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Relações Internacionais Teoria e História - Conceitos

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MÓDULO I - CONCEITOS ELEMENTARES E CORRENTES 
TEÓRICAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
 
 
 
 
Unidade 1 - As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo: Dilemas e 
Perspectivas 
Unidade 2 - Conceitos Fundamentais 
Unidade 3 - Correntes Teóricas das Relações Internacionais 
Unidade 4 - O Realismo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 1 - As Relações Internacionais no Mundo 
Contemporâneo: Dilemas e Perspectivas 
 
 
 
Ao final desta Unidade inicial, o aluno deverá estar apto a: 
identificar os principais pontos da agenda de relações internacionais 
contemporâneas; 
estabelecer o conceito e as características da Globalização; 
estabelecer a importância das relações internacionais para o Brasil; 
 assinalar a evolução histórica e a importância de Relações Internacionais 
como disciplina acadêmica. 
 
 
 
 
 
 
Em um curso de educação a distância por meio da Internet, o estudante tem 
um papel central no estabelecimento de uma relação de qualidade com o 
conteúdo proposto. Portanto, procure organizar-se para ter o melhor 
aproveitamento possível do curso. 
 
 
 
 
 
 
Pág. 2 - As Relações Internacionais no mundo contemporâneo 
 
 
Antes de iniciar os estudos desta unidade, assista ao primeiro vídeo 
educacional da série: Conexão Mundo ("Aldeia Global - Mundo Digital"), 
disponível na página do ILB. 
 
 
 
 
Conexão Mundo é uma série de 20 programas sobre relações internacionais 
que oferece informações necessárias à compreensão dos novos processos de 
intercâmbio entre as nações. Os programas enfocam toda a história das 
relações entre os povos, os tratados e políticas para a nova ordem 
internacional e procuram desvendar conceitos como o de “globalização”, 
“blocos econômicos” etc. 
 
 
As últimas décadas do século XX foram marcadas pela intensificação das 
relações entre os povos, de uma maneira como nunca experimentada 
anteriormente. Cada vez mais, as distâncias estão menores, tempo e espaço 
perdem o significado que tinham para nossos pais e avós, e as pessoas de 
diferentes locais do globo tomam consciência de que “a menor distância entre 
dois pontos é uma tecla”. 
 
O século XXI chegou trazendo grandes conquistas: o mundo está menor, 
globalizado, interligado física e eletronicamente; pode-se tomar café em Londres 
e almoçar em Washington; as fronteiras perdem sua importância; o sistema 
internacional vê-se cada vez mais integrado; a tecnologia alcança milhões de 
pessoas, e não há limite ao conhecimento humano. O último século do segundo 
milênio presenciou uma evolução tecnológica inimaginável! 
 Pág. 3 - O Processo de Globalização 
 
O termo globalização pode ser entendido como fenômeno de aceleração e 
intensificação de mecanismos, processos e atividades, com vista à promoção de 
uma interdependência global e, em última escala, à integração econômica e 
política em âmbito mundial. Trata-se de conceito revolucionário, envolvendo 
aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos. Registre-se, ademais, que 
essa é apenas uma das várias conceituações do fenômeno, o qual não é recente, 
mas se acelerou a partir da segunda metade do século XX. 
 
Um dos aspectos mais importantes da globalização envolve a ideia crescente do 
“mundo sem fronteiras”. Isso é perceptível em termos como “aldeia global” e 
“economia global”. Poucos lugares do mundo estão a mais de dez dias de 
viagem, e a comunicação através das fronteiras é praticamente instantânea. 
 
Em nossos dias, com as economias interligadas, blocos se formam, com 
consequências que ultrapassam os benefícios econômicos, pois as conquistas 
sociais e políticas de um membro do bloco logo deverão chegar aos territórios 
de todos os outros. Princípios como a democracia e a prevalência dos direitos 
humanos podem ser defendidos e arguídos em troca de benefícios econômicos. 
Cite-se, por exemplo, o caso de países como Grécia, Portugal e Espanha, que, 
para serem aceitos na então Comunidade Europeia, tiveram que promover 
importantes mudanças econômicas, sociais e políticas. O mesmo se aplica à 
Turquia, que aspira a tornar-se parte da moderna Europa. 
 
No caso do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), há a chamada "cláusula 
democrática", a qual estabelece que apenas países sob regimes democráticos 
podem participar do bloco. Essa cláusula evita as alternativas autoritárias em 
alguns países do Mercosul, em momentos de crise institucional. 
 
Assim, o atual processo de globalização envolve a integração econômica 
mundial em diversos níveis, com a redução das distâncias em virtude do 
desenvolvimento de mecanismos de produção e distribuição de bens em escala 
global, e do fortalecimento dos meios de comunicação. Nesse contexto, novos 
atores, como as organizações não governamentais, as empresas transnacionais, 
a opinião pública e a mídia, ganham destaque ao influenciarem a conduta dos 
Estados. 
 
 
 
Uma leitura essencial sobre o tema é o artigo de Paulo Roberto de Almeida, 
 
“Contra a Antiglobalização”. 
 
 
 
 
 
 
Pág. 4 - Dilemas da Globalização 
 
Entretanto, a globalização também é marcada por problemas em escala mundial. 
Nesse sentido, há a criminalidade, que ultrapassa as fronteiras dos Estados, com 
organizações criminosas exercendo suas atividades ilícitas no âmbito 
internacional. Crimes como o narcotráfico, o tráfico de armas, o tráfico de 
pessoas e de animais e a pirataria, todos esses há muito não são problemas 
exclusivos de um ou outro país, mas questões globais que devem ser encaradas 
sistemicamente. E a base do crime organizado é a lavagem de dinheiro, que 
movimenta cerca de um trilhão de dólares por ano no mundo, ou 4% do Produto 
Interno Bruto (PIB) mundial, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). 
 
Assim, ao lado das grandes conquistas, há novos e grandes desafios: parte 
significativa da população mundial ainda permanece no século XIX. Nações ricas 
e prósperas convivem com Estados que comportam milhões de miseráveis. 
Alguns locais do globo ainda não saíram da Idade Média! Novas e antigas 
doenças afligem milhões. Cite-se, ainda, a parte significativa da raça humana 
que sofre com a fome, a pobreza, as guerras. A sociedade internacional 
presencia crises econômicas, políticas, culturais e sociais. E o destino da 
humanidade permanece uma grande incógnita. 
 
 
Pág. 5 - Meio Ambiente, Direitos Humanos, Conflitos Internacionacionais 
 
 
 
Outro importante tema de relações internacionais neste mundo globalizado 
envolve os problemas ambientais. Cada vez mais a humanidade toma 
consciência de que o meio ambiente não pode ser tratado como assunto interno 
dos Estados e que os danos ambientais ultrapassam as fronteiras. A terra é um 
corpo único e seus recursos são patrimônio de todos os seres humanos e das 
futuras gerações. Daí que os males causados ao meio ambiente afetam toda a 
humanidade. 
Convém registrar que, para Relações Internacionais como disciplina acadêmica 
ou área do conhecimento, empregaremos iniciais maiúsculas, enquanto que, 
quando nos referirmos ao objeto de estudo, usaremos o termo em minúsculas. 
 
No último quartel do século XX, a proteção ao meio ambiente passou a ser uma 
das grandes preocupações da comunidade internacional, não só na esfera de 
governo, mas também entre todos os habitantes do planeta. A Conferência do 
 
Rio de Janeiro de 1992 exerceu essa salutar influência, e multiplicaram-se nas 
últimas décadas os tratados sobre todos os aspectos ambientais, tanto assim 
que se calcula em mais de mil os tratados internacionaisassinados sobre o tema. 
 
Também a proteção aos direitos humanos é um assunto em voga, sobretudo 
quando notícias de violações a esses direitos nos chegam de todas as partes do 
planeta. No moderno sistema internacional, agressões contra uma pessoa 
devem ser consideradas crimes contra toda a raça humana. O intenso trabalho 
das cortes internacionais de direitos humanos na Europa e no continente 
americano refletem essa nova realidade. 
 
Ademais, à medida que nos aproximamos uns dos outros, surgem também os 
conflitos, outro componente marcante da agenda internacional desde sempre. E 
no extremo dos conflitos, temos a guerra, sob suas diferentes formas. Nesse 
sentido, o século XX foi marcado por uma grande quantidade de guerras por todo 
o globo, inclusive com dois conflitos que envolveram praticamente toda a 
sociedade internacional. 
 
De fato, uma das grandes certezas do século XXI é que nele ainda 
presenciaremos o fenômeno da guerra. Entretanto, alguns cogitam mesmo que 
a guerra, neste século, não será mais entre países, mas entre civilizações 
(HUNTINGTON, 1998). 
 
 
 
 
 
 
Pág. 6 - Importância do conhecimento de Relações Internacionais 
 
 
Eis, portanto, o grande paradoxo global: ao lado de grandes conquistas, grandes 
desafios! E é nesse contexto que se percebe a necessidade de conhecimento 
das relações internacionais. Atualmente, quem não estiver informado sobre o 
que ocorre no mundo poderá ver-se bastante limitado, pessoal e 
profissionalmente. 
 
Hoje, a sociedade internacional está tão interligada, tão integrada em um 
processo de globalização, que situações ocorridas na China podem afetar a nós, 
brasileiros, do outro lado do planeta. Daí que o problema do outro passa a ser 
também um problema nosso, e o bem-estar de cada homem passa a significar o 
bem-estar de toda a humanidade. Nesse contexto, se você não é parte da 
solução, é parte do problema! 
 
