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Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 1 Direito Civil Aplicado "Pouco importa às pessoas saber que têm os direitos reconhecidos em princípio, se o exercício deles lhes é negado na prática." Francisco Sá Carneiro Por Rommel Andriotti 1º semestre de 2014 Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 2 NOTA DA EDIÇÃO Olá caro colega, e seja bem-vindo ao maravilhoso mundo do Direito! O resumo que você tem em mãos foi confeccionado com o maior esmero possível, e é resultado do meu entendimento das aulas que assisti e das pesquisas que realizei sobre o tema. Em razão disso, nenhum professor, aluno, instituição, é responsável por este conteúdo. Ele foi elaborado como um caderno de estudante, e por isso não há garantia de isenção de erros. Entretanto, conforme mencionado, o que você lerá foi confeccionado com muita dedicação, e por isso certamente poderá acrescentar valor aos seus estudos. É importante ressaltar ainda que esse material não tem fins lucrativos. Você tem minha autorização para utiliza-lo como desejar, bem como para divulgar esse material a vontade. Conhecimento é para ser disseminado, multiplicado e perpetuado! Por fim, com a devida vênia, gostaria de com essas poucas palavras dedicar este material à minha mãe, Cristina Andriotti, cujo apoio irrestrito e encorajamento constante me são indispensáveis na perseguição de meus objetivos. Como ler esse material Cada aula é iniciada com um título grande que indica o número da aula, a data que ela me foi lecionada, e seu tema principal. Ex.: AULA C4 (12.12.2013) - OS REGIMES DE CASAMENTO Depois, vocês verão textos corridos, eventualmente divididos por outros títulos e subtítulos, como esse: 1. As citações Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 3 Quando eu for citar algum autor, jurisprudência, notícias, etc., eu seguirei padrões para facilitar a identificação do que está sendo lendo. O layout normal é este que você está lendo agora. Quando eu fizer um comentário pessoal, ele estará escrito dessa forma, como anotações em um caderno. Se eu transcrever uma citação ou dica especifica do professor, a observação estará assim, em giz. Quando transcrevermos um artigo de lei, ele estará assim: CF. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...) Ao transcrevermos uma sumula ou jurisprudência o layout será esse: STF Súmula nº 691 - 24/09/2003 - DJ de 9/10/2003, p. 5; DJ de 10/10/2003, p. 5; DJ de 13/10/2003, p. 5. Competência - Conhecimento de Habeas Corpus Contra Indeferimento de Liminar em HC Impetrado em Tribunal Superior. Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar. (Conhecimento na Hipótese de Flagrante Constrangimento Ilegal - HC 85185, HC 86864 MC-DJ de 16/12/2005 e HC 90746-DJ de 11/5/2007)! Se eu for citar um filosofo ou mesmo um cientista antigo, a fonte será essa, como se escrito em papiro. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 4 Se faremos uma citação jornalística, a forma será a seguinte, em homenagem à máquina de escrever: Folha de São Paulo - 23/08/2013 - 23h40 Brigas de Joaquim Barbosa com membros do STF são tema de matéria do 'New York Times' As brigas entre Joaquim Barbosa e os demais membros do (STF) Supremo Tribunal Federal foram tema de matéria do jornal americano "The New York Times" nesta sexta- feira (23). À publicação, o chefe do Judiciário brasileiro voltou a dizer que não pretende se candidatar a nenhum cargo. A matéria caracterizou Barbosa como uma pessoa "direta" e "sem medo de aborrecer o status quo". "Quando o presidente do Tribunal, Joaquim Barbosa, adentra a corte, os outros dez ministros se preparam para o que pode vir depois", escreveu o correspondente americano Simon Romero, que viajou do Rio à Brasília para a entrevista.1 Por fim, estrangeirismos estarão em itálico (fumus boni iuris et Periculum in mora), e partes importantes estarão devidamente destacadas. Você pode ajudar na confecção desse resumo notificando quaisquer erros que você encontre ou me enviando material para complementarmos a aula. Estarei disponível 24/7 no e-mail: rommel.andriotti@outlook.com Enfim, espero que vocês gostem e aproveitem este material. Bons estudos! Rommel Andriotti 1 Obviamente, citações bibliográficas ou jornalísticas estarão devidamente apontadas em notas de rodapé como essa. No caso, a notícia acima foi encontrada em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/08/1331441-brigas- de-joaquim-barbosacom-membros-do-stf-e-tema-de-materia-do-new-york-times.shtml Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 5 1 SUMÁRIO 2 Direito civil constitucional .................................................................................................................................... 9 2.1 Princípios filosóficos do direito civil brasileiro atual .................................................................................... 9 2.1.1 Princípio da socialidade ....................................................................................................................... 9 2.1.2 Princípio da eticidade ........................................................................................................................ 10 2.1.3 Princípio da operabilidade ................................................................................................................. 10 3 Personalidade..................................................................................................................................................... 11 3.1 Personalidade Jurídica ............................................................................................................................... 11 3.2 Teorias para a personalidade jurídica ........................................................................................................ 12 3.2.1 Teoria da realidade ou das instituições jurídicas .............................................................................. 13 3.3 Diferença entre direitos humanos, fundamentais, e da personalidade..................................................... 13 3.4 Início do direito da personalidade ............................................................................................................. 14 3.4.1 Religiosa ............................................................................................................................................ 14 3.4.2 Doutrinária minoritária ..................................................................................................................... 14 3.4.3 Doutrinária majoritária ...................................................................................................................... 14 3.4.4 Início da atividade cerebral ............................................................................................................... 14 3.4.5 Teoria do nascimento ........................................................................................................................ 15 3.5 Correntes para a proteção do nascituro .................................................................................................... 15 3.5.1 Teoria da natalidade (ou natalista) ...................................................................................................15 3.5.2 Teoria da viabilidade ......................................................................................................................... 15 3.5.3 Teoria da concepção.......................................................................................................................... 15 3.6 Classificação dos direitos da personalidade ............................................................................................... 16 3.6.1 Direitos da personalidade ligados à Integridade física ...................................................................... 16 3.6.2 Direitos da personalidade ligados à Integridade moral ..................................................................... 16 3.6.3 Direitos da personalidade ligados à Integridade intelectual ............................................................. 16 3.7 Formas de proteção dos direitos da personalidade ................................................................................... 16 3.7.1 Tutela indenizatória ........................................................................................................................... 16 Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 6 3.7.2 Tutela Inibitória ................................................................................................................................. 17 4 Direito das obrigações........................................................................................................................................ 17 4.1 Conceito de Obrigação ............................................................................................................................... 17 4.2 O devedor para as obrigações .................................................................................................................... 18 4.3 Elementos das obrigações .......................................................................................................................... 20 4.3.1 Subjetivo ............................................................................................................................................ 20 4.3.2 Elemento objetivo ............................................................................................................................. 21 4.3.3 Elemento imaterial ............................................................................................................................ 21 4.4 Classificação das obrigações quanto a presença de dívida e responsabilidade ......................................... 22 4.4.1 Obrigações perfeitas ......................................................................................................................... 22 4.4.2 Obrigações imperfeitas ..................................................................................................................... 22 4.5 Conceito de Obrigação ............................................................................................................................... 24 5 Responsabilidade Civil ........................................................................................................................................ 24 5.1 Responsabilidade contratual ...................................................................................................................... 24 5.2 Responsabilidade extra contratual ............................................................................................................ 25 6 Inadimplemento obrigacional ............................................................................................................................ 25 6.1 Classificação do Inadimplemento .............................................................................................................. 26 6.1.1 Quanto ao alcance do inadimplemento ............................................................................................ 26 6.1.2 Quanto à voluntariedade .................................................................................................................. 27 7 O caso fortuito e a força maior .......................................................................................................................... 27 7.1 Conceitos .................................................................................................................................................... 27 7.1.1 1º conceito ........................................................................................................................................ 28 7.1.2 2º conceito ........................................................................................................................................ 28 7.1.3 3º conceito ........................................................................................................................................ 28 7.1.4 4º conceito ........................................................................................................................................ 28 7.2 O fortuito externo e interno ...................................................................................................................... 28 7.2.1 Fortuito interno ................................................................................................................................. 28 7.2.2 Fortuito externo ................................................................................................................................ 29 Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 7 8 Teoria do inadimplemento (cont.) ..................................................................................................................... 29 8.1 Honorários advocatícios ............................................................................................................................. 29 8.2 Juros ........................................................................................................................................................... 30 8.3 Espécies de juros ........................................................................................................................................ 30 8.3.1 Remuneratórios ................................................................................................................................. 