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Do Fato Típico

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DO FATO TÍPICO
Conduta.
Resultado.
Nexo de Causalidade.
Tipicidade.
Dolo.
Culpa.
INTRODUÇÃO
Devemos primeiramente verificar a espécie do delito, pois, podemos ter o delito doloso e culposo.
Doloso: a) conduta dolosa; b) resultado; c) nexo causal; d) tipicidade; e) relação de imputação subjetiva.
Culposo: a) conduta voluntária; b) resultado; c) nexo causal; d) tipicidade; e) relação de imputação objetiva; f) quebra do dever de cuidado objetivo; g) previsibilidade objetiva.
CONDUTA
É o primeiro elemento do Tipo Penal
É toda ação ou omissão humana que contraria os fins do Direito Penal.
Elementos da conduta: a) exteriorização por meio de uma ação proibida ou de uma omissão indevida; b) consciência; c) voluntariedade; d) finalidade.
Só há conduta se houver a exteriorização de um pensamento. 
Só entram no campo da ilicitude penal os atos conscientes. Ex. sonambulismo e hipnose.
Conduta x Ato.
Formas de conduta: Ação ou Omissão.
Teorias aplicáveis a Ação:
1- Teoria Causal ou Naturalista: (Von Liszt) ação é a intervenção muscular, que produzida por energias de impulso cerebral provoca alterações no mundo exterior ( basta que o sujeito atue, desprezando-se o conteúdo de sua vontade) 
2- Teoria Finalista da Ação: (Welzel) ação é a conduta humana consciente e voluntária dirigida a uma finalidade. (o homem dirige seu comportamento buscando atingir algum objetivo) Adotada pelo CP vigente
3- Teoria Social da Ação: (Jescheck e Wessels) ação é a conduta positiva socialmente relevante, dominada ou dominável pela ação dirigida a uma finalidade. (faz com que condutas socialmente aceitas constituam irrelevantes penais) 
OMISSÃO
Espécies de crimes omissivos: omissão própria e omissão imprópria.
Crimes Omissivos Próprios: o próprio tipo penal descreve uma conduta omissiva Ex. arts. 135, 244 e 269 todos do CP.
Crimes Omissivos Impróprios: o tipo penal descreve uma conduta positiva, é dizer, uma ação. O agente, no entanto, responde pelo crime porque estava juridicamente obrigado a impedir a ocorrência do resultado e mesmo podendo fazê-lo, omitiu-se.
Hipóteses em que há o dever jurídico: (art. 13, § 2.º)
a) Dever Legal ou Imposição Legal: Ocorre quando o agente tiver por Lei a obrigação de proteção, cuidado e vigilância. Ex. (mãe com relação aos filhos; Diretor do presídio com relação aos presos)
b) Dever de Garantidor ou Garante: ocorre quando o agente, de qualquer forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado. Ex. Médico plantonista; Guia de alpinistas; Salva vidas para com os banhistas; Babá com relação a criança.
c) Ingerência da Norma: Ocorre quando o agente cria com seu comportamento anterior, o risco da ocorrência do resultado. Ex. O nadador que convida para travessia de um rio pessoa que não sabe nadar.
Crimes de Conduta Mista: o tipo penal descreve inicialmente uma conduta positiva, mas a consumação se dá com uma omissão posterior. Ex. art. 169, par. Único, II do CP.
RESULTADO
É o segundo elemento do tipo penal.
Crimes Materiais ou de resultado: o tipo penal descreve a conduta e o resultado e os exige para consumação do delito. Ex. arts. 121, 155, 157, 171 todos do CP)
Crimes Formais: o tipo penal descreve a conduta e o resultado material, porém não o exige para fins de consumação. Ex. arts. 158, 159, 316, todos do CP)
Crimes de Mera Conduta: O tipo penal não faz qualquer alusão ao resultado, limitando-se a descrever a conduta punível. Ex. arts. 135, 150 ambos do CP. 
