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Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.cursoenfase.com.br Sumário 2. Os Sistemas de Teoria do Delito............................................................................. 2 2.1. Conceitos Gerais (elementos descritivos x valorativos)................................... 2 2.2. Sistema Clássico -‐ Liszt e Beling (cont.)............................................................ 2 2.2.1. Críticas ao Sistema Clássico .......................................................................... 2 2.3. Sistema Neoclássico......................................................................................... 4 2.3.1. Críticas ao Sistema Neoclássico .................................................................... 6 2.4. Sistema Finalista -‐ Welzel ................................................................................ 8 Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 2 www.cursoenfase.com.br Professora: Ana Paula Viera 2. Os Sistemas de Teoria do Delito 2.1. Conceitos Gerais (elementos descritivos x valorativos) 2.2. Sistema Clássico -‐ Liszt e Beling (cont.) A imputabilidade, como não é um vínculo subjetivo (intenção), não foi possível enquadrá-‐la dentro da culpabilidade – como seu elemento. Assim, a imputabilidade era vista como um pressuposto da culpabilidade. Para que o sujeito pudesse agir com dolo ou culpa deveria, antes, ser imputável – o que não faz sentido, eis que, por exemplo, o louco age com dolo. Outro conceito fundamental da época era o conceito causal de ação (realista). Tal conceito, resumidamente, afirmava que a ação era um mero processo mecânico de causar um resultado. Um conceito inteiramente objetivo. Aquilo que o sujeito pretendia com a ação não entrava como elemento para conceituá-‐la – as intenções relacionavam-‐se, como visto, com a culpabilidade. 2.2.1. Críticas ao Sistema Clássico A culpa não é elemento subjetivo – nela não interessa a intenção do agente. Ao contrário, é elemento objetivo; o tipo culposo tem somente elementos objetivos. Exemplo1: A está saindo do trabalho e, por distração, atropela e mata B. A intenção de A não interessa, mas tão somente a forma de realização da conduta – no caso, A agiu de forma descuidada. Ao longo do desenvolvimento do sistema clássico não havia preocupação com o conteúdo dos elementos (diferentemente do já visto no primeiro bloco da presente aula “conteúdo da ilicitude”, por exemplo). Como já dito, o tipo penal era composto por elementos meramente descritivos e a antijuridicidade era uma mera contradição entre a conduta e a norma. Ademais, diz-‐se que na culpabilidade adotava-‐se a concepção psicológica – culpabilidade como um vínculo subjetivo entre o agente e o resultado (colo e culpa). Razões da decadência do sistema clássico: (i) não havia como explicar os elementos subjetivos do injusto e a culpa inconsciente; (ii) a necessidade de mudança do método Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 3 www.cursoenfase.com.br O que tornou o Sistema Clássico ultrapassado foi a percepção de que o método classificatório e a aversão às valorações não funcionava bem na prática e não fazia sentido. A ideia de utilizar um método classificatório próprio das ciências naturais para estudar o Direito – uma ciência essencialmente valorativa – não poderia produzir bons resultados. A necessidade da utilização de métodos valorativos para a resolução de casos concretos com justiça se impôs. A doutrina percebeu que a mera divisão entre elementos objetivos e subjetivos (no primeiro o injusto e no segundo a culpabilidade), não atendia as necessidades práticas, pois alguns tipos exigiam uma intenção especial do agente. Tais intenções especiais não se confundem com o dolo, eis que o dolo é a mera vontade de realizar o tipo objetivo. Na verdade, as intenções especiais são intenções além do dolo e que residiam no próprio tipo penal, isto é, era o tipo quem as previa. Por isso, impossível extrair as intenções especiais do injusto. Esta foi a primeira fratura no sistema de divisão entre objetivo e subjetivo (injusto e culpabilidade). Exemplo2: nos crimes de injúria, calúnia e difamação, além da vontadede falar ou escrever a ofensa, há a necessidade de intenção especial: a de menosprezar/humilhar a vítima. Tanto é que, mesmo se a conduta for realizada com dolo, o tipo leva em conta o animus jocandi. Exemplo3: culpa inconsciente