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Apostila_Direito_Processual_Constitucional

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1 
 
 
 
 2 
APRESENTAÇÃO 8 
AULA 1: CONSTITUIÇÃO E PROCESSO 9 
INTRODUÇÃO 9 
CONTEÚDO 10 
PROCESSO CONSTITUCIONAL 10 
A RIGIDEZ CONSTITUCIONAL E A SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO COMO PREMISSAS DO 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS 12 
TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE 17 
CRITÉRIO QUANTO AO OBJETO: INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL E 
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL 18 
CRITÉRIO QUANTO À CONDUTA: INCONSTITUCIONALIDADE POR AÇÃO (COMISSIVA) OU 
INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO (OMISSIVA) 20 
CRITÉRIO QUANTO AO TEMPO: INCONSTITUCIONALIDADE ORIGINÁRIA OU 
INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE 24 
CRITÉRIO QUANTO À RELAÇÃO QUE MANTÉM COM A CONSTITUIÇÃO: 
INCONSTITUCIONALIDADE DIRETA OU INCONSTITUCIONALIDADE INDIRETA (POR 
DERIVAÇÃO) 25 
ATIVIDADE PROPOSTA 25 
REFERÊNCIAS 26 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 26 
AULA 2: CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 30 
INTRODUÇÃO 30 
CONTEÚDO 30 
SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE EM PERSPECTIVA COMPARADA 31 
JUDICIAL REVIEW: O SISTEMA DIFUSO NORTE-AMERICANO 31 
O SISTEMA AUSTRÍACO OU EUROPEU DE CONSTITUCIONALIDADE (CONTROLE ABSTRATO)
 33 
O MODELO FRANCÊS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE (CONTROLE POLÍTICO)36 
 
 3 
OS SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DA ALEMANHA E DA ITÁLIA 
(CONTROLE CONCENTRADO E INCIDENTAL) 38 
VISÃO PANORÂMICA DO SISTEMA BRASILEIRO DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
 39 
CONTROLE PREVENTIVO DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS NO DIREITO BRASILEIRO
 43 
CONTROLE PREVENTIVO POLÍTICO 43 
CONTROLE PREVENTIVO JUDICIAL 45 
CONTROLE REPRESSIVO POLÍTICO 48 
ATIVIDADE PROPOSTA 50 
REFERÊNCIAS 50 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 51 
AULA 3: CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE 54 
INTRODUÇÃO 54 
CONTEÚDO 55 
A PETIÇÃO INICIAL E A SENTENÇA NO CONTROLE POR VIA INCIDENTAL 56 
LEGITIMAÇÃO PARA O CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE 59 
A CLÁUSULA DA RESERVA DE PLENÁRIO E A CISÃO FUNCIONAL DE COMPETÊNCIA 61 
EFEITOS DA DECISÃO FINAL DE MÉRITO PELO STF EM SEDE DE ARGUIÇÃO INCIDENTAL 
DE INCONSTITUCIONALIDADE 69 
O PAPEL DO SENADO FEDERAL NO CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE 73 
A MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL DO ARTIGO 52, INCISO X, DA CONSTITUIÇÃO E A TEORIA 
DA TRANSCENDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES 76 
O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE EM SEDE DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA 79 
ATIVIDADE PROPOSTA 80 
REFERÊNCIAS 81 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 81 
AULA 4: CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE 86 
INTRODUÇÃO 86 
CONTEÚDO 87 
ELEMENTOS TEÓRICOS DO CONTROLE CONCENTRADO 87 
ELEMENTOS TEÓRICOS DO CONTROLE PRINCIPAL 87 
ELEMENTOS TEÓRICOS DO CONTROLE ABSTRATO 88 
 
 4 
O REGIME JURÍDICO DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (ADI): ASPECTOS 
GERAIS 89 
CONCEITO DE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 90 
OBJETO DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 90 
COMPETÊNCIA 90 
LEGITIMADOS ATIVOS 91 
OS LEGITIMADOS UNIVERSAIS E ESPECIAIS 91 
A FIGURA DO AMICUS CURIAE 95 
PAPEL DO ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO 95 
PAPEL DO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA 96 
EFEITOS E MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO DO STF EM SEDE DE ADI 96 
O REGIME JURÍDICO DA AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE (ADC) 97 
A RELEVANTE CONTROVÉRSIA JUDICIAL 97 
OBJETO DA AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE 98 
A NATUREZA DÚPLICE DA ADI/ADC 99 
O REGIME JURÍDICO DA ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 
(ADPF) 100 
CONCEITO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 100 
OBJETO E TIPOS DE ADPF 101 
PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE EM SEDE DE ADPF 102 
ATIVIDADE PROPOSTA 104 
REFERÊNCIAS 104 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 105 
AULA 5: RI E ADINT 109 
INTRODUÇÃO 109 
CONTEÚDO 110 
A REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE (RI) E O CONTROLE ABSTRATO NOS 
ESTADOS-MEMBROS 110 
CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE 111 
OBJETO DAS REPRESENTAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE 112 
COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO DAS REPRESENTAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE
 113 
A JURISPRUDÊNCIA DO STF E AS REPRESENTAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE 114 
 
 5 
A NATUREZA POLÍTICA DA INTERVENÇÃO FEDERAL E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE 
DIREITO 117 
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE INTERVENTIVA (ADINT) 118 
HIPÓTESES DE CABIMENTO DA ADINT 119 
LEGITIMIDADE PASSIVA E ATIVA AD CAUSAM PARA PROPOR ADINT 120 
PROCEDIMENTO DA AÇÃO INTERVENTIVA REGULADO PELA LEI N. 4337/64 120 
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS SENSÍVEIS 121 
JURISPRUDÊNCIA DO STF 122 
ATIVIDADE PROPOSTA 123 
REFERÊNCIAS 123 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 124 
AULA 6: HABEAS CORPUS E HABEAS DATA 127 
INTRODUÇÃO 127 
CONTEÚDO 128 
CONTEXTO HISTÓRICO DO HABEAS CORPUS 131 
A DOUTRINA BRASILEIRA DO HABEAS CORPUS 133 
CARACTERÍSTICAS GERAIS DO HABEAS CORPUS 136 
CONCEITO CONSTITUCIONAL DO HABEAS DATA 140 
COMPARAÇÃO COM O DIREITO DE PETIÇÃO E COM O DIREITO DE OBTER CERTIDÕES 141 
DIREITO DE PETIÇÃO E DIREITO A OBTENÇÃO DE CERTIDÕES 141 
CARACTERÍSTICAS GERAIS DO HABEAS DATA 143 
ATIVIDADE PROPOSTA 145 
REFERÊNCIAS 145 
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO 146 
AULA 7: MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÃO POPULAR 150 
INTRODUÇÃO 150 
CONTEÚDO 151 
CONCEITO CONSTITUCIONAL DO MANDADO DE SEGURANÇA 152 
OBJETO, LEGITIMIDADE E MODALIDADES DO MANDADO DE SEGURANÇA 153 
CONCEITO DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO 158 
CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MANDADO DE SEGURANÇA 158 
AÇÃO POPULAR 167 
ATIVIDADE PROPOSTA 168 
 
 6 
REFERÊNCIAS 169 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 169 
AULA 8: MANDADO DE INJUNÇÃO E AÇÃO POR OMISSÃO 174 
INTRODUÇÃO 174 
CONTEÚDO 175 
NEOCONSTITUCIONALISMO, ATIVISMO JUDICIAL E JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA 175 
COMPARAÇÃO ENTRE A ADO E O MANDADO DE INJUNÇÃO 181 
ATIVIDADE PROPOSTA 189 
REFERÊNCIAS 189 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 190 
CHAVES DE RESPOSTA 194 
AULA 1 194 
ATIVIDADE PROPOSTA 194 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 195 
AULA 2 196 
ATIVIDADE PROPOSTA 196 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 196 
AULA 3 197 
ATIVIDADE PROPOSTA 197 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 198 
AULA 4 199 
ATIVIDADE PROPOSTA 199 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 200 
AULA 5 201 
ATIVIDADE PROPOSTA 201 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 202 
AULA 6 203 
ATIVIDADE PROPOSTA 203 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 203 
AULA 7 204 
ATIVIDADE PROPOSTA 204 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 204 
AULA 8 205 
 
 7 
ATIVIDADE PROPOSTA 205 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 206 
CONTEUDISTA 207 
 
 
 
 
 8 
Esta disciplina insere-se no conjunto do módulo de Direito Constitucional e 
dedica-se ao estudo do processo constitucional. Para tanto, contempla temas do 
controle de constitucionalidade e das ações constitucionais. 
 
Nesse sentido, está constituída em torno da jurisdição constitucional e dos 
remédios constitucionais. Com efeito, a importância do processo constitucional 
aumenta em tempos de leitura moral da Constituição em virtude da busca de 
realização do princípio da dignidade da pessoa humana. 
 
Sendo assim, esta disciplina tem como objetivos: 
1. Analisar o complexo sistema brasileiro de controle de constitucionalidade 
exercido pelos três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), bem 
como compreender as influências sofridas do direito comparado; 
2. Compreender a configuração dos processos regulamentados pela 
Constituição no que tange às garantias voltadas para a tutela dos direitos 
fundamentais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 9 
Introdução 
Na presente aula, serão estudadas as conexões entre a supremacia constitucional 
e a rigidez constitucional no âmbito do controle de constitucionalidade, bem 
como os diferentes tipos de inconstitucionalidade. 
 
Com efeito, desde o surgimento do Estado de Direito, por ocasião dos grandes 
movimentos revolucionários liberais do século XVIII, desponta a ideia de que a 
Constituiçãoé lei fundamental de hierarquia superior sobre todos os demais atos 
estatais e poderes constituídos, daí, portanto, a necessária compreensão da sua 
relação com o conceito de rigidez constitucional. 
 
