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Aula 01 Economia e Finanças Públicas p/ SEFAZ/PE Professores: Heber Carvalho, Jetro Coutinho Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 104 AULA 01 ± 5. Microeconomia: Impacto de impostos sobre o equilíbrio de mercado. 4. Economia do Setor Público: Impacto da carga tributária na atividade econômica e na distribuição de renda; impostos regressivos e progressivos; impostos sobre o consumo em cascara e sobre o valor adicionado. SUMÁRIO PÁGINA 1. Introdução à tributação 02 2. Tipos de impostos 09 3. Tributação do consumo: IVA e impostos cumulativos 14 4. Tributação ótima de mercadorias 17 5. Alíquotas marginal e média 23 6. Incidência tributária 25 7. Curva de Laffer 35 8. Resumão da Aula 37 Questões comentadas 41 Lista das questões comentadas na aula 88 Gabarito 104 Olá caros(as) amigos(as), E aí, como estão os estudos? Se você sentiu muitas dificuldades, saiba que é normal. A Economia é tida como uma matéria das mais difíceis para concurso -. Nesta aula, trataremos dos temas relacionados à tributação. É um dos assuntos que mais tem caído em provas da área fiscal. Portanto, muita atenção a esta aula! Muita gente coloca esse tema dentro da GLVFLSOLQD� ³)LQDQoDV� 3~EOLFDV´�� DFKDQGR� TXH� p� DOJR� GLIHUHQWH� GH� Microeconomia. Na verdade, é um tema híbrido, pois, às vezes, é bastante teórico, não necessitando que o leitor saiba Microeconomia. No entanto, outras vezes, determinados temas carregam um forte conteúdo de Micro, sendo muito difícil entender o conteúdo se não tiver estudado Micro previamente. Por isso, preferimos ministrar os temas de Tributação após o conteúdo de Micro (seja em cursos em PDF, seja em cursos presenciais). Isso facilita muito o aprendizado do aluno. 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 104 Por isso fizemos a aula 00 somente com os requisitos básicos necessários para aprender os conceitos dessa aula. Você vai perceber que, em diversos momentos da aula, trataremos de temas como ³HODVWLFLGDGHV´��³GHPDQGD´��³RIHUWD´��HWF� E aí, todos prontos? Então, aos estudos! 1. CONCEITO E PRINCÍPIOS DE TRIBUTAÇÃO "A arte da tributação consiste em depenar o ganso de modo a se obter a maior quantidade possível de penas com a menor quantidade possível de grasnidos." (Jean-Baptiste Colbert, ministro da economia do rei Luís XIV, França) Nós, como cidadãos, esperamos que o governo nos proporcione diversos bens e serviços. Para fornecê-los, o governo precisa de recursos para atender às necessidades do povo (nós). Esses encargos são financiados por meio de várias maneiras; seguem alguns exemplos: emissão de moeda, lançamento de títulos públicos, empréstimos e a tributação. A tributação, sem dúvida, é o mais famoso e atuante meio do governo financiar os seus gastos. Benjamim Franklin, ex-presidente norte-americano em meados do século XVIII, disse uma frase que ficaria fDPRVD�PXQGLDOPHQWH��³neste mundo nada é certo a não ser a morte e os impostos´� O mecanismo da tributação intervém diretamente na alocação dos recursos e na sua distribuição na sociedade. Desta forma, pode, também, reduzir as desigualdades na riqueza, na renda e no consumo. O sistema tributário variará de acordo com as peculiaridades políticas, econômicas e sociais de cada país ou Estado. Mesmo que tenhamos sistemas diferentes, eles serão com certeza o principal meio de obtenção de recursos e o principal instrumento para promover ajustes de natureza social e econômica. Neste sentido, dado que o governo vai enfiar a mão em bolsos privados para pagar suas despesas, surgem algumas perguntas sobre a composição de um sistema tributário adequado. Qual o melhor sistema tributário para a sociedade? Quais as consequências de determinados tributos para certas classes da sociedade? Quais são seus efeitos ao nível individual e coletivo? As alíquotas dos tributos devem ser as mesmas para todos os bens e para todos os indivíduos? 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 104 Princípio da capacidade ou habilidade de pagamento De uma forma geral, espera-se que sistema tributário obedece ao seguinte: x Obtenção de receitas para financiar os gastos públicos; x Os tributos seriam escolhidos de forma a minimizar sua interferência no sistema de mercado, a fim de não torná-lo (mais) ineficiente (princípio da neutralidade); x A distribuição do ônus tributário deve ser equitativa entre os diversos indivíduos de uma sociedade (equidade); x Cada indivíduo deveria ser taxado de acordo com sua habilidade para pagar (equidade Æ capacidade de pagamento); x Os tributos deveriam ser universais, cobrados sem distinção para indivíduos em situações similares; Baseado nestas premissas, podemos apresentar os princípios teóricos da tributação, a saber: x Princípio da neutralidade x Princípio da equidade 1.1. Princípio da neutralidade O princípio da neutralidade diz que os impactos gerados pelo ônus tributário não devem alterar, ou intervir o mínimo possível, a alocação de recursos na economia. Como os preços são a melhor forma de se estabelecer a alocação de recursos em uma economia, podemos concluir que o impacto da tributação sobre os preços dos bens e serviços deve ser neutro, ou seja, a relação de preços existente entre os diversos bens deve-se manter igual. Em outras palavras, e de um modo mais técnico, o princípio da neutralidade não deve interferir ou distorcer os preços relativos (preço de um produto em relação aos outros) dos bens e serviços. Para clarear o raciocínio, veja o seguinte exemplo: antes da incidência da tributação, o preço do quilo de picanha custava R$ 30,00 e o quilo de coxão duro custava R$ 7,50. Com isso, o preço relativo entre picanha e coxão duro era 0,25 (7,5/30=1/4). Para que seja mantida a neutralidade tributária, a incidência da tributação sobre a picanha deve ser igual aos outros tipos de carne (o coxão duro, por exemplo). Imaginemos o caso de um aumento de cerca Princípio do benefício 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 104 de 10% na tributação para todos os bens. O preço do quilo de picanha passa a custar R$ 33, e o quilo de coxão duro, R$ 8,25. Veja que foi obedecido o princípio da neutralidade, pois o preço relativo dos bens não foi distorcido, continuou com o mesmo valor de 0,25 (8,25/33=1/4). Se o governo, por outro lado, decidisse não tributar a picanha para tornar o seu consumo mais acessível às classes mais pobres e, ao mesmo tempo, tributar o coxão duro nos mesmos 10%, haveria mudança nos preços relativos. A picanha continuaria custando R$ 30,00 o quilo, enquanto o coxão duro custaria R$ 8,25. O preço relativo seria 0,275. Ou seja, a tributação, neste caso, interveio na alocação de recursos, de tal forma que não podemos dizer que, nesta última situação, o objetivo da neutralidade foi atendido. Assim, pelo exposto, percebemos que,quando a tributação deixa de ser neutra, haverá mudança na alocação existente. Se esta alocação preexistente significar um equilíbrio em um mercado competitivo, ela será um ótimo de Pareto1 (eficiente economicamente). Ao tributar e mudar a alocação eficiente preexistente, o (possível) não atendimento à neutralidade pode tornar o mercado (mais) ineficiente. É por isso que o princípio da neutralidade está intimamente ligado ao conceito de eficiência econômica (ótimo de Pareto). O último parágrafo pode ser mais bem esclarecido. Pense no seguinte: imagine que a economia está equilibrada em um ótimo de Pareto (equilíbrio competitivo Î maximização de excedentes) e a produção seja tributada com um imposto que não seja neutro. O que acontecerá? Como a economia estava operando em níveis ótimos de eficiência, será provável que este imposto, que não é neutro, piore os níveis de eficiência da economia (ou seja, cause peso morto), pois ele alterará a alocação preexistente, que era eficiente. Por outro lado, imagine que a economia não esteja em níveis ótimos GH�HILFLrQFLD��HP�UD]mR�GH�DOJXPD�IDOKD�GH�PHUFDGR��DOJXP�³GHIHLWR´�QR� funcionamento do mercado). Diante disso, o governo, a fim de corrigir essa falha de mercado, pode decidir impor um tributo específico a fim de corrigir a distorção existente. Veja que esse tributo, apesar de não ser neutro, pode melhorar a eficiência econômica, tendo em vista que ele visa à redução de uma falha de mercado. 1 K� ſƚŝŵŽ� ĚĞ� WĂƌĞƚŽ� Ġ� ƵŵĂ� ƐŝƚƵĂĕĆŽ� Ğŵ� ƋƵĞ� Ă� ĞĐŽŶŽŵŝĂ� ĨƵŶĐŝŽŶĂ� ĐŽŵ� ?ĞĨŝĐŝġŶĐŝĂ� ĞĐŽŶƀŵŝĐĂ ? ?� Geralmente, definimos tal situação como sendo a hipótese em que o mercado competitivo está em equilíbrio (curva de demanda intercepta a curva de oferta). Nesta situação, os excedentes dos consumidores e produtores são maximizados e não temos peso morto. Daí, dizemos que há eficiência econômica (ou eficiência de Pareto). 