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PENAL resumo

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TÍTULO I 
 
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 
 
1 – Princípios constitucionais explícitos: 
a) Princípio da legalidade ou da reserva legal: trata-se do fixador do conteúdo das normas penais 
incriminadoras, ou seja, os tipos penais, mormente os incriminadores, somente podem ser criados 
através de lei em sentido estrito, emanada do Poder Legislativo, respeitado o processo previsto na 
Constituição. 
b) Princípio da anterioridade: significa que uma lei penal incriminadora somente pode ser aplicada 
a um fato concreto, caso tenha tido origem antes da prática da conduta para a qual se destina. 
c) Princípio da retroatividade da lei penal benéfica (ou princípio da irretroatividade da lei 
penal): significa que a lei penal não retroagirá para abranger situações já consolidadas, sob o 
império de legislação diferenciada. Logo, quando novas leis entram em vigor, devem envolver 
somente fatos concretizados sob a sua égide. Abre-se exceção à irretroatividade quando 
ingressamos no campo das leis penais benéficas. Estas podem voltar no tempo para favorecer o 
agente, ainda que o fato tenha sido decidido por sentença condenatória, com trânsito em julgado. 
d) Princípio da personalidade ou da responsabilidade pessoal: significa que a punição, em 
matéria penal, não deve ultrapassar da pessoa do delinquente. Trata-se de outra conquista do 
direito penal moderno, impedindo que terceiros inocentes e totalmente alheios ao crime possam 
pagar pelo que não fizeram, nem contribuíram para que fosse realizado. 
e) Princípio da individualização da pena: quer dizer que a pena não deve ser padronizada, 
cabendo a cada delinquente a exata medida punitiva pelo que fez. Não teria sentido igualar os 
desiguais, sabendo-se, por certo, que a prática de idêntica figura típica não é suficiente para nivelar 
dois seres humanos. 
- individualização legislativa: cabe ao legislador, quando cria um novo tipo penal incriminador, 
estabelecer o mínimo e o máximo, em abstrato, previstos pela pena. 
- individualização judiciária: compete ao julgador, na sentença condenatória, concretizar a pena, de 
acordo com as várias circunstâncias previstas em lei. 
- individualização executória: a pena aplicada, quando em cumprimento, sofre variações, conforme 
o desenvolvimento do sentenciado; é possível reduzi-la, alterar o regime, entre outros fatores. 
f) Princípio da humanidade: significa que o direito penal deve pautar-se pela benevolência, 
garantindo o bem-estar da coletividade, incluindo-se o dos condenados. Estes não devem ser 
excluídos da sociedade somente porque infringiram a norma penal, tratados como se não fossem 
seres humanos, mas animais ou coisas. Por isso, estipula a Constituição que não haverá penas: 
- de morte (exceção feita à época de guerra declarada, conforme previsão do Código Penal Militar). 
- de caráter perpétuo. 
- de trabalhos forçados. 
- de banimento. 
- cruéis. 
2 – Princípios constitucionais implícitos: 
a) Princípio da intervenção mínima (ou da subsidiariedade): quer dizer que o direito penal não 
deve interferir em demasia na vida do indivíduo, retirando-lhe autonomia e liberdade. Afinal, a lei 
penal não deve ser vista como a primeira opção (prima ratio) do legislador para compor os conflitos 
existentes em sociedade e que, pelo atual estágio de desenvolvimento moral e ético da 
humanidade, sempre estarão presentes. Há outros ramos do direito preparados a solucionar ds 
desavenças e lides surgidas na comunidade, compondo-as sem maiores consequências. O direito 
penal é considerado a ultima ratio, isto é, a última cartada do sistema legislativo. 
b) Princípio da fragmentariedade: significa que nem todas as lesões a bens jurídicos protegidos 
devem ser tuteladas e punidas pelo direito penal, pois este constitui apenas uma parte do 
ordenamento jurídico. Fragmento é apenas a parte de um todo, razão pela qual o direito penal deve 
ser visto, no campo dos atos ilícitos, como fragmentário, ou seja, deve ocupar-se das condutas 
mais graves, verdadeiramente lesivas à vida em sociedade, passíveis de causar distúrbios de 
monta à segurança pública e à liberdade individual. 
c) Princípio da culpabilidade: quer dizer que ninguém será penalmente punido se não houver 
agido com dolo ou culpa, dando mostras de que a responsabilização não deve ser objetiva, mas 
subjetiva (nullum crimen sine culpa). 
d) Princípio da taxatividade: significa que as condutas típicas, merecedoras de punição, devem 
ser suficientemente claras e bem elaboradas, de modo a não deixar dúvida, em relação ao seu 
cumprimento, por parte do destinatário da norma. A construção de tipos penais incriminadores 
dúbios e repletos de termos valorativos vagos pode dar ensejo ao abuso do Estado na invasão da 
intimidade e da esfera de liberdade dos indivíduos. 
e) Princípio da proporcionalidade: quer dizer que as penas devem ser harmônicas com a 
gravidade da infração penal cometida, não tendo cabimento o exagero, nem tampouco a extrema 
liberalidade na cominação das sanções nos tipos penais incriminadores. Não teria sentido punir um 
furto simples com elevada pena privativa de liberdade, como também não seria admissível punir 
um homicídio com pena de multa. 
f) Princípio da vedação da dupla punição pelo mesmo fato: significa que ninguém deve ser 
processado e punido duas vezes pela prática da mesma infração penal. 
 
Lesividade (ou ofensividade) como princípio de direito penal: há quem sustente a existência 
autônoma do princípio da lesividade (ou da ofensividade), alegando que somente podem ser 
criados tipos penais incriminadores capazes de ofender um bem jurídico alheio, devidamente 
tutelado. Em outras palavras, não se poderia aceitar a incriminação de uma conduta não lesiva – 
ou provocadora de ínfima lesão – a bem jurídico determinado. 
 
Conceito de legalidade: há três significados: 
a) político (garantia constitucional dos direitos humanos fundamentais; 
b) jurídico em sentido lato (ninguém está obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão 
em virtude de lei, conforme art. 5.º, II, CF); 
c) jurídico em sentido estrito ou penal (fixador do conteúdo das normas penais incriminadoras). 
Neste último prisma, é também conhecido como princípio da reserva legal, ou seja, os tipos penais 
incriminadores somente podem ser criados por lei em sentido estrito, emanada do Legislativo, de 
acordo com o processo previsto na Constituição Federal. 
 
Utilização da interpretação extensiva, interpretação analógica e analogia em direito penal: a 
interpretação é um processo de descoberta do conteúdo da lei e não de criação de normas. Por 
isso, é admitida em direito penal, tanto a extensiva, quanto a analógica. A extensiva é o processo 
de extração do autêntico significado da norma, ampliando-se o alcance das palavras legais, a fim 
de se atender à real finalidade do texto. A analógica é o processo de averiguação do sentido da 
norma jurídica, valendo-se de elementos fornecidos pela própria lei, através do método de 
semelhança. A analogia, por sua vez, é um processo de autointegração, criando-se uma norma 
penal onde, originalmente, não existe. Nas palavras de Martin Heidegger, “analogia em geral 
significa correspondência de algo com algo, mais exatamente, a correspondência de uma relação 
com outra”. 
 
