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Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ” DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA RURAL SÉRIE DIDÁTICA: PREVENÇÃO, MANEJO E RECUPERAÇÃO DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS. NILDO DA SILVA DIAS1 HANS RAJ GHEYI2 SERGIO NASCIMENTO DUARTE3 PIRACICABA - SP 2003 1 Doutorando em Agronomia – Área de Concentração em Irrigação e Drenagem, Departamento de Engenharia Rural, ESALQ/USP, Piracicaba, SP 2 Prof. Titular, Dr., Departamento de Engenharia Agrícola, CCT/UFCG, Campina Grande, PB 3 Prof., Dr., Departamento de Engenharia Rural, ESALQ/USP, Piracicaba, PB Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 2 PREVENÇÃO, MANEJO E RECUPERAÇÃO DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS APRESENTAÇÃO Nas regiões áridas e semi-áridas, quase sempre a irrigação causa problemas relativos à salinidade no solo, afetando o desenvolvimento e a produção das plantas cultivadas. O manejo inadequado do sistema solo - água - planta nos perímetros irrigados dessas regiões e, conseqüentemente, o aparecimento dos problemas de salinidade de forma grave, são exemplo disto. Acredita-se que a falta de conhecimento do manejo adequado das áreas cultivadas por parte dos agricultores, aliada a desinteresse político com os problemas ambientais, contribuem para que esta situação permaneça inalterada. Assim, o principal objetivo deste trabalho é oferecer aos estudantes dos Cursos de Agronomia e Engenharia Agrícola, subsídios sobre prevenção, manejo e recuperação de solos afetados por sais, na tentativa de alcançarmos excelentes profissionais, conscientes dos riscos potenciais da salinidade. Esta apostila é fundamentada principalmente em capítulos dos livros de RICHARDS (1954), AYERS & WESTCOT (1999) e GHEYI et al (1997). De bastante utilidade também, foi a apostila elaborada pelos professores Hans Raj Gheyi (UFCG), José Francismar de Medeiros (ESAM) e Marcos Firmino Batista (UFCG), apresentando muitas partes transcritas. Todas as críticas e sugestões que visem ao aperfeiçoamento deste trabalho serão motivo de satisfação, análise e consideração. Piracicaba SP, Abril de 2003 Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 3 PREVENÇÃO, MANEJO E RECUPERAÇÃO DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS 1 INTRODUÇÃO Estima-se que no mundo, cerca de 250 milhões de hectares sejam cultivados sob irrigação, com sua maior parte localizada em regiões áridas e semi-áridas, pois nelas ocorre déficit hídrico para as plantas em grande parte do ano e não há distribuição regular das chuvas, inviabilizando a prática agrícola sob condições de chuva natural. Todas as águas utilizadas na irrigação contêm sais, embora em quantidades variáveis, que se acumulam no solo afetando o crescimento e o desenvolvimento das plantas, dependendo das condições edafoclimáticas da região e das técnicas de manejo das áreas. Dentre os problemas causados pelo acúmulo de sais no solo, a diminuição da disponibilidade de água para as plantas e o encharcamento do solo, são os que mais se destacam. Ainda que não se disponha de dados exatos sobre a extensão desses problemas no mundo, estimativas da FAO, segundo Szabolcs (1985) mostram que aproximadamente metade da área irrigada apresenta problemas sérios de salinidade. Os efeitos negativos da salinidade poderão ser observados no “stand”, no crescimento e rendimento das plantas e, em casos extremos, na perda total da cultura. Devido a esses problemas, cerca de 10 milhões de hectares são abandonados a cada ano (Szabolcs, 1985). Portanto, o estudo de prevenção, o manejo e recuperação dos solos afetados por sais são indispensáveis para o sucesso e sustentação da agricultura irrigada. Para melhor compreensão do problema, apresentam-se, também, informações sucintas referentes à origem, extensão e efeitos da salinidade. Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 4 2 ORIGEM DOS PROBLEMAS DE SALINIDADE A origem dos problemas de salinidade se confunde com a própria formação do solo, que é um produto da intemperização das rochas, envolvendo processos físicos, químicos e biológicos, mediante a ação de fatores como clima, relevo, organismos vivos e o tempo. Durante a intemperização, os diversos constituintes das rochas são liberados na forma de compostos simples. Observa-se, na Tabela 1, que o oxigênio, o silício e o alumínio, constituem mais de 80 % dos elementos existentes na crosta terrestre. O silício pode ser substituído de forma isomorfa por alumínio e este por magnésio, dando origem às livres cargas elétricas negativas das partículas de argila. Ainda em relação à Tabela 1, embora o sódio, cálcio, magnésio, potássio, cloro, enxofre e o carbono estejam presentes em proporções relativamente menores, poderão ser acumulados no solo em grandes quantidades, em virtude desses elementos estarem retidos pela rocha com menores coeficientes de energia (Tabela 2) e, conseqüentemente, apresentarem alta solubilidade e mobilidade em relação ao silício, alumínio e ferro (FAO/UNESCO, 1973). Portanto, o acúmulo de elementos no solo não depende somente do seu teor na rocha mas, também, do coeficiente de energia com que é retido, da sua mobilidade e solubilidade. Deste modo, os sais solúveis acumulados no solo são constituídos principalmente dos íons cloreto, cálcio, magnésio, sódio, sulfato e bicarbonato e, às vezes, de potássio, carbonato e nitrato (Whitemore, 1975). Os sais liberados durante o processo de intemperização das rochas, dependendo da geomorfologia da região, podem ser carreados para horizontes inferiores mediante percolação ou levados a lugares distantes por escoamento superficial, conforme as condições de relevo, fluxo de água etc; no primeiro caso, os sais são depositados nas águas sub-superficiais podendo, por capilaridade, acumular-se na superfície do solo a medida em que a água for evaporada ou consumida pela planta, e o segundo fenômeno é responsável pela deposição e acumulação de sais em rios, mares, açudes e lagoas. Em regiões úmidas e por se tratar de zonas com precipitações elevadas, os sais são lixiviados até os lençóis freáticos ou eliminados através das águas superficiais, com maior freqüência. Enquanto, em regiões de clima árido e semi-árido, por apresentarem déficit hídrico na maior parte do ano e, na maioria das vezes, os solos serem rasos ou apresentarem camadas impermeáveis, a água, que contém sais, fica sujeita aos processos de evaporação ou evapotranspiração, Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 5 podendo atingir, com o tempo, níveis comprometedores para o crescimento e desenvolvimento das plantas (Pizarro, 1978; Richards, 1970). Tabela 1 Porcentagem dos elementos mais comuns na crosta terrestre (FAO/UNESCO, 1973) Elementos Porcentagem (%) Oxigênio 49,13 Silício 26,00 Alumínio 7,47 Ferro 4,20 Cálcio 3,25 Magnésio 2,40 Potássio 2,35 Hidrogênio 2,35 Titânio 1,00 Carbono 0,61 Cloro 0,35 Fósforo 0,20 Enxofre 0,12 Manganês 0,10 Outros (cerca de 70 elementos) 0,39 Tabela 2 Seqüência de liberação dos íons baseada em seus coeficientes de energia (Ce) durante o processo de intemperização (FAO/UNESCO, 1973) Seqüênciade liberação I II III IV ÍON Ce ÍON Ce ÍON Ce ÍON Ce Cl- e Br- 0,23 Na- 0,45 SiO32- 2,75 Fe2+ 5,15 NO3- 0,18 K+ 0,36 Al3+ 4,25 SO42- 0,66 Ca2+ 1,75 CO32- 0,78 Mg2+ 2,10 2.1 Processo de salinização e sodificação As cargas negativas das partículas coloidais de argila, originadas pela substituição isomórfica e arestas expostas dos cristais, são neutralizadas pela adsorção de outros cátions presentes na solução do solo. Assim, a composição dos sais solúveis na solução afeta a proporção de cátions adsorvidos ou trocáveis na micela. Em solos de regiões úmidas, devido à eliminação das bases (sais de Ca, Mg, Na e K) liberadas durante a intemperização das rochas, o hidrogênio e o alumínio predominam no complexo. Por outro lado, em solos de regiões áridas ou semiáridas, quando se tem boa drenagem predominam, no complexo, os cátions de cálcio e magnésio mas, quando se tem solos com drenagem inadequada ou o Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 6 lençol freático se encontra próximo à superfície, esses cátions, durante o processo de concentração dos sais pela evaporação ou evapotranspiração, são precipitados na forma de carbonato de cálcio e magnésio ou de sulfato de cálcio, visto serem os compostos de menor solubilidade entre os acumulados (Tabela 3) aumentando, deste modo, a proporção relativa de