30 8.3.2 Moratórios ......................................................................................................................................... 30 8.3.3 Quanto se pode cobrar de juros? ...................................................................................................... 30 8.4 Correção monetária ................................................................................................................................... 31 8.5 Cláusula penal ............................................................................................................................................ 31 8.5.1 Indenizatória...................................................................................................................................... 31 8.5.2 Moratória .......................................................................................................................................... 32 8.6 Desconto de pontualidade ......................................................................................................................... 32 8.7 Resumo da ópera ....................................................................................................................................... 32 9 Princípios contratuais ......................................................................................................................................... 33 9.1 Autonomia privada .....................................................................................................................................33 9.2 Força obrigatória dos contratos ................................................................................................................. 34 9.3 Função social dos contratos ....................................................................................................................... 35 9.3.1 Eficácia interna da função social ....................................................................................................... 36 9.3.2 Eficácia externa da função social ....................................................................................................... 36 9.4 Boa fé ......................................................................................................................................................... 37 9.4.1 Boa Fé Subjetiva ................................................................................................................................ 38 9.4.2 Boa Fé Objetiva ................................................................................................................................. 40 9.4.3 Institutos derivados da boa fé ........................................................................................................... 44 10 Da proteção contratual e comparação com o CDC ............................................................................................ 46 11 Responsabilidade civil extracontratual .............................................................................................................. 53 11.1 Diferenciação entre responsabilização civil e criminal .......................................................................... 53 11.2 Da independência entre as instancias ................................................................................................... 53 11.3 Do abuso de direito ............................................................................................................................... 54 Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 8 11.4 Elementos da responsabilidade civil ...................................................................................................... 54 11.4.1 Ação ou omissão ................................................................................................................................ 54 11.4.2 Dano .................................................................................................................................................. 55 11.4.3 Nexo de causalidade .......................................................................................................................... 58 11.4.4 Culpa .................................................................................................................................................. 58 12 Propriedade........................................................................................................................................................ 59 12.1 Conceito ................................................................................................................................................. 59 12.2 Atributos ................................................................................................................................................ 59 13 Posse .................................................................................................................................................................. 59 14 Direitos reais ...................................................................................................................................................... 59 14.1 Alienação fiduciária em garantia ........................................................................................................... 62 15 Posse .................................................................................................................................................................. 63 15.1 Teorias da posse .................................................................................................................................... 63 15.1.1 Subjetiva ............................................................................................................................................ 63 15.1.2 Objetiva ............................................................................................................................................. 63 16 Bibliografia ......................................................................................................................................................... 64 17 Prova Regimental ............................................................................................................................................... 65 17.1 Questionário para estudo da prova ....................................................................................................... 65 17.2 Ultimas orientações ............................................................................................................................... 70 AULA 01 (31.01.2014) - INTRODUÇÃO Sistema de avaliação Não será cobrado nada além daquilo que será dito em aula. Avaliação Contínua Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 9 O aluno deverá trazer um julgado por grupo de cinco pessoas. Para o professor, entregar uma página com a ementa e os nomes dos componentes. Então o aluno registrará em uma segunda folha, no dia da avaliação, porque o julgado é relevante e importante para a matéria. Avaliação Regimental Serão 4 questões dissertativas. Bibliografia Curso de direito civil. Roberto Senise Lisboa Plano de aula Faremos uma síntese da matéria de direito civil lecionado na faculdade. 2 DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL É a aplicação dos preceitos constitucionais (direito público) em relações de direito privado. É uma nova forma de se interpretar o direito civil. 2.1 PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS DO DIREITO CIVIL BRASILEIRO ATUAL São os três princípios inseridos pelo filósofo Miguel Reale no código civil de 2002. 2.1.1 Princípio da socialidade É o princípio da função social. Função social é entendida de forma semântica. Função é a busca, objetivo. Social é o coletivo, o não individual, a comunhão. Ou seja, função social é a função que excede o indivíduo, servindo também à sociedade. A função social do direito é a estabilidade social. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 10 Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. 2.1.2 Princípio da eticidade É a presença da ética nas relações jurídicas. É exemplo a existência da boa-fé objetiva (dever de eticidade), que nada mais é do que o dever de lealdade, dever de mútuo acordo, conduta ilibada, etc. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. 2.1.3 Princípio da operabilidade É o sistema de cláusulas gerais ou “janelas abertas”. A norma deve permitir a análise do caso concreto de modo a se determinar o alcance da norma e o modo que ela se aplica ao caso. No extrato do CC que veremos a seguir, estarão grifadas expressões que se coadunam com o princípio da operabilidade (Janelas abertas), ou seja, expressões que dão liberdade ao julgador para que este avalie e aplique a norma de acordo com a realidade presente no contexto histórico que ele vive: CC. art. 1228. § 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjuntoou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. Este dispositivo, ainda que depois de 100 anos, ainda poderia ser aplicado, já que ele não está engessado com expressões que limitem o aplicador da norma. AULA 02 – 07 DE FEVEREIRO DE 2014 Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 11 3 PERSONALIDADE A personalidade é o instituto que visa a proteção que é dada à pessoa. O objetivo dos direitos da personalidade é proteger a pessoa, em regra física, mas as mesmas proteções valem para as pessoas jurídicas, desde que cabíveis a elas. Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. 3.1 PERSONALIDADE JURÍDICA O código civil traz um rol com a previsão das pessoas jurídicas de direito privado: CC. Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência) § 1o São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 12 § 2o As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) § 3o Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) O código civil também traz a previsão das pessoas jurídicas de direito público: Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno: I - a União; II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III - os Municípios; IV - as autarquias; IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada pela Lei nº 11.107, de 2005) V - as demais entidades de caráter público criadas por lei Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código. 3.2 TEORIAS PARA A PERSONALIDADE JURÍDICA Foram desenvolvidas algumas teorias que justificam a aquisição da personalidade jurídica. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 13 3.2.1 Teoria da realidade ou das instituições jurídicas O jurista francês Hauriou diz que uma pessoa só é pessoa se a lei assim o diz. Nem sempre as pessoas tiveram direito da personalidade - elas já foram bens historicamente, como o caso dos escravos. Sugestão de leitura: Guia do politicamente incorreto do Brasil Um exemplo de pessoa nova que foi criada pela lei é a sociedade individual de responsabilidade limitada, que pode ser integrada por apenas um sócio mas tem responsabilidade limitada, ou seja, funciona como uma “empresa de um homem só”, sendo resguardados os direitos protetivos do patrimônio dele caso a pessoa jurídica vier a falir2. Nota: O CNPJ tem cunho tributário. Não confundir a existência do CNJP com a existência de personalidade. O fato de uma empresa ter um CNPJ não significa que ele é uma pessoa jurídica por causa disso. Podem haver situações em que há CNPJ sem haver personalidade jurídica, como são os casos dos entes jurídicos despersonalizado. O exemplo clássico disso são os condomínios. 3.3 DIFERENÇA ENTRE DIREITOS HUMANOS, FUNDAMENTAIS, E DA PERSONALIDADE Nenhuma como regra, pois o objeto é o mesmo: a proteção da pessoa. A diferença se encontra no nível de proteção. Os direitos humanos estão protegendo a pessoa no âmbito internacional. Os direitos fundamentais por sua vez se aplicam em âmbito constitucional. Em sede de direitos infraconstitucionais, há os direitos da personalidade inseridos no direito civil. São proteções reiteradas, que se sucedem nos diversos âmbitos normativos, pois os direitos fundamentais são muito frágeis, e precisam de uma proteção qualificada. 2 Obviamente o patrimônio dele pode ser atacado nos casos de desconsideração da personalidade jurídica. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 14 3.4 INÍCIO DO DIREITO DA PERSONALIDADE CC. Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Embora o conceito pareça claro, determinar qual o início da personalidade é uma tarefa que estudiosos tentam fazer há muito tempo. De acordo com os novos textos normativos, a concepção se encontra no centro para o entendimento de quando se inicia a personalidade. Por isso, o grande alvo das discussões acadêmicas atuais sobre o tema é qual seria o momento da concepção para fins de determinação da aquisição de personalidade. Muitas teorias foram criadas para explicar qual o momento da concepção, sendo as principais as seguintes: 3.4.1 Religiosa A partir do ato da relação sexual bem sucedida (Ou seja, com a fecundação); 3.4.2 Doutrinária minoritária A concepção se dá com a união dos gametas masculinos e femininos, independentemente de relação sexual (Possibilita a inclusão de fertilização in vitro para a proteção dos direitos da personalidade); 3.4.3 Doutrinária majoritária Nidação. Essa é a corrente mais aceita no direito brasileiro. A nidação é o momento em que o embrião se fixa na parede do útero. 3.4.4 Início da atividade cerebral Segundo esta corrente, só há vida com atividade cerebral, uma vez que só há morte com o fim desta. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 15 3.4.5 Teoria do nascimento A personalidade é concedida no momento do nascimento com vida, a partir da primeira respiração. 3.5 CORRENTES PARA A PROTEÇÃO DO NASCITURO Além das teorias para quando a concepção ocorre, há teorias em forma de correntes doutrinárias para se averiguar qual a extensão e aplicabilidade da proteção dos direitos da personalidade, vejamos: 3.5.1 Teoria da natalidade (ou natalista) Interpreta de forma fria o artigo 2º. É a corrente clássica e uma das mais respeitadas. Segundo esta teoria, o nascituro tem direito à personalidade, mas somente o nascimento com vida fará com que essa personalidade lhe seja outorgada. Por essa teoria não há que se falar em alimentos gravídicos por exemplo, então, embora respeitada, ela é muito criticada, e considerada ultrapassada. 3.5.2 Teoria da viabilidade Repete a primeira em seu fim, mas difere da primeira na fundamentação. Segundo essa teoria, para ter personalidade é necessário o nascimento com vida, mas a fundamentação decorre dos elementos acidentais do negócio jurídico. A concessão da proteção à pessoa é condicionada à um evento futuro incerto, que é o nascimento. 3.5.3 Teoria da concepção A professora Maria helena Diniz defende essa teoria, que é a mais adotada atualmente. O nascituro, desde sua concepção, tem personalidade jurídica formal. O nascimento com vida verifica a personalidade jurídica material. Personalidade jurídica formal – São os direitos extrapatrimoniais; Personalidade jurídica material – São os direitos patrimoniais; Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 16 Exemplo: Herança. Aherança é um direito patrimonial, logo integra a personalidade jurídica material, o que por essa teoria já é protegido e resguardado ao nascituro. 3.6 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE O professor Rubens Limões de França classificou e dividiu esses direitos em três grandes subdivisões. Essa classificação dele é a mais adotada: 3.6.1 Direitos da personalidade ligados à Integridade física Envolve o direito à vida, disposição do próprio corpo, direito alimentar. Atenção pois o direito à disposição do próprio corpo é limitado no brasil. 3.6.2 Direitos da personalidade ligados à Integridade moral Direito à liberdade civil, liberdade política, liberdade religiosa, honra, imagem, e intimidade. 3.6.3 Direitos da personalidade ligados à Integridade intelectual Direito do autor, propriedade industrial, etc. 3.7 FORMAS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE Pergunta de prova: Como se dá a proteção dos direitos da personalidade? São duas as formas de proteção aos direitos da personalidade: 3.7.1 Tutela indenizatória A violação a um direito da personalidade acarreta em uma responsabilidade de indenizar por parte do agressor. CC. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 17 3.7.2 Tutela Inibitória A tutela inibitória é aquela que visa fazer cessar uma agressão a um direito da personalidade. CPC. Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994) AULA 03 – 21 DE FEVEREIRO DE 2014 4 DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 4.1 CONCEITO DE OBRIGAÇÃO O conceito de obrigação é.... espera.... Esse não é o momento para dizer o conceito... sim, eu sei, normalmente começa-se com o conceito... mas há alguns conceitos que não podem ser entendidos sem antes se compreender outras questões... Vamos começar entendendo a coisa, para então voltar à seu conceito.... Comecemos assim: O direito de obrigações visa preencher lacuna da vontade. O código civil inicia as obrigações com a teoria geral das obrigações, com as obrigações de dar, fazer, e não fazer, a partir do artigo 233. Depois ele trata da transferência das obrigações, falando da cessão de crédito e assunção de dívida, a partir do artigo 286. Em seguida tratamos do fim das obrigações, com duas vertentes: A teoria geral do pagamento (art. 304), e teoria geral do inadimplemento com o (art. 389). Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 18 A ideia da teoria geral do pagamento é que a obrigação começou e tem um fim natural, que pode ser com o pagamento direto (simples, com o pagamento da quantia devida), ou pagamento indireto (as vezes, o pagamento como era esperado anteriormente, e se dá de outra forma, ainda assim com consentimento entre as partes). Veja que desde o início tudo é respeitado e a obrigação se extingue conforme era esperado. Por fim, há a teoria geral do inadimplemento, tratado em seguida pelo código. 4.2 O DEVEDOR PARA AS OBRIGAÇÕES Vamos ver um exemplo simples. Pense em uma relação de locação. Nós temos o locador e o locatário. Qual deles será devedor e qual será credor? A resposta natural seria que o locatário é devedor e o locador credor. Calma, não é tão simples... veja: Há dois momentos a obrigação. Em um primeiro momento, há uma obrigação de fazer, qual seja a entrega das chaves. Nesse caso, o credor desta obrigação é o locatário. Em um segundo momento, há a obrigação do locatário pagar prestações periódicas ao locador. O locador é, portanto, credor destas obrigações. Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. Se o credor se recusa a receber, o devedor ou responsável pode promover o pagamento pelos meios adequados, existindo até ação judicial cabível para esses casos, que é a consignação em Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 19 pagamento. Note que nesse caso, quando o artigo fala “devedor”, ela está falando de “devedor” de uma quantia... Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso. Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos. Ora, se analisarmos esses dois artigos, veremos que quando o disposto traz a palavra “devedor”, ela não está se referindo à mesma posição jurídica que se encontrava o “devedor” do artigo 304 que vimos há pouco. Não, nesse caso, o “devedor” é polo passivo de uma obrigação de dar coisa/fazer. Por isso, vemos que no caso da locação, realmente há dois créditos distintos a serem recebidos por cada uma das partes, o que faz delas credora e devedora uma da outra. Temos então uma obrigação sinalagmática. Obrigação sinalagmatica é aquela que pressupõe a existência de direitos e deveres recíprocos entre os contratantes. Portanto, tiramos daí que não se pode confundir teoria geral da obrigação com teoria geral de pagamento, pois o conceito de devedor difere de uma para a outra. Para TGO, devedor é o que tem de dar, fazer, ou não fazer alguma coisa, enquanto que em TGP o devedor é aquele que tem que pagar. Seria bom você voltar a ler toda essa seção desde o “item 4. Das Obrigações” com isso em mente. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 20 4.3 ELEMENTOS DAS OBRIGAÇÕES 4.3.1 Subjetivo As partes – Credor e devedor. Se atentar para quando a obrigação tem mais de um credor ou devedor. Nesse caso, a obrigação que outrora era simples passa a conter outros institutos jurídicos: 4.3.1.1 Solidariedade CC. Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. A obrigação solidária não se presume, mas decorre da lei ou da vontade das partes. Quando há a solidariedade ativa, o pagamento pode ser realizado para qualquer um dos credores, e a solidariedade passiva é aquela em que o pagamento pode ser cobrado de qualquer um dos devedores. 4.3.1.2 Subsidiariedade Ocorre quando se deve primeiro tentar solucionar o negócio jurídico com alguém e, somente na impossibilidade dessa pagar/receber é que se aciona a outra pessoa. O exemplo clássico é o fiador, que nada mais é do que um “devedor”3 subsidiário. Note que embora a lei diga algo, os contratantes podem dispor diferentemente. Em regra o fiador é devedor subsidiário, mas nada impede que haja nos contratos a clausula de renúncia do benefício de ordem, o que faz com que o fiador se torne devedor solidário ao invés de subsidiário. 3 Veremos a seguir que o fiador na verdade não é “devedor”, mas sim “responsável”. Usamos a palavra “devedor” aqui para não confundir, já que o que importa para a explicação deste conceito [subsidiariedade] é que o fiador pagará no lugar do devedor principal. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 21 4.3.2 Elemento objetivo É o objeto do contrato. Ele se sub-classifica como objeto imediato e mediato. O objeto da obrigação podeser mediato ou imediato. Imediato: a conduta humana de dar, fazer ou não fazer. Ex.: Dar a chave do imóvel ao novo proprietário. Mediato: é a prestação em si. Ex.: O que é dado? A chave. 4.3.2.1 Formas de prestação do elemento objetivo Quanto ao objeto, a obrigação pode se dar de três formas, que é dar, fazer, ou não fazer. No entanto, o mesmo objeto pode, em diferentes momentos, abrigar mais de uma dessas situações. 4.3.2.2 Diferença de dar e fazer Vamos usar a matemática para resolver esse problema! Dar = dar – fazer Fazer = fazer + dar E por que é importante saber isso? Oras, porque as obrigações de dar e de fazer resultam em procedimentos de execução diferentes: Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994) 4.3.3 Elemento imaterial Também chamado de elemento ideal, virtual, ou espiritual. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 22 É um elemento intangível, diferentemente de partes (elemento subjetivo) e a coisa (elemento objetivo). Para entender esse elemento, é necessário compreender o que é dívida e responsabilidade... 4.3.3.1 – Dívida Tem dívida aquele que assumiu uma obrigação (expressamente ou tacitamente), e pode adimpli- la voluntariamente. 4.3.3.2 – Responsabilidade Tem responsabilidade aquele que pode ser obrigado a sofrer os efeitos patrimoniais de uma dívida. 4.4 CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES QUANTO A PRESENÇA DE DÍVIDA E RESPONSABILIDADE O Schuld e Haftung são elementos distintos e portanto dissociáveis. Isso significa que um pode existir sem o outro e vice versa. A análise da existência de cada um deles nos casos concretos criou uma outra classificação que define as obrigações que contém ambos, um deles, ou nenhum deles... Vamos ver! 4.4.1 Obrigações perfeitas São obrigações em que há simultaneamente dívida e responsabilidade (Schuld e Haftung), então há o que se chama de Obrigação perfeita, ou seja, aquele que assumiu a obrigação (devedor) é o mesmo que está obrigado a sofrer seus impactos econômicos (responsável). Além de criar a dívida e poder adimpli-la voluntariamente, são sofridos os efeitos patrimoniais dela, pois há simultaneamente a dívida e a responsabilidade pelo seu pagamento. 4.4.2 Obrigações imperfeitas Uma obrigação imperfeita é aquela que não possui um dos elementos da obrigação, ou seja, não possui ou o Schuld ou o Haftung. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 23 4.4.2.1 Obrigação natural A obrigação natural é imperfeita. Ela decorre da existência de Schuld (dívida) mas inexistência de Haftung (responsabilidade). Então a dívida foi criada mas aquele que a criou não sofre seus efeitos patrimoniais. Ex.: obrigação fundada em direito prescrito. Se a dívida prescreveu, ela não deixa de existir como dívida, mas sim a responsabilidade pelo pagamento que deixa de existir, uma vez que ela deixa de ser exigível. Logo, o devedor de uma dívida prescrita continua sendo devedor, mas não é mais responsável. 4.4.2.2 Obrigação Assumida ou Imputada4 É a situação em que há responsabilidade, mas não há dívida. Trata-se de uma situação em que o responsável deve arcar com os efeitos patrimoniais de uma obrigação que ele não criou por conta própria. O exemplo é o fiador, uma vez que ele não é titular do negócio jurídico mas assume a responsabilidade de arcar com seu adimplemento em caso de inadimplemento do devedor principal. 4.4.2.3 Obrigação moral Obrigação moral é aquela em que não há nem um elemento nem outro, ou seja, não há nem dívida e nem responsabilidade. Por exemplo, uma promessa [à Deus]; uma dívida de honra; trabalho voluntário; etc. Se alguém se compromete a ajudar vítimas de um desastre natural, essa é uma obrigação relevante para o direito, sendo considerada uma obrigação moral, ou seja, não há dívida nem responsabilidade, e seu cumprimento se dá única e exclusivamente porque o obrigado assim deseja. 4 Eu inventei esse nome por acha-lo apropriado. O professor não disse qual o nome doutrinário para a obrigação que possui responsabilidade mas não possui dívida. Eu busquei muito na internet sem achar a nomenclatura adequada. Se alguém souber, favor avisar para que eu possa incluir no material. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 24 4.5 CONCEITO DE OBRIGAÇÃO Com isso, voltamos mais uma vez ao conceito de obrigação. Tendo tudo o que foi dito anteriormente em mente, é possível ao menos vislumbrar o real significado do conceito. Note que o que vimos nessa aula foi meramente um resumo muito sucinto da parte geral de direito obrigacional. Note também que algumas palavras estarão sublinhadas – elas carregam um peso e significado enorme – ao lê-las, tenha em mente o que vimos até agora. Negócio jurídico complexo, de caráter dinâmico, que deve ser analisado de acordo com sua fase de execução. AULA 04 – 28 DE FEVEREIRO DE 2014 5 RESPONSABILIDADE CIVIL Para se caracterizar a responsabilidade civil é necessário que se coadunem quatro elementos, a saber: a ação ou omissão do agente, a culpa ou o dolo do agente, a relação ou o nexo de causalidade e o dano.5 5.1 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL A Responsabilidade Civil Contratual, como o nome mesmo já sugere, ocorre pela presença de um contrato existente entre as partes envolvidas, agente e vítima. Assim, o contratado ao unir os quatro elementos da responsabilidade civil (ação ou omissão, somados à culpa ou dolo, nexo e o consequente dano) em relação ao contratante, em razão do vínculo jurídico que lhes cerca, incorrerá na chamada Responsabilidade Civil Contratual.6 5 Sousa Bezerra. 