Na sequência dos estudos, pretende-se analisar as espécies de 
inconstitucionalidade. Nesse sentido, é importante compreender que o sistema 
brasileiro de controle de constitucionalidade volve-se, tradicionalmente, para a 
fiscalização da atuação normativa do Estado, tratando de forma diferenciada os 
diversos tipos de inconstitucionalidade existentes. 
 
Sendo assim, é objetivo desta aula: 
1. Analisar as conexões entre a supremacia constitucional, a rigidez 
constitucional e o controle da constitucionalidade, identificando as 
diferentes espécies de inconstitucionalidade. 
 
 
 
 
 
 
 10 
Conteúdo 
Processo Constitucional 
Antes de enfrentar as questões centrais da aula 1, é importante examinar a 
construção doutrinária que circunscreve o conceito de processo constitucional. 
Destarte, é importante, inicialmente, relacionar o processo constitucional com o 
respeito à Constituição e com a garantia dos direitos fundamentais. 
 
Em essência, a ideia de processo constitucional está diretamente ligada ao ramo 
do direito processual que regula o controle de constitucionalidade (verificação da 
compatibilidade vertical das normas infraconstitucionais com o texto 
constitucional) e que traz, na sua esteira, a verificação da efetividade do regime 
jurídico de proteção dos direitos fundamentais. 
 
Em linhas gerais, é possível definir o direito processual constitucional como o 
ramo do direito que se ocupa do conjunto de atos dos poderes estatais que 
objetivam garantir a supremacia da Constituição e o respeito ao catálogo de 
direitos fundamentais do cidadão comum, não se limitando, por conseguinte, ao 
processo judicial. Nesse sentido, a lição de Dimitri Dimoulis e Soraya Lunardi, 
quando afirmam que: 
 
Alguns autores definem o processo constitucional como sequência de 
atos que objetiva permitir uma decisão judicial sobre a 
constitucionalidade de certas normas (processo de fiscalização da 
constitucionalidade). Essa definição é indevidamente restritiva, pois não 
leva em consideração que o processo constitucional não se limita ao 
processo judicial. Os demais poderes do Estado também utilizam 
processos específicos para verificar a constitucionalidade de normas.1 
 
Com efeito, o processo constitucional não abarca tão somente a legitimidade dos 
órgãos de fiscalização do cumprimento da Constituição e as teorias da decisão 
 
1 DIMOULIS, Dimitri; LUNARDI, Soraya. Curso de processo constitucional. Controle de 
constitucionalidade e remédios constitucionais. São Paulo: Atlas, 2011. p. 9. 
 
 11 
judicial sobre a constitucionalidade de normas jurídicas, mas inclui, também, a 
estrutura prática do controle de constitucionalidade realizado por todos os entes 
do poder estatal (judicial e não judicial). Porém, nem todo ato que atua 
conforme a vontade das normas constitucionais é ato do processo constitucional. 
 
Como bem destacam Dimitri Dimoulis e Soraya Lunardi, verbis: 
 
O guarda do trânsito que constata infração aplica leis que foram criadas 
de acordo com a Constituição e quer preservar a vida, a integridade 
corporal e a liberdade de locomoção das pessoas. Nesse sentido, atua 
de acordo com a vontade das normas constitucionais. Mas nem por isso 
o fato de fiscalizar o trânsito e aplicar multas é um processo 
constitucional.2 
 
E mais adiante arrematam os referidos doutrinadores: 
 
Finalmente, alguns autores consideram processo constitucional o 
conjunto de tipos de processo regulamentados pela Constituição. Nessa 
perspectiva, se estuda a configuração de vários processos 
regulamentados na Constituição sob a denominação de "processo 
constitucional". A Constituição Federal de 1988 menciona e 
regulamenta vários tipos de processo que objetivam garantir o respeito 
a direitos fundamentais ou a regras de organização do poder do Estado. 
Encontramos, entre outros: habeas corpus, mandado de segurança 
individual e coletivo, habeas data, mandado de injunção, desa-
propriação, ação popular, ação civil pública, procedimento especial no 
Tribunal do Júri, ação direta de inconstitucionalidade por ação ou 
omissão, ação declaratória de constitucionalidade, arguição de 
descumprimento de preceito fundamental, processo legislativo, 
impeachment. Isso significa que não há um processo constitucional e 
sim multiplicidade de processos constitucionais. 3 
 
Em suma, o conceito de processo constitucional está, induvidosamente, atrelado 
 
2 Ibid, p. 10. 
3 Ibid, p. 9-10. 
 
 12 
tanto aos elementos teóricos e práticos do controle de constitucionalidade, 
quanto aos remédios constitucionais, aqui percebidos como ações constitucionais 
que tutelam os direitos fundamentais do cidadão comum. 
 
Assim, o processo constitucional seria o ramo do direito processual voltado para 
a análise do conjunto de instrumentos processuais garantidores do respeito à 
Constituição e objetivaria assegurar a efetividade das normas constitucionais, 
notadamente, aquelas garantidoras dos direitos e garantias fundamentais. 
 
A Rigidez Constitucional e a Supremacia da Constituição como 
Premissas do Controle de Constitucionalidade das Leis 
Desde os grandes movimentos revolucionários liberais do século XVIII 
(Revolução americana de 1776 e Revolução francesa de 1789), a Constituição 
passa a ser percebida como lei fundamental de hierarquia superior sobre os 
demais atos normativos do Estado. 
 
Esta superioridade conquistada pela Constituição foi fruto da estratégia 
hermenêutica do Estado liberal no seu afã de afastar os abusos do rei-legislador 
do constitucionalismo não democrático do Estado absoluto. 
 
Com efeito, o princípio da supremacia da Constituição nasce atrelado ao 
constitucionalismo liberal-burguês, que, por sua vez, traz na sua esteira o 
conceito de Estado de Direito como resposta ao absolutismo monárquico. Ou 
seja, a ascensão da burguesia no plano econômico já não mais se coadunava 
com a estrutura de poder político do Estado Absoluto, cuja ordem jurídica não 
reconhecia nem mesmo a igualdade formal perante a lei, ao revés, fixava 
privilégios odiosos para a nobreza em detrimento da burguesia e do povo, 
notadamente no campo tributário. 
 
Assim, o constitucionalismo liberal, desde sua origem, justifica a normatividade 
superior da Constituição a partir de nova lógica jurídico-política, qual seja: a 
 
 13 
Carta Constitucional é instrumento superior gerado pelo poder constituinte 
originário, único detentor de legitimidade democrática para criar o novo Estado, 
limitando seu poder até então absoluto, seja pela separação de poderes, seja 
pela fixação de um catálogo de direitos fundamentais que se colocam acima das 
próprias razões de Estado. 
 
Eis aqui os pilares de sustentabilidade do Estado Democrático de Direito, quais 
sejam: o princípio da separação de poderes como limitador do poder estatal e a 
garantia de direitos fundamentais do cidadão comum posicionados acima do 
próprio Estado. 
 
Isto significa dizer que os poderes executivo, legislativo e judiciário, na qualidade 
de poderes constituídos pelo poder constituinte originário (Assembleia Nacional 
Constituinte), são poderes autônomos e harmônicos entre si, porém sem 
predominância de uns sobre os outros. E o que é mais importante destacar: são 
poderes limitados pelos comandos de uma Constituição dotada de supremacia, 
que necessita de umprocesso legislativo especial e mais rigoroso para ser 
modificada (rigidez constitucional), escrita e que, a um só tempo, garante 
direitos fundamentais dos cidadãos comuns, distribui competências dos entes 
estatais e fixa regras para a elaboração dos atos normativos do Estado (processo 
legislativo). 
 
À luz de tais considerações, fácil é perceber a relevância do exame das conexões 
entre o controle de constitucionalidade e as ideias de supremacia da 
Constituição, rigidez constitucional, proteção de direitos fundamentais e 
limitações do poder constituinte derivado reformador. Dessarte, quando o poder 
constituinte derivado reformador viola direitos fundamentais ou fere de morte a 
supremacia de uma Constituição rígida e escrita, o mecanismo de controle de 
constitucionalidade é acionado como elemento garantidor da restauração de 
equilíbrio do sistema jurídico. 
 
 
 14 
É por isso que Manoel Gonçalves Ferreira Filho, destacando as diferenças entre 
rigidez e flexibilidade constitucional, bem como de poder constituinte originário e 
poder constituinte derivado, ensina que: 
 
A distinção entre Constituição rígida e Constituição flexível, entre Poder 
Constituinte originário e Poder Constituinte derivado, implica a 
existência de um controle de constitucionalidade. De fato, onde este 
[controle de constitucionalidade] não foi previsto pelo constituinte, não 
pode haver realmente rigidez constitucional ou diferença entre o Poder 
Constituinte originário e o derivado. Em todo Estado onde faltar 
controle de constitucionalidade, a Constituição é flexível; por mais que a 
Constituição se queira rígida, o Poder Constituinte perdura ilimitado em 
mãos do legislador.4 
 
Resta indubitável que os conceitos de rigidez constitucional e supremacia da 
Constituição estão atrelados diretamente à ideia de controle de 
constitucionalidade. Nesse sentido, Luis Roberto Barroso destaca com precisão 
que “duas premissas são normalmente identificadas como necessárias à 
existência do controle de constitucionalidade: a supremacia e a rigidez 
constitucionais”.5 Na mesma toada, ensina José Afonso da Silva: 
 
A rigidez constitucional decorre da maior dificuldade para a sua 
modificação do que para a alteração das demais normas jurídicas da 
ordenação estatal. Da rigidez emana, como primordial consequência, o 
princípio da supremacia da constituição que, no dizer de Pinto Ferreira, 
“é reputado como uma pedra angular, em que assenta o edifício do 
moderno direito público”. 6 
 
 
4 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 35. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 
p. 34. 
5 BARROSO, Luis Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. Exposição 
sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1. 
6 DA SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. 
p. 45. 
 
