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Controvérsias sobre a desindustrialização no Brasil

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1 
 
Controvérsias sobre a desindustrialização no Brasil 
 
Gabriel Coelho Squeff * 
 
Resumo 
 
Este artigo discute a hipótese de desindustrialização brasileira a partir de indicadores não usualmente 
encontrados na literatura e com base em dados inéditos sobre o estoque de emprego formal na economia. 
Todas as estatísticas apresentadas no trabalho foram classificadas segundo a taxonomia da OCDE, o que 
permitiu avaliar a referida hipótese sob uma perspectiva mais ampla do que a comumente utilizada. 
Assim, embora seja indiscutível a redução da participação da indústria no PIB e a especialização das 
exportações brasileiras em produtos de baixo valor agregado, o que reforça a tese de que já está em curso 
um processo de desindustrialização no Brasil, dados relativos à produção, emprego e produtividade dentro 
da indústria e vis-à-vis os demais setores da economia apontam que o setor manufatureiro brasileiro ainda 
é relevante, contrariando, em grande medida, àquela conclusão. 
 
Abstract 
 
This paper discusses the de-industrialization hypothesis in Brazil based on indicators usually not found in 
the literature and based on unpublished data of the stock of formal employment in the economy. All the 
data presented in this paper were classified according to OCDE taxonomy, which allowed evaluating that 
hypothesis in a broader perspective than that is commonly found. In that sense, while it is impossible to 
deny the reduction in the industry share of GDP, and the specialization of Brazilian exports in products 
with low added value, reinforcing the argument that there is an ongoing process of deindustrialization in 
Brazil, data regarding production, employment and productivity within industry and vis-à-vis other 
sectors of the economy suggest that the Brazilian manufacturing sector still relevant, as an opposite result 
to that conclusion. 
 
1. Introdução 
A discussão acerca da hipótese de desindustrialização brasileira ganhou 
notoriedade entre os pesquisadores e formuladores de política econômica nos últimos 
anos. Embora existam diversos estudos teóricos e empíricos que abordam esta temática, 
o debate ainda possui algumas lacunas que certamente comprometem uma avaliação 
mais robusta deste fenômeno. 
Neste sentido, verificamos que o assunto é muitas vezes abordado sem uma 
definição clara do termo e que, adicionalmente, há uma excessiva concentração da 
pesquisa aplicada em torno da participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) 
ou no Valor Adicionado Bruto (VAB). Assim, sob estas óticas, é lugar-comum concluir 
que o Brasil está passando por um processo inequívoco de desindustrialização, haja 
vista que a relevância da indústria, tanto como proporção do PIB quanto como 
porcentagem do VAB, apresentou uma forte redução nas últimas décadas. 
Isto posto, este trabalho discute a desindustrialização sob uma perspectiva mais 
ampla, considerando a evolução de indicadores de produção, emprego, produtividade e 
relativos ao setor externo tanto da indústria vis-à-vis os demais macro-setores da 
economia, quanto a partir de uma análise intra-industrial
1
. Neste sentido, o trabalho 
contribui para a discussão ao apresentar estatísticas inéditas relativas ao estoque de 
trabalhadores formal na economia e com relação à sua distribuição dentro da indústria. 
Ademais, outra contribuição ao debate reside no fato de que todas as estatísticas 
reportadas foram agrupadas e avaliadas sob a ótica do nível de intensidade tecnológica 
 
* Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Pesquisas Macroeconômicas do Instituto 
de Pesquisa Econômica Aplicada (DIMAC/IPEA). E-mail: gabriel.squeff@ipea.gov.br. 
 
1
 Doravante utilizaremos os termos indústria, indústria de transformação e setor manufatureiro 
indistintamente. Isso implica, pois, que a indústria extrativa não é objeto de análise neste trabalho. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
2 
 
estabelecido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico 
(OCDE)
2
, o que permite uma avaliação mais pormenorizada da desindustrialização no 
Brasil. 
Para tanto, o trabalho está dividido em quatro seções além desta introdução. Na 
seção 2 são apresentadas algumas das justificativas teóricas acerca da relevância da 
indústria para o crescimento econômico. Adicionalmente, são conceituados os termos 
desindustrialização e doença holandesa, usual e equivocadamente tratados como 
sinônimos. Na seção seguinte é realizada uma extensa revisão da literatura sobre o tema, 
destacando os trabalhos aplicados à realidade brasileira. A seção 4, por seu turno, 
apresenta dados de produção, emprego, produtividade e de exportação/importação da 
indústria brasileira com ênfase na evolução intra-setorial segundo intensidade 
tecnológica. Por fim, como de praxe, na última seção são tecidas as considerações 
finais. 
 
2. Relevância da indústria e conceituação de desindustrialização e doença 
holandesa 
Um dos mais proeminentes autores que tratam da relevância da indústria na 
economia foi Nicholas Kaldor. Em um artigo de 1966, o autor discute as causas da 
baixa taxa de crescimento do Reino Unido vis-à-vis outras doze economias 
desenvolvidas. A partir de algumas regressões o autor identificou uma forte associação 
entre a taxa de variação do setor manufatureiro e taxa de variação do Produto Interno 
Bruto (PIB). Em outras palavras, verificou-se uma correlação positiva entre a taxa de 
crescimento do produto como um todo e a taxa de crescimento do setor manufatureiro 
desde que esta última exceda a taxa de crescimento do restante da economia
3
. Esta 
situação caracterizaria, portanto, a fase de aumento da participação da indústria no PIB. 
Em face desta evidência, Kaldor (1966) levanta algumas hipóteses que 
justificariam esta associação. Supõe-se que, como há diferenças nas taxas de 
crescimento entre os setores, estas devam estar fortemente associadas à diferentes taxas 
de crescimento da produtividade. Assim, como o nível da produtividade na indústria era 
maior do que o verificado nos demais setores, um rápido aumento da produtividade 
industrial elevaria a produtividade média da economia. Adicionalmente, sendo a 
manufatura o locus onde ocorre a maior parte da inovação tecnológica, uma maior 
concentração industrial aumenta a produtividade da economia. A avaliação da relação 
produto por trabalhador nos demais setores, contudo, foi incapaz de explicar o referido 
diferencial nas taxas de crescimento da produtividade dentro da economia. 
Alternativamente, é possível que a taxa de crescimento econômico esteja 
associada ao tamanho do setor manufatureiro na economia. Neste caso, os países que 
possuíssem uma alta participação de emprego no setor manufatureiro frente aos demais 
setores apresentariam maiores elevações no PIB. Todavia, a avaliação da condição do 
Reino Unido à época serve para refutar esta hipótese, haja vista a elevada quantidade de 
trabalhadores na manufatura e baixa taxa de variação do produto nestes países. 
 
2
 Apresentaremos e utilizaremos a classificação da OCDE na seção 4. 
3
 Kaldor (1966) inicialmente regrediu a taxa de crescimento do PIB total contra a taxa de crescimento do 
PIB da indústria. Visando corroborar a forte correlação encontrada, o autor utilizou outras variáveis 
dependentes. Com a taxa de crescimento do produto não-industrial (agricultura + serviços) os coeficientes 
estimados foram muito parecidos com os da primeira regressão. Tanto com o PIB da agricultura quanto 
com o PIB do setor de mineração não foramencontradas correlações significativas. Já com produto dos 
serviços a constante da regressão foi praticamente zero e o coeficiente próximo à unidade, o que indica, 
na visão do autor, um sentido inverso de causalidade – a taxa de crescimento do PIB que determina a taxa 
de crescimento do produto dos serviços. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
3 
 
Por fim, a existência de economias de escala (retornos crescentes) na indústria 
faz com que a produtividade tenda a crescer mais rapidamente à medida que o produto 
aumente. Esta é, segundo o autor, a verdadeira causa subjacente à associação empírica 
entre o crescimento da produtividade e o crescimento da produção. Essa relação, 
também conhecida como lei de Verdoorn, seria dinâmica, isto é, entre a taxa de variação 
da produtividade e o produto, em vez de estática (entre o nível da produtividade e o 
produto) notadamente por conta do papel desempenhado pelo progresso tecnológico. 
Outra característica intrínseca à manufatura que é relevante ao processo de 
desenvolvimento econômico de um país é o seu dinamismo inter-setorial, expresso pela 
geração de externalidades positivas facilmente transmitidas ao restante da economia. 
Esse transbordamento das atividades industriais para os demais setores decorre do fato 
de que sua expansão está associada à absorção de produtos e commodities produzidos 
no setor agrícola e de mineração, assim como requer a contratação de diversos tipos de 
serviços, tais como serviços bancários, advocatícios, contábeis, limpeza, etc. 
Entretanto, um dos fatos estilizados do processo de desenvolvimento econômico 
dos países é a mudança na composição do PIB ao longo dos anos. De maneira geral, 
inicialmente a agricultura responde por uma participação elevada no produto dos países. 
Após alguns anos este setor começa a perder espaço para a indústria, cuja participação 
aumenta inclusive por conta de uma redução dos serviços no produto total. Finalmente, 
este último passa a crescer e preponderar sobre o PIB. O caso brasileiro, como pode ser 
visto no Gráfico 1, não foge à regra: 
 
Gráfico 1 – Participação no valor adicionado bruto a preços básicos 
Agropecuária
Indústria
Serviços
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
19
47
19
49
19
51
19
53
19
55
19
57
19
59
19
61
19
63
19
65
19
67
19
69
19
71
19
73
19
75
19
77
19
79
19
81
19
83
19
85
19
87
19
89
19
91
19
93
19
95
19
97
19
99
20
01
20
03
20
05
20
07
 
Fonte: IBGE. Elaboração do autor. 
Obs: excepcionalmente, neste caso Indústria se refere tanto à Indústria Extrativa quanto à Indústria de 
Transformação. 
 