Art. 2.º Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, 
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. 
Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos 
fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. 
 
Abolitio criminis (abolição do delito): trata-se do fenômeno que ocorre quando uma lei posterior 
deixa de considerar crime determinado fato (exemplo: a Lei 11.106/2005 deixou de considerar 
condutas criminosas o adultério, a sedução e o rapto consensual).Quando acontece a hipótese da 
abolitio criminis, segundo o disposto no art. 107, III, do Código Penal, extingue-se a punibilidade do 
agente. Em qualquer fase do processo ou mesmo da execução da pena, deve ser imediatamente 
aplicada a retroatividade da norma que retira a tipicidade de qualquer fato. 
 
Confronto com a edição de lei penal benéfica (novatio legis in mellius): por vezes, o legislador 
prefere alterar determinado tipo penal incriminador, variando a descrição da conduta, de forma a 
excluir certas maneiras de execução, bem como modificando a sanção penal, conferindo-lhe 
abrandamento ou concedendo-lhe benefícios penais antes inexistentes. Assim, mantém-se a figura 
delitiva, embora com outra face. Quando isso acontece, não se trata de abolição do crime, mas 
apenas de modificação benéfica da lei penal. 
 
Confronto com a edição de lei penal prejudicial (novatio legis in pejus): há hipóteses em que 
o legislador, sem abolir a figura delituosa, mas com a aparência de tê-lo feito, apenas transfere a 
outro tipo incriminador a mesma conduta, por vezes aumentando a pena. Sem dúvida, em alguns 
casos, não se trata de uma singela transferência, porém há alguma modificação na descrição do 
preceito primário. 
 
Lei intermediária: a lei posterior pode ser uma lei intermediária, ou seja, aquela que surgiu depois 
da prática do fato criminoso, mas foi revogada antes de o juiz proferir a sentença condenatória. Se 
for a lei mais benigna, deverá ser a utilizada. 
 
Lei penal em vacatio legis: durante a vacatio legis (período de tempo estabelecido pelo legislador 
para que a sociedade tome conhecimento de uma determinada norma, após a sua publicação, 
antes de sua entrada em vigor), a lei penal já tem força suficiente para ser considerada lei mais 
favorável, aplicando-se retroativamente a fatos pretéritos? Responde afirmativamente PAULO 
JOSÉ DA COSTA JÚNIOR, citando Raggi e fazendo referência também a Nélson Hungria e Heleno 
Fragoso: “A lei, em período de vacatio, não deixa de ser lei posterior, devendo, pois, ser aplicada 
desde logo, se mais favorável ao réu”. 
 
Lei penal corretiva ou interpretativa: é aquela criada para dar significado a lei penal anterior, isto 
é, para interpretar o seu conteúdo, explicitando-lhe o significado. 
 
Art. 3.º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou 
cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua 
vigência. 
 
Normas penais em branco: São normas penais em branco aquelas cujo preceito primário é 
indeterminado quanto a seu conteúdo, porém determinável, além de terem o preceito sancionador 
determinado. Dividem-se em: 
a) normas impropriamente em branco, que se valem de fontes formais homogêneas, não penais. 
Ex.: os impedimentos matrimoniais do crime do art. 237 (casar conhecendo tais impedimentos) são 
achados no Código Civil, que também é lei; 
b) normas propriamente em branco, que se utilizam de fontes formais heterogêneas, porque o órgão 
legiferante é diverso e sempre fora do âmbito do direito penal. Ex.: o crime contra a economia 
popular, referente à transgressão de tabela de preços, que é fixada por órgão do Poder Executivo, 
através de regulamento federal, leis ou regulamentos estaduais ou municipais, tem como 
complemento da lei penal em branco um elemento de diferente fonte normativa. 
As normas em branco não ofendem a legalidade, porque se pode encontrar o complemento da lei 
penal em outra fonte legislativa extrapenal, previamente determinada e conhecida. É preciso, no 
entanto, que se diga que o complemento da norma em branco é, como regra, de natureza 
intermitente, feito para durar apenas por um determinado período. Uma tabela de preços, por 
exemplo, tem caráter temporário. 
 
Art. 4.º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro 
seja o momento do resultado. 
 
Teorias sobre o tempo do crime: 
a) Teoria da atividade: reputa-se praticado o delito no momento da conduta, não importando o 
instante do resultado; 
b) Teoria do resultado: considera-se cometido o crime no momento do resultado; 
c) Teoria mista ou da ubiquidade: o momento do crime pode ser tanto o da conduta, quanto o do 
resultado. Adotamos, segundo demonstra o art. 4.º, a teoria da atividade. 
 
Art. 5.º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito 
internacional, ao crime cometido no território nacional. 
§ 1.º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as 
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro 
onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, 
mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo 
correspondente ou em alto-mar. 
§ 2.º É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou 
embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no 
território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar 
territorial do Brasil. 
 
Conceito de territorialidade: é a aplicação das leis brasileiras aos delitos cometidos dentro do 
território nacional. Esta é uma regra geral, que advém do conceito de soberania, ou seja, a cada 
Estado cabe decidir e aplicar as leis pertinentes aos acontecimentos dentro do seu território. 
 
Princípios que regem a aplicação da lei penal no espaço: 
a) territorialidade; 
b) defesa ou proteção (que leva em consideração a nacionalidade brasileira do bem jurídico lesado 
pelo delito); 
c) justiça universal ou cosmopolita (que tem em vista punir crimes com alcance internacional, como 
o genocídio); 
d) nacionalidade ou personalidade (leva em conta a nacionalidade brasileira do agente do delito); 
e) representação ou bandeira (que tem em consideração a bandeira brasileira da embarcação ou 
da aeronave privada, situada em território estrangeiro, conforme regra do art. 7.º, II, c, CP). 
 
Art. 6.º Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo 
ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 
 
Teorias sobre o lugar do crime: para o lugar do crime também existem três teorias: 
a) atividade: considera-se local do delito aquele onde foi praticada a conduta (atos executórios); 
b) resultado: o lugar do crime é aquele onde ocorreu o resultado (consumação); 
c) mista ou da ubiquidade: é lugar do crime tanto onde houve a conduta, quanto o local onde se 
deu o resultado. Adotamos, segundo o art. 6.º, a teoria mista. 
 
Art. 7.º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
I – os crimes: 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, 
de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação 
instituída pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; 
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; 
II – os crimes: 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; 
b) praticados por brasileiro; 
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade 
privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. 
§ 1.º Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido 
ou condenado no estrangeiro. 
§ 2.º Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes 
condições: 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoadono estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a 
punibilidade, segundo a lei mais favorável. 
§ 3.º Alei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro 
fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
b) houve requisição do Ministro da Justiça 
 
Art. 8.º Apena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, 
quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. 
 