 15 
Portanto, a ideia de controle de constitucionalidade não está ligada apenas à de 
Constituição rígida e escrita, mas, também, à supremacia da Constituição, à 
proteção dos direitos fundamentais e ao Estado Democrático de Direito. 
 
A questão que se impõe é saber: Como defender a supremacia da Constituição 
contra violações do poder constituinte derivado reformador? Como garantir que a 
superioridade das normas constitucionais seja efetivamente observada pelos 
poderes constituídos? É o controle de constitucionalidade que garante a rigidez 
constitucional e a supremacia da Constituição, ou, é o contrário, isto é, são estas 
que garantem aquele? 
 
Hans Kelsen muito se aproxima de tais questionamentos quando alerta que “uma 
Constituição que não dispõe de garantia para anulação de atos inconstitucionais 
não é, propriamente, obrigatória, (...) não passa de uma vontade despida de 
qualquer força vinculante”. De fato, a inexistência de controle de 
constitucionalidade inviabiliza a rigidez constitucional, aqui, compreendida como 
a imposição de um processo legislativo mais dificultoso para alterar as normas 
constitucionais em comparação às normas infraconstitucionais. 
 
É certo afirmar que os conceitos de controle de constitucionalidade e rigidez 
constitucional se misturam de tal sorte que um Estado onde inexistir controle de 
constitucionalidade será um Estado de plasticidade constitucional (flexibilidade 
constitucional), ainda que tente se autodenominar Estado de Constituição rígida, 
pois nele o poder constituinte derivado continuará soberano, ilimitado, 
incondicionado, tal qual o poder constituinte originário, ou seja, não haverá 
nenhuma distinção entre eles. 
 
Em sede de plasticidade constitucional (flexibilidade constitucional), não existe 
aquela imagem de uma Constituição superior como fonte primária de validade 
normativa da produção legislativa ordinária de grau inferior (pirâmide 
normativa kelseniana). 
 
 
 16 
Nesse sentido, a Constituição se apresenta com o signo da verticalidade 
normativa fundamentadora, conferindo validade para os demais atos normativos 
do sistema jurídico. A lição de José Afonso da Silva é precisa neste ponto: 
 
As normas de grau inferior somente valerão se forem compatíveis com 
as normas de grau superior, que é a constituição. As que não forem 
compatíveis com ela são inválidas, pois a incompatibilidade vertical 
resolve-se em favor das normas de grau mais elevado, que funcionam 
como fundamento de validade das inferiores. Essa incompatibilidade 
vertical de normas inferiores (leis, decretos etc.) com a constituição é o 
que, tecnicamente, se chama inconstitucionalidade das leis ou atos do 
Poder Público. 7 
 
Dessarte, para que se possa falar em controle de constitucionalidade no plano 
jurídico, há que se examinar a adequação das leis infraconstitucionais à 
Constituição, aferindo-se tanto a supremacia formal quanto a material. Ou seja, a 
supremacia da Constituição caracteriza-se tanto pelo seu conteúdo (supremacia 
material) quanto pelo processo de elaboração de suas normas (supremacia 
formal). 
 
Portanto, é certo dizer que, nos países em que a Constituição é histórica, não 
escrita, consuetudinária, como no Reino Unido, por exemplo, onde impera a 
flexibilidade constitucional, não subsiste controle de constitucionalidade, porque 
a lei fundamental pode ser modificada pelo mesmo procedimento da legislação 
ordinária. 
 
Em linhas gerais, a supremacia material, também denominada de 
superlegalidade material, implica a subordinação do conteúdo de todos os atos 
normativos estatais aos princípios e regras constitucionais, enquanto que a 
supremacia formal, também denominada superlegalidade formal, impõe a 
 
7 DA SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. 
p. 45. 
 
 17 
obediência aos ditames constitucionais ligados à competência e ao processo 
legislativo como um todo. 
 
Assim sendo, a questão – de saber se é o controle de constitucionalidade que 
garante a rigidez constitucional e a supremacia da Constituição, ou, se é o 
contrário, isto é, se são estas que garantem aquele – é facilmente respondida. 
 
Com efeito, já não resta mais nenhuma dúvida de que os conceitos de rigidez 
constitucional e supremacia da Constituição são pressupostos para o controle de 
constitucionalidade, da mesma forma que o controle de constitucionalidade é 
premissa para a preservação da supremacia da Constituição e para a rigidez 
constitucional. 
 
Para que haja controle de constitucionalidade, é necessário que a Constituição 
determine qual éo órgão ou quais são os órgãos com legitimidade democrática 
para aferir possíveis violações à Constituição. Realmente, se não houver tal órgão 
próprio destinado a negar validade às leis atentatórias aos princípios e regras da 
Constituição, não há como resguardar sua superioridade perante as leis 
ordinárias. 
 
Uma vez compreendida a conexão entre a rigidez constitucional, a supremacia da 
Constituição e o controle de constitucionalidade, importa, agora, prosseguir com 
a análise do fenômeno e dos tipos ou formas de inconstitucionalidade. 
 
Tipos de Inconstitucionalidade 
Entre outros, os seguintes critérios serão aqui analisados: 
a) quanto ao objeto; 
b) quanto ao tipo de conduta; 
c) quanto ao tempo ou momento e 
d) quanto à relação que mantém com a Constituição. 
 
 
 18 
Critério Quanto ao Objeto: Inconstitucionalidade Material e 
Inconstitucionalidade Formal 
Na inconstitucionalidade material, há violação de uma conduta imposta pela 
Constituição, ou seja, há um descompasso entre o conteúdo do ato público e a 
Constituição. No dizer de Gilmar Mendes, “a inconstitucionalidade material 
envolve, porém, não só o contraste direto do ato legislativo com o parâmetro 
constitucional, mas também a aferição do desvio de poder ou do excesso de 
poder legislativo”. Assim sendo, destaca o eminente jurista que: 
 
A doutrina identifica como típica manifestação do excesso de poder 
legislativo a violação do princípio da proporcionalidade ou da proibição 
de excesso, que se revela mediante contrariedade, incongruência, e 
irrazoabilidade ou inadequação entre meios e fins. No direito 
constitucional alemão, outorga-se ao princípio da proporcionalidade ou 
ao princípio da proibição de excesso, qualidade de norma constitucional 
não escrita, derivada do Estado de Direito. 8 
 
Em essência, a inconstitucionalidade material se caracteriza pela violação do 
conteúdo das normas constitucionais, sendo por isso mesmo insanável. Ou seja, 
a inconstitucionalidade material será observada quando a lei infraconstitucional 
contrariar alguma norma substantiva da Constituição, como por exemplo, o 
princípio da dignidade da pessoa humana ou a regra da aposentadoria 
compulsória aos 70 anos. 
 
Diferente é o conceito de inconstitucionalidade formal que se caracteriza pela 
violação das normas do processo legislativo ou pelo descumprimento das normas 
relativas à repartição constitucional de competência dos entes federativos. 
 
No dizer de Luís Roberto Barroso: “Ocorrerá inconstitucionalidade formal quando 
um ato legislativo tenha sido produzido em desconformidade com as normas de 
 
8 Cf.ob.cit.pp. 1013-5. 
 
 19 
competência ou com o procedimento estabelecido para seu ingresso no mundo 
jurídico”.9 
 
A inconstitucionalidade ligada à repartição de competência é denominada pela 
doutrina de inconstitucionalidade orgânica, vale dizer uma espécie do gênero 
inconstitucionalidade formal que se relaciona com a incompetência do órgão 
emissor do comando legislativo, como por exemplo, uma lei estadual que regula 
matéria de direito penal sem a respectiva lei complementar de autorização da 
União. 
 
Outro exemplo de inconstitucionalidade orgânica seria o de uma lei federal que 
disponha sobre aumento de remuneração de servidores do Poder Executivo 
federal e não seja de iniciativa do Presidente da República (art. 61, § 1.º, II, a da 
CRFB/88). Da mesma forma, estará eivada do vício de inconstitucionalidade 
orgânica a lei federal que conceda isenção aos contribuintes de imposto estadual 
ou municipal (art. 151, III da CRFB/88). 
 
Além disso, parte da doutrina costuma ainda classificar a inconstitucionalidade 
formal da seguinte maneira: 
 
 Inconstitucionalidade formal objetiva (vício de rito ou procedimento). 
 
 Inconstitucionalidade formal subjetiva (vício de iniciativa). 
 
Nessa última modalidade de inconstitucionalidade formal subjetiva por vício de 
iniciativa, é sempre bom lembrar que a súmula 5 não mais vigora, pois o atual 
entendimento do STF é no sentido de que a sanção do presidente da república 
não sana o vício de iniciativa, isto é, o fato de o chefe do poder executivo ter 
sancionado uma lei cuja iniciativa legislativa era sua, não livra tal ato de ser 
declarado inconstitucional por vício de iniciativa (inconstitucionalidade formal 
 
9 Cf. BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. Exposição 
sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. Rio de Janeiro: Saraiva, 2009. p. 26. 
 
 20 
subjetiva). Assim sendo, se um Senador ou Deputado Federal apresentar projeto 
de lei aumentando os salários dos servidores públicos federais, ocorrerá vício 
classificado como inconstitucionalidade formal subjetiva. 
 
