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PROCESSOS ORGÂNICOS INDUSTRIAIS BIODIESEL E ÓLEOS VEGETAIS Prof. José Manoel C. da Feira Matérias – prima com potencial para a produção de Biocombustíveis: Introdução: O Diesel é um dos principais combustíveis utilizados no Brasil, representando aualmente mais de 50% do consumo total de combustíveis veiculares. Importância deste combustível para a economia do país é evidente - associado ao transporte de cargas e passageiros – movimentando uma expressiva parcela do PIB nacional. O chamado óleo diesel é constituído majoritariamente por hidrocarbonetos com 14 a 22 átomos de carbono. Tradicionalmente – É produzido a partir da destilação atmosférica do petróleo, mas também pode ser obtido por processos de craqueamento, hidrocraqueamento e até mesmo via síntese Fischer-Tropsch. Introdução: Motivação: Entretanto, com a crescente preocupação ambiental causada pelo aumento do CO2 na atmosfera proveniente da queima de combustíveis fósseis, substitutos para o óleo diesel oriundos de matérias-primas renováveis, como os óleos e gorduras, têm ganhado importância nos últimos anos. Rudolf Diesel, quando apresentou publicamente seu invento, utilizou óleo de amendoim para movimentar o motor, como já prevendo a importância deste tipo de matéria-prima no futuro. Definições e Conceitos: No Brasil, a Lei no 11.079/2005 definiu o Biodiesel como um biocombustível derivado de biomassa renovável para uso em motores a combustão interna com ignição por compressão ou, conforme regulamento, para geração de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil. Entretanto, a resolução no 7/2008 da Agência Nacional de Petróleo, Gás natural e Biocombustíveis (ANP) normatizou o biodiesel como um combustível composto de álquil ésteres de ácidos graxos de cadeias longa, derivados de óleos vegetais ou de gorduras animais. Obs.: Enquanto a Lei não estabelece em seu texto uma função química específica para o biodiesel, dizendo apenas que ele é produzido a partir de biomassa renovável, a resolução da ANP atrela o termo biodiesel a ésteres de ácidos graxos. TRANSESTERIFICAÇÃO DE ÓLEOS E GORDURAS: Os óleos e gorduras são constituídos por ésteres graxos da glicerina, os chamados triglicerídeos ou triacilgliceróis (TAG). As cadeias hidrocarbônicas dos óleos e gorduras podem variar tanto em tamanho (número de átomos de carbono) como em insaturações. Os óleos, em geral, apresentam cadeias mais insaturadas com uma, duas e até mesmo três ligações duplas. As gorduras são majoritariamente saturadas – o que ocasiona uma maior interação intermolecular com elevado ponto de fusão. Gorduras são normalmente sólidas ou pastosas a temperatura ambiente, enquanto os óleos são líquidos viscosos. TRANSESTERIFICAÇÃO DE ÓLEOS E GORDURAS: A transesterificação acontece quando pela reação com alcoóis de cadeia curta, como o metanol e o etanol, pela ação de um catalisador. Neste processo, há formação de 3 moléculas de ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos, que são o próprio biodiesel, e produção de uma molécula de glicerol ou glicerina. A transesterificação é uma reação reversível, mas, na produção do biodiesel, o deslocamento do equilíbrio se dá pelo uso de excesso molar do álcool e pela remoção da glicerina, pois à medida que a reação se processa, ocorre separação de fases. TRANSESTERIFICAÇÃO DE ÓLEOS E GORDURAS: A glicerina é uma molécula polar e não se mistura facilmente com óleo e o biodiesel – desfavorecendo a reação reversa. Ésteres metílicos de ácidos graxos de cadeia longa. Glicerina ou glicerol. Triacilgliceróis (TAG) Álcool metílico Transesterificação de triglicerídeos com metanol para produção de biodiesel (R1, R2, e R3 referem-se a cadeia carbônicas). CATÁLISE BÁSICA: É atualmente, a mais utilizada nos processos de produção de biodiesel. Catalisadores como NaOH, KOH e o metóxido de sódio, também conhecido como metilato de sódio, estão entre os principais usados