.1.2 Quanto à voluntariedade .................................................................................................................. 27 
7 O caso fortuito e a força maior .......................................................................................................................... 27 
7.1 Conceitos .................................................................................................................................................... 27 
7.1.1 1º conceito ........................................................................................................................................ 28 
7.1.2 2º conceito ........................................................................................................................................ 28 
7.1.3 3º conceito ........................................................................................................................................ 28 
7.1.4 4º conceito ........................................................................................................................................ 28 
7.2 O fortuito externo e interno ...................................................................................................................... 28 
7.2.1 Fortuito interno ................................................................................................................................. 28 
7.2.2 Fortuito externo ................................................................................................................................ 29 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 7 
 
 
8 Teoria do inadimplemento (cont.) ..................................................................................................................... 29 
8.1 Honorários advocatícios ............................................................................................................................. 29 
8.2 Juros ........................................................................................................................................................... 30 
8.3 Espécies de juros ........................................................................................................................................ 30 
8.3.1 Remuneratórios ................................................................................................................................. 30 
8.3.2 Moratórios ......................................................................................................................................... 30 
8.3.3 Quanto se pode cobrar de juros? ...................................................................................................... 30 
8.4 Correção monetária ................................................................................................................................... 31 
8.5 Cláusula penal ............................................................................................................................................ 31 
8.5.1 Indenizatória...................................................................................................................................... 31 
8.5.2 Moratória .......................................................................................................................................... 32 
8.6 Desconto de pontualidade ......................................................................................................................... 32 
8.7 Resumo da ópera ....................................................................................................................................... 32 
9 Princípios contratuais ......................................................................................................................................... 33 
9.1 Autonomia privada .....................................................................................................................................33 
9.2 Força obrigatória dos contratos ................................................................................................................. 34 
9.3 Função social dos contratos ....................................................................................................................... 35 
9.3.1 Eficácia interna da função social ....................................................................................................... 36 
9.3.2 Eficácia externa da função social ....................................................................................................... 36 
9.4 Boa fé ......................................................................................................................................................... 37 
9.4.1 Boa Fé Subjetiva ................................................................................................................................ 38 
9.4.2 Boa Fé Objetiva ................................................................................................................................. 40 
9.4.3 Institutos derivados da boa fé ........................................................................................................... 44 
10 Da proteção contratual e comparação com o CDC ............................................................................................ 46 
11 Responsabilidade civil extracontratual .............................................................................................................. 53 
11.1 Diferenciação entre responsabilização civil e criminal .......................................................................... 53 
11.2 Da independência entre as instancias ................................................................................................... 53 
11.3 Do abuso de direito ............................................................................................................................... 54 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 8 
 
 
11.4 Elementos da responsabilidade civil ...................................................................................................... 54 
11.4.1 Ação ou omissão ................................................................................................................................ 54 
11.4.2 Dano .................................................................................................................................................. 55 
11.4.3 Nexo de causalidade .......................................................................................................................... 58 
11.4.4 Culpa .................................................................................................................................................. 58 
12 Propriedade........................................................................................................................................................ 59 
12.1 Conceito ................................................................................................................................................. 59 
12.2 Atributos ................................................................................................................................................ 59 
13 Posse .................................................................................................................................................................. 59 
14 Direitos reais ...................................................................................................................................................... 59 
14.1 Alienação fiduciária em garantia ........................................................................................................... 62 
15 Posse .................................................................................................................................................................. 63 
15.1 Teorias da posse .................................................................................................................................... 63 
15.1.1 Subjetiva ............................................................................................................................................ 63 
15.1.2 Objetiva ............................................................................................................................................. 63 
16 Bibliografia ......................................................................................................................................................... 64 
17 Prova Regimental ............................................................................................................................................... 65 
17.1 Questionário para estudo da prova ....................................................................................................... 65 
17.2 Ultimas orientações ............................................................................................................................... 70 
 
 
AULA 01 (31.01.2014) - INTRODUÇÃO 
Sistema de avaliação 
Não será cobrado nada além daquilo que será dito em aula. 
Avaliação Contínua 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 9 
 
 
O aluno deverá trazer um julgado por grupo de cinco pessoas. Para o professor, entregar uma 
página com a ementa e os nomes dos componentes. 
Então o aluno registrará em uma segunda folha, no dia da avaliação, porque o julgado é relevante 
e importante para a matéria. 
Avaliação Regimental 
Serão 4 questões dissertativas. 
Bibliografia 
 Curso de direito civil. Roberto Senise Lisboa 
Plano de aula 
Faremos uma síntese da matéria de direito civil lecionado na faculdade. 
2 DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 
É a aplicação dos preceitos constitucionais (direito público) em relações de direito privado. É uma 
nova forma de se interpretar o direito civil. 
2.1 PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS DO DIREITO CIVIL BRASILEIRO ATUAL 
São os três princípios inseridos pelo filósofo Miguel Reale no código civil de 2002. 
2.1.1 Princípio da socialidade 
É o princípio da função social. Função social é entendida de forma semântica. Função é a busca, 
objetivo. Social é o coletivo, o não individual, a comunhão. 
Ou seja, função social é a função que excede o indivíduo, servindo também à sociedade. 
A função social do direito é a estabilidade social. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 10 
 
 
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão 
e nos limites da função social do contrato. 
2.1.2 Princípio da eticidade 
É a presença da ética nas relações jurídicas. É exemplo a existência da boa-fé objetiva (dever de 
eticidade), que nada mais é do que o dever de lealdade, dever de mútuo acordo, conduta ilibada, 
etc. 
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim 
na conclusão do contrato, como em sua execução, os 
princípios de probidade e boa-fé. 
2.1.3 Princípio da operabilidade 
É o sistema de cláusulas gerais ou “janelas abertas”. A norma deve permitir a análise do caso 
concreto de modo a se determinar o alcance da norma e o modo que ela se aplica ao caso. 
No extrato do CC que veremos a seguir, estarão grifadas expressões que se coadunam com o 
princípio da operabilidade (Janelas abertas), ou seja, expressões que dão liberdade ao julgador 
para que este avalie e aplique a norma de acordo com a realidade presente no contexto histórico 
que ele vive: 
CC. art. 1228. § 4o O proprietário também pode ser 
privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em 
extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais 
de cinco anos, de considerável número de pessoas, e 
estas nela houverem realizado, em conjuntoou 
separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz 
de interesse social e econômico relevante. 
Este dispositivo, ainda que depois de 100 anos, ainda poderia ser aplicado, já que ele não está 
engessado com expressões que limitem o aplicador da norma. 
AULA 02 – 07 DE FEVEREIRO DE 2014 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 11 
 
 
3 PERSONALIDADE 
A personalidade é o instituto que visa a proteção que é dada à pessoa. O objetivo dos direitos da 
personalidade é proteger a pessoa, em regra física, mas as mesmas proteções valem para as 
pessoas jurídicas, desde que cabíveis a elas. 
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a 
proteção dos direitos da personalidade. 
3.1 PERSONALIDADE JURÍDICA 
O código civil traz um rol com a previsão das pessoas jurídicas de direito privado: 
CC. Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: 
I - as associações; 
II - as sociedades; 
III - as fundações. 
IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 
10.825, de 22.12.2003) 
V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 
22.12.2003) 
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. 
(Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência) 
§ 1o São livres a criação, a organização, a estruturação 
interna e o funcionamento das organizações religiosas, 
sendo vedado ao poder público negar-lhes 
reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e 
necessários ao seu funcionamento. (Incluído pela Lei nº 
10.825, de 22.12.2003) 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 12 
 