Critério Quanto à Conduta: Inconstitucionalidade por Ação 
(Comissiva) ou Inconstitucionalidade por Omissão (Omissiva) 
A inconstitucionalidade será por ação quando ocorrer uma transgressão ativa dos 
limites jurídicos impostos pela Constituição da República. Trata-se, portanto, de 
um ato positivo contrário à Constituição. Na inconstitucionalidade por ação a 
conduta é positiva, imputável aos três poderes. 
 
Já a inconstitucionalidade por omissão será configurada quando o Estado deixar 
de agir positivamente diante de um comando constitucional. Ou seja, ocorre a 
omissão inconstitucional quando um não fazer do Estado impede que a norma 
constitucional se torne efetiva. Da mesma forma, a inconstitucionalidade por 
omissão é imputável aos três poderes. No Brasil, a inconstitucionalidade por 
omissão é tratada em duas grandes figuras jurídicas, a saber: o mandado de 
injunção (MI) previsto no art. 5º, LXXI e a ação direta de inconstitucionalidade 
por omissão (ADO) fixada no art. 103, § 2º. 
 
Ainda sobre a inconstitucionalidade por omissão, seja no MI, seja na ADO, a 
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende que a esta somente se 
caracteriza quando o não fazer estatal deixa de regulamentar normas 
constitucionais de eficácia limitada, exatamente porque são as únicas cuja 
aplicabilidade depende da intervenção legislativa superveniente do legislador. 10 
O mesmo não ocorre com as normas de eficácia plena e as normas de eficácia 
contida, que já adentram no mundo jurídico com aplicabilidade direta e imediata, 
sendo que estas últimas (normas de eficácia contida) podem ser restringidas pelo 
legislador ordinário em leis reguladoras posteriores. 
 
10 STF, Tribunal Pleno, Ação direta de inconstitucionalidade por omissão n.º 297, julgamento em 25/04/96, 
Relator Ministro Octávio Gallotti, votação unânime. 
 
 21 
Leia o texto extraído do livro controle de constitucionalidade dos autores 
Guilherme Sandoval e Cleyson de Moraes constante da biblioteca virtual da 
disciplina: 
 
Distinção entre os conceitos de inconstitucionalidade por omissão e a 
lacuna de legislação 
Com efeito, a configuração da lacuna técnica, ao contrário da omissão 
inconstitucional, não demanda intervalo de tempo. A lacuna técnica pode ser 
suprida pela aplicação da analogia, bons costumes e princípios gerais do direito, 
enquanto a omissão inconstitucional poderá ser suprida pelo Mandado de 
Injunção (art. 5º, inc. LXXI) ou pela ação direta de inconstitucionalidade por 
omissão (art. 103§ 2º). 
 
Com relação ao mandado de injunção (MI), foi sancionada a Lei nº 13.300/16, 
que disciplina o processo e o julgamento dos mandados de injunção individual e 
coletivo, inovando a ordem jurídica, na medida em que faz referência direta à 
expressão“falta total ou parcial de norma regulamentadora”, expressão esta que 
não se encontra positivada na Constituição de 1988. Portanto, agora, a figura 
jurídica do Mandado de Injunção também é instrumento hábil para combater a 
omissão parcial, vale repetir, situações em que, apesar da existência de 
regulamentação, esta for insuficiente, nos termos do art. 2º, caput, e parágrafo 
único da referida lei. 
 
Nesse sentido, resta indubitável que tal remédio constitucional ganhou 
regulamentação que o encaminha na direção daquilo para o que foi vocacionado, 
isto é, suprimir omissões normativas do legislador democrático que tenham 
latitude para esvaziar completamente direitos e liberdades dos cidadãos, como 
no caso das normas constitucionais de eficácia limitada, em que a garantia de 
sua eficácia positiva ou simétrica fica dependente, necessariamente, de lei 
regulamentadora ulterior. Com isso, o direito que é garantido pela Constituição 
fica sem ser exercido porque condicionado à edição normativa superveniente. 
Constitucionalmente previsto, o mandado de injunção é o instrumento que 
 
 22 
permite ao jurisdicionado exigir do poder estatal (Executivo, Legislativo ou 
Judiciário) a edição de normas ou outros atos estatais que garantam a eficácia 
positiva do núcleo essencial dos direitos e as garantias previstas na Constituição. 
Também tem o condão de reparar a inexistência ou a insuficiência de normas 
regulamentadoras necessárias ao exercício das prerrogativas ligadas à 
nacionalidade, à soberania e à cidadania. 
 
A inconstitucionalidade por omissão pode ainda ser classificada como total ou 
parcial. A primeira, também denominada de omissão absoluta, ocorre quando o 
não fazer estatal não atende ao dispositivo constitucional por completo, isto é, o 
mandamento constitucional não é cumprido integralmente. Já a 
inconstitucionalidade por omissão parcial ocorre quando houver o 
descumprimento da norma constitucional de eficácia limitada apenas 
parcialmente ou de modo deficiente ou insuficiente. Por modo deficiente ou 
insuficiente deve-se compreender a regulamentação que não viabiliza o pleno 
gozo dos efeitos pretendidos pela norma constitucional ou, ainda, quando a 
regulamentação feita viola o princípio da isonomia, não permitindo que a 
regulamentação integral seja aproveitada por todos os beneficiários possíveis. 
 
No dizer de Gilmar Mendes, essa exclusão pode verificar-se de forma concludente 
ou explícita. É concludente se a lei concede benefícios apenas a determinado 
grupo; a exclusão de benefícios é explicita se a lei geral que outorga 
determinados benefícios a certo grupo exclui sua aplicação a outros segmentos. 
11 
 
Nossa Suprema Corte já se manifestou acerca da inconstitucionalidade por 
omissão parcial no caso da lei que regulamentou artigo 7.°, IV, da Constituição, 
na medida em que fixou o salário mínimo em condições insatisfatórias em 
relação ao determinado na norma constitucional ut supra. 
 
 
11 Cf.ob.cit.p. 1027. 
 
 23 
Salário Mínimo. Valor Insuficiente. Situação de 
Inconstitucionalidade por Omissão Parcial. 
 
- A insuficiência do valor correspondente ao salário mínimo, definido em 
importância que se revele incapaz de atender as necessidades vitais 
básicas do trabalhador e dos membros de sua família, configura um claro 
descumprimento, ainda que parcial, da Constituição da República, pois o 
legislador, em tal hipótese, longe de atuar como o sujeito concretizante 
do postulado constitucional que garante à classe trabalhadora um piso 
geral de remuneração (CF, art. 7.º, IV), estará realizando, de modo 
imperfeito, o programa social assumido pelo Estado na ordem jurídica. 
 
- A omissão do Estado – que deixa de cumprir, em maior ou em menor 
extensão, a imposição ditada pelo texto constitucional – qualifica-se como 
comportamento revestido da maior gravidade político-jurídica, eis que, 
mediante inércia, o Poder Público também desrespeita a Constituição, 
também ofende direitos que nela se fundam e também impede, por 
ausência de medidas concretizadoras, a própria aplicabilidade dos 
postulados e princípios da Lei Fundamental. 
 
- As situações configuradoras de omissão inconstitucional – ainda que se 
cuide de omissão parcial, derivada da insuficiente concretização, pelo 
Poder Público, do conteúdo material da norma impositiva fundada na 
Carta Política, de que é destinatário – refletem comportamento estatal 
que deve ser repelido, pois a inércia do Estado qualifica-se, 
perigosamente, como um dos processos informais de mudança da 
Constituição, expondo-se, por isso mesmo, à censura do Poder Judiciário. 
12 
 
Finalmente, vale fazer o alerta de que há uma diferença entre os conceitos de 
inconstitucionalidade por omissão e lacuna de legislação, ou seja, esta última, ao 
contrário da inação inconstitucional, não exige ato normativo faltante, podendo, 
portanto, ser suprida pela aplicação da analogia, bons costumes e princípios 
gerais do direito, enquanto que a omissão inconstitucional somente poderá ser 
 
12 STF, Ação Direta de Inconstitucionalidade - Medida Cautelar n.º 1458, julgada em 23/05/96. 
 
 24 
superada pelo mandado de injunção ou pela ação direta de inconstitucionalidade 
por omissão. 
 
Critério Quanto ao Tempo: Inconstitucionalidade Originária ou 
Inconstitucionalidade Superveniente 
A terceira classificação da tipologia da inconstitucionalidade no Brasil se refere ao 
tempo, daí sua subdivisão em inconstitucionalidade originária e 
inconstitucionalidade superveniente. A inconstitucionalidade originária é aquela 
em que a inconstitucionalidade da norma é aferida no momento de sua criação 
ou ocorrer em momento posterior em virtude de alteração da Constituição. No 
dizer de Gomes Canotilho e Vital Moreira, citados por Manoel Jorge e Silva Neto: 
a inconstitucionalidade tanto pode existir no momento da formação da norma, 
como ocorrer apenas posteriormente, por efeito de alteração da constituição. 13 
 
Já a inconstitucionalidade superveniente se caracteriza quando uma norma 
inicialmente constitucional perde tal qualidade no momento em que ocorre uma 
alteração ou ruptura constitucional, isto é, por emenda ao seu texto ou pelo 
advento de uma nova ordem constitucional ou até mesmo uma mutação 
constitucional (nova interpretação sem mudança de texto). 
 
