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ESTUDO DIRIGIDO DISCIPLINA: MOVIMENTO PSICANALITICO 2013.2 1. Descreva o complexo de Édipo para o Lacan e comente a sua função na estruturação do sujeito (neurose, psicose e perversão), considerando os mecanismos de negação da castração do Outro. R= A importância de reconhecer a estrutura em psicanálise recai na construção do diagnostico estrutura, o qual não pode ser reduzido a da ordem do fenômeno, mas algo da estrutura do sujeito. Por diagnostico estrutural pode-se entender uma fala dirigida ao analista, sob transferência, onde os fenômenos vao se orientar em direção ao analista enquanto um operador. Freud concebe o Édipo como o complexo nuclear das neuroses e, é a partir dessa concepção, que Ppara Lacan, o Édipo assume um caráter estruturante;, de modo que sua travessia implicará na entrada do sujeito em uma das estruturas de linguagem. Isso diz respeito as formas de negação da castração do Outro, com a qual o sujeito se depeara no Édipo e precisa dar uma resposta, fazer uma escolha. uma vez que ele terá que dar uma resposta à castração do Outro. Lacan divide o Édipo em três tempos: Os três tempos do Complexo de Édipo para Lacan: 1º - Criança equivalente ao falo: o desejo da criança de ser o objeto de desejo da mãe, a criança, assim, se identifica com o falo imaginário da mãe, o que Lacan chama de narcisismo primário. A primeira relação da criança com a mãe é de amor, isto é, a mãe é o primeiro objeto de amor da criança. Há uma relação que se estabelece aí, primeiramente, que é indiferenciada. A expectativa da criança é de que ela seja necessária, que ela mesma leve uma satisfação de amor. O que a criança busca, como desejo de desejo, é poder satisfazer o desejo da mãe, isto é, ser ou não ser o objeto de desejo da mãe. No primeiro tempo, trata-se do sujeito identificado especularmente com aquilo que é objeto do desejo de sua mae. Para agradar a mae, é necessário e suficiente ser o falo. É em torno desse ponto, então, que vai se articular o progresso da relação dialética mãe-criança. A criança experimenta o falo como o centro do desejo da mãe. A criança se apresenta a mãe como lhe oferecendo o falo ela mesma, em graus e posições diferentes. Lacan chamará essa relação imaginária estabelecida entre mãe e criança de tapeadora, na medida em que a criança atesta a mãe que ela pode satisfazê-la, não somente enquanto criança, mas principalmente enquanto desejo, enquanto aquilo que lhe falta. No entanto, Lacan ressalva que aquilo que a criança tem para apresentar é algo miserável. “A criança é colocada diante dessa abertura de ser o cativo, a vítima, o elemento apassivado de um jogo onde vira presa das significações do Outro.” (Lacan, 1957, p. 232). E é na medida em que a criança assume inicialmente o desejo da mãe que ela se abre para se inscrever no lugar da metonímia da mãe, isto é, transformar-se em assujeito. Trata-se de um assujeito porque, a principio, ela se experimenta e se sente como profundamente assujeitada ao capricho daquele de quem depende, mesmo que esse capricho seja um capricho articulado 2º - Entrada do pai: o pai intervém, retira a criança da situação de ter que satisfazer a falta materna, rompendo o par narcísico (momento da castração). O pai restabelece a ordem, ao que Lacan chama de pai simbólico, é o que se faz presente como um significante, ou seja, ele é um nome, o nome do pai. O significante que substitui o outro significante. No entanto, algo vai se articulando aos poucos para criança na presença da mãe com ela mesma, que a faz perceber que ela não está só. No segundo tempo, o pai intervém efetivamente como privador da mãe. Com a proibição do pai, a criança é questionada, é abalada em sua posição de assujeito. É na medida em que o objeto de desejo da mãe é tocado pela proibição paterna que o circulo não se fecha totalmente em torno da criança e ela não se torna, pura e simplesmente, objeto