sódio solúvel na solução do solo. Quando o sódio solúvel atinge concentração relativa superior a 50 % na solução, o mesmo passa a ser adsorvido pela micela em proporções suficientes para promover a dispersão reduzindo, assim, a permeabilidade do solo. Enquanto o fenômeno de acumulação de sais solúveis no solo é denominado salinização, ao aumento gradual de sódio trocável se denomina sodificação; trata-se de um processo posterior à salinização, porém pode ocorrer simultaneamente quando se tem, na solução do solo, sais exclusivos ou predominantemente de sódio (difícil de ocorrer, pois a rocha em geral contém um conjunto de compostos químicos). Tabela 3 Solubilidade (g L-1) dos principais sais encontrados em solos afetados por sais (Pizarro, 1977) Solubilidade (g L-1) Na Mg Ca CO3 2131 2,512 0,01312 SO4 1851 2622 2,043 Cl 318 353 427 NO3 686 Muito Elevada4 Muito Elevada4 1 A uma temperatura de 20o C. Para as temperaturas de 0, 10 e 30o C, o Na2CO3 e o Na2SO4 apresentam solubilidade de 70-45, 122-90 e 371-373 g L-1, respectivamente 2 A solubilidade varia com a pressão parcial de CO2 ou pH 3 A solubilidade aumenta na presença de NaCl. Em soluções de 10 e 100 g L-1 de NaCl a solubilidade do CaSO4 é, respectivamente, 4,2 e 8,48 g L-1. Na presença de Na2SO4, CaCl2 e NaHCO3 diminui devido a formação de íon par ou formação de Ca(HCO3-). Para 10 g L-1 de Na2SO4, CaCl2 e NaHCO3, a solubilidade do CaSO4 é 1,9, 1,5 e 0,9 g L-1, respectivamente 4 Composto altamente higroscópico 2.2 Principais fontes de sais que provocam a salinização Embora a fonte principal e direta de todos os sais presentes no solo seja a intemperização das rochas (Richards, 1954) são raros os exemplos em que esta fonte de sais tenha provocado diretamente problemas relacionados com a salinidade do solo. A salinização do solo por este fenômeno é denominada salinização primária. Os problemas de salinidade têm sido associados à água utilizada na irrigação, à drenagem deficiente e à presença de águas sub-superficiais, ricas em sais solúveis, a pouca Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 7 profundidade; nos casos em que a salinização resultante devida à ação antrópica a mesma é conhecida como salinização secundária. Além disso, a salinização pode ser causada pela ação dos ventos, das chuvas e das inundações marítimas. 2.2.1 Água utilizada na irrigação Toda e qualquer água utilizada na irrigação contém sais, embora sua qualidade possa variar de acordo com o tipo e a quantidade de sais presentes. Por exemplo, enquanto a água do Rio São Francisco tem concentração salina equivalente a 64 mg L-1, uma água proveniente de um poço localizado na região do Cariri ou no Sertão da Paraíba, poderá conter teores de sais acima de 3200 mg L-1; uma água de chuva, dependendo do local e da época do ano, poderá ter sua concentração salina entre 30 e 60 mg L-1. Os sais presentes na água são incorporados ao solo, em função de sua concentração ou condutividade elétrica. Observa-se que, quando se aplica uma lâmina de 100 mm, com teor de sais relativamente baixo, em torno de 320 mg L-1, são incorporados ao solo 320 kg ha-1 de sais, sendo que a cada evento de irrigação ou lâmina adicional irá aumentar gradativamente a quantidade desses sais no solo, caso não sejam lixiviados, precipitados e retirados pelas plantas1. Nem todos os sais incorporados pelas águas ficam no solo, mesmo em regiões áridas ou semi-áridas, pois uma parte pode ser eliminada por percolação, por meio de sucessivas lâminas de irrigação ou chuvas ou, ainda, tornar-se insolúvel mediante a precipitação, quer por reações químicas ou por atingir limites de solubilidade na solução do solo. Além disso, outra parte, embora em quantidade pequena, é absorvida pelas plantas para atender às suas necessidades; contudo, o acúmulo de sais no solo em determinado local, pode atingir um equilíbrio (Figura 1). Para que a agricultura irrigada seja sustentável, o nível de concentração de sais no solo, nas condições de equilíbrio, deverá ser inferior ao limite de tolerância das culturas à salinidade. 1 1 mg L-1 = 1 ppm. Uma lâmina de 100 mm equivale a 1000.000 L ha-1. Para uma concentração de sais de 320 mg L-1, a quantidade de sais incorporados ao solo será: (320 mg L-1) x (1000.000 L ha-1) = 320 kg ha-1 Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 8 Figura 1 Esquema da relação entre a acumulação de sais no solo de uma determinada textura em função das lâminas de irrigação aplicadas ou tempo para águas de diferentes concentrações salinas (o teor de sais da água 3 > água 2 > água 1) 2.2.2 Água do lençol freático Freqüentemente, os problemas de salinidade na agricultura têm ocorrido devido à elevação do nível do lençol freático. Neste caso, a água, em razão do movimento ascendente por capilaridade, atinge a zona radicular e, a medida em que ela é evaporada ou evapotranspirada, os sais ficam acumulados na superfície. Nas regiões áridas e nos trópicos úmidos, a profundidade crítica do lençol sujeita a ascensão capilar, varia entre 2,0 a 2,5 m, dependendo da textura do solo, do clima, da concentração de sais e do manejo da irrigação. Salienta-se que em solos siltoso a água pode atingir a superfície do solo de uma profundidade de 6 m mediante esse fenômeno. A Figura 2 mostra um perfil de salinidade provocado por nível freático elevado. Esta forma de salinização é um processo rápido em áreas irrigadas em clima quente, principalmente quando o solo permanece em repouso por longos períodos. A Figura 3 indica a relação entre o fluxo capilar e a profundidade do nível freático para solos de diferentes texturas. Lâmina ou tempo A cú m u lo de sa is (kg ha - 1 ) Água 1 Água 2 Água 3 Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 9 Figura 2 Perfil de salinidade com lençol freático elevado (Mohamed & Amer, 1972)Figura 3 Relação entre a velocidade de fluxo capilar e a profundidade do nível freático para solos de diferentes texturas (van Hoorn, 1979) m m dia-1 * CEes = condutividade elétrica do extrato de saturação CEes * (dS.m-1) CEes (dS m-1) Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 10 2.2.3 Inundações pelas águas do mar Os mares e oceanos se constituem em depósitos naturais de sais, que são carreados pelas águas escoadas da superfície terrestre até os pontos mais baixos do relevo, acumulando-se progressivamente. A Tabela 4 apresenta a composição química média da água do mar. Por ser excessivamente salina (aproximadamente 30 g L-1 ou 3 %) é provável que ela tenha sido a fonte principal de sais em solos provenientes de depósitos marinhos que se assentaram em períodos antigos. As inundações periódicas pelas águas do mar, devido ao fenômeno de marés altas, constituem a principal fonte de sais em áreas de cota baixa; outra fonte de salinização pelas águas do mar são as pororocas, quando as águas do mar invadem os leitos dos rios, às vezes até 20 - 30 km de distância, transbordando suas margens. Quando as marés retrocedem, a água transbordada não acompanha a volta, ficando depositada em depressões, aumentando a concentração salina em áreas localizadas nas margens desses rios. Tabela 4 Composição química média da água do mar Concentração Íon meq L-1* mg L-1 Ca 20,9 418 Mg 109,4 1312,8 Na 479,8 11035 K 10,8 421,2 Cl 559,6 19865,8 SO4 7,6 364,8 HCO3 2,5 152,5 Br 0,9 72 Condutividade Elétrica (CE) 48 dS m-1 (a 25 o C) 36000 mg L-1 * Concentração em mg L-1 = meq L-1 x peso equivalente 2.2.4 Transporte de sais pelo vento Em determinadas situações, a salinização do solo ocorre devido ao transporte de partículas de sais pelos ventos que sopram das marés para os continentes. Quando as ondas do mar se chocam com as barreiras ou rochas, parte da água pulveriza-se no ar, podendo ser evaporada totalmente e, conseqüentemente as partículas de sais resultantes são transportadas aos lugares mais distantes, dependendo da velocidade e direção do vento. Este fato pode ser verificado quando se determina a quantidade de sais na água da chuva Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 11 em diferentes distâncias do mar. Desde que na região não existam muitas indústrias, o teor de sais nas águas de chuva da região costeira é sempre maior que na região interiorana. Na região de Mossoró, Rio Grande do Norte, ventos nordeste, em épocas de estiagens prolongadas, podem contribuir para acumulação de sais na poeira que se precipita sobre grande parte da área durante os meses de outubro e novembro, com maior intensidade. Esta poeira pode conter quantidades apreciáveis de sais e causar problemas às plantas cultivadas (Oliveira, 1997). Uma outra possibilidade de transporte de sais pelo vento reside nas áreas que ficam perto das zonas de exploração de minérios. 