A jurisprudência da nossa Corte Suprema não admite a tese da 
constitucionalidade superveniente, vale explicitar uma lei anteriormente 
inconstitucional, após uma alteração no texto da Constituição, torna-se 
constitucional (compatível com um novo comando constitucional). Com efeito, no 
RE nº 390.840/MG, julgado em 9/11/2005, relator Ministro Marco Aurélio, o STF 
não contemplou a figura jurídica da constitucionalidade superveniente. Em suma, 
a jurisprudência do STF não reconhece a possibilidade de que uma alteração na 
Constituição venha a tornar constitucional uma norma infraconstitucional 
anteriormente incompatível com a Carta ápice. Da mesma forma, no âmbito do 
direito intertemporal, não há a chamada inconstitucionalidade formal 
 
13 Cf Ob. cit. pg. 173. 
 
 25 
superveniente na medida em que toda e qualquer norma infraconstitucional 
anterior à Constituição que seja materialmente com ela compatível será 
recepcionada com o novo status conferido pelo novo paradigma constitucional, 
não importando a sua qualificação formal anterior. 
 
Critério Quanto à Relação que Mantém com a Constituição: 
Inconstitucionalidade Direta ou Inconstitucionalidade Indireta (por 
derivação)A inconstitucionalidade direta ocorre quando uma norma viola a Constituição sem 
intermediação de qualquer outro ato ou veículo normativo. Há, portanto, uma 
relação direta com a Constituição. É o caso, por exemplo, de uma norma 
infraconstitucional primária (lei complementar ou ordinária) violando um 
dispositivo constitucional. Diferente é a inconstitucionalidade indireta como, por 
exemplo, na hipótese de um decreto editado pelo Presidente da República para 
regulamentar uma determinada lei infraconstitucional e feito de forma 
incompatível com a Constituição. Nessa situação, a hipótese é de mera 
ilegalidade e não de inconstitucionalidade. Destarte, podemos dizer que o direito 
brasileiro, notadamente a jurisprudência do STF, não reconhece a existência de 
uma inconstitucionalidade por derivação, indireta, derivada, mediata, uma vez 
que a verticalidade fundamentadora não é a Constituição, mas, sim, a lei 
infraconstitucional sendo regulamentada. 
 
Atividade Proposta 
Suponha que uma lei ordinária federal, dispondo sobre o aumento da 
remuneração dos servidores públicos da União, cujo projeto de lei foi 
apresentado por Senador, tenha sido sancionada pelo próprio Presidente da 
República que concordou plenamente com o percentual do aumento concedido. 
Nessa hipótese, é válido afirmar que a referida lei é plenamente compatível com 
a Constituição porque a sanção do Presidente afastou possível vício de iniciativa? 
 
 
 26 
Referências 
BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito 
brasileiro. Exposição sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. 
Rio de Janeiro: Saraiva, 2013. 
GÓES, Guilherme Sandoval, MELLO, Cleyson de Moraes. Controle de 
constitucionalidade. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2016. 
 
MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdição constitucional. O controle abstrato de 
normas no Brasil e na Alemanha. São Paulo: Saraiva, 2012. 
 
_____. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade. Estudos 
de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2012. 
 
 
Exercícios de Fixação 
Questão 1 
 
Com o objetivo de incrementar a arrecadação tributária, projeto de lei estadual, 
de iniciativa parlamentar, cria uma gratificação de produtividade em favor dos 
Fiscais de Rendas que, no exercício de suas atribuições, alcancem metas 
previamente estabelecidas. O projeto é aprovado pela Assembleia Legislativa e, 
em seguida, encaminhado ao Governador do Estado, que o sanciona. Com base 
no cenário acima, assinale a única resposta correta: 
 
a) A lei estadual é compatível com a Constituição da República, desde que a 
Constituição do Estado não reserve à Chefia do Poder Executivo a 
iniciativa de leis que disponham sobre aumento de remuneração de 
servidores públicos estaduais. 
 
 27 
b) A lei estadual é constitucional, em que pese o vício de iniciativa, pois a 
sanção do Governador do Estado ao projeto de lei teve o condão de sanar 
o defeito de iniciativa. 
c) A lei estadual é formalmente inconstitucional, uma vez que são de 
iniciativa privativa do Governador do Estado as leis que disponham sobre 
aumento de remuneração de servidores públicos da administração direta e 
autárquica estadual. 
d) A lei estadual é materialmente inconstitucional, uma vez que os projetos 
de lei de iniciativa dos Deputados Estaduais não se submetem à sanção do 
Governador do Estado, sob pena de ofensa à separação de poderes. 
 
Questão 2 
Projeto de lei estadual de iniciativa parlamentar concede aumento de 
remuneração a servidores públicos estaduais da área da saúde e vem a ser 
convertido em lei após a sanção do Governador do Estado. A referida lei é: 
 
a) Compatível com a Constituição da República, desde que a Constituição do 
Estado‐membro não reserve à Chefia do Poder Executivo a iniciativa de 
leis que disponham sobre aumento de remuneração de servidores públicos 
estaduais. 
b) Constitucional, em que pese o vício de iniciativa, pois a sanção do 
Governador do Estado ao projeto de lei teve o condão de sanar o defeito 
de iniciativa. 
c) Materialmente inconstitucional, uma vez que os projetos de lei de iniciativa 
dos Deputados Estaduais não se submetem à sanção do Governador do 
Estado, sob pena de ofensa à separação de poderes. 
d) Formalmente inconstitucional, uma vez que são de iniciativa privativa do 
Governador do Estado as leis que disponham sobre aumento de 
remuneração de servidores públicos da administração direta e autárquica 
estadual. 
 
 
 
 28 
 
Questão 3 
Sabendo-se que o sistema financeiro deverá ser regulado por lei complementar, 
nos termos do art. 192, da Constituição Federal, caso eventual lei ordinária 
venha a discipliná-lo, essa lei padecerá de: 
 
a) Inconstitucionalidade formal, não podendo ser controlada pelo Judiciário, 
pelo fato de a aprovação equivocada da lei ser matéria interna corporis do 
Poder Legislativo. 
b) Inconstitucionalidade formal, podendo ser controlada pelo Judiciário, tanto 
pela via difusa, como pela via concentrada. 
c) Inconstitucionalidade material, podendo ser controlada pelo Judiciário, 
apenas pela via difusa. 
d) Inconstitucionalidade material, podendo ser controlada pelo Judiciário, 
apenas pela via concentrada, por ser norma de âmbito nacional. 
e) Inconstitucionalidade formal e material, pois viola tanto o processo 
legislativo como também o princípio da predominância do interesse. 
 
Questão 4 
No que concerne ao controle de constitucionalidade, assinale a opção correta: 
 
a) Controle de constitucionalidade consiste na verificação da compatibilidade 
de qualquer norma infraconstitucional com a CF. 
b) Entre os pressupostos do controle de constitucionalidade, destacam-se a 
supremacia da CF e a rigidez constitucional. 
c) O controle concentrado de constitucionalidade origina-se do direito norte-
americano, tendo sido empregado pela primeira vez no famoso caso 
Marbury versus Madison, em 1803. 
d) O controle concentrado de constitucionalidade permite que qualquer juiz 
ou tribunal declare a inconstitucionalidade de norma incompatível com a 
CF. 
 
 
 29 
 
Questão 5 
Uma lei ordinária expedida pela Câmara Legislativa do Espírito Santo determinou 
que os aprovados em concurso público para o provimento de cargos na 
administração estadual direta, dentro do número de vagas fixados no respectivo 
edital, deveriam ser nomeados no prazo máximo de 180 dias, contados da 
homologação do resultado do concurso. Nessa situação, a referida disposição: 
 
a) Apresenta inconstitucionalidade material. 
b) Apresenta inconstitucionalidade formal superveniente. 
c) Apresenta inconstitucionalidade formal orgânica. 
d) Não apresenta nenhum tipo de inconstitucionalidade. 
e) Inconstitucionalidade formal e material, pois viola tanto o processo 
legislativo como também conteúdo da Constituição de 1988. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 30 
Introdução 
Nos últimos anos, notadamente a partir da redemocratização do país com a 
promulgação da Constituição de 1988, tem-se observado a expansão da 
jurisdição constitucional, cabendo ao Supremo Tribunal Federal papel ativo na 
proteção dos direitos fundamentais e na garantia da força normativa da 
Constituição. Nesse sentido, temos um dos sistemas de controle de 
constitucionalidade mais completos e complexos do mundo. 
 
Assim sendo, na presente aula, vamos estudar as diferentes modalidades de 
controle de constitucionalidade deste complexo sistema brasileiro, desde o 
controle prévio ou preventivo (feito antes mesmo de a norma entrar no mundo 
jurídico) até o controle repressivo, sejana esfera política, seja na esfera judicial. 
 
Com efeito, o sistema brasileiro de controle de constitucionalidade merece tal 
designação, na medida em que mescla o controle difuso norte-americano 
(judicial review), o controle abstrato (sistema austríaco - kelseniano) e o modelo 
político francês. 
 
Sendo assim, é objetivo desta aula: 
1. Analisar as modalidades de controle de constitucionalidade que levam em 
consideração diferentes critérios atinentes ao momento de realização do 
controle, à natureza do órgão controlador, ao órgão judicial que exerce o 
controle e à forma de controle judicial. 
 
 
Conteúdo 
O sistema brasileiro de controle de constitucionalidade é um dos mais complexos 
e completos do mundo, na medida em que optamos por combinar diferentes 
modelos ou paradigmas de controle de outros países, bem como criamos figuras 
 
 31 
jurídicas que nos são peculiares, como, por exemplo, a ação declaratória de 
constitucionalidade (ADC) e a arguição de descumprimento de preceito 
fundamental (ADPF). 
 
Com efeito, diversos fatores permitem afirmar que o Brasil ostenta o mais 
perfeito sistema de controle de constitucionalidade do mundo, entre eles o 
aspecto indelével da completude. Sem nenhuma dúvida, existem diversos 
mecanismos, situações, oportunidades e instrumentos de controle de 
constitucionalidade que só se encontram no Brasil, não se tendo notícia de 
similares no resto do mundo. Vale, pois, adentrar ao estudo do direito 
comparado. 
 
