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Orçamento Empresarial (modelo simples) 03 Orçamento Empresarial (modelo simples) Número de horas estimado para a realização desta unidade 6h 00m Apresentar os princípios básicos do orçamento empresarial convencional. Nesta Unidade o aluno po- derá identificar as principais etapas do orçamento, de modo que possa estar preparado para elaborar um orçamento mais completo e complexo, que será estudado na próxima unidade. Assim, esta Unidade 3 é preparatória, mas de fundamental importância por permitir que o aluno entenda quais são as principais questões inerentes a um orçamento e adquira a capacidade de identificar as fontes de informações ne- cessárias a sua elaboração. Imagine-se recém-ingressado numa empresa comercial de porte pequeno. Ela não é bem organizada e não possui orçamento formal. Sua principal função é organizar o setor responsável pelo orçamento da empresa e criar um modelo que possa depois ser expandido e melhorado. Por enquanto, você deve apenas identificar as principais etapas do processo, definir quais são as informações necessárias e mostrar como é possível chegar a uma previsão de curto prazo, ainda que imprecisa, para os resultados econômicos (lucro ou prejuízo) e finan- ceiros (Balanço Patrimonial e Fluxo de Caixa Projetado). Algumas das principais questões são: - De onde partir? (quadro atual e premissas comerciais) - O que se deve saber sobre as políticas de compra e de venda? - Qual o tributação a que a empresa está submetida? - Qual a política de estoques? - O que se pretende em termos de investimento? Assim, esta Unidade vai abordar estas e outras questões através de um caso prático adaptado das notas de aula de “Controladoria” do Prof. Gutenberg Leal de Mesquita, da Universidade Federal do Pernambuco – UFPE. Introdução Objetivos 1) Modelo básico do processo de Orçamento Empresarial 2) Orçamento de Vendas 3) Orçamento de Compras 4) Orçamento de Caixa para as Compras 5) Orçamento de Salários 6) Orçamento de Imobilizado 7) Orçamento de Seguros 8) Orçamento de Despesas Gerais 9) Orçamento de Resultados (DRE) 10) Orçamento de Caixa (Disponibilidades) 11) Balanço Patrimonial Projetado Assuntos abordados UNIDADE 3 | 57 UNICEPVIRTUAL 1. Modelo básico de Orçamento e Informa- ções Iniciais Todo modelo de processo pressupõe etapas a serem vencidas. No nosso caso, de um orçamento empresarial convencional, partiremos da previsão de vendas (figura 1), de uma situação financeira inicial e de operações planejadas para fazer as projeções necessárias. Figura 1 – Etapas do Orçamento Empresarial Fonte: Mesquita, 2010. Conforme se poderá acompanhar, a previsão de vendas vai indicar o quanto se precisará comprar (no caso de uma empresa comercial), ou fabricar (no caso de indústria). Isso envolve orçamentos de compras de mercadorias (ou de materiais), de aplicação de mão de obra e gastos indiretos. A junção do orçamento de vendas com os orçamentos de gastos leva a uma previsão de resultado. Juntando a tudo isso as políticas de pagamentos das compras e de recebimento das vendas, chega-se a um orçamento de caixa (Fluxo de Caixa Orçado, ou Projetado), essencial para o controle de contas da empresa. Assim, suponhamos que a situação financeira patrimonial do nosso exemplo seja dada no quadro 1: Quadro 1 – Balanço Patrimonial (31/9/2016) ATIVO CIRCULANTE 170.800,00 PASSIVO CIRCULANTE 73.000,00 Disponibilidades (Caixa) 30.000,00 Duplicatas a Pagar (Fornecedores) 65.000,00 Duplicatas a Receber (Clientes) 56.000,00 Salários a Pagar 8.000,00 Estoque de Mercadorias 80.000,00 Seguros Antecipados 4.800,00 PASSIVO NÃO CIRCULANTE 0,00 ATIVO NÃO CIRCULANTE 56.550,00 PATRIMÔNIO LÍQUIDO 154.350,00 Móveis e Utensílios 87.000,00 Veículos 0,00 Capital Social 120.000,00 (Depreciação Acumulada) -30.450,00 Lucros 34.350,00 Total do Ativo 227.350,00 Total do Passivo 227.350,00 ATIVO PASSIVO Fonte: Autor 58 | UNIDADE 3 UNICEPVIRTUAL Quanto às operações, por se tratar de um modelo simplificado de orça- mento, deixaremos