Art. 9.º A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as 
mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: 
I – obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; 
II – sujeitá-lo a medida de segurança. 
Parágrafo único. A homologação depende: 
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; 
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja 
autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro 
da Justiça. 
 
Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os 
anos pelo calendário comum. 
 
Art. 11. Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as 
frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. 
 
Art. 12. As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se 
esta não dispuser de modo diverso. 
 
Critério da sucessividade: se houver sucessão de tempo entre normas aplicáveis ao mesmo fato, 
é preferível a lei posterior (lex posterior derogat priori). 
 
Critério da alternatividade: significa que a aplicação de uma norma a um fato exclui a 
aplicabilidade de outra, que também o prevê, de algum modo, como delito. 
 
TÍTULO II 
 
Diferença entre crime e contravenção penal: Os crimes sujeitam seus autores a penas de 
reclusão e detenção, enquanto as contravenções, no máximo, implicam em prisão simples. Além 
disso, aos crimes cominam-se penas privativas de liberdade, isolada, alternativa ou 
cumulativamente com multa, enquanto, para as contravenções penais, admite-se a possibilidade 
de fixação unicamente da multa (o que não ocorre com os crimes), embora a penalidade pecuniária 
possa ser cominada em conjunto com a prisão simples ou esta também possa ser prevista ou 
aplicada de maneira isolada. 
 
Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe 
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
Superveniência de causa independente 
§ 1.º A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por 
si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. 
Relevância da omissão 
§ 2.º A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o 
resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
 
Conceito de relação de causalidade: é o vínculo estabelecido entre a conduta do agente e o 
resultado por ele gerado, com relevância para formar o fato típico. Portanto, a relação de 
causalidade tem reflexos diretos, em nosso entender, na tipicidade. Causalidade significa sucessão 
no tempo. 
Conceito de resultado: há dois critérios para analisar o resultado: 
a) naturalístico: é a modificação sensível do mundo exterior. O evento está situado no mundo físico, 
de modo que somente se pode falar em resultado quando existe alguma modificação passível de 
captação pelos sentidos. Exemplo: a morte de uma pessoa é um resultado naturalisticamente 
comprovável; 
b) jurídico ou normativo: é a modificação gerada no mundo jurídico, seja na forma de dano efetivo 
ou na de dano potencial, ferindo interesse protegido pela norma penal. Sob esse ponto de vista, 
toda conduta que fere um interesse juridicamente protegido causa um resultado. Ex.: a invasão de 
um domicílio, embora possa nada causar sob o ponto de vista naturalístico, certamente provoca 
um resultado jurídico, que é ferir o direito à inviolabilidade de domicílio do dono da casa. 
 
Conceito de causa: significa toda ação ou omissão indispensável para a configuração do resultado 
concreto, por menor que seja o seu grau de contribuição. Não há qualquer diferença entre causa, 
condição (aquilo que permite à causa produzir o seu efeito) e ocasião (circunstância acidental que 
favorece a produção da causa), para fins de aplicação da relação de causalidade. 
 
Conceito de conduta e seus principais elementos: conduta é a ação ou omissão, voluntária e 
consciente, implicando em um comando de movimentação ou inércia do corpo humano, voltado a 
uma finalidade. 
 
Enfoque particularizado sobre hipnose: trata-se de matéria controversa aceitar que a hipnose 
seja causa suficiente para eliminar a vontade e a consciência de alguém. Entretanto, há vários 
estudos nesse sentido. 
 
Conceito de omissão: sob o prisma finalista, omissão é a conduta negativa, voluntária e 
consciente, implicando em um não fazer, voltado a uma finalidade. O que se disse acerca dos 
elementos da ação tem a mesma aplicação no contexto da omissão. 
 
Teorias que cuidam do nexo de causalidade: 
a) teoria da equivalência das condições: qualquer das condições que compõem a totalidade dos 
antecedentes é causa do resultado, pois a sua inocorrência impediria a produção do evento. O 
fornecimento da arma do crime, mesmo em atividade lícita de comércio, é causa do resultado 
(morte), porque sem a arma não teria havido os tiros fatais; 
b) teoria da causalidade adequada (teoria das condições qualificadas): um determinado evento 
somente será produto da ação humana quando esta tiver sido apta e idônea a gerar o resultado. O 
fornecimento da arma, desde que em atividade lícita de comércio, jamais seria considerado causa 
do crime, pois não se trata de ação idônea à produção desse tipo de resultado, vale dizer, armas 
não são vendidas em lojas para causar crimes de homicídio. 
 
Causas independentes e relativamente independentes: as causas independentes (aquelas que 
surgem e, por si mesmas, são aptas a produzir o resultado) cortam, naturalmente, o nexo causal. 
Ex.: um raio que atinja a vítima, matando-a, pouco antes de ela ser alvejada a tiros pelo agente, é 
suficiente para cortar o nexo de causalidade (é a chamada “causalidade antecipadora”). Por outro 
lado, existem causas relativamente independentes, que surgem de alguma forma ligadas às causas 
geradas pelo agente (por isso, são relativamente independentes), mas possuindo força suficiente 
para gerar o resultado por si mesmas. Exemplo tradicional da doutrina: se, por conta de um tiro, a 
vítima vai ao hospital e, lá estando internada, termina morrendo queimada num incêndio que toma 
conta do nosocômio, é preciso considerar que o fogo foi uma causa relativamente independente, a 
produzir o resultado morte. 
 
Crimes omissivos próprios e omissivos impróprios (comissivos por omissão): são delitos 
omissivos próprios aqueles cuja conduta envolve um não fazer típico, que pode – ou não – dar 
causa a um resultado naturalístico. São crimes omissivos impróprios os que envolvem um não 
fazer, que implica na falta do dever legal de agir, contribuindo, pois, para causar o resultado. Não 
têm tipos específicos, gerando uma tipicidade por extensão. Para que alguém responda por um 
delito omissivo impróprio é preciso que tenha o dever de agir, imposto por lei, deixando de atuar, 
dolosa ou culposamente, auxiliando na produção do resultado. 
 
Dever de agir imposto por lei: a legislação impõe a várias pessoas o dever de cuidar, proteger e 
vigiar outras, tal como o faz com os pais em relaçãoaos filhos, com os tutores em relação aos 
tutelados, com os curadores em relação aos curatelados e até mesmo com o administrador de um 
presídio em relação aos presos. 
 
Dever de agir por ter gerado o risco: é o dever surgido de ação precedente do agente, que deu 
causa ao aparecimento do risco. Exemplo: alguém joga outro na piscina, por ocasião de um trote 
acadêmico, sabendo que a vítima não sabe nadar. Fica obrigado a intervir, impedindo o resultado 
trágico, sob pena de responder por homicídio. 
 
