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ARBITRAGEM COMERCIAL INTERNACIONAL Atualmente, observa-se uma nova realidade no cenário internacional, denominada globalização, que aproximou extremamente os países, e como consequência começaram a estabelecer inúmeras relações entre si. Desse modo, a fim de resolver conflitos que se intensificaram com o crescente aumento destas relações, opta-se pela arbitragem comercial internacional na resolução do litígio, que abarca direitos patrimoniais e desimpedidos. Em tal arbitragem, os árbitros devem ser aceitos por ambos os litigantes, e deve o árbitro conter conhecimentos sobre a matéria conflitante, estabelecendo ao final um laudo ou uma sentença arbitral com a sua decisão, que por fim, deve ser aceita por ambos os conflitantes, sem a possibilidade de recusar-se a cumprir. Desse modo, conceitua Portela, que “a arbitragem é o mecanismo de solução de litígios, pelo qual as partes decidem submeter um conflito a um ou mais especialistas em certo tema, que não pertencem ao Poder Judiciário, mas cuja decisão deverá basear-se no Direito e tem caráter vinculante” (PORTELA, 2014, p. 761). O laudo arbitral possui caráter vinculante e força de sentença judicial transitada em julgado (MALHEIRO, 2012). Ainda, este laudo estrangeiro pode ser reconhecido por outros Estados que não possuem relação com o litígio, desde que com a devida homologação. É deveras importante destacar, que os litigantes possuem autonomia nas suas vontades, ou seja, o conflito só poderá ser resolvido por arbitragem se ambos os conflitantes concordarem nesta solução do conflito, constituindo o compromisso arbitral. Ainda, segundo Emerson Malheiro, “o instituto autoriza as partes conflitantes a escolher tanto o(s) árbitro(s) quanto a sede e as leis aplicáveis à arbitragem, o que é muito importante na seara do comércio internacional” (MALHEIRO, 2012, p. 97). Atuamente, observa-se a presença de muitas cláusulas compromissórias nos contratos de empresas transnacionais, garantindo a resolução por arbitragem de possíveis controvérsias que podem se originar. Deste modo, já estabelecem no próprio contrato o foro onde será realizado a arbitragem, a lei que será aplicada e ainda, as normas que regularão o procedimento. Percebe-se que “acordam os contratantes em conferir aos árbitros a competência para dirimir o conflito de interesse que vier a ocorrer entre as partes, resultante da execução do contrato” (BERNARDES, 2004, p. 17). Ainda, a arbitragem comercial internacional “resulta unicamente de vinculação da relação de direito ou da convenção arbitral às leis de diferentes países, bem como o elemento de interesse do comércio internacional deverá ser considerado, podendo ser determinante” (MERCADANTE, 1998, p. 67). Por fim, segundo Emerson Malheiro, “a designação específica de arbitragem comercial internacional ocorre quando há pactuantes de duas nacionalidades diferentes, ou quando o procedimento acontece em território alienígena ao Estado de origem dos contendores, ou quando se empregam as regras de outro sistema legal” (MALHEIRO, 2012, p. 98). 1. DIFERENÇA EM RELAÇÃO À MEDIAÇÃO E À CONCILIAÇÃO É importante destacar que a arbitragem difere tanto da mediação como da conciliação. Na mediação, o mediador apenas contribui para a solução do litígio, não possuindo competência para solucionar a controvérsia, sendo o mediador imparcial e neutro. Já na conciliação, o conciliador possui competência para propor uma solução ao conflito, mas esta solução deve ser aceita por ambas as partes, e não imposta pelo julgador. 2. SENTENÇA ARBITRAL E NECESSIDADE DE HOMOLOGAÇÃO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA “A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil de conformidade com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de acordo com os termos desta lei” (art. 34, da Lei n. 9.307/1996). Ainda, segundo Rechsteiner, “normalmente, não se reexamina o mérito ou o fundo da sentença estrangeira, isto é, não é objetivo de cognição da autoridade judiciária interna e aplicação correta do direito pelo juiz alienígena. A sentença estrangeira somente não será reconhecida quando ferir a ordem pública, violando princípios fundamentais da ordem jurídica interna ou quando não estiver devidamente instruída” (RECHSTEINER, 2001, p. 210). Cabe destacar que o parágrafo único, do art. 34 da Lei 9.307, no qual diz que “considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do território nacional”, encontra-se impreciso. Isto é, “a legislação brasileira elegeu exclusivamente o critério geográfico (jus solis) – o local onde a decisão foi proferida – para a determinação da nacionalidade da sentença arbitral” (Processo: Resp 1.231.554/RJ. Relator: Min. Nancy Andrighi). No entanto, Malheiro afirma que “tal dispositivo não é tecnicmente correto, pois temos a sentença arbitral internacional, que não obstante tenha sido proferida fora do território nacional, não é estrangeira” (MALHEIRO, 2012, p. 99). Ainda, outro dispositivo desta lei está também desatualizado, consiste no art. 35, no qual aduz que “para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Supremo Tribunal Federal”. Porém, com o advento da Emenda Constitucional n. 45, de 2004, o art. 105, I, i, da Constituição Federal de 1988, dispõe que “compete ao Superior Tribunal de Justiça, processar e julgar, originariamente, a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exaquatur às cartas rogatórias”. Por fim, observa-se que o Brasil faz é signatário de dois tratados sobre sentenças arbitrais. Sendo estes a Convenção de Nova Iorque sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras (1958), cuja ratificação acontece com a existência do Decreto Legislativo nº 52, de 24 de abril de 2002, e a Convenção Interamericana sobre Arbitragem Comercial do Panamá (1975), na qual teve ratificação com o Decreto Legislativo nº 90, de 6 de junho de 1995. Cabe ainda, destacar importantes aspectos previstos em ambas as Convenções. Na primeira, no art. 3º, da Convenção de Nova Iorque, aduz que “cada Estado signatário reconhecerá as sentenças como obrigatórias e as executará em conformidade com as regras de procedimento do território no qual a sentença é invocada, de acordo com as condições estabelecidas nos artigos que se seguem. Para fins de reconhecimento ou de execução das sentenças arbitrais as quais a presente Convenção se aplica, não serão impostas condições substancialmente mais onerosas ou taxas ou cobranças mais altas do que as impostas para o reconhecimento ou a execução de sentenças arbitrais domésticas” (art. 3º, da Convenção de Nova Iorque sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras de 1958). Já a Convenção do Panamá, dispõe no seu art. 4º, que “as sentenças ou laudos arbitrais não impugnáveis segundo a lei ou as normas processuais aplicáveis terão força de sentença judicial definitiva. Sua execução ou reconhecimento poderá ser exigido da mesma maneira que a das sentenças proferidas por tribunais ordinários nacionais ou estrangeiros, segundo as leis processuais do país onde forem executadas e o que for estabelecido a tal respeito por tratados internacionais” (art. 4º, da Convenção Interamericana sobre Arbitragem Comercial do Panamá de 1975). Por fim, Malheiro afirma que, “no que é pertinente à sentença arbitralestrangeira, a homologação para a sua execução em território nacional é pertinente e devida” (MALHEIRO, 2012, p.101), no entanto, “a sentença arbitral internacional não dependerá de homologação pelo Superior Tribunal de Justiça, por absoluta inexistência de adequada previsão legal” (MALHEIRO, 2012, p. 101). 3. REFERÊNCIAS MALHEIRO, Emerson. Manual de Direito Internacional Privado. 2ª Edição. Atlas. 2012. PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. 6ª Edição. Salvador: JusPODIVM. 2014. BERNARDES, Michelly Graça. Arbitragem Comercial Internacional: O princípio da autonomia da vontade e a questão da ordem pública no Brasil. Disponível em: http://siaibib01.univali.br/pdf/Michelly%20Bernardes.pdf . Acesso em: 06/06/2016. MERCADANTE, Aramita de Azevedo; MAGALHÃES, José Carlos de. Solução e Prevenção de Litígios Internacionais. São Paulo: NECIN. 1998. RECHSTEINER, Beat Walter. Arbitragem privada internacional no Brasil, depois da nova Lei 9.307, de 23.09.1996: teoria e prática. 2ª Edição. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2001. Lei n. 9.307/1996 – Arbitragem. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Informativo 474. Brasília, DF, 23 a 27 de maio de 2011. Processo: Resp 1.231.554/RJ. Relator: Min. Nancy Andrighi. Decreto nº 4.311/2002 – Convenção de Nova Iorque sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras. 1958. Decreto nº 1.902/1996 – Convenção Interamericana sobre Arbitragem Comercial do Panamá. 1975.
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