Este comportamento da indústria, sob a forma de um U invertido, é ainda mais 
proeminente na indústria de transformação, como mostraremos na seção 3. Contudo, o 
ponto relevante no presente momento é que este processo, usualmente denominado de 
desindustrialização, traz consigo uma conotação negativa, tendo em vista a abordagem 
teórica brevemente discutida acima. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
4 
 
Neste sentido, existem autores que defendem que o processo de 
desindustrialização brasileiro ocorreu de forma prematura, vis-à-vis os países em 
desenvolvimento, e decorreu da chamada Dutch Disease. Este termo foi cunhado em um 
artigo homônimo publicado revista The Economist em 1977, no qual se estabeleceu uma 
relação de causalidade entre a apreciação cambial da moeda local em decorrência da 
descoberta de grandes reservas de gás natural na Holanda nos anos 1960. O aumento 
das exportações destas commodities, por seu turno, teria reduzido a rentabilidade das 
vendas externas de produtos industrializados, reduzindo a participação das manufaturas 
e dos serviços no PIB. 
Porém, a despeito de ter havido uma redução das exportações holandesas no PIB 
ao longo da referida década, este processo não se mostrou perene. Pelo contrário. De 
acordo com dados da OCDE, essa relação que era 43% no final dos anos 1960 passa 
para mais de 79% do PIB em 2010. Isso ocorreu pari passu uma queda da indústria 
como proporção do PIB: de acordo com o mesmo recorte temporal, a queda foi de 27% 
para 16% na indústria como um todo e de 24% para 12% no caso da indústria de 
transformação. 
Isso posto, fica claro que apesar da desindustrialização (no sentido pejorativo do 
termo) não ter ocorrido na Holanda, o conceito se propagou como doença holandesa e é 
muito utilizado atualmente. Logo, antes de adentrar na revisão da literatura teórica e 
empírica sobre o tema, resta apenas destacar em que medida este fenômeno pode ser 
entendido com sendo, de fato, uma doença. 
A Dutch Disease deve ser entendida como uma das faces em que se manifesta a 
chamada maldição dos recursos naturais (natural resource curse). Como destacam 
Sachs e Warner (1995), chama a atenção que países ricos em recursos naturais têm 
baixas taxas de crescimento econômico. Este fato pode ser verificado quando se 
compara a média da taxa de crescimento anual do PIB por população economicamente 
ativa dos países vis-à-vis a participação das exportações de produtos intensivos no PIB. 
Na visão dos autores este fenômeno se constitui em um quebra-cabeça conceitual, haja 
vista que, a priori, a presença de recursos naturais aumenta a riqueza e eleva o poder de 
compra sobre as importações o que, conseqüentemente, deveria aumentar o 
investimento e a taxa de crescimento. 
Do ponto de vista teórico existem algumas justificativas para esta associação 
entre baixas taxas de crescimento econômico e a existência de recursos naturais 
abundantes. Argumenta-se que há falta de externalidades positivas no setor produtor de 
commodities no que concerne à divisão de trabalho, vez que esta é mais complexa no 
setor manufatureiro, o que leva a um padrão de vida mais elevado. Além disso, os 
recursos naturais tendem a ser um setor declinante a nível mundial. Na abordagem de 
Presbisch (1950), a deterioração dos termos de troca dos produtos agrícolas em relação 
aos produtos manufaturados seria um obstáculo aos modelos de crescimento baseados 
em recursos naturais. Adicionalmente, a volatilidade dos preços dos recursos naturais 
configura um problema, na medida em que a incerteza nas decisões dos produtores de 
commodities se propaga para os demais setores da economia, notadamente aqueles 
também intensivos em recursos naturais (Sachs e Warner 1995). 
Contudo, alguns autores argumentam que a especialização da produção de 
produtos primários não é necessariamente restritiva ao crescimento; o que ocorre é que 
muitos países exportadores de matérias-primas não desenvolvem também sua 
habilidades em exportar produtos manufaturados e isso explicaria o porquê da 
associação empírica negativa entre recursos naturais e crescimento econômico
4
. Neste 
 
4
 Frankel (2010) faz uma extensa revisão da literatura empírica acerca desta associação. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
5 
 
sentido, a concentração da produção de matérias-primas não é nociva ao 
desenvolvimento econômico de um país desde que estas gozem de vantagens 
comparativas. Adicionalmente, é possível identificar características de learning-by-
doing nos bens não-comercializáveis, minerais e agrícolas, tal como nas manufaturas 
(Frankel 2010). 
Bresser-Pereira (2007 e 2008), por sua vez, avalia a doença holandesa no Brasil 
comosendo uma falha de mercado decorrente da abundância de recursos naturais e de 
mão-de-obra baratos, cuja produção é compatível com uma taxa de câmbio valorizada. 
Verifica-se, assim, a presença de rendas ricardianas para o país vez que os custos de 
produção e, conseqüentemente, os preços desses produtos intensivos em recursos 
naturais são menores do que aqueles verificados internacionalmente, cujo preço é 
determinado pelo produtor que possui a menor eficiência neste mercado. O problema 
reside no fato de que diversos outros produtos comercializáveis se tornam inviáveis de 
serem produzidos a este nível de câmbio. Ademais, a exportação deste produto é um dos 
fatores responsáveis pela valorização da taxa de câmbio. 
Em linhas gerais, portanto, os efeitos esperados de um aumento nos preços de 
commodities são os seguintes: i) elevada apreciação cambial; ii) aumento nos gastos do 
governo, em função do aumento da receita proveniente de impostos e royalties
5
; iii) 
aumento nos preços dos bens não comercializáveis relativamente aos bens 
comercializáveis (exceto commodities); iv) transferência de recursos e realocação de 
fatores de produção dos setores comercializáveis (exceto commodities) para os setores 
produtores de matérias-primas e de não comercializáveis devido aos maiores retornos 
nestes dois últimos; e, v) déficit em conta corrente. 
Assim, este processo será efetivamente uma ―doença‖ na medida em que: a 
priori, uma taxa de câmbio valorizada desestimula as exportações
6
; é muito custoso aos 
países ajustar suas contas fiscais quando há a reversão dos preços das commodities, 
especialmente por conta do caráter pró-cíclico das despesas do governo; gera-se uma 
distorção de preços relativos e repasse do aumento dos preços das commodities para a 
inflação doméstica; podem faltar recursos para fomentar atividades de alto conteúdo 
tecnológico, cujas externalidades para o restante da economia são superiores às 
verificadas com a produção de matérias-primas; pode haver uma especialização 
excessiva na fabricação de alguns produtos, a despeito das vantagens comparativas 
(estáticas) de cada país; por fim, o país pode ter dificuldades de financiar o déficit em 
conta corrente quando houver uma mudança nos preços das commodities (Bresser-
Pereira 2007 e 2008; Frankel 2010, Fischlow e Bacha 2010, Palgrave 2010). 
Na próxima seção é feita uma breve resenha da literatura sobre 
desindustrialização e doença holandesa, destacando os trabalhos empíricos que versam 
sobre o caso brasileiro. 
 
3. Revisão da Literatura 
Inicialmente cumpre diferenciar os trabalhos que tratam da desindustrialização 
exclusivamente sob a ótica do emprego (por exemplo, Rowthorn e Ramaswamy, 1997; 
Rowthorn e Ramaswamy, 1999; Rowthorn e Coutts, 2004; Palma, 2005), daqueles que 
 
5
 A principal crítica do artigo seminal da revista The Economist residia no fato que o governo holandês 
havia sido irresponsável ao financiar a expansão do estado de bem-estar social com recursos instáveis 
(flutuação de preços) e esgotáveis. 
6
 Contrariamente ao que preconizam os livros-texto de macroeconomia, Schetinni, Squeff e Gouvêa 
(2011) estimaram uma função para as exportações brasileiras agregadas a partir das contas nacionais 
trimestrais, com base em diferentes metodologias econométricas, e encontraram fortes evidências de que 
as vendas externas brasileiras agregadas são muito pouco sensíveis à taxa de câmbio real. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
6 
 
