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1 A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE E SEUS EFEITOS Matheus Augusto da Silva Machado1 - Centro Universitário Filadélfia Vinicius Diogo da Silva Santos2 - Centro Universitário Filadélfia Orientadora: Prof.ª Ana Karina Ticianelli Möller - Centro Universitário Filadélfia Resumo: Tendo em vista os diversos debates no atual cenário político vivenciado pela sociedade brasileira, onde a interpretação sobre várias perspectivas daquilo que versam os artigos da nossa Constituição é recorrente objeto de discussão, o presente trabalho tem a finalidade de apresentar, de modo breve, a forma como é realizado o controle de constitucionalidade no Brasil. Similarmente, serão analisados os mecanismos de fiscalização que têm como escopo garantir que os demais diplomas legais sejam efetivamente redigidos em conformidade com as normas constitucionais. Em síntese, a matéria desta atividade acadêmica será os pressupostos e o conceito do controle de constitucionalidade, além de suas diversas modalidades. Palavras-chave: Constitucionalidade. Constituição. Controle. Leis. Nas palavras do jurista austríaco Hans Kelsen (1998, p. 155) “A ordem jurídica não é um sistema de normas jurídicas ordenadas no mesmo plano, situadas umas ao lado das outras, mas é uma construção escalonada de diferentes camadas ou níveis de normas jurídicas”, sendo assim, essa ideia de Kelsen nos trouxe a noção sobre a necessidade de haver uma hierarquia entre as normas legais vigentes em um Estado. Do mesmo modo, é relevante destacar as lições do prestigiado doutrinador José Afonso da Silva (2004, p. 46), onde afirma que “O princípio da supremacia requer que todas as situações jurídicas se conformem com os princípios e preceitos da Constituição”, assim se tem a exata concepção da obrigação de que todas as normas que constituem o nosso ordenamento jurídico estejam de acordo com o que se estabeleceu em nossa norma suprema, a Constituição Federal. Além da supremacia constitucional, o ilustre Professor Pedro Lenza (2014, p. 275) acentuou que a existência de uma Constituição rígida, que será modificada por 1 Acadêmico de Direito no Centro Universitário Filadélfia - UNIFIL. mat.augusto@yahoo.com 2 Acadêmico de Direito no Centro Universitário Filadélfia - UNIFIL. vinicius_vinisantos@outlook.com 2 meio de emendas constitucionais, e a atribuição de competência a um órgão para analisar tais questões de constitucionalidade, que é o Supremo Tribunal Federal, são pressupostos básicos para a execução do sistema de controle que foi adotado. O excessivo número de leis presentes no ordenamento jurídico brasileiro é de conhecimento dos acadêmicos e profissionais do Direito. Se, por um lado, isto possibilitou um poder de alcance maior das normas jurídicas em relação aos casos concretos que ocorrem na sociedade, por outro, acaba criando uma desordem para os profissionais que tem nas leis o seu principal instrumento de trabalho, como advogados, juízes, promotores, entre outros. Não é raro a existência de leis editadas pelo Poder Público que contradizem os princípios e as normas instituídas na Constituição Federal. Isto acontece tanto no aspecto formal, ou seja, quando há vícios de procedimentos decorrentes da inobservância do devido processo legislativo, e também no aspecto material, que significa que determinado ato normativo afronta preceito ou princípio da Lei Maior, assim, nesta situação o vício da lei decorre de seu conteúdo. Em ambas as situações, deverá ser realizado o controle de constitucionalidade, que pode ocorrer em dois momentos: previamente a vigência da norma, onde se dará o controle preventivo, ou quando a norma já está em vigor produzindo seus efeitos, sendo então o controle repressivo. Na hipótese de controle de constitucionalidade preventivo, este é considerado político, pois será realizado durante o processo legislativo de formação do ato normativo, visando impedir o ingresso deste no sistema jurídico. Entretanto, isto não significa que essa modalidade é exclusiva do Poder Legislativo, pois o Executivo e o Judiciário não estão impedidos de realizarem igualmente esse controle prévio. No Poder Legislativo, a verificação sobre a presença de algum vício que pode originar a inconstitucionalidade de uma norma ocorre por meio da Comissão de Constituição e Justiça das respectivas casas. Ambos os regimentos da Câmara e do Senado definem que, se houver o parecer da CCJ determinando a inconstitucionalidade de um projeto de lei, o mesmo será rejeitado e arquivado definitivamente da proposição. Cabe ressaltar que o controle também poderá ser feito em plenário, tanto na Câmara dos Deputados, como no Senado Federal, assim o próprio parlamentar poderá verificar e arguir a inconstitucionalidade de um projeto de lei durante seu processo legislativo. Michel Temer (1998, p. 43) nota que este controle nem sempre verifica todos os projetos de atos normativos, citando a sua 3 inocorrência, por exemplo, sobre projetos de medidas provisórias, resoluções dos Tribunais e decretos. O controle preventivo por meio do Poder Executivo, sobrevém no momento em que o projeto de lei aguarda a sanção do Presidente da República. Conforme art. 66, § 1º da CF/88, o Chefe do Executivo poderá dar seu veto declarando a inconstitucionalidade da norma, o que seria o veto jurídico, ou esclarecendo que a sanção da mesma é contrária ao interesse público, neste