Art. 14. Diz-se o crime: 
Crime consumado 
I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; 
Tentativa 
II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à 
vontade do agente. 
Pena de tentativa 
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena 
correspondente ao crime consumado, diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços). 
 
Conceito de crime consumado: é o tipo penal integralmente realizado, ou seja, quando o tipo 
concreto se enquadra no tipo abstrato. Exemplo: quando A subtrai um veículo pertencente a B, com 
o ânimo de assenhoreamento, produz um crime consumado, pois sua conduta e o resultado 
materializado encaixam-se, com perfeição, no modelo legal de conduta proibida descrito no art. 155 
do Código Penal. 
 
Conceito de tipo penal e sua estrutura: é a descrição abstrata de uma conduta, tratando-se de 
uma conceituação puramente funcional, que permite concretizar o princípio da reserva legal (não 
há crime sem lei anterior que o defina). A existência dos tipos penais incriminadores (modelos de 
condutas vedadas pelo direito penal, sob ameaça de pena) tem a função de delimitar o que é 
penalmente ilícito e o que é penalmente irrelevante, tem, ainda, o objetivo de dar garantia aos 
destinatários da norma, pois ninguém será punido senão pelo que o legislador considerou delito, 
bem como tem a finalidade de conferir fundamento à ilicitude penal. 
 
Conceito de tipicidade: é a adequação do fato ao tipo penal. Tipicidade é o fenômeno 
representado pela confluência dos tipos concreto (fato do mundo real) e abstrato (fato do mundo 
abstrato). 
 
Conceito de crime tentado: é a realização incompleta da conduta típica, que não é punida como 
crime autônomo. Como diz ANÍBAL BRUNO, é a tipicidade não concluída. O Código Penal não faz 
previsão, para cada delito, da figura da tentativa, embora a grande maioria comporte a figura 
tentada. Preferiu-se usar uma fórmula de extensão, ou seja, para caracterizar a tentativa de 
homicídio, não se encontra previsão expressa no art. 121, da Parte Especial. Nesse caso, aplica-
se a figura do crime consumado em associação com o disposto no art. 14, II, da Parte Geral. 
Portanto, o crime tentado de homicídio é a união do “matar alguém” com o início de execução, que 
não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
 
Dolo e culpa na tentativa: não há tentativa de crime culposo, pois o agente não persegue resultado 
algum. No contexto da culpa, o resultado típico atingido deve ser sempre involuntário. Quanto ao 
dolo, no crime tentado, é exatamente o mesmo do delito consumado. Afinal, o que o agente almeja 
é atingir a consumação, em ambas as hipóteses, consistindo a diferença no fato de que, na 
tentativa, foi impedido por causas exteriores à sua vontade. Portanto, não existe “dolo de tentativa”. 
O crime tentado é subjetivamente perfeito e apenas objetivamente defeituoso. 
 
Exaurimento do crime: significa a produção de resultado lesivo a bem jurídico após o delito já 
estar consumado, ou seja, é o esgotamento da atividade criminosa, implicando em outros prejuízos 
além dos atingidos pela consumação. É o que ocorre no contexto dos crimes formais, quando 
atingem o resultado previsto no tipo – mas não obrigatório para a consumação. 
 
Passagem da preparação para a execução: não se trata de tema fácil e uniforme. Há, 
basicamente, duas teorias acerca do assunto: 
a) subjetiva: não existe tal passagem, pois o importante é a vontade criminosa, que está presente, 
de maneira nítida, tanto na preparação quanto na execução do crime. Ambas trazem punição ao 
agente; 
b) objetiva: o início da execução é, invariavelmente, constituído de atos que principiem a 
concretização do tipo penal. 
 
Tentativa e dolo eventual: é perfeitamente admissível a coexistência da tentativa com o dolo 
eventual, embora seja de difícil comprovação no caso concreto. É a precisa lição de NÉLSON 
HUNGRIA: “Se o agente aquiesce no advento do resultado específico do crime, previsto como 
possível, é claro que este entra na órbita de sua volição: logo, se, por circunstâncias fortuitas, tal 
resultado não ocorre, é inegável que o agente deve responder por tentativa”. E arremata, quanto à 
dificuldade probatória: “A dificuldade de prova não pode influir na conceituação da tentativa” 
(Comentários ao Código Penal, v. I, t. II, p. 90). 
 
Infrações penais que não admitem a tentativa: 
a) delitos culposos, pois o resultado é sempre involuntário; 
b) crimes preterdolosos (havendo dolo na conduta antecedente e culpa na consequente, possuindo 
o mesmo bem jurídico protegido nas duas fases), pois se necessita do resultado mais grave para 
a constituição do tipo (ex.: lesão corporal seguida de morte); 
c) crimes unissubsistentes, pois são constituídos de ato único (ex.: ameaça verbal), não admitindo 
iter criminis; 
d) crimes omissivos próprios, pois o não fazer, descrito no tipo, também não admite fracionamento: 
ou o agente não faz a conduta devida, configurando o tipo, ou faz, constituindo conduta atípica; 
e) delitos habituais próprios, que são os que se configuram somente quando determinada conduta 
é reiterada, com habitualidade, pelo agente; 
f) contravenções penais, pois a Lei das Contravenções Penais diz ser não punível a tentativa; 
g) delitos condicionados, pois submetidos, para a sua concretização, à superveniência de uma 
condição. Exemplo: o crime de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio (art. 122, CP) somente 
se configura se houver lesão grave ou morte da vítima, de modo que não há possibilidade de haver 
tentativa; 
h) crimes de atentado (delitos de empreendimento), cuja tentativa é punida com pena autônoma ou 
igual à do crime consumado; 
i) crimes permanentes na forma omissiva, pois não há iter criminis possível de diferenciar a 
preparação da execução; 
j) crimes que punem somente os atos preparatórios: quando o tipo penal é constituído de atos 
formadores da fase preparatória de outro delito, é natural que não admita tentativa, pois seria ilógico 
punir a “tentativa de dar início à preparação de outro delito”; 
l) crimes cujo tipo penal é formado por condutas extremamente abrangentes, impossibilitando, na 
prática, a existência de atos executórios dissociados da consumação. 
 
Distinção entre tentativa perfeita e tentativa imperfeita: 
a) perfeita (acabada, frustrada ou crime falho) é a hipótese que se configura quando o agente faz 
tudo o que pode para chegar à consumação do crime, mas não sobrevém o resultado típico. 
Exemplo: o agente desfere inúmeros tiros certeiros na vítima e, acreditando que morreu, afasta-se 
do local. Ocorre que, socorrido por terceiros, o ofendido se salva. Trata-se de tentativa que merece 
menor diminuição da pena; 
b) imperfeita (inacabada) é a situação gerada quando o agente, não conseguindo praticar tudo o 
que almejava para alcançar a consumação, é interrompido, de maneira inequívoca e indesejada, 
por causas estranhas à sua vontade. Exemplo: pretendendo dar fim à vida da vítima a tiros, começa 
a descarregar sua arma, quando, antes de findar os atos executórios, pois crente que o ofendido 
ainda está vivo, é barrado pela ação de terceiros. Pode merecer diminuição maior da sua pena, 
pois a fase executória do iter criminis, nesse caso, pode ter apenas começado. 
 
