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Temas inusitados para discursiva - MPGO

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TEMAS INUSITADOS E JURISPRUDÊNCIA RECENTE – MPGO 
Compilado e elaborado por RKM 
 
GRUPO I 
DIREITO PENAL 
Assuntos de DP abordados nas provas preambulares: 
1) Velocidades do Direito Penal (Silva Sanchez) 
2) Direito Penal da Vontade (Roland Freisler) 
3) Direito de Intervenção (Winfried Hassemer) 
4) Funções do princípio da lesividade 
5) A moderna teoria do fato punível (Rogério Sanches) 
6) Espécies de Erro 
7) Teorias sobre o concurso de pessoas 
8) Consentimento da vítima para exclusão da ilicitude 
9) Função garantidora e função teleológico-sistemática do bem jurídico (Zaffaroni) 
10) Escolas penais 
11) Teoria da Imputação Objetiva (Claus Roxin) 
12) Dolo cognitivo (dolo sem vontade) 
13) Teorias sobre a tentativa 
14) Teoria da Co-culpabilidade 
15) Criminologia: Teorias de Consenso (escola de Chicago, teoria da associação 
diferencial, teoria da anomia e teoria da subcultura delinquente) e Teorias do 
Conflito (teorias do labelling approach e crítica) 
 
Direito Penal da Vontade de Roland Freisler 
 
Roland Freisler foi Ministro da Justiça de Hitler. Freisler pretendia estabelecer 
um “conceito geral de empreendimento” que, no “direito penal do futuro”, substituiria o 
conceito de ação e tornaria “a distinção entre tentativa e consumação sem importância”. 
O conceito de empreendimento (Unternehmung) se originara da alta traição (um delito 
que, se consumado, estaria impune – já que o traidor da véspera teria hoje o poder 
punitivo em suas mãos) e sua disciplina se expandiu para alguns outros delitos. 
Estava o “empreendimento” definido no § 11,6 do Código de 1871, 
laconicamente: “empreender um fato: sua tentativa e sua consumação (Unternehmen 
einer Tat: deren Versuch und deren Vollendung)”. Nos delitos de empreendimento, 
TEMAS INUSITADOS E JURISPRUDÊNCIA RECENTE – MPGO 
Compilado e elaborado por RKM 
 
portanto, a equivalência entre tentativa e consumação impediria qualquer mitigação 
obrigatória da pena quando o resultado se frustrasse. 
O projeto de Código Penal nazista de 1936, com o dedo de Freisler (citado na 
nota de rodapé nº 11, referente ao dispositivo sobre empreendimento) procurou 
“aperfeiçoar” o conceito com a seguinte regra: “§ 8: Emprende um fato punível quem o 
inicia (wer sie beginnt)”. O que seja “iniciar” um crime – afinal, a complexa indagação da 
teoria da tentativa – vinha esclarecido numa fórmula assustadora, também com Freisler 
citado no rodapé (nota 10): “§ 7º – [...] Início do fato é qualquer ação que, ainda que 
apenas segundo a representação do autor sobre os fatos se dirija imediatamente à 
realização do tipo”. Freisler conclui que “apenas começando o feito, o direito penal deve 
opor a seu autor a severidade de todas as suas cominações penais”. 
Percebe-se que, para Freisler, o decisivo para a intervenção penal do Estado 
é a vontade criminal ou a disposição para o fato do autor, e não o resultado provocado 
por ação dessa vontade. Para ele, o iter criminis tem o seu início no nebuloso manancial 
da vontade, na “tentação”. Freisler conecta o desejo diretamente ao injusto. 
A punibilidade da tentativa inidônea constitui, a partir de tais premissas, 
consequência inevitável. “Depois que o autor começa a execução de um fato punível” – 
explicava Freisler – “passa a ser um inimigo da ordem pacífica popular”, e a lei tem que 
intervir. 
Por fim, chama a atenção que, tratando da individualização da pena, Freisler 
invoque o magistério de seu companheiro Dahm no sentido de que “a decisão 
quantificadora da pena deve ser um juízo adequado à personalidade que o autor tenha 
manifestado”. 
Nilo Batista, em artigo científico sobre o tema, aduz ser possível identificar 
pontos de interseção no Direito Penal brasileiro com as teorias desenvolvidas por Roland 
Freisler. A lei penal brasileira arrola, por exemplo, a “personalidade do agente” entre os 
elementos que deve o juiz consultar para estabelecer a pena-base, primeira etapa do 
procedimento de individualização judicial. Isto, porém, tem sido uma fonte inesgotável de 
arbitrariedades, voluntarismos e preconceitos, pois, como a mais avançada doutrina 
expõe, existe no elemento personalidade ausência de precisão conceitual e carência de 
uma metodologia de análise. 
Mas há, para Nilo Batista, um ponto em que a atualidade de Roland Freisler é 
ainda mais evidente: a lei penal não pode “esperar até que se produza a violação da ordem 
jurídica, ou seja, até que a execução tenha obtido êxito”; ao contrário, “exige-se uma 
TEMAS INUSITADOS E JURISPRUDÊNCIA RECENTE – MPGO 
Compilado e elaborado por RKM 
 
intervenção jurídico-penal contra a preparação criminal”. Percebe-se aqui a influência de 
Freisler nos chamados “crimes obstáculos”, no “perigo abstrato”, e na criminalização de 
atos preparatórios (inclusive previsto expressamente na Lei Anti Terrorista). 
Obs.: Caso caia essa pergunta, também seria interessante indicar o crime do 
artigo 352 do Código Penal (evadir-se ou “tentar” evadir-se...), e os crimes dos artigos 9º 
e 11 da Lei n. 7170/83 (Lei da Segurança Nacional) como sendo desdobramentos das 
teorias desenvolvidas por Freisler. 
 
COAUTORIA FRUSTRADA? 
O concurso de pessoas se trata de um instituto jurídico-penal capaz de atribuir 
a responsabilidade pelo resultado típico a todas as pessoas que, de alguma forma, 
contribuíram para a sua produção, ainda que algum dos agentes, isoladamente, não tenha 
praticado a conduta nuclear do tipo penal. 
Sobre esse aspecto, aliás, o concurso de pessoas funciona como norma de 
extensão, permitindo o enquadramento típico de condutas que, analisadas isoladamente, 
seriam atípicas, mas que somadas às condutas dos demais agentes, revelaram-se 
relevantes para a produção do resultado típico. 
É essa a ideia depreendida do artigo 29 do Código Penal que, baseando-se na 
teoria monista (regra geral), prevê que “quem, de qualquer modo, concorre para o crime 
incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”. A partir desse 
enunciado se percebe que a pena guardará uma medida de proporcionalidade com a 
conduta praticada pelo coautor. É que o Direito Penal criminaliza comportamentos, e não 
meras intenções, de forma que ao aplicar a pena, o juiz deverá verificar o grau de 
contribuição da conduta do agente na produção do resultado. 
Mas esse cenário permite a ocorrência de situações inusitadas em que, embora 
agindo com a manifesta intenção de consumar um delito, o comportamento do agente em 
nada contribuiu para a sua produção. É o que a doutrina denominou de “coautoria 
fracassada”. 
A título de exemplo cita-se a hipótese em que “A”, determinado a matar “B”, 
compartilha com “C” essa intenção e lhe pede emprestado um punhal para executar o 
crime, o que é feito. Contudo, no fatídico dia, “A” invade a casa de “B” e percebe que 
esqueceu de levar consigo o punhal que lhe fora emprestado por “C”. Não querendo 
TEMAS INUSITADOS E JURISPRUDÊNCIA RECENTE – MPGO 
Compilado e elaborado por RKM 
 
postergar o seu intento, “A” dá prosseguimento e mata “B” valendo-se de um bastão de 
basebol que encontrou na própria casa da vítima. 
Na situação hipotética ilustrada não será possível atribuir a “C” o resultado 
morte, pois o seu comportamento em nada contribuiu para a execução e consumação do 
homicídio, por mais que a intenção tenha sido manifestada. 
Essa conclusão fica ainda mais evidente a partir do disposto no artigo 31 do 
Código Penal, que prevê que o ajuste, a determinação, a instigação ou o auxílio (condutas 
geralmente ligadas à figura do partícipe) não são puníveis se o crime não chega ao menos 
a ser tentado. Percebe-se uma relação de conduta acessória e conduta principal nesse 
enunciado, de forma que se a participação em nada contribuiu para o resultado, ou, ainda, 
se a conduta nuclear do tipo não chegou a ser iniciada, o partícipe não poderá ser punido. 
Excepcionalmente, no entanto, a doutrina aponta situações em que o ajuste,a 
instigação, o induzimento ou o auxílio poderão ser punidos mesmo se o crime intentado 
não for executado, como ocorre, por exemplo, no crime de associação criminosa (artigo 
288 do Código Penal). Isso ocorre porque o tipo penal possui uma estrutura particularizada 
de autêntico “ato preparatório” para a prática de outros crimes (doutrinariamente 
classificado como crime-obstáculo), em que o legislador antecipa o momento consumativo 
e criminaliza condutas que seriam, em essência, mera preparação de outros delitos. 
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Até a próxima dica! 
 