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 104 Lump-sum X Excise tax Lump-sum tax (ou tributo por montante único) é uma obrigação tributária de montante fixo, um tipo de imposto em que cada indivíduo paga um valor fixo, independentemente do montante da sua renda e do seu consumo. Por exemplo, se o governo decidir cobrar R$ 50,00 por mês de cada indivíduo, isto configura um lump sum tax. Do ponto de vista da eficiência econômica (sem levar em conta considerações de equidade2), o lump-sum tax é um tipo de imposto ³LGHDO´��&RPR�HOH�p�XP�YDORU�IL[R�FREUDGR�GH�WRGRV�RV�FLGDGmRV��HOH�QmR� interfere na eficiência econômica das trocas, pois todos estão pagando o mesmo valor para o governo e têm suas rendas reduzidas no mesmo montante. Isto fará com que o comportamento de todos não seja alterado, e o equilíbrio (preços e quantidades) não seja alterado. Portanto, guarde o seguinte, em relação ao imposto lump-sum tax: o equilíbrio do mercado (como um todo, incluindo preço e quantidade de equilíbrio) não será alterado. Observe que, se a economia está em um ótimo de Pareto, e é cobrado um imposto do tipo lump-sum, a eficiência econômica não será prejudicada. Por isso, o lump-sum tax é considerado um imposto neutro (imposto eficiente). Um excise tax é uma sobretaxa tributária que é acrescentada ao preço de cada unidade de um produto. Segundo a doutrina, um excise tax geralmente tem a peculiaridade de ser aplicado sobre uma pequena parcela de produtos, e de também possuir alíquotas um pouco mais elevadas. Alguns produtos, por serem supérfluos ou nocivos à saúde, sofrem a incidência do excise tax: gasolina, álcool e tabaco, por exemplo. Imagine que o governo queira levantar uma determinada receita 2 Quando falamos que um imposto é eficiente do ponto de vista econômico, isto significa que estamos falando somente da eficiência econômica e isso não guarda qualquer relação com equidade. Assim, podemos ter um tributo eficiente, mas que seja concentrador de renda (ou seja, é eficiente, mas não é equitativo). Por outro lado, podemos ter um imposto que melhore a distribuição de renda (obedeça a objetivos de melhorar a equidade), mas que não seja eficiente do ponto de vista econômico. Pense em um bolo. O tamanho do bolo é relacionado à eficiência econômica. A repartição das suas fatias é relacionada à equidade. Assim, se o governo prioriza a eficiência econômica, na verdade, ele está priorizando o tamanho do bolo. Por outro lado, se ele prioriza a repartição das fatias, ele ĞƐƚĄ�ƉƌŝŽƌŝnjĂŶĚŽ�Ă�ĞƋƵŝĚĂĚĞ ?��Ɛ�ǀĞnjĞƐ ?�Ă�ƉŽůşƚŝĐĂ�ĚĞ�ŵĞůŚŽƌŝĂ�ĚĞ�ĞƋƵŝĚĂĚĞ�ƉƌŽǀŽĐĂ� ?ĚĞƐƉĞƌĚşĐŝŽƐ ?� do bolo. Repartir o bolo e entregar a fatia para muito mais pessoas pode provocar desperdícios, o que seria a nossa perda de eficiência. Por isso, às vezes, é dito que há um trade-off (dilema) entre eficiência e equidade. Ou seja, priorizar a eficiência significa abrir mão de um pouco de equidade, ou o contrário, priorizar equidade significa abrir mão de um pouco de eficiência. 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 104 tributária e, para isso, ele tenha que escolher um lump-sum ou um excise tax. Do ponto de vista do contribuinte, qual será a melhor opção? O lump-sum tax altera o orçamento disponível (renda) para o consumidor, reduzindo-o. O excise tax não interfere no orçamento disponível, mas interfere na relação entre os preços dos bens. Ou seja, o excise tax aumenta para o consumidor o custo de oportunidade do bem que está sendo taxado. Não será demonstrado aqui todo o processo de ajustamento e as implicações sobre a escolha ótima do consumidor envolvendo a linha do orçamento, curvas de indiferença e efeitos renda/substituição. Mas o mais relevante é que, supondo que o consumidor adquira alguma quantidade positiva do bem que é tributado pelo excise tax e sua estrutura de preferências seja formada por curvas de indiferença bem- comportadas, e, dada uma escolha entre um lump-sum e um excise tax que proporcione a mesma receita tributária, o consumidor preferirá o lump-sum. Em outras palavras, um lump-sum é a forma preferível de tributação, pois é mais eficiente. No caso do excise tax, o governo se afasta de seus objetivos de eficiência econômica, tendo em vista que seu principal objetivo é taxar de forma mais elevada alguns tipos de produtos (supérfluos ou nocivos à saúde). Ressaltamos que essa escolha do imposto do tipo lump-sum depende dos pressupostos de que as preferências do consumidor sejam representadas por curvas de indiferença bem-comportadas e o consumo do bem tributado pelo excise tax seja positivo. Para exemplificar, segue um caso em que estes pressupostos não são obedecidos e, por conseguinte, o lump-sum tax não é a melhor escolha: Imagine a escolha entre um lump-sum e um excise tax sobre cigarros que arrecadem a mesma receita tributária, numa região onde metade dos contribuintes seja fumante e a outra metade seja não fumante. As pessoas que fumam (consumo positivo de cigarros) preferirão o lump- sum, enquanto os não fumantes (não adquirem qualquer quantidade de cigarros) preferirão o excise tax. Ou seja, se o consumidor não adquire qualquer quantidade do bem que será tributado, ele preferirá o excise tax. A explicação é óbvia: se o governo aplica um excise tax sobre um bem que ele não consome, ele não será prejudicado de nenhuma forma, aopasso que, na adoção de um lump-sum, ele terá que pagar alguma quantia ao governo. Ou seja, entre pagar uma quantia fixa, e não pagar nada, é melhor não pagar nada! Então, você dever guardar o seguinte. Do ponto de vista da eficiência econômica (sem levar em conta considerações de equidade), o lump-sum 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 104 tax é um tipo GH� LPSRVWR� ³LGHDO´�� TXH� QmR� LQWHUIHUH� QR� HTXLOtEULR� GR� mercado. Portanto, ele é um imposto neutro (imposto eficiente). Veja que o fato de os mais pobres serem mais prejudicados (pois estarão pagando o mesmo valor de imposto que os ricos) é indiferente na consideração da eficiência econômica do lump-sum. Mais uma vez, vemos que a eficiência não leva em conta aspectos distributivos, ok?! Um exemplo de tentativa de implantação deste imposto aconteceu na Inglaterra QR� ILQDO� GR� JRYHUQR� GD� ³GDPD� GH� IHUUR´�� D� SUimeira-ministra Margaret Tatcher. No final da década de oitenta, seu governo tentou implementar um imposto lump-sum que, no entanto, acabou causando grande insatisfação popular (e forte oposição no partido), de tal forma que teve sua implementação cancelada. A insatisfação ocorreu justamente porque os pobres teriam que pagar fatias percentuais maiores de suas rendas, quando comparadas com os ricos. 1.2. Princípio da equidade O princípio da equidade tem por objetivo a garantia de uma distribuição equitativa do ônus tributário pelos indivíduos, de uma forma ³MXVWD´�� ([LVWHP� GXDV� DERUGDJHQV� RX� SULQFtSLRV� D� ILP� GH� GHILQLU� TXDO� D� parcela justa de imposto que cada indivíduo deve pagar: x Princípio da capacidade contributiva: a repartição tributária deveria ser baseada na capacidade individual de contribuição. x Princípio do benefício: o ônus tributário deveria ser repartido entre os indivíduos de acordo com o benefício que cada um recebe em relação aos bens e serviços prestados pelo governo. A partir de agora, vejamos cada uma deles: 1.2.1. Princípio da capacidade contributiva Também chamado de princípio da capacidade de pagamento ou, ainda, princípio da habilidade de pagamento, ele nos afirma que os impostos devem ser cobrados das pessoas de acordo com a capacidade que elas têm de suportar o encargo. Esse princípio é justificado pelo argumento de que todos os cidadãos devem fazer o mesmo sacrifício para sustentar o governo. Isso significa que R$ 100,00 é mais importante para um indivíduo pobre do que para um rico. Dado esse fato, se um indivíduo pobre e um rico pagam 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 104 um mesmo montante de tributos, eles não fizeram o mesmo sacrifício. Devido à sua capacidade de pagamento inferior, o indivíduo pobre teve um sacrifício superior ao do rico. Para evitar esse tipo de injustiça, utilizamos dois mecanismos de tributação que têm por objetivo igualar o sacrifício dos cidadãos: a equidade horizontal e a equidade vertical. A equidade horizontal significa que os indivíduos com iguais capacidades devem pagar o mesmo montante de tributos. Sua implementação é relativamente fácil, já que as pessoas com o mesmo nível de renda (mesma capacidade de pagamento) devem, em princípio, dar igual contribuição tributária. A equidade vertical significa que indivíduos com diferentes habilidades devem pagar tributos em montantes diferenciados. Quem pode pagar mais, de fato, deve pagar mais. É o tratamento desigual para desiguais. Vale destacar que esses montantes a que nos referimos são em valores percentuais. Por exemplo, um sujeito que ganha R$ 1.000,00 deve pagar uma parte menor de sua renda que outro sujeito que ganha R$ 7.500,00. Se o primeiro paga R$ 200,00 de impostos (20% de sua renda) e o segundo paga R$ 1.500,00 (20% da renda), não estaremos obedecendo à equidade vertical, mas, sim, à equidade horizontal, pois os dois sujeitos estarão pagando o mesmo montante (mesmo percentual de suas rendas). Assim, para que a equidade vertical seja obedecida, quem ganha mais, deve contribuir com um percentual maior de sua renda. 