Sistemas de Controle de Constitucionalidade em Perspectiva 
Comparada 
O sistema brasileiro de controle de constitucionalidade é fruto da imbricação de 
diferentes sistemas de controle existentes no mundo atual, daí a importância de 
investigar as principais características dos modelos adotados nos Estados Unidos, 
na França e na Áustria (sistema kelsiano-europeu). 
 
Judicial Review: o Sistema Difuso Norte-Americano 
Nesta segmentação temática, vamos examinar a primeira influência que vem do 
sistema norte-americano, que se caracteriza pelo controle de constitucionalidade 
feito por todos os graus de jurisdição do poder judiciário e dentro de um 
determinado caso concreto. 
 
Trata-se do controle difuso de constitucionalidade, também denominado de 
arguição incidenter tantum ou arguição incidental de inconstitucionalidade. 
Assim, a primeira nota relevante do sistema dos Estados Unidos é que todo e 
qualquer órgão jurisdicional tem competência para efetuar o controle de 
constitucionalidade das leis e demais atos do Poder Público a partir de um caso 
concreto. 
 
 32 
 
É o chamado judicial review que surge em 1803, no célebre caso Marbury v. 
Madison, no qual o Justice John Marshall deixou de aplicar uma lei 
infraconstitucional por julgá-la violadora da Constituição. E assim é que, a partir 
deste caso, consagra-se a supremacia da Constituição em face do ordenamento 
jurídico como um todo. Compete ao magistrado e, portanto, a qualquer órgão do 
poder judiciário, deixar de aplicar normas infraconstitucionais incompatíveis com 
a norma jurídica superior. No dizer de Luis Roberto Barroso: 
 
Marburyv. Madison, portanto, foi a decisão que inaugurou o controle de 
constitucionalidade no constitucionalismo moderno, deixando assentado o 
princípio da supremacia da Constituição, da subordinação a ela de todos os 
Poderes estatais e da competência do Judiciário como seu intérprete final, 
podendo invalidar os atos que lhe contravenham. Na medida em que se 
distanciou no tempo da conjuntura turbulenta em que foi proferida e das 
circunstâncias específicas do caso concreto, ganhou maior dimensão, passando a 
ser celebrada universalmente como o precedente que assentou a prevalência dos 
valores permanentes da Constituição sobre a vontade circunstancial das maiorias 
legislativas. 14 
 
Nesse sentido, desponta o tão propalado controle difuso de constitucionalidade 
das leis, feito por qualquer juiz ou tribunal, dentro de um determinado caso 
concreto e onde a questão da constitucionalidade ou não do ato normativo não é 
a questão principal do processo, constituindo-se em mera questão incidental 
necessária para a fixação da norma-decisão solucionadora da lide. Concreto pelo 
fato de que a discussão acerca da constitucionalidade da norma se dá com vistas 
à solução da causa a ser julgada; e não abstratamente. 
 
Um ponto importante de perscrutação no direito comparado está relacionado aos 
efeitos da decisão final de mérito da Corte Suprema no controle difuso. 
 
14 BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. Exposição 
sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. Rio de Janeiro: Saraiva, 2009. p. 10. 
 
 33 
 
Como evidencia a figura abaixo, nos Estados Unidos, predomina a ideia-força do 
chamado stare decisis, isto é, o efeito vinculante das decisões da Suprema Corte 
em relação aos demais órgãos do poder judiciário e da administração pública, 
direta e indireta. 
 
Ou seja, no âmbito do judicial review norte-americano, a declaração de 
inconstitucionalidade feita pela Corte Máxima do país retira a norma do mundo 
jurídico, pois tal decisão tem efeitos vinculantes, contra todos (erga omnes). 
 
E assim é que, a partir de um caso concreto, de um processo subjetivo de 
controle de constitucionalidade, declara-se, com efeitos vinculantes e contra 
todos, uma determinada norma ou lei inconstitucional, acarretando, por via de 
consequência, a sua retirada do ordenamento jurídico como um todo. 
 
Assim, mesmo em se tratando de controle incidental, difuso, indireto, a decisão a 
partir da concepção do stare decisis ganha efeitos abstratos e gerais. 
 
Diferentemente, quando se fala em controle concreto de constitucionalidade no 
Brasil, a decisão final de mérito do Supremo Tribunal Federal tem apenas “efeitos 
inter partes”, cabendo ao Senado Federal, nos termos do artigo 52, inciso X, 
editar resolução suspensiva retirando a norma do mundo jurídico. Esta temática 
será retomada ao longo dos próximos capítulos, porém, impende aqui destacar 
bem essa RELEVANTE diferença entre o sistema brasileiro e o judicial review 
estadunidense. 
 
O Sistema Austríaco ou Europeu de Constitucionalidade (controle 
abstrato) 
O sistema austríaco ou europeu ou kelseniano de constitucionalidade foi 
concebido, em 1920, com o objetivo de colocar o controle de constitucionalidade 
 
 34 
das leis e atos normativos do poder público sob a égide de um Tribunal 
Constitucional, órgão de cúpula do Poder Judiciário. 
 
Dessarte, a tarefa de controlar a constitucionalidade das leis é exclusiva dessa 
Corte Constitucional, o que evidentemente afasta os demais órgãos do poder 
judiciário de tal controle, proibindo-os de declararem a inconstitucionalidade das 
leis em nome do princípio da presunção de constitucionalidade das leis. 
 
Somente ao Tribunal Constitucional, em atuação principal e abstrata, é dado 
revogar tal presunção, daí, por conseguinte, a ideia-força de controle 
concentrado, abstrato, objetivo e direto de constitucionalidade das leis e atos 
normativos do Poder Público. Enfim, no modelo austríaco de controle de 
constitucionalidade das leis, não há caso concreto, a constitucionalidade é aferida 
pelo Tribunal Constitucional de forma objetiva, abstrata e direta. 
 
Foi Jellinek o grande mentor do sistema constitucional de controle concentrado 
em oposição ao judicial review estadunidense. Jellinek concordou com a decisão 
de Marshall no caso Marbury x Madison, porém discordou que o controle fosse 
feito pelos juízes e tribunais, tendo em vista as discrepânciasde decisões entre 
diferentes julgadores. É nesse sentido a recomendação de que o controle fosse 
feito pela Corte Constitucional, órgão cupular do poder judiciário e criado 
especificamente para executar essa tarefa de fiscalizar as leis do Parlamento.15 
 
Em linhas gerais, vale fazer agora uma análise comparativa entre o judicial 
review norte-americano e o sistema austríaco ou europeu: 
 
 Sistema americano: todos os órgãos jurisdicionais estão autorizados a 
efetuar o controle de constitucionalidade (o controle é difuso); 
 
 
15 DIMOULIS, Dimitri; LUNARDI, Soraya. Curso de processo constitucional. Controle de 
constitucionalidade e remédios constitucionais. São Paulo: Atlas, 2011. p. 47. 
 
 35 
 Sistema austríaco: o controle de constitucionalidade é tarefa exclusiva 
do Tribunal Constitucional (controle concentrado num órgão cupular do 
Judiciário); 
 
 Sistema americano: o controle de constitucionalidade surge na solução 
de um caso concreto sobre o qual se cogita aplicar uma determinada lei – 
justamente a que se discute quanto à sua constitucionalidade – (controle 
concreto subjetivo); 
 
 Sistema austríaco: a análise de constitucionalidade é feita da lei em 
tese, não vinculada a um determinado caso concreto (o controle abstrato 
e objetivo); 
 
 Sistema americano: a questão constitucional não passa de uma parte 
do fundamento da decisão – apoiada nas articulações do autor, do réu, do 
Ministério Público ou mesmo de ofício pelo juiz–, figurando como um 
obstáculo a ser vencido pelo julgador para que a solução dada à lide 
específica não termine por afrontar o texto constitucional; 
 
 Sistema austríaco: a questão constitucional é a única que se discute na 
ação, habitando, pois, tanto a fundamentação (sem o que não seria 
possível quebrar a presunção de constitucionalidade das leis) quanto o 
decisum (parte dispositiva da sentença) do acórdão do Tribunal 
Constitucional. 
 
Exemplo: O quadro abaixo sintetiza as modalidades de jurisdição, concreta e 
abstrata. 
 
 
Jurisdição 
Constitucional 
Concreta 
 
O controle de constitucionalidade desenvolvido 
no âmbito do Poder Judiciário pode levar em 
consideração a incidência da norma 
 
 36 
constitucional numa dada relação jurídica – 
concreta, real. 
 
Jurisdição 
Constitucional 
Abstrata 
 
O controle de constitucionalidade desenvolvido 
no âmbito do Poder Judiciário pode avaliar a 
compatibilidade de uma norma com a 
Constituição sem vinculação a um caso 
concreto, ou seja, de forma abstrata, em tese. 
 
O Modelo Francês de Controle de Constitucionalidade (controle 
político) 
A doutrina costuma afirmar que, na França, impera o controle político e 
preventivo de constitucionalidade feito exclusivamente pelo poder legislativo, o 
que significa dizer por outras palavras que não há controle jurisdicional feito pelo 
poder judiciário, inabilitado que está para declarar a inconstitucionalidade das leis 
francesas. 
 
Com efeito, na França, é o Conselho Constitucional, o órgão encarregado de 
examinar previamente a constitucionalidade dos projetos de lei que tramitam no 
Parlamento, o que evidentemente faz com que o controle francês seja 
classificado como controle preventivo e político (feito por uma entidade que não 
é um órgão de jurisdição constitucional). 
 