 
§ 2o As disposições concernentes às associações 
aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são 
objeto do Livro II da Parte Especial deste Código. 
(Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) 
§ 3o Os partidos políticos serão organizados e 
funcionarão conforme o disposto em lei específica. 
(Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) 
O código civil também traz a previsão das pessoas jurídicas de direito público: 
Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno: 
I - a União; 
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; 
III - os Municípios; 
IV - as autarquias; 
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; 
(Redação dada pela Lei nº 11.107, de 2005) 
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei 
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as 
pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado 
estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, 
quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste 
Código. 
3.2 TEORIAS PARA A PERSONALIDADE JURÍDICA 
Foram desenvolvidas algumas teorias que justificam a aquisição da personalidade jurídica. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 13 
 
 
3.2.1 Teoria da realidade ou das instituições jurídicas 
O jurista francês Hauriou diz que uma pessoa só é pessoa se a lei assim o diz. Nem sempre as 
pessoas tiveram direito da personalidade - elas já foram bens historicamente, como o caso dos 
escravos. 
Sugestão de leitura: Guia do politicamente incorreto do Brasil 
Um exemplo de pessoa nova que foi criada pela lei é a sociedade individual de responsabilidade 
limitada, que pode ser integrada por apenas um sócio mas tem responsabilidade limitada, ou 
seja, funciona como uma “empresa de um homem só”, sendo resguardados os direitos protetivos 
do patrimônio dele caso a pessoa jurídica vier a falir2. 
Nota: O CNPJ tem cunho tributário. Não confundir a existência do CNJP com a existência de personalidade. 
O fato de uma empresa ter um CNPJ não significa que ele é uma pessoa jurídica por causa disso. Podem 
haver situações em que há CNPJ sem haver personalidade jurídica, como são os casos dos entes jurídicos 
despersonalizado. O exemplo clássico disso são os condomínios. 
3.3 DIFERENÇA ENTRE DIREITOS HUMANOS, FUNDAMENTAIS, E DA 
PERSONALIDADE 
Nenhuma como regra, pois o objeto é o mesmo: a proteção da pessoa. 
A diferença se encontra no nível de proteção. Os direitos humanos estão protegendo a pessoa 
no âmbito internacional. Os direitos fundamentais por sua vez se aplicam em âmbito 
constitucional. Em sede de direitos infraconstitucionais, há os direitos da personalidade inseridos 
no direito civil. 
São proteções reiteradas, que se sucedem nos diversos âmbitos normativos, pois os direitos 
fundamentais são muito frágeis, e precisam de uma proteção qualificada. 
 
 
2 Obviamente o patrimônio dele pode ser atacado nos casos de desconsideração da personalidade jurídica. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 14 
 
 
3.4 INÍCIO DO DIREITO DA PERSONALIDADE 
CC. Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do 
nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a 
concepção, os direitos do nascituro. 
Embora o conceito pareça claro, determinar qual o início da personalidade é uma tarefa que 
estudiosos tentam fazer há muito tempo. De acordo com os novos textos normativos, a 
concepção se encontra no centro para o entendimento de quando se inicia a personalidade. Por 
isso, o grande alvo das discussões acadêmicas atuais sobre o tema é qual seria o momento da 
concepção para fins de determinação da aquisição de personalidade. Muitas teorias foram 
criadas para explicar qual o momento da concepção, sendo as principais as seguintes: 
3.4.1 Religiosa 
A partir do ato da relação sexual bem sucedida (Ou seja, com a fecundação); 
3.4.2 Doutrinária minoritária 
A concepção se dá com a união dos gametas masculinos e femininos, independentemente de 
relação sexual (Possibilita a inclusão de fertilização in vitro para a proteção dos direitos da 
personalidade); 
3.4.3 Doutrinária majoritária 
Nidação. Essa é a corrente mais aceita no direito brasileiro. A nidação é o momento em que o 
embrião se fixa na parede do útero. 
3.4.4 Início da atividade cerebral 
Segundo esta corrente, só há vida com atividade cerebral, uma vez que só há morte com o fim 
desta. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 15 
 
 
3.4.5 Teoria do nascimento 
A personalidade é concedida no momento do nascimento com vida, a partir da primeira 
respiração. 
3.5 CORRENTES PARA A PROTEÇÃO DO NASCITURO 
Além das teorias para quando a concepção ocorre, há teorias em forma de correntes doutrinárias 
para se averiguar qual a extensão e aplicabilidade da proteção dos direitos da personalidade, 
vejamos: 
3.5.1 Teoria da natalidade (ou natalista) 
Interpreta de forma fria o artigo 2º. É a corrente clássica e uma das mais respeitadas. Segundo 
esta teoria, o nascituro tem direito à personalidade, mas somente o nascimento com vida fará 
com que essa personalidade lhe seja outorgada. 
Por essa teoria não há que se falar em alimentos gravídicos por exemplo, então, embora 
respeitada, ela é muito criticada, e considerada ultrapassada. 
3.5.2 Teoria da viabilidade 
Repete a primeira em seu fim, mas difere da primeira na fundamentação. Segundo essa teoria, 
para ter personalidade é necessário o nascimento com vida, mas a fundamentação decorre dos 
elementos acidentais do negócio jurídico. 
A concessão da proteção à pessoa é condicionada à um evento futuro incerto, que é o nascimento. 
3.5.3 Teoria da concepção 
A professora Maria helena Diniz defende essa teoria, que é a mais adotada atualmente. O 
nascituro, desde sua concepção, tem personalidade jurídica formal. O nascimento com vida 
verifica a personalidade jurídica material. 
 Personalidade jurídica formal – São os direitos extrapatrimoniais; 
 Personalidade jurídica material – São os direitos patrimoniais; 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 16 
 
 
Exemplo: Herança. Aherança é um direito patrimonial, logo integra a personalidade jurídica 
material, o que por essa teoria já é protegido e resguardado ao nascituro. 
3.6 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 
O professor Rubens Limões de França classificou e dividiu esses direitos em três grandes 
subdivisões. Essa classificação dele é a mais adotada: 
3.6.1 Direitos da personalidade ligados à Integridade física 
Envolve o direito à vida, disposição do próprio corpo, direito alimentar. 
Atenção pois o direito à disposição do próprio corpo é limitado no brasil. 
3.6.2 Direitos da personalidade ligados à Integridade moral 
Direito à liberdade civil, liberdade política, liberdade religiosa, honra, imagem, e intimidade. 
3.6.3 Direitos da personalidade ligados à Integridade intelectual 
Direito do autor, propriedade industrial, etc. 
3.7 FORMAS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 
Pergunta de prova: Como se dá a proteção dos direitos da personalidade? 
São duas as formas de proteção aos direitos da personalidade: 
3.7.1 Tutela indenizatória 
A violação a um direito da personalidade acarreta em uma responsabilidade de indenizar por 
parte do agressor. 
CC. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, 
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano 
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato 
ilícito. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 17 
 