Diferença entre crime falho e tentativa falha: o primeiro é a denominadatentativa, enquanto o 
segundo é a tentativa que se constitui com base em impedimento íntimo do agente, que acredita 
não poder prosseguir na execução, embora pudesse. 
 
Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o 
resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. 
 
Conceito de desistência voluntária: trata-se da desistência no prosseguimento dos atos 
executórios do crime, feita de modo voluntário, respondendo o agente somente pelo que já praticou. 
 
Natureza jurídica da desistência voluntária e do arrependimento eficaz: há pelo menos três 
correntes debatendo o tema: 
a) causa de exclusão da tipicidade: o tipo penal da tentativa é formado com a utilização do art. 14, 
inciso II, do Código Penal, que prevê o início da execução e a não consumação por circunstâncias 
alheias à vontade do agente; 
b) causa de exclusão da culpabilidade: tendo em vista que o agente desistiu de prosseguir no crime 
idealizado, não deve mais sofrer juízo de reprovação social, resultando no afastamento da sua 
culpabilidade quanto ao delito principal, porém respondendo pelo que já concretizou; 
c) causa pessoal de exclusão da punibilidade: afasta-se, no caso, a punibilidade do agente, mas 
não a tipicidade ou a culpabilidade. 
 
Conceito de arrependimento eficaz: trata-se da desistência que ocorre entre o término dos atos 
executórios e a consumação. O agente, nesse caso, já fez tudo o que podia para atingir o resultado, 
mas resolve interferir para evitar a sua concretização 
 
Voluntariedade e espontaneidade: no contexto do direito penal, há diferença entre voluntário e 
espontâneo. Agir voluntariamente significa atuar livremente, sem qualquer coação. Agir 
espontaneamente quer dizer uma vontade sincera, fruto do mais íntimo desejo do agente. No caso 
da desistência e do arrependimento eficaz, exige-se apenas voluntariedade, mas não 
espontaneidade. 
 
Desistência momentânea: é consistente para determinar a desistência voluntária, pois houve 
voluntariedade na conduta, embora possa não haver espontaneidade. Se o agente desistir de 
prosseguir na execução do delito, porque achou que o momento era inconveniente, pretendendo 
continuar em outra época, deve ser beneficiado pela excludente. 
 
Diferença entre desistência ou arrependimento e tentativa: nas duas primeiras hipóteses, o 
agente, voluntariamente, não mais deseja chegar ao resultado, cessando a sua atividade executória 
(desistência voluntária) ou agindo para impedir a consumação (arrependimento eficaz), enquanto 
na terceira hipótese o agente quer atingir o resultado, embora seja impedido por fatores estranhos 
à sua vontade. 
 
Tentativa qualificada: são os fatos puníveis já consumados quando há a desistência de prosseguir 
na execução do crime ou ocorre arrependimento eficaz. 
 
Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou 
restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, 
a pena será reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços). 
 
Conceito de arrependimento posterior: trata-se da reparação do dano causado ou da restituição 
da coisa subtraída nos delitos cometidos sem violência ou grave ameaça, desde que por ato 
voluntário do agente, até o recebimento da denúncia ou da queixa. Chama-se “posterior” para 
diferençá-lo do eficaz. Quer dizer que ocorre posteriormente à consumação do delito. 
 
Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta 
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. 
 
Conceito de crime impossível (tentativa inidônea, impossível, inútil, inadequada ou quase 
crime): é a tentativa não punível, porque o agente se vale de meios absolutamente ineficazes ou 
volta-se contra objetos absolutamente impróprios, tornando impossível a consumação do crime. 
Trata-se de uma autêntica “carência de tipo”. 
 
Natureza jurídica do crime impossível: é uma causa excludente da tipicidade. 
 
Fundamento da não punição do crime impossível: adota-se, no Brasil, a teoria objetiva, vale 
dizer, leva-se em conta, para punir a tentativa, o risco objetivo que o bem jurídico corre. No caso 
da tentativa inidônea, o bem jurídico não sofreu risco algum, seja porque o meio é totalmente 
ineficaz, seja porque o objeto é inteiramente impróprio. Daí por que não há punição. 
 
Diferença entre a tentativa inidônea e o erro de tipo: na primeira hipótese, o agente acredita que 
poderá atingir o resultado almejado, apesar de não poder, agindo com dolo. Na segunda, o agente 
não atua com dolo, pois não prevê que poderá causar o resultado, embora possa. Melhor análise 
do erro de tipo será feita em capítulo próprio. 
 
Diferença entre crime impossível e crime putativo: o primeiro constitui a hipótese do agente 
que, pretendendo cometer um delito, não atinge a consumação porque valeu-se de instrumento 
absolutamente ineficaz ou voltou-se contra objeto absolutamente impróprio; o segundo, por seu 
turno, prevê a hipótese do agente que, pretendendo cometer um delito, não consegue seu intento 
porque a conduta eleita não constitui fato típico. Exemplos: no crime impossível, o agente desfere 
tiros, com o intuito de cometer homicídio, contra pessoa que já morreu; no crime putativo, o agente 
deixa de pagar dívida, instrumentalizada por meio de nota promissória, crendo ser infração penal, 
quando, na realidade, não é. 
 
Flagrante provocado ou preparado: é o denominado crime de ensaio, ou seja, quando um terceiro 
provoca o agente à prática do delito, ao mesmo tempo em que age para impedir o resultado. 
Havendo eficácia na atuação do agente provocador, não responde pela tentativa quem a praticou. 
 
Art. 18. Diz-se o crime: 
Crime doloso 
I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; 
Crime culposo 
II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou 
imperícia. 
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato 
previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 
 
Conceito de dolo: 
a) é a vontade consciente de praticar a conduta típica (visão finalista – é o denominado dolo 
natural); 
b) é a vontade consciente de praticar a conduta típica, acompanhada da consciência de que se 
realiza um ato ilícito (visão causalista – é o denominado dolo normativo); 
c) é a vontade consciente de praticar a conduta típica, compreendendo o desvalor que a conduta 
representa (é o denominado dolo axiológico). 
 
Distinção entre dolo genérico e dolo específico: dolo genérico, que seria a vontade de praticar 
a conduta típica, sem qualquer finalidade especial, e o dolo específico, que seria o complemento 
dessa vontade, adicionada de uma especial finalidade. 
 
Conceito de dolo direto: é a vontade do agente dirigida especificamente à produção do resultado 
típico, abrangendo os meios utilizados para tanto. Exemplo: o agente quer subtrair bens da vítima, 
valendo-se de grave ameaça. Dirigindo-se ao ofendido, aponta-lhe um revólver, anuncia o assalto 
e carrega consigo os bens encontrados em seu poder. A vontade se encaixa com perfeição ao 
resultado. É, também, denominado dolo de primeiro grau. 
 