 
 
 
 
Assista à aula proferida pelo Professor Doutor Joanisval Brito Gonçalves, por 
ocasião de curso presencial ministrado no ILB. Aqui 
Aumente o som de seu equipamento e bons estudos! 
 
 
 
 
 
O Brasil e as Relações Internacionacionais 
 
 
Como quinto maior país do globo em população e dimensão territorial, e estando 
entre as maiores economias do planeta, com condições e pretensões de se 
tornar uma grande potência, o Brasil não pode se furtar a ter um papel de 
destaque nas relações internacionais. As transformações e acontecimentos no 
mundo globalizado farão cada vez mais parte de nosso dia a dia, em uma 
tendência praticamente irreversível. 
 
Estamos estrategicamente localizados, temos fronteiras com praticamente todos 
os países sul-americanos, e com o Atlântico, principal via para a Europa e a 
África. Ademais, somos uma nação tida como pacífica e respeitadora do direito 
internacional e com incontestáveis atributos de liderança regional. Finalmente, 
não devemos desconsiderar nossas maiores riquezas: os recursos naturais e um 
povo multiétnico, empreendedor e, nos dizeres de Gilberto Freyre, com suas 
peculiares “características antropofágicas”. 
 
Pouco significativa diante de suas potencialidades é a atuação brasileira no 
cenário internacional. Apenas nas últimas décadas do século XX é que o Brasil 
começou a se fazer mais presente. Isso coincide com o surgimento e o 
desenvolvimento dos primeiros cursos de Relações Internacionais no País e com 
o aumento do interesse nas questões internacionais por parte de diversos 
setores da nossa sociedade. 
 
É premente a necessidade de que os brasileiros tenham algum conhecimento de 
Relações Internacionais. Na Administração Pública, essa demanda é mais 
evidente. No Poder Legislativo, é fundamental que aqueles que assessoram os 
legisladores conheçam as principais linhas da política internacional tão bem 
quanto conhecem a política interna brasileira. Afinal, política interna e política 
externa estão estreitamente relacionadas: as ações daquela afetarão e serão 
afetadas por esta e vice-versa. 
 
 
Um sítio interessante para o estudante e o profissional de Relações 
Internacionais é o Inforel, que traz cobertura atualizada das questões gerais da 
área e também de defesa nacional, além de artigos com análises interessantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 7 - As Relações Internacionais e a Constituição Brasileira 
 
A importância das relações internacionais também pode ser percebida na 
maneira como o tema é tratado na Constituição Federal. A Carta Magna, já em 
seu Título I, referente aos “Princípios Fundamentais”, estabelece, no art. 4º, os 
princípios que regem as relações internacionais do Brasil: 
 
 
 
· independência nacional; 
· prevalência dos direitos humanos; 
· autodeterminação dos povos; 
· não intervenção; 
· igualdade entre os Estados; 
· defesa da paz; 
· solução pacífica dos conflitos; 
· repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
· cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
· concessão de asilo político. 
 
 
 
 
Ainda no que concerne à Lei Maior, também os direitos e garantias fundamentais 
estão intimamente relacionados às experiências vivenciadas pela comunidade 
das nações ao longo de sua história. Foi graças às revoluções em países como 
a Inglaterra, a França, os EUA e a Rússia, e à difusão desses princípios para 
além de suas fronteiras, que o mundo moldou uma cultura de direitos 
fundamentais que hoje são inquestionáveis em todo o planeta. E a violação a 
esses direitos gera repulsa da comunidade internacional. 
A Constituição de 1988 inovou ao elencar, de forma sistemática, os princípios 
que regem nossas relações internacionais. Para maior aprofundamento, 
sugerimos a leitura do artigo 'Os princípios das relações internacionais e os 25 
anos da Constituição Federal', do Professor Alexandre Pereira da Silva, 
disponível na Biblioteca deste curso, em 'Textos complementares'. 
 
Vereshchetin (1996), por exemplo, vê no que chama de “fator direitos humanos” 
um dos principais meios de retomada de uma cultura mínima de proteção 
internacional no pós-Guerra. O relacionamento entre Estado e indivíduo, que 
tradicionalmente foi objeto de preocupação de leis internas, não mais pode ser 
considerado uma questão puramente doméstica dos países. 
 
A Constituição da Rússia de 1993, por exemplo, trouxe como princípio a 
incorporação das normas internacionais ao sistema jurídico interno e a 
prevalência dos acordos internacionais dos quais a Federação Russa faça parte, 
caso estes estabeleçam regras que difiram daquelas estipuladas em lei interna. 
Isso tem se mostrado uma tendência constitucional em vários países. Quando 
não há dispositivos legais expressos, as cortes constitucionais têm dado o rumo 
da interpretação. 
Na década de 1990, as cortes constitucionais da Hungria e da Polônia, por 
exemplo, decidiram que a Constituição e as normas internas deveriam ser 
interpretadas de tal forma que as normas internacionais geralmente aceitas 
tivessem força efetiva. 
 
Há, portanto, em todo o planeta, sinais de uma crescente interdependência até 
mesmo no campo jurídico, e o Tribunal Penal Internacional nada mais é que uma 
expressão e consequência disso. 
 
 
 
Pág. 8 - O Poder Legislativo e as Relações Internacionais 
 
 
As relações internacionais do Brasil passam efetivamente pelo Poder Legislativo. 
Em nosso sistema jurídico-político, quaisquer tratados que o Brasil celebre com 
outras nações ou com organizações internacionais devem necessariamente 
passar peloaval do Congresso Nacional antes de serem ratificados. 
 
O art. 49 da Constituição Federal de 1988 é claro ao estabelecer, logo nos dois 
primeiros incisos, as competências exclusivas do Congresso Nacional: 
 
 
 
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: 
 
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que 
acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional; 
 
II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a 
permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele 
permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei 
complementar; 
 
(...) 
 
 
 
E o Senado Federal, por sua vez, tem atribuições mais específicas, pois é a Casa 
Legislativa que avalia e aprova nossos embaixadores, autoridades máximas das 
missões diplomáticas brasileiras, designados para representar o País no 
Exterior. Compete também ao Senado autorizar as operações externas de 
natureza financeira dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. 
 
Cada Casa Legislativa possui comissões encarregadas dos temas de relações 
exteriores e defesa nacional. No Senado Federal, por exemplo, a Comissão de 
Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), composta por 19 membros 
titulares e 19 suplentes, é competente para tratar das questões que envolvam as 
relações internacionais do País. 
 
A legislação brasileira evidencia a importância do Poder Legislativo nos destinos 
das relações internacionais. E quanto mais o Brasil busque integrar-se na 
comunidade das nações e ocupar o seu devido papel de destaque, mais 
importante se faz o conhecimento, na esfera do Legislativo, dos principais temas 
da área. 
 
 
 
Pág. 9 - O Estudo das Relações Internacionais 
 
 
Antes de concluirmos a primeira Unidade, convém apresentar algumas 
considerações gerais sobre o estudo das relações internacionais como 
disciplina, as áreas de atuação do profissional da área e a realidade brasileira. 
 
O estudo de Relações Internacionais envolve conhecimentos gerais de Direito, 
Economia, Administração, História, Filosofia, Sociologia, Antropologia, 
Estatística e, sobretudo, de questões internacionais contemporâneas. 
 
O interesse por temas de relações internacionais aumentou mais ainda após os 
atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Ao assistirmos àqueles 
dramáticos acontecimentos em tempo real, alguns véus foram retirados, e aos 
poucos tomamos consciência de que as distâncias físicas se estreitavam ao 
mesmo tempo em que as distâncias culturais e sociais aumentavam. O 
terrorismo passa também a ser uma questão global, que afeta países nos 
hemisférios Norte e Sul, no Ocidente e no Oriente. 
 
No campo profissional, as relações internacionais são aplicáveis em diversas 
áreas. No Brasil, há profissionais dessa área atuando em vários setores da 
Administração Pública e da iniciativa privada. 
 
Em termos de carreira, uma das mais conhecidas é a diplomacia. O diplomata é 
o legítimo representante do Governo e da nação junto a outros povos e 
organizações internacionais. Para se tornar um diplomata no Brasil, é necessário 
o ingresso na carreira por meio de concurso público, promovido pelo Instituto Rio 
Branco (IRBr) do Ministério das Relações Exteriores. Aprovado no concurso, e, 
submetido a um período de treinamento no IRBr, o diplomata inicia uma carreira 
como Terceiro Secretário, podendo chegar a Embaixador. 
 
 
Palácio do Itamaraty 
Fonte:www.inforel.org 
 
No serviço público, além da Chancelaria, o profissional de relações 
internacionais tem diante si alternativas de trabalho nos vários órgãos da 
Administração Federal, Estadual e Municipal. Afinal, sempre há uma “assessoria 
internacional” em cada ministério, secretaria, autarquia e empresas públicas. E 
o perfil do internacionalista se destaca. Constata-se a presença de profissionais 
de relações internacionais nas principais carreiras de Estado. 
 
Na iniciativa privada, outro leque de alternativas se abre aos que possuem 
formação na área. Além das grandes corporações multinacionais e 
transnacionais, as empresas brasileiras de médio e grande porte já percebem a 
necessidade de atuarem em uma economia globalizada. Assim, em um mundo 
cada vez mais integrado econômica e financeiramente, as empresas precisam 
de profissionais que as auxiliem a se integrarem e a permanecerem no sistema 
internacional. Aquelas que desconsideram essa percepção frequentemente 
acabam por sucumbir. 
 