NEXO DE CAUSALIDADE
Art. 13, “caput” - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
A maioria dos dispositivos não se limitam a descrever uma ação ou omissão, exigindo também, para fins de consumação o resultado material.
O Nexo de Causalidade consiste justamente nesse vínculo ou liame que une a conduta ao resultado nos crimes materiais.
 O CP adotou o critério da teoria da equivalência dos antecedentes, ou “conditio sine qua non” na parte final do art. 13.
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Todo fator que de forma direta ou indireta exerceu alguma influência para a ocorrência do resultado, deve ser considerado como causa.
Trata-se do juízo de eliminação hipotética da ação.
Ex. “A”, pretendendo matar “B”, dirige-se a noite até a residência da vítima, e vendo seu corpo deitado sobre a cama, efetua disparos de arma de fogo. Posteriormente constata-se que a vítima tinha morrido horas antes de ataque cardíaco. 
Problema do “regressus ad infinitum”.
Causas Dependentes: são aquelas que se originam dentro da conduta do agente e se inserem na linha de desdobramento natural da ação.
Ex. A morte por choque hipovolêmico, subsequente a um ferimento perfuro contundente.
Causas Independentes: São eventos inusitados, inesperados, que originando-se ou não na conduta, produzem por si só o resultado. 
Em se tratando de causas dependentes, o agente responderá pelo resultado
Em se tratando de causas independentes, é necessário distinguir as causas absolutamente independentes ( o agente não responde pelo resultado, mas sim pelos atos até então praticados) das causas relativamente independentes ( o agente responde pelo resultado). 
As causas Absolutamente Independentes se subdividem em preexistentes (anteriores a conduta do agente), concomitantes (ocorrem ao mesmo tempo) ou supervenientes (ocorrem posteriormente a conduta do agente). 
Exemplos de causas absolutamente independentes (o agente não responde pelo resultado).
Ex 1: A quer suicidar-se e ingere veneno. Durante o processo de intoxicação da substância ingerida, recebe um ferimento por parte de B, que quer matá-lo. Contudo, pouco depois vem a morrer, mas em consequência do veneno, não da lesão recebida. (causa preexistente)
Ex 2: A e B atiram contra C (fora de coautoria) e prova-se que o projétil de B é que causou a morte de C, atingindo-o no coração, enquanto a bala disparada por A alvejou, de leve, o braço de C. A morte apenas é imputada a B. (causa concomitante)
Ex 3: A envenena B, mas, ainda sem que o veneno aja, ocorre a queda de uma viga sobre B, que então morre em razão dos ferimentos decorrentes da queda. (causa superveniente)
Nos três exemplos o agente apenas responde pelos atos anteriormente praticados.
Exemplos de causas relativamente independentes (o agente responde pelo resultado).
Ex. 1: uma pessoa hemofílica é ferida e morre em face da complicação dos ferimentos decorrente da hemofilia. O resultado morte é imputado ao agressor uma vez que, pela eliminação hipotética, o resultado permaneceria, já que houve uma soma de esforços, ou de energias que serviram para incrementar a morte. (causa preexistente)
Ex 2: A atira em B, que está, naquele mesmo instante, sofrendo um ataque cardíaco, demonstrando-se, depois, que o tiro contribuiu diretamente para o resultado morte, acelerando o colapso. (causa concomitante).
Ex 3: Uma pessoa é ferida e socorrida numa ambulância. O veículo de socorro vem a capotar e a vítima morre. (causa superveniente). Nos três últimos exemplos há nexo causal entre a conduta e o resultado.
O agente, contudo só responde pelo resultado se a causa preexistente ou concomitante for conhecida.
Porém, nas causas relativamente independente superveniente, por força de lei, não há nexo causal: Art. 13, § 1.º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
TIPICIDADE
Fato típico, em um conceito formal, é a descrição de uma conduta considerada proibida, para qual se estabelece uma sanção. Um fato típico é aquele que se adequa a essa descrição.