não possui qualquer elemento subjetivo. Como poderia, então, na divisão dos elementos pelo sistema clássico, residir na culpabilidade (isto é, no lado subjetivo)? Percebeu-‐se, assim, que esse sistema neutro avesso às valorações não conseguia resolver problemas práticos importantes. Um autor chamado Frank, na Alemanha de 1907, percebeu que, em algns casos, para fazer justiça seria necessário analisar se o agente cometeu o crime diante de circunstâncias absolutamente excepcionais, que transformavam sua conduta em algo razoável. Se fosse o caso, as circunstâncias faziam com que fosse inexigível um comportamento diverso da parte do agente. No Sistema Clássico não havia espaço para analisar circunstâncias anormais (diferentes de legítima defesa, ou estado de necessidade, por exemplo). Necessário pontuar que tal situação ocorreu muito na Alemanha com o estado de necessidade exculpante, pois até então somente se admitia o estado de necessidade justificante (aquele no qual se ataca um interesse de menor valor para proteger um de maior Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 4 www.cursoenfase.com.br valor: patrimônio x vida). Porém, uma situação que envolvesse vida x vida não encontrava previsão na legislação. Outra situação de anormalidade das circunstâncias não prevista no Sistema Clássico é o excesso exculpante (o agente se excede na legítima defesa, mas o faz por estar vivendo uma situação de medo/pânico tão terrível que dele não se pode exigir precisão no cálculo da medida tomada em sua defesa). Frank, então, introduz um elemento valorativo (juízo de valor puro) na culpabilidade: a exigibilidade de conduta diversa. 2.3. Sistema Neoclássico Neste momento e a partir das supracitadas críticas, começa-‐se a falar em um novo Sistema: o Neoclássico. Esquema: Sistema Neoclássico (e concepção psicológico normativa da culpabilidade). Relembrando, no Sistema Clássico, dentro da culpabilidade já se encontrava a imputabilidade, bem como o dolo (adiante será melhor detalhado o acréscimo da consciência de ilicitude) e também a culpa. Frank adicionou um quarto elemento, fazendo com que a culpabilidade deixasse de ser mero vínculo subjetivo entre agente e resultado, permitindo que fosse possível estudar em cada caso concreto a anormalidade das condições em que a conduta tenha sido realizada (na prática autorizando, em alguns casos, a absolvição do agente). Essa ideia de introduzir um novo elemento valorativo só foi possível porque houve uma mudança na mentalidade da época, isto é, na forma de pensar o Direito. Para ilustrar a questão, a Professora imagina a imagem de um pêndulo que faz um movimento de aproximação e afastamento dos valores. É dizer: ora o pensamento humano no Direito Penal se afasta, desconfiando dos valores, ora se aproxima. Injusto 1) Imputabilidade 2) Dolo + consciência da ilicitude 3) Culpa 4) Exigibilidade de conduta diversa Culpabilidade Ação + Relação de Causalidade + Resultado Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 5 www.cursoenfase.com.br O momento do Sistema Neoclássico reflete exatamente esta aproximação dos valores pelos juristas, insatisfeitos com a falta de solução do Sistema Clássico para algumas situações concretas. Portanto, a mudança mais importante entre o Clássico e o Neoclássico é a mudança de método, pois o segundo dá importância às valorações, impregnando o sistema jurídico de juízos valorativos e criando novos elementos de natureza valorativa. Daí a inserção da Exigibilidade de conduta diversa – exclusivamente valorativa. A culpabilidade passou a ter elementos psicológicos (dolo), mas também normativos. A imputabilidade deixou de ser um pressuposto e passou a ser um elemento – eis que não há mais a dificuldade imposta pelo Sistema Clássico, em que a culpabilidade era formada somente de elementos subjetivos. Como dito, a imputabilidade passou a ser um elemento normativo da culpabilidade, como a culpa e a exigibilidade. Com isso, a nova concepção da culpabilidade passou a denominar-‐se concepção psicológico-‐normativa (psicológicos = da intenção;e normativos = que fazem um juízo de valor). O dolo, nesta época, estava acoplado à consciência da ilicitude (cabendo mencionar que hoje já não mais se entende assim). O dolo era denominado dolos malus: somente agia com dolo quem tivesse consciência da proibição (na concepção atual, dolo é uma coisa e consciência da proibição é outra – o tema será aprofundado em momento