3 EXTENSÃO DO PROBLEMA DE SALINIDADE Solos afetados por sais ocupam extensas áreas em várias partes do mundo (Figura 4). Observa-se que a maior extensão dessas áreas está localizada em regiões áridas e semi- áridas, tais como: Oeste dos Estados Unidos; Altiplanos do México; Sul do Peru e Chile; Nordeste do Brasil; Norte da África; Sudoeste da África; Ásia e Oriente Médio; no entanto, nas regiões úmidas há pequenas extensões, principalmente na Hungria, Romênia, Canadá e nos países mediterrâneos. Figura 4 Distribuição geográfica das áreas afetadas por sais no mundo (Szabolcs, 1985) Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 12 A Tabela 5, por sua vez, apresenta a situação do avanço da salinidade no mundo, no final da década de setenta. Verifica-se que 954 milhões de hectares de terras no mundo são afetados por sais e que aproximadamente 4,5 milhões dessas terras estão localizados no Brasil, sendo que as regiões da Austrália, Ásia Central e América do Sul lideram em termos de área, com solos afetados por sais. Considerando-se a área do globo terrestre como sendo de 14,63 bilhões de hectares (Shantz, 1956) estima-se que o problema de salinidade afeta aproximadamente 6,5 % da superfície. Estima-se, ainda, que cerca de 1000 000 de ha de terras são perdidos anualmente, em conseqüência da salinização secundária devido, sobretudo, às atividades antrópicas relacionadas à agricultura irrigada. As áreas salinizadas vêm aumentando anualmente, em função tanto da influência climática quanto do manejo inadequado da irrigação. No Brasil, estas áreas estão localizadas sobretudo no semi-árido nordestino, cujos solos apresentam reação alcalinas. A Tabela 6 mostra a extensão das áreas, com solos afetados por sais em vários estados do Nordeste. A diferença em extensão de salinidade, nesse estudo e no anterior (Kovda, 1977) talvez seja devido à escala de elaboração dos mapas, bem como à época de realização do estudo. Um estudo de levantamento de solos afetados por sais, realizado pelo Departamento de Engenharia Agrícola da UFPB, utilizando as imagens do “Landsat” mostrou que na parte Noroeste do estado da Paraíba, abrangendo o Perímetro Irrigado de São Gonçalo, aproximadamente 18 % da área têm problemas de salinidade (Santos, 1986). Embora não se tenha levantamentos detalhados nos diversos perímetros irrigados do Nordeste, cerca de 25 a 30 % das áreas irrigadas apresentam problemas de salinidade (Goes, 1978). Uma avaliação no Perímetro Irrigado de São Gonçalo, PB, revela que 40 % da área são afetados por sais (Figura 5) (Cordeiro et al., 1988).com severas restrições ao desenvolvimento das plantas, já no Perímetro Irrigado de Sumé, PB, a avaliação indica que 26 % das áreas irrigadas são afetados por sais (Figura 6) (Gheyi, 1983). Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 13 Tabela 5 Extensão das áreas afetadas por sais no mundo no final da década de 70 (Kovda, 1977) Regiões Países Área Afetada (x 103 ha) 15.755 Canadá 7.238 América do Norte Estados Unidos 8.517 1.965 Cuba 316 México e América Central México 1.649 129.163 Argentina 85.612 Bolívia 5.949 Brasil 4.503 Chile 8.642 Colômbia 907 Equador 387 Paraguai 21.902 Peru 21 América do Sul Venezuela 1.240 80.538 Etiópia 11.033 Chade 8.267 Egito 7.360 Nigéria 6.502 Botswana 5.769 Somália 5.602 Kênia 4.858 Sudão 4.874 Tanzânia 3.537 África Argélia 3.150 84.838 Iran 27.085 Índia 23.769 Paquistão 10.456 Iraque 6.726 Arábia Saudita 6.002 Afeganistão 3.101 Ásia do Sul Bangladesh 3.017 211.686 União Soviética 170.720 China 36.658 Ásia Central e Norte Mongólia 4.007 Ásia Sudeste 19.938 Austrália 357.340 Europa 50.804 Total 954.832 Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 14 Tabela 6 Extensão das áreas, em km2, de solos afetados por sais em vários estados da região Nordeste (Pereira, 1983) Estados Solo CE RN PB PE AL SE BA Total Planossolo Sódico 12.708 3.690 944 5.165 3.370 2.098 30.516 58.491 Solonetez Solodizado 8.436 4.064 2.769 2.654 393 1.013 5.161 24.490 Solonchack 450 837 - - - - - 1.287 Solonético Holomófico 18 - - - - - - 18 Outros 1.645 - - - - - - 1.645 Total 23.257 8.951 3.713 7.819 3.763 3.111 35.677 85.931 Porcentagem (%) 27 10 4,3 9,1 4,4 3,641,5 100 Figura 5 Áreas salinizadas do Perímetro Irrigado de São Gonçalo, PB Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 15 Figura 6 Áreas salinizadas do Perímetro Irrigado de Sumé, PB Tem-se, na Tabela 7, a situação de áreas afetadas por sais em diversos perímetros irrigados administrados pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca no Nordeste). Nos Perímetros Irrigados do Vale do São Francisco, embora não se disponha de dados de levantamentos de todo o vale, estudos realizados por Almeida (1994) revelam que 30 % das áreas da Ilha de Assunção, PE, estão afetados por sais; convém lembrar que, devido ao fato da salinização ser um processo dinâmico, os estudos de levantamento das áreas devem ser realizados freqüentemente. Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 16 Tabela 7 Extensão das áreas afetadas por sais em Perímetros Irrigados do Nordeste (DNOCS, 1991) Superfície Salinizada Diretoria Regional (DR) (Unidade/Federação/Perímetro) Superfície Agrícola Útil (ha) Superfície Desativada (ha) Extensão (ha) Percentual Total 26377 3268 2054 7,8 1a DR/PI 3064 260 92 3,0 Caldeirão 388 30 7,7 Fidalgo 308 121 20 6,5 Lagoas do Piauí 469 82 42 9,0 Gurgéia 1899 57 - - 2a DR/CE 10938 1773 564 5,2 Morada Nova 3611 625 274 7,6 Quixabinha 113 - 3 2,7 Iço/Lima Campos 2712 397 122 4,5 Curu-Paraipaba 2033 25 Curu (Recup.) 1068 134 66 6,2 Vázea do Boi 326 20 30 9,2 Forquilha 218 58 20 9,2 Ayres de Souza 615 469 32 5,2 Jaguarema 200 45 15 7,5 Ema 42 - 2 5,0 REG. 3a DIR. 8723 675 1059 12,0 3a DR/PB 2934 158 627 21,4 Sumé 272 62 82 30,1 Eng. Arco-Verde 281 79 22 7,8 São Gonçalo 2381 17 523 22,0 3a DR/RN 1215 403 61 5,0 Cruzeta 138 - 9 6,5 Itans-Sabuji 490 96 25 5,1 Pau dos Ferros 587 307 27 4,6 3a DR/PE 4574 114 371 8,1 Boa Vista 86 - 2 2,3 Custódia 263 48 22 8,4 Moxotó 3939 47 328 8,3 Cachoeira II 239 19 19 7,9 4a DR/BA 3652 560 339 9,3 Vaza Barris 1052 542 309 29,4 Jucurici 130 18 30 23,1 Brumado 2470 - - - Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 17 EXERCÍCIO 1 “ORIGEM E EXTENSÃO DO PROBLEMA DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS” a) Qual a origem dos sais da água e do solo? b) Definir: b.1) Salinidade b.2) Sodicidade b.3) Salinização primária e secundária c) Cite os principais sais presentes nos solos e nas águas de irrigação d) Quais os problemas que a salinidade pode trazer para a agricultura e o futuro da humanidade? e) Quais as conseqüências do processo de salinização do ponto de vista ecológico e social? f) Por que os solos das regiões áridas e semi-áridas são mais propensos ao processo de salinização? g) Uma área é irrigada com água contendo 100 g de sais/m3. Se forem aplicados anualmente 10.000 m3 ha-1 desta água, qual a quantidade de sais adicionada ao solo? Explique por quê nem todos os sais incorporados pela água permanecem no solo. h) Com base na solubilidade dos diferentes sais, estime a composição de uma água que contém: 5 g L-1 de NaCl, 10 g L-1 de MgSO4, 0,005 g L-1 de CaCO3, após concentrar-se, devido à evaporação, em 2, 5 e 10 vezes. Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 18 4 IDENTIFICAÇÃO DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS A identificação dos solos salinos e sódicos baseia-se em uma série de observações e estudos da área, incluindo características visuais de campo e diversas análises químicas feitas em laboratório. 