Para Zafaroni o tipo penal é um instrumento legal, logicamente necessário e de natureza predominantemente descritiva, que tem por função a individualização decondutas humanas penalmente relevantes (por estarem penalmente proibidas).
A função dos tipos é a individualização das condutas humanas que são penalmente proibidas.
Não se deve confundir o tipo com a tipicidade. O tipo é a fórmula que pertence à lei, enquanto a tipicidade pertence à conduta.
Um fato típico é uma conduta humana, por isso prevista na norma penal. Tipicidade é a qualidade que se dá a esse fato.
Tipo penal é o próprio artigo da lei. 
O juiz comprova a tipicidade comparando a conduta particular e concreta com a individualização típica, para ver se adéqua ou não a ela. Este processo mental é o juízo de tipicidade que o juiz deve realizar.
Modalidades de adequação típica:
1- Adequação típica por subordinação imediata ou direta: (tipo fechado) se dá quando a adequação entre o fato e a norma penal incriminadora é imediata, sem necessidade de nenhuma outra norma de extensão: Ex. Homicídio Consumado.
2- Adequação típica por subordinação mediata ou indireta: (tipo aberto) ocorre quando o enquadramento fato/norma não ocorre diretamente, exigindo-se o recurso de uma norma de extensão para haver a subsunção total entre o fato concreto e a lei penal: Ex. Homicídio Tentado art. 121, c/c art. 14, II do CP. 
LEI PENAL EM BRANCO: Chama-se lei penal em branco as que estabelecem uma pena para uma conduta que se encontra individualizada em outra lei (formal ou material).
Essas leis em branco não criam maior problema quando a fonte normativa a que remetem é outra lei formal, isto é, também emanada do Congresso Nacional. Mas o problema se torna mais complicado quando a norma não surge de outra lei em sentido formal, e sim de uma lei em sentido material, mas que emana de uma Assembléia Legislativa estadual ou da Administração. Nestes casos, pode-se correr o risco de estarmos diante de uma delegação de atribuição legislativa em matéria penal – que compete ao CN – e que estaria vedada pela CF.
Ex.1: crime de bigamia (art. 235 CP)
Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Complemento Art. 1.511 CC. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. (heterogênea) 
Ex. 2: Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Complemento: § 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.
Art. 312 e Art. 327 CP (homogênea)
Tipicidade Conglobante (Zaffaroni): simplesmente afirma que se existe uma norma que permite, que fomenta ou que determina uma conduta, o que está permitido, fomentado ou determinado por uma norma não pode estar proibida por outra.
Se o operador do direito adotar essa ideia, muita coisa vai mudar na aplicação da atipicidade e da antijuridicidade ou excludente de ilicitude com relação ao estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de direito que passam a excluir a tipicidade e não a antijuridicidade
Ex. mulher é estuprada, procura o médico e aborta. Veja: o Código Penal, no art. 128, inciso II, permite que o médico aborte se a gravidez resulta de estupro e há consentimento da Gestante.
A doutrina clássica sempre viu este exemplo como uma causa excludente de antijuridicidade (descriminante), mais precisamente, o exercício regular de um direito.Assim, o fato seria típico, mas não seria antijurídico. Conforme a teoria da tipicidade conglobante, este “exercício regular de um direito” nada mais seria do que um fato atípico, ou seja, não haveria tipicidade material.
O que importa saber se o exercício regular de um direito, pela teoria da tipicidade conglobante, é fato atípico, e não antijurídico?
Resposta: quase tudo. Veja: se o fato é atípico, não se pode dar início a inquérito policial, tampouco ação penal. Assim, se no caso do exemplo dado fosse iniciado inquérito policial ou ação penal, caberia Habeas Corpus para trancá-los. 
Funções do tipo penal: 
A) Função selecionadora: seleciona quais comportamentos humanos devem ser punidos.