oportuno). Por outro lado, o conceito de ação ainda obedecia à concepção do Sistema Clássico, permanecendo o entendimento da ação como causal. Pelo exposto, conclui-‐se que a grande virada do Sistema Clássico para o Neoclássico foi de método de estudo do Direito Penal, com a reaproximação e redescoberta dos valores/juízos de valor dentro da Teoria do Delito. Assim, todos os elementos da Teoria foram impregnados por juízos de valor e, em seguida, foram criados novos elementos valorativos tais como a exigibilidade de conduta diversa. Observação1: como nem todos os autores tratam do tema com tamanho cuidado, interessa indicar a leitura das obras de Paulo César Busato e Fernando Galvão quanto ao tema. Ainda, há um artigo do Luis Greco no n°. 32 da Revista Brasileira de Ciências Criminais. No período Neoclássico houve uma busca pela fundamentação material dos diversos institutos e categorias. Tal busca se traduz na investigação do conteúdo dos elementos. Observação2: buscar fundamentação material significa perguntar, por exemplo, o que se estuda na tipicidade? Ou, o que se estuda na ilicitude? Da mesma forma, o que se estuda na culpabilidade? Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 6 www.cursoenfase.com.br É neste momento que a culpabilidade, por exemplo, passa a ser entendida como juízo de reprovação – concepção adotada até hoje. Então, a busca pelo conteúdo de cada elemento, em oposição ao Sistema Clássico que os considerava meramente formais, é um mérito do Sistema Neoclássico. Importante comentar que a base filosófica do Sistema Neoclássico é o neokantismo de Baden – posição filosófica predominante para o pensamento da época. Em consequência do pensamento neoclássico houve, e a afirmação do injusto, o ato passa a ser valorado sob o aspecto de sua lesividade social. Neste momento, para um fato ser considerado típico e ilícito a conduta deveria ser socialmente lesiva. Ao afirmar que a conduta deve ser socialmente lesiva, abre-‐se a possibilidade de desenvolvimento de diversos Princípios que demosntrarão quando há ou quando não há lesividade. Exemplo1: Princípio da Insignificância. Exemplo2: Princípio da Adequação Social da Conduta. Nos dois exemplos acima, os Princípios foram desenvolvidos a partir do momento em que os juristas entenderam que não basta tão somente a conduta ser típica e não estarem presentes a legítima defesa e estado de necessidade. Necessário também que a conduta seja lesiva socialmente. Exemplo3: Furar a orelha. A solução está na afirmação de que o injusto deve ser algo socialmente lesivo. Furar a orelha não é conduta socialmente lesiva. A afirmação permite, inclusive, o desenvolvimento de outros princípios que não estejam na lei e que serão de grande auxílio para identificar uma conduta típica e ilícita. Enquanto o injusto para os neoclássicos é lesividade social, a culpabilidade é juízo de reprovação. Enfim, o mérito do Sistema Neoclássico foi a reaproximação dos valores, afinal, o Direito Penal não faz parte das ciências naturais, mas sim das ciências humanas. Como tal, precisa dos juízos de valor para chegar a resultados justos. 2.3.1. Críticas ao Sistema Neoclássico Durante este período histórico, acreditava-‐se no que ficou conhecido como relativismo valorativo. Isto é, a ideia de que não há valores “mais corretos” que outros. Tal situação gerava muita insegurança, pois para se fazer valorações chegando a resultados seguros é imprescindível que o sistema conte com diretrizes valorativas. Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 7 www.cursoenfase.com.br A falta destas diretrizes é, assim, fonte de grande insegurança jurídica e, por isso, fonte também de críticas ao Sistema Neoclássico. Exemplo1: no Rio de Janeiro, por muitos anos, foi recorrente o uso de passaportes falsos por mineiros. Havia uma quadrilha de falsificadores que tinha ramificações dentro da polícia federal do Rio. Entretanto, as investigações pareciam apenasalcançar os mineiros que eram deportados – as demais figuras responsáveis pela falsificação nunca eram investigadas. Percebendo a situação, os Juízes começaram a absolver os mineiros com base na inexigibilidade de conduta diversa como causa de exclusão de culpabilidade (até porque, trata-‐se de juízo valorativo bastante aberto). Para os magistrados, as condições de crise econômica e dificuldades financeiras no Brasil justificariam a tentativa de sair do país em busca de melhores condições