1.2.2. Princípio do benefício Este princípio afirma que as pessoas devem pagar impostos com base nos benefícios que obtêm dos serviços do governo. Quanto maior o benefício auferido, maior deve ser a contribuição e vice-versa. Algumas pessoas argumentam que esse princípio é mais justo porque evita a situação na qual um indivíduo paga indiretamente pelo benefício de outra pessoa. Outras pessoas argumentam que esse princípio é mais eficiente porque ele se alinha perfeitamente com o sistema de mercado livre, onde cada indivíduo paga de acordo com os benefícios que recebe ao adquirir determinados bens e serviços. Baseado nestes argumentos, temos que, quanto maior é o benefício, maior é o nível de consumo e, por conseguinte, maior é o preço a ser pago pelos benefícios. Ainda nesta forma de análise, argumenta-se que, se o pagamento dos tributos não é feito com base no princípio do benefício, o resultado inequivocamente é o desperdício, porque há um 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 104 estímulo velado à superutilização dos serviços, levando à ineficiência e/ou desperdício. Por outro lado, a aplicação do princípio do benefício revela duas dificuldades intransponíveis. Em primeiro lugar, é difícil estabelecer qual é o benefício de cada indivíduo na fruição de bens e serviços públicos. Por exemplo, quanto de segurança nacional cada indivíduo usufrui? Difícil responder, não!? Quanto cada cidadão paulistano usufrui do Parque do Ibirapuera, ou quanto cada cidadão carioca usufrui das praias, ou, ainda, quanto cada cidadão brasiliense usufrui do Parque da Cidade? São perguntas (quase) impossíveis de se responder, de modo que se torna inviável a aplicação prática do princípio do benefício. Em segundo lugar, outra dificuldade para a aplicação deste princípio surge no momento em que se procura mensurar o benefício individual para que, de acordo com ele, se estabeleça um valor a ser pago. Pelos exemplos do parágrafo anterior, vê-se que não há mecanismos eficientes para medir o benefício que cada cidadão tem ao usufruir os bens e serviços públicos. Mesmo que houvesse meios de mensurar esse benefício, haveria ainda a dificuldade de estabelecer o quantum deveria ser cobrado de cada um. Assim, fica claro que o mecanismo da tributação baseado apenas no princípio do benefício seria de dificílima implantação. Logo, a alternativa de se estabelecer um sistema de tributação adequado mostra a necessidade de se buscar outro mecanismo que, associado ao princípio do benefício, torne a estrutura de tributação menos ineficiente e mais justa e, ao mesmo tempo, viável do ponto de vista prático. 2. TIPOS DE IMPOSTOS Neste tópico, nós veremos diversas classificações dos impostos, que são cobradas em concursos. 2.1. Ingressos públicos: receitas originárias e derivadas Com o objetivo de atender às necessidades públicas, o Estado possui meios de financiar suas atividades por intermédio dos ingressos públicos. Eles são considerados todas as entradas de bens ou direitos, em um certo período detempo, que o Estado utiliza para financiar seus gastos, podendo ou não se incorporar ao seu patrimônio. 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 104 Quanto à forma de ingresso ou natureza, a receita pode ser orçamentária3 ou extraorçamentária4. Para nós, o que interessa é a receita orçamentária (ou receita pública). Segundo o MTO (Manual Técnico do Orçamento), as receitas públicas podem ser classificadas em vários critérios: 1. natureza; 2. indicador de resultado primário; e 3. fonte/destinação de recursos. Apesar da classificação do MTO, existe ainda a classificação da doutrina, no que tange ao critério da procedência5. Essa classificação possui uso acadêmico e não é normatizada; portanto, não é utilizada como classificador oficial da receita pelo poder público. Receitas públicas originárias, segundo a doutrina, são as arrecadadas por meio da exploração de atividades econômicas pela Administração Pública. Resultam, principalmente, de rendas do patrimônio mobiliário e imobiliário do Estado (receita de aluguel), de preços públicos (ou tarifas), de prestação de serviços comerciais e de venda de produtos industriais ou agropecuários. Assim, quando o Estado aluga um imóvel a terceiros ou quando recebe dividendos de empresas em que tem participação acionária, tais recursos são receitas originárias. Receitas públicas derivadas, por outro lado, são as obtidas pelo poder público por meio da soberania estatal, por meio da coercitividade. Decorrem de norma constitucional ou legal e, por isso, são auferidas de forma impositiva, como, por exemplo, as receitas tributárias e as de contribuições especiais. 3 Para o Manual Técnico do Orçamento (MTO), a receita orçamentária é fonte de recursos utilizada pelo Estado em programas e ações cuja finalidade precípua é atender às necessidades públicas e demandas da sociedade. 4 Receitas extra-orçamentárias são aquelas que não fazem parte do orçamento público. Como exemplos temos as cauções, fianças, depósitos para garantia, consignações em folha de pagamento, retenções na fonte, salários não reclamados, operações de crédito a curto prazo e outras operações assemelhadas. Sua arrecadação não depende de autorização legislativa e sua realização não se vincula à execução do orçamento. Tais receitas também não constituem renda para o Estado, uma vez que este é apenas depositário de tais valores. Contudo tais receitas somam- se às disponibilidades financeiras do Estado, porém têm em contrapartida um passivo exigível que será resgatado quando da realização da correspondente despesa extra-orçamentária. 5 Alguns falam também em critério da coercibilidade. 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 104 Veja, então, que a maior parte dos recursos (tributos) que o Estado aufere é enquadrada como receita derivada. 2.2. Impostos diretos e indiretos A diferença básica entre esses tributos está na incidência. Enquanto os tributos diretos incidem sobre a renda e riqueza (patrimônio) das pessoas, os tributos indiretos são aqueles que incidem sobre as mercadorias e serviços adquiridos pela sociedade. Nesse sentido, podemos também conceituar o primeiro como sendo aquele que incide sobre as pessoas, enquanto o segundo incide sobre a produção. Como exemplo de impostos diretos, temos o IR (Imposto de Renda), incidente sobre a renda das pessoas; o SIMPLES (imposto sobre o lucro das micro e pequenas empresas e empresas de pequeno porte), incidente sobre a renda das pessoas jurídicas; o IPVA (Imposto sobre a propriedade de veículos automotores), incidente sobre o patrimônio; o IPTU (Imposto predial e territorial urbano), incidente sobre o patrimônio; o ITR (Imposto territorial rural), incidente sobre o patrimônio; etc. Como exemplo de impostos indiretos, temos o ICMS (Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços), o IPI (Imposto sobre produtos industrializados), o ISS (Imposto sobre serviços), etc. 2.3. Impostos específicos e ad valorem Dentro dos impostos indiretos, nós podemos ainda ter os impostos específicos e os ad valorem. Imposto específico ou ad rem é aquele cobrado com base em um valor único, dependente da quantidade transacionada da mercadoria. Por exemplo, imagine um imposto de R$ 1,00 por cada lata de cerveja produzida. É um tipo de imposto específico pois é um valor único e não depende do valor pelo qual a lata foi vendida, mas apenas do número de latas vendidas. Imposto ad valorem é aquele cobrado com base em uma alíquota que incide sobre o valor da transação. É o tipo mais comum. Por exemplo, imagine uma venda de um bem que custe R$ 100 e a alíquota do imposto seja 10%. O valor do imposto será R$ 10. Se o mesmo bem for vendido em outro lugar por R$ 200, o valor do imposto será R$ 20. Diferente, portanto, do imposto específico que tem um valor único por unidade transacionada. 