B) Função Garantista: corresponde a garantia de que só haverá imposição de uma pena se o ato corresponder perfeitamente ao que esta estabelecido na lei penal. (Princ. da Legalidade)
C) Função Motivadora: Fazer com que os destinatários da norma penal se comportem de acordo com o que ela prescreve. 
Modelos de tipos previstos no Código Penal e de adequação típica. 
Os modelos que o CP possui se dividem em 03 faixas:
· TIPOS INCRIMINADORES: trazem modelos de condutas proibidas,
· PERMISSIVOS: trazem condutas autorizadas pelo legislador; são os que descrevem as causas de exclusão de ilicitude, também conhecidas como causas de justificação, e trazidas no art.23 do Código Penal.
· DEVIDOS: trazem condutas OBRIGATÓRIAS; EXEMPLO: artigo 13, § 2o. que estabelece que o dever de agir incumbe a quem: tenha por lei obrigação de dever, cuidado ou vigilância; por outro meio, assumiu a obrigação de evitar o resultado; com seu comportamento anterior criou risco da ocorrência.
· EXPLICATIVOS: explicam algum conceito. EXEMPLO: artigo 327 que define o que é funcionário público
Para conceito de crime interessa o MODELO INCRIMINADOR.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA (OU CRIMES DE BAGATELA)
No que concerne à origem do Princípio da Insignificância, entendimento amplamente majoritário afirma que este princípio originou-se do Direito Romano.
CITAÇÃO de José Henrique Guaracy Rebêlo: “A mencionada máxima jurídica anônima, da Idade Média, eventualmente usada na forma minimis non curat praetor, significa que um magistrado deve desprezar os casos insignificantes para cuidar das questões realmente inadiáveis”. De acordo, pois, com o brocardo romano, não é função do pretor cuidar dos delitos bagatelares, pois só deve ocupar-se das lesões significantes, as quais são capazes de comprometer a paz e a ordem da sociedade.
O Princípio da Insignificância foi reintroduzido na doutrina penal, no ano de 1964, por meio de Claus Roxin, na Alemanha. 
De acordo com o Princípio da Insignificância, sendo a lesão insignificante não há necessidade da intervenção do Direito Penal e, consequentemente, da incidência de suas graves reprimendas, pois tal princípio exclui a tipicidade material do delito. 
Sendo assim, pode-se afirmar que o Princípio da Insignificância funciona como um mensurador da tipicidade material, na medida em que permite a atuação do Direito Penal apenas diante de condutas que afrontem materialmente o bem jurídico protegido.
As severas dificuldades econômicas ocorridas no continente europeu, provenientes da Segunda Guerra Mundial, o que resultou no aumento da criminalidade de bagatela, fez com que o Princípio da Insignificância nascesse vinculado, a priori, aos crimes de natureza patrimonial.
Ressalta-se, contudo, que apesar do Princípio da Insignificância ter em sua origem um viés diretamente relacionado com a patrimonialidade lesada, com o passar do tempo teve o reconhecimento de seu campo de incidência ampliado consideravelmente, devendo ser analisado, sobretudo, diante das circunstâncias do caso concreto e não necessariamente associado aos crimes de natureza patrimonial. 
Assim, no sistema penal brasileiro, por exemplo, o dano do art. 163 do Código Penal não deve ser qualquer lesão à coisa alheia, mas sim aquela que possa representar prejuízo de alguma significação para o proprietário da coisa; o descaminho do artigo 334, parágrafo 1°, d, não será certamente a posse de pequena quantidade de produto estrangeiro, de valor reduzido, mas sim a de mercadoria cuja quantidade ou cujo valor indique lesão tributária, de certa expressão, para o Fisco; o peculato do artigo 312 não pode ser dirigido para ninharias como a que vimos em um volumoso processo no qual se acusava antigo servidor público de ter cometido peculato consistente no desviode algumas poucas amostras de amênduas; a injúria, a difamação e a calúnia dos artigos 140, 139 e 138, devem igualmente restringir-se a fatos que realmente possam afetar a dignidade, a reputação, a honra, o que exclui ofensas tartamudeadas e sem consequências palpáveis; e assim por diante. 