O Conselho Constitucional está ligado ao Parlamento da França, sendo que seus 
nove conselheiros são escolhidos pelo próprio Parlamento e pelo Presidente da 
República, aí incluídos os ex-Presidentes. No dizer de Luis Roberto Barroso: 
 
Embora o modelo francês seja frequentemente referido como o arquétipo do 
controle político de constitucionalidade das leis, afigura-se mais apropriada a 
designação de controle não judicial. É que, no fundo, é o fato de não integrar o 
Poder Judiciário e de não exercer função jurisdicional o que mais notadamente 
 
 37 
singulariza o Conseil Constitutionnel – junto com o caráter prévio de sua atuação. 
16 
 
Além disso, é importante destacar que o Conselho Constitucional é um órgão que 
não delibera sobre a conveniência e/ou oportunidade da proposta legislativa (não 
faz aferição de natureza política), mas verifica tão somente a constitucionalidade 
ou não dos projetos de lei que lhe são apresentados. Ou seja, o Conselho 
Constitucional afere previamente as propostas legislativas com o desiderato de 
verificar se existe alguma inconstitucionalidade. 
 
Essa ideia de controle não judicial (político para a grande maioria da doutrina) 
tem razões históricas e filosóficas, como bem destaca Luis Roberto Barroso, isto 
é, remonta ao período revolucionário de grande desconfiança por parte do povo 
em relação ao poder de juízes e tribunais, daí a visão de controle político, não 
judicial, de constitucionalidade. 
 
Um ponto importante no que tange à classificação do sistema de controle de 
constitucionalidade francês é levantado pelo Ministro Gilmar Mendes. Para o 
autor, essa referência de controle prévio e estritamente político não é mais 
condizente com a nova realidade dominante na França a partir da lei de reforma 
constitucional n. 724, de 23 de julho de 2008. Nas palavras de Gilmar Mendes: 
 
Ao lado do art. 61 da Constituição francesa de 1958, foi adicionado o art. 61-1, 
que autoriza o Conselho Constitucional, em face de uma disposição de lei que 
“atente contra os direitos e liberdades que a Constituição garante”, e quando 
provocado pelo Conselho de Estado ou pela Corte de Cassação, a declarar a 
inconstitucionalidade da norma. 17 
 
 
16 DIMOULIS, Dimitri; LUNARDI, Soraya. Curso de processo constitucional. Controle de 
constitucionalidade e remédios constitucionais. São Paulo: Atlas, 2011. p. 43. 
17 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 8 ed. São 
Paulo: Saraiva, 2013. p. 1010. 
 
 38 
Em suma, a doutrina costuma classificar o modelo francês como sendo um 
arquétipo de controle preventivo e político de constitucionalidade, pois é exercido 
antes de se concluir o processo legislativo relativo ao ato controlado e, ainda, 
levado a cabo pelo próprio Poder Legislativo, através do Conselho Constitucional. 
 
Essa classificação é contestada com propriedade pelo Ministro Gilmar Mendes, a 
partir da lei de reforma constitucional de 2008, que permite o controle repressivo 
de constitucionalidade (controle feito depois de a norma já estar no mundo 
jurídico). 
 
Os Sistemas de Controle de Constitucionalidade da Alemanha e da 
Itália (controle concentrado e incidental) 
Na Alemanha e na Itália, o que ocorre é uma mistura dos sistemas de controle 
jurisdicional americano e austríaco. Isto pelo fato de que a tarefa de controlar a 
constitucionalidade das leis naqueles países só pode ser desempenhada pelos 
respectivos tribunais constitucionais. 
 
No entanto, isso decorre de um incidente ocorrido no bojo dos processos 
comuns, onde se discute acerca da aplicação de uma norma na solução da lide 
específica. Significa que, se, por exemplo, o juiz de primeira instância se depara 
com uma arguição de inconstitucionalidade e entende que a mesma tem 
procedência, dada a sua incompetência funcional para afastar a sua incidência, 
ele provoca a atuação do Tribunal Constitucional, que se pronunciará sobre a 
constitucionalidade ou não da norma, devolvendo a sua conclusão ao juízo a quo, 
para que este, com base naquele pronunciamento, decida a causa. 
 
Temos, então, que o controle de constitucionalidade na Alemanha e na Itália é 
concentrado, mas incidental. O queainda se pode questionar é sobre se ele é 
feito de forma concreta ou abstrata. A dúvida se deve ao fato de que, muito 
embora a análise da constitucionalidade da lei derive da necessidade de se julgar 
uma determinada lide concreta, o que se destaca do processo é apenas a 
 
 39 
questão constitucional, que deverá ser analisada pelo Tribunal Constitucional de 
forma abstrata, pois que essa decisão terá efeitos vinculantes para todas as 
demais situações. Por esse motivo, ela não pode se dirigir apenas à solução da 
causa que motivou a sua prolação, devendo assumir foro de abstração, para que 
possa ser aplicada às demais situações, ainda que, por certos aspectos, sejam 
diferentes e reclamem a incidência da norma controlada. 
 
Uma vez identificados os principais modelos em perspectiva comparada, é 
importante agora apresentar o complexo sistema brasileiro de controle de 
constitucionalidade. 
 
Visão Panorâmica do Sistema Brasileiro de Controle de 
Constitucionalidade 
Como já amplamente mencionado, o sistema brasileiro de controle de 
constitucionalidade abarca, ainda que de modo não rigorosamente igual, as 
características dos sistemas francês, americano, austríaco, italiano e alemão. 
 
Por isso, existe no Brasil uma plêiade de modalidades de controle de 
constitucionalidade, que vai desde o controle preventivo, seja político, seja 
judicial, até o controle repressivo, que no âmbito do controle judicial, ocorre nas 
modalidades difusa e concentrada, incidental e principal e, ainda, concreta e 
abstrata. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 40 
 
O quadro abaixo mostra, em visão panorâmica, as diferentes modalidades de 
controle de constitucionalidade do nosso sistema: 
 
Veja-se a seguir algumas considerações acerca dessas diferentes modalidades. 
 
Levando em consideração a natureza do órgão julgador, o controle político é 
aquele que é exercido pelos poderes legislativo e executivo, ou seja, é o controle 
de constitucionalidade feito pelos poderes do Estado encarregados das decisões 
de caráter político, legitimados pelo voto popular. 
 
Como vamos brevemente constatar, existem diversas instâncias de controle 
político no sistema brasileiro, podendo-se citar, por exemplo, o veto feito pelo 
chefe do poder executivo no processo legislativo dos projetos de leis 
Quanto ao 
momento de 
realização do 
controle 
  Controle Preventivo - feito antes de a norma entrar no 
mundo jurídico. 
 Controle Repressivo - feito depois de a norma ter entrado 
no mundo jurídico. 
Quanto à natureza 
do órgão 
controlador 
  Controle Político (feito pelos poderes legislativo e 
executivo). 
 Controle Judicial ou jurídico (feito pelo poder judiciário). 
Quanto ao órgão 
judicial que exerce 
o controle 
  Controle difuso (feito por qualquer órgão do poder 
judiciário. 
 Controle concentrado (feito exclusivamente pelo Supremo 
Tribunal Federal). 
Quanto à forma de 
controle judicial 
  Controle por via incidental (feito a partir de um caso 
concreto). 
 Controle por via principal (feito de forma abstrata de lei ou 
ato normativo em tese). 
 
 41 
infraconstitucionais ou então a resolução do Congresso Nacional que susta o 
decreto regulamentador de lei que exorbita seu poder regulamentar. 
 
Por outro lado, designa-se controle judicial ou técnico aquele que é exercido por 
órgãos do poder judiciário, que é poder do Estado cujas atribuições são, na sua 
maior parte, de fiscalização da aplicação das leis. No Brasil, por tradições do 
direito romano-germânico, evidentemente predomina o controle de natureza 
judicial. 
 
Diferentemente, no âmbito do direito constitucional de tradição da common law, 
impera o controle político a partir da assim chamada supremacia do Parlamento. 
Nesse sentido, Luis Roberto Barroso traz a lume a lição de Dicey que sistematiza 
os elementos essenciais que compõem a supremacia do Parlamento sob os 
influxos da common law da seguinte maneira: 
 
I. Poder do legislador de modificar livremente qualquer lei, fundamental ou 
não; 
 
II. Ausência de distinção jurídica entre leis constitucionais e ordinárias; 
 
III. Inexistência de autoridade judiciária ou qualquer outra com o poder de 
anular um ato do Parlamento ou considerá-lo nulo ou inconstitucional. 
 
Com rigor, em termos epistemológicos, o único aspecto relevante decorrente da 
distinção entre controle político e controle judicial reside na obrigação ou não de 
fundamentação do ato decisor controlador da constitucionalidade, isto é, a 
fundamentação somente seria necessária no caso do controle judicial, sendo 
desnecessária na hipótese de controle político. Não obstante, é importante 
ponderar que, em um verdadeiro Estado Democrático de Direito, a Constituição 
impõe aos órgãos políticos o dever de fundamentação de sua atuação. 
 
 
 42 
Assim é que o Presidente da República estará obrigado, sempre, a motivar e 
expor as razões de seu veto, seja ele político (contrário ao interesse público) ou 
jurídico (contrário à Constituição), para que o mesmo possa ser apreciado pelo 
Congresso Nacional em sessão conjunta. 
 
Já com relação ao momento de seu exercício, o controle de constitucionalidade 
pode ser preventivo ou repressivo. 
 
Será preventivo ou prévio quando a tarefa de fiscalização for realizada ainda 
durante o processo de elaboração do ato legislativo, isto é, antes mesmo de ele 
se completar; de adentrar ao mundo jurídico. Seu desiderato é evitar a entrada 
em vigor de um ato inconstitucional. Esse controle incide, portanto, sobre 
projetos e não sobre normas já formadas. Não há, portanto, declaração de 
nulidade do ato, mas, sim, eliminação de seus vícios de inconstitucionalidade, 
tornando-os compatível com a Carta Ápice. 
 