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 104 Ainda em relação ao imposto ad valorem, podemos ter dois tipos: os cobrados por fora ou por dentro. O imposto ad valorem cobrado por fora incide sobre o valor da mercadoria, de modo que o imposto é uma porcentagem sobre o preço de venda, onde ainda não está incluso o imposto. Exemplo: se um bem custa R$ 100,00 (preço de venda) e o imposto por fora equivale a 10%, o preço de nota fiscal do bem (aquele que o consumidor pagará) será R$ 110. O IPI é um exemplo de imposto ad valorem cobrado por fora. O imposto ad valorem cobrado por dentro incide sobre o preço de venda, de modo que o valor do imposto é uma porcentagem sobre o preço de venda, onde já está incluso o imposto. Exemplo: se um bem custa R$ 100 (preço de venda) e o imposto por dentro equivale a 10%, o preço de nota fiscal do bem será R$ 100 e o valor do imposto será R$ 10. Ou seja, o preço líquido da mercadoria (preço de venda do bem menos o imposto) será R$ 90. O ICMS é um exemplo de imposto ad valorem cobrado por dentro. Uma pergunta pertinente seria: qual destes impostos ad valorem é mais oneroso para o contribuinte, o por fora ou o por dentro? Certamente o imposto ad valorem cobrado por dentro é mais oneroso. Veja os exemplos que foram citados acima. No caso do imposto por fora, o preço líquido da mercadoria equivale a R$ 100 enquanto o imposto equivale a R$ 10, ou seja, a tributação foi de 10% sobre o preço líquido da mercadoria. No caso do imposto por dentro, o preço líquido da mercadoria equivale a R$ 90 enquanto o imposto equivale R$ 10, ou seja, a tributação foi de 11,11% (10/90) sobre o preço líquido da mercadoria. 2.4. Impostos proporcionais, progressivos e regressivos 2.4.1. Impostos proporcionais Neste sistema, aplica-se a mesma alíquota de imposto para os diferentes níveis de renda. Este tipo de tributo coaduna-se com a equidade horizontal, em que indivíduos com capacidades iguais de pagar, pagam o mesmo montante percentual de suas rendas. Veja como exemplo a tabela abaixo: Classes de renda Renda Alíquota % Valor do imposto % de imposto sobre a renda % de renda após o imposto A 1.00010 100 10 90 B 2.000 10 200 10 90 C 3.000 10 300 10 90 D 4.000 10 400 10 90 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 104 Veja que todos pagam impostos nos mesmos montantes percentuais de suas rendas. A partir deste quadro, concluímos que o sistema proporcional não tem nenhum impacto sobre a redistribuição da renda na sociedade. 2.4.2. Impostos progressivos Por meio desse sistema, aplicam-se maiores percentuais de impostos para as classes de renda mais alta. Este tipo de tributo coaduna-se diretamente com a equidade vertical, em que indivíduos com capacidades desiguais para pagar, pagam montantes percentuais desiguais de suas rendas. No entanto, se considerarmos que indivíduos rendas iguais também pagarão percentuais iguais de suas rendas, então, podemos afirmar que o imposto progressivo também se coaduna com a equidade horizontal. Veja como exemplo a tabela abaixo: Classes de renda Renda Alíquota % Valor do imposto % de imposto sobre a renda % de renda após o imposto A Até R$ 1.000 10 100 10 90 B Até R$ 2.000 20 100+200 15 85 C Até R$ 3.000 30 100+200+300 20 80 D Mais que R$ 3.000 40 100+200+300+400 25 75 Nota Æ o sujeito que ganha R$ 4.000,00 não pagará a alíquota de 40% sobre todo o montante de sua renda. Ele pagará 10% sobre os valores que se encontram na faixa de renda entre R$ 0 e R$ 1000; 20% sobre os valores que se encontram na faixa de renda entre R$ 1.000 e R$ 2.000; 30% sobre os valores que se encontram na faixa de renda entre R$ 2.000 e R$ 3.000; e 40% sobre os valores que se encontram na faixa de renda acima de R$ 3.000. Observe que aqueles mais ricos pagam percentuais maiores de suas rendas. Após o imposto, o percentual que sobra de suas rendas é menor TXH�R�SHUFHQWXDO�GDV�FODVVHV�SREUHV�DSyV�D�³PRUGLGD´�GR�LPSRVWR��$VVLP�� concluímos que o imposto progressivo é um sistema de tributação em que 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 104 há impacto sobre a redistribuição de renda da sociedade, contribuindo para menores desigualdades na sua distribuição. No Brasil, temos como exemplo de impostos progressivos o IR (Imposto de Renda), em que há uma faixa de renda em que não se paga qualquer imposto e, por outro lado, há um faixa em que se paga até 27,5% sobre a renda. Outro exemplo é o IPTU em que, quanto maior o valor venal (de venda) do imóvel, maior é a alíquota do imposto a pagar. No município de São Paulo, por exemplo, dependendo do valor do imóvel residencial, temos alíquotas que vão desde a isenção total (0%) até 1,5% do valor venal. A magnitude das alterações na distribuição da renda após o imposto dependerá da diferenciação das alíquotas para as diversas classes de renda. Quanto maior a diferenciação, ou seja, quanto maior o intervalo de uma alíquota para outra, maior será o impacto sobre a distribuição da renda. 2.4.3. Impostos regressivos Esse sistema tributa de forma mais aguda as classes mais pobres, fazendo com que elas suportem uma carga tributária maior. Nesse caso, quanto menor o nível de renda, maior é o percentual de imposto a ser pago pelo indivíduo. No sistema tributário brasileiro, é admitido que os impostos indiretos (incidentes sobre a produção) são regressivos. Por exemplo, imagine uma pessoa com renda de R$ 1.000 que decida comprar um televisor de LCD com o valor de nota fiscal de R$ 1.500. O ICMS e IPI da televisão somados valem, digamos, R$ 300,00. Ao comprar a TV, este indivíduo pagará, em impostos indiretos (ICMS e IPI), o equivalente a 30% de sua renda. Agora, imagine alguém com renda de R$ 6.000 decida comprar a mesma TV. Ao pagar os mesmos R$ 300,00 em impostos, este último indivíduo estará perdendo apenas 5% de sua renda. Assim, percebe-se que os impostos indiretos, no sistema tributário brasileiro, são regressivos e pioram a distribuição de renda. 3. A TRIBUTAÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL: Impostos cumulativos e não cumulativos Impostos cumulativos são aqueles que incidem sobre todas as etapas da produção. Também são chamados de impostos em cascata, justamente por incidirem sobre todas as etapas produtivas, assim como 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 104 uma cascata vem incidindo sobre tudo que está abaixo dela. A antiga CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) é um exemplo típico. Qualquer transferência financeira, excetuadas raras exceções, era tributada. Impostos não cumulativos são aqueles que incidem apenas sobre o valor adicionado em cada etapa de produção. Por exemplo, imagine uma fazenda que produziu trigo no valor de R$ 1,00 o quilo. Haverá tributação em cima deste valor de R$ 1,00/kg. Se uma indústria comprar o trigo e produzir farinha de trigo no valor de R$ 3,50/kg e o tributo for não cumulativo, é permitido que se deduza o que foi pago na etapa anterior de produção. Assim, é permitido compensar o imposto que foi pago sobre a base de cálculo de R$ 1,00 (produção do trigo). Na prática, então, será cobrado imposto somente sobre o valor que foi adicionado, ou seja, sobre R$ 2,50 (3,50 ± 1,00). Se o imposto fosse cumulativo, haveria tributação sobre o valor cheio nos dois casos (sobre R$ 1,00 na primeira etapa e sobre R$ 3,50 na segunda etapa). Pelo fato de o imposto não cumulativo incidir somente sobre o valor adicionado, ele também é denominado de IVA (Imposto sobre o Valor Adicionado). 3.1. Impostos cumulativos (em cascata) O imposto cumulativo (ou em cascata) aplica-se ao faturamento ou ao montante que é vendido. Ele incide, portanto, sobre todos os estágios do processo produtivo. Uma medida da ineficiência econômica deste tipo de tributo repousa na mudança de comportamento a que ele conduz os agentes econômicos. Ele faz com que os vendedores verticalizem a produção. Pense, por exemplo, na produção de um produto que envolve muitas etapas produtivas. Um computador, por exemplo, começa a ser fabricado quando as mineradoras extraem a matéria-prima (cobre, alumínio, etc). Depois, outros componentes são produzidos por outras empresas (fios, plástico, componentes eletrônicos, etc). Depois disso, a firma monta o computador e o vende ao comércio. Este, por sua vez, vende o computador ao consumidor final. Veja que ocorrem várias etapas. Se o imposto é cumulativo, todas elas serão tributadas, de tal maneira que o preço do produto será excessivamente apenado pelo imposto. Neste caso, vale a pena todas essas empresas que participam desse SURFHVVR� VH� MXQWDUHP� �LVWR� VLJQLILFD� ³YHUWLFDOL]DU´� D� SURGXomR��� GH� WDO� modo a reduzir as etapas de produção a um pequeno número, e fazer com que a tributação seja reduzida ao menor número de vezes possível. Assim, percebe-se que a adoção de impostos cumulativos faz com que os DJHQWHV� PXGHP� GH� FRPSRUWDPHQWR� QD� WHQWDWLYD� GH� ³IXJLU´� GR� LPSRVWR�� 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 104Essa mudança de comportamento gerada pelo imposto em cascata representa a sua ineficiência econômica. Desta forma, concluímos que o imposto cumulativo é um imposto altamente ineficiente do ponto de vista econômico. A verticalização faz com que um número menor de empresas produza em maior quantidade, o que nos levar a concluir que a cumulatividade do imposto também reduz o grau de concorrência6 da economia. 