segundo caso seria considerado o veto político. Nos termos do art. 66, § 4º da CF/88, referido veto será apreciado em sessão conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, podendo, pela maioria absoluta dos votos dos parlamentares, ser rejeitado. Nessa situação, a votação que anula o veto do Executivo produz os mesmos efeitos que a sanção. Quando realizado pelo Poder Judiciário, o controle dar-se-á unicamente sobre proposta de emenda constitucional (PEC) em desconformidade com cláusula pétrea. O Judiciário também visa garantir o respeito ao devido processo legislativo, vedando procedimentos contrários com as regras da Constituição. Este controle ocorre pela via de exceção, ou seja, de modo incidental, sendo exclusivo do parlamentar a legitimidade para impetrar mandado de segurança, onde a própria jurisprudência do STF consolidou em negar a legitimidade ad causam a terceiros. Já o controle repressivo será feito sobre a lei e não mais sobre o seu projeto, assim os órgãos de controle verificarão se a lei ou qualquer outro ato com caráter normativo possuem um vício formal ou material. Em duas ocasiões caberá o controle de constitucionalidade repressivo pelo Poder Legislativo: no caso dos atos do Executivo que exorbitem de seu poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa, conforme art. 49, V da CF/88. O Legislativo poderá exercê-lo ainda na análise de medidas provisórias, as quais, uma vez editadas, já são atos normativos com força de lei estando, inclusive, presente no rol do art. 59 da CF/88. Portanto, mesmo não sendo necessária sua aprovação no Congresso Nacional para entrar em vigor, a medida provisória estará sujeita a este controle, sendo analisada também a observância dos requisitos de relevância e urgência exigidos pelo art. 62 da CF/88. O entendimento do Supremo Tribunal Federal firmou que na esfera do Poder Executivo somente o seu Chefe poderá realizar o controle repressivo de constitucionalidade. Nesta situação, independente do grau de localidade, ao se 4 deparar com uma lei ou ato normativo manifestamente inconstitucional, deverá o Chefe do Executivo editar um ato administrativo determinandoque referida norma não seja observada por seus subordinados, até que a questão seja decidida pelo Poder Judiciário. No que tange o controle de constitucionalidade feito pelo Poder Judiciário, a Constituição concedeu a essa esfera o poder de realizar tanto o controle difuso, como também o controle concentrado. Com amparo legal nos arts. 97 e 102, III e alíneas da CF/88, o controle judicial do tipo difuso permitiu a qualquer juiz ou tribunal realizar, no julgamento de um caso concreto, a análise incidental da constitucionalidade de uma lei ou ato normativo federal, estadual, distrital ou municipal. Neste tipo de controle, a eficácia será inter partes, isto é, os efeitos serão aplicados somente entre as partes litigantes permanecendo válida em relação às demais pessoas, pois a norma não é retirada do ordenamento jurídico. O controle judicial do tipo concentrado, também conhecido como controle por via de ação direta, encontra amparo em diversos dispositivos constitucionais. Tal controle é realizado exclusivamente pelo Supremo Tribunal Federal quando tiver por objeto a análise de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual confrontado a Constituição Federal e será matéria discutida pelos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, quando a inconstitucionalidade recair sobre lei estadual, municipal ou distrital que fere a Constituição do respectivo Estado ou a Lei Orgânica do Distrito Federal. Este controle concentrado acontecerá independentemente da existência de casos concretos em que a constitucionalidade esteja sendo discutida. Via de regra, a decisão que reconhece a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo terá eficácia erga omnes, ou seja, em face de todos, e seus efeitos são ex tunc, o que significa que seus efeitos são retroativos à época da origem dos fatos a ele relacionados. Em razão disso, referida norma é considerada nula, como se nunca estivesse existido no ordenamento jurídico. Ademais, é comum nesses casos haver a repristinação da norma que havia sido revogada pela lei ou ato normativo editado posteriormente, eivado de inconstitucionalidade. De modo conciso, foram expostas neste trabalho todas as formas que são feitas o controle de constitucionalidade no Brasil, onde, em um primeiro momento, houve apresentação das características do nosso ordenamento jurídico e da nossa 5 Constituição que possibilitam a realização deste controle e, logo após, foi visto que tanto uma lei em vigor, um ato normativo que não seja exatamente uma lei, mas que tenha força legal ou até mesmo um projeto de lei que sequer foi aprovado podem ser declarados inconstitucionais, seja em razão do seu conteúdo ou do seu procedimento de elaboração e aprovação. Referências Bibliográficas: DANTAS, Paulo Roberto de Figueiredo. Curso de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Atlas. 2015 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Traduzido por João Baptista Machado. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 18. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2014. SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 23. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 14. ed. rev. e ampl. São Paulo: Malheiros, 1998.
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