 
3.7.2 Tutela Inibitória 
A tutela inibitória é aquela que visa fazer cessar uma agressão a um direito da personalidade. 
CPC. Art. 461. Na ação que tenha por objeto o 
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz 
concederá a tutela específica da obrigação ou, se 
procedente o pedido, determinará providências que 
assegurem o resultado prático equivalente ao do 
adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 
13.12.1994) 
AULA 03 – 21 DE FEVEREIRO DE 2014 
4 DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 
4.1 CONCEITO DE OBRIGAÇÃO 
O conceito de obrigação é.... espera.... Esse não é o momento para dizer o conceito... sim, 
eu sei, normalmente começa-se com o conceito... mas há alguns conceitos que não podem ser 
entendidos sem antes se compreender outras questões... Vamos começar entendendo a coisa, 
para então voltar à seu conceito.... 
Comecemos assim: O direito de obrigações visa preencher lacuna da vontade. 
O código civil inicia as obrigações com a teoria geral das obrigações, com as obrigações de dar, 
fazer, e não fazer, a partir do artigo 233. Depois ele trata da transferência das obrigações, falando 
da cessão de crédito e assunção de dívida, a partir do artigo 286. 
Em seguida tratamos do fim das obrigações, com duas vertentes: A teoria geral do pagamento 
(art. 304), e teoria geral do inadimplemento com o (art. 389). 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 18 
 
 
A ideia da teoria geral do pagamento é que a obrigação começou e tem um fim natural, que pode 
ser com o pagamento direto (simples, com o pagamento da quantia devida), ou pagamento 
indireto (as vezes, o pagamento como era esperado anteriormente, e se dá de outra forma, ainda 
assim com consentimento entre as partes). Veja que desde o início tudo é respeitado e a 
obrigação se extingue conforme era esperado. 
Por fim, há a teoria geral do inadimplemento, tratado em seguida pelo código. 
4.2 O DEVEDOR PARA AS OBRIGAÇÕES 
Vamos ver um exemplo simples. 
Pense em uma relação de 
locação. Nós temos o locador e 
o locatário. Qual deles será 
devedor e qual será credor? A 
resposta natural seria que o 
locatário é devedor e o locador 
credor. Calma, não é tão 
simples... veja: 
Há dois momentos a obrigação. 
Em um primeiro momento, há 
uma obrigação de fazer, qual seja a entrega das chaves. Nesse caso, o credor desta obrigação é 
o locatário. Em um segundo momento, há a obrigação do locatário pagar prestações periódicas 
ao locador. O locador é, portanto, credor destas obrigações. 
Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida 
pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios 
conducentes à exoneração do devedor. 
Se o credor se recusa a receber, o devedor ou responsável pode promover o pagamento pelos 
meios adequados, existindo até ação judicial cabível para esses casos, que é a consignação em 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 19 
 
 
pagamento. Note que nesse caso, quando o artigo fala “devedor”, ela está falando de “devedor” 
de uma quantia... 
Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os 
acessórios dela embora não mencionados, salvo se o 
contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso. 
Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se 
perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou 
pendente a condição suspensiva, fica resolvida a 
obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de 
culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e 
mais perdas e danos. 
Ora, se analisarmos esses dois artigos, veremos que quando o disposto traz a palavra “devedor”, 
ela não está se referindo à mesma posição jurídica que se encontrava o “devedor” do artigo 304 
que vimos há pouco. Não, nesse caso, o “devedor” é polo passivo de uma obrigação de dar 
coisa/fazer. 
Por isso, vemos que no caso da locação, realmente há dois créditos distintos a serem recebidos 
por cada uma das partes, o que faz delas credora e devedora uma da outra. Temos então uma 
obrigação sinalagmática. 
Obrigação sinalagmatica é aquela que pressupõe a existência de direitos e deveres recíprocos 
entre os contratantes. 
Portanto, tiramos daí que não se pode confundir teoria geral da obrigação com teoria geral de 
pagamento, pois o conceito de devedor difere de uma para a outra. Para TGO, devedor é o que 
tem de dar, fazer, ou não fazer alguma coisa, enquanto que em TGP o devedor é aquele que tem 
que pagar. 
Seria bom você voltar a ler toda essa seção desde o “item 4. Das Obrigações” com 
isso em mente. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 20 
 
 
4.3 ELEMENTOS DAS OBRIGAÇÕES 
4.3.1 Subjetivo 
As partes – Credor e devedor. 
Se atentar para quando a obrigação tem mais de um credor ou devedor. Nesse caso, a obrigação 
que outrora era simples passa a conter outros institutos jurídicos: 
4.3.1.1 Solidariedade 
CC. Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da 
lei ou da vontade das partes. 
A obrigação solidária não se presume, mas decorre da lei ou da vontade das partes. Quando há 
a solidariedade ativa, o pagamento pode ser realizado para qualquer um dos credores, e a 
solidariedade passiva é aquela em que o pagamento pode ser cobrado de qualquer um dos 
devedores. 
4.3.1.2 Subsidiariedade 
Ocorre quando se deve primeiro tentar solucionar o negócio jurídico com alguém e, somente na 
impossibilidade dessa pagar/receber é que se aciona a outra pessoa. O exemplo clássico é o 
fiador, que nada mais é do que um “devedor”3 subsidiário. 
Note que embora a lei diga algo, os contratantes podem dispor diferentemente. Em regra o fiador 
é devedor subsidiário, mas nada impede que haja nos contratos a clausula de renúncia do 
benefício de ordem, o que faz com que o fiador se torne devedor solidário ao invés de subsidiário. 
 
 
3 Veremos a seguir que o fiador na verdade não é “devedor”, mas sim “responsável”. Usamos a palavra “devedor” 
aqui para não confundir, já que o que importa para a explicação deste conceito [subsidiariedade] é que o fiador 
pagará no lugar do devedor principal. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 21 
 
 
4.3.2 Elemento objetivo 
É o objeto do contrato. 
Ele se sub-classifica como objeto imediato e mediato. 
O objeto da obrigação podeser mediato ou imediato. 
 Imediato: a conduta humana de dar, fazer ou não fazer. Ex.: Dar a chave do imóvel ao 
novo proprietário. 
 Mediato: é a prestação em si. Ex.: O que é dado? A chave. 
4.3.2.1 Formas de prestação do elemento objetivo 
Quanto ao objeto, a obrigação pode se dar de três formas, que é dar, fazer, ou não fazer. No 
entanto, o mesmo objeto pode, em diferentes momentos, abrigar mais de uma dessas situações. 
4.3.2.2 Diferença de dar e fazer 
Vamos usar a matemática para resolver esse problema! 
Dar = dar – fazer 
Fazer = fazer + dar 
E por que é importante saber isso? Oras, porque as obrigações de dar e de fazer resultam em 
procedimentos de execução diferentes: 
Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento 
de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a 
tutela específica da obrigação ou, se procedente o 
pedido, determinará providências que assegurem o 
resultado prático equivalente ao do adimplemento. 
(Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994) 
4.3.3 Elemento imaterial 
Também chamado de elemento ideal, virtual, ou espiritual. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 22 
 
