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Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.cursoenfase.com.br Sumário 1. Teoria do Crime – Noções Gerais ........................................................................... 2 1.1. Conceito de Injusto.......................................................................................... 5 1.1.1. Injusto – tipicidade e ilicitude....................................................................... 5 1.1.2. Culpabilidade ................................................................................................ 6 1.2. Punibilidade ..................................................................................................... 7 2. Os Sistemas de Teoria do Delito............................................................................. 8 2.1. Conceitos Gerais (elementos descritivos x valorativos)................................... 8 2.2. Sistema Clássico -‐ Liszt e Beling ....................................................................... 8 Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 2 www.cursoenfase.com.br Professora: Ana Paula Viera 1. Teoria do Crime – Noções Gerais É um caminho lógico a ser trilhado pelo raciocínio para que ao final se possa concluir se no caso concreto existiu crime ou não. Exemplo1: imagine-‐se um registro de ocorrência policial. O operador do direito se debruçará diante dos fatos brutos, raciocinando sobre eles com o objetivo de, ao final, concluir se houve crime ou não. Esse raciocínio deve ser ordenado, isto é, trata-‐se de um caminho lógico que, porém, deve obedecer a determinadas etapas. Assim, crime é uma ação humana que tenha determinadas qualidades (típica, ilícita e culpável) e na hora de examinar os fatos brutos deve-‐se seguir certas etapas sob pena de, em não o fazendo, atingir conclusões equivocadas. Esquema1: etapas de raciocínio. Portanto, num caso concreto, a primeira etapa lógica a ser seguida é indagar sobre a existência de uma ação – aqui entendida de forma genérica como uma conduta (ação/omissão). Fundamental neste ponto é o estudo das causas de exclusão da ação, que serão vistas na próxima aula do curso de Direito Penal Parte Geral (sob a denominação Teorias da Ação). Uma vez detectada a existência de uma ação (conduta humana), deve-‐se começar a averiguar se tal ação possui características que a transformam em conduta delituosa. A primeira destas características é a tipicidade. Ação Tipicidade Ilicitude Culpabilidade Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 3 www.cursoenfase.com.br Neste segundo degrau, objetiva-‐se a avaliação de todos os institutos ligados à tipicidade objetiva e subjetiva: dolo, culpa, omissão propriamente dita, tentativa, crime impossível, etc. Depois de estudadas as Teorias da Ação, o curso falará sobre todos os temas ligados à tipicidade – como os já citados e, para mencionar outros: relação de causalidade e imputação. Importante lembrar que um degrau prejudica o outro, isto é, o raciocínio, por qualquer motivo, pode chegar à conclusão que o encerre no início ou no meio das etapas: se no primeiro degrau conclui-‐se que houve uma causa de exclusão da ação (um ato reflexo, por exemplo) – não se prosseguirá ao segundo degrau. O pensamento deverá estacionar na primeira etapa. O terceiro degrau tratará da ilicitude e suas causas de exclusão (legítima defesa, estado de necessidade). Por fim, será analisada a culpabilidade e suas causas de exclusão (agente inimputável, consciente da ilicitude). Só se chegará ao último degrau se os anteriores estiverem completos – sem que se tenha encontrado qualquer obstáculo neles. Em muitos países os manuais de Direito Penal se iniciam com um caso concreto justamente para que o aluno seja treinado nesta forma de raciocínio. Depois das 04 etapas supracitadas, deve-‐se, ainda, estudar se o efeito do cometimento do crime (a punibilidade) existe realmente para o caso concreto em questão (causas de extinção de punibilidade: prescrição, anistia, entre outros). Esquema2: Neste ponto, o objetivo é dar uma noção geral das categorias mencionadas para que, nas aulas específicas, seja possível fazer um aprofundamento sobre cadauma delas. • Conduta: hoje é predominante a ideia de que crime é uma ação humana (conduta – ação/omissão) que possua determinadas qualidades. Ação Ilícita Típica Culpável Consequência Punibilidade Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 4 www.cursoenfase.com.br O substantivo é a conduta humana e, para se qualificar como criminosa, deve ter algumas características (qualidades). Assim, a conduta deverá ser típica, ilícita e culpável para que possa ser enquadrada como criminosa. Necessáro compreender que as ideias a seguir refletem noções cristalizadas de conceitos que evoluíram ao longo do tempo. Portanto, a visão que se terá a seguir é a predominante atualmente. • Tipicidade: a tipicidade hoje é vista como uma categoria do delito que serve ao Princípio da Legalidade. O legislador, através dos tipos penais, descreve as condutas proibidas. A adequação da conduta ao tipo é a tipicidade. Em outras palavras: a tipicidade é a relação