Conceito de dolo indireto ou eventual: é a vontade do agente dirigida a um resultado 
determinado, porém vislumbrando a possibilidade de ocorrência de um segundo resultado, não 
desejado, mas admitido, unido ao primeiro. Por isso, a lei utiliza o termo “assumir o risco de produzi-
lo”. 
 
Exigibilidade do dolo direto e do dolo eventual: a lei não faz distinção entre o dolo direto e o 
eventual para fins de aplicação da pena. Assim, o juiz poderá fixar a mesma pena para quem agiu 
com dolo direto e para quem atuou com dolo eventual. 
 
Conceito de culpa: é o comportamento voluntário desatencioso, voltado a um determinado 
objetivo, lícito ou ilícito, embora produza resultado ilícito, não desejado,mas previsível, que podia 
ter sido evitado. O dolo é a regra; a culpa, exceção. Para se punir alguém por delito culposo, é 
indispensável que a culpa venha expressamente delineada no tipo penal. 
 
Culpa e tipicidade: a culpa e o dolo, na ótica finalista, situam-se no tipo penal, pois são 
decorrências naturais da conduta humana. A finalidade do agente, quando detectada, deve ser 
valorada pelo juiz, identificando-se o dolo (querer atingir o resultado ou assumir o risco de produzi-
lo) ou a culpa (não desejar o resultado, mas tê-lo por previsível e continuar a desenvolver o 
comportamento descuidado). Assim, partilhamos do entendimento segundo o qual a previsibilidade, 
objetiva ou subjetiva, encontra-se na conduta humana e, por consequência, no tipo. 
 
Distinção entre culpa inconsciente e culpa consciente: a primeira modalidade é a culpa por 
excelência, ou seja, a culpa sem previsão do resultado. O agente não tem previsão (ato de prever) 
do resultado, mas mera previsibilidade (possibilidade de prever). A segunda é a chamada culpa 
com previsão, ocorrendo quando o agente prevê que sua conduta pode levar a um certo resultado 
lesivo, embora acredite, firmemente, que tal evento não se realizará, confiando na sua atuação 
(vontade) para impedir o resultado. 
 
Culpa imprópria: é a denominada culpa com previsão, ou seja, ocorre quando o agente deseja 
atingir determinado resultado, embora o faça porque está envolvido pelo erro (falsa percepção da 
realidade) inescusável (não há justificativa para a conduta, pois, com maior prudência, teria sido 
evitada). 
 
Conceito de imprudência: é a forma ativa de culpa, significando um comportamento sem cautela, 
realizado com precipitação ou com insensatez 
 
Conceito de negligência: é a forma passiva de culpa, ou seja, assumir uma atitude passiva, inerte, 
material e psiquicamente, por descuido ou desatenção, justamente quando o dever de cuidado 
objetivo determina de modo contrário. 
 
Conceito de imperícia: é a imprudência no campo técnico, pressupondo uma arte, um ofício ou 
uma profissão. Consiste na incapacidade ou falta de conhecimento necessário para o exercício de 
determinado mister. 
 
Distinção entre imperícia e erro profissional: a deficiência profissional, que acarreta um dano a 
alguém, nem sempre pode ser caracterizada como imperícia. Enquanto esta é um erro grosseiro, 
que a média dos profissionais de determinada área não cometeria, em circunstâncias normais, o 
erro profissional faz parte da precariedade dos conhecimentos humanos, pois nem todos possuem 
o mesmo talento, a mesma cultura e idêntica habilidade. 
 
Regra geral: o dolo é presumido no tipo penal; a culpa há de estar expressa. 
 
Diferença entre culpa consciente e dolo eventual: trata-se de distinção teoricamente plausível, 
embora, na prática, seja muito complexa e difícil. Em ambas as situações o agente tem a previsão 
do resultado que sua conduta pode causar, embora na culpa consciente não o admita como 
possível e, no dolo eventual, admita a possibilidade de se concretizar, sendo-lhe indiferente. 
 
Art. 19. Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver 
causado ao menos culposamente. 
 
Conceito de crime qualificado pelo resultado: é o delito que possui um fato-base, definido e 
sancionado como crime, embora tenha, ainda, um evento qualificador, aumentando-lhe a pena, em 
razão da sua gravidade objetiva, bem como existindo entre eles um nexo de ordem física e 
subjetiva. Quando, de um roubo (fato-base), ocorre o resultado morte da vítima em face da violência 
empregada (evento qualificador), está-se diante de um crime qualificado pelo resultado, cuja pena 
é bem maior que a prevista para o delito-base. A pena para o roubo é de 4 a 10 anos de reclusão, 
enquanto para o latrocínio varia de 20 a 30 anos. 
 
Classificação dos crimes qualificados pelo resultado: podemos dividir as figuras típicas 
previstas na Parte Especial da seguinte maneira: 
1) crimes agravados pelo resultado cometidos com dolo na conduta antecedente e dolo na 
subsequente ou dolo na antecedente e culpa na subsequente (roubo seguido de lesão grave); 
2) crimes agravados pelo resultado praticados com culpa na conduta antecedente e culpa na 
subsequente (crimes culposos de perigo comum, resultando lesão corporal grave ou morte); 
3) crimes agravados pelo resultado na hipótese de serem cometidos com dolo de perigo na conduta 
antecedente e culpa na subsequente (crimes de periclitação da vida e da saúde, com resultado 
lesão grave ou morte); 
4) crimes qualificados pelo resultado que são polêmicos: a jurisprudência exige dolo no antecedente 
e culpa no consequente, pois se houvesse dolo seguido de dolo estaríamos diante de dois delitos; 
5) crime qualificado pelo resultado que somente pode ser cometido com dolo na conduta 
antecedente e culpa na consequente (preterdolo) (lesão corporal seguida de morte); 
6) delito qualificado pelo resultado, cuja prática exige dolo na conduta antecedente e dolo na 
consequente (furto de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para 
o exterior). 
 
Art. 20. O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite 
a punição por crime culposo, se previsto em lei. 
 Descriminantes putativas 
§ 1.º É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe 
situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando 
o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. 
Erro determinado por terceiro 
§ 2.º Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. 
Erro sobre a pessoa 
§ 3.º O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se 
consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra 
quem o agente queria praticar o crime. 
 
Distinção entre erro e ignorância: o erro é a falsa representação da realidade ou o falso 
conhecimento de um objetivo (trata-se de um estado positivo); a ignorância é a falta de 
representação da realidade ou o desconhecimento total do objeto (trata-se de um estado negativo). 
 
Conceito de erro de tipo: é o erro que incide sobre elementos objetivos do tipo penal, abrangendo 
qualificadoras, causas de aumento e agravantes. O engano a respeito de um dos elementos que 
compõem o modelo legal de conduta proibida sempre exclui o dolo, podendo levar à punição por 
crime culposo. 
 