 
É um elemento intangível, diferentemente de partes (elemento subjetivo) e a coisa (elemento 
objetivo). Para entender esse elemento, é necessário compreender o que é dívida e 
responsabilidade... 
4.3.3.1 – Dívida 
Tem dívida aquele que assumiu uma obrigação (expressamente ou tacitamente), e pode adimpli-
la voluntariamente. 
4.3.3.2 – Responsabilidade 
Tem responsabilidade aquele que pode ser obrigado a sofrer os efeitos patrimoniais de uma 
dívida. 
4.4 CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES QUANTO A PRESENÇA DE DÍVIDA E 
RESPONSABILIDADE 
O Schuld e Haftung são elementos distintos e portanto dissociáveis. Isso significa que um pode 
existir sem o outro e vice versa. A análise da existência de cada um deles nos casos concretos 
criou uma outra classificação que define as obrigações que contém ambos, um deles, ou nenhum 
deles... Vamos ver! 
4.4.1 Obrigações perfeitas 
São obrigações em que há simultaneamente dívida e responsabilidade (Schuld e Haftung), então 
há o que se chama de Obrigação perfeita, ou seja, aquele que assumiu a obrigação (devedor) é o 
mesmo que está obrigado a sofrer seus impactos econômicos (responsável). Além de criar a 
dívida e poder adimpli-la voluntariamente, são sofridos os efeitos patrimoniais dela, pois há 
simultaneamente a dívida e a responsabilidade pelo seu pagamento. 
4.4.2 Obrigações imperfeitas 
Uma obrigação imperfeita é aquela que não possui um dos elementos da obrigação, ou seja, não 
possui ou o Schuld ou o Haftung. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 23 
 
 
4.4.2.1 Obrigação natural 
A obrigação natural é imperfeita. Ela decorre da existência de Schuld (dívida) mas inexistência de 
Haftung (responsabilidade). Então a dívida foi criada mas aquele que a criou não sofre seus 
efeitos patrimoniais. Ex.: obrigação fundada em direito prescrito. Se a dívida prescreveu, ela não 
deixa de existir como dívida, mas sim a responsabilidade pelo pagamento que deixa de existir, 
uma vez que ela deixa de ser exigível. Logo, o devedor de uma dívida prescrita continua sendo 
devedor, mas não é mais responsável. 
4.4.2.2 Obrigação Assumida ou Imputada4 
É a situação em que há responsabilidade, mas não há dívida. Trata-se de uma situação em que o 
responsável deve arcar com os efeitos patrimoniais de uma obrigação que ele não criou por conta 
própria. O exemplo é o fiador, uma vez que ele não é titular do negócio jurídico mas assume a 
responsabilidade de arcar com seu adimplemento em caso de inadimplemento do devedor 
principal. 
4.4.2.3 Obrigação moral 
Obrigação moral é aquela em que não há nem um elemento nem outro, ou seja, não há nem 
dívida e nem responsabilidade. Por exemplo, uma promessa [à Deus]; uma dívida de honra; 
trabalho voluntário; etc. Se alguém se compromete a ajudar vítimas de um desastre natural, essa 
é uma obrigação relevante para o direito, sendo considerada uma obrigação moral, ou seja, não 
há dívida nem responsabilidade, e seu cumprimento se dá única e exclusivamente porque o 
obrigado assim deseja. 
 
 
4 Eu inventei esse nome por acha-lo apropriado. O professor não disse qual o nome doutrinário para a obrigação que 
possui responsabilidade mas não possui dívida. Eu busquei muito na internet sem achar a nomenclatura adequada. 
Se alguém souber, favor avisar para que eu possa incluir no material. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 24 
 
 
4.5 CONCEITO DE OBRIGAÇÃO 
Com isso, voltamos mais uma vez ao conceito de obrigação. Tendo tudo o que foi dito 
anteriormente em mente, é possível ao menos vislumbrar o real significado do conceito. Note 
que o que vimos nessa aula foi meramente um resumo muito sucinto da parte geral de 
direito obrigacional. Note também que algumas palavras estarão sublinhadas – elas carregam 
um peso e significado enorme – ao lê-las, tenha em mente o que vimos até agora. 
Negócio jurídico complexo, de caráter dinâmico, que deve ser analisado de acordo com 
sua fase de execução. 
AULA 04 – 28 DE FEVEREIRO DE 2014 
5 RESPONSABILIDADE CIVIL 
Para se caracterizar a responsabilidade civil é necessário que se coadunem quatro elementos, a 
saber: a ação ou omissão do agente, a culpa ou o dolo do agente, a relação ou o nexo de causalidade 
e o dano.5 
5.1 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL 
A Responsabilidade Civil Contratual, como o nome mesmo já sugere, ocorre pela presença de um 
contrato existente entre as partes envolvidas, agente e vítima. Assim, o contratado ao unir os quatro 
elementos da responsabilidade civil (ação ou omissão, somados à culpa ou dolo, nexo e o 
consequente dano) em relação ao contratante, em razão do vínculo jurídico que lhes cerca, 
incorrerá na chamada Responsabilidade Civil Contratual.6 
 
 
5 Sousa Bezerra. 2010. Acesso digital. 
6 Idem 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 25 
 
 
5.2 RESPONSABILIDADE EXTRA CONTRATUAL 
Em relação à Responsabilidade Civil Extracontratual, também conhecida como aquiliana, o 
agente não tem vínculo contratual com a vítima, mas, tem vínculo legal, uma vez que, por conta 
do descumprimento de um dever legal, o agente por ação ou omissão, com nexo de causalidade e 
culpa ou dolo, causará à vítima um dano. 
Ambas as figuras de responsabilidade civil estão fundamentadas, genericamente, nas palavras do 
artigo 186 do Código Civil, in verbis: 
CC. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, 
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano 
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato 
ilícito. 
Desse modo, pode-se verificar que a única diferença entre as duas figuras de responsabilidade civil 
encontra-se no fato de a primeira existir em razão de um contrato que vincula as partes e, a segunda 
surge a partir do descumprimento de um dever legal.7 
6 INADIMPLEMENTO OBRIGACIONAL 
A regra é a de que a obrigação nasce para ser cumprida (pacta sunt servanda), através do 
adimplemento ou pagamento. O inadimplemento é o descumprimento da obrigação assumida, 
voluntaria ou involuntariamente, do estrito dever jurídico criado entre os que se comprometeram 
a dar, a fazer ou a se omitir de fazer algo, ou o seu cumprimento parcial, de forma incompleta ou 
mal feita. 
A inadimplência operar-se no descumprimento das obrigações nas seguintes formas: 
 Obrigações de dar: quando o devedor recusa a entrega, devolução ou restituição da coisa. 
 Obrigações de fazer: quando se deixar de cumprir a atividade devida.7 Idem 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 26 
 
 
 Obrigações negativas: quando se executa o ato de que se devia abster. 
 Obrigações personalíssimas: quando a obrigação de fazer não é executada pela pessoa 
determinada, cujas qualidades pessoais são essenciais ao cumprimento da prestação, não 
podendo ser substituída.8 
6.1 CLASSIFICAÇÃO DO INADIMPLEMENTO 
O inadimplemento obrigacional pode ser classificado de algumas formas levando-se em conta 
suas características. 
6.1.1 Quanto ao alcance do inadimplemento 
6.1.1.1 Absoluto 
Ocorre inadimplemento absoluto quando o avençado não pode mais ser adimplido de nenhuma 
forma, sendo única solução resolver o negócio por perdas e danos. 
6.1.1.2 Relativo 
É aquele que ainda pode ser cumprido mesmo após o vencimento da obrigação – é a mora ou 
atraso. 
6.1.1.3 Simultaneidade de tipos de inadimplemento 
Cuidado pois as vezes o mesmo fato gerador pode acarretar em um inadimplemento absoluto e 
relativo ao mesmo tempo. Ex.: o estádio do Corinthians está em construção. Existe uma relação 
jurídica da empreiteira com o clube, e do clube com a FIFA. A FIFA espera que o estádio fique 
pronto para a copa do mundo. Se o estádio não ficar, ele simplesmente não poderá ser usado, e 
não adianta ele ficar pronto depois. Nesse caso, haveria um inadimplemento absoluto entre a 
FIFA e o clube Corinthians. No entanto, esse mesmo estádio, ao não ficar pronto para a copa, 
ainda será utilizado pelo clube. Então, na relação entre o clube e a empreiteira, o fato de o estádio 
 