2010. Acesso digital. 6 Idem Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 25 5.2 RESPONSABILIDADE EXTRA CONTRATUAL Em relação à Responsabilidade Civil Extracontratual, também conhecida como aquiliana, o agente não tem vínculo contratual com a vítima, mas, tem vínculo legal, uma vez que, por conta do descumprimento de um dever legal, o agente por ação ou omissão, com nexo de causalidade e culpa ou dolo, causará à vítima um dano. Ambas as figuras de responsabilidade civil estão fundamentadas, genericamente, nas palavras do artigo 186 do Código Civil, in verbis: CC. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Desse modo, pode-se verificar que a única diferença entre as duas figuras de responsabilidade civil encontra-se no fato de a primeira existir em razão de um contrato que vincula as partes e, a segunda surge a partir do descumprimento de um dever legal.7 6 INADIMPLEMENTO OBRIGACIONAL A regra é a de que a obrigação nasce para ser cumprida (pacta sunt servanda), através do adimplemento ou pagamento. O inadimplemento é o descumprimento da obrigação assumida, voluntaria ou involuntariamente, do estrito dever jurídico criado entre os que se comprometeram a dar, a fazer ou a se omitir de fazer algo, ou o seu cumprimento parcial, de forma incompleta ou mal feita. A inadimplência operar-se no descumprimento das obrigações nas seguintes formas: Obrigações de dar: quando o devedor recusa a entrega, devolução ou restituição da coisa. Obrigações de fazer: quando se deixar de cumprir a atividade devida.7 Idem Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 26 Obrigações negativas: quando se executa o ato de que se devia abster. Obrigações personalíssimas: quando a obrigação de fazer não é executada pela pessoa determinada, cujas qualidades pessoais são essenciais ao cumprimento da prestação, não podendo ser substituída.8 6.1 CLASSIFICAÇÃO DO INADIMPLEMENTO O inadimplemento obrigacional pode ser classificado de algumas formas levando-se em conta suas características. 6.1.1 Quanto ao alcance do inadimplemento 6.1.1.1 Absoluto Ocorre inadimplemento absoluto quando o avençado não pode mais ser adimplido de nenhuma forma, sendo única solução resolver o negócio por perdas e danos. 6.1.1.2 Relativo É aquele que ainda pode ser cumprido mesmo após o vencimento da obrigação – é a mora ou atraso. 6.1.1.3 Simultaneidade de tipos de inadimplemento Cuidado pois as vezes o mesmo fato gerador pode acarretar em um inadimplemento absoluto e relativo ao mesmo tempo. Ex.: o estádio do Corinthians está em construção. Existe uma relação jurídica da empreiteira com o clube, e do clube com a FIFA. A FIFA espera que o estádio fique pronto para a copa do mundo. Se o estádio não ficar, ele simplesmente não poderá ser usado, e não adianta ele ficar pronto depois. Nesse caso, haveria um inadimplemento absoluto entre a FIFA e o clube Corinthians. No entanto, esse mesmo estádio, ao não ficar pronto para a copa, ainda será utilizado pelo clube. Então, na relação entre o clube e a empreiteira, o fato de o estádio 8 Anônimo (Direito das obrigações/inadimplemento). Acesso digital. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 27 não ficar pronto para a copa é inadimplemento relativo, uma vez que ele poderá ser concluído, mesmo que fora do prazo (obviamente caberão as devidas indenizações ao clube pelo atraso). Por isso, note que a mesma construção (obrigação) pode acarretar simultaneamente em inadimplemento absoluto e relativo. 6.1.2 Quanto à voluntariedade 6.1.2.1 Inadimplemento voluntário O inadimplemento voluntário é aquele em que se agiu com culpa. Esse inadimplemento gera a sanção do artigo 389 do código civil. Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. 6.1.2.2 Inadimplemento involuntário É o inadimplemento gerado pelo caso fortuito ou força maior. Não são sofridos os efeitos do inadimplemento por causa do artigo 392 do código civil. Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei. Um parênteses para um lembrete... 7 O CASO FORTUITO E A FORÇA MAIOR 7.1 CONCEITOS São muitos os conceitos para o caso fortuito e força maior... Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 28 7.1.1 1º conceito Caso fortuito = força da natureza Força maior = ação humana 7.1.2 2º conceito Caso fortuito = imprevisível Força maior = Inevitável 7.1.3 3º conceito Pouco importa saber a diferença entre um e outro, pois os efeitos que eles causam são os mesmos: Caso Fortuito = Exclusão da responsabilidade civil Força Maior = Exclusão da responsabilidade civil 7.1.4 4º conceito Celso Antonio Bandeira de Melo inverte o conceito, dizendo que caso fortuito é ação humana, e força maior é força da natureza, mas isso vale para direito administrativo. 7.2 O FORTUITO EXTERNO E INTERNO Para o CDC, não é qualquer caso fortuito ou força maior que pode ser alegada para exclusão de responsabilidade para o direito consumerista. 7.2.1 Fortuito interno O fortuito interno é aquele que faz parte da atividade desenvolvida. Ex.: O banco exerce uma atividade financeira de guarda e disponibilização de valores que faz com que seja esperado de sua atividade o risco de roubos, assaltos, etc. Se esse tipo de incidente ocorre, o banco não pode alegar que foi fortuito para se eximir de responsabilidade. Esse tipo de fortuito é esperado pela atividade que ele realiza, e por isso não exime sua responsabilidade. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 29 7.2.2 Fortuito externo O fortuito externo é aquele que não faz parte da atividade desenvolvida, inexistindo responsabilidade do fornecedor. Ex.: o mesmo banco é destruído porque o prédio vizinho ruiu. Esse caso fortuito ocorreu de forma totalmente alheia à atividade bancária, e por isso justifica a ausência de responsabilidade. Fechando os parênteses e voltando à teoria do inadimplemento... 8 TEORIA DO INADIMPLEMENTO (CONT.) 8.1 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Hoje em dia, é possível pedir a condenação da outra parte nos honorários contratados além dos sucumbenciais. Lembre-se que há dois tipos de honorários – os contratados e os sucumbenciais. Os honorários contratados advém do contrato de prestação de serviços advocatícios que foi celebrado pelas partes (advogado e cliente). Os honorários sucumbenciais são um prêmio concedido à parte vencedora de uma demanda. Então sim, pode haver a condenação nos honorários contratados também, desde que devidamente comprovado, ou seja, sejam juntadas provas que demonstrem a contratação do serviço, no caso o contrato de prestação de serviços de advocacia celebrado entre o advogado vencedor e seu cliente. Além disso, não se pode cobrar honorários advocatícios sem o efetivo exercício da advocacia. Ex.: acordo de condomínio. Normalmente condomínios que realizam acordos com os condôminos por causa de atraso de pagamento incluem, além de mora, juros, etc, - honorários advocatícios, sem que houvesse qualquer intervenção de advogado no caso. O condômino pode e deve se recusar a pagar o que foi inserido a título de taxa de advogado nessas situações em que o exercício da advocacia não se deu de forma comprovada. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 30 8.2 JUROS 8.3 ESPÉCIES DE JUROS Há dois tipos de juros – os remuneratórios e os moratórios. 8.3.1 Remuneratórios São os que decorrem de uma remuneração. Tem relação com a remuneração de um devido capital, como por exemplo o empréstimo, cheque especial, financiamento, etc. Logo, quando realiza-se um contrato de empréstimo bancário e há a incidência de juros, esses juros não são devidos a atraso, mas sim a própria remuneração pelo capital que está sendo emprestado. 8.3.2 Moratórios São os que decorrem da mora, ou seja, do inadimplemento temporal do pagamento. 8.3.3 Quanto se pode cobrar de juros? Os juros dos imortais são os juros das instituições financeiras – são os juros financeiros. O limite dos juros estabelecidos para as instituições financeiras é realizado pelo BACEM, e esse limite é muito alto. Os juros máximos dos mortais são os juros dos demais – juros civis. Eles são previstos no código civil e no CTN. Artigo 161, § 1º do CTN. § 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês. O CTN diz que a taxa máxima moratória é de 1% ao mês – 12% ao ano. O código civil se omite no tema. Alguns juristas dizem que deveria ser aplicada a SELIC do artigo 406, mas o STJ já decidiu que o aplicável é o mesmo limite contido no código tributário nacional. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 31 Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provieremde determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. 8.4 CORREÇÃO MONETÁRIA “Correção monetária é o remédio para a inflação”. O que ocorre é que o que R$ 100,00 compram hoje, daqui a cinco anos, será menos, por causa da inflação. Obviamente, a inflação ocorre diariamente, em quantidade muito pequena, sendo praticamente imperceptível em uma economia estável. Mas quando vista sob a ótica de prazos maiores, a diferença do poder de compra é bastante sensível, mesmo em boas economias. Por isso, a correção monetária visa atualizar valores para que haja uma conversão eficaz nas transações a fim de evitar prejuízos e injustiças para as partes levando-se em conta a mudança do poder de compra da moeda. Há vários índices que tentam medir a inflação e portanto influenciam nas correções monetárias, como IGPM, IPCA, IPC, etc. 8.5 CLÁUSULA PENAL Clausula penal é sinônimo de multa. Tem dois tipos: 8.5.1 Indenizatória Multa indenizatória é aquela que visa tutelar antecipadamente as perdas e danos pelo inadimplemento, além de impor um efeito psicológico inibitório do inadimplemento. Obviamente, se ela é indenizatória e visa inibir o inadimplemento do negócio principal, essa multa não pode ser superior ao objeto contratado. Ela se aplica aos inadimplementos absolutos. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 32 Art. 412. O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal. 8.5.2 Moratória Não pode ser tão pesada quanto a indenizatória, mas também tem viés de inibição, pois a obrigação ainda pode ser executada. O clausula penal moratória é usada nos casos de inadimplemento relativo. Normalmente a multa moratória é de 10%, por causa do máximo da lei de usura – o decreto lei 22626/33. O código de defesa do consumidor, no seu art. 52, § 1º, diz: § 1° As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação.(Redação dada pela Lei nº 9.298, de 1º.8.1996) Então, para relações de consumo, os juros máximos que podem ser cobrados são de 2%. 8.6 DESCONTO DE PONTUALIDADE Algumas instituições praticam o chamado desconto de pontualidade (a FMU é exemplo). O desconto de pontualidade consiste em um incentivo ao adimplemento de uma obrigação em seu prazo correto. Ele não tem previsão legislativa, consistindo em uma liberalidade da instituição em questão. 8.7 RESUMO DA ÓPERA Então, finalizando o inadimplemento, quando ele acontece, normalmente temos a cumulação dos seguintes institutos contra o devedor: Perdas e Danos (Se o inadimplemento for absoluto); Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 33 Honorários advocatícios; Juros moratórios; Correção monetária; Clausula penal (multa) de 10% (ou 2% se for CDC); AULA 05 – 07 DE MARÇO DE 2014 9 PRINCÍPIOS CONTRATUAIS 9.1 AUTONOMIA PRIVADA É chamado também de princípio da “autonomia da vontade”. Esse termo é criticado pois a vontade não é autônoma, mas sim limitada pela lei e pelos princípios. Por isso, a nomenclatura atual é “Autonomia Privada”, do professor italiano Belingieri, que é a mais aceita, pois esta nomenclatura indica que existe uma autonomia privada, restrita pelas normas de ordem pública. Pela escola clássica, o princípio da autonomia da vontade aduz que “as partem têm a faculdade de celebrar ou não contratos, sem a interferência do Estado. Representa a ampla liberdade, seja através de contratos nominados ou inominados.”9 Atualmente sabe-se que este princípio, embora vigente, é bastante mitigado, vez que as partes não tem liberdade plena de contratar, não só em razão de restrições legais mas também em razão de restrições mercadológicas. Há por exemplo os contratos de adesão (Não se pode discutir clausula), e os contratos com dirigismo contratual – que é o estado dirigindo a ordem e aplicação de um contrato. Há pessoas que são vulneráveis e que precisam ser protegidas, e por isso a lei direciona e regulamenta contratos para que favoreçam os menos favorecidos. 9 Carlos Fontes, José. 2009. Acesso digital. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 34 O princípio da autonomia privada é fundamental para a existência do contrato. Embora ele esteja mitigado, ele tem que continuar existindo, uma vez que a vontade é condição sine qua non para a validade contratual. Conclui-se então que este princípio existe na medida que a vontade é condição para a celebração do contrato, mas que ele é mitigado pela lei e pelas normas do mercado – especialmente no que tange contratos de adesão. 