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SISTEMA LOCOMOTOR – ORTOPEDIA FRATURAS EXPOSTAS RESUMO PARA ESTUDO Débora Shibayama Guterres Definição o A fratura exposta é aquela em que há ruptura na pele e tecidos moles subjacentes (o invólucro), permitindo o contato direto do osso ou de seu hematoma fraturário com o meio externo, com risco potencial de infecção local. o O contato da fratura com o meio pode ocorrer também através da boca, tubo digestivo, vagina ou ânus. o Sempre que houver uma ferida no mesmo segmento do membro que foi fraturado, a fratura é considerada exposta até que se prove o contrário. o Há três sinais que indicam a ocorrência de uma fratura: mobilidade anormal, deformidade e crepitação. Na fratura exposta, a energia absorvida pelo osso e seu invólucro causa destruição tecidual, e leva à contaminação e desvascularização. A contaminação bacteriana é determinante para o risco de infecção e a desvascularização, por dano aos tecidos moles, aumenta esse risco, pois priva os tecidos do suprimento sanguíneo essencial para o combate à infecção, e, além disso, dificulta a cicatrização ao diminuir o potencial de formação do calo ósseo. Como resposta a uma fratura exposta, o organismo tem uma reação de fases: o Inflamatória: participação ativa dos leucócitos, que estabelecem a defesa contra infecções, com resposta enzimática, agregação plaquetária e vasoconstrição. Os macrófagos iniciam a remoção do tecido necrótico, e se eles não derem conta, a função de defesa dos leucócitos fica prejudicada (por isso o debridamento é muito importante). o Proliferativa/reparadora: fatores do crescimento estimulam o povoamento da lesão com fibroblastos e células endoteliais para o processo da cicatrização. A lesão das partes moles que envolvem e protegem o osso é a expressão das fraturas expostas. A energia absorvida afeta principalmente os tecidos, gerando lesões de variada complexidade. A onda de choque que atinge o osso inicia a lesão com o descolamento do periósteo, e dependendo da sua intensidade, rompe os tecidos moles, causando fratura exposta. Depois dessa ruptura, há um vácuo que leva à contaminação da ferida, seja ela grande ou pequena. Classificação É muito importante para determinar o prognóstico da lesão e orientar na escolha do tratamento. Deve-se considerar o grau de lesão de partes moles, o grau de contaminação e o padrão da fratura. o Gustilo e Anderson (1976): é a mais utilizada em todo o mundo. Seus principais parâmetros são: o grau de lesão das partes moles, o grau de contaminação e a avaliação em conjunto com o padrão radiográfico da fratura. Tipo Ferida Contaminação Lesão de partes moles Lesão óssea (fragmentos) I < 1 cm Limpa Mínima Simples II > 1 cm Moderada Moderada Moderada IIIA > 10 cm Contaminada Grave – cobertura cutânea possível Multifragmentária IIIB > 10 cm Contaminada Grave – perda da cobertura cutânea requer reconstrução de partes moles Multifragmentária IIIC > 10 cm Contaminada Lesão vascular que requer reparo e grave lesão de partes moles Multifragmentária o Classificação de Tscherne para lesões de partes moles associadas às fraturas expostas/fechadas: dividiu as fraturas em sete grupos, sendo os três primeiros considerados fraturas fechadas e os quatro últimos, expostas, em gravidade crescente. É muito útil para as fraturas fechadas, mas pouco usado para as expostas. o Classificação AO-ASIF para fraturas com comprometimento de partes moles: considera que, para tratar adequadamente as fraturas com lesão de partes moles, é preciso usar um sistema mais sofisticado do que Gustilo e Anderson na classificação. Analisa cada estrutura anatômica separadamente em níveis de gravidade. É muito complexa para o uso diário, sendo melhor para o estudo científico. Tratamento o Atendimento inicial – hospitalar (na sala de emergência): ATLS: Suporte avançado de vida para estabilização clínica do paciente (condições vitais, identificar e estancar hemorragias, nível de consciência); Cobertura da ferida com curativo estéril e imobilização provisória; Identificar o agente causal do trauma, o mecanismo, a localização e o tempo decorrido e os dados gerais do paciente; Exame físico completo (exame neurológico, exame do sistema genito-urinário, tórax, abdome, membros), com atenção especial aos pulsos periféricos distais à área fraturada; Exame da ferida: membro lesionado (ver suprimento sanguíneo e nervos), condições da pele, dimensão da