 
Funções garantidora e teleológico-sistemática do Bem Jurídico penal 
 
A função de garantia indica a capacidade limitadora do bem jurídico em 
relação à atividade legiferante estatal, de modo que o legislador não pode criminalizar 
uma conduta, quando outras esferas do Direito são suficientemente capazes de 
responder à violação do valor normativamente protegido (aqui o bem jurídico funciona 
como ultima ratio do ordenamento jurídico). 
O fundamento da garantia reside na condição democrática do Estado no qual 
o sistema penal está inserido, pois o conceito guarda estreita relação com o Poder 
Legislativo indicando as barreiras intransponíveis em que o poder punitivo estatal esbarra, 
concretizando o limite axiológico expresso pela Constituição, consagrados pelos 
princípios da fragmentariedade e da subsidiariedade. 
TEMAS INUSITADOS E JURISPRUDÊNCIA RECENTE – MPGO 
Compilado e elaborado por RKM 
 
Dessa forma, onde bastem os direitos civil, administrativo ou qualquer ordem 
jurídica, o Direito Penal deve se retirar, pois o dever de “punir as lesões a bens jurídicos 
e as contravenções contra fins de assistência social” só se justifica por extrema 
necessidade. 
O critério garantidor remonta à saída do Estado de Direito, puramente 
garantístico para o Estado Social, momento no qual as normas ganham caráter 
intervencionista assistencial, protegendo interesses coletivos, mas que ao mesmo tempo 
devem respeitar as limitações próprias do Estado de Direito. Nesse ensejo, reconhece-
se à função garantista uma pecha político-criminal desencadeada pela própria dinâmica 
da sociedade, submetendo o sistema penal, rotineiramente, ao processo de revisão, com 
movimentos de criminalização e descriminalização, em que cabe ao intérprete investigar 
o legítimo bem jurídico tutelado pela norma. Uma face negativa de limitação do avanço do 
controle social via poder punitivo. 
Com isto, “o bem jurídico é erigido como conceito limite na dimensão material 
da norma penal” (PRADO, 2003, p. 60). Isto significa que não se pode perder de vista o 
sentido informador do bem jurídico na elaboração do tipo penal, informando ao legislador 
o que deve ou não ser criminalizado, limitando-o em seu poder legiferante. 
Neste sentido a teoria dos bens jurídicos deve obedecer à dialética de 
reconhecer os direitos individuais, fruto da soberania popular, capaz de exercitar-se por 
representação, modelo de origem liberal, portanto, concentração e limitação do Estado. 
Entretanto, ao mesmo tempo, em razão de um Estado Social que é intervencionista, o 
papel do Direito Penal também passa a ser preventivo, reconhecendo os novos interesses 
sociais, o que implica amparar uma quantidade cada vez maior de bens jurídicos. Isto é, o 
conceito deve procurar harmonizar os elementos de um Estado Social e Democrático de 
Direito. 
Portanto, “o bem jurídico cumpre uma função de garantia para os sujeitos, ao 
passo que legitima a intervenção estatal e por isso mesmo aponta o problema 
da genesis e da legitimação da norma penal” (BUSTOS RAMÍREZ, 1987, p. 185). 
 
Lado outro, a função teleológico-sistemática do bem jurídico guarda duas 
vertentes, a primeira como fundamento da infração, já que o delito é uma lesão ou 
perigo a um bem jurídico, funcionando como critério de baliza para análise da violação (ou 
não) da norma penal; e a segunda como critério de classificação das diferentes 
espécies de infrações, indicando as regras de proporcionalidade, tanto sob o ponto de 
TEMAS INUSITADOS E JURISPRUDÊNCIA RECENTE – MPGO 
Compilado e elaborado por RKM 
 
vista legislativo (elaboração do tipo penal), como sob o ponto de vista jurisdicional quando 
da aplicação da pena. 
De forma a ilustrar a aplicação prática da função teleológico-sistemática do bem 
jurídico, tem-se a situação em que vários Tribunais de Justiça deixaram de aplicar a pena 
do crime capitulado no artigo 273, parágrafo 1º-A, do Código Penal (comercialização, 
dentre outros, de cosméticos falsificados), tendo em vista a patente desproporcionalidade 
de sua pena – 10 a 15 anos de reclusão –, sobretudo ao ser comparada com a pena 
cominada ao crime de tráfico de drogas – 5 a 15 anos de reclusão –, que deveria ser, 
considerando o bem jurídico tutelado, mais grave. 
Como se extrai da função fundamentadora, o bem jurídico é o objeto de tutela 
do Direito penal e, portanto, é sobre o bem jurídico que se funda o injusto, em que nele se 
firma para a realização da repressão que se encerra na imposição de pena. 
E é exatamente por isto que toda a interpretação do Direito Penal se inicia pelo bem 
jurídico penal. 
Alguns doutrinadores chegam a afirmar que o bem jurídico é o elemento central 
do tipo penal, de modo que não somente constitui o ponto de partida e a ideia reitora da 
formação do tipo, como também a base e a estrutura da interpretação, não se podendo 
valorar a aplicação da norma penal que não se paute no bem jurídico protegido, isto é, não 
se pode admitir a intervenção penal que não tenha por finalidade (por isso se diz função 
teleológica) a proteção de um valor, consensualmente, avaliado como digno de tutela 
penal. 
Neste contexto, Ripollés (1998) enuncia que o conceito de bem jurídico há 
surgido do aprofundamento dos estudos da antijuridicidade, constituindo ele mesmo o 
elemento principal da antijuridicidade material, estabilizando-se 
frente à antijuridicidade formal, própria do positivismo jurídico. 
Tratando-se de fundamento da conduta penalmente reprimida, o bem jurídico 
funciona como critério de classificação, dando ensejo ao princípio da 
proporcionalidade, no qual define quantidade de penas conforme a importância do bem 
jurídico protegido. 
A função exegética impõe que a interpretação do Direito Penal deve sempre 
ser baseada na proteção de um valor, de modo que quando ausente a danosidade, não 
cabe jamais a intervenção na ordem individual, pois a pena é uma consequência grave ao 
cidadão cuja justificativa reside na extrema necessidade (por isso Roxin trabalha com a 
ideia da necessidade de pena, em sua teoria funcionalista teleológica). Não é por outra 
TEMAS INUSITADOS E JURISPRUDÊNCIA RECENTE – MPGO 
Compilado e elaborado por RKM 
 
razão que essa função faz com que o bem jurídico funcione como uma espécie de 
termômetro crítico para avaliar até que ponto a intervenção penal é necessária. 
 
DOLO SEM VONTADE 
A definição de dolo atualmente aceita pela generalidade dos bons manuais é a 
de “conhecimento e vontade de realizar o tipo objetivo”. Segundo esse entendimento, o 
dolo teria um duplo conteúdo psicológico: um elemento cognitivo e um elemento 
volitivo. O primeiro deles significa que a cabeça do autor conteria algo como uma 
fotografia interna da realidade, uma espécie de imagem de como o mundo se encontra no 
momento imediatamente anterior à ação e de como ele se encontrará depois dela. Já sob 
o aspecto volitivo, dolo pressuporia a vontade em sentido psicológico, uma tomada de 
posição do autor diante dessa fotografia interna ou dessa imagem mental, isto é, o “querer” 
a produção do resultado visualizado. Esse grupo de posturas dualistas, que exige 
conhecimento e vontade para que se configure o dolo, forma as chamadas teorias 
volitivas. 
Entretanto, Luiz Greco partilha de um entendimento diverso. Para ele o dolo é 
unicamenteconhecimento, e não conhecimento e vontade, uma vez que considerar 
decisiva para o dolo a vontade de quem atua significa, em última análise, atribuir ao 
próprio agente a competência para decidir se há ou não dolo. Ocorre que não é o agente, 
e sim o Direito quem tem de exercer essa competência. 
Luiz Greco sustenta o seu posicionamento indicando três problemas: o de 
definição; o de prova e o de fundamentação: 
O problema de definição consiste na existência de uma série de teorias 
volitivas na doutrina, cada uma delas se referindo a um estado psíquico diverso – 
consentimento, assunção do risco, assunção aprovadora do risco, decisão contra um bem 
jurídico, etc. –, sendo que nunca se explica bem no que uma teoria difere da outra. 
O problema de prova diz respeito ao fato de que, qualquer que seja o 
elemento volitivo que se considere correto, nunca é realmente possível provar a sua 
existência de maneira compatível com as exigências da presunção de inocência e do in 
dubio pro reo. O autor tem acesso privilegiado em relação ao seu próprio estado anímico, 
de forma que sempre lhe será possível negar ter agido com vontade de cometer um crime, 
sem que o juiz tenha como atestar se o autor está ou não mentindo (aliás, aqui Luís Greco 
chama a atenção para o fato de que se existem condenações por dolo mesmo em casos 
TEMAS INUSITADOS E JURISPRUDÊNCIA RECENTE – MPGO 
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em que não há confissão, é porque, no fundo, a vontade em sentido psicológico nunca foi 
levada muito a sério pelo Judiciário). 
O problema de fundamentação diz respeito ao fato de que o elemento volitivo, 
ainda que pudesse ser definido com clareza e provado com precisão, não poderia compor 
o conceito de dolo, pois a vontade se mostra irrelevante para o domínio do resultado e, 
portanto, não pode servir para justificar o tratamento mais severo que deve receber aquele 
que pratica um crime doloso. O que torna a ação objetivamente mais perigosa, a rigor, 
não é a vontade do agente, e sim a maneira como a ação é externamente executada. A 
vontade, enquanto dado interno, não aumenta nem diminui o grau de perigo criado pela 
ação do autor. O que pode ocorrer, sim, é que, por exemplo, a vontade de matar conduza 
o autor a efetuar o disparo não de longe, e sim à queima-roupa. Mas, neste caso não é 
preciso mais mencionar a vontade no momento de verificar a intensidade do perigo. Essa 
intensidade deriva da circunstância objetiva, externa, de que o tiro foi disparado à queima-
roupa. 
O autor conclui aduzindo que se todo dolo é conhecimento, e a vontade não 
tem relevância alguma, não há mais qualquer razão para diferenciar dolo direto (em suas 
duas formas, de primeiro ou de segundo grau) e dolo eventual. Há apenas uma forma de 
dolo. 
Sob esse aspecto, para que se possa falar em dolo, tem o autor de agir com 
conhecimento tal que lhe confira o domínio sobre aquilo que está realizando. Ou seja, ao 
menos em parte o dolo acaba se tornando uma questão de tipo objetivo: o autor tem de 
conscientemente criar um risco de tal dimensão que a produção do resultado possa ser 
considerada algo que o autor domina. 
 
