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O INDICADOR AMBIENTAL E O LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL

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Orlando Honorato da Silva
Possui graduação em 
Engenharia Industrial 
Química pela Escola de 
Engenharia de Lorena - 
USP (1991) e graduação 
em Bacharel em Direito 
pelo Centro Universitário 
Salesiano, Lorena - SP (2006). 
Mestre em Direito Ambiental 
pela UNISAL - Centro 
Universitário Salesiano, 
Lorena - SP. Atualmente é 
engenheiro da Companhia de 
Tecnologia de Saneamento 
Ambiental, professor de 
disciplinas ligadas à gestão 
ambiental na Faculdade 
de Roseira, professor 
de gestão em química 
ambiental da Faculdade 
de Pindamonhangaba e 
professor visitante da Escola 
de Engenharia de Lorena - 
USP. 
Este trabalho tem por objetivo mostrar que o indicador 
ambiental além de excelente instrumento de gestão do 
meio ambiente é um direito da população como re-
� exo do princípio da participação e do princípio da 
informação na administração de bens ambientais. O 
indicador ambiental é aqui entendido como forma 
efetiva de informação e participação da sociedade na 
condução, mesmo que indireta, de políticas públicas e 
tomadas de decisão. 
Demonstra-se também que outro excelente 
instrumento de gestão é o licenciamento ambiental, 
estabelecido pela legislação vigente, caracterizado 
pela etapa do licenciamento prévio e pela licença de 
operação renovável, utilizado no controle de poluição 
de atividades humanas, principalmente a atividade 
industrial, é de grande importância, pois age 
diretamente nas grandes fontes de poluição, de forma 
sistemática, coercitiva e preventiva.
O desenvolvimento da sociedade e da questão ambien-
tal; o meio ambiente considerado um recurso público; 
princípios e normas ambientais, além de consider-
ações sobre o desenvolvimento sustentável e a relação 
entre a ética e o meio ambiente tornam esta obra um 
completo instrumento de informação e conhecimento 
deste tema atual e fundamental à sociedade.
Orlando Honorato da Silva
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O INDICADOR E
O LICENCIAMENTO 
AMBIENTAL
COMO INSTRUMENTOS 
DE GESTÃO AMBIENTAL
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O INDICADOR AMBIENTAL E 
O LICENCIAMENTO 
AMBIENTAL COMO 
INSTRUMENTOS DE GESTÃO 
AMBIENTAL 
Orlando Honorato da Silva 
 
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Fax: (41) 3252-1311 – CEP: 80.030-475 – Curitiba – Paraná – Brasil 
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Editor: José Ernani de Carvalho Pacheco 
 
 
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Orlando Honorato da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
O INDICADOR AMBIENTAL E 
O LICENCIAMENTO 
AMBIENTAL COMO 
INSTRUMENTOS DE GESTÃO 
AMBIENTAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curitiba 
Juruá Editora 
2012 
Orlando Honorato da Silva 
 
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O que ocorrer com a terra, recairá sobre os filhos da terra. Há 
uma ligação em tudo. Carta do Chefe Indígena de Seattle – EUA, 1854 
(CETESB, 2011k). 
Orlando Honorato da Silva 
 
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Dedico aos meus familiares pelo estímulo e compreensão. 
A todos os professores dedicados no desenvolvimento cultural 
que gera frutos imensuráveis em benefício de todos, em especial aos pro-
fessores do curso de mestrado. 
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a cons-
trução deste trabalho. 
Orlando Honorato da Silva 
 
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Primeiramente, agradeço a Deus pelo dom da vida 
e pela possibilidade de realizar este trabalho. 
A todos os professores e colegas de classe que contribuíram 
para o meu enriquecimento cultural durante nossa convivência. 
Aos meus familiares. Aos meus pais Joaquim Honorato da Silva 
e Ondina Maria da Silva que desde muito cedo me apoiaram 
e mostraram a importância dos estudos. À minha esposa e filhos, Alexan-
dra, Victória, Pedro Paulo, e Tatielly, que também sempre me 
apoiaram, e foram compreensivos pelas horas que lhes 
foram roubadas e que dediquei aos estudos. 
Orlando Honorato da Silva 
 
10 
 
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LISTA DE QUADROS E FIGURAS 
 
 
Figura 1 – Indicadores Ambientais da OCDE ............................................. 111 
Figura 2 – Curvas Médias de Variação de Qualidade das Águas ................ 121 
Figura 3 – Representação Relação entre Sociedade e Meio Ambiente ....... 148 
 
 
Tabela 1 – Evolução da participação de municípios no programa 
Município Verde Azul ............................................................... 114 
Tabela 2 – Classificação do IQA ................................................................. 122 
Tabela 3 – Classificação do teste de toxicidade aguda ................................ 123 
Tabela 4 – Composição do ICTEM ............................................................. 124 
Tabela 5 – Obtenção do Índice de Qualidade do Ar .................................... 127 
Tabela 6 – Comparação entre GTP e GWP, para um horizonte 
de 100 anos ................................................................................ 130 
Tabela 7 – Emissões de GEE no Estado de São Paulo e no Brasil 
em 2005 ..................................................................................... 132 
Tabela 8 – Enquadramento das Instalações de Destinação Final de 
Resíduos Sólidos Domiciliares em função dos índices 
de IQR, IQR Valas e IQC .......................................................... 138 
Tabela 9 – Evolução da Disposição de Resíduos Domiciliares 
em São Paulo ............................................................................. 139 
Tabela 10 – Condições dos municípios Brasileiros com Relação à 
Disposição de Resíduos Sólidos Domiciliares ........................... 140 
Tabela 11 – Vertebrados ameaçados de extinção no Estado de São Paulo ..... 145 
Tabela 12 – Informações para obtenção de um indicador ambiental geral ..... 149 
 
Orlando Honorato da Silva 
 
12 
O Indicador Ambiental... 
 
13
 
SUMÁRIO 
 
 
1 – Introdução ............................................................................................... 15 
2 – O Desenvolvimento da Sociedade e a Questão Ambiental .................... 19 
2.1 Histórico ........................................................................................... 19 
2.1.1 Sociedade Natural .................................................................. 22 
2.1.1.1 TeoriaContratualista ................................................ 24 
2.1.1.2 Homem Ser Social ................................................... 28 
2.1.2 Finalidade Social.................................................................... 29 
2.2 Bem Comum ..................................................................................... 31 
2.2.1 Teorias do Bem Comum e a Relação com o Estado ............... 35 
2.2.2 Finalidades do Estado ............................................................ 36 
2.2.3 Bem Comum e Individualismo ............................................... 37 
2.2.4 Bem Comum e Coletivismo (Transpersonalismo) .................. 38 
2.2.5 Bem Comum e Personalismo ................................................. 40 
2.3 Meio Ambiente ................................................................................. 43 
2.4 Princípios .......................................................................................... 49 
2.4.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana: Informação e 
Participação ........................................................................... 53 
2.4.1.1 Princípios do Direito Ambiental ............................... 57 
2.4.1.1.1 Princípio da Participação e da Informação............... 60 
2.5 Desenvolvimento Sustentável ........................................................... 63 
2.5.1 Abordagens Conceituais de Desenvolvimento Sustentável..... 68 
2.5.2 Desenvolvimento Sustentável na Legislação Brasileira .......... 73 
3 – Licenciamento Ambiental ....................................................................... 81 
3.1 Natureza Jurídica do Licenciamento Ambiental ................................ 84 
3.1.1 O Licenciamento Ambiental no Estado de São Paulo ............. 89 
3.1.2 Termo de Ajustamento de Conduta: CETESB e 
Petrobrás-São José dos Campos ............................................. 91 
3.2 Direito Administrativo e Licenciamento Ambiental .......................... 94 
Orlando Honorato da Silva 
 
14 
3.2.1 Requisitos dos Atos Administrativos ..................................... 94 
3.2.1.1 Atributos dos Atos Administrativos ........................ 96 
3.2.1.2 Espécies de Atos Administrativos ........................... 98 
3.2.1.2.1 Atos Administrativos Negociais ............................. 99 
4 – Indicador Ambiental ............................................................................. 101 
4.1 Informações e Indicadores Ambientais ............................................ 107 
4.1.1 Indicador de Salubridade Ambiental .................................... 107 
4.1.2 Organização de Cooperação e Desenvolvimento 
Econômicos ......................................................................... 109 
4.1.2.1 Modelo Europeu ..................................................... 113 
4.1.3 Município Verde Azul.......................................................... 113 
4.1.4 CETESB .............................................................................. 116 
4.1.4.1 CETESB: Água ...................................................... 118 
4.1.4.1.1 Índice de Qualidade das Águas .............................. 119 
4.1.4.1.2 Teste de toxicidade ................................................ 123 
4.1.4.1.3 Indicador de Coleta e Tratamento de Esgoto ......... 123 
4.1.4.1.4 Indicador de Potabilidade de Águas 
 Subterrâneas .......................................................... 125 
4.1.4.2 CETESB: Ar .......................................................... 126 
4.1.4.2.1 Emissão de Gases do Efeito Estufa ........................ 128 
4.1.4.3 CETESB: Solo ....................................................... 133 
4.1.4.4 CETESB: Áreas Contaminadas .............................. 136 
4.1.4.5 CETESB: Resíduos Sólidos ................................... 137 
4.1.4.5.1 Indicador de Qualidade de Aterros ........................ 138 
4.1.4.5.1.1 Disposição de Resíduos Sólidos no Brasil .......... 139 
4.1.4.5.2 Resíduos de Serviços de Saúde e Resíduos 
 Industriais.............................................................. 140 
4.1.5 Recursos Hídricos ................................................................ 141 
4.1.6 Indicador da Conservação de Áreas Verdes ......................... 142 
4.1.7 Indicador da Preservação da Fauna Silvestre ........................ 143 
4.1.8 Recursos Minerais ................................................................ 146 
4.2 Características do Indicador Ambiental Proposto ............................ 148 
5 – Ética e o Meio Ambiente ....................................................................... 153 
6 – Conclusão ............................................................................................... 159 
Referências ..................................................................................................... 163 
Índice Alfabético ............................................................................................ 171 
 
O Indicador Ambiental... 
 