 
8 Anônimo (Direito das obrigações/inadimplemento). Acesso digital. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 27 
 
 
não ficar pronto para a copa é inadimplemento relativo, uma vez que ele poderá ser concluído, 
mesmo que fora do prazo (obviamente caberão as devidas indenizações ao clube pelo atraso). 
Por isso, note que a mesma construção (obrigação) pode acarretar simultaneamente em 
inadimplemento absoluto e relativo. 
6.1.2 Quanto à voluntariedade 
6.1.2.1 Inadimplemento voluntário 
O inadimplemento voluntário é aquele em que se agiu com culpa. Esse inadimplemento gera a 
sanção do artigo 389 do código civil. 
Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor 
por perdas e danos, mais juros e atualização monetária 
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e 
honorários de advogado. 
6.1.2.2 Inadimplemento involuntário 
É o inadimplemento gerado pelo caso fortuito ou força maior. Não são sofridos os efeitos do 
inadimplemento por causa do artigo 392 do código civil. 
Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples 
culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por 
dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos 
onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo 
as exceções previstas em lei. 
Um parênteses para um lembrete... 
7 O CASO FORTUITO E A FORÇA MAIOR 
7.1 CONCEITOS 
São muitos os conceitos para o caso fortuito e força maior... 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 28 
 
 
7.1.1 1º conceito 
 Caso fortuito = força da natureza 
 Força maior = ação humana 
7.1.2 2º conceito 
 Caso fortuito = imprevisível 
 Força maior = Inevitável 
7.1.3 3º conceito 
Pouco importa saber a diferença entre um e outro, pois os efeitos que eles causam são os 
mesmos: 
 Caso Fortuito = Exclusão da responsabilidade civil 
 Força Maior = Exclusão da responsabilidade civil 
7.1.4 4º conceito 
Celso Antonio Bandeira de Melo inverte o conceito, dizendo que caso fortuito é ação humana, e 
força maior é força da natureza, mas isso vale para direito administrativo. 
7.2 O FORTUITO EXTERNO E INTERNO 
Para o CDC, não é qualquer caso fortuito ou força maior que pode ser alegada para exclusão de 
responsabilidade para o direito consumerista. 
7.2.1 Fortuito interno 
O fortuito interno é aquele que faz parte da atividade desenvolvida. Ex.: O banco exerce uma 
atividade financeira de guarda e disponibilização de valores que faz com que seja esperado de 
sua atividade o risco de roubos, assaltos, etc. Se esse tipo de incidente ocorre, o banco não pode 
alegar que foi fortuito para se eximir de responsabilidade. Esse tipo de fortuito é esperado pela 
atividade que ele realiza, e por isso não exime sua responsabilidade. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 29 
 
 
7.2.2 Fortuito externo 
O fortuito externo é aquele que não faz parte da atividade desenvolvida, inexistindo 
responsabilidade do fornecedor. Ex.: o mesmo banco é destruído porque o prédio vizinho ruiu. 
Esse caso fortuito ocorreu de forma totalmente alheia à atividade bancária, e por isso justifica a 
ausência de responsabilidade. 
Fechando os parênteses e voltando à teoria do inadimplemento... 
8 TEORIA DO INADIMPLEMENTO (CONT.) 
8.1 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
Hoje em dia, é possível pedir a condenação da outra parte nos honorários contratados além dos 
sucumbenciais. 
Lembre-se que há dois tipos de honorários – os contratados e os sucumbenciais. 
Os honorários contratados advém do contrato de prestação de serviços advocatícios que foi 
celebrado pelas partes (advogado e cliente). 
Os honorários sucumbenciais são um prêmio concedido à parte vencedora de uma demanda. 
Então sim, pode haver a condenação nos honorários contratados também, desde que 
devidamente comprovado, ou seja, sejam juntadas provas que demonstrem a contratação do 
serviço, no caso o contrato de prestação de serviços de advocacia celebrado entre o advogado 
vencedor e seu cliente. 
Além disso, não se pode cobrar honorários advocatícios sem o efetivo exercício da advocacia. 
Ex.: acordo de condomínio. Normalmente condomínios que realizam acordos com os 
condôminos por causa de atraso de pagamento incluem, além de mora, juros, etc, - honorários 
advocatícios, sem que houvesse qualquer intervenção de advogado no caso. O condômino pode 
e deve se recusar a pagar o que foi inserido a título de taxa de advogado nessas situações em que 
o exercício da advocacia não se deu de forma comprovada. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 30 
 
 
8.2 JUROS 
8.3 ESPÉCIES DE JUROS 
Há dois tipos de juros – os remuneratórios e os moratórios. 
8.3.1 Remuneratórios 
São os que decorrem de uma remuneração. Tem relação com a remuneração de um devido 
capital, como por exemplo o empréstimo, cheque especial, financiamento, etc. Logo, quando 
realiza-se um contrato de empréstimo bancário e há a incidência de juros, esses juros não são 
devidos a atraso, mas sim a própria remuneração pelo capital que está sendo emprestado. 
8.3.2 Moratórios 
São os que decorrem da mora, ou seja, do inadimplemento temporal do pagamento. 
8.3.3 Quanto se pode cobrar de juros? 
Os juros dos imortais são os juros das instituições financeiras – são os juros financeiros. O 
limite dos juros estabelecidos para as instituições financeiras é realizado pelo BACEM, e esse 
limite é muito alto. 
Os juros máximos dos mortais são os juros dos demais – juros civis. Eles são previstos no 
código civil e no CTN. 
Artigo 161, § 1º do CTN. § 1º Se a lei não dispuser de 
modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de 
um por cento ao mês. 
O CTN diz que a taxa máxima moratória é de 1% ao mês – 12% ao ano. 
O código civil se omite no tema. Alguns juristas dizem que deveria ser aplicada a SELIC do artigo 
406, mas o STJ já decidiu que o aplicável é o mesmo limite contido no código tributário nacional. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 31 
 