Além disso, há a possibilidade de trabalho nas centenas de Organizações 
Internacionais e Organizações Não Governamentais que atuam no globo: ONU, 
OEA, OIT, OMC, OPEP, UNESCO, FAO, Greenpeace, WWF e outras. Brasília 
tem representação da maior parte dos organismos internacionais dos quais o 
Brasil é membro e, com isso, o mercado do profissional de relações 
internacionais se amplia na capital federal. 
 
 
 
Pág. 10 - Relações Internacionais como disciplina independente 
 
 
 Até o início do século XX, as relações internacionais não eram estudadas como 
disciplina independente. O estudo do tema estava sempre sob o manto de outras 
ciências, como o Direito, a Economia, a Sociologia e a Ciência Política. 
 
À medida que a sociedade internacional tornava-se mais complexa e as relações 
entre os Estados mais diversificadas, relações estas que envolviam conflito e 
cooperação, e que muitas vezes culminavam em situações que interferiam 
diretamente no cotidiano das pessoas e na política interna das nações, 
percebeu-se a crescente necessidade de teorias que explicassem a conduta dos 
atores em um cenário internacional. Essas teorias e seu estudo deveriam 
constituir uma nova área do conhecimento, independente e com autonomia para 
gerar suas próprias percepções da realidade. Daí o aparecimento das primeiras 
cátedras de Relações Internacionais pelo mundo. 
 
Os cursos de Relações Internacionais surgiram na primeira metade do século 
XX, nas principais universidades europeias e norte-americanas. Foram 
constituídos com o objetivo de produzir conhecimento que explicasse como se 
desenvolviam as relações entre os Estados. Naquele contexto, as perguntas que 
impulsionariam o estudo estavam intimamente relacionadas ao grande trauma 
da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), conflito sem precedentes até então, 
que envolvera diversas nações do globo e causara pesadas perdas, sobretudo 
no território europeu. Assim, os temas centrais eram: 
 
 
 O que havia conduzido o mundo a uma situação de conflito tão drástica? 
 O que leva os Estados à guerra? 
 É possível se evitar o conflito entre os povos? 
 Como agem os atores internacionais e quais forças que interferem na 
conduta desses entes? 
 
 
Claro que, no decorrer do século XX, o estudo de Relações Internacionais 
diversificava-se à medida que os laços entre os povos tornavam-se mais 
complexos e novos temas, como cooperação, desenvolvimento, integração, paz, 
direitos humanos e globalização, vinham à baila. Atualmente, a disciplina é 
ampla e alcança as mais diferentes áreas de estudo, e evolui à medida que 
também evolui a complexidade da sociedade internacional. De fato, hoje há 
cursos de Relações Internacionais nas principais universidades do mundo e 
profissionais da área atuando nos mais variados segmentos dos setores público 
e privado. 
 
O primeiro curso de Relações Internacionais no Brasil foi instituído na 
Universidade de Brasília, na década de 1970, fazendo da capital da República o 
referencial brasileiro em estudos internacionais. Até meados da décadade 1990, 
havia apenas dois cursos de Relações Internacionais no Brasil – na Universidade 
de Brasília e na Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro). Hoje, são dezenas 
de instituições que oferecem a graduação em Relações Internacionais por todo 
o País. Trata-se, portanto, de carreira de grata expansão. Mesmo assim, a 
contribuição brasileira para as relações internacionais ainda é muito incipiente, 
sobretudo para um país que tem potencial para se tornar uma grande potência 
entre seus pares. 
 
Feitas essas primeiras considerações acerca do tema de nosso curso, realize as 
atividades propostas e, em seguida, passemos às teorias e aos principais 
conceitos utilizados pelos profissionais e estudiosos das Relações 
Internacionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 2 - Conceitos Fundamentais 
 
 
Ao final desta unidade, o aluno deverá ser capaz de identificar e definir os 
seguintes conceitos fundamentais de relações internacionais: 
• Sociedade Internacional; 
• Atores; 
• Forças Profundas; 
• Sistema Internacional; 
• Potência; 
• Hegemonia. 
 
 
 
 
 
Lembre-se sempre dos objetivos estabelecidos, que devem servir de guias 
para o estudo do conteúdo e para a autoavaliação do cursista. Tenha um bom 
aproveitamento! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 2 - Conceitos Fundamentais 
 
 
Essencial para o desenvolvimento de nosso curso é a compreensão de conceitos 
fundamentais de Relações Internacionais. Nesse sentido, seria complicado 
tentar iniciar qualquer análise de Relações Internacionais sem as noções desses 
conceitos. Dentre eles ressaltamos: 
 
 Sociedade Internacional; 
 Atores; 
 Forças Profundas; 
 Sistema Internacional; 
 Potência; 
 Hegemonia. 
 
 
 
 
Antes de iniciar o estudo desta unidade, sugerimos que assista atentamente 
aos dois vídeos seguintes do Conexão Mundo, 
“Conceitos Fundamentais de Relações Internacionais”, disponíveis no sítio do 
ILB. 
 
 
 
 
A seguir, vamos procurar identificar os elementos mais importantes desses 
conceitos. 
 
Sociedade Internacional 
 
Um dos primeiros aspectos com o qual se depara aquele que inicia o estudo de 
Relações Internacionais refere-se à temática que envolve a Sociedade 
Internacional. 
 
Como definir Sociedade Internacional? Quais os elementos constitutivos desse 
conceito? 
 
A ideia de Sociedade Internacional – termo cunhado por Hugo Grócio no século 
XVII – permite direcionar a atenção para a atuação padronizada dos Estados. 
Apesar da ausência de uma autoridade central no cenário internacional, os 
Estados exibem padrões de atuação que estão sujeitos a, e constituídos por, 
restrições de diversas naturezas – históricas, sistêmicas, legais e morais, entre 
outras. 
 
Num primeiro momento, podemos relacionar Sociedade Internacional à evolução 
histórica das relações entre os grupos, povos e, mais tarde, Estados-nações 
organizados em âmbito espacial determinado. Podemos identificar a evolução 
da Sociedade Internacional a partir das relações entre os grupos primitivos da 
Antiguidade, passando pelos reinos e impérios e chegando à Idade 
Contemporânea, com a ascensão do Estado nacional e soberano nos séculos 
XVIII e XIX e o seu declínio, no século XX, frente a um sistema cada vez mais 
globalizado e interdependente. 
 
 
 
 
Pág. 3 - Sociedade Internacional 
 
Podemos falar em Sociedade Internacional antes mesmo da formação dos 
Estados nacionais, que só se deu, nos moldes como os concebemos hoje 
(compostos de povo, território e soberania), há dois séculos. Mesmo que não 
houvesse consciência dos povos a esse respeito, não há como negar a 
existência “de fato” de uma Sociedade Internacional na Antiguidade. Afinal, a 
partir do momento em que surgem os primeiros grupos independentes e 
diferenciados, exercendo relações políticas, culturais ou comerciais entre si, tem-
se uma Sociedade Internacional embrionária. Das tribos passaram-se aos 
reinos, às cidades-estados e aos impérios, e estes, vistos em um contexto macro 
e nas relações entre si, formavam a Sociedade Internacional do mundo antigo. 
 
Claro que o primeiro modelo de Sociedade Internacional, inserido em um 
Sistema Internacional da Antiguidade, refletia mais um conjunto de sociedades 
regionais localizadas, muitas vezes sem qualquer contato entre si e até sem 
consciência da existência umas das outras. Era uma época em que as forças 
naturais limitavam a comunicação entre Oriente e Ocidente, e a “Sociedade 
Internacional do sistema grego” mantinha pouco contato com a “Sociedade 
Internacional do extremo oriente” – na qual o império dinástico chinês era o 
principal ator. 
 
Somente com as grandes navegações e o expansionismo europeu pelo planeta 
é que se estrutura uma Sociedade Internacional global. Assim, desde o século 
XVI, o mundo vai-se tornando cada vez mais integrado, seja pela força da 
economia e do comércio, seja pela força dos canhões e das conquistas coloniais 
europeias. Paul Kennedy, em sua obra já clássica Ascensão e Queda das 
Grandes Potências, analisa, com clareza, como o extremo oeste do continente 
euro-asiático, conhecido como Europa, com uma diversidade de povos e reinos 
autônomos e marcado por conflitos regionais e fratricidas, consegue expandir-
se pelo mundo e, em pouco mais de dois séculos, tornar-se o centro de uma 
sociedade global, subjugando forças tradicionais como a China e o Império 
Otomano. 
 
 
O termo “internacional” foi utilizado pela primeira vez em 1780, pelo filósofo 
inglês Jeremias Bentham, em sua obra Princípios de Moral e Legislação. Essa é 
a época do apogeu dos Estados nacionais, com o início do declínio do 
absolutismo no continente europeu. Era um período em que a ideia de nação 
ainda estava muito ligada à figura do soberano. A Sociedade Internacional 
representava, para os europeus, a “Cristandade”, com seus paradigmas e 
princípios seculares. O Estado soberano era o principal ator internacional. 
 