ESCOLAS PENAIS 
Escola Clássica: Surgiu entre o final do século XVIII e a metade do século XIX 
como reação ao totalitarismo do Estado Absolutista, filiando-se ao movimento 
revolucionário e libertário do Iluminismo. Seus fundamentos se originaram nos estudos 
de Beccaria. 
As principais características da Escola Clássica são: utilização do método 
racionalista e dedutivo (lógico); crime como um conceito meramente jurídico; concepção 
do livre arbítrio; pena como retribuição pelo crime cometido. 
TEMAS INUSITADOS E JURISPRUDÊNCIA RECENTE – MPGO 
Compilado e elaborado por RKM 
 
Obs.: Foi sob a influência dos pensamentos de Kant e Hegel que a concepção 
retribucionista do Direito Penal se desenvolveu. A sanção penal era, sob essa vertente, 
um castigo necessário para o restabelecimento do Direito Penal e da Justiça. 
Obs.2: Em razão do ideal iluminista, prevaleceu a tendência de eliminar as 
penas corporais e os suplícios. Esta tenha sido, talvez, umas das principais contribuições 
da Escola Clássica: retirar do Direito Penal o caráter de vingança real ou religiosa. 
 
Escola Positiva: O nome “positivista” refere-se ao método empírico utilizado 
pelos autores dessa Escola. Os principais autores, aliás, são: Cesare Lombroso, Enrico 
Feri e Rafael Garofalo, cada um deles com perspectivas relativamente distintas entre si. 
A Escola Positiva trabalhava com a ideia de “criminosos natos”; determinismo 
biológico-social, em contraposição à ideia clássica de livre-arbítrio. 
 
Escola Crítica: Ao contrário das Escolas Clássica e Positiva, a Terza Scuola 
Italiana não possuiu um posicionamento bem definido, pois buscava conciliar as 
proposições das duas predecessoras. Pretendia superar os extremismos das anteriores, 
sendo considerada uma escola eclética. 
Essa escola ficou conhecida também por Escola Crítica em função de um artigo 
publicado por Manuel Carnevale. 
Em relação aos princípios acolhidos pela Escola Crítica estão: 
responsabilidade moral; distinção entre imputáveis e inimputáveis e a não aceitação do 
livre-arbítrio como fundamento da responsabilidade moral. Substitui-se o livre-arbítrio pelo 
determinismo psicológico: “O homem é determinado pelo motivo mais forte, sendo 
imputável quem tiver capacidade de se deixar levar pelos motivos. A quem não tiver tal 
capacidade deverá ser aplicada medida de segurança e não pena”. 
A Escola Crítica entende que o crime é um fenômeno social e individual e que 
a finalidade da pena é a defesa social. Mesmo utilizando a medida de segurança, essa 
escola acaba ignorando a readaptação do criminoso, ou seja, a pena é utilizada para 
afastar o delinquente do convívio social. 
Essa escola penal teve como principal objetivo evitar discussões 
metafísicas do livre arbítrio e do determinismo, que frequentemente olvidavam as 
exigências reais e impostergáveis do direito penal. 
Segundo Frederico Marques, os postulados fundamentais da Terceira Escola 
podem ser assim sistematizados: a) respeito à personalidade do direito penal, que os 
TEMAS INUSITADOS E JURISPRUDÊNCIA RECENTE – MPGO 
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positivistas absorviam na sociologia criminal; b) causalidade e não fatalidade do crime, e, 
portanto, exclusão do tipo criminal antropológico; c) reforma social como dever do Estado 
na luta contra o crime. 
 
Escola Moderna Alemã: A Escola moderna alemã, escola sociológica alemã 
ou escola política criminal, surgiu na Alemanha por iniciativa de Franz Von Liszt, que 
concebia o Direito Penal como a barreira intransponível da política criminal. Liszt 
enxergava a prevenção especial como uma das finalidades da pena, englobando, dessa 
forma, outras disciplinas jurídicas e criminológicas heterogêneas, como por exemplo, a 
dogmática, a criminologia e a política criminal. 
Algumas das principais características dessa escola são: a formação do 
penalista deve ser jurídica e criminalística; a explicação causal do delito e da pena há de 
ser entendida como criminológica penológica e de pesquisa histórica sobre o 
desenvolvimento da delinquência e dos sistemas penais; e, finalmente, é necessária a 
elaboração de uma política criminal, como sistemas de princípios, em bases 
experimentais, para a crítica e reforma da legislação penal. 
Com base nessas características, é importante ressaltar e estudar mais a fundo 
a questão da pena, que deixa de ser retributiva e passa a ser instrumental, em nome da 
defesa social. Franz Von Liszt, então, por meio da Escola Moderna Alemã, dispõe sobre 
a pena e a medida de segurança, formando dessa forma, o chamado sistema do duplo 
binário, em que a pena se funda na culpa e a medida de segurança na periculosidade do 
agente. 
Tal sistema de aplicação de penas e medidas de segurança foi desenvolvido 
com base no estudodos delinquentes habituais que, segundo Liszt, deveriam sofrer penas 
de prisão perpétua ou a servidão penal por tempo indeterminado em campos de trabalho. 
Ainda, Liszt criou tal sistema visando aplicar a pena àquele considerado delinquente 
ocasional e, medida de segurança e correção à pessoa considerada delinquente perigoso. 
Para Liszt interessava a inocuização dos delinquentes habituais. E estes 
conceitos foram aceitos e trabalhados durante a República de Weimar até culminar no 3º 
Reich. 
 
Teoria dos elementos negativos do tipo 
TEMAS INUSITADOS E JURISPRUDÊNCIA RECENTE – MPGO 
Compilado e elaborado por RKM 
 
A teoria dos elementos negativos do tipo criou o conceito de tipo total de 
injusto, que, conforme Wessels, congrega em si todos os elementos fundamentadores e 
excludentes do injusto, dos quais depende, tanto em sentido positivo como negativo, a 
qualidade do injusto na conduta. Esse tipo total de injusto, criado a partir de Merkel e 
Frank, diz que do tipo que descreve os fatos proibidos, denominados de tipos provisórios 
do injusto ou tipos incriminadores, fazem parte também as causas que excluem a ilicitude, 
como elementos negativos do tipo. 
Segundo a Teoria dos Elementos Negativos o dolo do agente deve 
abranger não só os dados materiais do tipo, como também a inexistência de causas 
justificantes (justificativas). Assim, por exemplo, no homicídio, para o agente atuar 
dolosamente e com isso realizar um fato típico, ele precisa ter não apenas a vontade e a 
consciência de matar alguém, mas também a consciência de que estão ausentes todos e 
quaisquer elementos que configurem as justificantes. 
Como afirma Jescheck: “[...] elementos do tipo e pressupostos das causas de 
justificação se reúnem, por esta via, no tipo total e se situam sistematicamente no mesmo 
nível”. Disto decorre a ideia fundamental defendida por esta teoria: não há como se cogitar 
da existência de dolo quando presente uma justificativa e, também, não haverá dolo 
quando o agente atuar em erro sobre essa justificativa. 
Miguel Reale Júnior esclarece que para a teoria em comento, toda ação típica 
é necessariamente antijurídica, e disso tira a conclusão de que as causas de justificação 
não excluem a ilicitude, mas sim a adequação típica (ratio essendi). 
Finalmente, quanto ao erro sobre uma causa de justificação na concepção da 
teoria dos elementos negativos do tipo, em qualquer das espécies de erro, sempre excluirá 
o dolo. Entretanto, se o erro sobre a justificativa for invencível, ficará excluído o dolo e a 
culpa, mas se o erro for evitável haverá a possibilidade de punição na forma culposa, caso 
prevista em lei. 
Essa teoria NÃO foi adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro. 
 
Teoria da ação significativa (ou conceito significativo de ação) 
de VIVES ANTÓN 
TEMAS INUSITADOS E JURISPRUDÊNCIA RECENTE – MPGO 
Compilado e elaborado por RKM 
 
O penalista espanhol Tomás Salvador Vives Antón questiona o entendimento 
sobre a ação no Direito Penal como consequência de uma concepção meramente 
cartesiana. Para ele, a ação não deve ser visualizada como “o que as pessoas 
fazem”, mas como “o significado do que fazem”. 
As ações não são meros acontecimentos, têm um sentido e, por isso, não basta 
descrevê-las, é necessário entendê-las, interpretá-las. Logo, mais do que “definir” o que 
seja a ação no campo do direito penal, deve-se “interpretar” seu significado. 
Segundo Paulo César Busato, as ações, não sendo meros acontecimentos, 
exigem interpretação. Vale dizer, não basta que as ações sejam meramente descritas, é 
necessário que elas sejam interpretadas e compreendidas. Enquanto os meros fatos da 
vida podem ser explicados por regras imutáveis (como as leis da física, da química ou da 
biologia), as ações humanas têm a característica diferenciadora de que somente podem 
ser identificadas, classificadas e interpretadas conforme regras ou normas. 
Busato exemplifica: “não se pode afirmar que um tapa no rosto seja uma lesão 
corporal, uma injúria, um cumprimento rude ou até mesmo um ato reflexo sem uma análise 
das circunstâncias em que ocorre, para verificação de como deve ser interpretado e 
compreendido referido tapa, até mesmo para definição se pode mesmo ser considerado 
um tapa”. 
Assim, as ações sociais são configuradas de acordo com seu significado social, 
pelo contexto em que se produzem. Logo, se as ações dependem de regras ou normas 
que as definem, resulta impossível encontrar um conceito único de ação humana que sirva 
para congregar tantos diferentes sentidos quanto aqueles que se pretende regular. 
Não existe um conceito geral de ação, mas sim tantos conceitos quantos 
modelos de condutas relevantes – ou formalmente típicas – existirem para o Direito Penal. 
Portanto, para estabelecer a responsabilidade penal, deve-se verificar se um 
fato determinado pertence a um tipo de ação, para, em seguida, decidir se estamos diante 
de uma ação definida como norma incriminadora (como matar, furtar, etc). 
 