industrialmente. As tecnologias mais modernas de transesterificação de óleos e gorduras utilizam o metilato, pois este catalisador minimiza a formação de reações laterais, como a hidrólise e a saponificação dos triglicerídeos, que diminuem o rendimento e pioram a qualidade do biodiesel. CATÁLISE BÁSICA: DESVANTAGENS: O grande problema do uso destes catalisadores é que não podem ser reutilizados, pois se encontram dissolvidos no meio reacional (catálise homogênea). CATÁLISE BÁSICA: Assim, ao final do processo, a maior parte do catalisador se encontra na fase glicerinosa, mais polar e que solvata melhor os íons. Uma pequena parte pode ficar na fase biodiesel, requerendo inúmeros processos de lavagem para a sua remoção. Atualmente, há muitas pesquisas em curso no sentido de desenvolver catalisadores sólidos básicos para uso na transesterificação de triglicerídeos. CATÁLISE BÁSICA: VANTAGENS: A vantagem neste tipo de catalisador é sua fácil separação do meio. MECANISMO DA TRANSESTERIFICAÇÃO BÁSICA DE TRIGLICERÍDEOS: Inicialmente ocorre, ocorre com formação de diacilglicerol (DAG) com saída de um éster graxo da molécula de triglicerídeo; Na sequência, o DAG reage para produzir mais um éster graxo e uma molécula de monoacilglicerol (MAG); Por fim, o MAG produz outra molécula de éster graxo, liberando glicerina. Nem sempre a reação é completa e é comum se observar pequenas concentrações de MAG, DAG e TAG de partida no biodiesel obtido. A especificação atual para o biodiesel no Brasil estabelece um teor mínimo de 96,5% em massa em ésteres graxos, havendo ainda restrições para o teor máximo de MAG, DAG e TAG. Processamento: Começa com o tratamento da matéria-prima, como a degomagem (remoção de fosfolipídios) e ácidos graxos livres – oriundos do processo de extração do óleo vegetal. Em seguida, ocorre a reação de transesterificação pela adição do metanol (ou etanol) e do catalisador básico (NaOH ou metilato de sódio). Em geral, utiliza-se uma razão molar metanol:óleo de 6:1 e temperaturas na faixa de 60 °C. A reação é normalmente realizada em batelada, modo descontínuo. Processamento: Após a reação, ocorre a separação de fases e o metanol em excesso é recuperado por destilação para posterior reutilização. A fase oleosa contendo o biodiesel é então submetida a sucessivas lavagens para remoção do metanol não completamente destilado, MAG e DAG, além de glicerina e catalisador básico. Após secagem o biodiesel estará pronto para ser comercializado após aprovação no controle de qualidade. A fase glicerinosa contém a maior parte do metanol e do catalisador básico. Processamento: O metanol é recuperado por destilação e reaproveitado no processo; Já o catalisador é normalmente neutralizado com soluções ácidas e não é recuperado. A glicerina produzida no processo de produção do biodiesel pode conter ainda sais de ácidos graxos (sabão), os quais são removidos no processo de neutralização ácida. Também pode conter MAG e DAG, além de outras impurezas do óleo. A glicerina que sai após este processo é normalmente denominada glicerina loira, pois apresenta coloração amarelada devido a impurezas. Processamento: Não existe uma especificação legal para este produto, que costuma ter entre 80 a 85% em massa de glicerol, além de quantidades significativas de água e sais dissolvidos; Em contraste com a catálise básica, a produção de biodiesel via catáliseácida não é tão utilizada. A principal razão é que a reação é bem mais lenta, muitas vezes levando a rendimento de biodiesel abaixo do mínimo especificado na legislação atual. Os catalisadores ácidos, entretanto, aparecem como opção para processos de catálise heterogênea. Obs.: Há uma diversidade de materiais sólidos ácidos, como argilas, óxidos metálicos, zeólitas e resinas sulfônicas entre outros. ESTERIFICAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS: Os ésteres metílicos ou etílicos dos ácidos graxos, o biodiesel, podem também ser preparados pela reação de