do desejo da mãe. É a mãe que vai e vem e por o sujeito já estar tomado pelo simbólico. Mas qual é o significado disto? O que quer essa mulher? O pequeno sujeito gostaria que fosse ele que a mãe queira, mas está claro que não é só a ele que ele ela quer. Há outra coisa que mexe com ela – é o x. A pergunta é “o que que quer a mãe”? A criança gostaria que fosse ela, mas fica claro que não é somente a criança que a mãe quer. O significado das idas e vindas da mãe é o falo. Dessa forma, o pai no Complexo de Édipo é uma metáfora. O pai é um significante que substitui outro, constituindo o único pilar, essencial, da intervenção do pai no Complexo de Édipo. A função do pai é ser substituto do primeiro significante introduzido na simbolização, o significante da mãe. O pai se apodera, pela via metafórica, do desejo da mãe, que se apresenta sob a forma de falo. O pai, portanto, não é o pai real. O pai é uma metáfora: uma significante que surge no lugar de outro significante. A função do pai no Complexo de Édipo é se um significante que substitui o primeiro significante introduzido na simbolização, o significante materno. Esse é o pai do Complexo de Édipo. O pai intervém de diversas formas, mas antes de tudo, ele interdita a mãe. Esse é o fundamento, o princípio do Complexo de Édipo. É daí que o pai se liga a lei primordial da proibição do incesto. É tanto pela sua presença quanto pelos seus efeitos no inconsciente que o pai realiza a interdição da mãe. A mensagem enviada pelo pai não é “não deitarás com a tua mãe”, dirigida à criança mas a mensagem endereçada à mãe, “não te reintegrarás teu produto”. A intervenção do pai introduz o reino da lei, em que o assunto sai das mãos das crianças e é resolvido alhures. 3º - Mãe se volta para o pai como aquele que tem o falo: para Lacan, o pai pode dar a mãe o que ela deseja, e só pode dar porque possui. Esse é o pai doador, diferente do pai onipotente do segundo tempo. O pai pode dar a mãe aquilo que ela deseja e pode dar porque o possui. É dele que depende a posse ou não desse falo pelo sujeito materno. Na medida em que a etapa do segundo tempo é atravessada, é preciso então, que no terceiro tempo, que aquilo que o pai prometeu seja mantido. Ele pode dar ou recusar, posto que o tem, mas ele tem que dar provas de que tem o falo. É por intervir no terceiro tempo como aquele que tem o falo e não que o é, que se pode produzir uma báscula que reinstaura a instancia do falo como objeto desejado da mãe e não mais apenas como objeto do qual o pai pode privar. É o fim a travessia do Complexo de Édipo que determina a estrutura do sujeito (neurose, psicose ou a perversão), em que o segundo tempo, com a inscrição ou não do Nome-do-Pai é fundamental. Dessa forma, a principal diferença em estrutura diz respeito à neurose e a psicose. - Na neurose há a travessia do Édipo e a instalação do Nome-do-Pai; o neurótico nega a castração do Outro, é o mecanismo de defesa do recalque; - Na psicose, essa travessia fica comprometida, de modo que não há a inscrição do Nome-do-Pai, há a forclusão desse significante. Esse é o mecanismo da psicose, de modo que o Outro aparece como todo, não castrado; - Na perversão, há a negação e a denegação da castração do outro. Seu mecanismo de defesa é o desmentido. A Perversão é uma estrutura e dessa forma tem um mecanismo de defesa com relação à castração do Outro, que é o desmentido. Neurose: negação da castração do outro. Psicose: o outro aparece como não castrado. Perversão: o outro é castrado e não castrado.afirma e nega ao mesmo tempo. 