15
 
 
1 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Este trabalho tem por objetivo mostrar que o indicador ambiental 
além de excelente instrumento de gestão ambiental é um direito da popu-
lação como reflexo do princípio da participação e do princípio da infor-
mação na administração de bens ambientais. O indicador ambiental como 
forma efetiva de informação e participação da sociedade na condução, 
mesmo que indireta, de políticas públicas e tomadas de decisão. 
Outro excelente instrumento de gestão que será discutido é o li-
cenciamento ambiental, estabelecido pela legislação vigente, caracteriza-
do pela etapa do licenciamento prévio e pela licença de operação renová-
vel, utilizado no controle de poluição de atividades humanas, principal-
mente a atividade industrial, é de grande importância, pois age diretamen-
te nas grandes fontes de poluição, de forma sistemática, coercitiva e pre-
ventiva. 
Inicialmente, ao tratar do desenvolvimento da sociedade e da 
questão ambiental, na seção a seguir, será mostrado que na história da 
humanidade houve um descompasso entre a sua evolução e o entendi-
mento das questões ambientais, principalmente com relação à evolução 
das formas de organização das sociedades e sua relação com o meio am-
biente. Ao longo dos tempos, verifica-se que, das formas da sociedade 
organizada em Estado, as finalidades da democracia foram as que ofere-
ceram melhores condições e resultados com relação às questões de inte-
resse público, em especial as ambientais, ao contrário das finalidades de 
Estados totalitários ou totalmente liberais. 
Em seguida será discutido que a humanidade ao buscar inces-
santemente o Bem Comum cria anseios que estão em permanentes mu-
Orlando Honorato da Silva 
 
16 
danças e adaptações devido aos novos problemas e paradigmas criados 
pelo seu desenvolvimento. O Bem Comum no presente momento confi-
gura-se na busca da proteção ao meio ambiente, pois a questão ambiental 
tem se tornado tema central da sociedade, principalmente pelas preocupa-
ções com as alterações do clima e a escassez dos recursos naturais. O 
Bem Comum que também pode ser entendido como justiça deve ter como 
base o princípio da ética do ser humano pessoa, ou seja, deve ter a pessoa 
humana como objetivo final. 
Nesta mesma seção será tratado conceitualmente o meio ambiente, 
que no Brasil é considerado um recurso público. De início ao estudar o 
seu conceito, verifica-se que o mesmo pode ser considerado incontrover-
so, e que há também o entendimento de forma ampla pela legislação am-
biental brasileira que tem a interessante vantagem de trazer objetos do 
meio natural, do meio artificial e do meio cultural sob a proteção e tutela 
como bens ambientais. Pacificamente, o meio ambiente é considerado 
bem de uso comum do povo, devendo à Administração Públicagerenciá-
lo de melhor maneira com a participação da sociedade. 
Ainda com relação às questões ambientais, será mostrado que 
da interpretação de princípios gerais do direito extraídos de normas cons-
titucionais, de normas de direito público, e de normas de direito ambien-
tal, e seus fundamentos, existem os princípios: da participação, e do direi-
to à informação, para que a sociedade legítima titular de bens difusos 
decida direta ou indiretamente o rumo a seguir. Assim, serão discutidos co-
mo esses princípios podem afetar a gestão da qualidade do meio ambiente, 
principalmente com relação ao direito à informação das condições do 
meio ambiente. Em destaque, será demonstrado que os princípios do di-
reito público são a base para a sistematização e institucionalização de 
políticas públicas visando garantir o direito de todos: um meio ambiente 
ecologicamente equilibrado. Especialmente, os princípios do direito am-
biental que são determinantes no estabelecimento do direito da sociedade 
ser informada e participar nas questões relacionadas ao meio ambiente. 
Ao final dessa seção em comento, será discutido o desenvolvi-
mento sustentável. A humanidade fica seriamente preocupada com a so-
brevivência da espécie, e elege o desenvolvimento sustentável como ob-
jetivo essencial na busca da recuperação ou da manutenção da qualidade 
ambiental. Pois, percebe que está diante de claros problemas ambientais e 
da previsão de situações mais críticas, principalmente, nas últimas déca-
das após a revolução industrial e com o descobrimento do petróleo e seus 
derivados. O conceito de desenvolvimento sustentável está sustentado na 
harmonização dos objetivos sociais, ambientais e econômicos; e surgiu 
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17
do equilíbrio de posições completamente diversas de dois grupos: o pri-
meiro o dos pragmáticos e o segundo o dos radicais. Para o primeiro gru-
po os problemas existentes eram normais e seriam sanados com novas 
tecnologias e para o segundo com visões apocalípticas as catástrofes eram 
imediatas. 
Na terceira seção será abordado o licenciamento ambiental no 
Brasil conforme estabelece legislação vigente, que está fundamentada no 
conceito de desenvolvimento sustentável. Dos instrumentos utilizados 
pelo poder público no controle de fontes de poluição ambiental o licencia-
mento ambiental ganha destaque, pois é um ato administrativo que tem 
caráter prévio e renovável, acompanha uma atividade poluidora mesmo 
antes de sua instalação, durante a sua operação e depois na sua desativa-
ção. Como será discutida, a licença de operação renovável tem como foco 
a melhoria contínua, constante atualização de informações e tecnologia 
de controle da poluição. Como regra, uma fonte de poluição para conti-
nuar operando deve observar o atendimento das condicionantes estabele-
cidas nas licenças que são baseadas em padrões estabelecidos e atualiza-
dos pela legislação ambiental. 
Em seguida será mostrado que a falta do regular licenciamento 
ambiental é denominado pela legislação pátria, de forma expressa, co-
mo um funcionamento ilegal e é considerado crime ambiental. Uma 
situação particular será apresentada, a situação de instalações já existen-
tes quando do surgimento dessa legislação, seus efeitos e como foi tra-
tada. Algumas instalações sem capacidade de receber de imediato as 
licenças ambientais devido às defasagens das tecnologias de controle de 
poluição empregadas, sua adequação dependia muitas vezes do desen-
volvimento e da implantação de projetos de sistemas de controle de 
poluição complexos e custosos, o que demandaria um tempo razoável 
até a sua implantação. 
Algumas empresas nessas condições optaram pela celebração 
do Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta (TAC), tendo em 
vista o extenso prazo necessário de adequação. A maioria das organiza-
ções, cujo objetivo é a produção industrial, esboçam grande interesse em 
reduzir os níveis de poluentes gerados, entretanto precisam de prazo sufi-
ciente para desenvolver os projetos e obter os recursos necessários. Por 
meio do TAC comprometem-se a desenvolver e implantar os projetos 
necessários para atender os padrões de lançamento de poluentes entendi-
dos adequados. O órgão ambiental fica responsável em acompanhar e 
verificar o fiel cumprimento das exigências técnicas estabelecidas, bem 
Orlando Honorato da Silva 
 
18 
como, durante a validade do TAC não aplicar autuações relativo ao que 
foi pactuado. 
Na quarta seção será discutido o uso do indicador ambiental pa-
ra a informação e a participação da população no gerenciamento do meio 
ambiente, bem de uso comum do povo. O avanço da ciência e da tecnolo-
gia deve ser considerado, indubitavelmente, entre os mais extraordinários 
empreendimentos da humanidade atualmente. Novos ramos das ciências 
são descobertos e desenvolvidos em uma velocidade jamais vista. Assim, 
uma pessoa normal é incapaz de entender e acompanhar com profundida-
de o desenvolvimento de todas as áreas das ciências cujas aplicações 
direcionam e sustentam as ações humanas que devem ser fundamentadas 
e atentas com relação à proteção dos recursos naturais. 
Tem-se em vista que a produção de informações relacionadas 
aos recursos ambientais é extensa, sistemática e volumosa, principalmen-
te os relatórios técnicos de monitoramento muitas vezes baseados em 
metodologias internacionalmente consagradas fazendo uso de indicadores 
específicos que demonstram as condições ambientais de uma parte do as-
pecto do meio ambiente. Para a grande maioria da população, o uso de 
indicadores torna-se um facilitador, na busca de uma resposta rápida e de 
fácil entendimento. Assim, esses relatórios técnicos que podem servir de 
base para trabalhos, pesquisas ou estudos científicos, informariam de forma 
efetiva a população por meio de indicadores ambientais apropriados. 
Na quinta seção, será tratada a relação entre a ética e o meio 
ambiente. Do respeito à pessoa humana, principalmente dos fundamentos 
do princípio da dignidade da pessoa humana, extrai-se o direito a uma vida 
digna, o direito à liberdade de opinião e expressão, e como conseqüência, o 
direito à participação, principalmente em um sistema democrático de direi-
to como o brasileiro. Será mostrado também que o homem naturalmente é 
um ser social e procura fazer o bem, pois só assim se realiza. 
E, ainda com relação à ética e o meio ambiente, será mostrado 
que o ser humano pessoa deve ser o fim de qualquer ação e não instru-
mentalizado para qualquer fim. Neste sentido, o desenvolvimento das 
sociedades modernas está em um estágio de reconhecimento recíproco de 
pessoas livres e iguais, que devem cooperar entre si. O ser humano é par-
te de um sistema, sua sadia qualidade de vida depende do equilíbrio eco-
lógico, e para isso deve buscar o cumprimento as diretrizes estabelecidas 
nos princípios do desenvolvimento sustentável. 
O Indicador Ambiental... 
 
