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Vict�ria K. L. Card�so Fraturas exp�stas Introdução Fratura exposta: fratura em que ocorre ruptura na pele e nos tecidos moles subjacentes, permitindo a comunicação óssea direta ou do hematoma fraturário com o meio → lembrando que a comunicação com o meio externo também se dá indiretamente, como através da boca, do tubo digestivo, da vagina e do ânus. ● Zona de lesão: ○ É um termo que fundamenta a ideia de a ferida na pele ser apenas uma janela que permite à verdadeira lesão a comunicação com o exterior. ● Fatores que influenciam no prognóstico: ○ Extensão e quantidade de tecidos desvitalizados decorrentes do trauma. ○ Tipo e grau de contaminação bacteriana. ● Análise do binômio fratura-partes moles: ○ Objetivo: classificar a fratura em grupos, para avaliar o prognóstico da lesão e determinar o melhor tratamento. ● Consequências imediatas da fratura: ○ Contaminação: é o principal fator de diferenciação da fratura exposta, pois esse tipo de lesão gera um risco potencial de infecção local. ■ A desvascularização, por esmagamento ou por arrancamento de tecidos moles, torna esses tecidos e o osso que eles recobrem mais suscetíveis a infecção, por conta da falta de suprimento sanguíneo. ○ Desvascularização: ● Principais objetivos do tratamento: ○ Prevenção de infecção. ○ Obtenção de consolidação óssea. ○ Cicatrização de partes moles. ○ Recuperação funcional do membro. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Avaliação inicial: ● A avaliação inicial permite uma pré-classificação da lesão, mas a verdadeira classificação deve ser feita no momento do debridamento cirúrgico, quando a é possível fazer uma análise completa de toda a zona de lesão. Processos imediatos após o trauma (substrato fisiopatológico do traumatismo) Fases: 1. Fase inflamatória: processo inicial. ● Grande interação entre leucócitos e a microcirculação. ● Geração de uma resposta enzimática, que possibilita o desencadeamento da cascata de coagulação. ● Estímulo à agregação plaquetária e à vasoconstrição. ● Interrupção do sangramento. ● Efeito colateral: isquemia tissular local → hipóxia → transformação acidótica do meio → proliferação de macrófagos. ○ Função dos macrófagos: realizar o início da remoção do tecido necrótico, por meio de atividade enzimática. Obs: se a capacidade fagocitária é ultrapassada, por excesso de tecido necrosado, toda a função dos leucócitos contra as infecções fica comprometida; o que torna a área ainda mais suscetível a infecção, por conta da hipóxia local. 2. Fase proliferativa e reparadora: ocorre após o controle hemorrágico. ● Estímulo a fatores de crescimento e de mitogênese celular. ● Povoamento da área lesionada com fibroblastos e células endoteliais → síntese de matriz extracelular, colágeno. ● Proliferação de células endoteliais. ● Criação do tecido de granulação. ● Produção de tecido cicatricial. ● Obs: no tecido ósseo, é a consolidação da fratura que fornece o estímulo para a cicatrização. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Etiologia, mecanismos de lesão e características Causas das fraturas expostas: formas de impacto que causam alta ou baixa energia entre o corpo e o objeto. ● Corpo parado atingido por objeto em movimento. ● Corpo em movimento atinge objeto parado. ● Corpo em movimento atingido por objeto ou corpo em movimento. Tipos de energia de impacto: ● Trauma de baixa energia: queda da própria altura com apoio do membro superior. ● Trauma de energia intermediária: projétil de arma de fogo (PAF). ● Trauma de altíssimo grau de energia: atropelamento por automóvel a 35 km/h ou mais. Obs: o conhecimento e a análise do mecanismo da lesão informam o médico sobre a necessidade de procurar lesões não evidentes que poderiam não ser percebidas. Classificações Importância das classificações: ● Determinar o curso e a forma de tratamento. ● Fornecer o prognóstico. Fatores críticos e fundamentais para a classificação: ● Grau de lesão de partes moles. ● Grau de contaminação. ● Padrão da fratura. ● Outros: ○ História e mecanismo do trauma. ○ Estado vascular do membro afetado. ○ Presença ou ausência de síndrome compartimental. ○ Grau de energia → observado pela configuração das fraturas, desvio e número de fragmentos presentes. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Classificação de Gustilo e Anderson para fraturas expostas: Tratamento Atendimento pré-hospitalar: importante para prevenir o aumento da lesão de partes moles, por conta da mobilidade dos fragmentos ósseos, e assim diminuir as chances de infecção. 1. Assistência. 2. Cobertura da ferida, com isolamento do meio externo por curativo estéril ou com um material o mais limpo possível, na ausência de um material adequado. 3. Imobilização provisória com talas, órteses ou similares. Atendimento inicial em fase hospitalar: 1. O primeiro atendimento deve ser realizado baseado no ATLS, priorizando a ressuscitação, se necessária, e estabilização clínica do paciente. ● Concomitante: cobertura da ferida com curativo estéril e imobilização provisória, caso não tenha sido realizado pela equipe de resgate. ○ Após a ferida ser coberta, ela deve ser mantida assim, inspeções subsequentes devem ser @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so evitadas, pois aumentam o risco de infecção local. ○ Deve-se haver avaliação da ferida uma única vez pelo ortopedista, para confirmar o diagnóstico e a classificação inicial da fratura. Seguindo refazendo o curativo estéril, sem subsequentes avaliações. ● Obs: a sala de emergência NÃO é uma área adequada para exames ou manipulações da ferida; tais condutas devem ser realizadas em um centro cirúrgico. 