abordam esta temática a partir da de uma perspectiva mais ampla, considerando 
também a participação da indústria no valor adicionado ou no PIB, composição intra-
setorial da indústria, evolução da produtividade e composição das 
exportações/importações, como em Bonelli (2005), Feijó et al (2005), Dasgupta e 
Singh (2006), Shafaeddin (2005), Nassif (2008) e Bonelli e Pessoa (2010). 
No que concerne às conclusões para o caso brasileiro não há consenso. Alguns 
autores defendem a existência de um processo de desindustrialização restrita a alguns 
setores, tal como em Feijó et al (2005). Outros avaliam que este processo está mais 
disseminado e seus efeitos nocivos ao crescimento do PIB já podem ser sentidos há 
alguns anos (por exemplo, Bresser-Pereira, 2007; Oreiro e Feijó, 2010). Por fim, 
existem aqueles que não identificam a queda da participação da indústria no PIB e no 
emprego total
7
 como algo ruim (Nassif 2008, Bonelli e Pessoa 2010, entre outros). 
Como era de se esperar, muitos dos argumentos apontados pela literatura para 
justificar a desindustrialização estão calcados no referencial teórico mencionado na 
seção anterior. Em linhas gerais, é possível agrupar tais justificativas em sete grandes 
grupos, a saber: 
1. Diferencial de produtividade: a produtividade tende a ser maior na 
indústria do que nos demais setores da economia, sobretudo por conta de 
mudanças tecnológicas que usualmente ocorrem na manufatura. Isso possibilita 
uma rápida mudança (queda) nos preços relativos dos produtos, fazendo com 
que a indústria tenha uma participação inferior no PIB do que os setores de 
produtividade mais baixa. Adicionalmente, essa alteração nos preços relativos 
estimula a substituição de bens manufaturados por serviços. Por fim, a 
competição com produtos importados em decorrência da abertura comercial 
também tende a aumentar a produtividade industrial (Rowthorn e Ramaswamy, 
1997; Rowthorn e Ramaswamy, 1999; Rowthorn e Coutts, 2004; Palma, 2005; 
Bonelli, 2005; Feijó et al, 2005; Bonelli e Pessoa, 2010); 
2. Elasticidade-renda das manufaturas: a elasticidade-renda de 
produtos manufaturados é elevada em países pobres e reduzida nos países ricos, 
o que explica porque a participação da indústria no emprego e no produto 
aumenta nos primeiros e cai nos últimos (Rowthorn e Ramaswamy, 1999; 
Palma, 2005); 
3. Especialização / terceirização: diversas atividades do processo 
fabril não são mais realizadas dentro das indústrias, mas desenvolvidas por 
empresas prestadoras de serviço. Portanto, parte do declínio do emprego na 
indústria é um ―artefato estatístico‖ decorrente da terceirização de atividades 
outrora realizadas dentro das fábricas (Rowthorn e Coutts, 2004; Palma, 2005; 
Bonelli, 2005); 
4. Nova divisão internacional do trabalho: elevada terceirização de 
mão-de-obra para os países em desenvolvimento que, em geral, dispõem de 
taxas de câmbio desvalorizadas e mão-de-obra de baixo custo. Estes fatores, que 
permitem um aumento da exportação de produtos produzidos nos PED para os 
países industrializados, são nocivos ao emprego industrial destes últimos 
(Palma, 2005; Bonelli, 2005); 
5. Investimento: o investimento em máquinas e instalações é típico 
do setor industrial. Assim, altas (reduzidas) taxas de investimento aumentarão 
 
7
 Como mostraremos na próxima seção, é inegável que houve uma redução da participação da indústria 
brasileira, tanto em termos de valor adicionado, quanto em termos de emprego. Contudo, não é possível 
inferir somente a partir dessa evidência que este processo é nocivo ao desenvolvimento econômico do 
país. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
7 
 
(reduzirão) a participação de produtos manufaturados na demanda total e, 
portanto, aumentarão (reduzirão) a participação da indústria no emprego e 
produto totais. Um fato muito comum às economias desenvolvidas, neste 
sentido, foi a queda na taxa de investimento como proporção do PIB; 
6. Doença holandesa: forte aumento das exportaçõesde produtos 
primários ou serviços, tal como detalhado na seção anterior; 
7. Mudança na orientação da política econômica: as políticas de 
liberalização comercial e de desregulamentação financeira, preconizadas pelo 
chamado Consenso de Washington, fizeram com que o setor manufatureiro de 
alguns países se reduzisse prematuramente. Argumenta-se que muitas dessas 
indústrias estavam em seu estágio inicial de desenvolvimento – indústria infante 
– e poderiam ter se desenvolvido à luz das vantagens comparativas dinâmicas 
caso tais políticas não tivessem sido adotadas. Ademais, alguns setores 
ineficientes poderiam se tornar paulatinamente eficientes se o processo de 
abertura comercial tivesse sido adotado de maneira seletiva e gradual
8
 
(Dasgupta e Singh 2006; Shafaeddin 2005). Vale destacar ainda que Palma 
(2005) denomina a doença holandesa latino-americana como um processo de 
desindustrialização ―descendente‖, pois foram induzidas pela política 
macroeconômica. Já Bresser-Pereira (2007 e 2008) entende que a raiz deste 
problema é a estratégia de crescimento com poupança externa que contempla, 
entre outros, aspectos do referido consenso. 
No que concerne aos fatos estilizados e resultados empíricos, cumpre destacar 
inicialmente o artigo de Sachs e Warner (1997), um dos primeiros trabalhos aplicados 
sobre o tema. Os autores estimaram diversas equações relacionando a taxa de 
crescimento anual média do PIB dividido pela população economicamente ativa entre 
1970 e 1990 contra a participação das exportações de produtos primários como 
proporção do PIB (SXP) em 1970, para uma amostra inicial de 87 países (cross-
section). Em todas as regressões foi encontrado um coeficiente negativo e significante 
para SXP, mesmo controlando para outras variáveis como abertura comercial, qualidade 
das instituições, preços relativos e acumulação de capital. Ademais, o mesmo efeito foi 
verificado (i) ao utilizar outras medidas de intensidade de recursos naturais, (ii) quando 
foram retirados outliers do grupo de países, (iii) ao se subdividir a amostra em duas 
partes e (iv) com a inclusão de SXP em modelos de crescimento de outros autores. 
Visando averiguar o que pode estar por trás dessa associação negativa entre 
crescimento econômico e intensidade em recursos naturais, Sachs e Warner (1997) 
regrediram alguns dos regressores utilizados nas outras estimativas contra SXP. Neste 
sentido, foram encontradas fortes associações negativas entre elevada intensidade em 
recursos naturais e baixa qualidade institucional e pequenas evidências relacionadas à 
acumulação de capital físico e humano e à taxa de poupança. 
De maneira geral, os trabalhos econométricos utilizaram como variável 
dependente na maioria dos casos a participação do emprego industrial no emprego total 
(Rowthorn e Ramaswamy, 1997 e 1999; Rowthorn e Coutts, 2004; Palma, 2005). 
Dasgupta e Singh (2006), por sua vez, utilizaram a taxa de crescimento do PIB, tal 
como a abordagem de Kaldor (1966), e a taxa de crescimento da produtividade. 
Rowthorn e Ramaswamy (1997), além de apresentarem dados que mostram que 
a produtividade do setor manufatureiro dos países industrializados entre 1960 e 1994 foi 
 
8
 Shaffaeddin (2006) avalia que nas economias em que o setor manufatureiro se expandiu excessivamente 
em relação a suas vantagens comparativas em decorrência de serem economias fechadas, a 
desindustrialização é justificável desde que seja transitória, aumente a eficiência e promova o 
crescimento. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
8 
 
mais de duas vezes superior do que a dos serviços, os autores estimam que 60% da 
desindustrialização verificada neste período decorreram do diferencial de 
produtividade
9
. 
Em Bonelli e Pessoa (2010) a desindustrialização foi avaliada a partir da 
participação da indústria como percentagem do PIB, enquanto que Souza (2009) discute 
se o Brasil sofre de doença holandesa por meio da realização de três estudos empíricos 
relacionando o preço das commodities com a taxa real de câmbio, exportações e 
produção industrial. 
A existência das curvas em forma de ―U invertido‖ foi um resultado encontrado 
por Rowthorn e Ramaswamy (1997), Rowthorn e Coutts (2004) e Palma (2005), sendo 
que este último destaca que essa relação não é estável ao longo do tempo e segue uma 
tendência de declínio. As ―curvas U invertidas‖ estimadas para a década de 60 estão 
num nível mais elevada que as curvas dos anos 1970, que estão num nível mais elevado 
que as curvas dos anos 1980 e assim sucessivamente. Isso evidencia a queda da renda 
per capita do ponto de inflexão da curva ―U invertida‖. Este ponto, aliás, também foi 
salientado por Dasgupta e Singh (2006) e por Cruz e Santos (2009). 
Já com relação às variáveis explicativas, foram encontraram evidências de que o 
saldo da balança comercial afeta positivamente a participação de empregos industriais 
no emprego total (Rowthorn e Ramaswamy, 1999). As importações de manufaturados 
dos países em desenvolvimento, por seu turno, têm um efeito negativo, aprofundando o 
processo de desindustrialização, segundo as estimativas de Rowthorn e Ramaswamy 
(1999) e Rowthorn e Coutts (2004). Ademais, em ambos os trabalhos a formação bruta 
de capital fixo apresenta um efeito relevante e positivo, embora de magnitude variável. 
Rowthorn e Ramaswamy (1999) decompõem a desindustrialização desde os 
anos 1970. Para a maioria dos países, entre a metade e dois terços do declínio da 
participação do emprego industrial no emprego total decorreu do processo natural de 
crescimento econômico (mudanças comportamentais e diferenciais de produtividade e 
de preço). Conjuntamente com a elevada redução da participação da FBKF como 
proporção do PIB, que também apresentou uma considerável contribuiu para este 
processo, é possível inferir que a maior causa da desindustrialização adveio de fatores 
internos. 
Rowthorn e Coutts (2004) encontraram um resultado similar no que se refere à 
preponderância do crescimento econômico e investimento para explicar a 
desindustrialização. Os autores encontraram, por fim, indícios de um impacto positivo 
da balança comercial dos manufaturados e impacto negativo do grau de abertura da 
economia (exportações mais importações de produtos industrializados, como % do PIB) 
na explicação da participação do emprego industrial no emprego total. 
Bonelli (2005), por seu turno, calcula três indicadores que contribuem para a 
discussão do processo de mudança estrutural da economia brasileira. Em primeiro lugar, 
o autor calcula o somatório do quadrado da diferença das participações da indústria, 
serviços e agricultura entre os períodos selecionados e divide o resultado por 100. 
Assim, utilizando-se a composição do PIB a preços constantes de 1947, verifica-se que, 
 