Posição do dolo no “modelo significativo de Vives Antón 
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A proposta do prof. Vives Antón reorganiza o sistema de imputação a partir de 
dois pilares: a norma e a ação, as quais, conjugadas, convertem a teoria do delito em um 
conjunto de pretensões normativas em face do sentido de um tipo de ação através de 
pretensões normativas (tipo de ação: expresso em uma pretensão conceitual de 
relevância e uma pretensão de ofensividade; a antijuridicidade formal: expressa em uma 
pretensão de ilicitude que inclui instâncias de imputação da antinormatividade; uma 
culpabilidade como pretensão de reprovação e uma punibilidade como pretensão de 
necessidade de pena). Distribuídas assim as categorias do delito, fica melhor evidenciado 
que o dolo não é mais do que uma atribuição. 
Vives Antón exige, para o reconhecimento do “tipo de ação”, uma pretensão de 
relevância no sentido da determinação de que uma ação humana em concreto é uma das 
que interessam ao Direito Penal. Mas essa pretensão de relevância é verificável mediante 
o cumprimento de dois pontos: uma pretensão conceitual de relevância, que 
expressaria a ideia de tipicidade, e uma pretensão de ofensividade, que representaria a 
ideia de antijuridicidade material. E logo, fecha o injusto com a antijuridicidade formal, que 
corresponde a uma pretensão de ilicitude que se traduz na verificação da falta de ajuste 
do comportamento significativo em relação ao ordenamento jurídico. É nesse ponto onde 
Vives Antón situa o dolo (e a imprudência), identificado segundo um compromisso 
de atuar por parte do autor. O dolo, para Vives, resulta um dolo neutro, ou seja, é a 
intenção de realizar o fato antijurídico. 
Quando se separa, de um lado, o dolo (e a imprudência) na pretensão de 
ilicitude, e do outro, os elementos do tipo e a própria ação na pretensão de relevância, fica 
clara a mescla que as concepções finalistas fizeram entre os planos conceitual e 
substantivo de análise. Conforme observa Vives, “a atribuição de intenções ao sujeito, ou 
a qualificação de sua conduta como não intencional, não desempenham necessariamente 
um papel na delimitação conceitual da ação”. 
A ação – seja comissão ou omissão – tem seu aspecto conceitual ou de 
definição analisado no tipo de ação que é onde se lhe identificam critérios de sentido. O 
dolo e a imprudência, por outro lado, são instâncias de imputação da 
antinormatividade, vinculadas ao plano substantivo e não conceitual da atribuição 
de conduta ao sujeito. 
Assim, para a concepção significativa da ação, a “intenção subjetiva” 
corresponde à atribuição concreta de intenções ao sujeito e não define, por si mesma, a 
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ação, mas sim a imputação. Ou seja, a identificação da intenção subjetiva cumpre a tarefa 
de possibilitar a atribuiçãoao agente de um compromisso com a ação ofensiva realizada, 
mas não faz parte da própria ação, no que refere à sua definição. Dessarte, a definição 
da existência de uma ação conceitualmente relevante para o Direito Penal precede a 
análise de se essa ação relevante efetivamente infringe a norma. Nesse sentido, Vives 
não deixa dúvidas ao afirmar que “a determinação da intenção entra frequentemente em 
jogo depois que a ação se acha definida e serve ao interesse substantivo de ajuizá-la”. 
Nessa concepção (que parte da superação das teorias ontológicas do dolo), o 
dolo é identificado concretamente como o compromisso para com a produção do 
resultado, expressada em uma decisão contra o bem jurídico. Portanto, o dolo não “é” um 
fato, mas uma atribuição, ou seja, a exata atribuição de uma decisão contrária ao bem 
jurídico. 
Essa construção inspirou-se também, e de certa maneira, na teoria dos 
indicadores externos do dolo de Winfried Hassemer. “Em resumo, Hassemer 
entende que o dolo é uma 'decisão a favor do injusto', mas entende também que o dolo é 
uma instância interna não observável, com o que, sua atribuição se reduz à investigação 
de elementos externos que possam servir de indicadores e justificar sua atribuição. Por 
isso, esses indicadores só podem ser procurados na mesma ‘ratio’ do dolo, que se explica 
em três sucessivos níveis: a situação perigosa, a representação do perigo e a decisão 
a favor da ação perigosa”. Assim, “ao afirmar que o dolo, embora seja um fenômeno 
interno ao sujeito, demanda, para sua afirmação, da comprovação de indicadores 
externos que justifiquem sua atribuição, Hassemer assume a ideia de que somente diante 
da expressão externa, compatível com a ‘ratio’ incriminadora subjetiva dolosa, é possível 
afirmar a existência do dolo. Vale dizer: o dolo 'é' sua própria demonstração, sua 
expressão significativa”. Dessarte, a identificação do dolo não pode vir da descrição de 
um processo psicológico, mas somente da identificação do que Hassemar qualifica como 
“indicadores externos”. 
 
DIREITO PENAL DE INTERVENÇÃO 
O Direito Penal de Intervenção foi criado pelo alemão Winfried Hassemer. De 
acordo com Hassemer, o Direito Penal não oferece resposta satisfatória para a 
criminalidade oriunda das sociedades modernas. As modificações introduzidas na 
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humanidade nos últimos anos, como a globalização, a massificação dos problemas e a 
configuração de uma sociedade de risco, implicaram profundas alterações no Direito 
Penal, como, por exemplo, a criação de tipos penais em branco, tipos de perigo 
abstrato e leis meramente simbólicas. Ou seja, tais modificações resultaram em 
inevitável expansão do Direito Penal. 
Hassemer afirma que o poder punitivo estatal deveria limitar-se ao núcleo do 
Direito Penal, sendo os demais problemas resultantes dos riscos da modernidade 
resolvidos pelo direito de intervenção, única solução apta a enfrentar a atual criminalidade. 
De acordo com Cleber Masson, o direito de intervenção consiste na 
manutenção, no âmbito do Direito Penal, somente das condutas lesivas aos bens jurídicos 
individuais e também daquelas que causam perigo concreto. As demais, de índole difusa 
ou coletiva, e causadoras de perigo abstrato, por serem apenadas de maneira mais 
branda, seriam reguladas por um sistema jurídico diverso, com garantias materiais e 
processuais mais flexíveis, possibilitando um tratamento célere e amplo dessas questões, 
sob pena de tornar o Direito Penal inócuo e simbólico. 
Para Hassemer, o Direito de Intervenção gravitaria entre o Direito Penal e 
o Direito Administrativo. O Direito Penal não pode abrir mão de sua estrutura nuclear; o 
Direito Penal só se presta à tutela de bens individuais e, nesse ponto, o Direito de 
Intervenção tutelaria os bens coletivos. 
Nota-se que Hassemer é contrário à expansão da tutela penal a bens jurídicos 
supraindividuais, que vem sendo promovida no contexto da sociedade de risco. 
Figueiredo Dias é crítico dessa teoria e alega que o direito de intervenção seria 
uma inversão temerária dos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade, uma 
vez que relegaria à seara mais suave do ordenamento jurídico justamente as infrações 
que colocam em maior risco a estrutura da sociedade. 
 
No âmbito do Direito Penal, no que consiste a 
TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA? 
A teoria da imputação objetiva surge com a finalidade de limitar o alcance da 
teoria da equivalência dos antecedentes, sem, contudo, deixar de aplicá-la. Não basta que 
o resultado tenha sido produzido pelo agente para que se possa afirmar a existência de 
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relação de causalidade, sendo preciso, também, que esse resultado possa ser imputado 
juridicamente ao agente. 
A teoria da imputação objetiva, em sua forma mais simplificada, aduz que um 
resultado causado pelo agente só deve ser imputado como sua obra e preencher o tipo 
objetivo unicamente quando: (a) o comportamento do autor cria ou aumenta um risco 
não permitido para o objeto da ação, (b) o risco se realiza no resultado concreto e 
(c) este resultado se encontra dentro do alcance do tipo. 
Ações que diminuam riscos não são imputáveis ao tipo objetivo, apesar de 
serem causa do resultado em sua forma concreta e de estarem abrangidas pela 
consciência do sujeito. Assim, quem convence o ladrão a furtar não mil reais, mas 
somente cem reais, não pode ser punido por participação no furto, pois sua conduta não 
elevou, mas diminuiu o risco da lesão. 
A teoria da imputação objetiva busca definir a relação de causalidade, mas 
insere três novas elementares (causalidade normativa) no tipo objetivo, quais sejam: 
1. Criação ou aumento de um risco proibido. 
Existência do risco; 
▪ Não há ação perigosa quando o risco for juridicamente 
irrelevante ou se houver diminuição do risco, avaliado ANTES 
da ação pelo agente. 
▪ O risco criado deve ser proibido pelo Direito. Isso porque, nem 
toda ação perigosa é proibida pelo Direito, a exemplo da lesão 
corporal provocada em luta de boxe, o fato é atípico, se 
respeitadas todas as regras). 
2. Realização do risco no resultado (só haverá realização do risco se a 
proibição da conduta for justificada para evitar a lesão de determinado 
bem jurídico por meio de determinado curso causal, os quais venham 
efetivamente a ocorrer); 
3. Resultado situado dentro do alcance do tipo. 
Logo, com a adoção desta teoria, o nexo causal só estaria caracterizado se 
ultrapassadas três etapas: 
1. Teoria da equivalência dos antecedentes; 
2. Imputação objetiva; 
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3. Dolo ou culpa (causalidade psíquica). 
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: 
A teoria da imputação objetiva visa limitar a responsabilidade penal, incluindo 
novas elementares no tipo objetivo. Assim, para essa teoria, a atribuição de um resultado 
a uma pessoa não é determinada unicamente pela relação de causalidade, sendo 
necessária a realização do risco proibido pela norma; 
Essa teoria é aplicável exclusivamente aos crimes MATERIAIS, tendo em vista 
que um de seus requisitos é a realização do risco criado ou aumentado pelo agente no 
RESULTADO; 
Como essa teoria possui íntima relação com as regras da física quântica, 
vez que não basta a mera relação de causa e efeito entre conduta e resultado, fala-se em 
“DIREITO PENAL QUÂNTICO”, caracterizado pela presença da relação de causalidade 
normativa e da tipicidade material. 
Uma vez concluída pela não imputação objetiva, AFASTA-SE O FATO TÍPICO. 
Para verificar se o resultado está compreendido dentro do alcance do risco 
criado, utiliza-se o juízo de prognose póstuma objetiva (também utilizado na teoria da 
causalidade adequada). 
 