esterificação. Nesta, reação, uma molécula de ácido graxo reage com o álcool sob ação de um catalisador ácido, formando o éster e uma molécula de água. Esterificação de ácidos graxos para produção de biodiesel. ESTERIFICAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS: A reação também é reversível e, para se obter maiores rendimentos, é necessário utilizar um excesso molar do álcool e remover a água produzida. A esterificação é bem menos utilizada que a transesterificação. Em geral, ela é importante quando se tem resíduos de ácidos graxos, como é o caso da produção de óleo de palma para fins alimentícios, onde ocorre uma significativa formação de ácidos livres. A esterificação também pode ser utilizada no tratamento de óleos e gorduras para a diminuição do teor de ácido que afeta o rendimento de biodiesel no processo de transesterificação básica. Óleos com alto teor de ácidos graxos livres, como é o caso de óleos e gorduras residuais, provenientes de processos de refino e utilização em frituras podem ser inicialmente esterificados com metanol para reduzir a concentração de ácidos livres e evitar, assim, a neutralização do catalisador básico no processo de transesterificação. HIDROESTERIFICAÇÃO: Uma variante do processo de esterificação é a chamada hidroesterificação; Neste caso, ocorrem duas reações em série: a hidrólise do triglicerídeo, formando ácidos graxos e glicerina. E a esterificação dos ácidos graxos para produzir o biodiesel. A principal vantagem deste processo é a produção de uma glicerina mais pura sem os rejeitos básicos provenientes do processo tradicional. Ela também diminui os rejeitos de lavagem do biodiesel. Em contrapartida, por envolver duas etapas distintas, há um maior custo operacional e de instalações, não sendo ainda aplicada industrialmente em larga escala. HIDROESTERIFICAÇÃO: Reação de hidro-esterificação de triglicerídeos para produção de biodiesel. USO DE ENZIMAS NA PRODUÇÃO DO BIODIESEL: A clase de enzimas empregada na obtenção do biodiesel são as lipases (glicerol éster hidrolases, E.C. 3.1.1.3). Este grupo de enzimas foi inicialmente descrito pela capacidade de catalisar a reação de hidrólise de ligações éster de triacilgliceróis, entretanto, posteriormente foi verificado que estas também são capazes de catalisar as reações de esterificação e de transesterificação. Diferentes rotas vêm sendo propostas para obtenção dos ésteres alquílicos utilizando estes biocatalisadores. A partir de triglicerídios, lipases podem catalisar a transesterificação destes com o álcool, A partir de uma mistura de triglicerídeos e ácidos graxos livres (óleos ácidos), lipases podem catalisar a transesterificação dos triglicerídios e a esterificação dos ácidos graxos livres de forma simultânea. Também podem ser empregadas nas duas etapas do processo de hidro esterificação catalisando a reação de hidrólise dos triglicerídios como a reação de esterificação dos ácidos graxos livres. Ainda, estas enzimas podem ser empregadas apenas para catalizar a esterificação dos ácidos graxos livres da mistura de modo que a acidez do óleo seja reduzida e adequada para seguir para a rora da transesterificação alcalina. Uma grande vantagem é o fato das lipases serem capazes de processar óleos ácidos, pois estes apresentam um valor de mercado reduzido. Além disso, para algumas lipases, nem mesmo a presença de água na matéria-prima acarreta redução na conversão da reação. USO DE ENZIMAS NA PRODUÇÃO DO BIODIESEL: USO DE ENZIMAS NA PRODUÇÃO DO BIODIESEL: Outro aspecto positivo das reações catalisadas por lipases é o fato de estas serem realizadas em condições mais brandas de 30 a 60 °C e pressão atmosférica, do que aquelas empregadas para catalisadores ácidos. Apresentam baixa demanda energética e requerem reatores mais simples. Estas condições são desejáveis para evitar a degradação dos ácidos graxos poli-insaturados. Etapa de purificação do produto é muito mais facilitada quando enzimas imobilizadas são