3.2. O imposto sobre o valor agregado7 (IVA) Teoricamente, um imposto sobre o valor adicionado na venda de bens de consumo seria equivalente a um imposto sobre vendas somente ao consumidor final, tendo em vista a igualdade contábil entre a soma dos valores adicionados e o valor do produto final. No exemplo que foi dado no início do tópico 3, os valores adicionados são R$ 1,00 e R$ 2,50; e o valor do bem vendido ao consumidor final é R$ 3,50. Um imposto em cascata seria inferior a ambas as alternativas (seria cobrado sobre os valores de R$ 1,00 e R$ 3,50), uma vez que discriminaria contra produtos que apresentassem um número maior de etapas de produção e comercialização, incentivando a integração vertical das empresas e reduzindo o grau de concorrência. No imposto cumulativo, conforme vimos no tópico precedente, há incentivo para que várias empresas se integrem, de forma que todas as etapas de produção sejam tributadas somente uma vez. Explicando mais uma vez, desta vez por meio de outra situação: Imagine a produção de pão. Caso tenhamos a tributação cumulativa, haverá tributação cheia em todas as etapas de produção (produção do trigo, da farinha de trigo e do pão). Assim, naturalmente, há um forte estímulo para que as empresas das diversas etapas de produção (fazenda produtora do trigo, indústria produtora da farinha de trigo, padaria produtora do pão) se integrem e formem uma só, de tal maneira que somente o pão, ao final, será tributado. Por outro lado, quando a tributação é não cumulativa, não há estímulo a essa integração vertical, pois a tributação ocorre somente sobre o valor adicionado, pois é possível utilizar como crédito fiscal o que foi pago na etapa anterior da produção. 6 Essa redução da concorrência também é um parâmetro que nos mostra a ineficiência econômica deste imposto. 7 Também pode ser chamado de ?imposto sobre o valor adicionado ?. 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 104 Pelo fato de não estimular a mudança de comportamento dos agentes, e nem prejudicar a concorrência de mercado (já que não há estímulos à integração vertical), nós podemos entender que o IVA é um imposto mais eficiente economicamente do que o imposto em cascata. Assim, se o governo pretende tributar o consumo e se preocupa com questões de eficiência econômica, a solução do IVA é preferível à solução do imposto cumulativo. Por isso, em razão do IVA distorcer menos as decisões dos agentes (não estimular a integração vertical e incidir somente sobre o valor adicionado), ele é mais neutro que o imposto cumulativo. Em relação à fiscalização dos impostos cumulativos e do IVA, neste último, ela torna-se mais transparente. Como é possível o abatimento do que foi pago nas etapas anteriores da produção por meio do crédito fiscal, fica exposta uma espécie de trilha de auditoria. Assim, a sonegação é desincentivada, pois ela só não será detectada se houver sonegação em todas as etapas da produção. Muitos tributaristas dizem até que o IVA (imposto não cumulativo) é um tributo autofiscalizador, devido a este rastro que ele deixa nas várias etapas da produção. 4. TRIBUTAÇÃO ÓTIMA DE MERCADORIAS Neste tópico, nós veremos como os impostos afetam a eficiência econômica. Para isso, pelo menos no início, utilizaremos o enfoque gráfico em que visualizamos as curvas de demanda, oferta, os excedentes do consumidor e produtor, e o peso morto do imposto. Já sabemos que, ao tributar o bem, normalmente os demandantes pagam um preço maior e os ofertantes recebem um preço menor. Isso representa um custo para os consumidores (demandantes) e para os ofertantes (produtores). Mas, do ponto de vista da eficiência econômica, o custo do imposto é que ele diminui o nível de produção que seria alcançado caso não houvesse tributação. A produção perdida representa o custo social do imposto. Ele também é chamado de perda de peso morto8. Analisaremos esse peso morto por meio das ferramentas dos excedentes do consumidor e produtor. Para isso, acompanhe o raciocínio pela figura 01. Nota: o peso morto também é chamado de excesso de gravame ou gravame excessivo, no sentido de que a imposição do imposto ocasiona, 8 �ŵ�ŵƵŝƚŽƐ�ůŝǀƌŽƐ ?�Ġ�ƵƚŝůŝnjĂĚĂ�Ă�ĞdžƉƌĞƐƐĆŽ� ?ƉĞƌĚĂ�ĚĞ�ƉĞƐŽ�ŵŽƌƚŽ ? ?�ŝŶĚŝĐĂŶĚŽ�ƐŝŵƉůĞƐŵĞŶƚĞ�ƋƵĞ�ŚĄ� ƉĞƐŽ�ŵŽƌƚŽ ?��ƐƐŝŵ ?�ƐĞ�ǀŽĐġ�ǀŝƌ�Ž�ƚĞƌŵŽ� ?ƉĞƌĚĂ�ĚĞ�ƉĞƐŽ�ŵŽƌƚŽ ? ?�ŶĂ�ǀĞƌĚĂĚĞ ?�ŝƐƐŽ�ŶĆŽ�ƋƵĞƌ�ĚŝnjĞƌ�ƋƵĞ� o peso morto foi reduzido, mas simplesmente que há peso morto. A confusão ocorre devido à tradução literal do termo em inglês deadweight loss (perda de peso morto). 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 104 Figura 01 Preços Equilíbrio após o imposto O´ Preço pago pelos compradores = PC O A Equilíbrio antes do imposto Imposto t Preço recebido pelos vendedores = PV D Quantidade Q2 Q1 em geral, um custo adicional para a sociedade, além do valor que é arrecadado para o governo. Inicialmente, temos (veja pela figura 01) um mercado competitivo em equilíbrio, no ponto onde as curvas de demanda e oferta se interceptam. Esse equilíbrio significa um ótimo de Pareto, pois é um equilíbrio de um mercado competitivo. Isto acontece porque o equilíbrio competitivo representa um ponto onde os excedentes do consumidor e produtor são maximizados. A figura 01 ilustra o preço pago pelos compradores e o preço recebido pelos produtores após a imposição do imposto específico t, cobrado dos produtores. A produção foi reduzida por esse imposto (de Q2 para Q1). A perda de excedente dos consumidores é dada pela soma das áreas A+B, e a perda de excedente dos produtores é dada pela soma das áreas C+D. Como estamos à procura de uma expressão para o custo social do imposto ou para o quantum ele reduz a eficiência econômica, seria natural, a princípio, somarmos todas as perdas de excedentes (A+B+C+D) para obter a perda total para os consumidores e produtores. No entanto, é necessário considerar que um terceiro agente (o governo), até então não considerado por nós, tem um relevante ganho de excedente ou bem-estar. O governo ganha a receita com o imposto. Essa receita tributária SRGH� VHU� HQFDUDGD� FRPR� XPD� HVSpFLH� GH� ³H[FHGHQWH� GR� JRYHUQR´�� 3HOR� menos teoricamente, essa receita auferida pelo governo será integralmente devolvida para a sociedade na forma de bens e serviços B C D 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 104 que beneficiarão toda a coletividade (saúde, educação, estradas, saneamento, etc). Assim, a área A+D (que é a receita tributária9)retornará para a sociedade, de tal forma que o resultado líquido da imposição do tributo será uma perda total de excedentes (A+B+C+D) e um ganho de receita tributária (A+D). Logo, o resultado líquido será uma perda de excedentes no valor das áreas C+B, que é o ônus do imposto ou peso morto (ou excesso de gravame). Em (possíveis) questões envolvendo cálculos, se for necessário FDOFXODU�R�SHVR�PRUWR��VHUi�SUHFLVR�FDOFXODU�D�iUHD�³FLQ]D´� UHSUHVHQWDGD� pelos triângulos B+C. Se você considerar que a área cinza (B+C) forma um triângulo ³GHLWDGR´��SRGH-se concluir que sua área será a metade da multiplicação do valor do imposto (base do triângulo) pela diferença entre Q1 e Q2 (altura do triângulo), uma vez que a área de qualquer triângulo é dada por (base X altura)/2. Ou seja, para calcular o peso morto, basta saber a diferença entre as quantidades de equilíbrio antes e depois do imposto (Q1 ± Q2) e multiplicar essa diferença pelo valor do imposto, dividindo o resultado obtido por 2. Feito isto, teremos o valor do peso morto. Qual será a fonte desse ônus? Ele acontece pelo valor perdido pelos consumidores e produtores com a redução nas vendas do bem. Observe que a taxação imposta pelo governo faz reduzir a demanda e a oferta, de tal forma que a quantidade de equilíbrio se reduz de Q1 para Q2. Essa redução nas vendas provoca o peso morto. Afinal, não se taxa o que não é vendido! Assim, o governo não obtém nenhuma receita pela redução nas vendas do bem. Do ponto de vista da sociedade, e também da eficiência econômica, esta redução é o ônus do imposto (ou peso morto). Uma interessante pergunta que pode surgir é sobre o que determina o grau de ineficiência do imposto. O que faz o peso morto ser maior ou menor? A ineficiência de qualquer imposto é determinada pela medida em que os consumidores e produtores alteram seu comportamento para evitar o imposto; o peso morto é causado por decisões ineficientes de consumo e produção por indivíduos e empresas para evitar a tributação. A quantidade alcançada no equilíbrio competitivo maximiza o excedente total. Qualquer variação da quantidade em relação ao ponto de equilíbrio leva à ineficiência. Assim, a ineficiência é proporcional à variação de quantidade induzida pelo imposto. 