9.2 FORÇA OBRIGATÓRIA DOS CONTRATOS É uma relação de causa e efeito – a causa da relação contratual é a assinatura, e o efeito é o adimplemento ou inadimplemento. Os contratos nascem para serem adimplidos. É o Pacta Sunt Servanda, ou seja, o contrato faz lei entre as partes. Note que não há dispositivo no código civil que estabeleça o pacta sunt servanda expressamente, mas há dispositivos que forçam o cumprimento do contrato, estabelecendo esta ideia implicitamente: Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Este princípio reflete a força que tem o contrato na vinculação das partes, que são obrigadas ao cumprimento do pacto. Embora o princípio da autonomia da vontade estabeleça que ninguém é obrigado a contratar, uma vez, entretanto, efetivado o acordo de vontades, e sendo o contrato válido e eficaz, as partes são obrigadas a cumpri-lo. Este princípio decorre de dois pontos básicos: Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 35 a) a segurança jurídica dos negócios que representa uma função social dos contratos. Se o descumprimento dos contratos fosse livre de qualquer coerção, as relações de negócios se transformariam em desordem e insegurança. b) a intangibilidade ou imutabilidade do contrato O contrato faz lei entre as partes. A intangibilidade do contrato faz com que as partes sejam obrigadas a respeitá-lo,( pacta sunt servanda), não podendo ser alterado de forma unilateral. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. O caso fortuito ou de força maior verifica- se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir (CC, art. 393).10 9.3 FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS Até então vimos princípios que foram colocados durante a modernidade. Os dois princípios que veremos agora são contemporâneos, ou seja, são ainda mais modernos e foram inseridos nos ordenamentos jurídicos recentes após as grandes guerras. A função social dos contratos é um princípio de ordem pública - é norma cogente -, e sua inobservância acarreta nulidade absoluta do negócio jurídico: CC. Art. 2035. Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. Mas e o conceito de função social do contrato? Ele é aberto, vários autores conceituam de forma diversa, mas o sentido geral é o de que não é apenas o indivíduo que importa, mas sim a coletividade. 10 Idem Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 36 Art. 421. A liberdade de contratar será exercida emrazão e nos limites da função social do contrato. O que ocorre é que este princípio tão importante não é conceituado pelo código. Ele deve ser analisado nos casos concretos. A função social é encontrada pelo julgador na análise do fato. Por exemplo, teoricamente, nada poderia impedir que uma empresa adquirisse outra sendo o negócio lícito, válido e eficaz. Entretanto, sabe-se que aquisições devem passar por um crivo de órgãos fiscalizadores, exatamente para evitar abuso de poder perante a ordem econômica. Ora, isso se demonstra como uma manifestação da função social, ou seja, o poder de contratar individual sendo mitigado em prol de uma coletividade. A função social tem aspectos internos e externos: 9.3.1 Eficácia interna da função social É exemplo a proteção da parte mais vulnerável em um contrato, a aplicação da dignidade da pessoa humana nas relações contratuais, a vedação da onerosidade excessiva, e a preservação contratual. Essas exemplos são de eficácia interna, ou seja, se aplica diretamente às partes contratantes. 9.3.2 Eficácia externa da função social Achar que os contratos só fazem efeitos entre as partes contratantes não é entender o impacto deles na sociedade. A eficácia externa da função social consiste em levar em conta os impactos do contrato na sociedade e, se negativos, mitiga-los, minimizando o dano que eles causariam o máximo possível. Ex.: Tutela externa do crédito – quando não se tem relação com a parte contratante mas são sofridos efeitos deste contrato sem participar dele – então há eficácia externa. Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a este Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 37 a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos. Pelo exemplo deste artigo, temos a premissa de que A presta serviços laborais contínuos para B. C pode tentar aliciar A para que este passe a trabalhar para o C, inclusive com a intenção de conseguir informações internas privilegiadas de B. Nesse caso, C deverá indenizar B pelo que B pagaria ao A durante dois anos. É um claro caso de tutela externa do crédito, ou seja, uma pessoa de fora do contrato sofrendo os efeitos dele – e por isso um exemplo válido de eficácia externa da função social. 9.4 BOA FÉ Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Salienta-se que o campo de atuação da boa-fé seja bastante vasto, é grande a dificuldade em sua conceituação, em razão de comportar uma série de significados, dependendo do lado em que se olha, seja por um prisma subjetivo ou objetivo, como princípio ou cláusula geral. O grande valor dado à boa-fé, constitui uma das mais importantes diferenças entre o Código Civil de 1916 e o de 2.002, que o substituiu. Acredita-se que a Boa-Fé, ou sua noção, surgiu a priore no Direito Romano, tendo uma conotação, uma hermenêutica diferenciada pelos juristas alemães, em Roma, pode-se afirmar que “A fides seria antes um conceito ético do que propriamente uma expressão jurídica da técnica. Sua jurisdição só iria ocorrer com o incremento do comércio e o desenvolvimento do jus gentium, complexo jurídico aplicável a romanos e a estrangeiros”, no direito Alemão, o que se entende por boa-fé é a fórmula do Treu und Glauben (lealdade e confiança), regra que era observada nas relações jurídicas, e, que se aproxima da interpretação que ocorre no Brasil. No Brasil, a Constituição Federal de 1988, nos trouxe alguns princípios de grande relevância, além de promover uma reinterpretação do direito civil e processual civil. A Primeira Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 38 Hoje em dia, a boa-fé age principalmente como princípio amparado pela ética inspiradora da ordem jurídica e a aplicação das normas existentes. Diante de um princípio de tão grande importância, podemos afirmar que é um dos princípios que mais influencia o sistema jurídico brasileiro, representando o reflexo da ética no fenômeno jurídico. A boa-fé é o foco, na esfera do qual girou a alteração da Lei Civil Brasileira, da qual cumpre salientar dois artigos, o de nº 113, segundo o qual “os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”, e o art. 422, que assevera in verbis, “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.11 9.4.1 Boa Fé Subjetiva A BOA FÉ CRENÇA Antes de falar da objetiva, é importante saber que existe a boa-fé subjetiva, que está prevista no código civil, dentro do direito das coisas, e está ligada à intenção ou conhecimento do agente acerca de um fato. A boa-fé subjetiva é também conhecida como boa-fé crença, isto porque, diz respeito a substâncias psicológicas internas do agente. É conhecida pela maioria dos operadores da ciência jurídica, pela simples razão de estar presente no código Civil de 1916, em linhas gerais, (...) consiste em uma situação psicológica, estado de espírito ou ânimo do sujeito, que realiza algo, ou, vivência um momento, sem ter a noção do vício que a inquina. Geralmente, o estado subjetivo, deriva da ignorância do sujeito, a respeito de determinada situação, ocorre, por exemplo, na hipótese do possuidor da boa-fé subjetiva, que desconhece o vício que macula a sua posse. Assim, neste caso do exemplo, o legislador cuida de ampará-lo, não fazendo o mesmo em relação ao possuidor de má-fé. 11 SILVA DO AMARAL, DIEGO MARTINS. 2009. Acesso digital. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 39 Na aplicação dessa boa-fé, o juiz deverá se pronunciar acerca do estado de ciência ou de ignorância do sujeito. O doutrinador Menezes Cordeiro, esclarece sobre tal afirmação: "Perante uma boa-fé puramente fática, o juiz, na sua aplicação, terá de se pronunciar sobre o estado de ciência ou de ignorância do sujeito. Trata-se de uma necessidade delicada, como todas aquelas que impliquem juízos de culpabilidade e, que, como sempre, requer a utilização de indícios externos. Porém, no binômio boa-má fé, o juiz tem, muitas vezes, de abdicar do elemento mais seguro para a determinação da própria conduta. (...) Na boa-fé psicológica, não há que se ajuizar da conduta: trata-se, apenas de decidir do conhecimento do sujeito. (...) O juiz só pode propanar, como qualquer pessoa, juízos em termos de normalidade. Fora a hipótese de haver um conhecimento direto da má-fé do sujeito – máxime por confissão – os indícios existentes apenas permitem constatar que, nas condições por ele representadas, uma pessoa, com o perfil do agente, se encontra, numa óptica de generalidade, em situação de ciência ou ignorância." O grande doutrinador, Dr. Bruno Lewicki, esclarece sobre a concepção de boa-fé subjetiva: “(...) ligada ao voluntarismo e ao individualismo que informam o nosso Código Civil, é insuficiente perante as novas exigências criadas pela sociedade moderna. Para além de uma análise de uma possível má-fé subjetiva no agir, investigação eivada de dificuldades e incertezas, faz-se necessária a consideração de um patamar geral de atuação, atribuível ao homem médio, que pode ser resumido no seguinte questionamento: de que maneira agiria o bônus pater familiae, ao deparar-se com a situação em apreço? Quais seriam as suas expectativas e as suas atitudes, tendo em vista a valoração jurídica, histórica e cultural do seu tempo e de sua comunidade” “A resposta a esses questionamentos, encontra-se na boa-fé objetiva, sendo que esta, consisteem uma imprescindível regra de comportamento, umbilicalmente ligada à eticidade que se espera seja observada em nossa ordem social.” Cumpre mais uma vez salientar que apenas no que se refere à boa-fé subjetiva é que pode-se utilizar do consagrado brocado do doutrinador Stoco de que "a boa-fé constitui atributo natural do ser humano, sendo a má-fé o resultado de um desvio de personalidade”. Assim, podemos chegar à conclusão que a boa-fé subjetiva se refere ao estado psicológico da pessoa, consistente na justiça, ou, na licitude de seus atos, ou na ignorância de sua antijuricidade. Alípio Silveira a chamou de boa-fé crença, conforme já citado e Fábio Ulhoa Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 40 Coelho definiu como “a virtude de dizer o que acredita e acreditar no que diz”. Assim, aquele que se encontra em uma situação real, e imagina estar em uma situação jurídica, age com boa fé subjetiva.12 9.4.2 Boa Fé Objetiva A BOA FÉ LEALDADE O professor Flavio Tartuce teoriza a boa-fé objetiva como um contraponto da subjetiva, porque “boas intenções todo mundo tem”, e “de boas intenções o inferno está cheio”. Então, no contrato, não basta estar bem intencionado, mas sim ter algo a mais, que é a boa-fé objetiva – que nada mais são do que deveres de conduta. Então não basta simplesmente o dar, fazer, ou não fazer, mas sim um algo a mais. Quanto aos deveres, o contrato agora parece um casamento. Há dever de cuidado com a outra parte, respeito, informação, transparência, colaboração, e confiança. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. O código diz que deve haver boa-fé, mas a lei não conceitua boa-fé, muito menos diferencia a subjetiva da objetiva. Quem conceitua então é a doutrina e jurisprudência. Criam-se então conceitos parcelares de boa-fé objetiva, uma vez que os conceitos são realizados pelos juristas. A boa-fé objetiva se apresenta como um princípio geral que estabelece um roteiro a ser seguido nos negócios jurídicos, incluindo normas de condutas que devem ser seguidas pelas partes, ou, por outro lado, restringindo o exercício de direitos subjetivos, ou, ainda, como um modo hermenêutico das declarações de vontades das partes de um negócio, em cada caso concreto. 12 Idem Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 41 Ao se ter um lado objetivo para o princípio da boa-fé, o juiz deixou de ter que seguir estritamente o que consta em lei, podendo fazer a justiça, de modo singular em cada caso concreto [que] apareça. Como prova dos bons ventos da influência alemã, é que o Código Civil italiano (1942), português (1966), espanhol (1974) dentre outros, aderiram ao princípio da boa-fé objetiva em suas jurisdições. A boa-fé objetiva, ou simplesmente, boa-fé lealdade, relaciona-se com a lealdade, honestidade e probidade com a qual a pessoa mantém em seu comportamento. Trata-se de ética. Um exemplo dessa mencionada ética é um dever de guardar fidelidade à palavra dada ou ao comportamento praticado, na ideia de não fraudar ou abusar da confiança do outrem. Cuidado: A boa-fé objetiva não se opõe à má-fé (quem o faz é a boa-fé subjetiva), nem tampouco tem relação com o fato da ciência que o sujeito possui perante a realidade. Importante destacar que somente com a criação do Código do Consumidor em 1990, é que a boa- fé objetiva foi realmente consagrada em nosso ordenamento jurídico. Derivada dos dizeres constitucionais, essa modalidade de boa-fé começou então a ser utilizada para interpretações contratuais, integração de obrigações pactuadas, mostrando-se absolutamente fundamental, para que as partes de um negócio jurídico pudessem agir com lealdade perante o outrem, até o cumprimento de suas obrigações. O culto Menezes Cordeiro, em obra sobre o tema, acrescenta que: “A boa-fé apenas normatiza certos factos que, estes sim, são fonte: mantenha-se o paralelo com a fenomenologia da eficácia negocial: a sua fonte reside não na norma que mande respeitar os negócios, mas no próprio negócio em si.” No mesmo seguimento, cumpre-nos observar que a doutrina, destaca as seguintes funções da boa- fé objetiva: Função interpretativa e de colmatação; Função criadora de deveres jurídicos anexos ou de proteção; Função delimitadora do exercício de direitos subjetivos. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 42 9.4.2.1 Função interpretativa e de colmatação13. É a função mais conhecida pela doutrina, sendo que nesta, o operador do direito tem, na boa-fé objetiva, um referencial de interpretação de grande valia, para poder extrair do objeto de questão, o sentido moral mais recomendado e socialmente mais útil. Essa função tem a estreita conexão com o art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, o qual o juiz deve aplicar atendendo os seus fins sociais e os questionamentos do bem comum. LICC. Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. O art. 113 do C.C. dispõe desta base interpretativa: “Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração” No mesmo sentido, insta ressaltar que a boa-fé objetiva serve como um alicerce de colmatação para orientar o magistrado em casos que ocorram integração de lacunas. 9.4.2.2 Função criadora de deveres jurídicos anexos ou de proteção. A boa-fé possui essa importante função criadora de deveres anexos ou de proteção. Sem querer esgotar tais deveres, somente a título de exemplificação, vale mencionar os deveres mais conhecidos: Lealdade e confiança recíprocas; Assistência; 13 Segundo o dicionário Priberam da língua portuguesa, colmatação é derivação fem. sing. de colmatar: col·ma·tar (Francês: colmater) Verbo transitivo 1. Encher uma depressão ou abertura com determinado material. = TAPAR 2. Corrigir ou completar as falhas de alguma coisa. 3. Fazer a colmatagem de. "colmatação", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/colmata%C3%A7%C3%A3o Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 43 Informação; Sigilo ou confidencialidade. Todos esses, e, ainda, os não citados, já que este rol não é taxativo, derivam desta grande força criadora da boa-fé objetiva. 9.4.2.3 Função delimitadora do exercício de direitos subjetivos. Por fim, tem-se a função delimitadora do exercício de direitos subjetivos. A boa-fé objetiva, além de outros, também tem o condão de evitar o exercício abusivo aos direitos subjetivos. Algo que raramente existe nos dias de hoje, essa “tirania dos direitos”. Por isso que não se pode mais aceitar, algo como as “cláusulas leoninas ou abusivas”, seja em relações de consumo, ou, contratos cíveis em geral. Um exemplo real do tema em comento, é o dispositivo contratual que prevê a impossibilidade de se aplicarem as normas da teoria da imprevisão (onerosidade excessiva), em prol de parte prejudicada. Assim, observamos que cabe também à boa-fé, essa função delimitadora. Sobre o assunto, vale frisar os artigos 51 do CDC e 187 do C.C. Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoajurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; (...) Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 44 limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 9.4.2.4 O art. 422 do Código Civil. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. (grifos nossos) A função integrativa da boa-fé advém do art. 422 do C.C. Além de servir à interpretação do negócio jurídico, a boa-fé é na verdade uma fonte, criadora de deveres jurídicos para as partes. Tanto antes, quanto durante e depois, deve-se agir pelo princípio da boa-fé em uma realização de negócio jurídico entre partes.14 9.4.3 Institutos derivados da boa fé 9.4.3.1 Supressio/Surrectio Parece prescrição mas não é. Este instituto é a perda de um direito pelo seu não exercício. Siginifica “supressão” e “ascenção”, ou seja, quando um perde o outro ganha. Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. 14 Idem Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 45 9.4.3.2 Tuquoque Significa “até tu”15. Isso é traição contratual. É exemplo a fraude de licitação pela administração. O contribuinte confia que a administração pública agirá no melhor interesse da população ao gerir as verbas públicas. Quando ela não o faz, se tem uma traição perante toda a sociedade. 9.4.3.3 Venire contra factum proprium “Ir contra fato próprio”. É a teoria dos atos contraditórios. É criar expectativa onde não existe, refugar, voltar atrás, etc. ex.: caso dos processos seletivos. As vezes (ou quase sempre), há casos em que, por exemplo, 500 pessoas são aprovadas em determinado concurso público mas apenas 450 são chamadas. Essas 50 restantes aguardam sua vaga, que por sinal pode nunca vir. Isso cria uma expectativa de direito, que, se não saciada, lesa moralmente os aprovados, que tinham a certeza da aprovação e foram frustrados por não serem chamados (isso vale para processos seletivos em esfera privada também). Dizer que alguém foi aprovado e depois negar-lhe o direito que lhe seria devido em razão de tal aprovação é ir contra fato próprio (Venire contra factum proprium), é ser contraditório, o que é vedado e passível de punição pelo ordenamento, exatamente como desdobramento do princípio da boa-fé objetiva (uma vez que faltou-se com ética e lealdade). 9.4.3.4 Teoria do adimplemento substancial É outro instituto derivado da boa-fé objetiva. Ocorre quando algo no adimplemento não se deu como previsto. Por exemplo, alguém tem o mesmo plano de saúde por vinte anos, mas bem no momento que a pessoa precisa do plano ela esqueceu o pagamento do mês referente, e o plano de saúde recusa o tratamento. Pelo adimplemento substancial, se quase todo o contrato foi cumprido, então não é justo que a pessoa fique sem o tratamento unicamente por causa do esquecimento de uma parcela. Veja que a pessoa honra com suas obrigações religiosamente durante muitos anos, e 15 Até Tu. Significa traição contratual por causa da célebre frase que o personagem Júlio César diz à Brutus na ocasião de sua morte na renomada peça teatral de Willian Shakespeare Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 46 coincidentemente, no momento em que o serviço foi necessário, uma parcela ficou sem adimplemento. Por isso, “não é em razão de um erro que será desconsiderada uma vida de acertos”, devendo o tratamento ser liberado e o obviamente o pagamento ser cobrado pelas avias ordinárias. São outros exemplos os casos de alienação fiduciária julgados pelo TJ. AULA 06 – 14 DE MARÇO DE 2014 10 DA PROTEÇÃO CONTRATUAL E COMPARAÇÃO COM O CDC CDC. Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance. Este artigo está intimamente ligado com a função social do contrato e com a boa-fé objetiva porque protege o vulnerável, e com a boa-fé objetiva porque impõe dever de informação. O consumidor tem direito de informação, e que seja clara e objetiva, e, principalmente, compreensível ao consumidor. Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. Se há a necessidade de interpretar uma cláusula dúbia, essa interpretação deve ser realizada em favor do consumidor. Art. 48. As declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos e pré-contratos relativos às Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 47 relações de consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execução específica, nos termos do art. 84 e parágrafos. Em todo o caminho da relação de consumo é necessária a boa-fé. Esta boa-fé deve ser observada antes, durante e depois do negócio jurídico. STJ Súmula nº 308 - 30/03/2005 - DJ 25.04.2005 Hipoteca entre Construtora e Agente Financeiro - Eficácia Perante os Adquirentes do Imóvel A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel. O exemplo da hipoteca é ótimo para esse caso. O artigo 84 do CDC é chover no molhado pois já existe a mesma regulamentação no artigo 461 do CPC. Vejamos ambos: CDC. Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. CPC. Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994) Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 48 Isso significa que, caso a obrigação possa ser realizada com ações do juízo sem envolver o devedor, então sem ele será realizada. Caso contrário, a prestação jurisdicional será no sentido de forçar o devedor a cumprir a obrigação assumida e não efetuada. Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio. Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados. Trata-se do direito de arrependimento. O prazo para seu exercício é de sete dias da compra ou do recebimento do produto, desde que essa tenha se dado fora do estabelecimento comercial. O objetivo do direito de arrependimento é proteger a vontade. O consumidor no entanto tem que estar de boa-fé, ou seja, ele não pode usar esse direito, sob pena de incidir no constante do artigo 187 do código civil: CC. Art. 187. Também cometeato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. A questão do Autoatendimento – Transações realizadas em autoatendimento é considerado fora do estabelecimento comercial ou dentro de estabelecimento comercial? A questão é controversa, mas a parte majoritária da doutrina diz que o autoatendimento deve ser considerado como dentro do estabelecimento comercial. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 49 Observação – Direito de arrependimento não tem relação alguma com política de trocas. Atenção para a questão de trocas, porque na maior parte das situações elas são liberalidade do fornecedor. Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo escrito. Não confundir o artigo 50 com o artigo 26 (garantia legal): Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis; II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis. Cuidado pois há os vícios redibitórios do código civil: Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta- se da alienação, reduzido à metade. Esses prazos não se referem à indenização, mas sim abatimento de preço, devolução, etc. O STJ já decidiu que a garantia contratual (convencional) se soma ao prazo legal. Há tribunais decidindo que nesses casos o consumidor tem que fazer prova da garantia estendida contratada Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer, de maneira adequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 50 ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompanhado de manual de instrução, de instalação e uso do produto em linguagem didática, com ilustrações. Então o termo de garantia não pode ser de qualquer forma, mas sim apresentar todas as informações necessárias para seu exercício. Diga-se de passagem, este é mais um exemplo de boa-fé objetiva. Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; Trata-se da cláusula de não indenizar. II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código; Há situações em que há direito expresso de reembolso. Nessas ocasiões o fornecedor não pode se eximir de realiza-lo, sendo nula qualquer clausula que aja neste sentido. III - transfiram responsabilidades a terceiros; A responsabilidade não pode ser transferida. Se há de fato alguma relação que justificasse isso, então o fornecedor que deve acionar este terceiro responsável mediante ação regressiva, mas perante o consumidor é ele quem deverá figurar no polo passivo de uma demanda que verse sobre um produto ou serviço seu. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 51 IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade; Nenhuma clausula pode deixar o consumidor em posição vulnerável. V - (Vetado); VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor; Há casos em que a inversão do ônus da prova em favor do consumidor podem ocorrer, em decorrência de sua hipossuficiência. Obviamente que o inverso não pode ser instituído, ou seja, se a própria lei já estabelece que há situações em que a inversão do ônus processual probatório é invertido em favor do consumidor, não há que se falar que uma cláusula contratual poderia forçar isso para se dar de maneira inversa. VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem; A arbitragem é um modo de solução de litígios pautado pela liberdade das partes em sua fixação. Uma clausula que force a instituição da arbitragem é flagrantemente nula. VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor; Clausula mandato. Nenhum contrato pode impor que um representante realizará negócios jurídicos em nome do consumidor. IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor; É obviamente uma clausula injusta. O direito de não conclusão até pode existir, mas, para tanto, deve haver para ambos os contratantes, e não somente para o fornecedor. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 52 X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral; Auto explicativo. Já pensou se do dia pra noite sua faculdade impusesse unilateralmente um reajuste de 100% na sua mensalidade? XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor; Segue a mesma lógica do inciso IX. XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor; Idem. XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração; Segue a mesma lógica do inciso X. XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais; Observância de função social externa do contrato – o meio ambiente é direito de todos, inclusive do fornecedor infrator, e deve ser resguardado. XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor; Ou seja, em dissonância com as normas do CDC e anexas. XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 53 As benfeitorias necessárias são sempre indenizáveis, conforme já sabemos do direito civil. AULA 07 – 21 DE MARÇO DE 2014 Trazer julgado – só ementa – fazer link do julgado com algo que foi dito em sala de aula e explicar porque o julgado é importante. AULA 08 – 28 DE MARÇO DE 2014 11 RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL Arts. 186 e 927 11.1 DIFERENCIAÇÃO ENTRE RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL E CRIMINAL É possível responsabilização em várias áreas pela mesma ação. A responsabilidade civil e a penal se diferenciam pela tutela protetiva, uma vez que a tutela protetiva do direito penal é se dá em face da liberdade, enquanto que civilmente a tutela incide em esfera patrimonial, ou seja, visa recompor o dano que foi gerado. A segunda grande diferença é a existência da tipicidade estrita no direito penal. No direito civil, há uma clausula geral, que é o artigo 186 do código civil. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Então, responsabilização civil é a relação de causa (atoilícito, art. 186) e efeito (dano, artigo 927). 