Conceito de elemento constitutivo: trata-se de cada componente que constitui o modelo legal de 
conduta proibida. No crime de lesão corporal temos os seguintes elementos: ofender + integridade 
corporal + saúde + outrem. O engano sobre qualquer desses elementos pode levar ao erro de tipo. 
 
Conceito de descriminantes putativas: descriminantes são excludentes de ilicitude; putativo é 
imaginário, suposto, aquilo que aparenta ser verdadeiro. Portanto, as descriminantes putativas são 
as excludentes de ilicitude que aparentam estar presentes em uma determinada situação, quando, 
na realidade, não estão. Situação exemplificativa: o agente pensa estar agindo em legítima defesa, 
defendendo-se de um assalto, por exemplo, quando, em verdade, empreendeu desforço contra um 
mendigo que, aproximando-se de inopino da janela de seu veículo, pretendia apenas lhe pedir 
esmola. 
 
Agente provocador: se um terceiro leva o agente a incidir em erro, deve responder pelo delito. 
Exemplo real e recente ocorreu no México, durante as filmagens de “La Venganza del Escorpión”, 
em Cuernavaca, quando o ator mexicano Antonio Velasco foi morto por um disparo efetuado por 
colega seu. Consta que o ator Flavio Penichedo recebeu da produção um revólver carregado com 
balas de verdade no lugar das de festim. Desferiu dois tiros e percebeu que o amigo estava ferido. 
O produtor do filme e um contrarregra estão desaparecidos. Assim, note-se que alguém, desejando 
matar oator Velasco, aproveitando-se da cena de disparo de arma de fogo com balas de festim, 
substituiu os projéteis por verdadeiros, entregando o instrumento ao outro ator, que, sem saber e 
não pretendendo matar alguém, puxa o gatilho, causando a tragédia. 
 
Erro essencial e erro acidental: o erro essencial é o que recai sobre elemento constitutivo do tipo 
penal, levando às soluções já aventadas; o erro acidental é o que recai sobre elementos 
secundários ou acessórios dos elementos constitutivos. Portanto, esses acessórios não fazem 
parte do tipo penal, razão pela qual não se tem configurado o erro de tipo. 
 
Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, 
isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. 
Parágrafo único. Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência 
da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa 
consciência. 
 
Conceito de erro de proibição: é o erro incidente sobre a ilicitude do fato. O agente atua sem 
consciência de ilicitude, servindo, pois, de excludente de culpabilidade. 
 
Consciência atual e potencial da ilicitude: a ausência de consciência atual da ilicitude, que 
acarreta apenas um erro inescusável, com possibilidade de redução da pena de um sexto e um 
terço, significa que o agente, no exato momento do desenvolvimento da conduta típica, não tinha 
condições de compreender o caráter ilícito do fato, embora tivesse potencialidade para tanto, 
bastando um maior esforço de sua parte. A falta de consciência potencial de ilicitude, que provoca 
a excludente de culpabilidade, significa que o agente não teve, no momento da prática da conduta 
típica, noção da ilicitude, nem teria condições de saber, em razão das circunstâncias do caso 
concreto. 
 
Erro de proibição escusável ou inevitável: quando o erro sobre a ilicitude do fato é impossível 
de ser evitado, valendo-se o ser humano da sua diligência ordinária, trata-se de uma hipótese de 
exclusão da culpabilidade. 
 
Erro de proibição inescusável ou evitável: trata-se do erro sobre a ilicitude do fato que não se 
justifica, pois, se tivesse havido um mínimo de empenho em se informar, o agente poderia ter tido 
conhecimento da realidade. 
 
Diferença entre crime putativo e erro de proibição: são hipóteses inversas, pois, no crime 
putativo, o agente crê estar cometendo um delito (age com consciência do ilícito), mas não é crime; 
no erro de proibição, o agente acredita que nada faz de ilícito, quando, na realidade, trata-se de um 
delito. 
 
Art. 22. Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não 
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. 
 
Conceito de culpabilidade: trata-se de um juízo de reprovação social, incidente sobre o fato e seu 
autor, devendo o agente ser imputável, atuar com consciência potencial de ilicitude, bem como ter 
a possibilidade e a exigibilidade de atuar de outro modo, seguindo as regras impostas pelo direito. 
 
Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: 
I – em estado de necessidade; 
II – em legítima defesa; 
III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. 
Excesso punível 
Parágrafo único. O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso 
doloso ou culposo. 
 
Conceito de ilicitude (antijuridicidade): é a contrariedade de uma conduta com o direito, 
causando lesão a um bem jurídico protegido. Trata-se de um prisma que leva em consideração o 
aspecto formal da antijuridicidade (contrariedade da conduta com o direito), bem como o seu lado 
material (causando lesão a um bem jurídico tutelado). 
 
Excludentes de ilicitude: se presente uma das causas relacionadas no art. 23 do Código Penal, 
está-se afastando um dos elementos do crime, que é a contrariedade da conduta ao direito. 
 
Classificação das excludentes de ilicitude: as excludentes de ilicitude podem ser divididas da 
seguinte forma: 
a) previstas na Parte Geral do Código Penal e válidas, portanto, para todas as condutas típicas 
estabelecidas na Parte Especial ou em leis penais especiais: 
a1) estado de necessidade (arts. 23, I, e 24); 
a2) legítima defesa (arts. 23, II, e 25); 
a3) estrito cumprimento do dever legal (art. 23, III); 
a4) exercício regular de direito (art. 23, III); 
b) previstas na Parte Especial do Código Penal e válidas, apenas, para alguns delitos. Exemplo: 
aborto necessário (art. 128, I, CP); 
c) previstas em legislação extrapenal; 
d) consentimento do ofendido, que é excludente supralegal (não prevista expressamente em lei), 
consistente no desinteresse da vítima em fazer valer a proteção legal ao bem jurídico que lhe 
pertence. 
 
Conceito de estado de necessidade: é o sacrifício de um interesse juridicamente protegido, para 
salvar de perigo atual e inevitável o direito do próprio agente ou de terceiro, desde que outra 
conduta, nas circunstâncias concretas, não era razoavelmente exigível. 
 
Conceito de legítima defesa: é a defesa necessária empreendida contra agressão injusta, atual 
ou iminente, contra direito próprio ou de terceiro, usando, para tanto, moderadamente, os meios 
necessários. 
 
Conceito de estrito cumprimento do dever legal: trata-se da ação praticada em cumprimento de 
um dever imposto por lei, penal ou extrapenal, mesmo que cause lesão a bem jurídico de terceiro. 
 
Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo 
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio 
ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. 
§ 1.º Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. 
§ 2.º Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser 
reduzida de um a dois terços. 
 