9
 Um dos motivos aventados para explicar esse diferencial de produtividade é que a indústria é 
intrinsecamente um setor tecnologicamente progressivo na medida em que a produção pode ser 
rapidamente padronizada e, conseqüentemente, as informações requeridas no processo produtivo podem 
ser formalizadas em um conjunto de instruções facilmente replicáveis. Nos serviços a simples existência 
de enormes diferenças entre as atividades que o compõe já dificultam ganhos de produtividade para o 
setor como um todo. Ademais, serviços médicos, por exemplo, são dificilmente padronizados e, portanto, 
muito difíceis de serem ofertados em larga escala. Os serviços, portanto, são tecnologicamente 
estagnados. (Rowthorn e Ramaswamy 1997; 21). 
IV Encontro Internacional da AssociaçãoKeynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
9 
 
ao longo do século XX, a década de 40 foi aquela em que houve maior mudança 
estrutural e nos anos 90 foi obtido o menor índice. 
Posteriormente, destaca-se que houve uma considerável mudança no 
comportamento dos preços relativos entre a indústria e o restante da economia. Para 
tanto, Bonelli (2005) calcula a razão entre o deflator da indústria de transformação e o 
deflator do PIB, sendo o quociente de 2003 utilizado como data base. Assim, depois de 
atingir a marca de quase 1,3 na década de 1980, o que sinaliza um inequívoco 
encarecimento relativo dos produtos industrializados, essa razão apresenta uma 
trajetória predominantemente descendente até o ano de 2005, ficando abaixo de uma 
unidade desde 1995, representando, portanto, um barateamento dos produtos industriais. 
Por fim, o autor também apresenta evidências de que os ganhos de produtividade 
e a informalidade no mercado de trabalho contribuíram para a redução da participação 
da indústria no PIB. No que concerne ao primeiro ponto, Bonelli (2005) chama atenção 
para a elevada volatilidade da produtividade industrial entre os anos de 1986 e 2005 e 
seu forte crescimento a partir dos anos 90. Adicionalmente, o autor associa este 
desempenho à trajetória de variação da própria produção, identificando um caráter pró-
ciclico da produtividade para taxas de crescimento do nível de produção a partir de um 
determinado nível (isto é, evidências a favor da lei de Verdoorn na indústria). 
Já com relação à população empregada na indústria, o autor destaca a elevada 
informalização tanto neste setor quanto na economia como um todo. Entretanto, a queda 
da participação relativa da indústria tanto no emprego formal quanto na ocupação 
(formal e informal) parecem ter se estabilizado a partir de 1998. Ademais, a comparação 
entre os as décadas de 60 e 90, a partir dos Censos Demográficos, indica que neste 
período houve aumento da participação do emprego industrial no emprego total, o que 
permite inferir que a desindustrialização está limitada ao período posterior a 1990. 
O conceito de desindustrialização relativa ou restrita a alguns setores foi 
introduzido por Feijó et al (2005), haja vista que a indústria como um todo praticamente 
não alterou sua participação no PIB entre 1991 e 2003 (de 22% para 23%), a despeito de 
ter perdido dois pontos percentuais com relação à participação do emprego. A 
decomposição do valor adicionado da indústria entre 1991 e 2003 mostra que houve 
uma maior concentração em um número menor de setores e a partir do cruzamento deste 
indicador com a participação percentual do emprego, os autores afirmam que as 
indústrias têxtil, de fabricação de aparelhos e equipamentos de material elétrico e de 
fabricação de aparelhos e equipamentos de material eletrônico sofreram um processo de 
desindustrialização, pois apresentaram queda relativa sob ambas as perspectivas. 
Feijó et al (2005) também apresentam a contribuição de cada setor para o 
crescimento do produto industrial. Setores intensivos em recursos naturais – química, 
metalúrgica e siderúrgica e de papel e gráfica (cadeia de produção da celulose) – 
apresentaram crescimento em sua contribuição para o aumento do produto. Já a 
observação da produtividade entre 1990 e 2003 mostra que apenas três setores 
apresentaram variação negativa – fabricação de calçados e de artigos de couro e peles, 
fabricação de artigos do vestuário e acessórios e indústria de transformação de material 
plástico. 
Por fim, a avaliação da estrutura industrial por intensidade tecnológica, embora a 
classificação empregada pelos autores difira daquela usualmente utilizada pela OCDE, 
aponta que os setores de alta intensidade aumentaram sua participação no valor 
adicionado da indústria de transformação, em contraste com as atividades de baixa 
tecnológica, que apresentaram redução. Feijó et al (2005) destacam, contudo, que esta 
evidência deve ser vista com cautela, pois somente o setor de refino de petróleo foi a 
atividade que alavancou o crescimento da indústria de alta intensidade tecnológica. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
10 
 
Ademais, é possível inferir, portanto, que a desindustrialização, de acordo com os 
indicadores acima, foi restrita a alguns setores da indústria. 
O trabalho de Dasgupta e Singh (2006) procura avaliar a desindustrialização a 
partir da ótica kaldoriana. Os dados reportados pelos autores para o caso do Brasil 
mostram que a diferença entre a taxa de crescimento do setor manufatureiro e a taxa de 
crescimento do PIB se torna negativa já a partir dos anos 80, concomitantemente a um 
hiato positivo com relação ao setor de serviços (exceção feita ao período 1993-2003 em 
que essa diferença foi ligeiramente negativa). 
As estimativas econométricas consistiram em regredir a taxa de crescimento do 
PIB contra a taxa de crescimento da indústria, serviços e agricultura, tal como no 
trabalho seminal de Kaldor (1966) apresentado anteriormente, a partir de dados em 
cross section para 48 países para o período 1990-2000. Além disso, também foram 
estimadas regressões tendo a taxa de crescimento da produtividade da economia como 
variável dependente e a taxa de crescimento do valor adicionado na indústria e serviços, 
além de variáveis relativas ao emprego. Os resultados apontaram que o dinamismo da 
economia advém em proporções semelhantes tanto das manufaturas quanto dos 
serviços. 
Nassif (2008), a partir de algumas evidências de que houve aumento da 
produtividade na indústria nos anos 1990
10
 e face ao fato de que a perda de participação 
da indústria de transformação no PIB ocorreu antes das reformas estruturais ocorridas 
naquela década, afirma que não há indícios de desindustrialização no Brasil. 
Ademais, o autor não verifica também a possibilidade de ter ocorrido uma nova 
doença holandesa, tal como sugerido por Palma (2005) – as medidas liberalizantes e as 
políticas macroeconômicas a elas associadas tendem a valorizar a taxa de câmbio, 
culminando numa mudança no padrão de especialização internacional, o que torna a 
pauta exportadora mais concentrada em produtos de baixo valor agregado. Para tanto, 
Nassif (2008) verifica, a partir dos dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE, 
que: (i) houve um considerável aumento do segmento de refino de petróleo no valor 
adicionado da indústria total (VA) e que este fato decorre do progresso tecnológico de 
um ramo produtivo; (ii) os grupos industriais intensivos em trabalho diminuíram suas 
participações no VA entre 1996 e 2004; (iii) não houve alteração substancial na 
participação dos setores industriais com tecnologias intensivas em escala e baseadas em 
ciência entre aqueles anos. 
Por fim, apesar de este trabalho estar voltado para os resultados empíricos sobre 
desindustrialização e doença holandesa, é necessário apresentar o texto clássico de 
Corden e Neary (1982). Nele é desenvolvido um modelo para uma pequena economia 
aberta que produz dois bens comercializáveis – ―energia‖ e ―manufaturas‖ –, cujos 
preços são determinados exogenamente, e um terceiro bem não-comercializável – 
―serviços‖ – dado pelo equilíbrio entre oferta e demanda domésticas. O objetivo do 
artigo é avaliar o efeito de um boom no setor de energia sobre a distribuição funcional 
da renda e sobre o tamanho e a rentabilidade do setor de manufaturas. 
Em linhas gerais, o ajuste da economia após o boom resulta na 
desindustrialização (queda da participação das manufaturas) tanto em termos de 
emprego quanto em termos de produto, apresentando ainda uma deterioração da balança 
comercial.Adicionalmente, como a taxa de câmbio real é dada nessa modelagem como 
 
10
 É importante destacar que o autor calcula a produtividade na indústria a partir do quociente produção 
industrial física/pessoal empregado no setor manufatureiro (dados da PIM-IBGE) e por meio da razão 
valor agregado industrial/pessoal ocupado (dados da PIA-IBGE). Chama atenção que estes indicadores 
sinalizaram para direções opostas a partir de meados dos anos 90: pela PIM verifica-se aumento de 
produtividade, enquanto que pela PIA, redução. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
11 
 
a razão entre os não-comercializáveis sobre os comercializáveis, verifica-se uma 
apreciação cambial, haja vista o aumento do preço relativo dos serviços vis-à-vis os 
demais bens. Os autores destacam, entretanto, que o relaxamento de algumas hipóteses 
implica na reversão de alguns destes resultados, embora haja a predominância do efeito 
negativo do boom sobre a manufatura. 
 
4. Análise descritiva do Brasil 
4.1 Indústria e PIB 
Conforme mencionado, existem fortes evidências a respeito da existência de 
uma curva em forma de U invertido com relação à participação da indústria no produto 
vis-à-vis a evolução da renda per capita. Um dos principais pontos destacados pela 
literatura é o patamar de renda em que ocorre o ponto de inflexão (turning point). 
Como mostra o Gráfico 2, a indústria atingiu sua maior participação (35,9%) no 
produto em 1985. A despeito das mudanças metodológicas que ocorreram nos anos 
1990 e 1995
11
, cujos efeitos sobre a indústria foram elevados, é possível constatar uma 
tendência predominantemente declinante da relação indústria/PIB. Em 2008, último ano 
para o qual há estatística oficial disponível, foi atingindo o patamar de 16,6%
12
. 
 