19
 
 
2 
 
O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E 
A QUESTÃO AMBIENTAL 
2.1 HISTÓRICO 
Ao longo de sua existência, a humanidade buscou as condições 
ideais para a sobrevivência da espécie, e que deixou de ser o único obje-
tivo a ser alcançado com o seu desenvolvimento, passou a buscar também 
uma vida cada vez mais longa e com mais qualidade. A questão ambien-
tal ficou esquecida pela humanidade durante um período de “auto-
suficiência”, após alguns problemas com os desequilíbrios ambientais, a 
humanidade viu-se parte de um sistema natural e que deve ter responsabi-
lidade na manutenção das condições ambientais. 
Assim, essa conjunção das condições para sobrevivência e o de-
senvolvimento da humanidade, o bem comum deve ser tratado como um 
bem de toda sociedade humana. Deste modo, há que se considerar de uma 
maneira geral a formação da sociedade ao longo dos séculos, que tem 
sido explicada de duas maneirasdistintas: fruto da própria natureza hu-
mana e como conseqüência de um ato de escolha (DALLARI, 2005, 
p. 9). Nos itens a seguir serão apresentados os defensores do homem co-
mo um ser social nato e os que acham que isso é fruto de sua escolha. 
A evolução do direito ambiental, no contexto da evolução das 
sociedades é outra questão importante. Como bem relata Guimarães o 
direito ambiental não se desenvolveu no mesmo ritmo do homem moder-
no. O Homem saiu da idade da pedra após associar noções de direito e 
conhecimentos da ecologia, começando pela fixação em torno de rios, mais 
documentadamente, entre o Rio Tigre e o Eufrates e no Vale do Nilo. O 
regime dos homens obedecia ao regime dos rios. Na complexa organização 
Orlando Honorato da Silva 
 
20 
harmônica entre sociedade e natureza, com canais e sistemas de transpor-
tes: o homem civilizou-se (GUIMARÃES JÚNIOR, 1981, p. 151). 
Há três e meio milênio atrás, papiro oculto em múmias do No-
vo Império Egípcio e integrante do Livro dos Mortos, relatam questões 
do Direito Ecológico. Percebe-se aí o respeito do homem à natureza. No 
Código de Hammurabi a natureza é tutelada na graduação das obriga-
ções e os danos aos recursos naturais privados têm expressão pública. O 
hino persa de Zaratustra mostra a ligação entre o Direito e Ecologia 
(GUIMARÃES JÚNIOR, 1981, p. 152). 
Incontestavelmente, o gênio aristotélico fundiu o Direito à Eco-
logia. Sintetizou, com disciplina teórica, premissas biológicas às políti-
cas, e organizou a ordem pública ontológica e silogisticamente coerente 
com a classificação dos animais. O ser filosófico tem o caráter da realida-
de e as categorias são movimentos de potência e ato. A causa universal é 
só o pensamento a que a razão deve dar essência e a Justiça é proporção 
ética. As criaturas e as instituições terão, assim, desenvolvimento mais 
perfeito ao inspirar suas obrigações no direito natural (GUIMARÃES 
JÚNIOR, 1981, p. 153). 
Na fusão jurídica Greco-romana, e como iria querer Celso, o di-
reito é a arte do bom e do justo (Jus est ars boni et aequi). Conforme 
Aristóteles imita a Natureza, o Direito, ao mesmo tempo objeto e sujeito, 
deve refletir a Natureza também. Para Cícero, a grande ponte entre as 
duas culturas, a lei é uma exigência racional da Natureza, Fonte do Direi-
to e de onde reside a Justiça. No cenário romano as terras públicas podi-
am ser ocupadas por meio de uma concessão. O amor à terra era tal que 
um punhado dela simbolizava o imóvel todo e mudar um marco de lugar 
era sacrilégio punido com morte. Muito herdamos do direito romano, mas 
muito do sentido ecológico de seu direito acabou suplantado pela buro-
cratização e urbanização do nosso espírito jurídico (GUIMARÃES JÚ-
NIOR, 1981, p. 153-154). 
Na história do Direito Ambiental Guimarães relata a evolução 
da Carta da Floresta na Inglaterra e os institutos jurídicos gerados e parti-
lhados com outros países. A evolução da Carta da Floresta elevou a noção 
individualista de governo para um sentido nacional, institucionalizando a 
participação do povo pela divisão do poder sob a lei parlamentar e cada 
vez mais judicialmente julgado. A administração torna-se acessível aos 
súditos, surge a responsabilidade cívica pela representação dos direitos 
públicos delegados, e a taxa votada por eleitos passa a ser respeitada co-
mo dever coletivo, e não mais como imposição do e para o Rei (GUI-
MARÃES JÚNIOR, 1981, p. 159). 
O Indicador Ambiental... 
 
21
O ser humano abandona os cuidados com a preservação ambien-
tal após a revolução industrial. Em conseqüência de décadas de explora-
ção predatória dos recursos naturais, toma consciência do seu poder des-
trutivo e dos limites dos recursos naturais e se vê diante da previsão do 
colapso do planeta diante do crescimento perverso à custa do esgotamen-
to de recursos naturais pela exploração predatória da natureza. Até mes-
mo da exploração de seres humanos por outros com ocorrência de episó-
dios críticos de poluição e desequilíbrios ambientais. No meio do século 
passado surgiram dois grandes objetivos: desenvolvimento e direitos 
humanos para tentar apagar as memórias da Grande Depressão e da Se-
gunda Grande Guerra Mundial, e somente pouco mais tarde uma onda de 
conscientização com a questão ambiental (STROH, 2000, p. 54-88). 
O liberalismo tornou-se um sistema inoperante frente ao fenô-
meno da revolução de massas, e devido às transformações sociais, políti-
cas, econômicas, e tecnológicas surge a necessidade de intervenção esta-
tal, com a finalidade de equilibrar o mercado econômico. O desenvolvi-
mento praticado não mais encontrava guarida na sociedade moderna, 
surgindo reclamações no sentido de salvar os valores ambientais, pressu-
pondo a convergência de objetivos das políticas de desenvolvimento eco-
nômico, social, cultural, e de proteção ambiental. A Conferência das Na-
ções Unidas sobre o Ambiente Humano, de 1972, ocorrida em Estocol-
mo, coloca a questão ambiental na pauta internacional, utilizando-se da 
terminologia “desenvolvimento sustentável”, repetida em outras confe-
rências sobre o meio ambiente e em especial no Rio de Janeiro, 1992 
(FIORILLO, 2011, p. 27-28). 
A civilização enfrenta outra crise no final do século XX, a pro-
blemática ambiental, como a poluição e degradação do meio, a crise de 
recursos naturais, energéticos e de alimentos, questionando a racionalida-
de econômica e tecnológica dominantes. Por um lado, é explicada como a 
pressão do crescimento da população sobre os recursos naturais. E por 
outro lado, como efeito da acumulação do capital e da maximização do 
lucro em curtos prazos, pelo uso e ritmo de exploração tecnológica da 
natureza e formas de consumo que esgota as reservas naturais, degrada o 
solo e afeta as condições de regeneração dos ecossistemas (LEFF, 2001, 
p. 61). 
No encontro de Founex e na Conferência de Estocolmo, surge 
uma posição intermediária entre o economicismo arrogante e o funda-
mentalismo ecológico. O crescimento econômico era necessário, mas 
deveria ser socialmente receptivo e em harmonia com o meio ambiente, e 
não a simples incorporação predatória do capital da natureza ao PIB – 
Orlando Honorato da Silva 
 
22 
Produto Interno Bruto. A eliminação do crescimento era inconcebível, 
pois prejudicaria ainda mais a maioria pobre. De difícil solução política, 
mas extremamente necessária era uma melhor distribuição de propriedade 
e renda. A conservação da biodiversidade deveria estar em harmonia com 
as necessidades dos povos do ecossistema, surgem, então, as reservas 
naturais como instrumentos estratégicos de conservação. Por fim, surge o 
objetivo a ser alcançado o desenvolvimento sustentável cujo conceito é 
garantir a vida das gerações presente e futura de maneira sustentável 
(STROH, 2000, p. 54-88). 
Ao longo da vida do homem sobre a Terra, desde os tempos 
mais remotos até os dias atuais, e sem parar, à medida que se desenvolve-
ram os meios de controle e aproveitamento da natureza, com a descober-
ta, a invenção e o aperfeiçoamento de instrumentos de trabalho e de defe-
sa, a sociedade simples foi-se tomando cada vez mais complexa. Grupos 
foram-se constituindo dentro da sociedade, para executar tarefas específi-
cas, chegando-se a um pluralismo social extremamente complexo (DAL-
LARI, 2005, p. 20). 
A comunidade internacional entendeu a necessidade de preser-
vação ambiental juntamente com o desenvolvimento econômico e social. 
As sociedades ficam cada vez mais complexas, principalmente com a 
revolução atual da tecnologia da informação surgem especializações téc-
nicas em uma infinidade de temas em todas as áreas. Fica impossível para 
uma pessoa comum ter o domínio de conhecimentos técnicos avançados 
em todas as áreas. 
Na área ambiental, como não poderia deixar de ser ocorre uma 
explosão de cursos, com formação de técnicos de váriasespecialidades 
técnicas. Conseqüentemente, há uma produção enorme de informações 
técnicas em vários formatos, como por exemplo, livros, relatórios, arti-
gos, revistais e reportagens. O acesso às informações de forma resumida, 
como indicadores ambientais pode ser a solução para o acesso e a partici-
pação de todos. 
2.1.1 Sociedade Natural 
O antecedente mais remoto que defende que o homem é um ser 
social por natureza é do século IV a.C.: Aristóteles conclui que “o ho-
mem é um animal político”. No século I a.C. Cícero, em Roma, por in-
fluência de Aristóteles tem a mesma ordem de idéias ao considerar que a 
primeira causa da agregação de uns homens a outros é menos a sua debi-
O Indicador Ambiental... 
 