9 A receita tributária é dada pela multiplicação do valor do imposto (t) pela quantidade produzida e vendida (Q2). Assim, a receita tributária é dada pela área dos retângulos A+B. 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 104 Figura 02 Oferta Preço Oferta Valor do imposto (T) (T) Demanda Demanda b) Mercado elástico a) Mercado inelástico Quantidade No caso de bens de demanda inelástica, há pouca variação na quantidade em virtude da imposição do imposto. Por outro lado, quanto mais elástica é a demanda (ou a oferta) de um bem, maior a variação de quantidade induzida pelo imposto, e maior é a ineficiência por ele causada. Desta forma, podemos concluir que as elasticidades determinam a ineficiência do imposto: quanto maiores as elasticidades da demanda/oferta, maior será o peso morto. Quanto menores as elasticidades da demanda/oferta, menor será o peso morto. Graficamente, é fácil visualizarmos por que o peso morto é maior quando as elasticidades são maiores, veja na figura 02: 4.1. A Regra de Ramsey Se o governo busca a neutralidade (eficiência econômica), de forma a intervir o mínimo possível na alocação de recursos, sem causar ineficiências, ele procurará tributar bens de demanda/oferta inelástica, pois o peso morto será menor. Podemos expressar a regra de Ramsey VHJXQGR� D� HTXDomR� DEDL[R�� WDPEpP� FKDPDGD� GH� UHJUD� GD� ³HODVWLFLGDGH� LQYHUWLGD´� ࣎ ൌ ȁࡱࢊȁ �Ǥ��ࣅ Quando a oferta e/ou a demanda são elásticas, o peso morto do imposto é alto. Quando a oferta e/ou a demanda são inelásticas, o peso morto do imposto é pequeno. 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 104 Onde ࣎ seria a alíquota ótima de imposto sobre um determinado bem, Epd seria a elasticidade preço da demanda do bem, e ࣅ seria o valor da receita governamental adicional conseguida com um (possível) aumento de alíquota do imposto. Observe que a alíquota ótima é inversamente relacionada com a elasticidade preço da demanda do bem. Isto é, bens de demanda elástica (valor alto de Epd) devem sofrer uma tributação menor, e bens com demanda inelástica devem ser tributados mais pesadamente. Para arrematar o raciocínio, podemos entender que quanto mais o imposto muda o comportamento de consumo e produção, menos eficiente ele será e maior será o peso morto. Por exemplo, suponha que o governo esteja preocupado com questões de eficiência, e deseje impor um imposto. Naturalmente, ele procurará impor esse imposto sobre bens cujo consumo não deva se alterar muito após a imposição do imposto. Ou seja, se o governo se preocupa com a eficiência, ele procurará tributar bens de demanda inelástica (ou cujos consumidores tenham alta propensão marginal a consumi-los). Nos dois casos, haverá pouca mudança de comportamento no sentido de evitar o imposto, de tal forma que a ineficiência do imposto será baixa. A formulação de Ramsey indica que duas regras devem ser levadas em conta na fixação de um imposto ótimo (mais eficiente) sobre mercadorias: x Regra da elasticidade invertida: bens com alta Epd devem ser tributados a uma alíquota mais baixa; bens com baixa Epd devem ser tributados a alíquotas mais altas. x Regra da base ampla (suavização da tributação): é melhor tributar uma grande variedade de bens a uma alíquota moderada do que tributar poucos bens a uma alíquota elevada. Quanto maior a alíquota, maior é o acréscimo de peso morto decorrente de mais aumentos da alíquota10. Isto significa que é melhor tributar muitos bens a 10% do que poucos bens a 20%, pois o aumento da alíquota de 10% para 20% gera um acréscimo de peso morto menor do que o aumento de alíquota de 0% para 10%. Para equilibrar as duas regras, o governo deve tributar os bens de demanda inelástica com alíquotas maiores (isto já sabemos!), entretanto, ele não deve tentar arrecadar todos os seus impostos a partir desses bens inelásticos. Seguindo a regra da base ampla, o governo deve procurar tributar o maior número de bens possível. Ou seja, embora o 10 O peso morto marginal de um imposto (acréscimo de peso morto decorrente do aumento de alíquota) aumenta junto com a alíquota. Assim, aumentar a alíquota de um imposto de 20% para 21% traz mais peso morto do que aumentar a alíquota deste mesmo imposto de 10% para 11%. Isto é, o acréscimo de peso morto tende a ser maior para níveis mais elevados de alíquota. 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 104 governo deva tributar os bens de demanda inelástica mais pesadamente, ele também deve tributar outros bens. Se o governo se preocupasse somente com a regra da elasticidade, ele poderia simplesmente identificar os bens inelásticose procurar extrair toda a sua receita tributária a partir deste bens, deixando de tributar os bens de demanda elástica. No entanto, a regra da base ampla acaba servindo para compensar a aplicação da regra da elasticidade. 4.2. Implicação da regra de Ramsey sobre a equidade Conforme sabemos, eficiência não implica necessariamente equidade, e vice-versa. A regra de Ramsey da alíquota ótima (mais eficiente) dos tributos só leva em conta aspectos de eficiência. Simplesmente ignora os aspectos de equidade. A regra da elasticidade invertida tem implicações cruéis em termos de equidade. Imagine, por exemplo, que houvesse apenas dois bens na economia: leite e um bom uísque 12 anos (Jetro: Heber, porque todos os seus exemplos envolvem bebida?). A elasticidade preço da demanda de uísque é muito mais elevada do que a de leite (Heber: se a pessoa não IRU� XPD� ³SLQJXoD´�� Qp� - Jetro: Já sei quem é o pinguço...). Isto significaria a imposição de uma alíquota muito menor a um bem consumido por pessoas de renda mais alta. Já a alíquota do leite (bem de demanda inelástica) seria bem maior. Isto, por sua vez, significaria a imposição de alíquotas maiores a um bem consumido por pessoas de renda mais baixa. Observe que este resultado da regra de Ramsey, embora mais eficiente, violaria a equidade tributária (equidade vertical). Pessoas mais ricas estariam pagando alíquotas menores de imposto. Um determinado governo pode querer equilibrar objetivos de tributação ótima (busca da eficiência) com objetivos de equidade. Neste caso, na hora de fixar a alíquota do bem, o governo poderia levar em conta não somente a elasticidade preço da demanda de cada mercadoria, mas também a renda de seus consumidores. Os bens que fossem consumidos predominantemente por indivíduos com rendas mais altas poderiam ter uma alíquota superior àquela determinada pela regra da elasticidade. E bens que são predominantemente consumidos por indivíduos com rendas mais baixas teriam alíquotas inferiores àquela da regra da elasticidade. Fazendo isso, o governo compensaria um pouco a falta de justiça decorrente da aplicação da regra de Ramsey, que leva em conta somente aspectos de eficiência econômica. Mas, obviamente, esta compensação, 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 104 considerando questões de equidade, faria o sistema tributário perder um pouco de eficiência, mas o tornaria mais justo (ou equânime). Observe, então, que o governo geralmente enfrenta um trade-off (dilema de escolha) na hora de organizar seu sistema tributário. Um sistema eficiente não implica necessariamente um sistema justo. E, quando o governo tenta tornar o sistema mais justo, tendo vista questões de equidade, ele acaba tendo que tolerar uma perda de eficiência econômica. 