Gráfico 2 – Participação da indústria de transformação no PIB – custo de fatores e 
preços básicos (em %) 
PIB per capita (preços de 
2000) - US$ 3.374
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
19
47
19
49
19
51
19
53
19
55
19
57
19
59
19
61
19
63
19
65
19
67
19
69
19
71
19
73
19
75
19
77
19
79
19
81
19
83
19
85
19
87
19
89
19
91
19
93
19
95
19
97
19
99
20
01
20
03
20
05
20
07
20
09
 
Fonte: IBGE, Ipeadata e UNCTAD. Elaboração do autor. 
 
11
 Como destacam Bonelli e Pessoa (2010), as fortes reduções ocorridas entre 1989 e 1990 e entre 1994 e 
1995 são fruto das mudanças nos sistema de Contas Nacionais do Brasil ocorridas nestes anos. Para 
contornar este problema, os autores reconstruíram uma ―nova série‖ de PIB a partir da qual ainda se 
verifica uma queda na participação da indústria no PIB, mas em proporção muito menor do que a 
reportada no gráfico. Contudo, o ponto que queremos destacar – o nível de renda per capita associada ao 
turning point – não foi alterado. 
12
 Tendo em vista que o IBGE somente divulga os dados definitivos das contas nacionais de um 
determinado ano T em novembro de T+2, o Ipeadata faz uma estimativa dos dados agregados a partir das 
contas nacionais trimestrais, divulgadas pelo IBGE após 60 ou 70 dias do término do trimestre. Assim 
sendo, os dados relativos a 2009 e 2011, reportados no Gráfico 2, foram calculados por esta referida fonte 
e apontam para uma participação da indústria de transformação no PIB de 15,81% e 15,75%, 
respectivamente. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
12 
 
A preços de 2000, o PIB per capita brasileiro em 1985 (US$ 3.374) está abaixo 
do verificado em outros países. Valendo-se dos agrupamentos propostos pela 
UNCTAD, verificamos que a participação da indústria no PIB brasileiro passa a ser 
decrescente em um nível de PIB per capita inferior ao verificado para os países em 
desenvolvimento de alta renda quando estes atingiram o turning point (US$ 6.478 em 
1988). O mesmo é válido para os emergentes asiáticos (US$ 3.963 em 1988), para os 
emergentes das Américas (US$ 4.167 em 1988) e para os chamados newly 
industrialized economies de 1ª geração (US$ 7.195)
13
. 
A partir das Contas Nacionais Trimestrais, cujos dados estão disponíveis a partir 
de 1996, observamos um resultado análogo ao destacado anteriormente. Por meio da 
avaliação da média móvel em quatro trimestres, averiguamos que a participação da 
indústria no PIB apresentou tendências distintas e bem definidas. Afora um leve 
aumento nos trimestres iniciais, a indústria perde quase dois pontos percentuais no PIB 
entre o terceiro trimestre de 1997 e o primeiro de 1999, de 15,4% para 13,6%. Como se 
sabe, é justamente neste último trimestre que se encerra o regime de câmbio semi-fixo, 
prevalecente desde 1994. 
 
Gráfico 3 - Participação da indústria de transformação no PIB - preços correntes (em %) 11%
12%
13%
14%
15%
16%
17%
18%
19
96
.I
19
96
.III
19
97
.I
19
97
.III
19
98
.I
19
98
.III
19
99
.I
19
99
.III
20
00
.I
20
00
.III
20
01
.I
20
01
.III
20
02
.I
20
02
.III
20
03
.I
20
03
.III
20
04
.I
20
04
.III
20
05
.I
20
05
.III
20
06
.I
20
06
.III
20
07
.I
20
07
.III
20
08
.I
20
08
.III
20
09
.I
20
09
.III
20
10
.I
20
10
.III
Ind. de Transf. Ind. de Transf. (média móvel - 4 trim)
 
Fonte: IBGE. Elaboração do autor. 
 
A partir desta data até o 1º trim/2001 a indústria passa a ganhar participação no 
PIB, retornando ao patamar verificado em 1997. Contudo, o processo é interrompido, 
sobretudo, por conta do racionamento de energia que teve início naquele ano. Após um 
comportamento errático até o final de 2002, a indústria inicia um processo pujante de 
crescimento como proporção do PIB, atingindo o recorde neste recorte temporal de 
 
13
 O grupo de países em desenvolvimento de alta renda contempla as seguintes nações: Argentina, Chile, 
China (Hong Kong, Macao e Taiwan), Coréia do Sul, Singapura, Uruguay, Venezuela e outros 32 países. 
Os emergentes asiáticos são compostos de China (Taiwan), Coréia do Sul, Malásia, Singapura e 
Tailândia. Já os emergentes das Américas contém as seguintes economias: Argentina, Brasil, Chile, 
México e Peru. Por fim, os chamados newly industrialized economies de 1ª geração são formados por 
China (Hong Kong e Taiwan), Coréia do Sul e Singapura. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
13 
 
16,5% no início de 2005. Contudo, a partir deste ano até o presente momento há uma 
inequívoca tendência de queda nessa relação, muito embora haja indícios de reversão 
dessa trajetória após o terceiro trimestre de 2009, momento no qual os efeitos da crise 
financeira internacional foram mais sensíveis. Não obstante, no terceiro trimestre de 
2010 a indústria representa 13,7% do PIB, isto é, um nível praticamente igual ao 
prevalecente no período de adoção do regime de câmbio flexível. 
Todavia, entendemos não ser adequado – nem desejável – inferir exclusivamente 
a partir dos dados acima que o Brasil esteja passando por um processo de 
desindustrialização ou de doença holandesa que comprometa o desenvolvimento 
econômico. Para tanto, é necessário observar, entre outros, a questão da produção, 
emprego e produtividade de maneira desagregada. 
 
4.2 Produção, emprego e produtividade na indústria 
Estae a próxima seção estão voltadas à análise intra-industrial, haja vista que a 
avaliação da indústria vis-à-vis os outros macro-setores (seção 4.1) aponta, 
inequivocamente, para a redução da participação da indústria como proporção do PIB. 
Contudo, é necessário avaliar com mais detalhe a composição da indústria, na medida 
em que a redução na relação indústria/PIB não necessariamente significa algo ruim e/ou 
a ser evitado e necessariamente ligado ao nível da taxa de câmbio. 
Doravante, utilizaremos a taxonomia da OCDE para avaliar a evolução da 
indústria brasileira. Com base na International Standard Industrial Classification (ISIC) 
of All Economic Activities, Rev.3.1, a OCDE classifica as atividades industriais em 
quatro categorias: baixa, média-baixa, média-alta e alta intensidade tecnológica
14
. 
A adequação desta classificação aos dados brasileiros é direta, haja vista que há 
uma correspondência unívoca entre a ISIC Rev. 3.1 e a Classificação Nacional de 
Atividades Econômicas (CNAE) 1.0. Isso requer, portanto, que os indicadores avaliados 
nesta seção (produção, emprego e produtividade do trabalho) e na próxima (exportação 
e importação) estejam classificados de acordo com a CNAE 1.0. 
No que concerne à evolução da produção/emprego/produtividade, utilizaremos 
os dados anuais das Contas Nacionais (CN) calculados pelo Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE), por um lado, e os indicadores da Produção Industrial 
Mensal – Produção Física (PIM-PF), os dados do Cadastro Geral de Empregados e 
Desempregados (CAGED) e os índices da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e 
Salários (PIMES), por outro. A PIM-PF e a PIMES também são calculadas e divulgadas 
pelo IBGE. Já o CAGED é apurado pelo Ministério do Trabalho e Emprego. 
Justifica-se a utilização de dados da CN por motivos evidentes: trata-se das 
próprias contas nacionais do país. Já a PIM-PF representa uma mensuração preliminar 
da taxa de variação do setor industrial no PIB. O CAGED e a PIMES são indicadores 
que permitem avaliar o comportamento da produtividade do trabalho. Ademais, a partir 
do primeiro é possível discutir a distribuição do emprego formal sob o regime da 
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) dentro da indústria e vis-à-vis o resto da 
economia. Já a PIMES é usualmente utilizada no cálculo da produtividade do trabalho a 
partir da evolução do pessoal ocupado/horas pagas na indústria. 
Para facilitar a análise, subdividiremos esta seção em duas partes, de acordo com 
as fontes de dados utilizadas. 
 
 
14
 A despeito de reconhecermos que esta agregação apresenta alguns problemas – por exemplo, algumas 
atividades consideradas como de alta intensidade tecnológica nos países da OCDE apresentam baixo 
valor agregado no Brasil – julgamos essa taxonomia pertinente, haja vista sua ampla utilização e de fácil 
comparação internacional. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
14 
 
4.2.1 Produção, emprego e produtividade do trabalho na indústria – 
Contas Nacionais 
A atual metodologia das contas nacionais, denominada de nova série das contas 
nacionais – referência 2000, foi a primeira a publicar seus resultados de forma 
compatível com a CNAE 1.0. Por este motivo, só é possível realizar a análise dentro da 
indústria de transformação a partir do ano 2000, primeiro ano disponível na nova série 
das contas nacionais – referência 2000. 
Como pode ser visto na tabela 1, a participação dos produtos industriais de baixa 
tecnologia caiu pouco mais de 3% no valor adicionado bruto (VAB) da indústria de 
transformação entre 2000 e 2008 (preços constantes de 2008). Os bens classificados 
como de média-baixa tecnologia, por seu turno, mantiveram sua participação em torno 
praticamente inalterada ao longo destes nove anos. Já os produtos de média-alta e de 
alta intensidade tecnológica aumentaram sua relevância no VAB em pouco mais 3 p.p. 
no primeiro caso e 0,6 p.p. no segundo. 
 