23
lidade do que certo instinto de sociabilidade em todos inatos. E mais, que 
a espécie humana não nasceu para o isolamento e para a vida errante, mas 
com uma disposição que, mesmo na abundância de todos os bens, a leva a 
procurar o apoio comum (DALLARI, 2005, p. 9-10). 
Entre os autores medievais está Santo Tomás de Aquino o mais 
expressivo seguidor de Aristóteles. Entre os vários autores modernos que 
se filiam a essa opinião, está entre eles o notável italiano Raneletti, que 
enfoca diretamente o problema, com argumentos precisos e colhidos na 
observação da realidade. Para Raneletti, só na convivência e com a coo-
peração dos semelhantes o homem pode beneficiar-se das energias, dos 
conhecimentos, da produção e da experiência dos outros, acumuladas 
através de gerações, obtendo assim os meios necessários para que possa 
atingir os fins de sua existência, desenvolvendo todo o seu potencial de 
aperfeiçoamento, no campo intelectual, moral ou técnico (DALLARI, 
2005, p. 10-11). 
Karol Wojtyla1 sustentava que o ser humano tende ao convívio 
social independente da sua vontade, por outro lado, se a sociedade e a 
vida social são somente resultados de um contrato, como sustentavam, 
por exemplo, Hume, Hobbes ou Rousseau, então o indivíduo teria o direi-
to de ditar à sociedade toda a sua vontade (WOJTYLA, 1977, apud SIL-
VA, 2001, p. 124). 
Em linhas gerais, defendem que a sociedade é um fato natural, 
determinado pela necessidade que o homem tem da cooperação de seus 
semelhantes para a consecução dos fins de sua existência. Importante 
considerar que esse impulso não elimina a participação da vontade huma-
na. Consciente de que necessita da vida social, o homem a deseja e procu-
ra favorecê-la. Assim, a sociedade é o produto da conjugação de um sim-
ples impulso associativo natural e da cooperação da vontade humana 
(DALLARI, 2005, p. 11-12). 
Já que a vida em sociedade é inevitável, o ser humano tem 
buscado ao longo de sua história métodos de aperfeiçoamento da for-
ma de organização e funcionamento de uma sociedade, para que cada 
pessoa contribua da melhor maneira e os recursos sejam distribuídos 
com equidade. As sociedades também se movem para se adequarem às 
exigências prementes para a preservação do meio ambiente, sob o 
risco de danos graves a muitas sociedades ou até mesmo da extinção 
da própria espécie. 
 
1
 Filósofo e teólogo Karol Wojtyla (1920-2005) se tornou o Papa João Paulo II (1978-
2005) (VATICANO, 2012) 
Orlando Honorato da Silva 
 
24 
2.1.1.1 Teoria Contratualista 
Dallari informa que muitos autores, entre eles Thomas Hobbes, 
Montesquieu, e Rousseau, se opuseram aos adeptos do fundamento natu-
ral da sociedade, os quais exerceram e ainda exercem considerável in-
fluência prática, sustentando que a sociedade é o produto de um acordo 
de vontades, de um contrato hipotético celebrado entre os homens. Esses 
autores são classificados como contratualistas. Tais autores têm diferentes 
explicações para a decisão do homem de unir-se a seus semelhantes e de 
passar a viver em sociedade, o ponto comum entre eles é a negativa do 
impulso associativo natural, com a afirmação de que só a vontade huma-
na justifica a existência da sociedade (DALLARI, 2005, p. 12). 
No entendimento desses autores, há a defesa de que o mais re-
moto antecedente do contratualismo está em “A República”, de Platão, 
pois lá faz referência a uma organização social construída racionalmente, 
sem qualquer menção à existência de uma necessidade natural. O que se 
tem é a proposta de um modelo ideal, como os utopistas do século XVI, 
como Thomas Moore, na sua “Utopia”, ou Tommaso Campanella, em “A 
Cidade do Sol”. Estes descrevem uma organização ideal, sem os males e 
deficiências vistos nas sociedades, e tendo como ponto comum com os 
contratualistas a total submissão da vida social à razão e à vontade. O 
contratualismo aparece claramente proposto com sistematização doutriná-
ria, na obra de Thomas Hobbes o “Leviatã”, de 1651. Além da afirmação 
da base contratual da sociedade e do Estado, fica evidente clara sugestão 
ao absolutismo. Idéias com grande influência no séc. XVIII (DALLARI, 
2005, p. 12-14). 
Para Hobbes, os homens, sem um poder comum capaz de man-
tê-los em temor respeitoso, ficam na condição de desordem, de guerra de 
todos contra todos. Na natureza do homem são três as causas principais 
de discórdia: a competição, a desconfiança; e a glória. A primeira leva os 
homens a atacar os outros tendo em vista o lucro; a segunda, a segurança; 
e a terceira, a reputação. A vida do homem é solitária, miserável, sórdida, 
brutal e curta, não há sociedade; e o que é pior do que tudo, um medo 
contínuo e perigo de morte violenta, pois onde não há poder comum não 
há lei, e onde não há lei não há injustiça. Outra conseqüência é que não 
há propriedade, nem domínio, nem distinção entre o meu e o teu; só per-
tence a cada homem aquilo que ele é capaz de conseguir, e apenas en-
quanto for capaz de conservá-lo (HOBBES, 2003, p. 108-111). 
Para Hobbes há duas leis fundamentais ou regras gerais da ra-
zão para que o homem viva em segurança: a primeira que todo homem 
O Indicador Ambiental... 
 
25
deve se esforçar pela paz, na medida em que tenha esperança de conse-
gui-la; e, caso não a consiga, pode procurar e usar todas as ajudas e van-
tagens da guerra; e a segunda que um homem concorde, quando outros 
também o façam, e na medida em que tal considere necessário para a paz 
e para a defesa de si mesmo, em resignar ao seu direito a todas as coisas, 
contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma liberdade 
que aos outros homens permitem em relação a si mesmo. Nessa transfe-
rência mútua de direitos são gerados vínculos mediante os quais os ho-
mens ficam atados e obrigados, ocorre a celebração do contrato social e 
estabelecem a vida em sociedade que depende da existência de um po-
der visível, aquele grande Leviatã, a que se chama república, ou Estado, 
que não é senão um homem artificial, embora de maior estatura e força 
do que o homem natural, para cuja proteção e defesa foi projetado 
(HOBBES, 2003, p. 112-115). 
Para a precaução com a sua própria conservação e com uma vi-
da mais satisfeita, a sociedade contratual confere toda a sua força e poder 
a um homem, ou a uma assembléia de homens. E reduz todas as vontades 
a uma só vontade por pluralidade de votos, para praticar ou levar a prati-
car tudo o que disser respeito à paz e à segurança comuns, um poder sem 
limitações, a desobediência do governo é injusta. Surge daí a essência da 
república que é assim definida: “uma pessoa, de cujos atos uma grande 
multidão, mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída 
por todos como autora, de modo que ela pode usar a força e os recursos 
de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e 
a defesa comuns” (HOBBES, 2003, p. 143-148). 
A oposição às idéias absolutistas viria com Locke, na própria 
Inglaterra, no fim do séc. XVII. A oposição clara e sistematizada à sua 
concepção do contratualismo ocorreria noséculo seguinte na França ten-
do por base a negativa de que a sociedade foi criada devido à necessidade 
de conter a “guerra de todos contra todos”. Entretanto, mesmo os oposito-
res de Hobbes, tomam posição nitidamente contratualista para explicar a 
origem da sociedade. Como Montesquieu, na sua obra “Do Espírito das 
Leis”, que se refere ao homem em estado natural antes do estabelecimento 
das sociedades. Montesquieu não chega a mencionar expressamente o con-
trato social e passa à apreciação das leis do governo, sem fazê-las derivar 
diretamente de um pacto inicial (DALLARI, 2005, p. 14-16). 
Para Montesquieu, antes das sociedades, o homem estaria sujei-
to às leis da natureza, tem mais faculdade de conhecer do que conheci-
mento, pensa primeiro na sua conservação, sente sua fraqueza, é tímido, 
selvagem, e medroso. Todos se sentem inferiores e no limite cada homem 
Orlando Honorato da Silva 
 