de vida (do chamado “sonho americano”, por exemplo). Contudo, para utilizar juízo valorativo tão aberto faz-‐se necessário alguma diretriz, de modo que não ocorra tratamento diferenciado para diferentes agentes que praticam a mesma conduta sob as mesmas condições. Observação2: mais adiante neste curso, será possível observar que Roxin deu diretrizes valorativas fundamentais para o estudo de casos de inexigibilidade na culpabilidade. Antecipando resumidamente o tema, a ideia de Roxin é de que somente fará sentido reconhecer inexigibilidade quando não houver a necessidade preventiva da pena (prevenção geral). É dizer: a inexigibilidade só terá sentido se não gerar, no seio da sociedade, um estímulo ao cometimento de novos crimes. Diante do quadro descrito no Exemplo1, o STJ reformou as decisões de absolvição, afirmando que não se aplica a tais casos a inexigibilidade de conduta diversa. A lição que este caso concreto traz é a seguinte: se nos anos 90 (período em que tais crimes eram recorrentes) houvesse uma clara diretriz valorativa para a aplicação da inexigibilidade em tal situação, o direito teria sido aplicado de forma mais uniforme e segura. Muito embora o exemplo seja relativamente recente (isto é, não tenha ocorrido na época em que vigorou o pensamento neoclássico), foi suficiente para permitir que se visualizasse a diferença prática de um sistema valorativo com e sem diretrizes valorativas. Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 8 www.cursoenfase.com.br 2.4. Sistema Finalista -‐ Welzel Com as críticas à insegurança do Sistema Neoclássico, o pêndulo novamente se afasta das noções valorativas. Assim como o Sistema Clássico, o Sistema Finalista é caracterizado por uma desconfiança das valorações. Cabe frisar que, não obstante mantenha a característica de se afastar das valorações, o Sistema Finalista é muito diferente do Sistema Clássico. Assim, os finalistas pretendem impor alguns limites às valorações dos intérpretes e dos operadores do direito em função dos excessos cometidos no Sistema Neoclássico e a falta de diretrizes seguras que, como exposto anteriormente, geraram insegurança jurídica. Primeiramente, importante observar ao estudar os manuais de Direito Penal brasileiros pode-‐se ficar com a impressão de que a mudança do Sistema Neoclássico para o finalista ocorreu exclusivamente porque houve uma mudança no conceito de ação, Tal entendimento é parcialmente verdadeiro, eis que genuinamente o Sistema Finalista criou um novo conceito da ação (conceito final de ação – daí o nome Sistema Finalista). Antes do Sistema Finalista, tanto Clássico quanto Neoclássico trabalhavam com o conceito causal de ação – processo mecânico de causar um resultado (elemento puramente objetivo, sem características objetivas). Nascido entre os anos de 1930 e 1940, o Finalismo trouxe um novo conceito de ação. Porém, antes de se falar nisso, necessário pontuar que o Finalismo trouxe um novo método. É concebido, portanto, a partir de uma nova visão sobre o método de se estudar o Direito Penal. Para o método finalista, existem certas estruturas da natureza que devem ser respeitadas pelo legislador e trazidas para dentro do Direito Penal para solucionar problemas jurídicos. O legislador, portanto, não é livre para criar tudo que quiser, pois algumas coisas já estão na natureza e devem ser respeitadas. Injusto Ação + Relação de Causalidade + Resultado Dolo e culpa Culpabilidade 1) Imputabilidade 2) Potecial consciência da ilicitude 3) Exigibilidade de conduta diversa Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-‐se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 9 www.cursoenfase.com.br A tais estruturas os finalistas denominam de lógico-‐reais. As estruturas lógico reais devem ser respeitadas pelos juristas e legisladores na construção da Teoria do Delito.Está aí a limitação desejada os juízos valorativos: pode-‐se, por exemplo, legislar, mas nunca contra uma estrutura lógico real. Se existe determinada estrutura da natureza, ela deve ser respeitada e os valores adotados no Sistema não podem a ela contrariar. O Sistema Finalista pretendeu trazer estas estruturas para dentro do Direito Penal, e trazer a solução para problemas do jurídico-‐penais. Há duas estruturas mais importantes a citar: i) o agir humano de natureza finalista (conceito finalista de ação); e ii) o livre arbítrio das pessoas.
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