4.1 Identificação visual 4.1.1 Solos salinos Esses solos correspondem ao tipo descrito por Hilgard (1907) como solos “alcali branco” e “solonchaks”, pelos autores russos. Solos salinos podem ser identificados pela presença de crosta branca de sal precipitado em sua superfície, devido ao movimento ascendente da solução salina e à intensa evaporação do solo. O excesso de sais nesses solos torna-os floculados, não apresentando qualquer problema de permeabilidade verificando-se, no entanto, manchas desnudas. As manchas desnudas e as crostas de sais visíveis obviamente indicam acumulação de sais na superfície do solo, porém não evidenciam a salinidade na zona radicular, pois esta acumulação de sais afeta apenas a germinação e o desenvolvimento das plântulas e as manchas desnudas mostram nas áreas de produção, apenas que o excesso de sais ocorre na superfície do solo, não indicando excesso de sais na zona radicular, porém o vigor das plantas (altura, crescimento e desenvolvimento) próximo às manchas desnudas é um bom indicador do excesso de sais na zona radicular. As plantas em solos salinos apresentam crescimento desuniforme e folhas de coloração verde-azulado, relativamente grossas, cerosas e, dependendo da concentração de sais existente no solo, apresentam queimaduras marginais. As observações visuais das áreas não têm caráter conclusivo para identificar problemas de solos salinos. Por exemplo, solos com excesso de sais solúveis podem reduzir a produção em até 25% sem apresentar sintomas visuais. Por outro lado, as características visuais observadas nas plantas podem induzir a uma falsa identificação, uma vez que elas Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 19 não são exclusivas de solos salinos, pois problemas de fertilidade e de caráter morfológico, desequilíbrio nutricional e déficit hídrico, também provocam sintomas semelhantes; já no solo, minerais de cálcio como, por exemplo, o gesso, contendo elementos essenciais (cálcio e enxofre) para o desenvolvimento das plantas, podem formar uma crosta que também é confundida com os sintomas visuais dos sais solúveis potencialmente nocivos. 4.1.2 Solos sódicos Esses solos correspondem ao tipo descrito por Hilgard (1906) como solos “alcali negro” e “solonetz”, pelos autores russos. A condição estrutural e as alterações da superfície do solo podem ser usadas para identificar problemas causados pela sodicidade. Solos sódicos são fracamente agregados; adensados e compactos quando secos, e pegajosos e plásticos quando úmidos. Devido a esses fatos, os mesmos apresentam baixa permeabilidade, são pegajosos e difícil de serem trabalhados. A camada superficial apresenta textura grossa e quebradiça, com rachaduras de 1 a 2 cm de espessura e profundidade variável, dando uma falsa impressão de que o solo não apresenta problema de permeabilidade. Uma outra característica visual desses solos é a presença de manchas escuras na superfície, decorrentes da solubilidade da matéria orgânica em meio alcalino, que se deposita em conseqüência da evaporação; além disso, sua baixa permeabilidade impede a germinação das sementes e o crescimento das plantas, por falta de aeração, com um sistema radicular muito restrito e pouco desenvolvido. Embora as características visuais do solo e da planta permitam a identificação das áreas afetadas por sais, na falta de quantificação as mesmas não são suficientes para o técnico indicar um programa de manejo ou recuperação da área. Portanto, é indispensável que o solo seja caracterizado por meio de análises de laboratório. Além disso, quando se deseja recuperar os solos afetados por sais é imprescindível que se conheçam as principais causas de ocorrência da salinização, visando à recomendaçãode práticas de recuperação adequadas a tais solos. Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 20 4.2 Identificação por análise de laboratório e suas determinações Diversas medidas de laboratório são usadas para se identificar os solos afetados por sais, sendo as mais importantes o pH da pasta de saturação do solo (pHps), condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes) e a porcentagem de sódio trocável (PST) (Raij, 1991). Para se avaliar o perigo de sodificação do solo, utiliza-se uma outra medida, conhecida por relação de adsorsão de sódio (RAS); no entanto, para recuperação e recomendação de práticas adequadas de manejo desses solos, deve-se realizar uma análise mais completa das propriedades físicas (textura, densidade, constantes hídricas, infiltração e condutividade hidráulica) e químicas (cátions trocáveis, tipo de sais solúveis, teor de carbonato de cálcio, gesso e matéria orgânica). 4.2.1 pH da pasta de saturação do solo O pH de uma solução aquosa é o logaritmo negativo da atividade do íon hidrogênio, podendo ser expresso pela equação: [ ]+−= HpH log (1) em que: =pH Potencial de hidrogênio = +H Produto entre a concentração de íons hidrogênio e o coeficiente de atividade. Assim, quanto menor for a concentração dos íons hidrogênio, maior será o pH; sua determinação também pode ser feita a partir de uma solução aquosa usando-se um potenciômetro, ou colorimetricamente, mediante o uso de indicadores ou fitas de papéis especiais que mudam de cor conforme a atividade do íon hidrogênio. O pH da pasta de saturação do solo é determinado quando o solo se encontra em forma saturada, ou seja, todos os espaços porosos disponíveis são ocupados pela água destilada; na análise de rotina, sua determinação é feita na suspensão 1:2,5 e, normalmente, esses valores são ligeiramente maiores que os da pasta saturada, quando o solo apresenta caráter salino. Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 21 O pH do solo é influenciado pela composição e natureza dos cátions trocáveis, composição e concentração de sais solúveis e a presença ou ausência do gesso e carbonato de cálcio e magnésio. Ele serve para indicar a possibilidade de ocorrência de íons tóxicos de alumínio, ferro e manganês no solo, como também o aumento ou a diminuição da disponibilidade de nutrientes para as plantas. 4.2.2 Condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes) do solo A condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes) do solo expressa a concentração total de sais solúveis no solo, pelo fato de estar intimamente relacionada com a concentração total de eletrólitos dissolvidos na solução. A CEes é afetada pela temperatura da amostra, mobilidade, valência e concentração relativa dos íons contidos na solução (Rhoades, 1994). A temperatura padrão para medição da CEes é 25º C e sua unidade de medida é dada em milimho por centímetro (mmho cm-1) ou em deciSiemens por metro (dS m-1) ambas numericamente equivalentes. A concentração total de sais solúveis no solo também pode ser expressa em total de sólidos dissolvidos (TSD), porém o uso da CEes é preferível, pois a concentração de sais varia inversamente com o teor de umidade do solo. Por exemplo, 0,1 % de sais solúveis para um solo de textura argilosa, com capacidade de campo igual a 30 %, corresponde a uma concentração efetiva na solução do solo de 0,33 %, enquanto para um solo de textura arenosa, com capacidade de campo igual a 10 %, esta concentração será 3 vezes maior (1 %). Essa diferença devido à textura do solo desaparece quando se expressa a concentração total de sais em termos de CEes. A Figura 6 ilustra a relação entre a condutividade elétrica e a concentração de diferentes tipos de sais encontrados em solos salinos, observa-se que, para uma concentração de 100 mmolc L-1, se na solução prevalecer o sulfato de magnésio, a CE será aproximadamente 6 dS m-1 e, se na solução predominarem íons de cloretos, a CE se aproximará de 10 dS m-1. A concentração de sais em função da condutividade elétrica do extrato de saturação de várias amostras de solos afetados por sais do Oeste dos Estados Unidos, é apresentada na Figura 7. Algumas relações para se estimar os totais de sais dissolvidos, baseados nas funções apresentadas nessas figuras, são descritas a seguir: Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 22 - Para a CE < 5 dS m-1 ; ( ) ×= −1640 mdSCEppmTSD (2) ( ) ×= −− 111 10 mdSCELmmolTSD c * (3) - Para a CE > 5 dS m-1; ( ) ×= −1800 mdSCEppmTSD (4) Figura 6 Relação entre a concentração de sais e a condutividade elétrica de alguns sais (Richards, 1954) * mmolc L-1 = meq L-1 Condutividade Elétrica – dS m-1 Co n ce n tr aç ão – m m o l c L- 1 Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 23 Figura 7 Relação entre a concentração de sais e a condutividade elétrica do extrato de saturação do solo (Richards, 1954) A CE de um solo pode ser determinada no extrato de saturação de solo ou em uma suspensão mais diluída. O preparo da pasta de saturação consiste na agitação, com uma espátula, da amostra de solo durante a adição gradual de água destilada, até que a mesma apresente as características desejadas, como superfície brilhosa, movimento lento em posição inclinada e fácil deslizamento sobre a espátula. Após o preparo da pasta de saturação deixar a amostra em repouso por 8-10 horas, retira-se o extrato por sucção ou, aplicando-se pressão, determina-se a CEes por meio de um medidor de condutividade; em seguida, anota-se a temperatura do