26 
é igual aos outros, e assim não buscam atacar uns aos outros. Assim, as 
leis naturais, além de impor a idéia e orientar para a direção de um cria-
dor, contribuem para o surgimento das sociedades. As leis naturais são: a 
primeira, a paz; a segunda, a procura de alimentação; a terceira, o prazer 
de aproximação de animais de mesma espécie somado ao encanto e apelo 
de atração de espécies de sexos opostos; e quarta pela faculdade de pos-
suir conhecimentos e o desejo de viver em sociedade (MONTESQUIEU, 
1996, p. 13-15). 
Em sociedade, os homens perdem o sentimento de fraqueza, a 
igualdade se finda, começa o estado de guerra, nação a nação, e particular 
a particular, e disto surgem as leis. As leis entre os povos, Direito das 
Gentes, as leis entre governantes e governados, Direito Político, e as leis 
de cidadãos entre si, Direito Civil. O Direito das Gentes é baseado no 
princípio do que uma nação pode fazer a outra: na paz, o maior bem, e na 
guerra, o menor mal possível. O direito político fundamenta-se em que 
uma sociedade não pode subsistir sem um governo. O direito civil por sua 
vez regula as diversas vontades reunidas sob o mesmo governo. A lei 
geral é a razão humana, e as políticas e civis específicas para cada nação. 
Há uma relação entre essas leis em cada nação, pelo seu povo, sua forma-
ção, ou outras características próprias, que esse autor chama de “Espírito 
das Leis” (MONTESQUIEU, 1996, p. 15-17). 
Rousseau, em seu livro “O Contrato Social”, de 1762, retoma a 
linha de Hobbes, explicando a existência e a organização da sociedade a 
partir de um contrato inicial, entretanto, adotou posição semelhante à de 
Montesquieu no tocante à predominância da bondade humana no estado 
de natureza. O contratualismo de Rousseau, que exerceu influência direta 
e imediata sobre a Revolução Francesa e, depois disso, sobre todos os 
movimentos tendentes à afirmação e à defesa dos direitos naturais da 
pessoa humana, foi, na verdade, o que teve maior repercussão prática. 
Com efeito, ainda hoje é claramente perceptível a presença das idéias de 
Rousseau na afirmação do povo como soberano, no reconhecimento da 
igualdade como um dos objetivos fundamentais da sociedade, bem como 
na consciência de que existem interesses coletivos distintos dos interesses 
de cada membro da coletividade (ROUSSEAU, 1762, apud DALLARI, 
2005, p. 16). 
Para Rousseau os obstáculos para a sobrevivência da espécie 
humana no seu estado natural poderiam sobrepujar cada homem isolada-
mente, essencialmente bom, e força-o a mudar o seu modo de ser. A so-
lução seria a combinação dos instrumentos utilizados na sua conservação, 
força e liberdade. Assim, o contrato social soluciona o problema funda-
O Indicador Ambiental... 
 
27
mental de encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a 
pessoa e os bens de cada associado de qualquer força comum, e pela qual 
cada um, unindo-se a todos, não obedeça, portanto senão a si mesmo, 
ficando assim tão livre como dantes. As cláusulas deste contrato resu-
mem-se a uma: a alienação total de cada associado com todos os seus 
direitos a favor de toda a comunidade. Ao submeter cada um a todos, não 
se submete a ninguém em particular, cada um ganha o equivalente de 
tudo o que se perde e maior força para conservar o que possui. Este ato de 
associação produz um corpo moral e coletivo, composto pelos membros 
votantes, com sua unidade, seu eu comum, sua via e sua vontade. Esta 
pessoa pública é chamada de república ou corpo político, e em algumas 
situações Estado, soberano ou poder (ROUSSEAU, 1996, p. 20-23). 
O soberano, portanto, continua a ser o conjunto das pessoas as-
sociadas, mesmo depois de criado o Estado, sendo a soberania inalienável 
e indivisível. Essa associação dos indivíduos tem uma vontade própria, 
que é a vontade geral, que não se confunde com uma simples soma das 
vontades individuais, mas é uma síntese delas. Cada indivíduo pode ter 
uma vontade particular diversa ou contrária da vontade geral que tem 
como cidadão. A vontade geral é sempre reta e tende constantemente à 
utilidade pública. Entretanto, pode haver diferença entre a vontade de 
todos e a vontade geral: esta atende só ao interesse comum, enquanto que 
a outra olha o interesse privado e não é senão uma soma das vontades 
particulares. Deste modo, afirma que existe uma liberdade natural que a 
sociedade visa proteger, e também quanto à igualdade natural o pacto 
procede a uma correção suprindo as deficiências resultantes de desigual-
dade física e fazendo com que os homens, podendo ser desiguais em for-
ça ou engenho, se tomem iguais por convenção e de direito. Sobre o que 
consiste exatamente o maior bem de todos, conclui que deve ser o fim de 
toda legislação, encontrando os dois objetos principais: liberdade e igual-
dade (ROUSSEAU, 1996, p. 23-30). 
Em suma, as várias das idéias que constituem a base do pensa-
mento de Rousseau são hoje consideradas fundamentos da democracia. 
Por exemplo, o que se dá com a afirmação da predominância da vontade 
popular, com o reconhecimento de uma liberdade natural e com a busca 
de igualdade, que se reflete, inclusive, na aceitação da vontade da maioria 
como critério para obrigar o todo, o que só se justifica se for acolhido o 
princípio de que todos os homens são iguais (DALLARI, 2005, p. 18). 
Na atualidade, é interessante perceber que há ponderações de 
que o estado da natureza, concebido por Hobbes como de luta, e conside-
rado por Rousseau como idílico, podem ter o valor de hipótese ou de 
Orlando Honorato da Silva 
 
28 
critério de caráter racional ao avaliar sob esse padrão, considerado como 
estado ideal da sociedade, em determinadas condições históricas, muito 
embora em realidade jamais tenha existido. Essas ponderações são reves-
tidas de preceitos básicos do contratualismo, mas seus autores não são 
contratualistas declarados (DALLARI, 2005, p. 18). 
Apesar das teorias contratualistas divergirem com relação ao 
entendimento do homem como ser social nato, seu entendimento e refle-
xões trouxe inúmeras idéias que influenciaram e influenciam as formas 
de organização de Estados. Deve ser destacado, os fundamentos da De-
mocracia ensinados por Rousseau, após a consciência da liberdade e a 
busca pela igualdade, estabelece-se a vontade da maioria como obrigató-
rio a todos. A vontade da maioria é estabelecida após concedido o direito 
de participação e informação a todos com liberdade e igualdade. 
2.1.1.2 Homem Ser Social 
Conclui Dallari: o homem é um ser social e a sociedade é resul-
tante de uma necessidade natural do homem, sem excluir a participação 
da consciência e da vontade humanas. Trata-se de um imperativo natural 
que deve estar presente em todas as considerações sobre a vida social, sua 
organização com um centro de poder, sua dinâmica, seus objetivos, e es-
pecialmente, nas considerações sobre a posição e o comportamento do 
indivíduo na sociedade. Não se poderáfalar do homem concebendo-o co-
mo um ser isolado, devendo concebê-lo como o homem social. Entretanto, 
é inegável que o contratualismo exerceu e continua exercendo grande in-
fluência prática, devendo reconhecer a sua presença marcante na idéia con-
temporânea de democracia (DALLARI, 2005, p. 18-19). 
Com relação à liberdade Dallari entende que, em coerência na 
sua concepção, deve ser considerado o reconhecimento de que o homem é 
por natureza um ser social. E evidentemente, conceber sua liberdade tendo 
em vista o homem social, o homem situado, que não existe isolado da soci-
edade, a liberdade humana é uma liberdade social, implicando deveres e 
responsabilidades com os demais. Assim, a questão não é uma maior ou 
uma menor quantidade de liberdade, mas é a qualidade de liberdade. Na 
realidade, as liberdades estão entrelaçadas e necessariamente inseridas num 
meio social. A idéia de liberdade individualista resultou na exploração 
desenfreada do homem pelo homem (DALLARI, 2005, p. 308-309). 
O problema do individualismo é posto nos seus significados so-
cial, econômico e político. O indivíduo é o bem supremo para o individua-
O Indicador Ambiental... 
 
29
lismo, deve submeter todos os bens sociais a si mesmo, eliminando a 
participação social. O atuar e existir juntamente com os outros não faz pro-
gredir nenhuma das características positivas do indivíduo. Karol Wojtyla 
considera o individualismo algo impessoalizante. Ao contrário, entende 
que o ser humano não se reduz enquanto pessoa a um indivíduo da espé-
cie, pois contém algo mais, alguma plenitude e perfeição particular do 
ser, cuja indicação exige necessariamente o uso da palavra pessoa, que 
tem elementos como inteligência, pensamento conceitual, natureza racio-
nal, interioridade, e a participação (WOJTYLA, 1979, apud SILVA, 
2001, p. 122-124). 
Karol Wojtyla entende a participação como parte da estrutura 
do ser pessoal e consiste na ação do ser humano junto com outros man-
tendo o seu ser pessoal. A ação autêntica se manifesta pela solidariedade 
e pela oposição, que não são conflitantes. O verdadeiro opositor mantém 
a sua posição de querer colaborar com o bem comum, variando o seu 
pensamento sobre os meios para a consecução daquele bem. As atitudes 
inautênticas se caracterizam por um conformismo servil ou pela evasão ou 
descompromisso frente à participação (WOJTYLA, 1979, apud SILVA, 
2001, p. 120-121). 
Na mesma linha de raciocínio de Dallari, entende-se que o ho-
mem é naturalmente um ser social, e a vida em sociedade traz evidentes 
benefícios ao homem. Porém, por outro lado, cria limitações em sua li-
berdade. O Estado como o poder central que tem como fim a execução da 
vontade geral deve buscar constantemente o bem comum. 
2.1.2 Finalidade Social 
Com relação a um finalismo social, os entendimentos dividem-se 
em dois grupos: os deterministas, que negam a possibilidade de escolha de 
um fim social, e os finalistas, que sustentam ser possível a fixação da fina-
lidade social, por meio de um ato de vontade (DALLARI, 2005, p. 22). 
Para os deterministas o homem está submetido, inexoravelmen-
te, a uma série de leis naturais, sujeitas ao princípio da causalidade. Afir-
mam que o homem tem sua vida social condicionada por certo fator, que 
pode ser: econômico, geográfico, ou várias outras ordens. Tem como 
conseqüência mais grave a voluntária submissão a leis consideradas ine-
xoráveis, com a conseqüente automatização da vida social e a descrença 
em mudanças qualitativas. Não há, pois um objetivo a atingir apenas uma 
sucessão natural de fatos (DALLARI, 2005, p. 22-23). 
Orlando Honorato da Silva 
 