2. Descreva o processo de perda da realidade na neurose e na psicose propostas por Freud no texto “A perda da realidade na neurose e na psicose”, apontando suas semelhanças ediferenças. R= Freud propõe que a perda da realidade ocorre tanto na neurose quanto na psicose, diferentemente do que se poderia pensar, uma vez que no senso comum, tal fenomeno é atribuído somente a psicose. Para explicar esse processo, ele traça 2 tempos. O primeiro é IGUAL para neurose e para a psicose, somente no segundo que ocorrerá a distinção. Ou seja, tanto na neurose quanto na psicose são expressão de uma rebelião por parte do isso contra o mundo externo, de sua indisposição ou incapacidade a adaptar-se as exigências da realidade. Esta é a primeira etapa. No primeiro tempo há uma frustração em satisfazer a pulsão, ou ainda, de realizar o desejo, diante do mundo externo, de modo que esse investimento é retraído. É na segunda etapa que há uma diferenciação entre os processos neuroticos e os psicóticos. Na neurose, há uma tentativa de compensação à parte do Isso “danificada” ,isto é, na reação contra o recalque - o recalque é instalado no primeiro tempo diante dessa frustraçao com o mundo externo - e no fracasso do recalque. O afrouxamento com a realidade é uma consequência do segundo passo em direção a formação de uma neurose, cuja perda da realidade afeta exatamente aquele fragmento de realidade que sofreu ação do recalque. No caso da psicose, a segunda etapa consiste em uma tentativa de reparação. O delírio se encontra aplicado como um remendo no lugar onde originalmente apareceu uma fenda entre o eu e o mundo externo. Assim, o delírio é uma tentativa de cura ou reconstrução da realidade. O segundo passo na psicose destina-se a reparar a perda da realidade, mas não as expensas de uma restrição com a realidade, tal como ocorre na neurose. Desta forma, o que as difere: “na neurose, um fragmento da realidade é evitado por uma espécie de fuga, ao passo que na psicose, a fuga inicial é sucedida por uma fase ativa de remodelamento.” A neurose não repudia a realidade, apenas a ignora; a psicose, a repudia e tenta substitui-la. 3. Descreva o processo de formação de um sintoma histérico, tal como Freud o concebeu, considerando a sua principal característica, a conversão no corpo. Ilustre com o caso de Elisabeth Von R., presente em “Estudos sobre a Histeria”. R= Os sintomas são um substituto de aspirações que extraem sua força da fonte da pulsão sexual. Na histeria, há uma intensificação da resistência contra a pulsão sexual. A formação sintomática representa uma luta entre a pulsão e a sua renuncia, o qual não soluciona o conflito, mas transforma a libido. Segundo Freud, as fantasias histéricas podem ser tanto inconscientes quanto conscientes. No caso da Elisabeth Von R. por exemplo, ela estava de pé ao lado do leito de morte de sua irmã quando se pegou imaginando o quanto seria feliz já que agora com a irmã morta, ela finalmente teria o cunhado livre para que pudessem viver uma história de amor. Para ela esses pensamentos eram impuros, eram pensamentos pecaminosos e logo ela converteu esses pensamentos em sintomas, pois passara a sentir fortes dores ao ficar em pé e mal podia andar. As fantasias inconscientes podem ter sido sempre inconscientes e formadas no inconsciente, ou foram inicialmente fantasias conscientes tornando-se inconscientes através do recalque. Quando as fantasias conscientes tornam-se inconscientes, podem tornar-se também patogênicas, isto é, expressar-se através de sintomas e ataques. Os sintomas histéricos são a realização de uma fantasia inconsciente que serve a realização de um desejo, surgindo como uma conciliação entre dois impulsos afetivos e pulsionais opostos, um tenta se expressar e o outro tenta suprimi-lo. Tanto as pulsões sexuais quanto as pulsões do Eu dispõe dos mesmos órgãos e sistemas de órgãos. Quanto mais estreita uma relação com o órgão, contra uma das pulsões, mais ele se retrai do outro. Este princípio provoca consequência: é como se o Eu perdesse o domínio sobre o órgão, que ficaria a disposição das pulsões sexuais recalcadas; como se o recalcamento tivesse sido exagerado pelo Eu e ele estivesse “despejando a criança com a água do banho”. A pulsão sexual “vinga-se” por ter sido incapaz de ampliar o seu domínio, por o recalque só ter sido possível a esse preço. Dai a formação do sintoma conversivo da histeria. 