O Princípio da Insignificância, apesar de amplamente difundido pela doutrina e pela jurisprudência brasileira, não encontra efetiva conceituação no ordenamento jurídico. 
Para Diomar Ackel, o Princípio da Insignificância pode ser conceituado da seguinte forma:
“princípio da insignificância pode ser entendido como aquele que permite infirmar a tipicidade de fatos que, por sua inexpressividade, constituem ações de bagatela, desprovida de reprovabilidade, de modo a não merecerem valoração da norma penal, exsurgindo, pois, como irrelevantes. A tais ações, falta juízo de censura penal.” 
Pelo conceito dado pelo autor acima, percebe-se que o Princípio da Insignificância está diretamente relacionado com a violação do resultado jurídico, exigindo-se, pois, significativa lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido.
Em virtude do caráter subsidiário e fragmentário do Direito Penal, ele só deve atuar frente o fracasso e ineficácia dos demais ramos do Direito. Se há outros ramos do Direito suficientes e eficazes, o Direito Penal não deve incidir, vez que só deve atuar quando absolutamente necessário.
É dever do Direito Penal tutelar bens jurídicos, no entanto, não é todo e qualquer bem jurídico que necessita da proteção do Direito Penal, mas apenas aqueles considerados mais relevantes para a sociedade. Desta forma, a lesão ao bem juridicamente protegido deve ser significante, pois é desproporcional incidir a repressão penal em um fato mínimo
Tipicidade pode ser entendida como a subsunção, adequação da conduta do agente ao modelo abstrato previsto na lei. Contudo, esta definição, por si só, não mais satisfaz aos anseios do Direito Penal moderno. Esse aspecto formal do delito é necessário, porém não é suficiente para suprir as necessidades da atual sociedade.
Critérios de reconhecimento da conduta penalmente insignificante:
Durante vários tempos tanto a doutrina quanto a jurisprudência não tinham critérios pré-fixados no que diz respeito à aplicação do Princípio da Insignificância. Esta situação deve-se, sobretudo, ao fato do Princípio da Insignificância não encontrar-se positivado no Direito Penal comum. Além do mais, os atuais critérios consignados pela doutrina e jurisprudência não são vinculantes, sendo que a insignificância, em cada caso, depende das circunstâncias do caso concreto.
Luiz Flávio Gomes preleciona, de forma acertada, que a insignificância pode ocorrer tão somente na conduta ou resultado, bem como nos dois. Afirma o autor que há situações em que falta desvalor da conduta; em outras, por sua vez, falta desvalor do resultado, e ainda há um terceiro grupo em que ocorre ambos os desvalores. Por fim, conclui Luiz Flávio Gomes que nos três casos não se pode afastar, de plano, a incidência do Princípio da Insignificância.
Há situações como, por exemplo, o furto de uma caixa de fósforo, que apesar do desvalor da conduta (subtração de coisa alheia móvel), por se ter um resultado jurídico absolutamente insignificante, ínfimo (ausência de desvalor de resultado), não há como se deixar de reconhecer a aplicação do princípio em apreço. 
No caso de uma inundação por abertura de uma represa, quem ajuda o autor do fato com o derramamento de um copo d` água não pode ser tido como coautor, pois inegável o desvalor da ação. Conclui, pois, que “o Princípio da Insignificância deve ser aplicado de forma criteriosa e de acordo com o caso em apreço, sendo os critérios do desvalor da conduta, do resultado ou de ambos analisados de acordo com cada caso concreto
Sendo assim, a ameaça de lesão ou a lesão provocada ao bem jurídico tutelado não deve ser analisada apenas abstratamente em um tipo penal, porquanto a aplicação ou não do Princípio da Insignificância deve ser feita de acordo com as circunstâncias de cada caso concreto, de acordo com suas peculiaridades do caso, e não no plano abstrato. 