Espécies de estado de necessidade: 
a) quanto à origem do perigo: 
a.1) estado de necessidade defensivo: ocorre quando o agente pratica o ato necessário contra a 
coisa da qual promana o perigo para o bem jurídico. Ex.: A, atacado por um cão bravo, vê-se 
obrigado a matar o animal. Agiu contra a coisa da qual veio o perigo; 
a.2) estado de necessidade agressivo: ocorre quando o agente se volta contra pessoa ou coisa 
diversa da qual provém o perigo para o bem jurídico. Ex.: para prestar socorro a alguém, o agente 
toma o veículo alheio, sem autorização do proprietário. Não se inclui no estado defensivo a pessoa, 
pois, quando o perigo emana de ser humano e contra este se volta o agente, estar-se-á diante de 
uma hipótese de legítima defesa. 
b) quanto ao bem sacrificado: 
b.1) estado de necessidade justificante: trata-se do sacrifício de um bem de menor valor para salvar 
outro de maior valor ou o sacrifício de bem de igual valor ao preservado. Ex.: o agente mata um 
animal agressivo, porém patrimônio de outrem, para salvar alguém sujeito ao seu ataque 
(patrimônio x integridade física). 
b.2) estado de necessidade exculpante: ocorre quando o agente sacrifica bem de valor maior para 
salvar outro de menor valor, não lhe sendo possível exigir, nas circunstâncias, outro 
comportamento. Trata-se, pois, da aplicação da teoria da inexigibilidade de conduta diversa, razão 
pela qual, uma vez reconhecida, não se exclui a ilicitude, e sim a culpabilidade. Ex.: um arqueólogo 
que há anos buscava uma relíquia valiosa, para salvá-la de um naufrágio, deixa perecer um dos 
passageiros do navio. 
 
Conceito e extensão de atualidade: atual é o que está acontecendo, portanto, uma situação 
presente. Na ótica de HUNGRIA, é o perigo concreto, imediato, reconhecido objetivamente, não se 
podendo usar a excludente quando se trata de perigo incerto, remoto ou passado. 
 
Inevitabilidade do perigo e inevitabilidade da lesão: característica fundamental do estado de 
necessidadeé que o perigo seja inevitável, bem como seja imprescindível, para escapar da 
situação perigosa, a lesão a bem jurídico de outrem. Podendo afastar-se do perigo ou podendo 
evitar a lesão, deve o autor do fato necessário fazê-lo. No campo do estado de necessidade, impõe-
se a fuga, sendo ela possível. 
Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios 
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. 
 
Fundamento da legítima defesa: o Estado, a partir do momento em que chamou a si a 
responsabilidade de distribuir justiça, aplicando a lei ao caso concreto, pretendeu terminar com a 
vingança privada, geradora de inúmeros excessos e incidentes incontroláveis. Entretanto, não 
podendo estar, através dos seus agentes, em todos os lugares ao mesmo tempo, deve facultar à 
pessoa agredida a legítima defesa de seus direitos, pois, do contrário, o direito haveria de ceder ao 
injusto, o que é inadmissível. 
 
Elementos da legítima defesa: 
a) relativos à agressão: 
a.1) injustiça; 
a.2) atualidade ou iminência; 
a.3) contra direito próprio ou de terceiro; 
b) relativos à repulsa: 
b.1) utilização de meios necessários (mezzi); 
b.2) moderação (grado); 
c) relativo ao ânimo do agente: elemento subjetivo, consistente na vontade de se defender. 
 
Moderação: é a razoável proporção entre a defesa empreendida e o ataque sofrido, que merece 
ser apreciada no caso concreto, de modo relativo, consistindo na “medida dos meios necessários”. 
Se o meio fundamentar-se, por exemplo, no emprego de arma de fogo, a moderação basear-se-á 
no número de tiros necessários para deter a agressão. Não se trata de conceito rígido, admitindo-
se ampla possibilidade de aceitação, uma vez que a reação de uma pessoa normal não se mede 
por critérios matemáticos ou científicos. 
 
Ofendículo: proveniente o termo da palavra offendiculum, que quer dizer obstáculo, impedimento, 
significa o aparelho, engenho ou animal utilizado para a proteção de bens e interesses. São 
autênticos obstáculos ou impedimentos posicionados para atuar no momento da agressão alheia. 
 
TÍTULO III 
 
Conceito de imputabilidade: “imputabilidade é o conjunto de condições pessoais que dão ao 
agente capacidade para lhe ser juridicamente imputada a prática de um fato punível. Constitui, 
como sabemos, um dos elementos da culpabilidade”. 
 
Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental 
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de 
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 
Redução de pena 
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de 
perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não 
era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo 
com esse entendimento. 
 
Elementos e critérios para apurar a inimputabilidade penal: para ter condições pessoais de 
compreender o que fez, o agente necessita de dois elementos: 
I) higidez biopsíquica (saúde mental + capacidade de apreciar a criminalidade do fato); 
II) maturidade (desenvolvimento físico-mental que permite ao ser humano estabelecer relações 
sociais bem adaptadas, ter capacidade para realizar-se distante da figura dos pais, conseguir 
estruturar as próprias ideias e possuir segurança emotiva, além de equilíbrio no campo sexual). 
No Brasil, em vez de se permitir a verificação da maturidade, caso a caso, optou-se pelo critério 
cronológico, isto é, ter mais de 18 anos. 
 
Doenças da vontade e personalidades antissociais: são anomalias de personalidade que não 
excluem a culpabilidade, pois não afetam a inteligência, a razão, nem alteram a vontade. Ex.: o 
desejo de aparecer; os defeitos ético-sexuais; a resistência à dor; os intrometidos, entre outros. 
Denominam-se personalidades instáveis. 
 
Art. 27. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às 
normas estabelecidas na legislação especial. 
 
Menoridade: trata-se da adoção, nesse contexto, do critério puramente biológico, isto é, a lei penal 
criou uma presunção absoluta de que o menor de 18 anos, em face do desenvolvimento mental 
incompleto, não tem condições de compreender o caráter ilícito do que faz ou capacidade de 
determinar-se de acordo com esse entendimento. 
 
Início da maioridade penal aos 18 anos: a partir do primeiro instante do dia do aniversário. É a 
posição predominante: TJSP: “É a lei civil que determina a idade das pessoas. Impossível caber 
interpretação diversa na legislação penal e processual, uma vez não ter cabimento que alguém 
tenha 18 anos pela lei civil e ainda não os tenha pela lei penal, ou militar, ou eleitoral. 
 
Presunção legal absoluta: trata-se de presunção, que não depende nem se sujeita a prova em 
sentido contrário. 
 
Legislação especial para o menor de 18 anos: é o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 
8.069/90). 
 
Inimputabilidade e crime permanente: levando-se em consideração que o delito permanente é 
aquele cuja consumação se prorroga no tempo, é possível que alguém, inimputável (com 17 anos, 
por exemplo), dê início a um crime permanente, como o sequestro. Se atingir a idade de 18 anos 
enquanto o delito se encontrar em plena consumação, será por ele responsabilizado. Entretanto, é 
preciso destacar que a parte do crime referente à sua menoridade (inimputabilidade) não poderá 
ser levada em conta para qualquer finalidade, inclusive para a fixação da pena.

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