5. ALÍQUOTA MARGINAL E ALÍQUOTA MÉDIA DE IMPOSTOS Este tópico trata de temas intimamente relacionados à incidência econômica de imposto sobre a riqueza, notadamente um imposto sobre a renda. No contexto da discussão da eficiência dos impostos, é importante discutirmos dois conceitos: alíquota média e marginal. A alíquota média é o imposto total pago dividido pela renda total. A alíquota marginal é o imposto adicional pago sobre um R$ 1,00 adicional de renda. Por exemplo, suponha um imposto progressivo em que o governo aplique uma alíquota de 10% sobre os primeiros R$ 3.000,00 de renda e uma alíquota de 50% sobre toda a renda além de R$ 3.000,00. Nessas condições, uma pessoa que ganha R$ 4.000,00 paga um imposto de R$ 800,00 (10% dos primeiros R$ 3.000,00, que é igual a R$ 300,00; mais 50% dos R$ 1.000,00 restantes, que é igual R$ 500,00). Para esse contribuinte, a alíquota média seria 800/4000=0,2, ou 20%, mas a alíquota marginal seria 50%, uma vez que cada R$ adicional que ele ganhe será tributado à alíquota de 50%. A análise das alíquotas média e marginal é bastante útil. Se o objetivo é medir o sacrifício feito pelo contribuinte, a alíquota média é o conceito mais apropriado, porque mede a parcela da renda do consumidor que vai para o pagamento de impostos. Por outro lado, se o objetivo é avaliar a medida que o tributo distorce as ações dos agentes, a alíquota marginal é o conceito mais importante. Em economia, os agentes, ao WRPDUHP� VXDV� GHFLV}HV�� SHQVDP� ³QD� PDUJHP´�� $VVLP�� VH� XP� LQGLYtGXR� decide avaliar se aumentará sua carga de trabalho, ele fará avaliações SHQVDQGR� ³QD� PDUJHP´�� PDUJLQDOPHQWH�� TXDQWR� ³D� PDLV´� GH� UHQGD� HX� YRX�JDQKDU"�4XDQWR�³D�PDLV´�GH�LPSRVWRV�HX�YRX�SDJDU" Se a alíquota marginal é alta, como no caso acima, o acréscimo de trabalho será desencorajado, pois cada R$ ganho na margem provocará R$ 0,50 a mais de impostos a pagar. Assim, é a alíquota marginal que determina a mudança de comportamento dos agentes decorrentes da 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 104 imposição de um tributo. Por conseguinte, é a alíquota marginal que determina o peso morto do imposto. Se pensarmos que o lump-sum tax (tributo por montante único) é um imposto neutro, que não provoca mudanças de comportamento nas pessoas, nós entenderemos essa afirmação que relaciona a alíquota marginal e a eficiência do imposto. Um imposto lump-sum, tributo por montante único, é caracterizado pela cobrança de um valor fixo sobre os cidadãos. Suponha que o governo imponha um tributo por montante único no valor de R$ 400,00. Ou seja, todos deverão pagar o mesmo valor, independentemente de seus ganhos ou ações. Para um contribuinte com renda de R$ 4.000,00, a alíquota média é de 10%; para outro com renda de R$ 1.000,00, a alíquota média é de 40%. Para ambos, a alíquota marginal é ZERO, porque não se deverá nenhum imposto por R$ adicional de renda. Como a alíquota marginal deste tipo de imposto é nula, as decisões das pessoas e a renda auferida por elas não alteram o montante devido ao governo. Assim, o imposto não distorce os incentivos, nem muda o comportamento das pessoas e, portanto, não causa peso morto. Ou seja, este tipo de imposto é o mais eficiente possível. Se o imposto lump-sum é tão eficiente, por que ele não é utilizado pelos governos? A razão é que a eficiência é apenas uma das considerações de um sistema tributário e, adicionalmente, eficiência não implica obrigatoriamente equidade. É bastante claro que a adoção de um imposto de montante único, apesar de eficiente economicamente, não atenderia ao princípio da equidade (imagine: pessoas extremamente pobres ou ricas pagariam o mesmo montante de tributos). Por tal motivo, ele não é adotado pelos governos. Por fim, é interessante fazermos uma breve análise das alíquotas médias e marginais em relação à progressividade e à regressividade dos impostos. Em um sistema de impostos progressivos, as alíquotas média e marginal dos impostos elevam-se com a renda, sendo que a alíquota marginal é naturalmente maior que a alíquota média. Quando a alíquota de imposto marginal aumenta, a alíquota média aumenta, mas de forma mais lenta. Como, no sistema progressivo de impostos, a alíquota marginal cresce à medida que a renda cresce, podemos concluir que esse sistema tem um efeito negativo sobre o incentivo de aumentar a renda. Afinal, para que se esforçar mais e aumentar a renda se, cada vez mais, uma fatia maior dessa renda vai para os bolsos do governo?83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 104 Em um sistema de impostos regressivos, a alíquota marginal se reduz com o aumento de renda. Quando a alíquota marginal se reduz, a alíquota média a acompanha, de forma que as alíquotas média e marginal dos impostos reduzem-se com a renda, e também de forma que a alíquota média é maior que alíquota marginal. Como, no sistema regressivo, a alíquota marginal decresce à medida que a renda aumenta, concluímos que esse sistema incentiva o aumento de renda (aumento de trabalho). Afinal, quanto mais você ganhar, cada vez mais, uma fatia menor dessa renda adicional vai para os bolsos do governo. 6. INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA 6.1. Repartição do ônus tributário Quando um bem é tributado, os seus compradores e vendedores compartilham o ônus dos impostos. Por exemplo, suponha que o governo tribute um bem, inicialmente vendido ao preço de R$ 10,00, com um imposto específico de R$ 2,00. Após a tributação, podemos ser levados a pensar que este bem será vendido a R$ 12,00. Entretanto, isto não é necessariamente correto. Caso o bem seja vendido a R$ 12,00, o ônus tributário estará sendo repassado integralmente para os consumidores. Na prática, na maioria das vezes, não é isso que ocorre. Mas, então, como se dá essa divisão do ônus? Na maioria das vezes, tanto consumidores quanto produtores são apenados pela imposição dos tributos, no entanto, a divisão do ônus raramente é igualitária. Para ver como o ônus é dividido, considere o impacto da tributação sobre os dois mercados da figura 3. Em ambos os casos, a figura mostra a curva de demanda inicial, a curva de oferta inicial e um imposto que diminui o preço recebido pelos produtores e aumenta o preço pago pelos consumidores. 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 104 Figura 3 REPARTIÇÃO DO ÔNUS TRIBUTÁRIO ENTRE VENDEDORES E COMPRADORES Oferta Demanda Demanda PCONS Parte do imposto que recai sobre os consumidores Parte do imposto que recai sobre os consumidores Imposto total PCONS Parte do imposto que recai sobre os produtores Oferta PINICIAL E1 Imposto total PINICIAL Parte do imposto que recai sobre os produtores PPROD PPROD b) Oferta inelástica, demanda elástica a) Oferta elástica, demanda inelástica Quantidade No painel 3.a, temos o caso da oferta elástica e da demanda inelástica (lembre-se de que curvas mais horizontais, ou mais planas, indicam maior elasticidade). No painel 3.b, temos o contrário: oferta inelástica e demanda elástica. Nos dois casos, foi introduzido um imposto e houve a repartição tributária, com uma parte do imposto recaindo sobre os consumidores e outra parte recaindo sobre os produtores. PINICIAL é o preço inicial, PCONS é o preço pago pelos consumidores após a imposição do tributo, e PPROD é o preço recebido pelos produtores após o imposto. A diferença PCONS ± PPROD é o valor do imposto, que irá para os cofres do governo. No painel 3.a, note que a maior parte do imposto recai sobre os consumidores. Isto acontece porque eles são mais inelásticos (insensíveis) a mudanças nos preços que os produtores, já que a curva dos consumidores (demanda) é mais vertical (inelástica) que a curva dos produtores (oferta). Ou seja, como neste caso os produtores reagem mais às mudanças nos preços (são mais elásticos), eles arcarão com a menor parte do imposto. No painel 3.b, note que a maior parte do imposto recai sobre os produtores. Isto acontece porque eles são mais inelásticos a mudanças nos preços que os consumidores, já que a curva de oferta é mais vertical (inelástica) que a curva de demanda. Como, neste caso, os consumidores 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 104 reagem mais às mudanças nos preços (são mais elásticos), eles arcarão com a menor parte do imposto. Pelo exposto, chegamos à conclusão de que quem reage mais, paga menos (imposto). Assim, o ônus de um imposto recai mais pesadamente sobre o lado menos elástico do mercado. Ademais, como a elasticidade reflete a declividade das curvas de demanda e oferta (quanto mais inelástico, mais vertical; e quanto mais elástico, mais horizontal), a repartição do ônus também dependerá das declividades das curvas de demanda e oferta, o que é o mesmo que dizer que a repartição dependerá das elasticidades dos consumidores e produtores. Mas, por que isso ocorre? Em essência, a elasticidade mede a disposição dos consumidores ou produtores para sair do mercado quando as condições tornam-se desfavoráveis. Uma elasticidade pequena da demanda significa que os compradores não têm boas alternativas ao consumo do bem em questão. Quando o bem é tributado, o lado com menos alternativas boas (menos elasticidade) tem menos desejo de deixar o mercado e precisa, portanto, arcar com uma parcela maior do ônus do imposto. Vale ainda comentar os casos especiais da demanda e oferta. Quando a demanda (consumidores) é totalmente inelástica, os consumidores arcam com a totalidade da tributação, já que eles não reagem de nenhuma maneira a