Ademais, importante consignar que em razão do Princípio da Insignificância está diretamente relacionado com a relevância penal do bem jurídico protegido, há determinados crimes que, por si só, excluem a incidência deste princípio, tais como: roubo, homicídio e estupro.
Evidencia-se, pois, que em crimes desse quilate não há que se admitir a aplicação do Princípio da Insignificância, pois nesses casos não há que se falar em desvalor quer da conduta, quer do resultado ou de ambos. Desta forma, conforme orientação jurisprudencial é inviável a afirmação do desinteresse estatal à repressão desses crimes.
Desta forma, a jurisprudência tem aplicado os seguintes critérios para verificação da aplicação do Princípio da Insignificância: 
a) ausência de periculosidade social da ação; 
b) mínima idoneidade ofensiva da conduta; 
c) falta de reprovabilidade da conduta, e 
d) inexpressividade da lesão jurídica causada. 
Sendo assim, o Princípio da Insignificância não deve ser aplicado a todo e qualquer delito contra bem jurídico de baixo valor, pois critérios devem ser observados em cada caso concreto.
Vale consignar que, os critérios elencados pela jurisprudência, por si só, não são suficientes, devendo o juiz analisar, sobretudo, as circunstâncias do caso concreto, tais como: análise do bem jurídico ameaçado ou lesado, dimensão da lesão, extensão do perigo, vítima, local, momento, dentre outros. 
DOLO E CULPA
A presença da tipicidade e da antijuridicidade caracterizam a conduta humana definida como crime. 
O artigo 18 do Código Penal desmembra o crime em dois gêneros: 
- crime doloso, aquele em que o agente pratica a conduta criminosa querendo ou assumindo o resultado de produzi-la; 
- crime culposo, aquele em que o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. 
DOLO
Conceito de crime doloso
O artigo 18, inciso I, do CP, dispõe que o crime é “doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzí-lo”;
Dolo é a vontade livre e consciente de praticar um fato definido na lei como crime. Assim, crimes dolosos são os crimes intencionais. O dolo, portanto, constitui elemento subjetivo do tipo ou do injusto, integrando o próprio comportamento.
DOLO Conceito 
Existem três teorias que falam sobre o conceito de dolo:
Teoria da vontade: dolo é a consciência e a vontade de praticar a conduta e atingir o resultado. O agente quer o resultado. 
Teoria do assentimento ou da aceitação: dolo é a vontade de praticar a conduta com a aceitação dos riscos de produzir o resultado. O agente não quer, mas não se importa com o resultado.
Teoria da representação ou da previsão: dolo é a previsão do resultado. Para que haja dolo, basta o agente prever o resultado.
O Código Penal adotou as teorias da vontade e do assentimento: “Dolo é a consciência da vontade ou a aceitação do risco de produzir o resultado” (art. 18, I, do CP).
Dolo direto 
Existe quando o agente quer produzir o resultado, é o dolo da teoria do resultado.
Dolo indireto 
 É aquele que existe quando o agente não quer produzir diretamente o resultado. Subdivide-se em:
eventual: quando o agente não quer produzir o resultado, mas aceita o risco de produzi-lo; 
alternativo: quando o agente quer produzir um ou outro resultado.
CULPA
CULPA 
Tipo Aberto 
O tipo culposo é um tipo aberto, visto que, em regra, não há descrição da conduta, o legislador apenas a menciona, sem descrevê-la. Isso ocorre em razão de serem infinitas as situações e, caso o legislador enumerasse as condutas culposas, poderia o bem jurídico ficar sem proteção.