empregadas como catalisdores da reação. Podem ser removidos no final da reação por filtração, o que evita as sucessivas etapas de neutralização e lavagens que são necessárias após a reação de transesterificação pelo NaOH. USO DE ENZIMAS NA PRODUÇÃO DO BIODIESEL: Além disso, a enzima imobilizada não contamina o glicerol, que por isso apresenta alta qualidade e um maior preço de venda. Por fim, esta enzima imobilizada ainda pode ser reutilizada, gerando uma economia para o processo e um menor volume de rejeito industrial. Uma complicação operacional encontrada na produção de biodiesel por catálise enzimática é o fato de que muitas lipases são desativadas pelo metanol e etanol. Etapa de purificação do produto é muito mais facilitada quando enzimas imobilizadas são empregadas como catalisdores da reação. Em geral, quanto menor a cadeia do álcool maior é o poder deste de desativar a lipase. Acredita-se que esta desativação seja causada pelo fato que álcoois mais polares têm maior potencial de remover a micro- camada de água em torno da enzima, que é essencial para a sua conformação ótima. A desativação pode ser evitada mantendo a concentração do álcool baixa no meio reacional ou por adição de solvente orgânico no meio reacional, pois estes aumentam a solubilidade do álcool no meio reacional e diminuem a sua concentração. Solventes orgânicos são empregados na síntese enzimática de biodiesel para reduzir a viscosidade do meio reacional permitindo uma maior taxa de difusão e diminuição dos problemas de transferência de massa. O terc-butanol não é utilizado pelas lipases como substrato devido ao impedimento estérico, é relativamente hidrofóbico e capaz de dissolver óleo e biodiesel como os hidrofílicos (álcool e glicerina) gerando um meio homogêneo. USO DE ENZIMAS NA PRODUÇÃO DO BIODIESEL: Embora, o uso do solvente resolva alguns problemas, a sua aplicação industrial não é desejável. A adição de solvente envolve custos tanto do solvente em si como da sua recuperação ao final da reação, além da necessidade de reatores maiores uma vez que o solvente ocupa um grande volume. Somando-se aos gastos supracitados, ainda há o maior risco operacional em virtude da toxidade e inflamabilidade do solvente A produção de biodiesel por via enzimática ainda não é empregada industrialmente e esta encontra como maior impedimento o alto custo das enzimas. USO DE ENZIMAS NA PRODUÇÃO DO BIODIESEL: Se por um lado as enzimas são mais caras do que o catalisador alcalino, por outro o processo como um todo é mais simples. Uma análise econômica completa dos catalisadores enzimáticos versus químico requer avaliações tais como custo do óleo, custo do álcool, custo de etapas de pré-processamento, rendimento do processo, custo de tratamento de rejeitos, valor de venda do subproduto glicerol, custos das etapas de down-stream, entre outros. A tecnologia enzimática vai impactar de forma positiva váriosdesses fatores: compatibilidade com variações na qualidade da matéria- prima (aceita o uso de óleos de baixo custo, com alta acidez); processo com menos etapas de pré-processamento das matérias-primas (exclui as etapas de neutralização e desidratação) e do produto (melhor separação das fases sem formação de emulsão por sabão); glicerol de melhor qualidade pode ser vendido por um valor mais alto; reduzido consumo de energia e reduzido volume de rejeito industrial. Visto que processos químicos e enzimáticos são muito diferentes, não é simples responder precisamente quão baratas as enzimas precisam ser para alcançar o mesmo custo de produção do biodiesel em comparação à catálise química. COMPARAÇÃO DOS MÉTODOS: Bibliografia Recomendada: • Perlingeiro, G.C.A. Biocombustíveis no Brasil:Fundamentos, Aplicações e Perspectivas: Volume único 1ed.. Rio de Janeiro, Editora Synergia, 2014. • Farias, R. Introdução aos Biocombustíveis: Volume Único, 1ed. Rio de Janeiro, Ciência Moderna Ltda, 2010.
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