extrato e, caso seja necessário, o valor da CE será Co n ce n tr aç ão – m eq L- 1 Condutividade Elétrica – dS m-1 Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 24 convertido para a temperatura padrão de 25 ºC, multiplicando-o por um fator de correção encontrado em tabelas, gráficos ou por extrapolação. O fator de correção em função da temperatura observada é fornecido na Figura 8. A conversão da CEes é dada pela seguinte expressão: )()º25( tCEftCCE eses ×= (5) em que: =)º25( CCEes CEes convertido para temperatura padrão (25 ºC) =ft Fator de correção da temperatura =)(tCEes Temperatura em que se mediu a CEes Figura 8 Fator de correção para obtenção da CE a 25º C, em função da temperatura observada (Adaptado a partir dos dados originais de Richards, 1954) Caso o volume de extrato coletado seja pequeno, o mesmo poderá ser diluído em água destilada e a leitura da CE obtida deverá ser multiplicada pelo fator de diluição. A CE também poderá ser estimadaem diferentes relações solo : água destilada como, por exemplo, 1:1, 1:2,5 e 1:5. Essa estimativa tem a vantagem de ser rápida e não precisar de equipamentos para retirar o extrato do solo, porém apresenta o inconveniente de necessitar do preestabelecimento da relação entre a CEes e a CE da solução aquosa do solo y = 1,6606e-0,02 X R2 = 0,9983 0,9 0,92 0,94 0,96 0,98 1 1,02 1,04 1,06 1,08 1,1 1,12 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Temperatura de medição (ºC) Fa to r de Co rr eç ão (ft) Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 25 estudado; sua segurança nas determinações depende das características do solo e dos tipos de sais nele presentes, pois sais de baixa solubilidade precipitados no solo, podem ser dissolvidos em proporções maior que no extrato de saturação com a adição de água destilada e resultar em superestimativa dos riscos de salinidade. De acordo com Filgueira & Souto (1995) em solos salino- sódicos e sódicos degradados da região de Patos, Estado da Paraíba, verificou-se possibilidade de se utilizar extratos obtidos em relações mais diluídas de solo : água destilada, como 1:1 e 1:5, em substituição ao extrato de saturação, para estimar problemas de solos afetados por sais, por meio da CE. 4.2.3 Percentagem de sódio trocável (PST) Na identificação de solos afetados por sais é importante se conhecer a percentagem que o sódio representa em relação à soma de cátions adsorvidos. Esta percentagem denomina-se percentagem de sódio trocável e seu valor é determinado pela seguinte equação: 100×= CTC NaPST t (6) em que: PST = Percentagem de sódio trocável tNa = Sódio trocável ou adsorvido, mmolc kg -1 CTC = Capacidade de troca de cátions do solo ou a soma dos cátions trocáveis (Ca, Mg, Na, K, Al e H), mmolc kg-1* O sódio trocável em excesso causa dispersão das partículas de argila, tornando o solo menos permeável, dificultando ou impedindo a lixiviação dos sais. A aeração e as condições físicas do solo tornam-se deficientes, podendo reduzir o crescimento e o desenvolvimento das plantas, sobretudo do sistema radicular. Além da PST existe outro indicador que pode ser utilizado para expressar a proporção relativa de sódio trocável em relação aos outros cátions como, por exemplo, a * mmolc kg-1 = 10 meq (100 g)-1; Cmolc kg-1 = meq (100 g)-1 e mmolc kg-1 = 10 Cmolc kg-1. Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 26 relação de sódio trocável (RST) que é a relação entre o sódio trocável e os demais cátions e pode ser expressa pela equação: t t NaCTC NaRST − = (7) Substituindo-se o valor de Nat obtido a partir da Eq (7), na Eq (6) pode-se estabelecer uma relação matemática entre RST e PST. RST CTCRSTNat + × = 1 (8) 100 1 × + = RST RSTPST (9) 4.2.4 Relação de adsorção de sódio (RAS) A RAS é um índice que apresenta concentração relativa de sódio em relação às concentrações de Ca e Mg na solução ou no extrato de saturação e calculada a partir da seguinte equação: ( ) 5,0 2 + = ++++ + MgCa NaRAS (10) em que a RAS é expressa em (mmol L-1)0,5 e as concentrações de Na, Ca e Mg, em mmolc L-1. Considerando-se que há equilíbrio entre formas solúveis e trocáveis de determinado cátion, deve haver uma relação de proporcionalidade entre a RAS e a RST ou PST, pois ambas tratam de uma mesma espécie de cátions. Deste modo, conhecendo-se a RAS é possível estimar a PST do solo de forma rápida e indireta na ausência dos resultados de análise do complexo sortivo. Logo: Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 27 RASRST α (11) ou RASKRST G ×= (12) donde GK é a constante de Gapon (RST/RAS). Para os solos do Oeste dos Estados Unidos, Richards (1954) obteve a seguinte relação entre RAS e RST: RASRST ×+−= 01475,00126,0 (R2 = 0,92) (13) Considerando-se desprezível o valor do coeficiente linear (- 0,0126) a Eq (13) ficará resumida a: RASRST ×= 01475,0 (14) O coeficiente angular (0,01475) representa o valor da GK . Logo, a partir da estimativa da RST em função da RAS, é possível se estimar a PST do solo. Substituindo-se a Eq (14) na Eq (9) tem-se: ( ) ( )RAS RASPST ×+ ×× = 01475,01 01475,0100 (15) As Eqs (10) e (15) também podem ser apresentadas na forma de nomograma, permitindo calcular-se a RAS e a PST a partir da concentração de Na e Ca + Mg solúveis (Figura 9). Deve-se lembrar que o nomograma pode ser utilizado para determinar a RAS de qualquer solução, no entanto a PST só poderá ser estimada se a RAS for do extrato de saturação do solo. Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 28 Figura 9 Nomograma para se determinar a RAS e estimar o valor correspondente da PST do solo em equilíbrio com a solução do solo (Richards, 1954) 4.3 Seqüência para determinação do diagnóstico de um solo A seqüência das análises necessárias para se diagnosticar e recuperar solos afetados por sais, é apresentada na Figura 10. Em todas as amostras de solo deve-se determinar o grau de salinidade e a condutividade hidráulica, enquanto as determinações subseqüentes dependerão do nível alto ou baixo de tais determinações, como indicado neste diagrama. Usualmente, as determinações são encerradas quando as linhas com setas do diagrama chegam a um retângulo de parede dupla, exceto no caso de solos com problemas de sódio, em que é necessário, ainda, determinar os carbonatos de metais alcalinos terrosos para se escolher o corretivo mais adequado para a recuperação deste solo. As linhas pontilhadas indicam as determinações alternativas de menor custo e tempo, porém seus resultados são aproximados e, portanto, em determinadas situações podem não ser muito confiáveis. Na+ mmolc L-1 Ca++ + Mg++ mmolc L-1 0 Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 29 Figura 10 Seqüência das determinações para se diagnosticaros solos afetados por sais e possíveis tratamentos na recuperação (Richards, 1954) A A B A A B A AMOSTRA DO SOLO PASTA DE CONDUTIVIDADE pHPS PS EXTRATO DE CONDUTIVIDADE ELÉTRICA LAVAGEM SÓDIO TOTAL EXTRAÍVEL B NÃO HÁ PROBLEMA DE PERMEABILIDADEDE NÃO HÁ PROBLEMA DE SALINIDADE B POSSIBILIDADE DE ÍONS TÓXICOS POSSIBILIDADE DE ÍONS TÓXICOS DEVIDO A ALTA PST* A RAS GESSO B NÃO HÁ PROBLEMA DE SÓDIO POSSÍVEIS CONDIÇÕES FÍSICAS DESFAVORÁVEIS PST CTC SÓDIO A A PROBLEMA DE SÓDIO CARBONATOS CORRETIVO ÁCIDO OU CORRETIVO CÁLCIO B * Em solos arenosos e turfosos A= Alto: K >0,1 e I > 0,25 cm h-1 ou CEes > 4,0 ds m-1, B= Baixo: K<0,1 e I< 0,25 cm h-1 ou CEes < 4,0 dS m-1 K = Condutividade hidráulica saturada I = Infiltração básica do solo B PS = pasta de saturação A Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 30 A determinação da condutividade hidráulica de uma amostra de solo é uma indicação da capacidade de transmissão de água no solo, ou seja, se esta capacidade de transmissão for alta, significa que a PST do solo não é excessiva. No entanto, nos solos arenosos e turfosos pode conter uma alta PST tóxica para as plantas e, ao mesmo tempo, alta permeabilidade; se, porém, a condutividade hidráulica for baixa, deve-se determinar o sódio total extraível (sódio trocável + sódio solúvel) ou a RAS, como alternativa. Se qualquer um desses valores for baixo, associado a um baixo valor da condutividade hidráulica previamente obtido, pode ser resultado de uma má condição física do solo, relacionada à textura, ao baixo conteúdo de matéria orgânica ou pode, ainda, ser devido à presença de uma camada compacta ou impermeável do perfil. Neste caso, além da descrição morfológica do perfil, a determinação da matéria orgânica, a superfície específica da argila e a análise granulométrica, podem ser úteis. Se o conteúdo total de sódio extraível e a RAS forem baixos, deve-se determinar o sódio trocável ou, alternativamente, a PST, a partir do valor da RAS. No caso do sódio trocável e a PST serem elevados, deve-se determinar o gesso e, se o teor de gesso no solo for alto, é preciso apenas a lavagem para recuperar o solo; do contrário, faz-se necessário o uso de melhoradores químicos e, neste, é conveniente determinar a presença ou ausência de metais alcalinos terrosos para se escolher o tipo de melhorador químico que irá substituir o sódio trocável. A aplicação de melhoradores deve ser seguida de lavagem. Outras determinações como pH, percentagem de saturação (PS), CTC, potássio trocável, íons tóxicos, densidade e textura, proporcionam informações adicionais e devem ser determinadas, caso necessário. Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 31 EXERCÍCIO 2 “IDENTIFICAÇÃO DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS” a) Em que se baseia a identificação dos solos afetados por sais? b) Quais as características visuais observadas nas plantas e nos solos salinos e sódicos? c) Por que as características visuais do solo e da planta não têm caráter conclusivo para identificar problemas de solos afetados por sais? Cite um exemplo em que as características visuais observadas na planta e no solo podem induzir a uma falsa identificação. d) Descreva: d.1) RAS d.2) PST, RST e KG d.3) CEes e) Em que formas se expressa a concentração total de sais solúveis presentes nos solos e qual delas é considerada a mais adequada? f) Que unidades de medidas da condutividade elétrica são adotadas atualmente? g) Quais os fatores que afetam a CE? Uma amostra de solo no laboratório apresentou uma CE igual a 2,8 dS m-1, a uma temperatura de 23 ºC. Ajuste o valor da condutividade elétrica para a temperatura padrão, multiplicando-o pelo fator de correção encontrado na Figura 9. h) Uma análise de água de irrigação apresentou o valor da RAS = 12 (mmol L-1)0,5 e concentração de Na+ igual a 25 mmolc L-1. Qual a concentração de Ca + Mg e a CE da água? Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 32 i) Sabe-se que, na ausência dos resultados de análise do complexo sortivo, a PST pode ser estimada mediante uma relação empírica preestabelecida entre a RST e a RAS. Para solos do município de Catolé do Rocha, PB, Santos (1997) encontrou a seguinte relação: RASRST ×= 01882,0 . Demonstre que 100 1 × + = RST RSTPST e calcule o valor estimado da PST deste solo, considerando que o mesmo apresenta RAS de 10 (mmol L-1)0,5. j) Um solo irrigado com água de RAS de 12 (mmol L-1)0,5 encontra-se em condições de equilíbrio. Se a constante de Gapon (KG) for 0,015, qual será a alteração no valor da RST do solo se a água no solo ficar concentrada 3 vezes? k) Um solo apresenta a seguinte análise: pHps= 9,2; CEes= 2,8 dS m-1; Ca, Mg, Na e K solúvel igual a 2,3; 0,6; 24,5 e 0,1 mmolc L-1, respectivamente e CO3, HCO3, Cl e SO4 igual a 3,8; 5,2; 17,2 e 1,8 mmolc L-1; Ca, Mg, Na e K trocável igual a 3,2; 2,3; 7,1 e 0,3 cmolc kg –1 . Calcule: k.1) O valor da RAS k.2) O valor da PST e RST no complexo sortivo do solo k.3) A concentração de sais totais dissolvidos em base de CEes Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 33 5 VERIFICAÇÃO DOS RESULTADOS DE ANÁLISE QUÍMICA DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS 5.1 Coerência dos resultados Uma forma de se estabelecer erros nas análises químicas de solo e água, é utilizar a interpretação das relações que existem entre os valores que se obtém com diversas determinações. Portanto, a compreensão dos princípios que estas relações envolvem, facilita a interpretação das análises. 5.1.1 Condutividade elétrica e concentração total de cátions A CE em dS m-1, a 25 ºC, quando multiplicada por 10 é aproximadamente igual à concentração total de cátions ou ânions solúveis expressos em mmolc L-1, de acordo com a expressão: ∑∑ −−− ≅≅× )()(10)( 111 LmmolânionsLmmolcátionsdSmCE cc (16) 5.1.2 Concentração de cátions e ânions A concentração total de ânions solúveis e a concentração total de cátions solúveis são aproximadamente iguais quando se expressam em forma equivalente, em mmolc L-1, ou seja: ∑∑ ≅ cátionsânions (17) Considerando-se: 100× + − = ∑ ∑ ∑ ∑ ânionscátions ânionscátions R (18) Se, R < 5 % (Resultado Excelente) 5 % < R < 10 % (Resultado Aceitável) R > 10 % (Resultado Duvidoso) Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 34 5.1.3 pH e concentração de carbonato e bicarbonato Em um extrato de saturação ou água, a presença de quantidades tituláveis de carbonato indica que o pH do extrato deverá ser maior que 8,5. A concentração de bicarbonato raramente excede 10 mmolc L-1 na ausência de carbonato e, se o pH é menor ou igual a 7,0, quase nunca passará de 3 a 4 mmolc L-1. 5.1.4 pH e concentração de cálcio e magnésio Para leitura de pH maiores que 8,5, a concentração de cálcio e magnésio, no extratode saturação ou água, raramente excede 2 mmolc L-1. Por outro lado, o total de cálcio e magnésio será baixo na presença de carbonato e a soma de cálcio e magnésio nunca é alta na presença de concentração elevada de íons bicarbonato. 5.1.5 Cálcio e sulfato em extrato de solo - água e o conteúdo de gesso no solo A solubilidade do gesso em temperatura normal é aproximadamente igual a 28 mmolc L-1 em água destilada. Em soluções muito salinas esta solubilidade pode ser maior que 50 mmolc L-1. O efeito dos íons comuns, ou seja, o excesso de cálcio ou sulfato, pode diminuir a solubilidade em até 20 mmolc L-1. Portanto, o extrato de um solo não gesífero pode conter mais de 30 mmolc L-1 de cálcio, enquanto um solo gesífero pode conter uma concentração de cálcio até de 28 mmolc L-1. Deste modo, solos cujo conteúdo de cálcio e magnésio no extrato de saturação é maior que 20 mmolc L-1, deverão ser verificados seu conteúdo relativo do gesso. A solubilidade do gesso aumenta na presença de NaCl, mas diminui na presença de CaCl2 ou Na2SO4 (íons comuns). Na presença de NaHCO3 diminui por causa da formação de Ca(HCO3)2. 5.1.6 pH e carbonatos de metais alcalinos terrosos O pH do extrato de saturação de um solo calcário é, invariavelmente, maior que 7,0 e, em geral, menor que 7,5. Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 35 5.1.7 pH e gesso É raro o pH de um solo gessífero saturado exceder a 8,2, independente do valor da PST. 5.1.8 pH e PST Se o pH da pasta de saturação é maior que 8,5, indica sempre uma PST maior que 15 e a presença de metais alcalinos terrosos. 5.2 Conversão de resultados de análises químicas 5.2.1 Unidades 5.2.1.1 Transformação de meq L-1 ou mmolc L-1 para mg L-1 ou ppm ( ) 11 −− =× LmgEqgramaeEquivalentLmmolc (19) em que: Eq = Peso Atômico, peso iônico ou peso molecular/valência. Exemplo: Eq (Mg) = 24/2 = 12, logo 2,59 x 12 = mg L-1 mg L-1 = 31,08 Então, 2,59 mmolc L-1 de Mg equivalem a 31,08 mg L-1 de Mg 5.2.1.2 Transformação de cmolc kg-1 para ppm ou mg kg-1 10. L mgou -11 × = − EqP ppmkgcmolc (20) A quantos mg L-1 equivalem 2,59 mmolc L-1 de Mg? Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 36 Exemplo: 0,3 = ppm/(39,1 x 10) ppm = 117,3 Então, 0,3 cmolc kg-1 de K equivalem a 117,3 ppm ou mg kg-1 de K. 5.2.1.3 Transformação de meq L-1 ou mmolc L-1 na formas solúveis para meq (100 g)-1 ou cmolc kg-1 ( ) 1000 )%(100. 1 1 SolodoSaturaçãodemeqLgeqm ×= − − (21) Exemplo: meq (100 g)-1 = (18,5 x 25)/1000 meq (100 g)-1 = 0,46 Então, 18,5 meq L-1 de Na equivalem a 0,46 meq (100 g)-1 ou cmolc kg-1. 5.2.1.4 Transformação de resultados: fator de multiplicação Unidade µmho cm-1 mmho cm-1 µS cm-1 dS m-1 µmho cm-1 1 10-3 1 10-3 Mmho cm-1 103 1 103 1 µS cm-1 1 10-3 1 10-3 dS m-1 103 1 103 1 A quantos ppm eqüivalem 0,3 cmolc kg-1 de K? A quantos meq (100 g)-1 equivalem 18,5 meq L-1 de Na em um solo que apresenta porcentagem de saturação igual a 25? Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 37 5.2.1.5 Sistema internacional (SI) de unidades Atual (SI) Fator % g kg-1, g dm-3 e g L-1 10 Cppm, µg mL-1, g m-3 mg kg-1, mg dm-3, mg L-1 1 meq (100 cm3)-1 mmolc dm-3 10 meq (100 g)-1 mmolc kg-1 10 meq (100 cm3)-1 cmolc dm-3 1 meq (100 g)-1 cmolc kg-1 1 meq L-1 mmolc L-1 1 t (tonelada) Mg (mega grama) 1 Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 38 6 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS QUANTO À PRESENÇA DE SAIS Solos são considerados salinos quando contêm concentração de sais solúveis em quantidades elevadas para interferir com o crescimento da maior parte das espécies cultivadas; entretanto, não é uma quantidade fixa de sais, pois depende da espécie da planta, da textura e capacidade do solo e da composição de sais presentes na solução. Deste modo, o critério para classificação dos solos afetados por sais é arbitrário, existindo várias classificações, sendo que cada uma delas apresenta vantagens e desvantagens. As quatro classificações para solos afetados por sais mais importantes são a russa, a francesa, a americana e a da FAO, mas a classificação mais simples e mais prática tem sido a americana. Esta classificação foi proposta pelo Laboratório de Salinidade dos Estados Unidos (Richards, 1954) e se baseia nos efeitos da salinidade sobre as plantas e do sódio trocável sobre as propriedades do solo, expressos em termos de CEes e PST, respectivamente, classificando os solos em três categorias: salina, sódica e salina - sódica (Tabela 8). Nesta classificação, o valor estabelecido da CEes para distinguir solos salinos dos não salinos, é fixado em 4 dS m-1; entretanto, pode-se encontrar plantas sensíveis aos sais que, por sua vez, são passíveis de serem afetados em solos que apresentam CEes entre 2 e 4 dS m-1, razão por que o Comitê de Terminologia da Sociedade Americana de Ciência do Solo, baixou o limite da CEes de 4 dS m-1 para 2 dS m-1, fazendo a distinção entre solos salinos e não-salinos e, ainda, recomendou a substituição da PST pela RAS (Glossary of Soil Science Terms, 1997). Embora sejam classificados como sódicos os solos com PST > 15, vários resultados de estudos, publicados na literatura, têm mostrado efeitos do sódio sobre a estrutura do solo, mesmo em níveis inferiores, sendo mais adequado considerar-se sódico os solos com PST > 7 (Pizarro, 1978). Tabela 8 Classificação dos solos afetados por sais (Richards, 1954) Classificação CEes (dS m-1 à 25 ºC) PST (%) pHps Solos sem problemas de sais < 4 < 15 < 8,5 Solos salinos > 4 < 15 < 8,5 Solos salino-sódicos > 4 > 15 ≤ 8,5 Solos sódicos < 4 > 15 ≥ 8,5 Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 39 EXERCÍCIO 3 “VERIFICAÇÃO DOS RESULTADOS DE ANÁLISE QUÍMICA DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS” “CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS QUANTO À PRESENÇA DE SAIS” a) Uma análise de solo apresenta os seguintes resultados: pH = 9,2; CEes = 2,4 dS m-1; Na, Ca, Mg e K trocáveis, respectivamente, igual a 0,3; 0,8; 0,5 e 0,1 cmolc kg-1 e Na+, Ca++, Mg++ e K+ solúveis, respectivamente, iguais a 20; 2,0; 1,5; e 0,5 mmolc L-1, Cl-, HCO3-, CO3-- e SO4--, respectivamente, iguais a 15; 4,2; 3,2 e 2,3 mmolc L-1. Pede-se: a.1) Verificar se os dados da análise estão coerentes a.2) Expressar o valor de Na, Ca, Mg e K em termos de mg L-1 a.3) Classificar o solo quanto à presença de sais, de acordo com os critérios propostos pelo Laboratório de Salinidade dos Estados Unidos a.4) Calcular a RAS, RST (considere KG = 0,014) e a PST verdadeira e a estimada pela RST b) Quais os parâmetros utilizados para se classificar o solo quanto aos riscos de salinidade e sodicidade? c) Dê a relação entre as seguintes unidades que expressam salinidade: c.1) dS m-1 e mmho cm-1 c.2) dS m-1 e µmho cm-1 c.3) dS m-1 e µS cm-1 c.4) dS m-1 e mg L-1 c.5) mg L-1 e ppm c.6) dS m-1 e meq L-1 c.7) meq L-1 e mmolc L-1 c.8) g L-1 e mg L-1c.9) meq L-1 e mg L-1 c.10) cmolc kg-1 e meq 100g-1; cmolc kg-1 e mmolc kg-1 Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 40 7 EFEITO DOS SAIS NO SOLO E NA PLANTA 7.1 Efeito dos sais sobre as plantas Os efeitos da acumulação excessiva dos sais solúveis sobre as plantas podem ser causados pelas dificuldades de absorção de água, toxicidade de íons específicos e pela interferência dos sais nos processos fisiológicos (efeitos indiretos) reduzindo o crescimento e o desenvolvimento das plantas. 7.1.1 Efeito osmótico As plantas retiram a água do solo quando as forças de embebição dos tecidos das raízes são superiores às forças com que a água é retida no solo. A presença de sais na solução do solo faz com que aumentem as forças de retenção por seu efeito osmótico e, portanto, a magnitude do problema de escassez de água na planta. O aumento da pressão osmótica (PO) causado pelo excesso de sais solúveis, poderá atingir um nível em que as plantas não terão forças de sucção suficiente para superar esse PO e, em conseqüência, a planta não conseguirá absorver água, mesmo de um solo aparentemente úmido. Este fenômeno é conhecido por seca fisiológica. Dependendo do grau de salinidade, a planta, em vez de absorver, poderá até perder a água que se encontra no seu interior. Esta ação é denominada plasmólise e ocorre quando uma solução altamente concentrada é posta em contato com a célula vegetal. O fenômeno é devido ao movimento da água, que passa das células para a solução mais concentrada. Deste modo, a energia necessária para absorver água de uma solução salina é adicional à energia requerida para absorver água de uma solução do solo não salino. A Figura 11 mostra a curva de retenção de água de um solo franco-argiloso para vários níveis de salinidade. Observa-se que a disponibilidade de água para a cultura é reduzida a medida em que a salinidade aumenta. Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 41 O potencial osmótico de um solo pode ser estimado conhecendo-se a CE, a partir da equação: CEo ×−≅ 36,0ψ (22) em que: oψ = Potencial osmótico, atm CE = Condutividade elétrica, dS m-1 O potencial total com que a água é retida em um solo salino, pode ser expresso por: omT ψψψ += (23) em que: Figura 11 Curvas de retenção de água de um solo franco-argiloso para vários níveis de salinidade (Ayres & Westcot, 1991) Supõe-se: 1. Não há aumento nem diminuição de sais na água do solo 2. Os efeitos de esgotamento e da salinidade na disponibilidade de água se somam (Potencial osmótico = - 0,36 CE) 3. A água disponível é a diferença entre a capacidade de campo e o ponto de murchamento 4. A água é extraída do solo por efeito de evapotranspiração da cultura (ETc) 1 4 8 12 16 SALINIDADE DO SOLO (dS m-1) % D E R ED U ÇÃ O N A A B SO R ÇÃ O D E 0,33 CAPACIDADADE DE TE N SÃ O D ’ ÁG U A Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 42 Tψ = Potencial total com que a água é retida no solo, atm mψ = Potencial matricial do solo, atm. Oψ = Potencial osmótico da solução do solo, atm. Devido à baixa concentração de sais solúveis, o potencial osmótico em solos não salinos é considerado desprezível ( Oψ = 0); logo, a água deste solo está disponível a uma faixa de potencial de - 0,33 e - 15 atm, em condições de capacidade de campo e ponto de murcha permanente, respectivamente, porém a presença de sais faz com que essa faixa de disponibilidade seja diminuída, em razão do aumento da tensão total pois, neste caso, considera-se o potencial osmótico ( Oψ < 0) Exemplo: Dados: - Salinidade do solo: CEes= 10 dS m-1 - Considerando-se que um solo de textura média tem, normalmente, umidade à capacidade de campo e ponto de murcha, respectivamente, igual à metade e a um quarto da condição de saturação, ou seja: PMCCS θθθ 42 == (24) em que: θ S= Umidade do solo nas condições de saturação, cm3 cm-3 ou % CCθ e PMθ = Umidade do solo à capacidade de campo e ponto de murcha permanente, respectivamente, cm3 cm-3 ou %. PROCEDIMENTOS a) Solo à capacidade de campo - A condutividade elétrica, em dS m-1, à capacidade de campo (CECC) é obtida considerando-se que a solução salina se concentra no solo duas vezes, mediante a Eq. 25; O procedimento seguinte explica a forma de se determinar a salinidade e a contribuição relativa dos sais no aumento do potencial total de um solo salino de textura média, em condições de umidade à capacidade de campo e ponto de murcha permanente Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 43 escc CECE ×= 2 (25) 102 ×=ccCE = 20 dS m -1 - O potencial osmótico deste solo à capacidade de campo é obtido segundo a Eq. 22; 2036,0 ×−=oψ = - 7,2 atm. - O potencial total com que a água é retida no solo a capacidade de campo, é obtido substituindo-se os valores do “ mψ ” e “ oψ ” na Eq. 23; 2,733,0 −−=Tψ = - 7,53 atm. - A contribuição relativa do Oψ na diminuição do potencial total à capacidade de campo é obtida mediante a relação percentual entre o potencial osmótico e o potencial total 100 53,7 2,7% × − − =oψ = 95 % do potencial total b) Solo no ponto de murcha - A condutividade elétrica, em dS m-1, no ponto de murcha (CEPM) é obtida, considerando-se que a solução salina se concentra no solo quatro vezes, conforme a Eq. 26; 104×=PMCE = 40 dS