Tabela 1 – Composição do valor adicionado bruto da indústria de transformação a preços constantes 
de 2008, segundo intensidade tecnológica - 2000-2008 – em % 
 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 
Baixa 40,8 41,1 41,5 40,4 39,6 39,5 39,6 38,3 37,4 
Média-Baixa 27,7 27,8 26,9 27,1 27,3 26,9 26,7 26,7 26,9 
Média-Alta 23,1 22,6 22,7 23,6 24,9 24,9 25,0 26,2 26,3 
Alta 8,8 8,1 8,3 8,1 8,1 8,5 8,8 8,8 9,4 
Memo: Indústria/PIB 17,2 17,1 16,9 18,0 19,2 18,1 17,4 17,0 16,6 
Fonte: Contas Nacionais, IBGE. Elaboração do autor. 
 
Com relação ao emprego na indústria verificamos que não houve uma perda de 
participação da indústria de transformação no volume total empregado. Adicionalmente, 
houve uma alteração na composição do emprego no sentido de aumento da participação 
de pessoal empregado nos grupos de maior intensidade tecnológica. Os produtos de 
baixa tecnologia reduziram sua participação em aproximadamente 3% no período vis-à-
vis uma elevação de 1% nos produtos de média-baixa, 1,5% nos de média-alta e de 
0,5% nos de alta tecnologia (tabela 2). 
 
Tabela 2 – Composição do emprego na indústria de transformação e 
participação do emprego na indústria de transformação sobre o emprego total, 
segundo intensidade tecnológica - 2000-2008 – em % 
 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 
Baixa 66,6 66,8 66,6 66,8 66,3 66,5 65,8 64,6 63,6 
Média-Baixa 17,3 17,2 17,2 16,7 16,7 17,1 17,1 17,7 18,4 
Média-Alta 12,3 12,3 12,3 12,7 13,0 12,5 13,0 13,5 13,8 
Alta 3,8 3,7 3,8 3,8 4,0 3,9 4,1 4,2 4,2 
Emprego industrial/emprego total 12,0 11,8 11,7 11,9 12,2 12,8 12,5 12,8 13,0 
Fonte: Contas Nacionais, IBGE. Elaboração do autor. 
 
Por fim, a produtividade do trabalho foi calculada a partir da razão entre o valor 
adicionado bruto, a preços constantes de 2008, sobre o pessoal total empregado. Para 
facilitar a análise, criamos números índices tendo como ano base 2000 e calculamos 
também a produtividade dos macro-setores da economia a fim de compará-los com a 
indústria. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
15 
 
Ao contrário do verificado no que concerne à composição do VAB e do 
emprego, todos os setores da indústria de transformação apresentaram queda de 
produtividade. A redução mais proeminente foi do grupo de média-baixa intensidade 
tecnológica, cuja queda foi de mais de 12 p.p. no período. 
A agropecuária, por sua vez, apresentou um forte aumento de produtividade 
(47,2%), sendo, portanto, a grande responsável pelo ligeiro aumento de produtividade 
da economia como um todo (8,6%), haja vista que os serviços apresentaram um 
aumento tênue de pouco mais de 4p.p. entre 2000 e 2008. 
 
Tabela 3 – Evolução da produtividade, segundo intensidade tecnológica e 
macro-setores (2000 = 100) - 2000-2008 
 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 
Baixa 100,0 102,7 103,1 98,6 97,5 91,0 93,2 93,6 92,1 
Média-Baixa 100,0 103,5 98,9 101,4 102,6 92,5 92,7 91,0 87,8 
Média-Alta 100,0 100,8 100,1 99,2 102,4 99,9 97,9 100,3 98,0 
Alta 100,0 95,3 94,8 90,6 86,7 87,3 87,7 86,8 92,8 
 
Agropecuária 100,0 110,5 114,7 119,3 114,2 113,9 123,1 134,9 147,2 
Indústria 100,0 100,0 98,6 98,9 100,0 95,8 97,7 98,7 96,9 
Indústria de transformação 100,0 102,2 101,5 99,9 100,1 93,8 95,0 96,6 96,1 
Indústria extrativa 100,0 102,7 108,3 111,5 107,1 116,5 123,7 118,0 122,1 
Serviços 100,0 98,9 97,8 96,7 97,8 98,7 97,6 101,0 104,4 
Total 100,0 100,7 100,0 99,5 100,1 100,0 101,1 105,3 108,6 
Fonte: Contas Nacionais, IBGE. Elaboração do autor. 
 
Isto posto, a partir dos dados das CN, julgamos não ser possívelafirmar que a 
indústria brasileira esteja passando por um processo inequívoco de primarização ou 
especialização em setores de baixo conteúdo tecnológico. Embora os dados reportados 
nesta seção não apontem de forma unívoca para esta conclusão, a composição do valor 
adicionado e do emprego se deu, em alguma medida, em prol dos bens de maior 
intensidade tecnológica. 
Ademais, a relevante queda da produtividade da indústria deve ser avaliada com 
cautela, haja vista que ela foi decorrente de uma evolução mais favorável do emprego 
do que do valor adicionado e não fruto de uma retração generalizada deste setor. 
Tomando como exemplo o caso da indústria de transformação, observamos que entre 
2000 e 2008 o VAB cresceu em termos reais 26,7%. Como a variação do emprego foi 
ligeiramente superior (31,9%), a produtividade do trabalho necessariamente tem que 
apresentar uma queda. 
 
4.2.2 Produção, emprego e produtividade do trabalho na indústria – PIM-
PF, PIMES e CAGED 
A PIM-PF é uma pesquisa que produz indicadores conjunturais acerca da 
evolução da produção física da indústria. Estão disponíveis dados mensais desde janeiro 
de 1991 de acordo com diversas agregações. Para os nossos propósitos, foram utilizados 
os índices de acordo com a CNAE 1.0 (indústria geral, indústrias extrativas, indústrias 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
16 
 
de transformação e divisões e grupos desta última), além dos índices relativos a alguns 
sub-setores industriais
15
. 
Para reagrupar os indicadores de acordo com a taxonomia do OCDE utilizamos 
os pesos de cada atividade, tal como consta na metodologia da pesquisa. Sabemos, 
contudo, que os dados da PIM-PF são índices de Laspeyres com atualização de pesos, 
de modo que estes variam, mesmo que em pequena magnitude, a cada mês. Entretanto, 
como os pesos mensais não são divulgados, essa estratégia de agrupamento se mostrou 
a mais adequada
16
 e com um razoável grau de ajuste aos dados agregados
17
. 
A produção física segundo intensidade tecnológica foi calculada com base no 
índice de base fixa mensal sem ajuste sazonal. Logo, para evitar os problemas relativos 
à sazonalidade, calculamos a média móvel em 12 meses e estabelecemos dez/1995 = 
100. 
 
Gráfico 4 – Produção industrial, segundo intensidade tecnológica – média móvel em 12 
meses (dez/1995 = 100) 
Baixa
Média-Baixa
Média-Alta
Alta
80
90
100
110
120
130
140
150
160
170
180
de
z/9
5
ab
r/9
6
ag
o/9
6
de
z/9
6
ab
r/9
7
ag
o/9
7
de
z/9
7
ab
r/9
8
ag
o/9
8
de
z/9
8
ab
r/9
9
ag
o/9
9
de
z/9
9
ab
r/0
0
ag
o/0
0
de
z/0
0
ab
r/0
1
ag
o/0
1
de
z/0
1
ab
r/0
2
ag
o/0
2
de
z/0
2
ab
r/0
3
ag
o/0
3
de
z/0
3
ab
r/0
4
ag
o/0
4
de
z/0
4
ab
r/0
5
ag
o/0
5
de
z/0
5
ab
r/0
6
ag
o/0
6
de
z/0
6
ab
r/0
7
ag
o/0
7
de
z/0
7
ab
r/0
8
ag
o/0
8
de
z/0
8
ab
r/0
9
ag
o/0
9
de
z/0
9
ab
r/1
0
ag
o/1
0
de
z/1
0
 
Fonte: IBGE. Elaboração do autor. 
 
Ao contrário do verificado a partir das contas nacionais, observamos que os 
setores de média-alta e alta tecnologia apresentaram maior taxa de crescimento no 
 
15
 Como o objetivo do trabalho é avaliar a o comportamento intra-industrial segundo intensidade 
tecnológica, utilizamos os índices da PIM-PF que correspondem às divisões e grupos classificados pela 
OCDE. Neste sentido, foi necessário recorrer a quatro índices sub-setoriais - Construção de embarcações, 
inclusive reparação, Construção e montagem de vagões ferroviários, inclusive reparação, Construção e 
montagem de aeronaves, inclusive reparação e Outros veículos e equipamentos de transporte. Estes sub-
setores correspondem, respectivamente, aos grupos 351, 352, 353 e 359 da CNAE 1.0. 
16
 De Negri, Alvarenga e Santos (2009) agruparam os índices da PIM-PF de acordo com a intensidade 
tecnológica segundo a OCDE utilizando como peso a participação percentual de cada setor no valor bruto 
da produção de sua respectiva categoria com base nos dados da Pesquisa Industrial Anual de 2007. 
17
 O índice de produção física da indústria geral é igual à soma do índice da indústria de transformação e 
da indústria extrativa ponderada por seus respectivos pesos. Analogamente, o somatório dos índices das 
atividades que compõem a indústria de transformação ponderada por seus respectivos pesos é igual ao 
próprio índice da indústria de transformação. Todavia, embora estes pesos sejam atualizados 
mensalmente, o IBGE não os divulga. Assim, optamos por utilizar os pesos que constam na metodologia 
da pesquisa (IBGE 2004). Esta aproximação, contudo, se mostrou razoável, haja vista que entre jan/2002 
e dez/2010 o somatório dos erros para o índice geral é igual a -0,03 e para a indústria de transformação é -
0,40. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
17 
 