 
Art. 406. Quando os juros moratórios não forem 
convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou 
quando provieremde determinação da lei, serão fixados 
segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do 
pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. 
8.4 CORREÇÃO MONETÁRIA 
“Correção monetária é o remédio para a inflação”. 
O que ocorre é que o que R$ 100,00 compram hoje, daqui a cinco anos, será menos, por causa 
da inflação. Obviamente, a inflação ocorre diariamente, em quantidade muito pequena, sendo 
praticamente imperceptível em uma economia estável. Mas quando vista sob a ótica de prazos 
maiores, a diferença do poder de compra é bastante sensível, mesmo em boas economias. 
Por isso, a correção monetária visa atualizar valores para que haja uma conversão eficaz nas 
transações a fim de evitar prejuízos e injustiças para as partes levando-se em conta a mudança 
do poder de compra da moeda. 
Há vários índices que tentam medir a inflação e portanto influenciam nas correções monetárias, 
como IGPM, IPCA, IPC, etc. 
8.5 CLÁUSULA PENAL 
Clausula penal é sinônimo de multa. Tem dois tipos: 
8.5.1 Indenizatória 
Multa indenizatória é aquela que visa tutelar antecipadamente as perdas e danos pelo 
inadimplemento, além de impor um efeito psicológico inibitório do inadimplemento. 
Obviamente, se ela é indenizatória e visa inibir o inadimplemento do negócio principal, essa 
multa não pode ser superior ao objeto contratado. Ela se aplica aos inadimplementos absolutos. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 32 
 
 
Art. 412. O valor da cominação imposta na cláusula 
penal não pode exceder o da obrigação principal. 
8.5.2 Moratória 
Não pode ser tão pesada quanto a indenizatória, mas também tem viés de inibição, pois a 
obrigação ainda pode ser executada. O clausula penal moratória é usada nos casos de 
inadimplemento relativo. 
Normalmente a multa moratória é de 10%, por causa do máximo da lei de usura – o decreto lei 
22626/33. 
O código de defesa do consumidor, no seu art. 52, § 1º, diz: 
 § 1° As multas de mora decorrentes do 
inadimplemento de obrigações no seu termo não 
poderão ser superiores a dois por cento do valor da 
prestação.(Redação dada pela Lei nº 9.298, de 
1º.8.1996) 
Então, para relações de consumo, os juros máximos que podem ser cobrados são de 2%. 
8.6 DESCONTO DE PONTUALIDADE 
Algumas instituições praticam o chamado desconto de pontualidade (a FMU é exemplo). O 
desconto de pontualidade consiste em um incentivo ao adimplemento de uma obrigação em seu 
prazo correto. Ele não tem previsão legislativa, consistindo em uma liberalidade da instituição 
em questão. 
8.7 RESUMO DA ÓPERA 
Então, finalizando o inadimplemento, quando ele acontece, normalmente temos a cumulação 
dos seguintes institutos contra o devedor: 
 Perdas e Danos (Se o inadimplemento for absoluto); 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 33 
 
 
 Honorários advocatícios; 
 Juros moratórios; 
 Correção monetária; 
 Clausula penal (multa) de 10% (ou 2% se for CDC); 
AULA 05 – 07 DE MARÇO DE 2014 
9 PRINCÍPIOS CONTRATUAIS 
9.1 AUTONOMIA PRIVADA 
É chamado também de princípio da “autonomia da vontade”. Esse termo é criticado pois a 
vontade não é autônoma, mas sim limitada pela lei e pelos princípios. Por isso, a nomenclatura 
atual é “Autonomia Privada”, do professor italiano Belingieri, que é a mais aceita, pois esta 
nomenclatura indica que existe uma autonomia privada, restrita pelas normas de ordem pública. 
Pela escola clássica, o princípio da autonomia da vontade aduz que “as partem têm a faculdade 
de celebrar ou não contratos, sem a interferência do Estado. Representa a ampla liberdade, seja 
através de contratos nominados ou inominados.”9 
Atualmente sabe-se que este princípio, embora vigente, é bastante mitigado, vez que as partes 
não tem liberdade plena de contratar, não só em razão de restrições legais mas também em 
razão de restrições mercadológicas. Há por exemplo os contratos de adesão (Não se pode discutir 
clausula), e os contratos com dirigismo contratual – que é o estado dirigindo a ordem e aplicação 
de um contrato. Há pessoas que são vulneráveis e que precisam ser protegidas, e por isso a lei 
direciona e regulamenta contratos para que favoreçam os menos favorecidos. 
 
 
9 Carlos Fontes, José. 2009. Acesso digital. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 34 
 
 
O princípio da autonomia privada é fundamental para a existência do contrato. Embora ele esteja 
mitigado, ele tem que continuar existindo, uma vez que a vontade é condição sine qua non para 
a validade contratual. 
Conclui-se então que este princípio existe na medida que a vontade é condição para a celebração 
do contrato, mas que ele é mitigado pela lei e pelas normas do mercado – especialmente no que 
tange contratos de adesão. 
9.2 FORÇA OBRIGATÓRIA DOS CONTRATOS 
É uma relação de causa e efeito – a causa da relação 
contratual é a assinatura, e o efeito é o adimplemento ou 
inadimplemento. 
Os contratos nascem para serem adimplidos. É o Pacta Sunt 
Servanda, ou seja, o contrato faz lei entre as partes. 
Note que não há dispositivo no código civil que estabeleça o 
pacta sunt servanda expressamente, mas há dispositivos que 
forçam o cumprimento do contrato, estabelecendo esta ideia implicitamente: 
Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor 
por perdas e danos, mais juros e atualização monetária 
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e 
honorários de advogado. 
Este princípio reflete a força que tem o contrato na vinculação das partes, que são obrigadas ao 
cumprimento do pacto. Embora o princípio da autonomia da vontade estabeleça que ninguém é 
obrigado a contratar, uma vez, entretanto, efetivado o acordo de vontades, e sendo o contrato válido 
e eficaz, as partes são obrigadas a cumpri-lo. 
Este princípio decorre de dois pontos básicos: 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 35 
 
 
a) a segurança jurídica dos negócios que representa uma função social dos contratos. Se o 
descumprimento dos contratos fosse livre de qualquer coerção, as relações de negócios se 
transformariam em desordem e insegurança. 
b) a intangibilidade ou imutabilidade do contrato 
O contrato faz lei entre as partes. A intangibilidade do contrato faz com que as partes sejam 
obrigadas a respeitá-lo,( pacta sunt servanda), não podendo ser alterado de forma unilateral. 
O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se 
expressamente não se houver por eles responsabilizado. O caso fortuito ou de força maior verifica-
se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir (CC, art. 393).10 
9.3 FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS 
Até então vimos princípios que foram colocados durante a modernidade. Os dois princípios que 
veremos agora são contemporâneos, ou seja, são ainda mais modernos e foram inseridos nos 
ordenamentos jurídicos recentes após as grandes guerras. 
A função social dos contratos é um princípio de ordem pública - é norma cogente -, e sua 
inobservância acarreta nulidade absoluta do negócio jurídico: 
CC. Art. 2035. Parágrafo único. Nenhuma convenção 
prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, 
tais como os estabelecidos por este Código para 
assegurar a função social da propriedade e dos contratos. 
Mas e o conceito de função social do contrato? Ele é aberto, vários autores conceituam de forma 
diversa, mas o sentido geral é o de que não é apenas o indivíduo que importa, mas sim a 
coletividade. 
 