de lado alguns itens normalmente importantes, tais como a tributação, por exemplo. Deixaremos para tratar na Unidade 4 do detalha- mento de tais itens. Neste exemplo, vamos considerar as seguintes condições operacionais simplificadas para fins de orçamento do 4º trimestre de 2016: a. Não há tributação nas transações de vendas dessa empresa, assim como sobre o seu lucro; b. As vendas são feitas sempre sob as seguintes condições: apenas 60% do valor são recebidos à vista. Os 40% restantes são recebidos no mês seguinte; c. A política de estoque mínimo é de R$ 38.000 e mais 35% do custo das vendas estimadas para o mês seguinte; d. O Custo das Mercadorias Vendidas (CMV) representa em média 50% do valor das vendas; e. Os fornecedores recebem à vista sempre 20% do valor das compras, o restante é pago no mês subsequente à operação comercial; f. Os salários são pagos sempre no mês seguinte a sua competência, sendo o último valor devido de R$ 8.000,00. Para o segundo mês do próximo trimestre está previsto um aumento na folha de pagamento de10%, tendo em vista ser a data-base da categoria; g. No primeiro mês do próximo trimestre a empresa pretende adquirir um Furgão por R$ 30.000,00, pagando 20% à vista e o restante em 10 parcelas mensais e iguais; h. Informações adicionais: – despesas gerais: 0,5% do valor da venda mensal projetada (pagas no mês); – aluguel: R$ 1.000,00 por mês (pago no mês); – depreciação: R$ 900,00 para todo o imobilizado; i. Não serão considerados os encargos sociais, por questões didáticas; j. Estime as vendas mensais e considere que no trimestre elas deverão estar situadas entre R$ 200.000,00 e R$ 300.000,00; k. Os seguros de R$ 4.800,00 foram pagos antecipadamente no último dia do trimestre passado para vigorar pelo período de 12 meses à frente. 2. Orçamento de Vendas Como já vimos, um orçamento convencional (um plano financeiro) ini- cia com uma previsão de vendas. É o ponto de partida para a definição dos demais orçamentos parciais. Conforme o item 1 – letras “b” e “j”, devemos ter no trimestre entre R$ 200.000 e R$ 300.000 de vendas, sendo recebidas 60% à vista e 40% a prazo. Pois bem, suponhamos que as vendas previstas sejam as do Quadro 2, abaixo. UNIDADE 3 | 59 UNICEPVIRTUAL Condições de Venda/Mês Out Nov Dez Jan/17 Vendas à Vista (60%) 54.000 Vendas a Prazo (40%) 36.000 Total de Vendas 90.000 95.000 100.000 70.000 Quadro 2 - ORÇAMENTO DE VENDAS (R$) Fonte: Adaptado de Mesquita, 2010. 3. Orçamento de Compras Para o primeiro mês do trimestre temos R$ 90.000 de vendas estimadas, sendo 54.000 à vista (60%) e 36.000 a prazo (40%), conforme as condições já apresentadas (item 1 – letra “b”). Essas informações serão importantes, tanto para se estimar o Fluxo de Caixa, mais adiante, quanto para se determinar as Compras necessárias (quadro 3). DESCRIÇÃO/MÊS Out Nov Dez Estoque Mínimo (segurança) 38.000 (+) Estoque Variável 16.625 (=) ESTOQUE FINAL 54.625 (-) ESTOQUE INICIAL 80.000 54.625 (+) CMV (Custo Merc. Vendidas) 45.000 (=) COMPRAS NECESSÁRIAS 19.625 Quadro 3 - ORÇAMENTO DE COMPRAS Fonte: Adaptado de Mesquita, 2010. Neste ponto devemos reforçar que, quanto maiores são as vendas pre- vistas, maiores as compras necessárias de mercadoria. Além disso, vamos lembrar da seguinte relação: Estoque Final = Estoque Inicial + Compras – CMV (Custo da Mercadoria Vendida) OU Compras = Estoque Final – Estoque Inicial + CMV O estoque inicial de um mês é igual ao estoque final do mês anterior. Por outro lado, no item 1 – letra “c” foi apresentada a política de estoques da empresa, que consiste em garantir, ao final de cada período, um valor mínimo fixo de R$38.000 MAIS 35% do custo das vendas estimadas para o mês se- guinte. Lembremos que, conforme item 1 – letra “d”, o CMV corresponde a 50% do valor da venda efetuada. 