Foi com a Revolução Francesa que o conceito de nação deixou de ter caráter 
puramente simbólico e passou a relacionar-se diretamente à questão da 
soberania. Esta passou a residir essencialmente na nação, onde o súdito tornou-
se cidadão e as relações entre os Estados, até então simbolizados e conduzidos 
pelos monarcas, estenderam-se às relações entre os povos. O século XX 
esclarece essa nova perspectiva: as relações entre nações não são 
necessariamente relações entre os Estados, muito pelo contrário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 4 - Sociedade Internacional 
 
Não há dúvida de que essa Sociedade Internacional é dinâmica e tem sua 
evolução diretamente relacionada à evolução dos grupos, povos, reinos, 
Estados, Impérios e nações, enfim, de todos os atores que a compõem ou a 
compuseram e das forças que influenciam a sua atuação. 
 
Qual é, então, o conceito de sociedade internacional? 
 
A resposta para essa pergunta é percebida de maneira diferenciada pelos 
teóricos das Relações Internacionais, que podem ser reunidos em três grandes 
grupos (CERVERA, 1991). 
 
Para os teóricos do primeiro grupo, é simplesmente impossível definir Sociedade 
Internacional. Limitam-se, assim, ao estudo dos componentes da Sociedade 
Internacional e à evolução das relações entre eles. 
 
Os teóricos do segundo grupo dedicam-se a analisar a Sociedade Internacional 
em contraposição a outros grupos sociais. Por essa ótica, a pergunta que se 
busca responder é “Como é a Sociedade Internacional?” É irrelevante,portanto, 
para esses autores, a formulação de um conceito teórico para Sociedade 
Internacional. De qualquer maneira, eles não deixam de apresentar sua definição 
de Sociedade Internacional, mas apenas para instrumentalizar suas explicações, 
como veremos adiante. 
 
O terceiro grupo, majoritário, afirma não só ser possível, mas também 
necessário, proceder à definição do termo “Sociedade Internacional”, para que 
se possa tratar com mais propriedade o estudo dos fenômenos internacionais e 
das relações que se desenvolvem em seu meio. Uma vez que concordamos com 
essa percepção, apresentaremos nosso conceito de Sociedade Internacional. 
Antes, porém, vejamos alguns conceitos de autores renomados. 
 
Colliard (1978) afirma que Sociedade Internacional é o “conjunto de seres 
humanos que vivem sobre a terra”. Percebemos uma definição genérica e 
abrangente, que põe completamente de lado as estruturas em que os seres 
humanos estão agrupados, como as nações ou os Estados nacionais. Para o 
autor, o conceito de Sociedade Internacional confunde-se com o de 
“humanidade”. Chega-se a perceber mesmo uma concepção idealista, pois a 
Sociedade Internacional teria em primeiro plano o indivíduo, independentemente 
de suas origens e do grupo ou povo a que pertence. 
 
Hedley Bull (2002), com base em uma análise sistêmica, definiu Sociedade 
Internacional como um “grupo de comunidades políticas independentes que não 
formam um sistema simples”. 
 
Juan Carlos Pereira (2001) apresenta uma definição mais precisa e completa: 
“um âmbito espacial e global em que se desenvolve um amplo conjunto de 
relações entre grupos humanos diferenciados, territorialmente ou 
geograficamente organizados e com poder de decisão.” O autor acredita que a 
Sociedade Internacional estaria evoluindo para uma Comunidade Internacional. 
 
Rafael Calduch Cervera (1991) define Sociedade Internacional como “aquela 
sociedade global (macrossociedade) que compreende os grupos com um poder 
social autônomo, entre os quais se destacam os Estados, que mantêm entre si 
relações recíprocas, intensas, duradouras e desiguais sobre as quais é 
assentada certa ordem comum”. 
 
Por fim, cabe apresentar nossa própria conceituação de Sociedade 
Internacional, que é baseada na corrente historiográfica, pela qual buscamos 
reunir elementos que consideramos essenciais para a compreensão do termo e 
de sua evolução desde a Antiguidade. A nosso ver, Sociedade Internacional 
pode ser definida como o conjunto de entes que interagem de maneira sistêmica 
em uma esfera internacional sob a influência de forças profundas. 
 
Desmembremos esse conceito para melhor compreensão. 
 
 
 
 
 
Pág. 5 - Ator Internacional 
 
A primeira parte de nosso conceito de Sociedade Internacional trata de um 
conjunto de entes. Esses entes nada mais são do que os Atores internacionais. 
Ator internacional é toda autoridade, organização, grupo ou pessoa que 
representa ou pode vir a representar um papel de destaque na Sociedade 
Internacional. A percepção desses atores varia conforme o tempo e a corrente 
teórica que os identifica, mas podemos destacar aqueles que, na atualidade, 
podem ser considerados os mais importantes: os Estados nacionais, os atores 
governamentais interestatais (as organizações internacionais), os atores não 
governamentais interestatais (i.e., organizações não governamentais e 
empresas multi- e transnacionais, entre outros) e os indivíduos. 
 
Não são todas as pessoas, grupos ou organizações que podem ser identificados 
como Ator Internacional. Para nossa classificação, é necessário que a atuação 
desses entes tenha destaque em escala global. Por exemplo, uma associação 
estabelecida dentro de determinado país e voltada em suas atividades e 
interesses prioritariamente ao âmbito interno daquele país não é um Ator 
internacional. 
 
Não obstante, qualquer grupo, organização ou indivíduo pode vir a tornar-se Ator 
internacional. Grandes empresas transnacionais de hoje foram, no passado, 
pequenas organizações comerciais, algumas de natureza familiar, que atuavam 
exclusivamente no interior de seu país de origem, não sendo à época Atores 
internacionais. À medida que essas empresas cresceram, expandiram-se para 
além das fronteiras de seus Estados de origem e começaram a atuar e influir na 
Sociedade Internacional, tornaram-se Atores internacionais. 
 
 
 
Pág. 6 - Sistema Internacional 
 
O segundo aspecto de nosso conceito de Sociedade Internacional refere-se à 
atuação sistêmica na esfera internacional. Adotamos uma abordagem sistêmica, 
em que o aspecto relacional é importante. Sistema pode ser conceituado como 
“conjunto de elementos e instituições entre os quais se possa encontrar alguma 
relação” ou, ainda, “conjunto ordenado de meios de ação ou de ideias, tendente 
a um resultado”. A abordagem sistêmica em relações internacionais vê o 
conjunto de inter-relações entre os Atores internacionais como sujeito a padrões 
e normas – enfim, a forças profundas –, que remetem ao conjunto mais amplo, 
o sistema internacional como um todo. 
 
As primeiras considerações a respeito do modelo sistêmico para explicar as 
Relações Internacionais tomaram por base referências da Biologia e da Química. 
Nesse sentido, pode-se associar a noção de sistema ao corpo humano, no qual 
vários subsistemas – circulatório, nervoso etc. – são compostos de órgãos que 
se relacionam e dependem uns dos outros. A ideia de sistema, portanto, está 
relacionada a um ordenamento nas relações entre componentes e à 
interdependência entre esses componentes. 
 
Raymond Aron, em sua obra clássica Paz e Guerra entre as Nações, recorreu 
ao conceito de sistema para evocar a dinâmica das relações internacionais. 
Assim, a Sociedade Internacional tem características suficientemente estáveis 
para que possamos percebê-la como um sistema onde os Atores conduzem suas 
relações dentro de certos padrões. 
 
Cabe aqui, também, apresentar um conceito de Sistema Internacional, de acordo 
com Frederic S. Pearson e J. Martin Rochester (2000, p. 641): 
 
Sistema Internacional. Conjunto de relações em âmbito mundial nas áreas 
política, econômica, social e tecnológica, em torno do qual ocorrem as relações 
internacionais em um dado momento. 
 
Há ainda autores que separam as noções de Sociedade Internacional e de 
Sistema Internacional para identificar certos períodos históricos. Por exemplo, 
Sociedade Internacional teria como substrato a ideia de concerto e harmonia 
internacional, que alguns defendem corresponder, por exemplo, à Europa do 
pós-1815. Em contrapartida, Sistema Internacional traduziria a existência de 
vários polos de poder que interagem entre si e não necessariamente se 
harmonizam no todo, o que alguns autores defendem corresponder ao mundo 
pós-1945. 
 
 
 
 
 
 
Pág. 7 - Forças Profundas 
 
Finalmente, de acordo com a nossa concepção de Sociedade Internacional, o 
terceiro elemento fundamental são as “forças profundas”. A ideia de “forças 
profundas” origina-se da corrente historiográfica das Relações Internacionais 
cujos principais expoentes foram Pierre Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle. De 
acordo com esses historiadores, as forças profundas nada mais seriam que 
determinados fatores que influenciariam as ações das coletividades. 
 
As condições geográficas, os movimentos demográficos, os interesses 
econômicos e financeiros, os traços da mentalidade coletiva, as grandes 
correntes sentimentais – todas essas forças profundas formaram o quadro das 
relações entre os grupos humanos e, em grande parte, lhes determinaram o 
caráter. Ohomem de Estado, nas suas decisões ou nos seus projetos, não pode 
negligenciá-las; sofre-lhes a influência e é obrigado a constatar os limites que 
elas impõem à sua ação. Todavia, quando ele possui quer dons intelectuais, quer 
firmeza de caráter, quer temperamento que o levam a transpor aqueles limites, 
pode tentar modificar o jogo de semelhantes forças e utilizá-las para seus 
próprios fins. 
 
Juan Carlos Pereira denomina tais forças profundas de “fatores condicionantes” 
(PEREIRA, 2001, p. 44). Identifica alguns desses fatores: fator geográfico, fator 
demográfico, fator econômico, fator tecnológico, fator ideológico/sistema de 
valores, fator político-jurídico e fator militar-estratégico. 
 