 
10 Idem 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 36 
 
 
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida emrazão 
e nos limites da função social do contrato. 
O que ocorre é que este princípio tão importante não é conceituado pelo código. Ele deve ser 
analisado nos casos concretos. A função social é encontrada pelo julgador na análise do fato. Por 
exemplo, teoricamente, nada poderia impedir que uma empresa adquirisse outra 
sendo o negócio lícito, válido e eficaz. Entretanto, sabe-se que aquisições devem 
passar por um crivo de órgãos fiscalizadores, exatamente para evitar abuso de 
poder perante a ordem econômica. Ora, isso se demonstra como uma manifestação 
da função social, ou seja, o poder de contratar individual sendo mitigado em prol 
de uma coletividade. 
A função social tem aspectos internos e externos: 
9.3.1 Eficácia interna da função social 
É exemplo a proteção da parte mais vulnerável em um contrato, a aplicação da dignidade da 
pessoa humana nas relações contratuais, a vedação da onerosidade excessiva, e a preservação 
contratual. 
Essas exemplos são de eficácia interna, ou seja, se aplica diretamente às partes contratantes. 
9.3.2 Eficácia externa da função social 
Achar que os contratos só fazem efeitos entre as partes contratantes não é entender o impacto 
deles na sociedade. A eficácia externa da função social consiste em levar em conta os impactos 
do contrato na sociedade e, se negativos, mitiga-los, minimizando o dano que eles causariam o 
máximo possível. 
Ex.: Tutela externa do crédito – quando não se tem relação com a parte contratante mas são 
sofridos efeitos deste contrato sem participar dele – então há eficácia externa. 
Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em 
contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a este 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 37 
 
 
a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste 
desfeito, houvesse de caber durante dois anos. 
Pelo exemplo deste artigo, temos a premissa de que A presta serviços laborais contínuos para B. 
C pode tentar aliciar A para que este passe a trabalhar para o C, inclusive com a intenção de 
conseguir informações internas privilegiadas de B. Nesse caso, C deverá indenizar B pelo que B 
pagaria ao A durante dois anos. É um claro caso de tutela externa do crédito, ou seja, uma pessoa 
de fora do contrato sofrendo os efeitos dele – e por isso um exemplo válido de eficácia externa 
da função social. 
9.4 BOA FÉ 
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados 
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. 
Salienta-se que o campo de atuação da boa-fé seja bastante vasto, é grande a dificuldade em sua 
conceituação, em razão de comportar uma série de significados, dependendo do lado em que se 
olha, seja por um prisma subjetivo ou objetivo, como princípio ou cláusula geral. 
O grande valor dado à boa-fé, constitui uma das mais importantes diferenças entre o Código Civil 
de 1916 e o de 2.002, que o substituiu. 
Acredita-se que a Boa-Fé, ou sua noção, surgiu a priore no Direito Romano, tendo uma conotação, 
uma hermenêutica diferenciada pelos juristas alemães, em Roma, pode-se afirmar que “A fides 
seria antes um conceito ético do que propriamente uma expressão jurídica da técnica. Sua 
jurisdição só iria ocorrer com o incremento do comércio e o desenvolvimento do jus gentium, 
complexo jurídico aplicável a romanos e a estrangeiros”, no direito Alemão, o que se entende por 
boa-fé é a fórmula do Treu und Glauben (lealdade e confiança), regra que era observada nas 
relações jurídicas, e, que se aproxima da interpretação que ocorre no Brasil. 
No Brasil, a Constituição Federal de 1988, nos trouxe alguns princípios de grande relevância, além 
de promover uma reinterpretação do direito civil e processual civil. A Primeira 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 38 
 
 
Hoje em dia, a boa-fé age principalmente como princípio amparado pela ética inspiradora da ordem 
jurídica e a aplicação das normas existentes. Diante de um princípio de tão grande importância, 
podemos afirmar que é um dos princípios que mais influencia o sistema jurídico brasileiro, 
representando o reflexo da ética no fenômeno jurídico. 
A boa-fé é o foco, na esfera do qual girou a alteração da Lei Civil Brasileira, da qual cumpre 
salientar dois artigos, o de nº 113, segundo o qual “os negócios jurídicos devem ser interpretados 
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”, e o art. 422, que assevera in verbis, “os 
contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os 
princípios de probidade e boa-fé.11 
9.4.1 Boa Fé Subjetiva 
A BOA FÉ CRENÇA 
Antes de falar da objetiva, é importante saber que existe a boa-fé subjetiva, que está prevista no 
código civil, dentro do direito das coisas, e está ligada à intenção ou conhecimento do agente 
acerca de um fato. 
A boa-fé subjetiva é também conhecida como boa-fé crença, isto porque, diz respeito a substâncias 
psicológicas internas do agente. 
É conhecida pela maioria dos operadores da ciência jurídica, pela simples razão de estar presente 
no código Civil de 1916, em linhas gerais, (...) consiste em uma situação psicológica, estado de 
espírito ou ânimo do sujeito, que realiza algo, ou, vivência um momento, sem ter a noção do vício 
que a inquina. 
Geralmente, o estado subjetivo, deriva da ignorância do sujeito, a respeito de determinada situação, 
ocorre, por exemplo, na hipótese do possuidor da boa-fé subjetiva, que desconhece o vício que 
macula a sua posse. Assim, neste caso do exemplo, o legislador cuida de ampará-lo, não fazendo 
o mesmo em relação ao possuidor de má-fé. 
 
 
11 SILVA DO AMARAL, DIEGO MARTINS. 2009. Acesso digital. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 39 
 
 
Na aplicação dessa boa-fé, o juiz deverá se pronunciar acerca do estado de ciência ou de ignorância 
do sujeito. O doutrinador Menezes Cordeiro, esclarece sobre tal afirmação: 
"Perante uma boa-fé puramente fática, o juiz, na sua aplicação, terá de se pronunciar sobre o 
estado de ciência ou de ignorância do sujeito. Trata-se de uma necessidade delicada, como todas 
aquelas que impliquem juízos de culpabilidade e, que, como sempre, requer a utilização de 
indícios externos. Porém, no binômio boa-má fé, o juiz tem, muitas vezes, de abdicar do elemento 
mais seguro para a determinação da própria conduta. (...) Na boa-fé psicológica, não há que se 
ajuizar da conduta: trata-se, apenas de decidir do conhecimento do sujeito. (...) O juiz só pode 
propanar, como qualquer pessoa, juízos em termos de normalidade. Fora a hipótese de haver um 
conhecimento direto da má-fé do sujeito – máxime por confissão – os indícios existentes apenas 
permitem constatar que, nas condições por ele representadas, uma pessoa, com o perfil do agente, 
se encontra, numa óptica de generalidade, em situação de ciência ou ignorância." 
O grande doutrinador, Dr. Bruno Lewicki, esclarece sobre a concepção de boa-fé subjetiva: 
“(...) ligada ao voluntarismo e ao individualismo que informam o nosso Código Civil, é 
insuficiente perante as novas exigências criadas pela sociedade moderna. Para além de uma 
análise de uma possível má-fé subjetiva no agir, investigação eivada de dificuldades e incertezas, 
faz-se necessária a consideração de um patamar geral de atuação, atribuível ao homem médio, 
que pode ser resumido no seguinte questionamento: de que maneira agiria o bônus pater familiae, 
ao deparar-se com a situação em apreço? Quais seriam as suas expectativas e as suas atitudes, 
tendo em vista a valoração jurídica, histórica e cultural do seu tempo e de sua comunidade” 
 “A resposta a esses questionamentos, encontra-se na boa-fé objetiva, sendo que esta, 
consisteem uma imprescindível regra de comportamento, umbilicalmente ligada à eticidade que 
se espera seja observada em nossa ordem social.” 
Cumpre mais uma vez salientar que apenas no que se refere à boa-fé subjetiva é que pode-se 
utilizar do consagrado brocado do doutrinador Stoco de que "a boa-fé constitui atributo natural do 
ser humano, sendo a má-fé o resultado de um desvio de personalidade”. 
Assim, podemos chegar à conclusão que a boa-fé subjetiva se refere ao estado psicológico da 
pessoa, consistente na justiça, ou, na licitude de seus atos, ou na ignorância de sua 
antijuricidade. Alípio Silveira a chamou de boa-fé crença, conforme já citado e Fábio Ulhoa 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 40 
 