60 | UNIDADE 3 UNICEPVIRTUAL Assim sendo, temos para o primeiro mês: Estoque mínimo fixo: R$ 38.000 Estoque mínimo variável: 35% de R$ 95.000/2 = R$ 16.625 (35% de 50% de R$ 95.000) Estoque Final = Estoque mínimo fixo + Estoque mínimo variável = R$ 38.000 + R$ 16.625 = R$ 54.625 Estoque Inicial = Estoque Final do mês anterior = R$ 80.000 (Balanço de 30/9/2016) CMV do mês = 50% de R$ 90.000 = R$ 45.000 Compras = Estoque Final – Estoque Inicial + CMV Compras Necessárias = R$ 54.625 – R$ 80.000 + R$ 45.000 = R$ 19.625 Dessa forma, chegou-se ao valor das compras necessárias no mês, con- siderando-se o estoque que já existia, as vendas previstas e o estoque final desejado. O próximo passo, a seguir, é a previsão de Caixa para essas compras (Orçamento de Caixa para Compras). 4. Orçamento de Caixa para as Compras Definido o valor das compras a serem efetuadas, é necessário saber como essas compras vão impactar o Caixa da empresa. Isso depende das condições de pagamentos dessas compras. Conforme o item 1 – letra “e” há sempre o pagamento de 20% à vista e o restante (80%) no mês subsequente. Portanto, temos como saber o valor a ser desembolsado no primeiro mês do trimestre (quadro 4). DESCRIÇÃO/MÊS Out Nov Dez Pagamento à vista (20% das Compras do mês) 3.925 Pagamento a prazo (80% das Compras do mês anterior) 65.000 TOTAL 68.925 Quadro 4 - ORÇAMENTO DE CAIXA PARA COMPRAS Fonte: Adaptado de Mesquita, 2010. No quadro 4, o pagamentos à vista (20%) refere-se às entradas efetua- das pela compra do mês. Já o pagamento a prazo diz respeito ao saldo a pagar da compra do mês anterior. No primeiro mês do trimestre, paga-se à vista 20% das compras do mês, que foram de R$ 19.625. Portanto, temos: Pagamento à vista: 20% de R$ 19.625 = R$ 3.925 Pagamento a prazo = R$ 65.000 (saldo da conta Fornecedores) Portanto, o total desembolsado (pago: Caixa) no mês foi de R$ 68.925 UNIDADE 3 | 61 UNICEPVIRTUAL 5. Orçamento de Salários No item 1 – letra “f” há a informação sobre salários. No primeiro mês do trimestre o valor é de R$ 8.000. Esses salários sofrerão acréscimo de 10% no mês seguinte, lembrando que o salário gasto em um mês (mês de compe- tência) é pago no mês seguinte (mês de desembolso, ou Caixa). Portanto, no primeiro mês do trimestre serão pagos os salários pendentes do mês anterior, conforme o saldo da conta “Salários a Pagar” do Balanço Patrimonial, quadro 1. O gasto do mês com Salário será pago no mês seguinte (quadro 5). Fonte: Adaptado de Mesquita, 2010. 6. Orçamento de Imobilizado No item 1 – letra “g” temos a informação da compra de um furgão por R$ 30.000 no primeiro mês do trimestre. As condições de pagamento pactua- das são 20% à vista e o restante em 10 parcelas iguais de R$ 2.400. Portanto, no mês da compra há uma saída de Caixa correspondente à entrada. Nos 10 meses subsequentes há outras saídas de Caixa referentes às parcelas. É importante salientar que, pelas normas contábeis e fiscais vigentes, o bem deve ser registrado pelo valor de aquisição (R$ 30.000), apesar de não ter sido integralmente pago no ato da compra. Igualmente, deve ser registrada a dívida de R$ 24.000 (R$ 30.000 – 20% da entrada), que passará a figurar no grupo do “Passivo” do Balanço Patrimonial, valor esse que será amortiza- do em 10 vezes, à medida que as parcelas forem sendo pagas. Assim, temos (quadro 6): Fonte: Adaptado de Mesquita, 2010. 62 | UNIDADE 3 UNICEPVIRTUAL 7. Orçamento de Seguros O item 1 – letra “k” fala em seguros de R$ 4.800,00 pagos antecipa- damente no último dia do trimestre passado para vigorar pelo período de 12 meses à frente. Portanto, já estão pagos, não haverá mais desembolso (Caixa). Trata-se de uma despesa PAGA antes de ser incorrida. Em outras palavras, as despesas são futuras, embora tenham figurado como saída de Caixa antes. Pelo regime de competência, os seguros devem, portanto, apenas ser amorti- zados à medida que forem sendo utilizados, em 12 meses, ou seja, 1/12 avos a cada mês. Dessa forma temos a seguinte situação de apropriação de gastos com seguros (quadro 7): DESCRIÇÃO/MÊS Out Nov Dez Valor do Seguro a apropriar 4.800 4.400 (-) parcela ref. ao seguro do mês 400 Valor restante a apropriar 4.400 Quadro 7 - ORÇAMENTO DE SEGUROS Fonte: Adaptado de Mesquita, 2010. 