2. Realizar exame físico completo e detalhado, se atentando a pesquisa de pulsos periféricos e a perfusão distal à fratura. 3. Realizar análise neurológica. 4. Realizar avaliação radiográfica completa, após a estabilização do paciente. ● Obs: apenas os pacientes instáveis ou com risco de vida que podem ter seus exames de imagem postergados ou transferidos para o centro cirúrgico. 5. Administração de antibioticoprofilaxia e de tetanoprofilaxia. Cultura: ● Esse procedimento aumenta os custos do tratamento e só se realiza em situações em que há alto risco clínico de infecção, como em casos de lesões de campo ou com atendimento inicial tardio. ○ Mas, de forma geral culturas iniciais da ferida não são realizadas de forma rotineira. ● Objetivo da cultura: monitorar o uso dos antibióticos. ○ Germe mais encontrado: Staphylococcus aureus, geralmente resistente à penicilina. Antibioticoterapia Uso de antibióticos: ● Lesões agudas: existe a contaminação bacteriana, mas ainda não tem infecção. ○ Uso profilático dos antibióticos → proteção contra infecções. ○ Administração intravenosa de antibióticos, o mais cedo possível após o acidente. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Fraturas tipo I e II: utilização dos antibióticos por apenas 24 horas. ○ Tipo de antibiótico: cefalosporina de 1ª geração. ● Fraturas tipo III: utilização dos atbs por 72 horas. ○ Tipo de antibiótico: cefalosporina de 1ª geração + aminoglicosídeo. ● Uso de antibiótico em área rural, campo ou fazenda: ○ Cefalosporina de 1ª geração + aminoglicosídeo + penicilina. Obs: recomenda-se a utilização de 24h de atb após cada retorno ao centro ciŕugico para debridamento. Antibiótico local: ● Forma de uso: utiliza-se cimento acrílico + antibiótico. ● Objetivo: preencher espaços vazios por perda óssea ou de músculos e para manter as concentrações de antibióticos mais altas em determinados sítios com lesão vascular, como profilaxia ao desenvolvimento bacteriano. ○ A concentração de antibiótico local chega a ser 6x maior do que por via oral ou endovenosa, com absorção sistêmica desprezível, minimizando efeitos colaterais. Tratamento cirúrgico Irrigação: ● Ação básica: remoção mecânica de detritos. ● Solução: ringer lactato ou soro fisiológico, com sabão Castile, alcalino, diluído na primeira irrigação; nas seguintes, usa-se apenas a solução salina, a menos que a ferida esteja infectada,ai se usa o sabão novamente. ○ Antibióticos + solução salina: não apresenta vantagens quando comparada à solução simples. ○ Obs: o uso de antisépticos pode piorar a ferida e produzir deiscência de sutura. ○ Irrigação sob pressão: a recomendação é apenas para feridas graves e contaminadas, com grande quantidade de detritos ou com uma infecção instalada. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Debridamento cirúrgico: ● Conceito: limpeza exaustiva e rigorosa da lesão, sem explorar a ferida. ○ Evita-se o uso de substâncias químicas irritantes. ○ Utiliza-se: solução salina abundante. ● O debridamento cirúrgico precoce, realizado nas primeiras 4-6h após o acidente, é de extrema importância. ● Ajuda a eliminar a contaminação bacteriana da ferida. ○ É essencial evitar a associação das bactérias intra-hospitalares das extra-hospitalares. ● Local de realização: centro cirŕugico. ● Objetivo: ○ Remover corpos estranhos. ○ Remover tecidos desvitalizados. ■ Critérios dos 4C: ● Cor. ● Consistência. ● Circulação. ● Contratilidade. ■ Fragmentos ósseos sem as inserções musculares são considerados desvitalizados e devem ser removidos, mesmo que isso causa uma perda óssea (“gaps ósseos”). ○ Reduzir a contaminação bacteriana. ○ Criar uma ferida vascularizada. Obs: em certas situações, é necessário realizar uma extensão da ferida proximal e distalmente, para ter uma melhor exposição do foco de fratura. Ferimento das fraturas expostas Manejo: 1. Irrigação. 2. Desbridamento cirúrgico. 3. Estabilização. 4. Fechar a ferida ou cobrir a exposição do osso, tendão ou do nervo. ● A princípio, essas feridas após o debridamento cirúrgico devem ser deixadas abertas, para posterior fechamento. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Decisão entre deixar a ferida aberta ou fechada: ● Fraturas tipo I: feridas produzidas por baixa energia, minimamente contaminadas, sobretudo em MMSS: ○ Costuma ser possível o fechamento primário. ○ Complicação do fechamento primário: infecção que pode evoluir para osteomielite, que pode causar implicações graves. ● Fraturas tipo II: ○ Análise caso a caso. ● Fraturas tipo III: ○ NÃO devem ser fechadas primariamente. Obs: feridas tipo II e III devem ficar abertas para nova avaliação após 24-48h do manejo. Enxerto ósseo: ● Indicação: nos casos com grande perda óssea. ● Complicações; alto índice de infecção, absorção e falha na consolidação de fraturas. Fixação das fraturas: ● Objetivos: ○ Restauração do comprimento. ○ Alinhamento. ○ Rotação. ○ Evita a perpetuação da lesão das partes moles produzida pelos fragmentos ósseos. ○ Diminui a formação de espaço morto e hematoma. ● Fatores que influenciam na tomada de decisão do método ideal de fixação óssea: ○ Padrão, tipo de fratura e grau de cominuição. ○ Localização anatômica. ○ Grau de lesões de partes moles. ○ Estado geral do paciente. ○ Tempo de evolução desde o acidente. @p�sitivamed
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