11.2 DA INDEPENDÊNCIA ENTRE AS INSTANCIAS CC. Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 54 existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. Esse artigo é analisado junto do artigo 66 do CPP: Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato. Conclui-se da análise dos artigos que realmente existe uma independência, mas ela é relativa, no sentido de que somente fará coisa julgada no cível duas situações que ocorrem na esfera penal: a negativa de autoria e a inexistência de crime. 11.3 DO ABUSO DE DIREITO O ilícito do artigo 186 começa ilícito e termina ilícito. No caso do artigo 187, que trata do abuso de direito, se inicia lícito mas se termina ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 11.4 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL São elementos imprescindíveis para a caracterização da responsabilidade civil 11.4.1 Ação ou omissão Sem ação ou omissão não há que se falar em responsabilidade civil – é a existência de uma ação comissiva ou omissiva. Não há responsabilidade penal nos casos abarcados pela teoria do “corpo neutro”. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 55 11.4.2 Dano Não há responsabilidade civil sem dano, ainda que em re ipsa, ou seja, um dano que seja hipotético (vide-se os Lucros Cessantes). Há o dano patrimonial e o dano extrapatrimonial. Os danos patrimoniais se subdividem em danos emergentes e o lucro cessantes, que são, respectivamente, o que se perdeu e o que se deixou de ganhar. Um exemplo de lucros cessantes é previsto no inciso II do artigo 948, CC: Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima. A análise dos danos extrapatrimoniais requer um cuidado especial do estudante. Há quatro tipos de danos extrapatrimoniais segundo a atual classificação doutrinária brasileira16. São eles: i) Dano Moral; ii) Danos Estéticos; iii) Danos Psíquicos; iv) Dano-Morte; 16 ATENÇÃO – Em aula o professor comentou somente sobre o dano moral e o dano estético. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 56 11.4.2.1 Dano moral A análise do dano moral é extremamente complexa, e somente uma leitura superficial será realizada neste material. Para o autor Artur Oscar de Oliveira Deda, dano moral é “a dor resultante da violação de um bem juridicamente tutelado, sem repercussão material”. Pontes de Miranda diz que “nos danos morais a esfera ética da pessoa é que é ofendida; o dano não patrimonial é o em que só atingindo o devedor como ser humano, não lhe atinge o patrimônio”. Pode se concluir que o dano moral é toda a forma de dano que ofende ou lesa a vítima em sua esfera ética, cultural, e de valores socialmente absorvidos por ele. Portanto, trata-se de dano a ser averiguado individualmente, caso a caso, tendo por base as condições acima descritas de conteúdo de vida da vítima do dano perante o meio social em que está inserido. O dano moral está intimamente ligado à agressão dos direitos da personalidade. Se há agressão há direitos da personalidade, e não recaindo esse dano nas outras hipóteses de dano extrapatrimonial que estamos tratando, então se está defronte a uma situação de dano moral. 11.4.2.2 Dano estético Ao tratar de dano estético, deve-se levar em conta o padrão e estilo de vida pessoa supostamente afetada. O dano estético é o mais subjetivo dos danos extra patrimoniais, pois envolve uma análise de existência de sensível diminuição de simetria estética sob padrões normais. Em outras palavras, o que é feio não pode, teoricamente, sofrer danos estéticos. O dano estético incide sobre aquilo que é belo. A simples agressão corporal com sequelas tem também sua tutela garantida, mas sob a égide dos danos morais como um todo. Por exemplo, uma cicatriz na face de um lutador de boxe tem uma conotação completamente distinta da mesma cicatriz na face de uma modelo. No primeiro caso, há inclusive uma exaltação, como prova de realização de ferozes combates. No segundo, há uma agressão gravíssima que colocará em xeque todo o estilo de vida da vítima, não só profissional e patrimonialmente, mas também pessoalmente e psicologicamente, uma vez que o modo como Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 57 ela se via, e, especialmente, o modo como ela enxergava a sociedade a vendo foram completamente alterados. Nesses casos sim, se admite o dano estético. 11.4.2.3 Dano Psíquico O dano psíquico não se confunde com o moral. O dano moral se instala dentro dos limites da consciência da vítima, que tem uma percepção pessoal de seu sofrimento e prejuízo sem que sequelas mentais/psicológicas lhe afetem gravemente. O dano psíquico por sua vez é uma consequência traumática em que o indivíduo sofre danos em seu subconsciente, de modo a desestruturar sua estrutura psicológica e seus mecanismos de defesa mentais de modo prolongado ou, em alguns casos, até mesmo irreversível. 11.4.2.4 Dano-morte Alguns autores consideram que o dano morte decorre do dano moral. Outros classificam separadamente. O que importa, obviamente, é seu conteúdo. O dano morte é o prejuízo sofrido pela vítima do dano. O dano morte, obviamente, pressupõe uma coisa fundamental: vida. Curiosamente, a fundamentação filosófica do dano-morte tem a mesma lógica da “perda de uma chance” – Não é possível causar dano a um morto. O dano gerado pela morte não é a morte em si, mas sim A PERDA DA CHANCE DE CONTINUAR VIVENDO. A legitimidade para o pleito do dano-morte é de ninguém mais que não aquele que sofreu o dano – a vítima. Entretanto, ela se encontra morta... Por isso, a legitimidade é de seu espólio, representado por seus sucessores. Dentro do dano morte há também o dano das pessoas intimamente ligadas ao morto. Alguns autores classificam esse dano por dano moral. Outros o consideram desdobramento do dano morte, e o chamam de dano-ricochete. Dano ricochete é o dano sofrido pelas pessoas imediatamente ligadas afetivamente ao falecido, e, por isso, a legitimidade para o pleito do é ordinária de cada uma dessas pessoas. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 58 11.4.3 Nexo de causalidade É o fio condutor da ação/omissão ao dano. Ele é intangível, de compreensão mais complexa. O nexo liga a ação ao dano. Se essa ligação for rompida não há mais nexo de causalidade. Há três exceções que afastam a causalidade: Clausula de não indenizar – Por meio da causa de não-indenizar, convenciona-se entre as partes que o risco é responsabilidade da vítima, que expressamente se coloca em tal posição. Caso fortuito e força maior – O caso fortuito e a força maior são fatores que afastam o nexo de causalidade pela completa ausência de culpa das partes, por serem fatos inevitáveis. Culpa exclusiva da vítima ou de terceiros – gera o rompimento do nexo de causalidade, uma vez que o único nexo existente neste caso é o entre o danoe a própria vítima dele. 11.4.4 Culpa Neste elemento se analisa se a responsabilidade civil é objetiva ou subjetiva. A culpa não é um elemento essencial, mas é fundamental (no sentido de dar fundamento) – porque há a culpa subjetiva e a objetiva. Caso a culpa seja subjetiva, é necessária prova da culpa. Se a culpa for objetiva, independe de prova da culpa. Como regra, a responsabilidade extracontratual é subjetiva. Como regra, a responsabilidade extracontratual nas relações de consumo (CDC) é objetiva. AULA 09 – 04 DE ABRIL DE 2014 Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 59 12 PROPRIEDADE 12.1 CONCEITO Segundo o conceito de Clóvis Bevilaqua, propriedade é o poder que determinada pessoa tem sobre uma coisa dentro da sociedade. 12.2 ATRIBUTOS É o GRUD!!! – Gozar; Reivindicar; Usar; Dispor!!! 13 POSSE Tem posse quem tem um dos atributos da propriedade. 14 DIREITOS REAIS Os direitos reais são previstos no rol do artigo 1.225 do Código Civil: Art. 1.225. São direitos reais: I - a propriedade; Ver acima II - a superfície; É similar à uma locação, com a diferença que ela será registrada e poderá ter como contraprestação forma de pagamento outra que não dinheiro. III - as servidões; Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 60 Cuidado pois servidão não é a mesma coisa que passagem forçada! Servidão de passagem deve ser registrada e pode ser remunerada ou não, sendo escolha das partes. Por ser registrada, trata-se de um ato consensual por meio de escritura. Passagem forçada por sua vez é um instituto de direito de vizinhança, diferente da servidão que é direito real. Nesse caso, litigiosamente, por meio de ação proposta perante o poder judiciário, há o reconhecimento da passagem forçada. O conceito de "passagem forçada" vem do direito de o proprietário de um imóvel seja ele rural ou urbano em terreno com ou sem construção, poder acessa-lo caso ele não tenha nenhum acesso para a via pública ou este esteja prejudicado. Neste caso, ele adquire o direito de solicitar passagem por dentro do terreno do seu vizinho (direito de vizinhança, Código Civil 2002, art. 1285) indenizando-o. IV - o usufruto; Nesse instituto existe o nu-proprietário e o usufrutuário. O usufrutuário terá direito de gozo, reivindicação e uso. O nu-proprietário terá direito somente ao atributo de reivindicação. Como regra, o usufruto é vitalício. V - o uso; Sobre o direito real de uso assim ensina Venosa (2013, p. 504): “Trata-se, portanto, de modalidade de usufruto de menor âmbito (...) Enquanto o usufrutuário tem o ius utendi et fruendi, o usuário tem apenas o ius utendi, ou seja, o simples direito de usar da coisa alheia.” O professor Roberto Gonçalves (2012, p. 352) assim conceitua o uso: O uso é considerado um usufruto restrito, porque ostenta as mesmas características de direito real, temporário e resultante do desmembramento da propriedade, distinguindo-se, entretanto, pelo fato de o usufrutuário auferir o uso e a fruição da coisa, enquanto ao usuário não é concedida senão a utilização restrita aos limites das necessidades suas e de sua família. Já o professor Flávio Tartuce (2013, p. 374-5) em sua obra Direito das Coisas assim ensina sobre o instituto do uso: Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 61 O direito de uso recebe a denominação usufruto anão, usufruto reduzido ou restrito (arts. 1412 e 1413 do CC). Ao contrário do que possa parecer, o titular do direito de uso pode usar e também fruir, ou seja, receber os frutos que a coisa produz. VI - a habitação; É um direito real semelhante ao usufruto, mas o habitante não tem direito de gozo, sendo que o beneficiário portanto não poderá tirar proveito do imóvel. Ex.: Direito real de habitação do cônjuge sobrevivente. Nesse caso, mesmo que o cônjuge sobrevivente não tenha a integralidade do imóvel, ele poderá habitar no imóvel sem ter de pagar qualquer valor VII - o direito do promitente comprador do imóvel; Trata-se do compromisso de compra e venda, e é direito real de aquisição. Antigamente, o compromisso de compra e venda era meramente direito pessoal. Hoje em dia, os direitos oriundos de compromisso de compra e venda são inseridos no rol dos direitos reais por segurança jurídica – além de dar publicidade. VIII - o penhor; É dar em garantia bem móvel. Atenção: o verbo para dar em penhor alguma coisa é EMPENHAR, e não PENHORAR. Penhorar vem de penhora, que é a ordem de constrição exarada por juízes. Empenhar vem de penhor. IX - a hipoteca; A hipoteca trata-se de direito real de garantia sobre bem imóvel. X - a anticrese. A anticrese trata-se de gozar de um bem alheio para compensar dívida. Atenção: só é possível a anticrese sobre bem imóvel. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 62 XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007) Não são institutos próprios de direito civil, mas sim de direito administrativo. Não será cobrado. XII - a concessão de direito real de uso. (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007) Trata-se de imóveis públicos que estão ocupados. Não é possível vender os bens imóveis públicos. Então há essa “malandragem” em que, ao invés de vender, o poder público pode “conceder” ... 14.1 ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA É importante traçar a diferença entre os direitos reais de garantia e a alienação fiduciária em garantia. A alienação fiduciária em garantia gera propriedade resolúvel. A alienação fiduciária em garantia é muito melhor para o credor do que para o devedor. Esse negócio normalmente envolve três figuras, que são o comprador, o vendedor, e a financeira. O comprador, para realizar a compra, realiza um financiamento com a financeira. A financeira paga o valor integral para o vendedor, que sai do negócio com seu dinheiro. Por fim, o comprador original continua pagando a financeira, nova proprietária do bem, e, caso ele não consiga pagar, o próprio bem é resgatado pela financeira, quitando-se com isso a dívida. No caso da alienação fiduciária em garantia, gera-se um direito real EM garantia, enquanto o direito real é DE garantia. Na alienação fiduciária em garantia, a propriedade do bem é do credor, enquanto que nos direitos reais de garantia, a propriedade continua com o devedor. A alienação fiduciária em garantia pode incidir tanto sobre bens móveis quanto imóveis, enquanto que nos direitos reais de garantia observa-se o que cada direito real se refere. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 63 15 POSSE Discutiremos mais sobre posse agora... De acordo com o artigo 1196, basta ter um dos elementos da propriedade para se ter posse. Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. 15.1 TEORIAS DA POSSE 15.1.1 Subjetiva A teoria subjetiva é a de Savigny17. Para tal teoria, é necessário Corpus e Animus. 15.1.2 Objetiva A teoria objetiva é de Hering. Para essa teoria é necessário somente Corpus. 