Portanto, a Sociedade Internacional é composta de entes – Estados, 
organizações internacionais, organizações não governamentais, empresas 
transnacionais, indivíduos, entre outros – que são influenciados pelas forças 
profundas – fatores geográficos, demográficos, migratórios, políticos, 
econômicos e financeiros, ideológicos, religiosos, tecnológicos etc. – em suas 
ações sistêmicas na esfera internacional. 
 
 
 
Uma leitura complementar recomendada é a do texto sobre Rio Branco e as 
Forças Profundas, de Arno Wehling: 
 
Visão de Rio Branco – o homem de estado e os fundamentos de sua política. 
 
 
 
 
 
Além do clássico Histoire des Rélations Internationales, obra-mestra da 
historiografia francesa das relações internacionais, caberia destacar dois livros 
de 
Renouvin e Duroselle já traduzidos para o português: Introdução à História das 
Relações Internacionais – publicada em 1967 pela Difusão Europeia do Livro, 
de 
São Paulo – e Todo Império Perecerá – um dos últimos grandes trabalhos de 
Duroselle, lançado no Brasil em 2000. 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 8 - Potência 
 
Além dos conceitos já tratados, cabem, neste curso introdutório, algumas 
observações – ainda que sem aprofundamento – a respeito de outros conceitos 
essenciais para viabilizar nosso entendimento dos temas tratados no decorrer 
das próximas unidades. Passemos a eles. 
 
 
Potência 
 
O Sistema Internacional é composto por uma diversidade de atores. Nesse 
contexto, o Estado ocupa papel de destaque, mas existem diferenças marcantes 
entre os Estados na esfera internacional e o grau de influência (poder) que eles 
exercem. Assim, importante para a compreensão das relações internacionais é 
a ideia de Potência e das diferentes gradações dessa classificação. 
 
Há inúmeras definições para Potência. 
 
Segundo Martin Wight (2002), Potência é “um Estado moderno e soberano em 
seu aspecto externo, e quase pode ser definido como a lealdade máxima em 
defesa da qual os homens hoje irão lutar”. 
 
Rafael Calduch Cervera (1991), por sua vez, cita o conceito de Potência 
Internacional segundo C. M. Smouts, ou seja, como aquele Estado “mais ou 
menos poderoso segundo sua capacidade de controlar as regras do jogo em um 
ou mais âmbitos-chaves da disputa internacional e segundo sua habilidade de 
relacionar tais âmbitos para alcançar uma vantagem”. 
 
Ao tratar da capacidade dos Estados de influenciarem a Sociedade 
Internacional, Martin Wight relaciona Potências Dominantes, Grandes Potências, 
Potências Mundiais e Potências Menores. Potências Dominantes e Potências 
Mundiais seriam subdivisões do gênero Grande Potência, uma vez que ambas 
as categorias se referem a Estados com interesses globais e capacidade de 
influência significativa no Sistema Internacional. Em última análise, a 
diferenciação poderia ser restringida a Grandes Potências e Potências Menores. 
 
Wight define Potência Dominante como aquela capaz de medir forças contra 
todos os rivais juntos. E cita exemplos ao longo dos séculos, como Atenas, à 
época das Guerras do Peloponeso, o Império Romano, a Espanha de Carlos V 
e de Filipe II, a França de Luís XIV, a Grã-Bretanha no século XIX e os EUA no 
século XX. 
 
Outro termo muito utilizado e cujas características vão além da Potência 
Dominante, conforme definida por Wight, é o de Superpotência. Esse termo, 
cunhado com o advento da Guerra Fria, designava exclusivamente URSS e 
EUA. Esses países, em virtude de suas capacidades nucleares – com poder de 
destruição global –, inúmeras vezes associadas ao poderio militar convencional 
e à influência político-ideológica mundial, tinham status único na comunidade 
das nações. 
 
Gounelle (1992) indica quatro características das Superpotências: 
 
têm capacidade de intervir em qualquer parte do globo; 
 
dispõem de amplo arsenal, capaz de causar danos diferenciados dos 
armamentos convencionais e composto tanto de armas nucleares quanto de 
outros meios de destruição em massa; 
 
assumem a liderança de uma aliança militar (os EUA da OTAN e a URSS do 
Pacto de Varsóvia); 
 
pretendem oferecer um modelo universal de sociedade. 
 
 
Convém lembrar que a ideia de Superpotência ultrapassa em muito o poderio 
exclusivamente militar. De fato, a capacidade de destruição massiva do planeta 
é o elemento central do conceito de Superpotência, mas o aspecto de liderança 
de um bloco de nações e de pretensões de estabelecimento de uma sociedade 
universal em seus moldes político-econômico-ideológico-sociais não pode ser 
desconsiderado. 
 
 
 
Pág. 9 - Potência 
 
 
Atualmente, com o colapso da URSS, restou, no planeta, apenas uma 
Superpotência: os EUA. Alguns autores vislumbram a possibilidade de a China 
vir a ocupar, na segunda metade do século XXI, o lugar da URSS. Entretanto, 
ainda não há que se falar na China como Superpotência, uma vez que esta, além 
de não dispor de arsenais nucleares capazes de fazer frente ao poderio de 
Estados como EUA e Rússia, não tem pretensões – nem condições – de projetar 
um modelo sócio-político-cultural-ideológico seu para o mundo. A Rússia, por 
sua vez, apesar de dispor de arsenais nucleares com capacidade de destruição 
massiva do planeta, não pode ser chamada de Superpotência, exatamente 
porque também não tem condições de aspirar a qualquer pretensão hegemônica 
no sistema internacional, como fazia a URSS. Assim, os EUA, considerados os 
vencedores da Guerra Fria, são hoje o único Estado com as características 
básicas da superpotência, e, de fato, essa nação tem-se tornado tão poderosa 
que já se cunha o conceito de Hiperpotência, algo sem precedentes na História. 
 
A Hiperpotência dispõe de um aparato bélico superior ao das demais Potências 
juntas. Esse aparato não se resume ao acervo das armas de destruição em 
massa, mas inclui armamento convencional significativo e capacidade de 
operação militar em mais de um teatro no globo. Ademais, trata-se de uma 
Economia de peso diante do sistema, sua influência na política internacional é 
marcante e, ainda, consegue projetar seu modelo sócio-cultural e político para 
outras regiões do planeta. 
 
Assim, os EUA não encontram, no início do século XXI, adversários militares à 
altura, e são a Grande Potência econômica e a liderança mundial. Do ponto de 
vista econômico, por exemplo, apenas a coalizão das grandes economias 
europeias pode fazer frente aos EUA, o mesmo se podendo dizer das economias 
asiáticas. A projeção de poder dos norte-americanos no mundo não encontra 
precedentes, e alguns analistas já começam a analisar a política externa 
estadunidense como uma política de império. De qualquer maneira, o conceito 
de Hiperpotência ainda encontra-se em desenvolvimento. 
 
O conceito de Wight para Potência Dominante tem grande proximidade com a 
ideia de hegemon, ou seja, uma potência tão poderosa que seria necessáriauma 
coalizão de todas as demais nações para contê-la. A concepção de hegemon 
ultrapassa a esfera exclusivamente político-militar, de modo que o Estado que 
detém esse título influencia a Sociedade Internacional em esferas diversas, 
como a cultura, a estrutura social interna, a Economia e até o Direito. Além disso, 
essa influência do hegemon não ocorre necessariamente de maneira impositiva. 
De fato, a hegemonia, como veremos a seguir, envolve um misto de coerção e 
consenso. Finalmente, convém lembrar que o hegemon continua influenciando 
a Sociedade Internacional mesmo após perder esse status. 
 
Interessante observar que a hegemonia dos EUA hoje é mantida mais por outros 
meios – o que alguns autores chamam de soft power (poder suave) –, como a 
presença marcante na compilação e divulgação de notícias e diversões, na 
produção de bens de consumo, nas inúmeras formas de cultura popular e sua 
identificação com a liberdade política e de mercado, do que propriamente por 
meio do hard power (poder militar). 
 
Além da potência hegemônica, há outros atores estatais com capacidade 
significativa de influência na Sociedade Internacional. Esses são as Grandes 
Potências, as quais, inclusive, disputam a hegemonia entre si e aspiram tornar-
se a potência dominante, chegando, muitas vezes, a alcançar esse objetivo. De 
fato, as relações internacionais seriam um grande tabuleiro onde essas 
Potências disputariam poder em um jogo de influência. Como exemplos atuais 
de Grandes Potências teríamos China, França, Rússia, Alemanha, Japão e Grã-
Bretanha. 
 
As potências menores constituem a maioria. Seu grau de influência no sistema 
varia significativamente. Nesse grupo, poderiam ser relacionadas desde as 
Potências Mundiais menores – como Espanha e Índia – até as Potências 
Regionais – Argentina e Egito, por exemplo. Vale destacar que uma Potência 
Menor hoje pode vir a tornar-se uma Grande Potência e até a Potência 
Dominante. Os EUA são um bom exemplo disso. 
 
 
 
 
 
Pág. 10 - Potência 
 
Max Gounelle (1992) comenta que, à medida que dispõe de capacidade de 
influenciar de maneira significativa os outros entes da Sociedade Internacional 
em prol de seus interesses particulares, um Estado pode ser classificado como 
Microestado, Potência Local, Potência Média, Grande Potência ou 
Superpotência. 
 