GARANTISMO HIPERBÓLICO MONOCULAR 
Douglas Fischer vem trabalhando o tema,a partir da noção de proteção 
positiva e negativa (garantismo integral) com uma crítica ao que ele chama de 
GARANTISMO HIPERBÓLICO MONOCULAR. A exacerbação do discurso garantista 
“unilateral” ou monocular, atento “apenas” ao aspecto da proibição do excesso, tem 
desvirtuado a garantia de uma imunidade às arbitrariedades, concebendo uma 
equivocada garantia (potencial) de impunidade. 
O autor afirma que “tem havido uma disseminação de uma ideia apenas parcial 
dos ideais garantista (garantismo hiperbólico monocular) porque, muitas vezes, não se 
tem notado que não estão em voga (reclamando a devida e necessária proteção) 
exclusivamente os direitos fundamentais, sobretudo os individuais. Os pilares do 
garantismo não demandam a aplicação de suas premissas apenas como forma de afastar 
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os excessos injustificados do Estado à luz da Constituição (proteção do mais fraco). Não 
se deve invocar a aplicação exclusiva do que se tem chamado de garantismo negativo. O 
dever de garantir a segurança não está em apenas evitar condutas criminosas que atinjam 
direitos fundamentais de terceiros, mas também na devida apuração do ato ilícito e, em 
sendo o caso, na punição do responsável”. 
A partir da mais difundida classificação de garantismo à luz da (i) proibição do 
excesso e da (ii) proibição da proteção deficiente, parte da doutrina aponta que o 
tratamento dado majoritariamente no direito brasileiro por uma linha penalista ao 
garantismo tem como foco exclusivo e exacerbado o chamado “garantismo negativo”, em 
contraposição ao garantismo INTEGRAL. Passou-se a apontar e criticar a ideia do 
garantismo hiperbólico monocular. Diz-se hiperbólico uma vez que ele estaria sendo 
aplicado de maneira ampliada, intensa, desproporcional e hiperbolizada. Seria 
também MONOCULAR já que somente estaria enxergando os direitos fundamentais 
do réu. 
Nota-se que não há uma análise refratária ao garantismo, mas sim a defesa da 
sua integralidade, também no viés positivo, visando a resguardar não apenas os direitos 
fundamentais dos réus e investigados, como também das vítimas. 
 
Como se deu a EVOLUÇÃO DOUTRINÁRIA DA TIPICIDADE? 
CORPUS DELICTI (“Tatbestand”): O delito era concebido com todos os seus 
elementos; a tipicidade NÃO era autônoma (falava-se apenas em ilicitude e culpabilidade). 
FASE DA INDEPENDÊNCIA DO TIPO: Em 1906, Beling compreendeu a 
tipicidade como categoria sistemática e autônoma, tornando-a independente da ilicitude e 
da culpabilidade. Distinguiu-se, aqui, a tipicidade da ilicitude, sendo a tipicidade mero 
processo de adequação do fato à norma. 
TEORIA INDICIÁRIA (“ratio cognoscendi”): Max Ernest Mayer, em 1915, 
aprimora a teoria da tipicidade, conferindo a ela a função de indício da ilicitude (a tipicidade 
autoriza a presunção relativa de ilicitude). 
▪ Sua utilidade prática repousa na inversão do ônus da prova no 
tocante às causas de exclusão da ilicitude. 
▪ É a teoria mais aceita no Direito Penal. 
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▪ A parte final do art. 386, VI, CPP (“ou mesmo se houver dúvida sobre 
sua existência”), em que admite que o juiz absolva o réu, encontra-se 
em consonância com a teoria da tipicidade como indício da ilicitude. 
TEORIA DA IDENTIDADE (“ratio essendi”): Fase da tipicidade como 
essência da ilicitude (não há tipicidade sem ilicitude). O tipo penal é transformado em tipo 
de injusto (o tipo é a “ilicitude tipificada”). 
TEORIA DOS ELEMENTOS NEGATIVOS DO TIPO: Preconizada por 
Hellmuth Von Weber, propõe o “tipo total do injusto” (os pressupostos da causa de 
exclusão da ilicitude compõem o tipo penal como seus elementos negativos). Logo, 
tipicidade e ilicitude integram o tipo penal (ausente a ilicitude, o fato será atípico). NÃO foi 
acolhida pelo nosso sistema penal. 
TEORIA DA TIPICIDADE CONGLOBANTE: Criada por Eugenio Raúl 
Zaffaroni, essa teoria sustenta que todo fato típico se reveste de antinormatividade, 
havendo a necessidade de a conduta ser contrária ao ordenamento jurídico em geral 
(conglobado), e não apenas ao Direito Penal. Tipicidade penal é a tipicidade legal 
(adequação ao tipo) + tipicidade conglobante (antinormatividade – a conduta está também 
proibida pela norma). Já foi acolhida pelos Tribunais Superiores. 
 
ERRO DE TIPO 
O erro de tipo é a falsa percepção da realidade acerca dos elementos 
constitutivos do tipo penal (erro de tipo ESSENCIAL). Salienta-se que de acordo com 
a doutrina, é cabível o erro de tipo na seara dos crimes omissivos impróprios; 
Espécies: 
a) escusável: não deriva de culpa do agente; 
b) inescusável: provém de culpa do agente; 
Efeitos: sempre exclui o dolo (“cara negativa do dolo” a Zaffaroni). Entretanto, 
se escusável também exclui a culpa (diferente do erro de tipo inescusável, que permite a 
punição por crime culposo, se previsto em lei); 
Há, ainda, o erro de tipo ACIDENTAL (que recai sobre circunstâncias e fatores 
irrelevantes da figura típica, não afastando a responsabilidade penal). 
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Modalidades de erro de tipo ACIDENTAL (que NÃO afastam a 
responsabilidade penal): 
1. erro sobre a pessoa ou aberratio personae (o agente confunde 
a pessoa visada). Adota-se aqui a TEORIA DA EQUIVALÊNCIA 
do bem jurídico atingido (leva-se em conta, para aplicação da 
pena, as condições da vítima virtual - aquela que o sujeito 
pretendia atingir). No entanto, segundo a jurisprudência pátria, o 
erro NÃO influencia na competência, levando-se em conta a 
vítima real para determinar o foro competente. 
2. erro sobre o objeto (incide sobre coisa diversa). 
3. erro sobre as qualificadoras (o sujeito age com falsa percepção 
da realidade sobre uma qualificadora). 
4. erro sobre o nexo causal ou aberratio causae (engano 
relacionado à causa do crime). O erro sobre o nexo causal 
DIFERE DO DOLO GERAL (ou por erro sucessivo), vez que 
neste há dois atos distintos, ao passo que no aberratio causae há 
apenas um ato. 
5. erro na execução ou aberratio ictus (o agente erra o seu alvo, 
tendo em vista a aberração no ataque). 
6. aberratio criminis (trata-se do resultado diverso do pretendido). 
Se sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde 
por CULPA, se o fato é previsto como crime culposo (art. 74, 
caput, CP). No entanto, se o resultado previsto como crime 
culposo for MENOS GRAVE ou se o crime não admitir a 
modalidade culposa, segundo a doutrina majoritária, deve-se 
desprezar a regra contida no art. 74 CP, imputando a TENTATIVA 
do respectivo crime. 
 
FUNCIONALISMO PENAL 
Abandona-se o tecnicismo jurídico, possibilitando ao tipo penal desempenhar 
sua efetiva função de mantenedor da paz social e aplicador da política criminal (mais 
importante do que seguir à risca a letra fria da lei). 
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Concepções: 
Funcionalismo moderado, dualista ou de política criminal (Claus Roxin – 
Escola de Munique): a principal finalidade do sistema penal é a proteção de bens 
jurídicos; trabalha-se apenas com a função preventiva da pena. Roxin levanta a ideia de 
“responsabilidade penal” e de “necessidade de aplicação de pena”. 
Funcionalismo radical, monista ou sistêmico (Günter Jakobs – Escola de 
Bonn): a finalidade do sistema penal é garantir a higidez do próprio sistema; leva-se em 
consideração apenas necessidades sistêmicas, cabendo ao Direito Penal se ajustar a 
elas. 
Nota-se, portanto, que o movimento funcionalista consiste em uma reação aos 
excessos de abstração cometidos pelo sistema finalista de Hans Welzel. A crítica do 
funcionalismo aos sistemas anteriores (causalista e finalista) é que o sistema penal não 
deve ter suas bases construídas em dados pré-jurídicos (ontológicos). As categorias 
jurídico-penaisdevem ser voltadas aos fins do direito penal. 
No funcionalismo se busca o desempenho pelo Direito Penal de sua primordial 
tarefa, que é possibilitar o adequado funcionamento da sociedade. Isso é mais importante 
do que seguir à risca a letra fria da lei, sem desconsiderá-la totalmente. 
Em suma, o FUNCIONALISMO sustenta que a dogmática penal deve ser 
direcionada à política criminal, sendo essa finalidade a reafirmação da autoridade do 
Direito, que não encontra limites externos, mas só internos (Jakobs), ou então a proteção 
de bens jurídicos indispensáveis ao desenvolvimento do indivíduo e da sociedade, 
respeitando os limites impostos pelo ordenamento jurídico (Roxin). 
 