15.1.2.1 Corpus É apreensão física do bem 15.1.2.2 Animus Animus é a intenção de ser dono, ou seja, não basta ter fisicamente o bem, mas também a intenção de ser dono da coisa. Em regra, a teoria adotada pelo direito brasileiro é a objetiva. Há uma única exceção é o usucapião, pois para configuração do usucapião é necessário o ânimo de ter o domínio sobre o bem usucapido. 17 Dica para lembrar – Savigny, assim como Subjetiva, começa com “S” Por Rommel Andriotti Direito CivilAplicado 64 15.1.2.3 Detenção Também chamado “Flamulus” da posse. Tem detenção aquele que exerce atos sobre um bem em nome e sob a vontade e interesse de terceiro. Ex.: caseiro. 16 BIBLIOGRAFIA A confecção deste material se baseou principalmente nas explanações do professor da graduação de direito na FMU em sala de aula. No entanto, material bibliográfico foi usado complementarmente para enriquecer este caderno. Esse material adicional segue adiante elencado: SOUZA BEZERRA, JOICE DE. Qual a diferença entre Responsabilidade Civil Contratual de Extracontratual? (Artigo). Jus Brasil. 2010. http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1974721/qual-a-diferenca-entre-responsabilidade- civil-contratual-de-extracontratual-joice-de-souza-bezerra - acesso as 17:15 de 04 de março de 2014; ANÔNIMO. Direito das Obrigações/Inadimplemento. Wikiversidade. Disponível em http://pt.wikiversity.org/wiki/Direito_das_Obriga%C3%A7%C3%B5es/Inadimplemento - acesso as 14:24 de 04 de março de 2014; CARLOS FONTES, JOSÉ. Princípios Fundamentais na Formação dos Contratos (Artigo). http://m.classecontabil.com.br/artigos/exibir/1965 - acesso em 09 de março de 2014; SILVA DO AMARAL, DIEGO MARTINS. O Princípio da Boa-Fé (Artigo). 2009. Disponível em http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=1781 – Acesso em 09 de março de 2014; AULA 10 – 15 DE MAIO DE 2014 Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 65 17 PROVA REGIMENTAL 17.1 QUESTIONÁRIO PARA ESTUDO DA PROVA As seguintes questões são um estudo dirigido para o que cairá na prova regimental do dia 16 de maio de 2014. Todas as respostas para as questões abaixo encontram-se amplamente respondidas ao longo da matéria. As respostas encontradas abaixo são resumidas. Para mais detalhamento, consulte a aula sobre o tema. Além disso, as respostas abaixo são as minhas respostas, que foram elaboradas com dedicação, mas não têm garantias de ausência de erros, pelos quais não me responsabilizo. Espero que ajude em seus estudos. 1. Quais são os princípios norteadores do novo código civil? São a operabilidade; eticidade; e socialidade. O princípio da operabilidade consiste na criação do sistema das “janelas abertas”, em que a norma se atem à tutela do direito em abstrato, deixando margem para que, no caso concreto, o magistrado possa interpretar e aplicar a lei do modo mais condizente com a realidade cultural e com o contexto histórico que a decisão é proferida, ou seja, pelo sistema também chamado de clausulas gerais, é possível ao julgador interpretar o alcance da norma e sua aplicação ao caso concreto. Eticidade é o dever de ética entre as partes, o que se desdobra no dever de boa fé em todas as relações civis. Desse modo, as partes devem agir umas com as outras seguindo deveres de probidade, idoneidade, informação, honestidade, etc. Por fim, o princípio da socialidade prescreve que o direito civil deve acima de tudo alcançar um fim social, ou seja, fazer com que as relações regidas pelo código alcancem sua devida função social. Outrossim, função social é a função que excede o indivíduo, servindo também à sociedade Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 66 Do que se trata o fenômeno da constitucionalização do direito civil? Uma nova forma de hermenêutica interpretativa que aplica o direito civil em conjunto com o direito constitucional. Dessa forma, a interpretação do direito civil deve ser pautada nas disposições constitucionais, em especial nos direitos fundamentais, mesclando-se assim as duas áreas, e criando uma interpretação do direito civil que sejam tenha fim mais social do que as demais interpretações, menos sistemáticas, que afastam a aplicação da princípios constitucionais por ser a norma civil um diploma legal mais específico. O que é obrigação como sistema (sinalagmática) – reciprocidade de obrigações? Ocorre que nas obrigações onerosas e bilaterais, o que há é uma situação dúplice em que as duas partes são credoras e devedoras uma da outra. Desse modo, é criado um sistema em que ambas as partes desejam o que a outra quer, e ambas as partes comprometem algo próprio para aquisição daquela coisa, e a aquisição de tal coisa só se dará pela entrega do algo próprio (sob pena de exceção de contrato não cumprido), criando-se assim o sistema das obrigações civis. Há reciprocidade de obrigações, de modo que mesmo a parte aparentemente ativa de um contrato, como é o locador, tem deveres para com a outra, o locatário. Assim também é com o vendedor e o comprador, o segurado e o segurador, etc. No caso de compra e venda por exemplo, o sistema sinalagmático faz com que o pagamento pelo comprador sem a entrega do vendedor faça com que o comprador possa pleitear o ressarcimento cumulado com as perdas e danos por ser credor. Ora, o que ele receberia (produto) tem um valor em dinheiro. O fato de ele ter o direito de receber o produto e esse recebimento ser exigível (por causa da mora), o transforma em credor do vendedor. Qual a diferença de dar e fazer? A diferença entre dar e fazer é que o fazer pressupõe a prestação de um serviço que não existe na obrigação de dar. Dessa forma, alguém pode ser obrigado a por exemplo, dar uma pintura para outra (quadro). Entretanto, a mesma pintura ter sua entrega imposta a um pintor pois era obrigação dele entregar a pintura. Ora, nesse caso, ele não pode simplesmente ir à uma loja e Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 67 comprar um quadro. Não, ele próprio deverá FAZER o quadro, e, por isso, a obrigação dele é de fazer. Obviamente, toda a obrigação de fazer terá, logo depois, embutida uma obrigação de dar. Mas é exatamente esse fato, o de haver a prestação de um serviço, ou a abstenção de uma ação (nas obrigações de não fazer), que diferem as duas. O lembrete é que Fazer = Dar + Tarefa; e Dar = Entregar. Discorra sobre a execução contra devedor solvente, envolvendo na resposta as cláusulas penais, correção monetária, juros, e outros valores possivelmente incidentes. A execução contra devedor solvente é o meio pelo qual se resolve a crise do inadimplemento que se deu em face de devedor solvente, ou seja, cujo patrimônio é em tese superior ao valor de suas obrigações não cumpridas, e que, portanto, pode responder com ele a elas. A execução conta devedor solvente se dá na forma dos artigos 646 e seguintes do Código de Processo Civil. A finalidade da execução é expropriar os bens do devedor a fim de satisfazer o crédito do credor, observados os casos de impenhorabilidade (ver artigo 649, CPC) Em função do inadimplemento, deverão incidir uma série de outros ônus na obrigação do devedor em mora. São eles i) Os honorários advocatícios, que só serão devidos se efetivamente usados, além de poderem ser cobrados tanto os honorários sucumbenciais quanto os contratados; ii) os juros moratórios que decorrem do inadimplemento relativo temporal da obrigação, e dizem respeito ao tempo em que o dinheiro do credor não estava com ele por uma ação arbitrária do devedor; iii) Correção monetária, que diz respeito à atualização do valor da obrigação levando-se em conta a desvalorização e flutuação de valor da moeda do país; e ainda iv) a cláusula penal, que é contratualmente acertada entre as partes para que uma seja obrigada a indenizar a outra mediante multa pecuniária em caso de descumprimento do avençado, sendo certo que o valor dela nas relações civis não pode ultrapassar 10% e nas relações de consumo não podem ultrapassar 2%. Discorra sobre a Função social dos contratos Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 68 A função social dos contratos consiste na observânciado impacto social que a realização de contrato tem perante a sociedade. O contrato que é lesivo à sociedade, portanto, está em desconformidade com a função social dos contratos. Um dos pontos altos do novo Código Civil está em seu Art. 421, segundo o qual “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. É em razão dessa limitação, por exemplo, que há a vedação de certos negócios jurídicos, como as transações bloqueadas pelo CADE por exemplo, que impede que sejam realizados contratos lesivos à ordem econômica, logo, lesivos à função social. Discorra sobre a Boa fé objetiva A boa fé objetiva (também chamada de boa-fé – lealdade) consiste no dever das partes em serem éticas uma com a outra, respeitando seus mútuos direitos, não se valendo de clausulas escusas para receber vantagens não previstas, demonstrando seu lado do negócio o mais claramente possível, e respeitando os deveres da lealdade (paridade), ética, informação, confiança recíprocas; Assistência; Sigilo ou confidencialidade, etc. Em suma, a boa-fé objetiva é o conjunto de deveres de conduta que uma parte tem perante a outra para garantir a eticidade na celebração de uma relação jurídica. Explique os conceitos parcelares da boa-fé objetiva Há conceitos parcelares que derivam da boa fé objetiva. O primeiro deles é o Surrectio, que é a perda de um direito pelo seu não exercício. Siginifica “supressão” e “ascenção”, ou seja, quando um perde o outro ganha. Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 69 A segunda é o Tuquoque, que Significa “até tu”. Isso é traição contratual. É exemplo a fraude de licitação pela administração. O contribuinte confia que a administração pública agirá no melhor interesse da população ao gerir as verbas públicas. Quando ela não o faz, se tem uma traição perante toda a sociedade. Há a seguir o conceito do Venire contra Factum Proprium, ou seja, “Ir contra fato próprio”. É a teoria dos atos contraditórios. É criar expectativa onde não existe, refugar, voltar atrás, etc. ex.: caso dos processos seletivos. As vezes (ou quase sempre), há casos em que, por exemplo, 500 pessoas são aprovadas em determinado concurso público mas apenas 450 são chamadas. Essas 50 restantes aguardam sua vaga, que por sinal pode nunca vir. Isso cria uma expectativa de direito, que, se não saciada, lesa moralmente os aprovados, que tinham a certeza da aprovação e foram frustrados por não serem chamados (isso vale para processos seletivos em esfera privada também). Dizer que alguém foi aprovado e depois negar-lhe o direito que lhe seria devido em razão de tal aprovação é ir contra fato próprio (Venire contra factum proprium), é ser contraditório, o que é vedado e passível de punição pelo ordenamento, exatamente como desdobramento do princípio da boa-fé objetiva (uma vez que faltou-se com ética e lealdade). Outro instituto que deriva da boa-fé objetiva é a teoria do adimplemento substancial. Ocorre quando algo no adimplemento não se deu como previsto. Por exemplo, alguém tem o mesmo plano de saúde por vinte anos, mas bem no momento que a pessoa precisa do plano ela esqueceu o pagamento do mês referente, e o plano de saúde recusa o tratamento. Pelo adimplemento substancial, se quase todo o contrato foi cumprido, então não é justo que a pessoa fique sem o tratamento unicamente por causa do esquecimento de uma parcela. Veja que a pessoa honra com suas obrigações religiosamente durante muitos anos, e coincidentemente, no momento em que o serviço foi necessário, uma parcela ficou sem adimplemento. Explique o Direito de arrependimento O direito de arrependimento é o direito de devolver a mercadoria com extorno do dinheiro pago, por arrependimento da compra, quando esta foi realizada fora do estabelecimento comercial do Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 70 fornecedor. O direito de arrependimento tem prazo de sete dias para ser exercido. A previsão legal deste direito é o artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor. Ressalta-se que fora esta previsão legal, não há outros meios para a devolução por arrependimento ou mesmo a troca de produtos. Ninguém é obrigado a trocar nada, e se a loja troca, é por praxe de mercado, e não por disposições do CDC. Explique a Responsabilidade civil e seus quatro elementos A responsabilidade civil é a imposição do dever de indenizar patrimonialmente uma pessoa por ter o responsável civil praticado um ato ilícito que gerou dano ao indenizado. A causa de pedir próxima da responsabilidade civil é o dever de indenizar trazido em abstrato pelo artigo 927, CC, em função da prática de ato ilícito, que são descritos pelo artigo 186, CC. Para haver responsabilidade civil, é necessária a cumulação simultânea de quatro elementos: Ação/Omissão – É conduta comissiva ou omissiva do responsável; Nexo – É a existência de relação causal entre a ação e o dano. Cuidado com as três excludentes de nexo de causalidade: A cláusula de não indenizar; A força maior e caso fortuito; e a culpa exclusiva da vítima. Culpa – responsabilidade objetiva (contratual) independe de culpa, e a subjetiva (Extracontratual) depende dela. Culpa é a imprudência, imperícia e negligencia. Dano – dano moral, dano estético, material, psicológico, etc. 17.2 ULTIMAS ORIENTAÇÕES As questões acima são meramente norteadoras. O professor não falou que cairá exatamente elas, mas que muito provavelmente os temas cobrados nelas serão os mesmos cobrados na prova. Serão três questões – 3, 2, 2 Por Rommel Andriotti Direito Civil Aplicado 71 Mesma matéria para regimental, segunda chamada, e exame. Não pode usar código. Boa Sorte a todos Fim Rommel Andriotti