Os microestados são aquelas pequenas soberanias que persistem em nossos 
dias e que, em sua maioria, tiveram origem na formação histórica dos Estados 
nacionais europeus ou no processo de descolonização. Encontram-se 
constantemente sob amplo grau de dependência frente a uma Potência e 
integram-se a grupos de Estados organizados no seio de organizações 
internacionais. Conviria exemplificar nessa categoria países como o Principado 
de Mônaco e a República de San Marino, diversos Estados-arquipélagos no 
Pacífico ou até algumas Repúblicas da América Central e Caribe. Apesar de 
minimamente influentes na Sociedade Internacional, esses entes ganham força 
quando se associam e se fazem representar em organismos internacionais onde 
tenham poder de voto igual ao de outros Estados. 
 
As Potências Locais são as mais numerosas. Participantes das atividades 
comuns da vida internacional, esses entes têm como objetivos principais sua 
própria sobrevivência e a defesa de sua soberania territorial. De maneira geral, 
não têm grandes pretensões internacionais de projeção de poder e acabam 
também associados às Grandes Potências ou a Potências Regionais. Como 
exemplos para essa categoria, temos países como Bolívia, Paraguai, Camboja, 
Albânia e Moçambique. 
 
São classificados como Potência Regional ou Potência Média aqueles Estados 
aptos a representarem certo papel de destaque em grandes áreas geopolíticas. 
Egito, Síria, Nigéria, Brasil, Argentina e Irã são exemplos de Potências Regionais 
ou Médias. Esses países exercem influência em virtude de suas aptidões de 
liderança sob certos limites geográficos, fundadas em seus potenciais materiais 
ou demográficos, sua envergadura ideológicas ou seu peso militar, econômico e 
até social. 
 
Gounelle, no entanto, diferencia Potências Regionais de Potências Médias ao 
afirmar que estas últimas têm ambições mundiais restritas às suas próprias 
capacidades. Tais pretensões poderiam ser limitadas a domínios específicos 
(nuclear, cultural, econômico, diplomático). A França, a Alemanha, a China e o 
Japão estariam nessa categoria. De fato, o que Gounelle relaciona como 
Potências Médias seria o que se costuma chamar mais apropriadamente de 
Grandes Potências, ou seja, Potências com interesses globais e capacidade de 
influenciar a Sociedade Internacional em diferentes domínios. Ao chamar 
Potências como China e Grã-Bretanha de Potências Médias, Gounelle o faz 
comparando-as às Superpotências – à época, URSS e EUA. 
 
 
 
Pág. 11 - Hegemonia 
 
 
Tomamos como base para o conceito de Hegemonia a obra International 
Relations: the Key Concepts, de Martin Griffiths e Terry O’Callaghan (London: 
Routledge, 2002). 
 
 
 
Hegemonia, em grego, significa “liderança”. Em sentido amplo, portanto, em 
Relações Internacionais, o hegemon é o líder – ou o Estado líder – de um grupo 
de nações. 
 
Para que os conceitos de hegemonia e de hegemon sejam aplicáveis, presume-
se que haja uma certa ordem na Sociedade Internacional. Daí que, apesar de 
ser o Estado mais poderoso no cenário internacional, o hegemon só pode 
exercer sua liderança (hegemonia) se houver relações de poder entre entes em 
um meio internacional. 
 
Hegemonia consiste, então, no exercício de uma liderança ou comando em uma 
sociedade, com base em recursos de poder. Esses recursos fundamentam-se 
em dois aspectos: coerção e consenso. Assim, toda relação de poder tem por 
base os graus de coerção e consenso exercidos por um ente ou mais de um 
sobre os demais. À medida que é alterada essa relação, muda também a 
liderança no grupo. 
 
Para o exercício da hegemonia, o hegemon deve ter capacidade de atuar nas 
esferas de consenso e coerção. Uma relação que se baseie apenas na coerção 
– por meio de recursos de força militar ou econômica – não pode ser 
verdadeiramente hegemônica, da mesma maneira que é impossível a liderança 
da comunidade internacional com fulcro apenas no consenso dos demais atores. 
 
As relações internacionais têm sido marcadas pela disputa, por parte das 
Potências, da hegemonia na Sociedade Internacional. Essa hegemonia, além de 
política, pode ser militar, econômica, cultural ou ideológica. Pode ser regional ou 
global. Um Estado que seja a Potência hegemônica em uma dessas áreas muito 
provavelmente o será na maioria das outras. É claro que tal liderança pode ter 
diferentes gradações e que uma grande Potência econômica em nossos dias 
pode não ter o mesmo poder de influência cultural ou até militar no cenário 
internacional. 
 
A Sociedade Internacional será sempre marcada por um hegemon, cujo 
interesse é manter o status quo do sistema, diante de outras Potências que não 
pouparão esforços para se tornar o hegemon. De acordo com a teoria da 
estabilidade hegemônica, o hegemon tem que ter capacidade de garantir a 
ordem do sistema, ordem que deve ser percebida pelos demais entes da 
comunidade como positiva a seus interesses. Para isso, o hegemon deveria 
dispor de alguns atributos: liderança em um setor econômico ou tecnológico e 
poder político baseado no poder militar. Podemos acrescentar a esses atributos 
a capacidade de obter consenso sobre sua liderança. 
 
 
Pág. 12 - Hegemonia 
 
Para Robert Gilpin, a estabilidade internacional depende da existênciade uma 
hegemonia, que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer “bens 
públicos” internacionais, como lei, ordem e moeda estável. Conforme didática 
explicação de Griffiths (2004, p. 26-27): 
 
(...) os mercados não podem crescer em produção e distribuição de bens e 
serviços se não houver um Estado que forneça certos pré-requisitos. Por 
definição, os mercados dependem da transferência, por meio de um mecanismo 
de preço eficiente, de bens e serviços que possam ser comprados e vendidos 
entre os principais agentes particulares que permutam direitos de posse. Mas os 
mercados dependem do Estado para lhes dar, por coerção, regulamentos, taxas 
e certos “bens públicos” que eles sozinhos não podem gerar. Isto inclui uma 
infraestrutura legal de direitos e leis de propriedade para fazer contratos, uma 
infraestrutura coerciva que assegure a obediência à lei, além de um meio de 
permuta estável (dinheiro) que assegure um padrão de avaliação dos bens e 
serviços. Dentro das fronteiras territoriais do Estado, os governos fornecem tais 
bens. É claro que, internacionalmente, não existe Estado no mundo capaz de 
multiplicar sua provisão em escala global. Baseando-se na obra de Charles 
Kindleberger e na análise de E. H. Carr sobre o papel da Grã-Bretanha na 
economia internacional no século XIX, Gilpin argumenta que a estabilidade e a 
“liberalização” da permuta internacional dependem da existência de uma 
“hegemonia”, que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer “bens 
públicos” internacionais, como lei, ordem e uma moeda estável para o comércio 
financeiro. 
 
Em termos gerais, essa é a Teoria da Estabilidade Hegemônica. 
 
 
 
É uma teoria importante e voltaremos a ela na Unidade 4, ao tratarmos do 
debate teórico travado entre neorrealistas e neoliberais. 
 
 
As Potências hegemônicas são as Grandes Potências na concepção de Wight, 
e o hegemon nada mais é que a Potência Dominante. A hegemonia político-
ideológica no planeta, por exemplo, era disputada pelas Superpotências no 
contexto da Guerra Fria, mas a URSS dificilmente poderia ser caracterizada 
como ameaça à hegemonia econômica dos EUA. 
 
Deve-se esclarecer, todavia, que, durante a maior parte da Guerra Fria, 
imaginava-se que a União Soviética se tornaria uma grande potência 
econômica. 
Isso é especialmente válido para os anos 30: enquanto as economias 
ocidentais agonizavam por causa da crise de 1929, a economia soviética 
crescia a taxas espantosamente altas. 
 
 
 Pág. 13 - Hegemonia 
 
 
Complementando os estudos sobre o conceito de Hegemonia, atente para 
esta aula do Professor Joanisval. Aqui . 
 
 
 
 
 
Essas observações introdutórias são suficientes e fundamentais para a 
compreensão das unidades seguintes e para a discussão dos temas tratados 
neste curso. 
 
 
 
 
Artigo interessante para concluir os estudos desta Unidade é o texto de João 
Marques de Almeida, sobre Hegemonia Americana e Multilateralismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 3 - Correntes teóricas das Relações Internacionais 
 
 
 
 
Ao final da unidade, o aluno deverá ser capaz de: 
indicar e caracterizar as principais correntes teóricas das Relações 
Internacionais no Século XX; 
identificar os principais debates teóricos da disciplina 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 2 - Teorias de Relações Internacionais 
 
 
O objeto material de qualquer ciência se define pela parcela de realidade que se 
pretende conhecer mediante a formação de teorias e a utilização de um método 
científico (CERVERA, 1991). A teorização sobre as Relações Internacionais 
surgiu quando se buscou explicar a existência e as condutas dos entes 
internacionais. É na Grécia Antiga, com a obra de Tucídides, História da Guerra 
do Peloponeso, que se tem a primeira manifestação embrionária de uma teoria 
de Relações Internacionais. 
 