período sob análise (dez/1995 a dez/2010). Enquanto que com aquela base de dados os 
produtos de alta tecnologia reduziram levemente sua participação no total produzido, 
por meio da PIM-PF verificamos que este grupo cresceu 40,5%, acima de média-baixa 
(27,5%) e baixa (12,8%). Os produtos industriais de média-alta tecnologia cresceram 
70%, retornando ao patamar verificado pré-crise financeira internacional. Estes 
resultados, por seu turno, novamente vão de encontro à tese de que o Brasil esteja 
passando por um processo de desindustrialização nocivo ao crescimento econômico de 
longo prazo. 
Vale destacar ainda que a crise afetou sobremaneira os produtos de média-alta 
tecnologia, enquanto que os bens classificados como de baixa intensidade apresentaram 
uma pequena redução. Isso possivelmente está relacionado ao mercado consumidor 
destes produtos, isto é, se estes produtos são vendidos predominantemente no mercado 
doméstico ou externo. Retornaremos a este ponto na seção 4.3. 
Já com relação aos indicadores relativos ao emprego, apresentaremos 
inicialmente os dados do CAGED. Como mencionado na introdução deste trabalho, a 
utilização dos dados do estoque formal de emprego (CLT) representam uma 
contribuição à literatura sobre desindustrialização, haja vista que se trata de uma série 
inédita que teve de ser construída a partir dos dados disponíveis no sítio do MTE
18
. 
Embora não seja recomendável avaliar a dinâmica industrial desconsiderando a 
informalidade, verifica-se na tabela 4 uma grande estabilidade na distribuição do 
emprego celetista no país desde 1996. O grupo denominado de ―outros‖, composto 
majoritariamente pelo setor de serviços, foi o único que apresentou aumento em sua 
participação no emprego formal total, embora de magnitude reduzida (pouco superior a 
4%). No que concerne à indústria de transformação vis-à-vis o total de emprego, esta 
apresentou uma leve redução, ligeiramente inferior a 2%. Já com relação à composição 
do emprego industrial segundo intensidade tecnológica, verificamos uma estabilidade 
ainda maior e indícios de que, sob esta ótica, a tese da desindustrialização e/ou 
especialização regressiva em setores de baixo valor agregado não encontra respaldo. 
Com efeito, o setor de baixa tecnologia reduz sua participação no total de emprego 
formal no período em apenas 1,5%, enquanto que no extremo oposto verificamos que o 
emprego nos setores de alta tecnologia manteve sua (reduzida) participaçãoestável. 
Com relação ao emprego/horas trabalhadas na indústria, utilizamos outras duas 
fontes de dados. A partir da PIMES são gerados números índices conjunturais acerca da 
evolução do pessoal ocupado e das horas pagas na indústria. Os dados estão disponíveis 
desde dezembro de 2000 e também são desagregados pela CNAE 1.0. Porém, o nível de 
desagregação da PIMES difere daquela utilizada na PIM-PF, o que inviabiliza avaliar a 
evolução do pessoal ocupado e das horas pagas segundo os critérios de intensidade 
tecnológica da OCDE
19
. 
 
18
 Para a construção das séries foi necessário a compatibilização da CNAE/95 e da CNAE 2.0 com 
relação à CNAE 1.0. Isso foi necessário porque os dados compreendidos entre janeiro de 1996 (primeiro 
dado mensal disponível) e dezembro de 2007 estão agrupados de acordo com CNAE/95, enquanto que 
entre janeiro de 2008 e dezembro de 2010 foi utilizado a CNAE 1.0. Contudo, para este último período, a 
agregação segundo grupo de atividade só está disponível de acordo com a CNAE 2.0, o que requereu a 
utilização das tabelas de correspondência entre todas as versões da CNAE. Por fim, vale dizer que essas 
bases do CAGED apresentam o fluxo de admissões e demissões em um determinado mês, de modo que 
foi necessário coletar o estoque de emprego em uma determinada data e adicionar/subtrair o saldo 
(admissões menos demissões) para construirmos as séries de estoque de emprego. 
19
 Por exemplo, na PIMES as divisões 31, 32 e 33 (Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais 
elétricos, Fabricação de material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de comunicações e Fabricação 
de equipamentos de instrumentação médico hospitalares, instrumentos de precisão e ópticos, 
equipamentos para automação industrial, cronômetros e relógios, respectivamente) estão agrupadas na 
atividade Fabricação de máquinas e aparelhos elétricos, eletrônicos, de precisão e de comunicação. Neste 
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18 
 
Tabela 4 - Composição do estoque de emprego formal, segundo intensidade tecnológica e 
demais setores (em %) 
 Indústria de Transformação 
Indústria 
Extrativa 
Agricultura¹ Outros 
Ano Baixa 
Média- 
Baixa 
Média- 
Alta 
Alta Reciclagem Total 
1996 12,9 5,4 4,5 1,0 0,1 23,8 0,5 6,5 69,1 
1997 12,4 5,4 4,5 1,0 0,1 23,4 0,5 6,5 69,7 
1998 12,1 5,2 4,3 0,9 0,1 22,6 0,5 6,2 70,7 
1999 12,4 5,2 4,2 1,0 0,1 22,9 0,5 5,8 70,8 
2000 12,5 5,3 4,3 1,0 0,1 23,2 0,5 5,6 70,8 
2001 12,4 5,3 4,3 1,0 0,1 23,0 0,5 5,5 71,0 
2002 12,4 5,3 4,3 0,9 0,1 23,0 0,5 5,4 71,1 
2003 12,4 5,2 4,2 0,9 0,1 22,9 0,5 5,6 71,0 
2004 12,8 5,4 4,4 1,0 0,1 23,5 0,5 5,7 70,3 
2005 12,4 5,3 4,3 1,0 0,1 23,1 0,5 5,1 71,2 
2006 12,3 5,3 4,3 1,0 0,1 23,0 0,6 5,0 71,5 
2007 12,2 5,4 4,4 1,0 0,1 23,1 0,6 4,8 71,6 
2008 11,8 5,4 4,4 1,0 0,1 22,7 0,6 4,6 72,1 
2009 11,6 5,2 4,1 1,0 0,1 21,9 0,6 4,4 73,1 
2010 11,4 5,2 4,2 1,0 0,1 21,9 0,6 4,1 73,4 
¹ Engloba, além da agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e pesca. 
Fonte: CAGED/TEM. Elaboração do autor. 
 
Para contornar este problema, verificamos junto ao IBGE a possibilidade de se 
desagregar a PIMES de forma compatível com a PIM-PF. Porém, como a pesquisa de 
emprego e salário é feita a partir de uma amostra probabilística, não é possível a geração 
de índices para os grupos e divisões pertencentes exclusivamente à PIM-PF. 
Entretanto, o IBGE disponibiliza em seu sítio na internet um indicador que 
realiza exatamente o oposto do desejado para os nossos objetivos: uma série de índices 
da PIM-PF compatível com a desagregação da PIMES. Por um lado, a existência de um 
indicador de produção ―ajustado‖ à PIMES é algo positivo, pois permite a avaliação da 
evolução da produtividade de maneira adequada e com um razoável grau de 
desagregação. Por outro, não permite avaliar a evolução da produtividade segundo a 
classificação de intensidade tecnológica da OCDE. 
Não obstante, reproduzimos nos gráficos 5 e 6 a evolução da produtividade 
somente para a indústria geral, indústria extrativa indústria extrativa e indústria de 
transformação
20
. Novamente, para evitar problemas relacionados ao efeito sazonal, 
apresentamos a média móvel em 12 meses e fixamos o número índice em dezembro de 
2002. 
 
caso, o entrave metodológico reside no fato de que a divisão 31 é classificada pela OCDE como de 
média-alta tecnologia, enquanto que as demais são consideradas como atividades de alta intensidade 
tecnológica. 
20
 É importante ressaltar que a estratégia de calcular a produtividade do trabalho por meio do quociente da 
PIM-PF com a PIMES acarreta num erro metodológico, mesmo que se objetive avaliar a evolução da 
indústria geral. Isso decorre do fato de que na PIM-PF a indústria de transformação não contempla a 
divisão 37 (Reciclagem), enquanto que a PIMES considera esta atividade. Deste modo, para avaliar a 
produtividade das indústria geral, extrativa e de transformação é necessário utilizar como numerador a 
PIM-PF compatível com a PIMES. 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
19 
 
Alguns aspectos chamam a atenção. Em primeiro lugar, tanto a partir da 
produtividade calculada a partir do pessoal ocupado quanto aquela apurada com a série 
de horas pagas, verificamos que a indústria geral está colada na série da indústria de 
transformação. Este fato está em linha com o observado a partir das contas nacionais na 
tabela 3 e é válido para toda a amostra reportada. 
Adicionalmente, constatamos que até outubro de 2008 era praticamente 
indiferente analisar a evolução da produtividade na indústria extrativa com qualquer um 
dos indicadores de emprego da PIMES. Porém, com a quebra do banco de investimento 
Lehman Brothers em setembro daquele ano, a produtividade verificada com as horas 
pagas caiu de maneira muito mais abrupta do que aquela obtida segundo o pessoal 
ocupado. Isso possivelmente decorreu do fato de que empresas extrativas ajustaram seus 
custos à crise financeira via redução da jornada de trabalho e não por meio da demissão 
de funcionários. 
Por fim, fato inconteste é que a partir do final de 2009 a trajetória de queda da 
produtividade, para todas as atividades industriais, sofre reversão e passa a aumentar 
continuamente. A partir de março de 2010 os indicadores de produtividade na indústria 
geral e na indústria de transformação são os maiores desde que existe a PIM compatível 
com a PIMES. 
 