4. Comente a proposição de lacaniana de que a questão é histérica é “o que é uma mulher?” R= Lacan extrai de Freud que a questão da histérica é uma questão sobre a sexualidade, "sou homem ou sou mulher?", "o que é ser uma mulher?"; o posicionamento sexual diz respeito à inscrição do significante falo - significante que diz respeito à presença e a ausência. Um homem é aquele que tem e a mulher que não tem. Deste modo, não existe um significante que possa significar o que é uma mulher e, conforme, Freud diz cada uma deverá construir o seu caminho pela feminilidade. As histéricas costumam fazer triangulações para responder a essa pergunta, se identificando com o pai, como aquele que tem, ela se reveste de insígnias paternas, para tentar dar uma resposta a essa pergunta, ou ainda se volta à outra mulher como aquela que sabe o que é ser uma mulher. Como por exemplo, temos o caso Dora, observando seu caso, podemos perceber que o seu desejo é um desejo que se encontra entre o ser e o ter. O ser ou não ser objeto de desejo e o ter ou não ter o falo. Dora mantinha a situação toda em um equilíbrio delicado: O Senhor K deseja Dora e ama a Senhora K; O pai deseja a Senhora K e ama Dora; A questão de Dora, não era o amor pelo Sr. K, mas sim a sua admiração pela Sra. K. como aquela que consegue atrair a atenção tanto do pai como do Sr.K. Na cabeça de Dora a Sra. K. tinha a resposta do que era ser uma mulher – tinha o segredo da feminilidade. A partir do momento em que o Sr.K diz que a Sra. K, não significa nada para ele, toda a fantasia de Dora cai por terra pois ela percebe que na verdade a Sra. K. não tem a resposta. Ou podemos pensar no caso da bela açougueira, no qual seu desejo era não engordar a amiga, e sim mantê-la magra, para que o marido não se sentisse atraído por ela. 5. Comente a formulação freudiana de que no neurótico obsessivo, a possibilidade de deslocar qualquer sintoma para algo muito distante de sua conformação original é uma das principais características desta doença. R= Na neurose obsessiva o recalque incide deslocando o sintoma para algo muito distante de sua configuração original com a finalidade de afastar, o máximo possível, o afeto do represente original, ligando-o a outro representante qualquer, carente de significado. O afeto vai se ligar a outro representante/significante qualquer que não ofereça "perigo" a consciência. Obs.: Predomina o mecanismo do deslocamento. 6. Explique as principais características da sintomatologia do neurótico obsessivo – dúvidas, atos compulsivos e pensamentos obsessivos - como Freud descreveu. R= Dúvidas ou Incertezas; sua função principal é afastar o paciente da realidade e isola-lo do mundo. Com isso, o obsessivo se esquiva de fazer uma escolha e com isso assumir uma perda, marcando o seu desejo. Ato Compulsivo ou compulsão; tentativa de compensar a dúvida, o segundo ato tem a intenção de anular/neutralizar o primeiro (abre e fecha a garrafa) aparece como sendo a tentativa de satisfação de dois impulsos opostos quase ao mesmo tempo; Pensamento Obsessivo; tem como função representar um ato regressivamente. Não se expressa por alguma inibição motora, então esse pensamento volta e continua em nível de pensamento. Esse pensamento sobre uma deformação (deslocamento) desloca o afeto do representante original para outro representante com menor valor psíquicoque não ofereça angústia, visando fazer o desligamento das relações causais. 