Há algo que as ciências naturais e as ciências sociais, conforme Karl Popper, 
certamente têm em comum: a necessidade da teoria para se desenvolverem. 
Nas palavras de Tomassini (1989, p. 55): 
 
"A ciência exige algo mais do que fatos e descrições de fatos. Exige uma 
explicação de por que ocorreram, que efeitos causaram e algumas predições 
(ou, no caso das ciências sociais, conjecturas) sobre seu comportamento 
provável no futuro, uma mescla de causalidade, teleologia e prospecção. No 
campo das ciências sociais, como em outras ciências, a teoria é chamada a 
ministrar essas explicações, pondo ordem ao mundo heterogêneo e muitas 
vezes incompreensível dos fatos isolados, e a arriscar algumas predições." 
 
 
A Teoria do Equilíbrio de Poder 
 
Começamos por essa teoria por uma razão simples: para muitos estudiosos da 
política internacional, a Teoria do Equilíbrio de Poder, também conhecida como 
Teoria do Balanço de Poder, é o que mais próximo existe de uma teoria política 
das relações internacionais. Arnold Toynbee, conhecido historiador, chegou 
mesmo a dizer que tal teoria constituía uma “lei” da História. 
 
Na era moderna, com o surgimento e desenvolvimento do Estado-nação, 
multiplicaram-se também as teorizações a respeito das relações internacionais. 
Em um contexto de anarquia internacional e de conflito entre os Estados, as 
práticas dos agentes e dos atores na Sociedade Internacional levaram à 
formulação de uma teoria que pode ser considerada a precursora da análise 
convencional realista das relações internacionais, a Teoria do Equilíbrio de 
Poder. 
 
A Teoria do Equilíbrio de Poder percebe o cenário internacional em uma situação 
de equilíbrio, no qual o poder é distribuído entre os diversos Estados. Quando 
um Estado começa a se destacar e a buscar aumentar seu poder frente aos 
demais, há uma perturbação no equilíbrio, e faz-se necessária uma coalizão das 
Potências para conter o Estado “pretensioso” e restaurar a ordem. Assim, 
pressupondo o Estado como um ator racional, a teoria defende que o balanço ou 
o equilíbrio de poder é a escolha preferível e, portanto, a tendência do sistema 
internacional. A Teoria orientou as relações internacionais nos quatro séculos 
compreendidos entre a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e a Primeira Guerra 
Mundial (1914-1918). Foi útil para justificar as condutas dos Estados e ações de 
governantes em um contexto anárquico e conflituoso, como será visto nas 
Unidades 2 e 3 do módulo seguinte deste nosso curso. 
 
Alguns autores distinguem entre o equilíbrio de poder como uma política (esforço 
deliberado para prevenir predominância, hegemonia) e como um padrão da 
política internacional (em que a interação entre os Estados tende a limitar ou 
frear a busca por hegemonia e, como resultado, resulta num equilíbrio geral). 
 
Com o fim da Primeira Guerra Mundial e as consequentes mudanças no cenário 
internacional e no equilíbrio de forças, em virtude dos traumas causados pelo 
conflito e do desenvolvimento do discurso pacifista junto à opinião pública 
internacional, a Teoria do Equilíbrio de Poder foi questionada. Sob o argumento 
de que essa doutrina não poderia perdurar em um sistema em que a guerra 
deveria ser evitada a qualquer custo, o imediato pós-guerra foi marcado por 
novas concepções sobre as relações internacionais, baseadas em uma nova 
corrente teórica, a qual se fundamentava no Direito Internacional, na solução 
pacífica das controvérsias e na busca de uma estrutura supranacional que 
garantisse a paz: o Idealismo das Relações Internacionais.Foi, portanto, na primeira metade do século XX que os primeiros teóricos de 
Relações Internacionais começaram a desenvolver suas explicações sobre o 
tema em um contexto de disciplina autônoma. Claro que, em virtude de um objeto 
de estudo tão complexo, diversas foram as correntes teóricas instituídas nas 
últimas décadas. Como não é este um curso de teoria, pretendemos apresentar 
apenas as linhas gerais das correntes mais reconhecidas. 
 
 
Pág. 3 - A fase idealista 
 
 
O Idealismo, como ficou conhecida a primeira grande corrente teórica de 
Relações Internacionais, surge em um contexto do final de um conflito muito 
marcante, a Primeira Guerra Mundial, e reflete a crescente preocupação 
daqueles que então começavam a teorizar sobre as relações internacionais: 
 
Como se poderia buscar a paz na Sociedade Internacional, ou melhor, 
como evitar o conflito, sobretudo bélico, entre os Estados? 
 
 
No que se refere ao contexto internacional, lembra Arenal (1984), o clima nunca 
poderia ter sido mais favorável ao Idealismo. A Grande Guerra havia 
demonstrado a fragilidade da tradicional diplomacia europeia como meio para 
assegurar a ordem e a paz internacional. As enormes perdas humanas e 
materiais produzidas pelo conflito foram responsáveis, também, pelo advento de 
uma opinião comum universal segundo a qual a guerra deveria ser erradicada 
como instrumento de política dos Estados. Pregava-se, ademais, o 
estabelecimento de um modelo de segurança coletiva capaz de evitar novas 
contendas. 
 
Assim, sob os auspícios do discurso idealista e moralizante do presidente 
estadunidense Woodrow Wilson, foi criada a Sociedade (ou Liga) das Nações 
(SDN), com o objetivo de ser a organização central de um sistema de segurança 
coletiva e um fórum em que os Estados pudessem resolver suas contendas de 
maneira pacífica. A SDN, portanto, contribuía para acentuar o otimismo frente ao 
futuro da Sociedade Internacional e estabelecia os fundamentos de um sistema 
dirigido para preservar a paz. Nesse contexto, a teoria internacional dominante 
se orientava pelos caminhos do Idealismo, dos projetos de organização 
internacional, do estabelecimento de mecanismos tendentes à solução pacífica 
e de propostas de desarmamento. Importância significativa foi dada pelos 
idealistas ao Direito Internacional e às instituições jurídico-normativas que 
garantissem a ordem nas relações entre os Estados: ganhava força o 
institucionalismo nas relações internacionais. 
 
Anarquia internacional não significa “desordem”, mas, sim, ausência de um 
governo central superior aos Estados (que são soberanos e só prestam contas 
a si mesmos e a outros Atores do sistema). Anarquia é, portanto, ausência de 
governo. 
 
 
 
 
O Idealismo partia do princípio de que as relações internacionais encontram-se 
em estado de natureza, ou seja, de anarquia internacional. As nações devem 
buscar, destarte, superar essa anarquia e estabelecer um contrato social em 
âmbito internacional que ordene as relações entre os povos. Os Estados, 
acreditavam os idealistas, deveriam portar-se de acordo com os mesmos 
princípios morais que guiam a conduta do indivíduo. Para estimular ou obrigar 
esses Estados a seguir tais princípios, seria fundamental que se 
institucionalizasse, em escala mundial, o interesse comum de todos os povos em 
alcançar a paz e a prosperidade. O estudo de Relações Internacionais, como 
disciplina autônoma, mostrou-se como uma ciência da paz. 
 
 
Pág. 4 - A fase idealista 
 
O Realismo e o Idealismo encerram, na verdade, duas visões de mundo opostas, 
em que o ponto de partida é a dicotomia anarquia x ordem. Apesar de Tucídides, 
com História da Guerra do Peloponeso, antes mesmo de surgirem os conceitos 
de soberania e a tese do estado de natureza, já ter iniciado a moldar uma 
concepção anárquica do mundo, é com Thomas Hobbes, em Leviatã, e, em 
seguida, com John Locke, em O Estado de Guerra (Capítulo III da obra Segundo 
Tratado do Governo Civil), em que se explora, pela primeira vez, o estado de 
natureza anárquico a respeito das relações internacionais. 
 
Segundo Lijphart (1982), as noções de soberania e de anarquia internacional 
inspiraram três teorias interligadas: a do governo mundial, a do equilíbrio de 
poder (ou balanço do poder) e a da segurança coletiva. 
 
Segundo a teoria do governo mundial, dado que a anarquia é responsável pela 
tensão internacional, é necessário celebrar um contrato social internacional para 
instituir um governo mundial soberano e único, para pôr fim à anarquia. 
 
A teoria do equilíbrio de poder, ao contrário, defende que a luta pelo poder entre 
os Estados soberanos tende a gerar um equilíbrio, o qual não alimenta uma 
tensão perpétua, mas cria uma ordem internacional. 
 
Para a teoria da segurança coletiva, o melhor seria que os Estados se 
empenhassem em tomar medidas coletivas contra todo agressor, o que acabaria 
atenuando a anarquia internacional. 
 
Todas essas teorias aceitam a tese de que a anarquia reina entre os Estados 
soberanos. Segundo Inis L. Claude, citado por Lijphart, essas três teorias 
correspondem a estágios sucessivos de uma progressão em direção a uma 
centralização cada vez mais repleta de autoridade e poder (no sentido balanço 
de poder > segurança coletiva > governo mundial). O mundo nunca passou do 
segundo estágio, o qual foi, na verdade, o foco da maior parte dos autores 
idealistas. 
 
 
 
Historicamente, no desenvolvimento do sistema de Estados da Europa, 
soberania é normalmente associada aos trabalhos de Jean Bodin e Thomas 
Hobbes, nos quais significava o direito de exercer poder irrestrito. Todavia, a 
história do sistema de Estados modernos, do século XVII em diante, é uma 
tentativa de se distanciar da rigidez dessa concepção original em busca da ideia 
de igualdade formal. 
 