 
Coelho definiu como “a virtude de dizer o que acredita e acreditar no que diz”. Assim, aquele 
que se encontra em uma situação real, e imagina estar em uma situação jurídica, age com boa fé 
subjetiva.12 
9.4.2 Boa Fé Objetiva 
A BOA FÉ LEALDADE 
O professor Flavio Tartuce teoriza a boa-fé objetiva como um contraponto da subjetiva, porque 
“boas intenções todo mundo tem”, e “de boas intenções o inferno está cheio”. Então, no contrato, 
não basta estar bem intencionado, mas sim ter algo a mais, que é a boa-fé objetiva – que nada 
mais são do que deveres de conduta. 
Então não basta simplesmente o dar, fazer, ou não fazer, mas sim um algo a mais. Quanto aos 
deveres, o contrato agora parece um casamento. Há dever de cuidado com a outra parte, 
respeito, informação, transparência, colaboração, e confiança. 
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim 
na conclusão do contrato, como em sua execução, os 
princípios de probidade e boa-fé. 
O código diz que deve haver boa-fé, mas a lei não conceitua boa-fé, muito menos diferencia a 
subjetiva da objetiva. Quem conceitua então é a doutrina e jurisprudência. Criam-se então 
conceitos parcelares de boa-fé objetiva, uma vez que os conceitos são realizados pelos juristas. 
A boa-fé objetiva se apresenta como um princípio geral que estabelece um roteiro a ser seguido 
nos negócios jurídicos, incluindo normas de condutas que devem ser seguidas pelas partes, ou, por 
outro lado, restringindo o exercício de direitos subjetivos, ou, ainda, como um modo hermenêutico 
das declarações de vontades das partes de um negócio, em cada caso concreto. 
 
 
12 Idem 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 41 
 
 
Ao se ter um lado objetivo para o princípio da boa-fé, o juiz deixou de ter que seguir estritamente 
o que consta em lei, podendo fazer a justiça, de modo singular em cada caso concreto [que] apareça. 
Como prova dos bons ventos da influência alemã, é que o Código Civil italiano (1942), português 
(1966), espanhol (1974) dentre outros, aderiram ao princípio da boa-fé objetiva em suas jurisdições. 
A boa-fé objetiva, ou simplesmente, boa-fé lealdade, relaciona-se com a lealdade, honestidade e 
probidade com a qual a pessoa mantém em seu comportamento. 
Trata-se de ética. Um exemplo dessa mencionada ética é um dever de guardar fidelidade à palavra 
dada ou ao comportamento praticado, na ideia de não fraudar ou abusar da confiança do outrem. 
Cuidado: A boa-fé objetiva não se opõe à má-fé (quem o faz é a boa-fé subjetiva), 
nem tampouco tem relação com o fato da ciência que o sujeito possui perante a 
realidade. 
Importante destacar que somente com a criação do Código do Consumidor em 1990, é que a boa-
fé objetiva foi realmente consagrada em nosso ordenamento jurídico. Derivada dos dizeres 
constitucionais, essa modalidade de boa-fé começou então a ser utilizada para interpretações 
contratuais, integração de obrigações pactuadas, mostrando-se absolutamente fundamental, para 
que as partes de um negócio jurídico pudessem agir com lealdade perante o outrem, até o 
cumprimento de suas obrigações. 
O culto Menezes Cordeiro, em obra sobre o tema, acrescenta que: “A boa-fé apenas normatiza 
certos factos que, estes sim, são fonte: mantenha-se o paralelo com a fenomenologia da eficácia 
negocial: a sua fonte reside não na norma que mande respeitar os negócios, mas no próprio 
negócio em si.” 
No mesmo seguimento, cumpre-nos observar que a doutrina, destaca as seguintes funções da boa-
fé objetiva: 
Função interpretativa e de colmatação; 
Função criadora de deveres jurídicos anexos ou de proteção; 
Função delimitadora do exercício de direitos subjetivos. 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 42 
 
 
9.4.2.1 Função interpretativa e de colmatação13. 
É a função mais conhecida pela doutrina, sendo que nesta, o operador do direito tem, na boa-fé 
objetiva, um referencial de interpretação de grande valia, para poder extrair do objeto de questão, 
o sentido moral mais recomendado e socialmente mais útil. 
Essa função tem a estreita conexão com o art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, o qual o 
juiz deve aplicar atendendo os seus fins sociais e os questionamentos do bem comum. 
LICC. Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins 
sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. 
O art. 113 do C.C. dispõe desta base interpretativa: 
“Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados 
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração” 
 No mesmo sentido, insta ressaltar que a boa-fé objetiva serve como um alicerce de 
colmatação para orientar o magistrado em casos que ocorram integração de lacunas. 
9.4.2.2 Função criadora de deveres jurídicos anexos ou de proteção. 
A boa-fé possui essa importante função criadora de deveres anexos ou de proteção. 
Sem querer esgotar tais deveres, somente a título de exemplificação, vale mencionar os deveres 
mais conhecidos: 
 Lealdade e confiança recíprocas; 
 Assistência; 
 
 
13 Segundo o dicionário Priberam da língua portuguesa, colmatação é derivação fem. sing. de colmatar: 
 col·ma·tar 
(Francês: colmater) 
Verbo transitivo 
1. Encher uma depressão ou abertura com determinado material. = TAPAR 
2. Corrigir ou completar as falhas de alguma coisa. 
3. Fazer a colmatagem de. 
 
"colmatação", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, 
http://www.priberam.pt/dlpo/colmata%C3%A7%C3%A3o 
 
Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 43 
 
 
 Informação; 
 Sigilo ou confidencialidade. 
Todos esses, e, ainda, os não citados, já que este rol não é taxativo, derivam desta grande força 
criadora da boa-fé objetiva. 
9.4.2.3 Função delimitadora do exercício de direitos subjetivos. 
Por fim, tem-se a função delimitadora do exercício de direitos subjetivos. 
A boa-fé objetiva, além de outros, também tem o condão de evitar o exercício abusivo aos direitos 
subjetivos. Algo que raramente existe nos dias de hoje, essa “tirania dos direitos”. Por isso que não 
se pode mais aceitar, algo como as “cláusulas leoninas ou abusivas”, seja em relações de consumo, 
ou, contratos cíveis em geral. 
Um exemplo real do tema em comento, é o dispositivo contratual que prevê a impossibilidade de 
se aplicarem as normas da teoria da imprevisão (onerosidade excessiva), em prol de parte 
prejudicada. 
Assim, observamos que cabe também à boa-fé, essa função delimitadora. 
Sobre o assunto, vale frisar os artigos 51 do CDC e 187 do C.C. 
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as 
cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de 
produtos e serviços que: 
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a 
responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer 
natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia 
ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre 
o fornecedor e o consumidor pessoa

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