ferida, tipo de tecido circundante, evitar exploração digital; Avaliação radiológica após estabilização segura do paciente (ressonância magnética é feita apenas quando o sistema nervoso está alterado). A ferida deve ser avaliada uma única pelo ortopedista, para confirmar o diagnóstico e a classificação inicial da fratura; Profilaxia para o tétano; Antibioticoterapia profilática: têm eficácia comprovada. Nas fraturas tipo I e II, deve durar 24h , e no tipo III, 72h. Após o debridamento no centro cirúrgico, deve permanecer por mais 24h. Tratamento cirúrgico o Debridamento: deve ser realizado nas primeiras 6h após o acidente, sendo que, após esse tempo, a ferida é considerada contaminada. Deve ser realizado em ambiente cirúrgico, e não na sala de emergência. É a principal medida no combate à infecção da fratura. Objetivos: Remover corpos estranhos; Remover tecidos desvitalizados (a permanência de tecidos mortos é excelente meio de cultura para germes anaeróbios) usando os critérios dos 4C (cor, consistência, circulação, contratilidade) para avaliar a viabilidade dos tecidos; Reduzir a contaminação bacteriana; Criar ferida vascularizada. Normalmente, a abertura da ferida é suficiente para realizar o debridamento. caso necessário, faz-se uma incisão elíptica Fragmentos ósseos desprovidos de suas inserções musculares devem ser removidos e fragmentos viáveis, com suas inserções musculares preservadas, devem ser mantidos o Irrigação: a base da irrigação é a remoção de detritos com a lavagem exaustiva feita com solução salina (10L ou mais de solução), que pode ser soro fisiológico ou Ringer lactato. Deve-se evitar que substâncias químicas irritantes entrem em contato com a ferida, produzindo maior dano tecidual. Durante a primeira irrigação, rotineiramente se faz a tricotomia. o Ferimento das fraturas expostas: após irrigação e debridamento, é preciso decidir como fechar a ferida ou como cobrir a exposição do osso, do tendão ou do nervo. Nas feridas causadas por baixa energia e minimamente contaminadas, pode-se optar pelo fechamento primário, mas, para isso, é preciso analisar os seguintes aspectos: Ferida limpa, não ocorrida em ambientes muito contamiados; Todos os tecidos necróticos e corpos estranhos removidos; Tecidos viáveis; Sutura sem tensão; Ausência de espaço morto. Normalmente, as fraturras tipo I atendem esses pré-requisitos, as do tipo II devem ser analisadas caso a caso, e as do tipo III não devem ser fechadas primariamente. Na dúvida, deixe aberto. A principal complicação do fechamento primário é a a infecção, que pode evoluir para osteomielite. o Fixação das fraturas: após a irrigação, a limpeza e o debridamento da ferida, é preciso estabilizar a fratura. A fixação óssea, restaurando o comprimento, alinhamento e rotação evita a maior lesão das partes moles pelos fragmentos ósseos e diminui a formação do espaço morto e hematoma. A escolha do método ideal de fixação externa ou internadepende da personalidade da fratura (características da fratura e do paciente) o método escolhido não pode comprometer posteriormente os tecidos lesados, deve manter o comprimento do membro e deve alinhar os fragmentos anatomicamente. Entre os fatores que mais influenciam essa tomada de decisão, estão: O padrão, o tipo da fratura e o grau de cominuição; A localização anatômica; O grau de lesões de partes moles e o tratamento inicial; O grau de contaminação; O estado geral do paciente; O tempo de evolução desde o acidente. Obs.: Exemplos de alguns métodos de fixação das fraturas: Fraturas expostas na tíbia: fixadores externos, haste intramedular bloqueada (com ou sem fresagem do canal medular), fixação externa associada à fixação interna mínima, fixação interna, osteossíntese intramedular após fixador externo; Fraturas expostas do fêmur: osteossíntese com haste intramedular, fixadores externos, placas. Complicações das fraturas expostas: o Infecção (osteomielite); o Retardo na consolidação; o Pseudoartrose; o Mau alinhamento dos fragmentos ósseos; o Artroses. Amputação vs salvação do membro o A amputação é uma decisão difícil para o médico cirurgião e, se postergada, pode trazer prejuízos ao paciente. Por isso, o uso do índice MESS tem sido muito difundido para auxiliar nessa decisão. o Além do índice MESS, existem indicações diretas de amputação, que podem ser absolutas imediatas, relativas imediatas ou tardias:
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