30 
Opondo-se aos deterministas, os finalistas sustentam que há 
uma finalidade social, livremente escolhida pelo homem. Apesar do im-
pulso associativo natural, há ainda a participação da inteligência e da 
vontade. O homem tem consciência de que deve viver em sociedade e 
procura fixar, como objetivo da vida social, uma finalidade condizente 
com suas necessidades fundamentais e com aquilo que lhe parece ser 
mais valioso (DALLARI, 2005, p. 23). 
A finalidade social deverá ser algo, um valor, um bem, que to-
dos considerem como tal, daí a primeira conclusão do que é o bem co-
mum. Um conceito extremamente feliz de bem comum, verdadeiramente 
universal, que indica um valor reconhecível como tal por todos os ho-
mens quaisquer que sejam suas preferências pessoais, foi formulado pelo 
Papa João XXIII: “O bem comum consiste no conjunto de todas as condi-
ções de vida social que consistam e favoreçam o desenvolvimento inte-
gral da personalidade humana” (DALLARI, 2005, p. 23-24). 
Dallari destaca que, não há referência a uma espécie particular de 
bem comum, mas um conjunto de condições, incluindo a ordem jurídica e a 
garantia de possibilidades que consintam e favoreçam o desenvolvimento 
integral da personalidade humana, compreendendo tudo, inclusive os valo-
res materiais e espirituais, que cada homem julgue necessário para a expan-
são de sua personalidade. A sociedade deve então buscar a criação de con-
dições que permitam a cada homem e a cada grupo social a consecução de 
seus respectivos fins particulares (DALLARI, 2005, p. 24). 
A meta da teoria da justiça como equidade é elaborar uma con-
cepção da justiça política e social, em harmonia com as convicções e 
tradições mais enraizadas de um Estado moderno. Assim, a concepção de 
pessoa é considerada como fazendo parte de uma concepção da justiça 
política e social. Essa concepção da pessoa caracteriza a maneira pela 
qual os cidadãos devem tomar consciência de si mesmos e dos demais no 
seio de suas relações sociais e políticas. A cooperação social deve sempre 
visar a um benefício mútuo, implicando em dois elementos: o razoável e 
o racional (RAWLS, 2002, p. 156). 
O razoável consiste numa noção comum dos termos equitativos 
da cooperação, onde todos concordam com os termos, comportando idéias 
de reciprocidade e mutualidade, e todos que cooperam auferem vantagens 
ou compartilham os ônus comuns, de um modo apropriado, avaliado a 
partir de um ponto de comparação conveniente. O racional refere-se à 
vantagem racional de qualquer participante, vantagem que, na qualidade 
de indivíduos, os participantes tentam aumentar, enquanto a noção de 
termos equitativos de cooperação é comum, as concepções que os partici-
O Indicador Ambiental... 
 
31
pantes têm de sua própria vantagem racional costumam diferir (RAWLS, 
2002, p. 156, 157). 
A comunidade social já não tem uma concepção do bem basea-
da em uma fé religiosa, ou numa doutrina filosófica, mas numa concep-
ção pública compartilhada da justiça, de acordo com a concepção que 
considera os cidadãos num Estado democrático como pessoas livres e 
iguais. Os cidadãos são considerados como possuindo certa virtude polí-
tica natural, tendem a ter concepções do bem diferentes e incomensurá-
veis entre si, e a unidade da cooperação social repousa sobre uma con-
cepção pública da justiça que garante as liberdades básicas. Com relação 
à pluralidade das concepções do bem, a noção de sociedade como uma 
“união social de uniões sociais” mostra como é possível coordenar os 
benefícios da diversidade humana e chegar assim a um bem maior 
(RAWLS, 2002, p. 161-197). 
De acordo com as respectivas finalidades existem as sociedades 
de fins particulares e as sociedades de fins gerais. A primeira tem sua 
finalidade definida, e têm suas atividades voltadas para o fim escolhido. 
As sociedades de fins gerais que são chamadas de sociedades políticas 
têm objetivo, indefinido e genérico, de criar condições necessárias para 
que os indivíduos e as demais sociedades dela participantes consigam 
atingir seus fins particulares. Assim, as sociedades políticas visam criar 
condições para a consecução dos fins particulares de seus membros, ocu-
pam-se da totalidade dasações humanas, coordenando-as em função de 
um fim comum, não significando que determina as ações humanas, mas 
apenas que considera todas aquelas ações (DALLARI, 2005, p. 48). 
Entende-se que não há o que fazer com relação a alguns aconte-
cimentos naturais, falta de recursos naturais e condições geográficas, 
entretanto, é possível criar condições cada vez melhores para o desenvol-
vimento do ser humano pessoa, assim a sociedade deve ter como finali-
dade social as ações para criar condições cada vez melhores para o de-
senvolvimento pleno do ser humano. 
2.2 BEM COMUM 
Para Aristóteles a cidade é uma criação natural, pois o homem é 
por natureza um animal social, e ainda diferente dos outros animais, tem 
o dom da fala. Consegue distinguir entre o justo e o injusto, entre o bem e o 
mal, e outras qualidades morais, nasce dotado de todas as armas para serem 
bem utilizadas pela inteligência e pelo talento, sem as qualidades morais 
Orlando Honorato da Silva 
 
32 
torna-se o mais impiedoso e selvagem dos animais (ARISTÓTELES, 
1985, p. 1252-1254). 
A comunidade desses seres constitui uma família ou uma co-
munidade, que busca atingir sua auto-suficiência, ou seja, além de garan-
tir a vida de seus membros existe também para proporcionar uma vida 
cada vez melhor. A finalidade para o qual cada coisa foi criada é o que há 
de melhor para ela. Todas as ações de todos os homens são praticadas 
com vistas ao que lhe parece um bem. A comunidade se forma tendo 
como fim o bem comum. Assim, a justiça é a base da sociedade, sua apli-
cação assegura a ordem na comunidade social ao determinar o que é justo 
(ARISTÓTELES, 1985, p. 1252-1254). 
O bem consiste em servir a um valor positivo sem prejuízo de 
um valor mais alto, o bem social ideal consistirá em servir ao todo coleti-
vo respeitando a personalidade de cada um, visto como evidentemente ao 
todo não se serviria com perfeição se qualquer de seus componentes não 
fosse servido. Reale afirma que impõe-se preservar o bem do indivíduo 
como ponto final, como fim a que se deve tender de maneira dominante, 
mas ao mesmo tempo e correspondentemente, é mister salvaguardar e 
acrescer o bem do todo, naquilo que o bem social é condição do bem de 
cada qual. Há, portanto, dois aspectos do problema do bem, ou dois mo-
mentos de realização do bem: um individual e outro social (REALE, 
1999, p. 271-272). 
Lembra-se que não podem ser confundidos o entendimento do 
ser humano pessoa com o individualismo criticado por Karol Wojtyla. O 
problema do individualismo é posto nos seus significados social, econô-
mico e político. O indivíduo é o bem supremo para o individualismo, 
deve submeter todos os bens sociais a si mesmo, eliminando a participa-
ção social. O atuar e existir juntamente com os outros não faz progredir 
nenhuma das características positivas do indivíduo. Considera o individua-
lismo algo impessoalizante. Ao contrário, entende que o ser humano não 
se reduz enquanto pessoa a um indivíduo da espécie, pois contém algo 
mais, alguma plenitude e perfeição particular do ser, cuja indicação exige 
necessariamente o uso da palavra pessoa, que tem elementos como inteli-
gência, pensamento conceitual, natureza racional, interioridade, e a parti-
cipação (WOJTYLA, 1979, apud SILVA, 2001, p. 122-124). 
Karol Wojtyla e Emmanuel Mounier, entendem que a pessoa 
não é uma realidade estática, mas se autoconstrói sobre um dado perma-
nente que é a sua natureza, possui um princípio ontológico a partir do 
qual ele se constrói, o ser precede a ação e a construção, e a pessoa é 
uma categoria basilar e referência fundamental para a ação ética. Para 
O Indicador Ambiental... 
 