8. Orçamento de Despesas Gerais Como se trata de um comércio, gastos gerais são, via de regra, despesas, tais como água, luz, telefone etc. Se estivéssemos estudando uma indústria, seria necessário verificar quanto desse gasto é custo, quanto é despesa, fazer os rateios devidos por produto e, assim, apropriá-los adequadamente. No nosso caso, a informação do item 1 – letra “h” é de que mensalmente se incorre em gastos gerais correspondentes a 0,5% do faturamento (das ven- das), que são pagos dentro do próprio mês. Assim sendo, temos (quadro 8): DESCRIÇÃO/MÊS Out Nov Dez Vendas mensais 90.000 Despesas Gerais (0,50% das vendas) 450 Quadro 8 - ORÇAMENTO DE DESPESAS GERAIS Fonte: Adaptado de Mesquita, 2010. Concluídos os cálculos de todos os gastos do primeiro mês do trimestre, já é possível apurar o Orçamento de Resultados, ou seja, a Demonstração de Resultado Projetada. UNIDADE 3 | 63 UNICEPVIRTUAL 9. Orçamento de Resultados (DRE) DESCRIÇÃO/MÊS Out Nov Dez Vendas 90.000 (-) CMV -45.000 Resultado Bruto 45.000 (-) Despesas -10.750 - salários -8.000 - aluguel -1.000 - seguros -400 - depreciação -900 - despesas gerais -450 Resultado Líquido 34.250 Quadro 9 - ORÇAMENTO DE RESULTADOS No presente caso, há uma ESTIMATIVA de lucro para o primeiro mês do trimestre orçado. Trata-se de um resultado que pode ou não se concretizar, pois, para tanto, é necessário que todas as premissas e condições assumidas como verdadeiras se confirmem, desde as receitas até os gastos. 10. Orçamento de Caixa (Disponibilidades) Esta é uma das projeções mais importantes do Orçamento. Claro que a DRE projetada é muito importante também, mas saber se e quando a empresa vai ter recursos (Caixa) para girar o negócio, fazer investimentos, pagar suas dívidas etc. é fundamental. 64 | UNIDADE 3 UNICEPVIRTUAL Da mesma forma, foi feita uma PROJEÇÃO de Caixa, ou seja, um resultado de Superávit (mais entradas do que saídas) que, para se concretizar, é necessário que todas as entradas e saídas de recursos sejam conforme pla- nejadas. Em geral, as Demonstrações de Fluxo de Caixa possuem grupos (ou contas) correspondentes às operações (compra e venda de produtos, merca- dorias e serviços, pagamentos de salários, impostos etc.); contas referentes e financiamentos (empréstimos contraídos e amortizações de empréstimos, ou financiamentos, entradas e saídas de capital); e contas relacionadas a investi- mentos (compra e venda de imobilizado, aplicações e resgates de aplicações etc.). Na DFC acima também é possível vislumbrar e até classificar tais ele- mentos. 11. Balanço Patrimonial Projetado DESCRIÇÃO/MÊS Out Nov Dez ATIVO CIRCULANTE 150.650 Disponibilidades (Caixa e Bancos) 55.625 Duplicatas a Receber (Clientes) 36.000 Estoque de Mercadorias 54.625 Seguros antecipados 4.400 ATIVO NÃO CIRCULANTE 85.650 Móveis e Utensílios 87.000 Veículos 30.000 (-) Depreciação Acumulada -31.350 TOTAL DO ATIVO 236.300 PASSIVO CIRCULANTE 47.700 Duplicatas a pagar (Fornecedores) 15.700 Salários a pagar 8.000 Financiamentos (veículos) 24.000 PATRIMÔNIO LÍQUIDO 188.600 Capital Social 120.000 Lucros 68.600 TOTAL DO PASSIVO 236.300 Quadro 11 - EVOLUÇÃO MENSAL DAS CONTAS DO BALANÇO PATRIMONIALResumo da unidade O exemplo apresentado trata de um orçamento convencional. Partiu-se de uma projeção de vendas para a elaboração de diversos orçamentos parciais (compras, salários etc.) até se chegar a uma projeção de Caixa (disponibilida- des), de Resultados (DRE) e de Balanço Patrimonial. UNIDADE 3 | 65 UNICEPVIRTUAL Muitos detalhes operacionais foram omitidos, pois o propósito foi apre- sentar um modelo conceitual de orçamento, ou seja, a ideia de onde se deve partir e quais as etapas a cumprir até se chegar ao resultado pretendido. Na unidade 4, a seguir, será apresentado um modelo de orçamento mais completo. Referências bibliográficas MESQUITA, Gutemberg L. Notas de Aula de Orçamento Empresarial. UFPE – Universidade Federal do Pernambuco, 2010.
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