 Compara-se a conduta do agente, no caso concreto, com a conduta de uma pessoa de prudência mediana. Se a conduta do agente se afastar dessa prudência, haverá a culpa. Será feita uma valoração para verificar a existência da culpa.
Excepcionalidade da Culpa 
Só há culpa quando há previsão expressana lei, ou seja, se a lei se omitir, presume-se que não se poderá punir a título de culpa (art. 18, par. ún., do CP).
 
Compensação de Culpas 
Não existe compensação de culpas. O fato de a vítima ter agido também com culpa não impede que o agente responda pela sua conduta culposa. 
Somente nos casos em que existir culpa exclusiva da vítima haverá exclusão da culpa do agente.
Graus de Culpa 
Para pena abstrata, não há diferença. Na dosagem da pena, entretanto, é levado em conta o grau da culpa na primeira fase de sua fixação. São três níveis: grave, leve e levíssima.
Participação no Crime Culposo 
Parte da doutrina sustenta a impossibilidade de participação no crime culposo, visto que a participação é uma conduta acessória e no crime culposo não há descrição da conduta, portanto não se pode distinguir a conduta principal da conduta acessória. Existe, então, a co-autoria, visto que todas as condutas serão principais.
A outra parte da doutrina sustenta que existe a participação. Quando o agente praticar o verbo do crime será a conduta principal.
Majoritariamente, a 1.ª posição é sustentada, visto que a culpa é um tipo aberto, não possuindo, por esse motivo, conduta principal distinta de secundária.
Culpa consciente ou com previsão 
 Quando o agente prevê o resultado, que era previsível. Não se pode confundir a culpa consciente com o dolo eventual. Tanto na culpa consciente quanto no dolo eventual o agente prevê o resultado, entretanto na culpa consciente o agente não aceita o resultado, e no dolo eventual o agente aceita o resultado.
Previsibilidade objetiva: é a possibilidade de qualquer pessoa ter previsto o resultado; o que se leva em conta é se o resultado era ou não previsível para uma pessoa de prudência mediana, e não a capacidade do agente de prever o resultado;
Ausência de previsão: não prever o previsível. Só haverá na culpa inconsciente, visto que na culpa consciente há previsão;
Quebra do dever objetivo de cuidado: é o dever de cuidar imposto a todos. Existem três maneiras de violar o dever objetivo de cuidar. São as três modalidades de culpa.
Modalidades de Culpa 
 Imprudência 
 Prática de um fato criminoso. É a culpa de quem age (ex.: passar no farol fechado). Decorre de uma conduta omissiva.
 Negligência 
 É a culpa de quem se omite. É a falta de cuidado antes de começar a agir. Ocorre sempre antes da ação (ex.: não verificar os freios do automóvel antes de colocá-lo em movimento).
 Imperícia 
 É a falta de habilidade no exercício de uma profissão ou atividade. No caso de exercício de profissão, se, além de haver a falta de habilidade, não for observada uma regra técnica específica para o ato, haverá a imperícia qualificada. Difere-se a imperícia do erro médico visto que este não decorre somente da imperícia, podendo decorrer também de imprudência ou negligência. 
Crime preterdoloso é uma espécie do gênero crime qualificado pelo resultado. 
Ocorre quando há dolo no fato antecedente e culpa no fato consequente. 
Não cabe tentativa no crime preterdoloso, tendo em vista que o resultado é produzido por culpa e não pode haver tentativa daquilo que não se quer produzir.
Culpa e culpabilidade são elementos independentes e em nada se confundem. 
A culpa é elemento do fato típico (tipicidade) enquanto a culpabilidade é o terceiro elemento da conceituação analítica do crime para aqueles que adotam a teoria Tripartida. A diferença fundamental é a de que na culpa analisa-se a vontade do agente(voltada para fins lícitos, porém mal direcionada), e na culpabilidade analisa-se a reprovabilidade da conduta tendo em vista as circunstâncias que o delito foi praticado.

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