33
Wojtyla, o ser humano-pessoa deve ser o fim da ação, não pode ser usado 
tendo em vista quaisquer fins pela sua específica natureza e conforme a 
sua objetiva verdade ontológica. De fato, isto é expresso na existência 
concreta na medida em que a norma personalista torna-se o referencial 
para a ação do ser humano, no convívio com o seu semelhante. Esta 
norma deve orientar o agir da pessoa em todos os setores e situações em 
que ela se relaciona com outras pessoas (MOUNIER, 1947 e 1970, 
WOJTYLA, 1979, apud SILVA, 2001, p. 128-130). 
Reale entende que o bem, enquanto bem do indivíduo, como 
fim último dessa direção axiológica, constitui o objeto da Moral, e objeti-
vo último da Ética. A Moral tende a apreciar o homem naquilo que é 
específico e singular da pessoa. Por outro lado, o bem, visto como valor 
social é o que chama propriamente de justo, e constitui o valor fundante 
do Direito. Sustenta ainda, sobre os Fundamentos do Direito, duas propo-
sições fundamentais: 1) toda Axiologia tem como fonte o valor da pessoa 
humana, e 2) toda Axiologia jurídica tem como fonte o valor do justo, 
que significa a coexistência harmônica e livre das pessoas segundo pro-
porção e igualdade (REALE, 1999, p. 272). 
Assim, Reale afirma que, o valor do próprio Direito é, pois a 
Justiça, não entendida como simples relação extrínseca ou formal, aritmé-
tica ou geométrica dos atos humanos, mas como a unidade concreta, des-
ses atos, de modo a constituírem um bem intersubjetivo ou, melhor, o 
bem comum (REALE, 1999, p. 272). 
Reale define que a Justiça é a expressão unitária e integrante de 
todos os valores de convivência, pressupõe o valor transcendental da 
pessoa humana, e representa o pressuposto de toda a ordem jurídica. Essa 
compreensão histórico-social da Justiça induz à sua identificação com o 
bem comum, ou seja, um sentido diverso do que lhe conferem os que 
atentam mais para os elementos de “estrutura”, de forma abstrata e estáti-
ca. Não reconhecerem que o bem comum só pode ser concebido, concre-
tamente, como um processo incessante de composição de valorações e de 
interesses, tendo como base ou fulcro o valor condicionante da liberdade 
espiritual, a pessoa como fonte constitutiva da experiência ético-jurídica 
(REALE, 1999, p. 272-273). 
Para Reale, a Moral cuida, de maneira direta, imediata e preva-
lecente, do bem enquanto individual, e o Direito se preocupa, de maneira 
direta, imediata e prevalecente, do bem enquanto do todo coletivo, isto é, 
do bem comum ou justiça. Na acepção geral. Ética significa ciência nor-
mativa da conduta ou do comportamento humano. Trata-se, portanto, de 
um gênero que contém em si espécies, entre as quais a Moral e o Direito. 
Orlando Honorato da Silva 
 
34 
Entretanto, a Moral e o Direito não esgotam a problemática da Ética, 
existem outras formas de comportamento, que são governadas por outras 
expressões possíveis do bem, como as chamadas regras de “costumes”: 
convenção social, trato social, etiqueta, elegância, e civilidade que a seu 
modo realizam o valor do bem (REALE, 1999, p. 273-274). 
Em nossos dias, usa-se de preferência o termo justiça no sentido obje-
tivo, ou seja, para indicar a ordem social que os atos de justiça proje-
tam ou constituem, motivo pelo qual temos defendido a tese de que, 
objetivamente, a justiça se reduz à realização do bem comum, ou, 
mais precisamente: é o bem comum “in fieri”, como constante exi-
gência histórica de uma convivência social ordenada segundo os va-
lores da liberdade e da igualdade (REALE, 1999, p. 276). 
Com relação à Justiça, destaca-se o que é sustentado por Rawls, 
a Justiça é baseada em dois princípios, onde o primeiro tem prioridade 
sobre o segundo: Primeiro princípio: “Cada pessoa tem um direito igual a 
um sistema plenamente adequado de liberdades básicas iguais para to-
dos, que seja compatível com um mesmo sistema de liberdades para to-
dos”. Segundo princípio: “As desigualdades sociais e econômicas devem 
satisfazer a duas condições: a) elas devem primeiro ser ligadas a funções 
e a posições abertas a todos, em condições de justa (fair) igualdade de 
oportunidades; e b) devem proporcionar o maior benefício aos membrosmais desfavorecidos da sociedade” (RAWLS, 2002, p. 144-145). 
As liberdades básicas citadas no primeiro princípio são: a liber-
dade de pensamento e a liberdade de consciência, as liberdades políticas e 
a liberdade de associação, bem como, as liberdades incluídas na noção de 
liberdade e de integridade da pessoa, e os direitos e liberdades protegidos 
pelo Estado de direito. Não se pode priorizar a liberdade simplesmente 
como tal (RAWLS, 2002, p. 145). 
Essas liberdades básicas requerem certo regime democrático re-
presentativo, com as proteções necessárias da liberdade política do dis-
curso e da imprensa, a liberdade de reunião, entre outras. A liberdade de 
consciência e a liberdade de associação garantirão a aplicação completa, 
informada e eficaz das faculdades da razão deliberativa dos cidadãos à 
formação, revisão e busca racional de sua concepção do bem, durante 
toda a sua vida. As demais liberdades: a liberdade e a integridade da pes-
soa e os direitos e liberdades garantidos pelo Estado de direito estão inter-
ligadas e necessárias caso se queira que as liberdades já citadas sejam 
garantidas corretamente. Em suma, define o status comum e garantido 
dos cidadãos iguais numa sociedade democrática bem ordenada 
(RAWLS, 2002, p. 188). 
O Indicador Ambiental... 
 
35
Do ponto de vista moral do igual respeito por cada um e de uma 
consideração simétrica dos interesses de todos são questionadas as pre-
tensões normativas de relações interpessoais legitimamente reguladas. No 
horizonte de uma fundamentação pós-tradicional, o indivíduo singular 
forma uma consciência moral dirigida por princípios e orienta seu agir 
pela idéia da autodeterminação, o que equivale à liberdade política do 
direito racional, da autolegislação democrática, no âmbito da constituição 
de uma sociedade justa. Assim, toma-se consciência da lógica de ques-
tões éticas e morais, e as orientações práticas são obtidas por meio de 
argumentações, isto é, através de formas de reflexão próprias do agir 
comunicativo, sem visões metafísicas ou religiosas imunes à crítica 
(HABERMAS, 1997, p. 131-132). 
Interessante que o direito à informação e o direito à participação 
são reflexos das liberdades básicas defendidas por Rawls, principalmente, 
a liberdade de pensamento, a liberdade de consciência e as liberdades 
políticas. As liberdades políticas devem ser consideradas de maneira par-
ticular, pois podem afetar todas as demais liberdades básicas. Somado a 
isso, em um sistema democrático, naturalmente surge o agir comunicativo 
como forma prática de interferir e obter uma conclusão favorável a todos 
em uma sociedade, mesmo que essa conclusão possa ser alterada a qual-
quer momento com a dinâmica dos acontecimentos e do desenvolvimento 
humano. 
2.2.1 Teorias do Bem Comum e a Relação com o Estado 
O homem é uma criatura que deve ser, deve realizar-se, aperfei-
çoar-se, buscando o próprio bem. O homem mostra-se um ser social por 
natureza. Quando se dá conta de sua existência, já está vivendo em co-
munidade, e isto ocorre por um motivo muito simples: em sociedade, 
junto ao outro, pode realizar mais facilmente seu bem individual na medi-
da em que colabora para o bem de todos: o bem comum (SILVA; IRIBURE 
JÚNIOR, 2006, p. 739). 
O estudo ético deve levar em conta que o bem e o mal moral se 
expressam nas ações. Karol Wojtyla, do estudo do pensamento de Aristó-
teles, afirma que os entes manifestam a aspiração a um fim, que é o bem, 
aquilo que se deseja e se expressa pelo fato de o ente ser aperfeiçoado 
pelo bem. A perfeição moral da apropriação da virtude acaba por realizar 
o bem fundamental interno a si mesmo, que constitui o fim último do seu 
agir como ser racional e livre. Assim, o ser humano não pode ser um 
egoísta, interessado, exclusivamente, no próprio bem, considera sempre o 
Orlando Honorato da Silva 
 
36 
bem comum, desta forma, a busca da perfeição, segundo Aristóteles rejei-
ta o individualismo (SILVA, 2001, p. 45-50). 
O bem do homem é tudo aquilo que se dirige à manutenção e ao 
engrandecimento do ser, é a busca da sua perfeição. Etimologicamente, o 
vocábulo “comum” quer dizer aquilo “que pertence ao mesmo tempo a 
vários sujeitos”, no sentido de comunhão, de união. A sociedade por sua 
vez não é mera adição, mas como a união de indivíduos em torno de fins 
comuns que lhe são inerentes, e por conseqüência possibilita a realização 
de seus bens particulares (SILVA; IRIBURE JÚNIOR, 2006, p. 740). 
Para Reale, ao afirmar que a realização do bem comum é o jus-
to, ou de outra forma, é o bem enquanto fim intersubjetivo do agir surgem 
três grandes posições possíveis: o individualismo, o transpersonalismo, e 
o personalismo (REALE, 1999, p. 277-279). Dallari, em um primeiro 
momento classifica o Estado em fins objetivos e fins subjetivos. Interes-
sante que a divisão da última classificação, do ponto de vista do relacio-
namento da finalidade do Estado com os indivíduos, tem-se três posições 
parecidas com as de Reale acima citadas, e chamadas como segue: fins 
limitados, fins expansivos e fins relativos (DALLARI, 2005, p. 103-108). 
Silva e Iribure Júnior defendem que existem as seguintes teorias 
do bem comum: a individualista, a coletivista, a materialista, a tradicional 
e a personalista comunitária (SILVA E IRIBURE JÚNIOR, 2006, 
p. 739). Tais teorias têm definições próximas das posições apresentadas 
por Reale, podendo entender apenas um número maior de teorias como 
sendo uma pequena variação das posições principais. Do mesmo modo, 
as formas de Estado em comparação com o bem comum apresentados por 
Dallari, do ponto de vista do relacionamento com o indivíduo, serão con-
trastadas com essas teorias e posições. 
2.2.2 Finalidades do Estado 
Dallari afirma que o problema da finalidade do Estado é tão im-
portante que não se pode ter uma idéia de Estado sem ter consciência dos 
seus fins, pois há uma relação estreita entre os fins do Estado e as funções 
que ele desempenha. A falta de consciência das finalidades do Estado 
pode levar a tomar umas das finalidades do Estado como única, e solapar 
outras, como por exemplo, prioridade única e exclusiva para questões 
econômicas ou questão de ordem, que acabam eliminando a liberdade um 
dos valores fundamentais da pessoa humana, contrariando os fins do pró-
prio Estado (DALLARI, 2005, p. 103). 
O Indicador Ambiental... 
 