 
 
Para as Relações Internacionais, é particularmente importante a visão 
construída por Hugo Grócio sobre a sociedade internacional a partir da teoria do 
contrato. Grócio, considerado o pai do Direito Internacional, defendeu ser o 
direito um conjunto de normas ditadas pela razão e sugeridas pelo appetitus 
societatis. A base da doutrina de Grócio é a solidariedade, ou potencial 
solidariedade, entre os Estados em relação à aplicação da lei internacional, e 
procura estabelecer uma ordem mundial restringindo os direitos dos Estados de 
irem para a guerra por motivações políticas e promover a ideia de que a força só 
pode ser legitimamente usada em nome dos objetivos e anseios da comunidade 
internacional como um todo. 
 
 
Grócio, como se observa, apresenta uma hipótese inversa à do equilíbrio de 
poder. Para ele, existe um fundamento comum de normas morais e jurídicas, e 
o mundo é uma sociedade composta de Estados onde reina um consenso 
normativo suficientemente amplo e intimidador para que a noção de estado de 
natureza e de anarquia internacional não seja aplicável. A tese de Grócio parte 
da noção de anarquia, mas a minimiza para efeitos de teorização, 
desconsiderando a relação necessária entre anarquia e guerra, relação esta 
reduzida a mera “hipótese” (e não a um “dado” ou “premissa”, como fazem os 
realistas). 
 
 
 
 
 
Pág. 5 - A fase idealista 
A teoria e a prática das relações internacionais desde a Primeira Guerra Mundial, 
principalmente com o Pacto da Liga das Nações (o Pacto de Paris), a Carta da 
Organização das Nações Unidas (ONU) e a Carta do Tribunal Internacional de 
Nuremberg, derivamda fórmula grociana, que concebe a sociedade 
internacional de forma ordenada, fruto da analogia com a alegoria da sociedade 
doméstica usada pelos teóricos do contrato social dos séculos XVII e XVIII. 
 
Edward Hallett Carr, autor do clássico Vinte Anos de Crise: 1919-1939, cuja 
primeira edição foi lançada logo após o desencadeamento da Segunda Guerra 
Mundial, em 1939, analisa a dicotomia entre uma perspectiva utópica e a prática 
realista dos Estados e ilustra bem a maneira como os idealistas viam as relações 
internacionais e os argumentos que utilizavam ao tratarem das interações entre 
os povos: 
 
O aspecto teleológico da ciência da política internacional tem estado evidente 
desde o princípio. Surgiu de uma grande e desastrosa guerra; e o objetivo-
mestre que inspirou os pioneiros da nova ciência foi o de evitar a recidiva dessa 
doença do corpo internacional. O desejo passional de evitar a guerra determinou 
todo o curso e direção iniciais do estudo. Como outras ciências na infância, a 
ciência política internacional tem sido marcada e francamente utópica. Ela se 
encontra no estágio inicial, no qual o desejo prevalece sobre o pensamento, a 
generalização sobre a observação, e poucas tentativas são efetuadas de uma 
análise crítica dos fatos existentes e dos meios disponíveis. Neste estágio, a 
atenção está concentrada quase exclusivamente no fim a ser alcançado. 
 
Carr cita, ainda, o discurso do Presidente Wilson – que refletia o pensamento 
idealista geral e que continha a resposta de Wilson: “se não funcionar, teremos 
que fazê-lo funcionar!”, quando indagado se aquele modelo moralizante e 
pacifista funcionaria – e esclarece: 
 
 
"O advogado de um plano para uma força de polícia internacional, ou para a 
‘segurança coletiva’, ou de algum outro projeto para uma ordem internacional, 
geralmente responde à crítica, não com um argumento destinado a mostrar como 
e por que ele pensa que seu plano funcionaria, mas sim, ou com uma declaração 
de que ele tem que ser posto a funcionar porque as consequências de sua 
ausência de funcionamento seriam desastrosas, ou com a demanda por alguma 
panaceia alternativa." 
 
 
Após a Primeira Guerra Mundial, a Liga das Nações foi um esforço específico da 
política internacional de substituir o princípio do equilíbrio de poder pelo princípio 
da segurança coletiva. Tal princípio, que sustentou a criação daquela 
Organização, foi elaborado para remover a necessidade de equilíbrio ou 
balanço. Para os realistas, essa sua remoção no período entreguerras teria sido 
justamente a causa da Segunda Guerra Mundial. Como resultado, o sistema 
internacional pós-1945 deixou de ser explicado em termos do princípio idealista 
da segurança coletiva, e noções de bipolaridade e multipolaridade, típicas das 
análises de balanço de poder, o substituíram. Chegou-se mesmo, nos períodos 
mais quentes da Guerra Fria, em se falar de “balanço de terror”. 
 
 
 
 
Para reforçar e ilustrar os conceitos acima, assista ao vídeo. 
 
 
 
 
Pág. 6 - A fase realista 
 
A década de 1930, entretanto, caracterizada por uma crescente instabilidade 
internacional, consequência de comoções políticas, econômicas e ideológicas, 
internas e internacionais, e pelo fracasso do sistema da Sociedade das Nações 
e da política de apaziguamento das democracias europeias, marca a decadência 
da perspectiva idealista para a teoria das Relações Internacionais. Nesse 
período, tem-se o debate entre o Idealismo e uma nova corrente que ganhava 
força, o Realismo Político. 
 
 
Os acontecimentos internacionais novamente foram essenciais para a mudança 
no aporte teórico. O Realismo representou, em um primeiro momento, a reação 
dos especialistas às insuficiências teóricas e práticas dos idealistas, no contexto 
de convulsões internacionais dos anos trinta e da própria Segunda Guerra 
Mundial. Para os realistas, o apelo à opinião pública e à razão humanista, 
preconizada pelos idealistas, mostrou-se incapaz de prevenir a guerra, fazendo-
se necessário retomar as ideias de segurança nacional e de força militar como 
suportes da diplomacia. Apenas por meio de um poder efetivo, acreditavam, os 
Estados poderiam assegurar a paz internacional e a solução pacífica das 
controvérsias. Carr assinalava que o significado último da crise internacional era 
"o colapso da total estrutura do utopismo baseado no conceito de harmonia de 
interesses". 
 
 
A pragmática nova geração de estudiosos do pós-Segunda Guerra Mundial 
baseava-se no pensamento clássico maquiavélico e hobbesiano e via na defesa 
dos interesses nacionais, em relação a poder, o grande eixo da conduta dos 
Estados soberanos no meio internacional. O Realismo encontrou maior respaldo 
nos EUA. Desse país, a doutrina realista difundiu-se pelo globo, tornando-se a 
corrente teórica mais relevante para explicar as Relações Internacionais. 
 
Abordaremos essa corrente com mais detalhes a seguir e também em unidade 
própria. 
 
 
Atualmente, cerca de 90% da produção acadêmica dos EUA em Relações 
Internacionais têm por fundamento a corrente realista. 
 
 
 
 
 
 
Pág. 7 - Behavioristas e pós-behavioristas 
 
A terceira fase da Teoria das Relações Internacionais desenvolveu-se também 
nos EUA como “resposta aos excessos do Realismo”. Trata-se de uma 
aproximação com a vertente behaviorista da Sociologia. Essa corrente ficou 
conhecida como behaviorista ou científica. Para Arenal (1984, p.82): 
 
No início dos anos cinquenta, alguns especialistas norte-americanos em política 
de segurança nacional repensam os postulados do realismo político, com base 
no caráter impreciso e intuitivo dos mesmos para a análise da realidade 
internacional, e buscam um enfoque de caráter científico capaz de dar resposta 
à complexidade das Relações Internacionais. O impacto dos métodos de 
pesquisa e os modelos das ciências físico-naturais são notados com força nas 
pesquisas que começam a pôr em marcha. A partir desse momento, uma onda 
de cientificismo, que trata de desenvolver uma ciência das Relações 
Internacionais, com base na aplicação de métodos quantitativo-matemáticos, 
invade as Relações Internacionais, impondo-se o que se denominou perspectiva 
behaviorista ou conducista. 
 
 
Para os behavioristas, o objetivo das Relações Internacionais é o 
comportamento dos atores. O estudo desse objeto deve atentar para parâmetros 
que envolvam fases como a coleta e a elaboração de dados, o tratamento 
quantitativo desses dados e, finalmente, a produção de modelos dentro do rigor 
científico das ciências exatas. Para os behavioristas, os estudos devem estar 
sempre voltados para os casos concretos, a partir dos quais uma linguagem 
científica das ciências sociais deve ser elaborada com base em dados empíricos, 
rejeitando-se análises provenientes do Direito, da História ou da Filosofia. Entre 
os vários enfoques da corrente behaviorista, convém destacar a Teoria da 
Tomada de Decisões, a Teoria Sistêmica das Relações Internacionais e a Teoria 
dos Jogos. Os autores científicos mais renomados são Morton Kaplan, David 
Singer e G. T. Allison. 
 
O desenvolvimento da corrente “científica” gerou um grande debate nos anos 
sessenta entre os tradicionalistas filosófico-intuitivos (idealistas e realistas) e os 
científicos (behavioristas). 
 
Finalmente, Arenal identifica uma quarta fase, motivada pelo que David Easton 
(1969) chamou de “nova revolução da ciência política”, e que se convencionou 
chamar de pós-behaviorismo. Essa nova revolução ter-se-ia produzido devido a 
uma profunda insatisfação com a pesquisa política e os ensinamentos 
behavioristas,

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