7. Comente a formulação freudiana sobre a paranoia: os pacientes que sofrem de paranoia lutam contra uma intensificação de suas tendências homossexuais. R= No sujeito de modo geral, há tendência heterossexual e a homossexual; de modo geral, a tendência homossexual é recalcada, o que faz com que o sujeito faça uma escolha objetal heterossexual, sendo que a tendência homossexual permanece, propiciando também investimento em pessoas do mesmo sexo, como laços de amizade, etc. Para Freud, os pacientes que sofrem de paranoia lutam contra uma intensificação de suas tendências homossexuais. Além disso, Freud nota que o perseguidor é no fundo, alguém que o paciente ama ou já amou no passado. Uma síntese das duas proposições leva a conclusão de que o perseguidor deve ser do mesmo sexo que a pessoa perseguida. 8. Descreva e explique as três formas de delírio na paranoia propostas por Freud. R= O Delírio é característico da Psicose, no caso Schereber Freud fala da negação e projeção do delírio em suas 3 formas; A negação do verbo no delírio de perseguição (a deformação consiste na transformação do afeto): eu o amo-> eu não o amo-> eu o odeio, que por projeção se transforma em-> ele me odeia. A negação do objeto na erotomanía: eu não o amo, eu a amo (eu amo uma mulher) que por projeção se transforma em -> eu não o amo, eu a amo porque ela me ama. A negação do sujeito no delírio de ciúme: não sou eu quem ama um homem, ela que o ama. Resultando na certeza delirante -> ela me trai com ele. Importante: Somente no delírio de ciúme não há o mecanismo de projeção. No delírio de perseguição, as percepções internas são substituídas por percepções externas. Consequentemente, a proposição “eu o odeio” transforma-se por projeção em outra “ele me odeia – me persegue; o que me desculpará por odiá-lo”. E, assim, o sentimento inconsciente compulsivo surge como se fosse consequência de uma percepção externa - o perseguidor é alguém que outrora foi amado. Lembre-se do caso que Freud relata em que a moça acredita ser perseguida pela senhora do seu trabalho, a qual ela declara que "tem cabelos brancos como sua mãe". No delírio de ciúme, há uma suspeita da mulher em relação a todos os homens a quem o próprio sujeito é incitado a amar. A deformação por meio da projeção acha-se ausente nesse caso, visto que, com a mudança do sujeito que ama, todo o processo é lançado para fora do eu. 9. Comente o processo de retirada da libido do mundo externo pelo esquizofrênico, [C1] Comentário: Freud posteriormente afirma que há projeção nas 3 formas de delírio… considerando que Freud afirma que a libido refugia-se no eu. R= Quando a libido é retirada do mundo externo na esquizofrenia, o investimento que entra no caminho da regressão é apenas a da representação coisa. O investimento da representação palavra permanece e fica superinvestida. A palavra é superinvestida libidinalmente e, por isso, tem um grande peso, produzindo uma sensação imediata no corpo. Deste modo, há uma predominância das palavras sobre as coisas. Freud acrescenta que o investimento da palavra é mantido e não abandonado tal como ele acreditara: o investimento na representação palavra faz parte das tentativas de recuperação ou de cura. São tentativas para a recuperação do objeto perdido e que, para alcançar esse proposito, enveredaram para o caminho que conduz ao objeto através da sua parte verbal, vendo-se que estão obrigadas a se contentar com palavras em vez de coisas. Em resumo, a retirada da libido do mundo externo ocorre, pois no esquizofrênico há o retorno da libido no autoerotismo. Ele tira satisfações do próprio corpo voltando à libido para o eu. Um eu primário, que goza de todas as formas. 10. Articule o exemplo dos “olhos tortos” com a noção de fala do órgão, postulada por Freud. R= Freud nos da o exemplo de uma moça que após discutir com o amante, queixa-se de que seus olhos estavam tortos e não mais direitos. Ela explica que ele era um “entortador” de olhos e que tinha entortado seus olhos e que aqueles olhos não eram mais delas. É desse fragmento que Freud extrai uma das características da esquizofrenia que é a “fala do órgão”. Sem a mediação da fantasia, a libido retorna diretamente sobre o corpo - lembre-se que Freud vai afirmar que na esquizofrenia há uma fixação no autoerotismo, em que há o corpo cortado pela pulsão, sem a unidade corporal ainda constituída. Com Lacan, podemos ler que por não ter a incidência do Nome-do-Pai, não há possibilidade de metaforização, de mediação pela linguagem e, portanto o esquizofrênico utiliza da “Língua do órgão” - a libido encontra escoamento no próprio corpo. Ou seja, como na esquizofrenia, há uma predominância da relação de palavra sobre a relação de coisa, Freud demonstra que a combinação significante (relação de palavra) não acarreta a relação de coisa (o efeito de significação), daí o recurso do órgão. 