Teorias extremada e limitada do DOLO 
Teoria Estrita, Extrema ou Extremada do Dolo: O dolo é normativo 
(consciência das elementares do tipo penal + vontade de realizar a conduta e de produzir 
o resultado + consciência ATUAL da ilicitude) e reside na culpabilidade. Assim sendo, 
seja quando o agente incorre em erro quanto à existência de uma elementar do tipo penal, 
seja quando ele atua sem ter a ATUAL consciência da ilicitude, o dolo é excluído. Uma 
vez excluído, a culpabilidade é excluída. Desse modo, para a teoria em comento, todo 
erro quanto a uma causa de justificação (quanto aos pressupostos fáticos; ou quanto à 
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existência ou limites da causa de justificação) exclui a culpabilidade ao argumento da 
inexistência do dolo normativo. 
Teoria Limitada do Dolo: O dolo é normativo (consciência das elementares 
do tipo penal + vontade de realizar a conduta e de produzir o resultado + consciência 
POTENCIAL da ilicitude) e reside na culpabilidade. Assim sendo, seja quando o agente 
incorre em erro quanto à existência de uma elementar do tipo penal, seja quando ele atua 
sem ter a POTENCIAL consciência da ilicitude, o dolo é excluído. Uma vez excluído, a 
culpabilidade é excluída. Desse modo, para a teoria em comento, todo erro quanto a uma 
causa de justificação (quanto aos pressupostos fáticos; ou quanto à existência ou limites 
da causa de justificação) exclui a culpabilidade ao argumento da inexistência do dolo 
normativo. 
A distinção entre as teorias do dolo no tratamento das causas de justificação 
diz respeito unicamente ao ponto em que na teoria extremada o dolo normativo exige 
consciência ATUAL da ilicitude; e na teoria limitada o dolo, que também é normativo, 
requer apenas que a consciência da ilicitude seja meramente POTENCIAL. 
Essas teorias do dolo foram SUPERADAS pela teoria finalista da ação, de Hans 
Welzel, que removeu o dolo da culpabilidade e o passou para a conduta (e esta integra o 
tipo penal incriminador), e o elemento normativo do dolo foi deste removido e inserido na 
culpabilidade sob a denominação de “potencial consciência da ilicitude”. A culpabilidade 
passou a ser totalmente normativa (sem qualquer elemento psicológico, portanto), e o 
dolo passou a ser natural, composto apenas dos elementos consciência e vontade. 
 
ATENUANTE DIFERIDA? 
O tema abrange a dosimetria da pena, que no ordenamento brasileiro é 
calculada a partir do método trifásico, desenvolvido por Nelson Hungria, e se divide em 
três fases distintas e sucessivas: 
1ª fase: Parte-se da pena cominada ao crime (simples ou qualificado) e se 
analisam as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal para se chegar à pena-
base; 
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2ª fase: Parte-se da pena-base e se analisam as circunstâncias agravantes 
(artigos 61 e 62 do CP) e atenuantes (artigos 65 e 66 do CP) para se chegar à pena-
intermediária; 
3ª fase: Parte-se da pena-intermediária e se analisam as causas de aumento 
(majorantes) e de diminuição (minorantes) para se chegar à pena-definitiva. 
Reafirma-se que essas fases são distintas e sucessivas, de forma que cada 
uma das circunstâncias que compõe cada fase (judiciais, agravantes/atenuantes e 
majorantes/minorantes) somente poderá incidir na sua fase correspondente. 
Além disso, as duas primeiras fases da dosimetria devem se manter adstritas 
aos limites da pena cominada ao crime em julgamento. Por exemplo, se a dosimetria se 
refere ao crime de furto simples, o cálculo da dosimetria nas duas primeiras fases não 
poderia ficar aquém de 1 ano e nem acima de 4 anos (o furto simples prevê a pena de 
reclusão de 1 a 4 anos). 
Reforçando essa premissa, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula n. 
231 com o seguinte teor: “A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à 
redução da pena abaixo do mínimo legal”. 
Mas parte da doutrina enxerga inconsistência nesse entendimento, haja vista 
que o artigo 65 do Código Penal é claro ao afirmar que as circunstâncias atenuantes 
“sempre” atenuam a pena, de sorte que o pena mínima cominada ao crime não deveria 
ser óbice à redução. Isso, na visão dessa corrente doutrinária, afrontaria o próprio princípio 
da individualização da pena. 
Essa corrente acabou por desencadeou uma discussão a nível doutrinário 
acerca da possibilidade das circunstâncias atenuantes, analisadas na 2ª fase, terem seus 
efeitos diferidos para a 3ª fase da dosimetria, na hipótese da pena-base ser fixada no 
mínimo legal e não existir, na segunda fase, circunstância agravante para ser 
compensada. 
Explica-se: Em regra, a circunstância atenuante não pode conduzir o cálculo 
da dosimetria para aquém da pena mínima cominada ao crime. Contudo, constatada a 
impossibilidade de sua incidência na segunda fase (por exemplo, pena-base fixada no 
mínimo e inexistência de agravantes), excepcionalmente essa atenuante deverá incidir 
após a análise da terceira fase, caso exista alguma causa de aumento de pena 
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(majorante), para ser com ela “compensada”. Essa “tese” foi denominada pela doutrina 
como “CIRCUNSTÂNCIA ATENUANTE DIFERIDA”. 
Sobre o tema, os doutrinadores Marcelo André de Azevedo e Alexandre Salim 
ilustram a hipótese de um crime de furto com as seguintes circunstâncias: praticado 
durante o repouso noturno (causa de aumento de 1/3); agente menor de 21 anos na data 
do fato (atenuante); confissão espontânea (atenuante); reparação do dano no curso da 
ação penal (atenuante). No caso, existem três circunstâncias atenuantes (verificáveis na 
segunda fase da dosimetria) e uma causa de aumento de pena (a incidir na terceira fase). 
Durante a dosimetria, na segunda fase, diante da inexistência de agravantes, as três 
circunstâncias atenuantes não incidirão, uma vez que a pena-base foi fixada no mínimo 
legal de 1 ano. Na terceira fase, o juiz aumentará a pena em 1/3, de sorte que a pena 
passará para 1 ano e 4 meses. Em seguida, deveriam incidir as circunstâncias atenuantes 
(de forma diferida), tendo em vista que não puderam incidir anteriormente, em respeito ao 
limite mínimo. 
Apesar da inteligência desse raciocínio e da coerência das argumentações que 
o sustentam, a tese das “circunstâncias atenuantes diferidas” não é adotada no 
ordenamento brasileiro. 
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Até a próxima dica! 
 
Em que consiste a consciência dissidente (ou cláusula de 
consciência)? 
São reconhecidas pela maioria da doutrina as causas SUPRALEGAIS de 
exclusão da culpabilidade. Por serem supralegais, não há um rol taxativo destas causas, 
mas a doutrina acaba por elencar algumas, sem que isso signifique, no entanto, a 
impossibilidade de que outras venham a ampliar este rol. 
René Ariel Dotti refere-se à existência de 4 grupos de causas supralegais 
de exculpação: cláusula de consciência, provocação de legítima defesa, desobediência 
civil e conflito de valores. 
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No que tange à cláusula de consciência, dizJuarez Cirino dos Santos: 
constitui a experiência existencial de um sentimento interior de obrigação incondicional, 
cujo conteúdo não pode ser valorado como certo ou errado pelo juiz, que deve verificar, 
exclusivamente, a correspondência entre decisão exterior e mandamentos morais da 
personalidade. Ou seja, a exclusão de culpabilidade em tal circunstância somente será 
reconhecida para a isenção de pena se houver a proteção concreta do bem jurídico por 
uma alternativa neutra. A recusa do pai à necessária transfusão de sangue no filho menor, 
por motivos religiosos, é suprida por determinação do Curador de Menores, ou pela ação 
do médico, sob estado de necessidade; a recusa do médico, por motivo de consciência, 
de realizar o aborto necessário, é suprida pela ação de outro médico. Em nenhuma 
hipótese o fato de consciência exculpa a efetiva lesão de bens jurídicos individuais 
fundamentais – como a vida por exemplo – porque a omissão salvadora privaria a vítima 
de todos os direitos: os pais deixam morrer o filho menor porque sua consciência religiosa 
impede transfusão de sangue; o médico deixa morrer a paciente, porque sua consciência 
pessoal não permite realizar o aborto’. 
A cláusula de consciência é tratada por Eugenio Raul Zaffaroni sob a 
denominação de “consciência dissidente”, que indica que o indivíduo tem 
conhecimento da proibição e da ausência de permissão legal, mas a ele não se pode 
exigir a sua interiorização. Para Zaffaroni, é uma das hipóteses que poderá redundar 
no erro de compreensão e, consequentemente, na inculpabilidade. 
 
Erro culturalmente condicionado 
Além do erro que afeta a ilicitude há o erro que afeta a compreensão da ilicitude, 
e AMBOS resultam no erro de proibição. Compreensão é diferente de conhecimento. O 
conhecimento é pressuposto da compreensão, de forma que não pode haver 
compreensão sem conhecimento. 
Se a não compreensão da norma (a não internalização de seu valor) se dá 
em razão do conhecimento cultural do agente, estamos diante de um erro de 
compreensão culturalmente condicionado. São exemplos correntes na doutrina, o do 
esquimó por nós visitado, que nos oferece a mulher perfumada de urina, que não 
aceitamos por ser extremamente árduo internalizar a regra de conduta que evite a injúria 
que lhe fazemos e; o do indígena de uma comunidade que tem seus próprios ritos para 
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funerais e violar as nossas regulamentações sobre inumações, sendo muito duro exigir-
lhe que abandone suas regras para acolher as nossas e reprovar-lhe porque não o tenha 
feito. 
Assim, o erro de compreensão culturalmente condicionado se apresenta 
na situação em que o agente, mesmo conhecendo a ilicitude do fato, não a 
compreende, porque não internalizou os valores contidos na norma que o rege. E 
não internaliza estes valores porque desconhecidos ou incompatíveis com aqueles 
pertencentes à sua cultura. 
Sobre o erro culturalmente condicionado, é a lição de Eugênio Raul Zaffaroni e 
Pierangeli: “Trata-se de uma especificação do erro de proibição que vale para aqueles 
casos em que, embora o agente tenha conhecimento da proibição, não lhe é exigível a 
respectiva interiorização porque ela é estranha à sua cultura, reconhecendo, no entanto, 
que o condicionamento cultural pode dar lugar a outras espécies de erro”. 
O ‘erro de compreensão culturalmente condicionado’ revela um grau de 
tolerância maior na resolução das situações de conflito pessoal entre sistemas culturais 
distintos, dado que prescinde à partida da comprovação da censurabilidade do erro. A 
admissão de um juízo de censurabilidade nas constelações a que o erro se refere 
pressupõe o reconhecimento da obrigatoriedade de assimilação dos valores dominantes, 
e isso representaria igualmente um desprezo pelas diferenças culturais. 
 