37
Para Rousseau só a vontade geral pode dirigir as forças do Es-
tado em conformidade com o objetivo de sua instituição, que é o bem 
comum. O vínculo social é formado pelo que há de comum nos diferentes 
interesses particulares, e, se não houvesse um ponto em que todas as von-
tades dos envolvidos concordam, nenhuma sociedade poderia existir. 
Assim, é com base nesse interesse comum que uma sociedade deve ser 
governada. A soberania, por sua vez, sendo apenas o exercício da vontade 
geral, nunca pode alienar-se, e que o soberano, não passando de um ser 
coletivo, só pode ser representado por si mesmo; pode transmitir o poder, 
não, porém a vontade (ROUSSEAU, 1996, p. 33). 
Dallari entende que é possível a sistematização doutrinária do 
estudo da finalidade do Estado e faz inicialmente uma classificação do 
Estado em fins objetivos e fins subjetivos do Estado. Para os fins objeti-
vos do Estado questiona-se o papel representado pelo Estado no desen-
volvimento da história da Humanidade. Nesse contexto há duas ordens de 
idéias. A primeira afirma que existem fins universais objetivos, fins co-
muns a todos os Estados de todos os tempos. Tal entendimento foi nega-
do pelos evolucionistas, como os organicistas que entendiam o Estado 
como um fim em si mesmo (DALLARI, 2005, p. 104). 
A segunda, de fins objetivos, sustenta a existência de fins parti-
culares objetivos, onde cada Estado tem seus fins particulares, que resul-
tam das circunstâncias em que eles surgirame se desenvolveram como 
condicionantes de sua história. Para essa posição de fins subjetivos im-
portante é o encontro da relação entre os Estados e os fins individuais, o 
Estado é uma unidade conseguida pelo desejo da realização de inúmeros 
fins particulares (DALLARI, 2005, p. 104-105). 
Assim como as demais estruturas na sociedade, deve ser lem-
brado que, o Estado é meio e o ser humano fim. Deste modo, fica claro o 
entendimento de que o Estado deve ser um instrumento utilizado para 
criar as condições para o desenvolvimento pleno de seus membros, con-
siderados o fim. Os Estados que se consideram um fim sem si mesmo, 
solapam a liberdade e a igualdade de seus membros, e contrariam o fun-
damento para o qual foram criados. A seguir, serão tratadas as subdivi-
sões com relação aos fins subjetivos do Estado. 
2.2.3 Bem Comum e Individualismo 
A tese do individualismo social ou do individualismo jurídico 
sustenta que a ordem social justa é o resultado da satisfação do bem do 
Orlando Honorato da Silva 
 
38 
indivíduo como indivíduo (individualismo). No âmago do pensamento 
político e econômico do individualismo existe a tese essencial de que, se 
cada homem cuidar de seu interesse e de seu bem, cuidará, ipso facto, do 
interesse e do bem coletivo. Cada homem, realizando seu bem, realizaria, 
mediante automático equilíbrio dos egoísmos, o bem social ou o bem 
comum. Daí a tese de que o Estado deve ter uma função primordial e 
essencial, que se esgotaria praticamente na tutela jurídica das liberdades 
individuais: cada homem, podendo realizar plenamente seu bem. Como 
conseqüência inevitável, daí resultaria a felicidade comum (REALE, 
1999, p. 277). 
Dallari informa que os favoráveis aos fins limitados, reduzem 
ao mínimo as atividades do Estado, e lhe dão a posição de mero vigilante 
da ordem social, não admitindo que ele tome iniciativas, sobretudo em 
matéria econômica. Alguns dão ao Estado a função exclusiva de preser-
vação da segurança, dos indivíduos, de ameaça externa ou de grave per-
turbação interna. Uma corrente entende que a função exclusiva do Estado 
é a de proteger a liberdade individual, não admitindo que um indivíduo 
sofra a mínima restrição em favor de outro indivíduo, da coletividade ou 
do Estado, linha chamada de Estado-liberal, inspiração atribuída a John 
Locke (DALLARI, 2005, p. 106). 
Proteger única e exclusivamente o individualismo, de forma 
particular, é um risco, pois o Estado pode criar condições em que um 
grande número de pessoas ou até mesmo bens de uso comum do povo, e 
bens públicos fiquem à disposição para a satisfação de poucos indivíduos. 
Deste modo, é importante a consciência de que o homem é um ser social 
e deve colaborar para que a toda sociedade evolua, evidentemente valo-
rizando cada pessoa, com igualdade de condições e ajuda aos menos 
favorecidos. 
2.2.4 Bem Comum e Coletivismo (Transpersonalismo) 
Outra posição possível é a daqueles que contestam a possibili-
dade de uma harmonia espontânea entre o bem do indivíduo e o bem do 
todo. Ao contrário do individualismo, estes defendem que o bem do todo 
é condição sine qua non da felicidade individual, e que, na realidade, 
devem preponderar sempre os valores coletivos, só adquirindo autentici-
dade e plenitude a existência humana quando a serviço do bem social 
(transpersonalismo). Com tais pressupostos de uma concepção societista 
ou coletivista do justo surgem as perspectivas jurídico-políticas que repu-
tam equivocadas todas as teorias que apresentam o ser “humano pessoa” 
O Indicador Ambiental... 
 
39
como bem supremo. Nesse sentido, não se poderia falar em “Moral indi-
vidual” senão como aspecto ou momento da “Moral social” (REALE, 
1999, p. 277). 
Na teoria dos fins expansivos os fins do Estado ganham grande 
amplitude e anulam o indivíduo. Uma teoria da espécie de fins expansi-
vos são as utilitárias, onde o bem supremo é o máximo desenvolvimento 
material, mesmo em detrimento da liberdade e de outros valores funda-
mentais humanos. Essa idéia de Estado do bem-estar sustenta que a con-
secução de uma situação material bem favorável dará aos homens plena 
satisfação, desaparecendo todas as necessidades. Para alguns esse fim do 
Estado é o bem comum que não pode ser confundido com o bem comum 
das encíclicas do Papa João XXIII (DALLARI, 2005, p. 105-106). 
O consumismo é apresentado como uma maneira globalizante 
de se conceber a vida do homem e o prazer como fim do agir humano, 
“eu consumo logo existo”. É necessário, educar as pessoas para a contri-
buição da criação de uma sociedade mais humanamente madura. Outra 
questão da atualidade é a do meio ambiente, quando se esquece que a 
natureza do cosmo é algo que foi dado e necessita ser respeitado. É ne-
cessário que todos os bens disponíveis sejam orientados tendo em vista o 
autêntico bem do ser humano. O “ter” deve contribuir para que o ser hu-
mano seja mais em sua específica vocação; a afirmação da dignidade do 
ser pessoal no fato de que os direitos da pessoa humana devem ser respei-
tados, defendidos e promovidos, esses direitos são naturais, universais e 
invioláveis (SILVA, 2001, p. 266-269). 
A soma dos bens materiais de uma comunidade seria o bem 
comum para os defensores dessa teoria. A crítica para essa teoria é que o 
ser humano não pode ser reduzido ao “ter”. Propriedades e bens de con-
sumo podem trazer conforto e bem-estar ao homem, mas não se confun-
dem com o bem comum, que contempla ainda os bens moral, intelectual, 
físico e espiritual do homem (SILVA E IRIBURE JÚNIOR, 2006, 
p. 743-744). 
Outras espécies de fins expansivos são as éticas: favoráveis aos 
fins expansivos rejeitam o utililitarismo e preconizam a absoluta supre-
macia de fins éticos, sendo este o fundamento da idéia do Estado ético, 
que acabam levando ao totalitarismo porque dão ao Estado a condição de 
fonte da moral, onipotente e onipresente, não tolerando qualquer compor-
tamento que não seja rigorosamente de acordo com a moral oficial 
(DALLARI, 2005, p. 106). 
O erro fundamental do socialismo é porque ele compreende o 
ser humano como um elemento e uma molécula do organismo social, ele 
Orlando Honorato da Silva 
 
40 
fica reduzido a uma série de relações sociais, e desaparece o conceito de 
pessoa como sujeito autônomo de decisão moral. A organização social é 
construída independentemente da dignidade e responsabilidade pessoais. 
O ser humano não pode ser compreendido, unicamente, a partir do fator 
econômico nem só com fundamento na classe social. A criatura humana é 
concebida de forma mais abrangente e profunda na medida em que for 
abordada mediante a cultura, a linguagem, a história e as atitudes que 
adota frente aos problemas do nascimento, do amor, do trabalho, da mor-
te e do mistério maior que é Deus, ponto central de todas as realidades 
culturais (SILVA, 2001, p. 264-266). 
Da mesma forma com o que ocorre com o individualismo, pro-
teger única e exclusivamente o coletivismo, na maioria das vezes de for-
ma autoritária, é também um risco, pois o Estado pode criar condições de 
desmotivação e falhas crescentes no seu desenvolvimento, pois anulam a 
liberdade e a igualdade do indivíduo. Deste modo, é importante a consciên-
cia de que cada pessoa, além de ser social, é única, com idéias, vontades, 
que deve colaborar para que a toda sociedade evolua, evidentemente va-
lorizando cada pessoa, com liberdade e igualdade de condições, e ajuda 
aos menos favorecidos. 
2.2.5 Bem Comum e Personalismo 
Reale se identifica com a terceira corrente de pensamento que 
procura superar as duas primeiras, mostrando que entre os termos indiví-
duo e sociedade não existe nem a harmonia espontânea que a primeira 
idealiza, nem a inelutável subordinação que a segunda nos oferece. Sus-
tenta que não há possibilidade de se pensar em uma combinação harmô-
nica e automática

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