Gráfico 5 – Produtividade na indústria – pessoal ocupado assalariado – média móvel 12 
meses (dez/2002 = 100) 
 
Fonte: IBGE. Elaboração do autor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
20 
 
Gráfico 5 – Produtividade na indústria – horas pagas – média móvel 12 meses 
(dez/2002 = 100) 
 
 
Fonte: IBGE. Elaboração do autor. 
 
Isto posto, o argumento de que a indústria do país esteja passando por um 
processo de empobrecimento fica ainda mais frágil. A estrutura do emprego formal 
industrial não se alterou nos últimos anos, mesmo no ano em que houve a deflagração 
da crise financeira internacional, e a produtividade na indústria de transformação nunca 
foi tão elevada. 
Contudo, é possível argumentar que esteja havendo um deslocamento das 
cadeias produtivas em função do aumento das importações. Outro sinal neste sentidoseria a mudança na composição das exportações com destaque para produtos de menor 
conteúdo tecnológico ou de bens não industriais. Estes pontos são discutidos na seção 
seguinte. 
 
4.2.3 Setor externo e a indústria 
Um fato indiscutível nos últimos anos é o aumento das exportações brasileiras 
em termos absolutos. Porém, a participação do Brasil no mercado externo aumentou 
apenas marginalmente, fruto, sobretudo, do aumento da renda mundial (Schettini, 
Squeff e Gouvêa, 2010). Aliado a este processo, verifica-se um aumento da participação 
de produtos não industriais, notadamente nos últimos três anos. 
Cabe destacar, adicionalmente, que nos produtos de alta tecnologia este 
fenômeno foi ainda mais forte, haja vista o patamar de 4,5% em 2010 é muito 
semelhante ao verificado em 1997 e muito inferior ao recorde do período de 12,1% em 
2000. Contudo, é importante ressaltar que este último valor, assim como o verificado 
nos dois anos seguintes, representam outliers em nossa amostra, haja vista que a média 
de participação dos produtos de alta intensidade tecnológica neste triênio (11,1%) é 
quase o dobro da verificada no triênio anterior (6,3%) e do que a apurada entre 2003 e 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
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21 
 
2010 (6,2%). É necessária, portanto, uma avaliação mais detalhada a respeito deste 
fenômeno destoante. 
 
Composição das exportações, segundo intensidade tecnológica - acumulado no ano 
(em %) 
Ano Baixa Média-Baixa Média-Alta Alta Outros 
1995 38,9 19,4 20,8 3,5 17,4 
1996 38,4 18,4 21,0 4,1 18,1 
1997 34,3 16,3 23,2 4,7 21,5 
1998 33,3 15,6 23,8 6,0 21,4 
1999 34,8 15,7 22,2 8,2 19,0 
2000 31,1 16,7 22,8 12,1 17,3 
2001 33,6 15,5 20,9 11,7 18,3 
2002 33,5 16,4 21,2 9,5 19,4 
2003 33,8 17,0 22,3 6,8 20,1 
2004 32,2 18,7 22,9 6,7 19,6 
2005 29,9 18,2 24,6 7,2 20,0 
2006 28,5 19,3 23,8 6,6 21,7 
2007 28,2 18,9 22,9 6,3 23,7 
2008 26,8 18,6 20,5 5,7 28,5 
2009 30,6 15,4 17,7 5,8 30,5 
2010 28,0 13,4 17,7 4,5 36,3 
Fonte: Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Elaboração do autor. 
 
Já a composição das importações apresenta um comportamento mais estável ao 
longo dos anos, embora existam algumas oscilações importantes. Estas se concentram, 
porém, nos produtos com conteúdo tecnológico, notadamente os de baixa intensidade, 
reduzindo sua participação, e os média-baixa intensidade, que representam 19% do total 
importado em 2010 vis-à-vis 13,2% em 1997. 
 
Composição das importações, segundo intensidade tecnológica - acumulado no ano 
(em %) 
Ano Baixa Média-Baixa Média-Alta Alta Outros 
1995 15,2 13,3 38,7 16,7 16,2 
1996 14,5 13,4 35,8 18,6 17,7 
1997 13,1 13,2 39,1 19,5 15,0 
1998 12,7 12,8 41,1 20,3 13,1 
1999 10,4 13,2 41,0 23,4 12,0 
2000 9,2 15,6 37,8 24,8 12,6 
2001 7,6 14,8 40,8 24,2 12,6 
2002 8,2 14,0 41,5 21,5 14,9 
2003 7,5 14,0 40,8 21,1 16,6 
2004 6,9 13,7 39,3 22,2 17,8 
2005 6,7 14,3 38,7 23,1 17,1 
2006 7,1 15,8 36,6 23,2 17,2 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
22 
 
2007 7,3 16,5 38,3 21,5 16,5 
2008 6,7 17,0 39,7 19,9 16,7 
2009 8,3 14,6 41,4 22,1 13,6 
2010 7,8 18,8 40,6 20,3 12,5 
Fonte: Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Elaboração do autor. 
 
Por fim, no que concerne ao saldo comercial, a tabela a seguir apresenta alguns 
dados interessantes. Sob uma ótica mais ampla, verificamos que o saldo comercial 
(coluna G) apresentou uma tendência de melhora contínua entre 1995 e 2006, 
resultando no maior valor histórico neste último ano. Isto ocorreu pari passu a 
tendência de reversão nos déficits comerciais da indústria como um todo (coluna E), 
embora esta tenha apresentado superávit apenas a partir de 2002. Porém, o que chama 
mais a atenção, ainda em termos mais agregados, é o fato de que o saldo da indústria 
com conteúdo tecnológico volta a ser deficitário já em 2008, atingindo o saldo negativo 
de US$ 30,3 bilhões em 2010. 
 
Saldo comercial, segundo intensidade tecnológica - acumulado no ano 
(em US$ milhões) 
Ano 
Indústria 
Outros 
(F) 
Saldo 
(G = 
E+F) 
Baixa 
(A) 
Média-
Baixa 
(B) 
Média-
Alta 
(C) 
Alta 
(D) 
Indústria de 
transformação 
(E = 
A+B+C+D) 
1995 10.523 2.394 (9.651) (6.731) (3.465) (1) (3.466) 
1996 10.633 1.661 (9.093) (8.000) (4.799) (800) (5.599) 
1997 10.327 733 (11.054) (9.193) (9.187) 2.423 (6.765) 
1998 9.689 593 (11.573) (8.665) (9.956) 3.332 (6.624) 
1999 11.611 1.007 (9.561) (7.592) (4.534) 3.246 (1.289) 
2000 11.999 484 (8.550) (7.201) (3.269) 2.537 (732) 
2001 15.382 811 (10.487) (6.680) (975) 3.660 2.685 
2002 16.414 3.300 (6.802) (4.403) 8.509 4.687 13.196 
2003 21.075 5.724 (3.379) (5.207) 18.213 6.664 24.878 
2004 26.787 9.421 (2.551) (7.527) 26.130 7.712 33.842 
2005 30.517 11.027 727 (8.475) 33.795 11.134 44.929 
2006 32.752 12.159 (615) (12.044) 32.252 14.205 46.457 
2007 36.571 10.535 (9.379) (15.881) 21.846 18.187 40.033 
2008 41.442 7.360 (28.137) (23.118) (2.453) 27.410 24.958 
2009 36.088 4.925 (25.726) (19.311) (4.024) 29.300 25.275 
2010 42.292 (7.062) (37.881) (27.715) (30.366) 50.632 20.267 
Fonte: Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Elaboração do autor. 
 
No que tange à análise mais desagregada, verificamos que as indústrias de 
média-alta e alta intensidade tecnológica quase sempre foram deficitárias. Porém, estes 
saldos negativos têm apresentando uma tendência de deterioração acentuada desde 
2005. Ademais, os bens de média-baixa tecnologia apresentaram déficit pela primeira 
vez em 2010 e em um montante não desprezível (US$ 7 bilhões). 
IV Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB)
De 3 a 5 de agosto de 2011, Rio de Janeiro/RJ
23 
 
Isto posto, é necessário destacar que o resultado agregado tem se mantido 
positivo somente, e tão somente, por conta dos ininterruptamente crescentes superávits 
dos setores não industriais tecnológicos (coluna F), haja vista que estes cresceram 
inclusive no ano de 2009, ano no qual todos os demais indicadores apresentaram 
retração em função dos efeitos da crise internacional. 
Os dados relativos ao setor externo, por seu turno, apontam para um cenário 
mais preocupante com relação ao desempenho da indústria e sua relevância no processo 
de crescimento econômico. Todavia, uma análise mais pormenorizada é necessária para 
se afirmar que a especialização da inserção externa brasileira esteja vinculada, direta ou 
indiretamente, a um retrocesso da capacidade produtiva brasileira. Neste sentido, uma 
avaliação com relação ao consumo aparente na indústria, por exemplo, representará uma 
contribuição neste sentido. 
 
5. Considerações finais 
Este trabalhou discutiu a hipótese de desindustrialização brasileira a partir de 
uma perspectiva mais ampla do que a usualmente encontrada na literatura. Para tanto, 
reportamos indicadores relativos à produção, emprego, produtividade, exportação, 
importação e saldo comercial segundo a classificação por intensidade tecnológica da 
OCDE. 
Assim, embora seja inegável que houve uma redução da participação da 
indústria no PIB nos últimos anos e que as exportações brasileiras estão bastante 
concentradas em produtos de baixo valor agregado, configurando indícios de que está 
em curso um processo de desindustrialização no Brasil, dados relativos à produção e 
emprego contrariam, em alguma medida, este entendimento. 
A partir das CN, verificamos que não houve

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