TEORIA DA TIPICIDADE CONGLOBANTE 
De acordo com a teoria da tipicidade conglobante, criada pelo penalista 
argentino Eugenio Raúl Zaffaroni, todo fato típico se reveste de antinormatividade, vez 
que embora o agente atue em consonância com o que está descrito no tipo incriminador, 
na verdade, contraria a norma, entendida como o conteúdo do tipo legal. 
Assim, não basta a mera subsunção da conduta do agente à previsão abstrata 
descrita pela lei penal para a caracterização do fato típico, sendo necessária, para tanto, 
a adequação material do fato (tipicidade material) e a contrariedade da conduta com o 
ordenamento jurídico (antinormatividade). 
A teoria da tipicidade conglobante busca afastar contradições que acarretem 
ilogicidade no sistema jurídico, excluindo da esfera do fato típico fenômenos não 
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abarcados pela norma proibitiva, mas que simplesmente aparentam estar contidos na 
fórmula legal, de modo a corrigir o âmbito de aplicação do tipo penal. 
A antinormatividade diz respeito à existência de condutas tipificadas na lei 
penal como proibidas (não desejadas) e passíveis de uma pena em contraposição com 
as mesmas condutas em tese proibidas, que são fomentadas por outros ramos do direito 
e que são igualmente previstas em lei de igual hierarquia. 
Mas o que significa o termo “Conglobante”? Consiste na necessidade de 
que a conduta seja contrária ao ordenamento jurídico em geral, tendo em vista as 
premissas da unidade e da integração do sistema normativo. Segundo Zaffaroni, a 
tipicidade penal é = tipicidade LEGAL (adequação à fórmula legal do tipo) + tipicidade 
CONGLOBANTE (a conduta está proibida pela norma). 
Modernamente, o Supremo Tribunal Federal (HC n° 126273/MG) e o Superior 
Tribunal de Justiça (AP nº 683/AP) têm se valido da teoria da tipicidade conglobante para 
fundamentar as suas decisões, ainda que, na maioria das vezes, como forma de aferição 
da insignificância da conduta do agente. 
 
O que se entende por tendência “vorverlagerung”? 
A tendência “vorverlagerung” é uma forma de criminalização antecipada da 
conduta em razão do perigo abstrato aos interesses tutelados. Esse instituto se aplica, 
entre outros, aos crimes ambientais como uma antecipação da barreira penal, visando 
salvaguardar o meio ambiente, ou seja, por meio dessa tendência antecipa-se a tutela 
penal almejando evitar o risco maior ao bem jurídico protegido pela norma. 
A expressão alemã “vorverlagerung” significa deslocamento para frente. 
Logo, a tendência “vorverlagerung” seria uma tendência de deslocamento para frente de 
uma ação relevante para o Direito Penal em forma de antecipação da tutela penal. 
O assunto está ligado à antecipação da tutela penal (esse tema já foi cobrado 
no concurso de Delegado de Polícia de SP). Significa a antecipação da criminalização 
penal de atos preparatórios, crimes de perigo abstratos, crimes de mera conduta, punição 
da tentativa, entre outros, para proteger os bens jurídicos – evitando ou ao menos inibindo 
– pela coação abstrata de o legislador evitar que a conduta de fato venha se materializar 
com repercussões substanciais. 
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Sobre a punição de atos preparatórios, insta salientar dois pontos: 
primeiramente, a antecipação de tutela penal, por meio de criminalização dos crimes-
obstáculos é excepcional (só se justifica quando se estiver diante de bens de categoria 
muito elevada e, ainda assim, desde que a descrição realizada na conduta típica seja 
inequívoca. Em segundo lugar, com a Lei Antiterrorismo (Lei 13.260/16), em seu art. 5º, 
antecipou a tutela do Direito Penal para efetivamente punir atos preparatórios de 
terrorismo, não se exigindo a prática de nenhum ato de execução. Basta a realização de 
um ato preparatório para autorizar a punição do responsável pela violação da norma 
penal. 
 
No que consiste a teoria agnóstica da pena 
(também denominada de teoria negativa)? 
Ateoria agnóstica da pena, do jurista argentino Eugenio Raúl Zaffaroni, 
coloca em destaque a descrença nas finalidades da pena e no poder punitivo do estado, 
notadamente na ressocialização (prevenção especial positiva), a qual jamais pode ser 
efetivamente alcançada em nosso sistema penal. 
Essa teoria sustenta que a única função efetivamente desempenhada pela 
pena seria a NEUTRALIZAÇÃO do condenado, especialmente quando a prisão acarreta 
o seu afastamento da sociedade. 
Assim, segundo Zaffaroni, a concepção de que a pena teria funções de 
retribuição e prevenção (geral e especial) seria uma falácia, servindo em verdade para 
objetivos ocultos. É uma teoria agnóstica das funções reais da pena. 
O conceito de pena não é um conceito jurídico, mas sim um conceito político, 
tal qual o é o da guerra. Afastando essa “legitimidade jurídica” e aproximando a pena da 
ideia de ato de poder político, os seus defensores intentam conter o poder punitivo com a 
potencialização de um Estado Democrático, já que haveria margem de, politicamente, 
desenvolver políticas (pleonasmo intencional) públicas calcadas no humanismo. 
Zaffaroni aponta que a pena é um ato político e o direito, como limite da política, 
é o parâmetro negativo da sancionabilidade, estruturando-a sob a negação das teorias da 
pena e fundando-a em critérios de limitação da sanção. 
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Essa teoria tem como fundamento modelos ideais de estado de polícia e de 
estado de direito. Para a teoria agnóstica da pena existe uma grande dificuldade em 
acreditar que a pena possa cumprir, na grande maioria dos casos, as funções manifestas 
atribuídas a ela, expressas no discurso oficial. 
Logo, a pena estaria apenas cumprindo o papel degenerador da neutralização, 
já que empiricamente comprovada a impossibilidade de ressocialização do apenado. 
Não quer dizer que essa finalidade de ressocializar, reintegrar o condenado ao convívio 
social deva ser abandonada, mas deve ser revista e estruturada de uma maneira diferente 
(a reintegração social daquele que delinquiu não deve ser perseguida através da pena). 
 
O que são os delitos de acumulação? 
(Tema cobrado 2ª fase do último concurso MPMG) 
 
A ideia de acumulação surge como uma ferramenta de proteção da 
coletividade, no contexto da discussão sobre a sociedade de risco. A categoria dos delitos 
por acumulação é inicialmente sugerida por Lothar Kuhlen, para fornecer uma hipótese 
de intervenção penal nos casos de pequenas infrações ao meio ambiente que, 
individualmente, são insignificantes, já que não representam lesividade suficiente para 
permitir a punição do autor, mas que, somadas, representam um dano considerável às 
condições de preservação ambiental. 
Tem-se que as lesões individualmente provocadas não seriam aptas à 
configuração do tipo penal, todavia, quando praticadas por muitas pessoas, 
cumulativamente, lesam bem jurídicos coletivos. 
Os delitos por acumulação, por definição, somente são aplicáveis na proteção 
de bens jurídicos coletivos, uma vez que os bens individuais não precisam de acumulação 
para ser expostos ao perigo. 
Os defensores de tal categoria delitiva sugerem adaptações na teoria do delito, 
com o fito de possibilitar a imputação de responsabilidade a tais agentes (“autor coletivo” 
e “nexo de causalidade coletivo”). 
Ademais, para Wohlers e Von Hirsch, a acumulação é mais do que uma técnica 
legislativa, é também um fundamento para a justificação ou legitimação de condutas 
perigosas contra bens jurídicos coletivos. Finaliza, citando a perspectiva de tais autores 
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“as condições para que se verifique uma conduta merecedora de punição com base na 
acumulação são: (i) prognóstico realista de realização de condutas; (ii) existência de 
resultado efetivo, ainda que reduzido; (iii) consideração de condutas pouco significantes”. 
O princípio da insignificância tem lugar nos delitos por acumulação? Sim. 
É possível a incidência do princípio da insignificância, mas sua análise deve ser adequada 
aos fundamentos do crime por acumulação. Isso quer dizer que não se examina a pouca 
relevância da lesão ou do perigo de lesão baseando-se na conduta individual, mas 
considerando o resultado da provável acumulação. 
 