11. Explique o fenômeno esquizofrênico à luz do investimento do representante-palavra que se mantém e por a esquizofrenia ser regido pelo processo primário. R= O esquizofrênico retira o investimento do mundo externo devido à frustração com a realidade - lembre-se do texto da perda da realidade na neurose e na psicose, onde Freud afirma que ambas as patologias, em sua etiologia há uma frustração com a realidade, uma não satisfação do desejo infantil. Essa libido é retirada e se aloja no eu, no estagio do autoerotismo - diferentemente da paranoia onde há uma fixação no narcisismo. O estágio do autoerotismo é caracterizado por não haver ainda a formação de um eu corporal, uma Gestalt-corporal, onde há a organização das pulsões nas zonas erógenas - lembre-se que o estádio de espelho ou o narcisismo são momentos necessários nessa constituição, no entanto, para se ter um corpo próprio, "unido" pelo primado do falo, é preciso que haja a incidência do significante, algo que fica prejudicado na psicose porque não há a incidência do Nome-do-Pai. É a fixação no autoerotismo que dá origem ao fenômeno do corpo despedaçado na esquizofrenia, ou ainda, o fenômeno da "fala do órgão", conforme Freud coloca no texto. 12. Diferencie as abordagens do autismo: dentro do campo da psicose ou fora da estrutura. R= Em psicanálise, na orientação lacaniana, não há um consenso se o autismo faz parte do campo das psicoses ou não, há uma abordagem que não o considera defendendo que no autismo fora da estrutura há uma exclusão do campo do outro. Nesse caso, o outro existe de forma pontual e evanescente (escapa). Ambos, sujeito e outro se mantêm em uma exclusão recíproca, autista sujeito do ICS. Já os que consideram o autismo do campo da psicose, há aqueles que defendem que o autismo trata-se de uma "doença do Outro", ou seja, o Outro existe em demasia, em excesso, para o sujeito. A direção do tratamento é o "tratamento do Outro", o que não significa consertar o Outro, repara-lo, mas sim, esvazia-lo, ou seja, subtrai-lo de onisciência e onipotência. A tentativa do autista é tentar fazer a inscrição do S2, do saber, de modo a fazer uma borda, uma circunscrição no seu gozo - já que é a incidência do significante que irá poder; para isso é preciso que ele possa produzir algo por "conta própria"; é um "quase nada de presença" do analista, é o analista aparecer como furado, e não no lugar do Outro, como aquele que sabe sobre o sujeito. Ainda falando sobre os que consideram o autismo sendo do campo da psicose há outra linha de raciocínio que vai defender que no autismo há uma ausência do nome do pai, o sujeito corresponde ao que faltano outro, ao que o descompleta. A criança satura a falta do outro, preenchendo o outro com o próprio corpo. O autismo acaba por patrocinar a este, um gozo irrestrito. E um recurso (mecanismos) radical para lidar com a sua presença insuportável. O outro é desregulado, abusivo, sem lei e excessivo. 13. Explique o que é “tratamento do Outro” no autismo, articulando com a noção do saber (S2). R= O “tratamento do Outro” versa não sobre o sujeito, mas sobre o Outro, excessivo, e por isso, doente. O Outro superexiste, existe em demasia e deve ser tratado, deve ceder de sua existência para que o sujeito possa vir a ser. O analista seria um agente que faz mediação entre o sujeito e o outro, do saber.
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