m -1 - O potencial osmótico deste solo no ponto de murcha é obtido de acordo com a Eq. 22; 4036,0 ×−=oψ = - 14,4 atm. - O potencial total com que a água é retida no solo em ponto de murcha é obtido, substituindo-se os valores do “ mψ ” e “ PO ” na Eq. 23; 4,1415 −−=Tψ = - 29,4 atm. - A contribuição relativa do Oψ na diminuição do potencial total no ponto de murcha é obtida mediante a relação percentual entre o potencial osmótico e o potencial total Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 44 100 4,29 4,14% × − − =oψ = 48,97 % do potencial total Os cálculos anteriores mostram que a tensão total com que a água é retida no solo à capacidade de campo e ponto de murcha é, respectivamente, 7,53 e 29,4 atm. É obvio que a contribuição relativa do Oψ é maior quando o solo se encontra à capacidade de campo e a mesma é aumentada a cada elevação da CEes. A medida em que o conteúdo de água no solo diminui, a disponibilidade de água para as plantas varia continuamente em cada camada da zona radicular, já que tanto o conteúdo de água como Oψ variam continuamente, entre dois eventos de irrigação, devido ao consumode água pela planta. Para a mesma profundidade, pouco depois da irrigação o teor de água no solo se aproxima de seu máximo, enquanto a concentração dos solutos é mínima; conseqüentemente, ambos os teores variam à medida que a água é consumida pela planta, sendo que o teor de umidade diminui enquanto os sais aumentam. A salinidade do solo reduz a disponibilidade da água no solo; no entanto, nem todas as culturas são igualmente afetadas pelo mesmo nível de salinidade, pois algumas são mais tolerantes que outras e podem extrair água com mais facilidade. Com base na resposta aos sais, as plantas são classificadas em glicófitas e halófitas. As glicófitas representam o grupo das plantas cultivadas e, na sua maioria, são as menos tolerantes à ação dos sais, enquanto as halófitas compõem o grupo de plantas que adquirem condições fisiológicas; portanto, ajustam-se osmoticamente e sobrevivem em meio altamente salino. Plantas mais tolerantes ao meio salino aumentam a concentração salina no seu interior, de modo que permaneça um gradiente osmótico favorável para absorção de água pelas raízes. Este processo é chamado ajuste osmótico e se dá com o acúmulo dos íons absorvidos nos vacúolos das células foliares, mantendo a concentração salina no citoplasma em baixos níveis, de modo que não haja interferência com os mecanismos enzimáticos e metabólicos nem com a hidratação de proteínas das células. Esta compartimentação do sal é que permite, às plantas tolerantes, viverem em ambientes salinos, porém as plantas sensíveis à salinidade tendem a excluir os sais na solução do solo, mas não são capazes de realizar o ajuste osmótico descrito e sofrem com decréscimo de turgor, levando as plantas ao estresse hídrico, por osmose. Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 45 O ajuste osmótico varia entre as diferentes espécies de plantas. Por exemplo, enquanto na cenoura o aumento da concentração de sacarose, sob condições salinas, é o componente principal de ajustamento, na beterraba os principais componentes são os sais. A energia utilizada pela planta para manter o ajustamento osmótico em meio salino, mesmo em plantas tolerantes, afeta seu crescimento e desenvolvimento. 7.1.2 Efeitos tóxicos Esses efeitos acontecem quando as plantas absorvem os sais do solo, juntamente com a água, permitindo que haja toxidez na planta por excesso de sais absorvidos. Este excesso promove, então, desbalanceamento e danos ao citoplasma, resultando em danos principalmente na bordadura e no ápice das folhas, a partir de onde a planta perde, por transpiração, quase que tão somente água havendo, nessas regiões, acúmulo do sal translocado do solo para a planta e, obviamente, intensa toxidez de sais. Os danos podem reduzir significativamente os rendimentos e sua magnitude depende do tempo, da concentração de íons, da tolerância das plantas e do uso da água pelas culturas. Os problemas de toxicidade freqüentemente acompanham ou complicam os de salinidade ou permeabilidade, podendo surgir mesmo quando a salinidade for baixa. Os sintomas de toxicidade podem aparecer em qualquer cultura se as concentrações de sais no interior são suficientemente altas ou acima de níveis de tolerância da cultura. Normalmente, a toxicidade é provocada pelos íons cloreto, sódio e boro; entretanto, muitos outros oligoelementos são tóxicos às plantas, mesmo em pequenas concentrações. A absorção foliar acelera a velocidade de acumulação de sais dos íons tóxicos na planta sendo, muitas vezes, a fonte principal da toxicidade. Os íons, sódio e cloreto podem, também, ser absorvidos via foliar, quando se molham durante a irrigação por aspersão e, sobretudo, durante períodos de altas temperaturas e baixa umidade. A Tabela 9 mostra algumas culturas afetadas por íons específicos. Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 46 Tabela 9 Algumas culturas afetadas por íons específicos (Pizarro, 1978) Íons Fruteiras Hortaliças Culturas extensivas Amendoeira Milho Abacateiro Citros Pessegueiro Videira Na+ Morangueiro Ca++ Folhosas Linho Abacateiro Batata Doce Fumo Citros Cl- Videira SO4-- Bananeira Alface Beterraba açucareira NO3- Cana-de-açúcar 7.1.2.1 Cloreto O cloreto não é retido nem adsorvido pelas partículas do solo, deslocando-se facilmente com a água do solo, mas é absorvido pelas raízes e translocado às folhas, onde se acumula pela transpiração. O primeiro sintoma deste íon, evidenciado pelas plantas, é a queimadura do ápice das folhas que, em estágios avançados, atinge as bordas e promove sua queda prematura; nas culturas sensíveis, os sintomas aparecem quando se alcançam concentrações de 0,3 a 1,0 % de cloreto, em base de peso seco das folhas. A sensibilidade das culturas a este íon é bastante variável como, por exemplo, as frutíferas, que começam a mostrar sintomas de danos a concentrações acima de 0,3 % de cloreto, em base de peso seco, as espécies tolerantes podem acumular até 4,0 a 5,0 % de cloreto sem manifestar qualquer sintoma de toxicidade. A Tabela 10 apresenta, para certas culturas, os valores de tolerância ao cloreto, medidos no extrato de saturação e na água de irrigação. Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 47 Tabela 10 Tolerância relativa das plantas (variedades e porta enxerto) ao cloreto, medidas no extrato de saturação e na água de irrigação (Ayers & Westcot, 1991) Nível máximo permissível de cloretos (meq L-1) Planta Porta-enxerto ou variedade Zona radicular (Cles) Água de irrigação (Cla)* Citros Tangerina Cleópatra 25,0 16,6 Citros Limão e laranja azeda 15,0 10,0 Citros Laranja doce e citrage 10,0 6,7 Frutas do caroço Marianna 25,0 17,0 Frutas do caroço Lovell e Shalil 10,0 6,7 Frutas do caroço Yunnan 7,5 5,0 Abacate West Indian 7,5 5,0 Abacate Mexican 5,0 3,3 Videira Thompson Seedless 20,0 13,3 Videira Cardinal e black Rose 10,0 6,7 Amoreira Boysenberry 10,0 6,7 Amoreira Olallie blackberry 10,0 6,7 Amoreira IndiaSummerRaspberry 5,0 3,3 Morangueiro Lassen 7,5 5,0 Morangueiro Shasta 5,0 3,3 * Valores máximos aplicáveis apenas para culturas irrigadas por superfície. Para culturas irrigadas por aspersão pode causar queimadura das folhas a nível inferiores a esses 7.1.2.2 Sódio A toxicidade ao sódio é mais difícil de diagnosticar que ao cloreto, porém tem sido identificada claramente como resultado de alta proporção de sódio na água (alto teor de sódio ou RAS). Ao contrário dos sintomas de toxicidade do cloreto, que têm início no ápice das folhas, os sintomas típicos do sódio aparecem em forma de queimaduras ou necrose, ao longo das bordas. As concentrações de sódio nas folhas alcançam níveis tóxicos após vários dias ou semanas e os sintomas aparecem, de início, nas folhas mais velhas e em suas bordas e, a medida em que o problema se intensifica, a necrose se espalha progressivamente na área internervural, até o centro das folhas. Para as culturas arbóreas, o nível tóxico nas folhas se encontra em concentrações acima de 0,25 a 0,50 % de sódio, em base de peso seco. A Tabela 11 classifica a tolerância de várias culturas ao sódio, utilizando-se três níveis de percentagem de sódio trocável. Prevenção, Manejo e Recuperação dos Solos Afetados por Sais 48 Tabela 11 Tolerância relativa das culturas* ao sódio trocável (Ayers & Westcot, 1991) Sensíveis (PST < 15) Semi-tolerantes (PST de 15 a 40) Tolerantes (PST >
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