mudanças nos preços. Ainda neste caso, ressaltamos que não haverá mudança nas quantidades transacionadas, pois os consumidores, inelásticos que são, manterão o mesmo consumo de antes. Seguindo o mesmo raciocínio, podemos também afirmar que se a demanda é perfeitamente elástica, os produtores assumem toda a carga do imposto, e os consumidores não assumem nenhuma parte dela. A mesma análise pode ser feita pelo lado da oferta. Se a oferta é perfeitamente inelástica, os produtores serão integralmente apenados pela imposição do tributo. Se a oferta é perfeitamente elástica, os consumidores arcarão com a totalidade da tributação. Por fim, ressaltamos que o lado do mercado sobre o qual o imposto é lançado é irrelevante para a distribuição das cargas do imposto. Ou seja, a incidência do imposto é idêntica, quer ele seja lançado sobre produtores ou sobre consumidores. Por exemplo, suponha que o governo decida cobrar um imposto específico de R$ 0,20 por litro de gasolina e, para isso, ele tenha a opção de cobrar dos consumidores na bomba de gasolina, quando pagam pela compra do produto, ou cobrar dos produtores como é feito normalmente. Em quaisquer dos casos, a 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 104 repartição do ônus tributário dependerá das elasticidades e não de quem é cobrado o imposto. Ou seja, o lado do mercado sobre o qual o imposto é lançado é irrelevante para determinar o ônus tributário, sendo que este é determinado pelas elasticidades da demanda e da oferta, e não sobre quem é lançado o tributo. 6.2. Calculando a repartição do ônus tributário Neste tópico, veremos como se calcula a repartição do ônus tributário entre consumidores e vendedores, considerando um mercado deconcorrência perfeita. Para isso, utilizaremos as funções de demanda e oferta do bem a ser tributado e consideraremos a hipótese de um imposto sobre vendas (ou imposto sobre o consumo). Qualquer imposto sobre vendas é recolhido pelo vendedor, mas isso não significa que é ele quem pagará pelo imposto. O vendedor poderá repassar uma parte deste imposto para o preço do produto, de forma que o consumidor arcará com alguma parte do aumento de custo imposto pelo governo. Por isso, nós dizemos que os impostos sobre o consumo ou sobre as vendas são impostos indiretos, porque tributam indiretamente os indivíduos em suas transações. Em que pese a discussão sobre quem de fato arcará com o ônus do imposto, o fato é que a pessoa que recolherá o valor imposto e o ³HQWUHJDUi´� DR�JRYHUQR�p�R�SURGXWRU�� $VVLP��qualquer imposto sobre vendas alterará apenas a função de oferta de determinado bem (a menos que a questão de prova fale explicitamente que se trata de imposto sobre vendas que é cobrado do consumidor), pois é a função de oferta que nos mostra o comportamento dos produtores. A função de demanda não é alterada. Desta forma, x Se tivermos um imposto específico (T), o novo preço da função de oferta será (P ± T). x Se tivermos um imposto ad valorem por dentro, o novo preço da função de oferta será P.(1 ± T). x Se tivermos um imposto ad valorem por fora, o novo preço da função de oferta será P/(1 + T). Assim, Imposto Novo preço na função de oferta Específico (P ± T) Ad valorem por dentro P.(1 ± T) Ad valorem por fora P/(1 + T) 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 104 Vejamos um exemplo numérico, utilizando dados retirados de uma questão de concurso: EPPGG/MPOG ± 2002 - As curvas de oferta e demanda de mercado de um bem são, respectivamente: S=± 400 + 400p e D=5.000 ± 500p. Pede-se: (1) o preço e a quantidade de equilíbrio (p1 e q1) dada a alíquota de um imposto específico T = 0,9 por produto e (2) o valor total da respectiva arrecadação do governo. a) (1) p1 = 6,40 e q1 = 1.800 e (2) 1.620,00 b) (1) p1 = 6,00 e q1 = 1.920 e (2) 1.728,00 c) (1) p1 = 6,00 e q1 = 2.000 e (2) 1.800,00 d) (1) p1 = 5,76 e q1 = 2.000 e (2) 1.800,00 e) (1) p1 = 4,80 e q1 = 2.400 e (2) 2.160,00 Resolução: Sem o imposto, o preço e quantidade de equilíbrio são: p=6,0 e Q=2000 (basta igualar S=D) Com o imposto específico, temos que fazer (p-0,9) apenas na curva de oferta, pois o imposto incide sobre os vendedores (são eles que recolhem o imposto para o governo). Assim, depois do imposto, temos: Æ -400+400(p - 0,9)=5000-500p Æ p=6,4 e Q=1800 Veja que o preço de transação (aquele que o consumidor paga) passou de 6,0 para 6,4. Ou seja, o consumidor foi apenado com 0,4 (6,4 ± 6,0). Como o imposto é 0,9, o produtor foi apenado em 0,5 (0,9 - 0,4). Veja que, do montante de 0,9 de imposto específico, o produtor arca com 0,5 e o consumidor arca com 0,4. Nota Æ o valor que o consumidor arca será sempre igual à diferença entre o novo preço de equilíbrio e o preço antigo de equilíbrio. Neste caso, é (6,4 ± 6,0)=0,4. A receita do governo o imposto específico multiplicado pela quantidade que é transacionada no mercado, ou seja, a arrecadação será Q x t = 1800 x 0,9 = 1620 e a nova quantidade de equilíbrio 1800. GABARITO: A Para fins de treinamento, vamos fazer os seguintes cálculos considerando um imposto ad valorem por dentro de 10%: 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 104 a) Novo preço de equilíbrio, divisão do ônus do imposto entre consumidores e produtores: Considerando um imposto ad valorem por dentro de 10%, o novo preço a ser utilizado na função de oferta é p(1 ± T), onde T=0,1 (10%). Assim, a nova função de oferta ficará: S=-400 + 400p(1±0,1) S=-400 + 400.0,9p S=-400 + 360p Igualando a curva de oferta com o imposto e a função demanda, temos: -400 + 360p = 5000 ± 500p p = 6,28 (novo preço de equilíbrio) Como o preço de equilíbrio era 6,0 e, depois do imposto, passou para 6,28, o consumidor arca com R$ 0,28 do imposto. O tributo a ser pago e o preço líquido recebido pelo produtor serão, respectivamente (considerando que T=10%=0,1): T = 6,28.T = 0,628 (o tributo a ser pago é 10% sobre 6,28) Preço a ser recebido pelo produtor: P´= 6,28 ± 0,628 = 5,652 Assim, no caso de um imposto ad valorem por dentro à alíquota de 10%, o consumidor pagará 6,28, o valor do imposto será 0,628. Deste valor de imposto, o consumidor arcará com 0,28; e o produtor arcará com o restante (0,628 ± 0,28 = 0,348). O preço a ser recebido pelo produtor será 5,652. Agora, façamos os mesmos cálculos considerando um imposto ad valorem por fora à alíquota de 10%. b) Novo preço de equilíbrio, divisão do ônus do imposto entre consumidores e produtores: Considerando um imposto ad valorem por fora de 10%, o novo preço a ser utilizado na função de oferta é p/(1 + T), onde T=0,1 (10%). Assim, a nova função de oferta ficará: S=-400 + 400p/(1+0,1) S=-400 + 400p/1,1 S=-400 + 363,64p 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 104 Igualando a curva de oferta com o imposto e a função demanda, temos: -400 + 363,64p = 5000 ± 500p p = 6,25 (novo preço de equilíbrio) Como o preço de equilíbrio era 6,0 e, depois do imposto, passou para 6,25, o consumidor arca com R$ 0,25 do imposto. O preço líquido recebido pelo produtor será: P = 6,25.[1/(1+T)] = 6,25/(1,1) P = 5,682 (preço recebido pelo produtor) Tributo a ser pago: T= 5,682 x 10%= 5,682 x 0,1 = 0,568 Assim, no caso de um imposto ad valorem por fora à alíquota de 10%, o consumidor pagará 6,25, o valor do imposto será 0,568. Deste valor de imposto, o consumidor arcará com 0,25; e o produtor arcará com o restante (0,568 ± 0,25 = 0,318). O preço a ser recebido pelo produtor será 5,682. Comparando os valores encontrados para o imposto ad valorem por fora e por dentro, vê-se que o imposto por dentro é mais oneroso para o contribuinte (seja o contribuinte um consumidor ou um produtor), e isto vale para qualquer nível de alíquota. ........... Existe ainda um meio alternativo de verificar a distribuição da carga tributária de um imposto específico (em porcentagem) entre compradores e vendedores. São duas expressões bastante fáceis (e também de simples memorização) que envolvem o uso das elasticidades da demanda (EPD) e da oferta (EPO): ࢀ ൌ ࡱࡼࡻࡱࡼࡻ ࡱࡼࡰ ࢀࢂ ൌ ࡱࡼࡰࡱࡼࡻ ࡱࡼࡰ Nota: nas fórmulas acima, nós estamos utilizando o valor absoluto (módulo) da elasticidade preço da demanda. Como sabemos, a EPD é um valor negativo. Se eu não utilizasse o valor absoluto da EPD, teríamos que colocar um sinal negativo na frente da EPD. 83395105172 Economia e Finanças Públicas para SEFAZ/PE Teoria e exercícios comentados Profs Heber Carvalho e Jetro Coutinho ʹ Aula 01 Profs. Heber e Jetro www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 104 Utilizando a questão resolvida neste item, com a função oferta e demanda, respectivamente, S=± 400 + 400p e D=5.000 ± 500p; e com preço inicial de 6,4 e quantidade de equilíbrio
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