de adequação entre a conduta humana concreta e o tipo penal abstrato. Sua principal função é operacionalizar no Direito Penal o Princípio da Legalidade – a tipicidade serve de ferramenta à legalidade. É dizer: o Direito Penal obedece ao Princípio da Legalidade através da existência dos tipos penais (descrição legal das condutas proibidas). Esta noção simples de tipicidade foi evoluindo de modo a se tornar mais sofisticada. Hoje, dentro do juízo de tipicidade, são agregadas valorações mais complexas, tais como aquelas da Teoria da Imputação objetiva (tema a ser estudado mais adiante no presente curso). A noção simplória de tipicidade formal, na qual se fazia uma adequação pura e simplesmente fazendo um silogismo, não existe mais. Isto é, não encontra mais guarida na doutrina ou jurisprudência. Atualmente, o juízo de adequação é um juízo valorativo mais complexo. Não obstante, a noção supramencionada (segundo a qual a função primordial da tipicidade é a de servir ao Princípio da Legalidade) segue sendo verdadeira. • Ilicitude: neste terceiro degrau estuda-‐se, principalmente, as causas de exclusão da ilicitude. Cabe fazer as seguintes perguntas: qual é o conteúdo da ilicitude? Qual característica/elemento é comum a todas as causas de exclusão de ilicitude? Ao lidar com a ilicitude o operador do direito analisa um possível conflito de interesses que colidem tendo como resultado a prevalência de um deles (maior importância de um deles dada pelo ordenamento jurídico). Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 5 www.cursoenfase.com.br Exemplo2: estado de necessidade – situação de perigo que colocará em conflito dois interesses e, dentre eles, o Estado dará preferência ao mais valioso. A vida prevalece diante do patrimônio: destruir a cerca do vizinho para poder fugir de um incêndio. Em todas as causas de exclusão da ilicitude, portanto, há interesses que colidem e a preferência dada pelo ordenamento jurídico a um deles. Este é o núcleo do estudo na ilicitude. 1.1. Conceito de Injusto Na teoria encontram-‐se as noções abstratas de conduta, tipicidade, ilicitude e o que se espera de cada uma delas. Todavia, se no caso concreto for identificada uma ação concreta típica e ilícita, se estará diante de um injusto. Injusto, portanto, é uma ação concreta que possui as duas características: é típica e ilícita. Exemplo: A matou B = ação concreta. 1.1.1. Injusto – tipicidade e ilicitude Nesta primeira fase do estudo da tipicidade e ilicitude, quando se fala do injusto, o enfoque da análise é o fato. Tanto na tipicidade quanto na ilicitude tudo aquilo que for analisado deve estar relacionado ao fato. Assim, tanto no exame da ilicitude quanto no da tipicidade, muito embora sob prismas diferentes, os dois elementos centrais do fato serão: o desvalor da ação e o desvalor do resultado. O desvalor da ação é uma valoração feita, em regra, negativamente sobre a forma de realização da conduta e as intenções. Tudo que diz respeito à ação: a forma como foi Injusto Ação típica, ilícita e culpável FATO Desvalor da Ação Desvalor do Resultado (Fato) Injusto Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aulaministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 6 www.cursoenfase.com.br realizada, os meios empregados e intenções – isto é, todos os aspectos objetivos e subjetivos da ação. O desvalor da ação é estudado tanto na tipicidade quanto na ilicitude. Também em ambas se estuda o desvalor do resultado – a lesão ao bem jurídico e sua intensidade será vista pelos dois prismas. Repise-‐se: nos primeiros três degraus (ação, ilicitude e tipicidade), o enfoque de estudo será o fato como ação realizada e todas as suas características subjetivas e objetivas (chamadas de desvalor da ação) e o resultado produzido (a lesão ao bem jurídico). Assim, o desvalor da ação e o desvalor do resultado serão a preocupação do operador do direito no estudo da tipicidade e da ilicitude. Na tipicidade, este estudo se materializa na questão do dolo, culpa (que é forma de realização da conduta, e não intenção), resultado (consumado/tentativa), relação de causalidade, imputação, etc. Na ilicitude o estudo tem por base o conflito de interesses com atenção à forma de realização da conduta, as intenções do agente (desvalor da ação), e qual dos interesse em conflito é mais valioso – de modo que se possa aferir se a lesão ao interesse menos valioso é admissível (desvalor da conduta), etc. Exemplo1: intenção -‐ se em determinada situação não se teve a intenção de se defender ou não se sabia que estava se defendendo, a legítima defesa não se sustenta. Portanto, desvalor da ação e desvalor do resultado são os temas a serem discutidos sob enfoques diferentes tanto na tipicidade quanto na ilicitude. 