Diferentemente, o controle será repressivo quando incidir sobre normas cujo 
processo de elaboração já tenha sido concluído. Também chamado de controle 
sucessivo ou a posteriori, o controle repressivo é exercido contra leis ou atos 
normativos que já se encontram em vigor, após o término do devido processo 
constitucional legislativo. Seu desiderato, por via de consequência, é paralisar 
sua eficácia; retirar do mundo jurídico ato normativo inquinado de vícios de 
inconstitucionalidade. 
 
Com todos esses dados conceituais bem consolidados, é importante agora 
sistematizar, por completo, os controles preventivo, repressivo, político e judicial 
do sistema brasileiro de controle de constitucionalidade. Este é o nosso próximo 
passo científico. 
 
 
 
 43 
Controle Preventivo de Constitucionalidade das Leis no Direito 
Brasileiro 
Como dito alhures, o sistema de controle de constitucionalidade adotado no 
Brasil congrega todos os sistemas anteriormente estudados. Isto significa dizer 
que o sistema brasileiro é, a um só tempo, preventivo e repressivo, político e 
judicial. 
 
É por isso que vamos em seguida sistematizar o controle exercido 
preventivamente, seja pelos poderes executivo e legislativo (controle preventivo 
político), seja pelo poder judiciário (controle preventivo judicial). 
 
Controle Preventivo Político 
Em linhas gerais, o controle preventivo no Brasil é desempenhado pelo poder 
legislativo e pelo poder executivo. Trata-se, portanto, do controle preventivo 
político que é feito antes de a norma entrar no mundo jurídico. 
 
A doutrina destaca duas grandes modalidades desse tipo de controle, a saber: 
 
 Controle preventivo político feito pelo poder legislativo e 
exercido pelas Comissões de Constituição e Justiça das casas 
legislativas que julgam preliminarmente a constitucionalidadedos projetos 
que serão enviados para a sessão plenária do parlamento, nos termos do 
art. 58 da CRFB/88. 
 
 Controle preventivo político feito pelo poder executivo e 
executado por intermédio do veto do chefe do poder executivo na 
elaboração das leis infraconstitucionais (leis complementares e leis 
ordinárias) conforme o artigo 66, § 1.º da Constituição de 1988. 
 
O quadro abaixo destaca essas duas modalidades de controle. 
 
 
 44 
O controle preventivo 
político de 
constitucionalidade 
Feito pelo poder 
legislativo  
Comissões de Constituição 
e Justiça 
Feito pelo poder 
executivo  
Veto jurídico do Presidente 
da República 
 
Portanto, o sistema constitucional brasileiro comporta duas hipóteses de controle 
preventivo político, nos moldes do sistema francês. 
 
A primeira reside na atuação das Comissões Permanentes de Constituição e 
Justiça, que tem sua base jurídica fincada no art. 58 da CRFB/88 e cuja função é 
avaliar previamente a compatibilidade dos projetos que serão apreciados pelo 
poder legislativo, seja do ponto de vista formal ou material. Cumpre destacar, no 
entanto, que o parecer dessas Comissões nem sempre tem força vinculante, pois 
cabe recurso para o plenário da respectiva Casa Legislativa, apesar de o 
Regimento Interno do Senado Federal estabelecer que o parecer pela 
inconstitucionalidade ou injuridicidade de qualquer proposição a tornará rejeitada 
e arquivada definitivamente. 
 
Além disso, vale lembrar que tal tipo de controle preventivo não ocorre nos 
projetos de medidas provisórias, resoluções dos tribunais e decretos. 
 
A segunda hipótese está relacionada à atuação do Presidente da República e 
demais Chefes de Governo de âmbito regional e local, que ocorre, como vimos, 
por meio do chamado veto jurídico (veto baseado na compreensão de que o 
projeto de lei aprovado pelo Legislativo se incompatibiliza com a Constituição por 
algum motivo). Fora essa hipótese, portanto, o veto político é oferecido, quando 
se entende que o projeto contraria o interesse público. 
 
 
 45 
Finalmente, impende destacar que o controle preventivo político feito pelo poder 
executivo não ocorre nos projetos de emenda constitucional. 
 
Controle Preventivo Judicial 
Como se acabou de constatar, em regra, no sistema brasileiro, o controle 
preventivo é político, porém, existe uma hipótese na qual o controle preventivo 
será judicial e, não político. Trata-se aqui de mandado de segurança impetrado 
por parlamentar, em nome de seu direito líquido e certo de participar do devido 
processo legislativo. 
 
Tal mandado de segurança será interposto diretamente no Supremo Tribunal 
Federal, que avaliará se a questão suscitada pelo parlamentar (deputado federal 
ou senador) é efetivamente uma violação ao seu direito líquido e certo de 
participação democrática no processo legislativo ou se se trata de questão 
interna corporis. Nesse último caso, o mandado de segurança será julgado 
inepto, sem apreciação do seu mérito. 
 
Assim, é importante compreender que, muito embora ao poder judiciário, em 
geral, não se atribua competência para o exercício do controle preventivo de 
constitucionalidade, o direito brasileiro admite tal hipótese nos projetos de 
emenda à Constituição que vão de encontro às cláusulas pétreas. 
 
De acordo com o disposto no § 4.º do art. 60 da CRFB/88, as propostas de 
emenda à Constituição (PEC) tendentes a abolir as cláusulas pétreas não deverão 
sequer ser deliberadas (tais cláusulas de superconstitucionalidade são limitações 
materiais ao poder constituinte derivado reformador). 
 
Por isso, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de 
afirmar que os parlamentares estão legitimados para pleitear, mediante a 
impetração de mandado de segurança perante aquela Corte, o trancamento do 
processo legislativo nessas hipóteses, ou seja, os deputados federais e os 
 
 46 
senadores da República têm o direito-função de participar de um processo 
legislativo hígido, vale dizer têm o direito público subjetivo de não deliberar 
qualquer proposta de emenda tendente a abolir qualquer das cláusulas pétreas. 
 
É certo dizer que tal entendimento vem em homenagem ao princípio da 
separação de poderes, um dos pilares de sustentabilidade do Estado Democrático 
de Direito, uma vez que, muito embora o poder judiciário não tenha, em regra, 
competência para o exercício do controle preventivo de constitucionalidade, a 
posição firme do STF no sentido de reconhecer legitimidade ad causam para os 
parlamentares impetrarem o mandado de segurança transforma-se em 
instrumento de garantia do núcleo constitucional intangível das cláusulas de 
imutabilidade. 
 
A ideia aqui é evitar que propostas de emenda tendentes a abolir as cláusulas 
pétreas não sejam nem mesmo deliberadas. Vale, pois, conhecer o teor da 
dicção pretoriana constante da ementa do acórdão que julgou o mandado de 
segurança n.º 20.257/DF: 
 
Mandado de segurança contra ato da Mesa do Congresso Nacional que admitiu a 
deliberação de proposta de emenda constitucional que a impetração alega ser 
tendente à abolição da república. 
 
 Cabimento de mandado de segurança em hipótese em que a redação 
constitucional se dirige ao próprio processamento da lei ou da emenda, 
vedando sua apresentação (como é o caso previsto no parágrafo único do 
art. 57) ou a sua deliberação (como na espécie). Nesses casos, a 
inconstitucionalidade diz respeito ao próprio andamento do processo 
legislativo, e isso porque a Constituição não quer – em face da gravidade 
dessas deliberações, se consumadas – que sequer se chegue à 
deliberação, proibindo-a taxativamente. A inconstitucionalidade, se 
ocorrente, já existe antes de o projeto ou de a proposta se transformar 
 
 47 
em lei ou em emenda constitucional, porque o próprio processamento já 
desrespeita, frontalmente, a Constituição. 
 
 Inexistência, no caso, da pretendida inconstitucionalidade, uma vez que a 
prorrogação de mandato de dois para quatro anos, tendo em vista a 
conveniência da coincidência de mandatos nos vários níveis da Federação, 
não implica introdução do princípio de que os mandatos não mais são 
temporários, nem envolve, indiretamente, sua adoção de fatos. Mandado 
de segurança indeferido.18 
 
Observe, com olhos de ver, que o mandado de segurança de parlamentar 
perante o STF é um controle jurisdicional, muito embora a sua provocação tenha 
se originado de ato de parlamentar (deputado ou senador). Foi, afinal, o próprio 
STF, órgão cupular do poder judiciário, que determinou o trancamento do 
processo legislativo em questão, daí a designação de controle preventivo judicial 
ou jurisdicional. 
 
Em conclusão, a imagem abaixo mostra as três modalidades de controle 
preventivo, seja político (veto jurídico e parecer negativo das Comissões de 
Constituição e Justiça), seja judicial (Mandado de Segurança impetrado por 
Parlamentar). 
O CONTROLE PREVENTIVO DE 
CONSTITUCIONALIDADE
• Veto jurídico do Presidente da República;
• Parecer negativo das Comissões de Constituição 
e Justiça;
• Mandado de Segurança impetrado por 
Parlamentar perante o STF
 
 
 
18 STF, Pleno, Rel. Min. Moreira Alves, Mandado de Segurança n.º 20.257/DF. 
 
 48 
Uma vez investigado o controle preventivo de constitucionalidade, vale agora 
examinar os aspectos característicos do controle repressivo de 
constitucionalidade, cujo objetivo é retirar do ordenamento jurídico uma norma 
inconstitucional. 
 
Da mesma forma que o controle anterior, o controle repressivo ou posterior

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