REGRAS DE TÓQUIO 
As Regras de Tóquio são recomendações mínimas acerca da criação e 
aplicação alternativa de medidas não privativas de liberdade. 
Essas regras foram formuladas pelo Instituto da Ásia e do Extremo Oriente para 
a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente (em 1986), cujo projeto foi aprovado 
em 14 de dezembro de 1990, pela Assembleia Geral das Nações Unidas (8º Congresso), 
integrando a Resolução nº 45/110, oficialmente denominadas Regras Mínimas das 
Nações Unidas para a Elaboração de Medidas não Privativas de Liberdade, com o objetivo 
de incentivar a adoção, pelos Estados-membros, de meios mais eficazes que o cárcere 
para prevenir a criminalidade e melhorar o tratamento dos encarcerados. 
Verifica-se pela leitura do documento uma preocupação frequente da 
Organização das Nações Unidas com a modernização e humanização do Direito Penal e 
da execução da pena, procurando estabelecer diretrizes que evitem o aumento da 
população carcerária e, consequentemente, a superlotação das prisões, que prejudica o 
cumprimento da pena dentro dos padrões de legalidade e dignidade, bem como deixa de 
realizar a promessa maior da justiça penal, a reinserção social do apenado. 
As regras em comento ratificam o entendimento de Michel Foucault, quando 
afirma que “o cárcere, além de não atenuar a taxa de criminalidade, provoca reincidência 
e patrocina a criação de uma verdadeira fábrica de delinquentes, que, excluídos da 
sociedade, organizam-se, com o intuito do cometimento de futuros delitos, fabricando 
criminosos, principalmente quando gera a miséria na família dos reclusos”. 
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Ademais, em consonância com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, 
as Regras de Tóquio se posicionam no sentido de abrandar o sistema penal e 
proporcionar maior justiça e compatibilidade na aplicação de penas, garantindo a 
proporcionalidade entre as penas e o delito cometido e lhes atribuindo função social de 
reabilitação. 
As regras de Tóquio NÃO possuem força de lei, mas apenas de 
recomendações (soft law). Embora não possuam força de lei, são de extrema importância 
para a humanização e a modernização do Direito Penal. 
 
 A autolavagem e a sua (in)admissibilidade no ordenamento jurídico 
brasileiro 
A AUTOLAVAGEM consiste na punição do autor da infração antecedente em 
concurso material com o delito de lavagem de capitais (este considerado “crime 
parasitário”). 
É possível a “autolavagem” no Brasil? (Há duas correntes). 
1ª CORRENTE (minoritária): Parte da doutrina assevera não ser possível, de 
maneira análoga ao que ocorre com o crime de receptação, do qual não podem ser sujeito 
ativo o autor, coautor ou partícipe do crime antecedente, para o autor da infração 
precedente o aproveitamento do produto auferido configuraria mero exaurimento 
impunível, integrando-se ao próprio objetivo desejado (mera optata) da atividade delituosa 
– Fundamento: princípio da consunção. 
2ª CORRENTE (majoritária): Prevalece, entretanto, na doutrina e na 
jurisprudência (STF, Inq. 2471/SP) que a autolavagem é possível. Isso porque, em 
primeiro lugar, na legislação brasileira inexiste a “reserva de autolavagem” (prevista em 
alguns países). Em segundo lugar, não se afigura possível a aplicação do princípio da 
consunção, incidente nas hipóteses de pós fato impunível. Ora, a ocultação do produto da 
infração antecedente pelo seu autor configura lesão autônoma, contra sujeito passivo 
distinto, através de conduta não compreendida como consequêncianatural e necessária 
da primeira. Desse modo, para essa corrente, o crime de lavagem de capitais não é mero 
exaurimento da infração antecedente. 
E a jurisprudência pátria? 
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Adota a 2ª corrente. O STF tem precedentes no sentido de que o crime de 
lavagem de capitais não funciona como mero exaurimento da infração antecedente, já que 
a Lei 9.613/98 não exclui a possibilidade de que o ilícito penal antecedente e a lavagem 
de capitais subsequente tenham a mesma autoria, sendo aquela independente em relação 
a esta (cf.: Inq. 2.471/SP, Plenário, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 29.09.2011). Ademais, 
há precedentes que entendem que a lavagem de dinheiro é crime autônomo, não se 
constituindo em mero exaurimento da infração penal, do STF (HC 92.279/RN) e do STJ 
(REsp n. 1.234.097/PR). 
 
A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III, da CF, aplica-se tanto para 
condenados a penas privativas de liberdade como também a penas restritivas de 
direitos. A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III, da Constituição Federal, 
aplica-se no caso de substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos. 
Havendo condenação criminal transitada em julgado, a pessoa condenada fica com seus 
direitos políticos suspensos tanto no caso de pena privativa de liberdade como na hipótese 
de substituição por pena restritiva de direitos. Veja o dispositivo constitucional: Art. 15. É 
vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos 
de: III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; STF. 
Plenário. RE 601182/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, 
julgado em 8/5/2019 (repercussão geral) (Info 939). 
 
PROCESSO PENAL 
Assuntos de Processo Penal abordados nas provas preambulares: 
1) Busca da verdade real – beyond a reasonable doubt 
2) Teoria das provas no processo penal 
3) Standards probatórios 
4) Competência para processo e julgamento dos crimes de estelionato 
5) Acordo de não persecução penal e as estruturas de consenso no processo penal 
(Jorge de Figueiredo Dias) 
6) Direito à mentira como desdobramento do nemu tenetur se detegere? 
 
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9b7da66eb5bb0e80c82e88fd2bfde5ce?categoria=1
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9b7da66eb5bb0e80c82e88fd2bfde5ce?categoria=1
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9b7da66eb5bb0e80c82e88fd2bfde5ce?categoria=1
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O que significa a Doutrina do “não prazo”? 
A Constituição Federal e o próprio Código de Processo Penal não fixaram 
limites de duração do processo. Dessa forma, apenas a prescrição seria um limitador 
da razoável duração processual, não havendo outros meios idôneos para garantir 
esse direito fundamental. Diante disso, sustenta-se que o sistema brasileiro adotou a 
“Doutrina do Não Prazo”. 
Denilson Feitoza, ao explicar a teoria, elucida que: O prazo razoável de duração 
do processo penal não se mede em dias, semanas, meses ou anos, mas sim deve ser 
estabelecido em processo posterior (ex post iudicium), de conformidade com uma 
combinação de critérios que permitirão deduzir a razoabilidade ou não da duração do 
processo em seu conjunto. 
Não obstante o fato do Código de Processo Penal fazer referências a diversos 
limites de duração dos atos, isso não retira a crítica aqui imposta, uma vez que são prazos 
sem sanção. Portanto, “não prazo” significa, simplesmente, dizer: ausência de prazos 
processuais com sanção pelo descumprimento. 
Em síntese, o art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal adotou a doutrina do 
não prazo, fazendo com que exista uma indefinição de critérios e conceitos. 
Na lição de Aury Lopes Jr., para aferir a razoabilidade processual, 4 deverão 
ser os referenciais adotados pelos tribunais brasileiros, a exemplo do que já 
acontece nos TEDH e na CADH: 
1) complexidade do caso; 
2) atividade processual do interessado (imputado), que obviamente não 
poderá se beneficiar de sua própria demora; 
3) a conduta das autoridades judiciárias como um todo (polícia, Ministério 
Público, juízes, servidores etc.); 
4) princípio da razoabilidade. 
Outrossim, Denilson Feitoza demonstra em sua obra os critérios adotados para 
deduzir a razoabilidade da duração do processo penal, tais como: “gravidade do fato, 
duração efetiva do processo, complexidade da prova, atitude das autoridades 
encarregadas da persecução penal e a própria conduta do acusado em relação aos 
atrasos do processo”. 
TEMAS INUSITADOS E JURISPRUDÊNCIA RECENTE – MPGO 
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Não tendo ainda claros limites temporais em nosso ordenamento, os modelos 
citados pelos professores representam uma grande evolução, embora não sejam ainda 
os mais adequados. 
 
TEORIA DA DISSONÂNCIA COGNITIVA 
Analisando a figura do juiz das garantias, introduzida recentemente no Código 
de Processo Penal pela Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime), cuja eficácia, entretanto, 
encontra-se suspensa “sine die” por decisão monocrática do Ministro Fux em sede de 
controle de constitucionalidade, o professor Renato Brasileiro trouxe à voga a discussão 
sobre a (im)parcialidade do juiz criminal que, durante a fase investigativa da persecução 
criminal, tenha exarado decisões cautelares com base em elementos de informação 
colhidos de maneira inquisitorial. 
A premissa é interessante, já que não são raras as situações em que uma 
decisão judicial proferida na fase investigativa, como, v.g., a que decreta uma prisão 
preventiva, necessita apresentar fundamentação e juízo de valor quanto à materialidade 
do crime e os indícios de autoria, o que revela um convencimento já formado na mente do 
magistrado. Diante dessa situação ficaria a dúvida: Essa análise aprofundada dos 
elementos de informação necessária para fundamentar a decretação de medidas 
cautelares, teria o condão de macular a imparcialidade do julgador na fase processual? 
Na busca dessa resposta, o professor invoca a lucidez do penalista alemão 
Bernd Schunemann, professor da Universidade Ludwig, Munique, que, em artigo científico 
intitulado “O juiz como terceiro manipulado no processo penal?”, destacou os graves 
efeitos que a teoria da dissonância cognitiva pode gerar sobre o processo penal. 
À luz da teoria da dissonância cognitiva, os seres humanos tendem sempre a 
buscar, de forma voluntária ou não, uma zona de conforto conhecida no campo da 
psicologia como “consonância cognitiva”. A partir da busca por essa zona de conforto, o 
indivíduo passa a desenvolver um processo, consciente ou inconscientemente, para evitar 
o sentimento incômodo da dissonância cognitiva. 
Dentre esses processos, destacam-se: 
1) desvalorização de elementos cognitivos dissonantes (ou efeito inércia ou 
perseverança): Cita-se como exemplo o sujeito fumante que, ao tomar conhecimento de 
TEMAS INUSITADOS E JURISPRUDÊNCIA RECENTE – MPGO 
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estudos científicos que comprovam os efeitos nocivos da nicotina, tenta desvalorizar o 
mérito da pesquisa sob o argumento de que seus dados seriam frágeis, ou que, na 
verdade, o cigarro que ele consome teria baixo teor de nicotina, etc.; 
2) busca por informações consonantes com a cognição preexistente (ou busca 
seletiva de informações): Após tomar uma decisão, o indivíduo será movido por um 
impulso em buscar informações que confirmem a sua escolha. Por exemplo, quando o 
indivíduo decide comprar um automóvel, ele procura ler análises automotivas e comparar 
os prós e os contras dentre os veículos desejados. Contudo, a partir do momento que 
esse indivíduo fez a sua escolha por um daqueles veículos, ele passará imediatamente a 
buscar informações que destaquem

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