1.1.2. Culpabilidade O quadro acima pintado se altera quando o tema é culpabilidade. Injusto Ação típica e ilícita FATO Desvalor da Ação Desvalor do Resultado Culpabilidade Agente Juízo de Reprovação Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 7 www.cursoenfase.com.br Neste último degrau que é a culpabilidade o operador do direito deverá se ocupar do agente. Pergunta-‐se: Será que o sujeito que praticou a ação típica e ilícita teve a intenção de fazê-‐lo? Neste ponto da apreciação já se analisou o desvalor do resultado (a lesão ao bem jurídico efetivamente ocorreu), e da conduta (o sujeito agiu com dolo, por exemplo). Falta perguntar se, por exemplo, o agente em questão era portador de alguma doença mental – o incapacitando de compreender o que fazia; tinha o agente compreensão da ilicitude? Houve alguma coação irresistível? Portanto, o conteúdo da culpabilidade envolve a análise de todos os elementos e características do próprio agente. Exemplo1: é por isso que a inimputabilidade (característica do agente) exclui a culpabilidade, e não a ilicitude. Mais adiante neste curso, será analisada a visão da culpabilidade hoje no Direito Brasileiro, a partir do funcionalismo. Contudo, ainda é correto dizer que na culpabilidade se faz um juízo de reprovação ao agente por ter cometido o fato típico e ilícito. No momento em que se faz este juízo de reprovação não mais se considera o fato (cujo estudo já foi exaurido no injusto), mas sim as características do agente. 1.2. Punibilidade Uma vez detectada uma ação típica, ilícita e culpável, deve-‐se concluir pela existência de crime. Em se concluindo pela existência de crime haverá, regra geral, a punibilidade. A punibilidade é a consequência da existência de um crime, e não elemento do crime. Há muitas causas de extinção de punibilidade. Tais causas têm como razão de existir principalmente motivos de política criminal. Isto é, não estão relacionadas ao fato especificamente nem a características do agente. Exemplo1: prescrição. São questões baseadas em juízo de convêniencia que emerge a partir de uma determinada política criminal. Observação1: cabe mencionar que, numa visão minoritária, o autor Munoz Conde enquadra a punibilidade como elemento do crime. Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 8 www.cursoenfase.com.br 2. Os Sistemas de Teoria do Delito Dentre os sistemas mais importantes pode-‐se citar: o clássico; o neoclássico; o finalista; e o funcionalismo. 2.1. Conceitos Gerais (elementos descritivos xvalorativos) No Direito Penal, os conceitos com os quais se trabalha podem ser descritivos ou valorativos (e também o podem ser os elementos da teoria do delito). Um conceito descritivo é aquele que o ser humano pode apreender através de seus sentidos. Sua existência pode ser verificada pelos sentidos: visão, tato, etc. Exemplo1: uma caneta pode ser apreendida, ter sua existência verificada, pelo toque, pela visão. Outros muitos conceitos são valorativos, é dizer: somente podem ser apreendidos pelo ser humano através de um juízo de valor. Exemplo2: um ato obsceno – o que é um ato obceno? O que pode ofender ou não a moral média da sociedade? Uma mulher com os seios de fora? Ou um homem fazendo xixi numa via pública? Observação2: nenhum elemento é 100% descritivo; na verdade, todos os elementos possuem uma carga valorativa, nem que seja pequena. Alguma valoração sempre existirá. O que existe são elementos predominantemente descritivos e outros predominantemente valorativos. 2.2. Sistema Clássico -‐ Liszt e Beling Foi o sistema predominante na primeira parte do séc. XIX e foi muito influenciado pelo naturalismo, filosofia predominante na época. Observação1: cabe mencionar que todos os sistemas a seguir estudados foram fortemente influenciados pela corrente filosófica predominante na época em que surgiram. No caso do Sistema Clássico, a influência filosófica foi naturalismo. Na primeira parte do séc. XIX predominava a ideia de prevalência das ciências naturais sobre as humanas. A verdadeira ciência era aquela ligada aos fenômenos naturais, pois o método das ciências naturais é compatível com a ideia de verificação empírica e experimentações – entendido como único método capaz de alcançar a verdade científica. Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 9 www.cursoenfase.com.br As ciências humanas estariam relegadas a lidar com valores – valorações subjetivas e, portanto, inseguras. Esta concepção impregnou o Direito Penal da época. Pretendeu-‐se oferecer ao Direito Penal a mesma segurança das ciências naturais, trazendo um método classificatório e objetivo (e formalista). O resultado disso foi a produção de um Sistema de Teoria do Delito avesso às valorações. A ideia era, dentro do possível, evitar elementos valorativos que trazem uma carga de subjetividade e, ao contrário, utilizar ao máximo elementos descritivos. Acreditava-‐se que os elementos valorativos, com sua inerente subjetividade, trariam consigo o risco da insegurança jurídica, já que as verdadeiras ciências eram apenas as naturais. Por isso, o Sistema Clássico caracterizou-‐se por separar dentro do conceito de injusto tudo aquilo que se enquadraria como elemento objetivo e, por outro lado, dentro da culpabilidade todos os elementos enquadrados como subjetivos: Assim, a culpabilidade é aqui definida como o vínculo subjetivo entre o agente e o resultado. Injusto Objetivo Subjetivo (pressuposto: imputabilidade) Culpabilidade Ação Relação de Causalidade Resultado Dolo Culpa
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