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Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 54 Capítulo 5 MÉTODO DOS FASORES Considere um circuito elétrico em que todas as fontes são alternadas senoidais com a mesma freqüência. Essa hipótese não é em absoluto irrealista, pois em um sistema elétrico todos os alternadores nas usinas geram tensão alternada senoidal com freqüência de 60 Hz, que é o padrão brasileiro. Considere ainda que todos os elementos de circuito são lineares e invariantes no tempo. Nesse caso, pode-se observar que, em regime permanente, todas as tensões e correntes no circuito terão forma de onda senoidal com a mesma freqüência. Esse importante fato pode ser compreendido com a ajuda das leis de Kirchhoff e das quatro propriedades apresentadas em seguida. Outra importante conseqüência desse fato é que, para se resolver um circuito elétrico com corrente alternada senoidal, pode-se utilizar o método dos fasores, evitando a solução de um sistema de equações diferenciais como feito na Aula 2. Propriedade 1: resistor linear Um resistor linear é descrito pela lei de Ohm: . Admitindo que a tensão nos terminais do resistor seja expressa por então a lei de Ohm garante que a corrente será dada por: . Portanto, em um resistor linear, tanto a tensão quanto a corrente têm forma de onda senoidal de mesma freqüência, bem como estão em fase, conforme ilustra a figura abaixo. Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 55 Propriedade 2: indutor linear No caso de um indutor linear, a equação descritiva é: . Assumindo que a corrente que circula no indutor é dada por então a equação descritiva exige que a tensão nos terminais do indutor seja: Desse modo, a tensão e a corrente em um indutor linear têm forma de onda senoidal de mesma freqüência, mas estão defasadas de , sendo que a corrente está atrasada em relação à tensão, conforme ilustra a figura abaixo. Propriedade 3: capacitor linear A equação descritiva de um capacitor linear é: . Admitindo que a tensão nos terminais do capacitor seja expressa por então sua equação descritiva garante que a corrente será dada por: Portanto, em um capacitor linear, tanto a tensão quanto a corrente têm forma de onda senoidal de mesma freqüência, porém estão defasadas de , sendo que a corrente está adiantada em relação à tensão, conforme ilustra a figura abaixo. Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 56 Propriedade 4: adição de senóides de mesma frequência Formas de onda senoidais possuem uma propriedade bastante curiosa e até mesmo surpreendente: “a soma (ou diferença) de duas formas de onda senoidais de amplitudes e fases quaisquer, porém de mesma freqüência, é também uma forma de onda senoidal com a mesma freqüência”. Essa propriedade pode ser demonstrada como segue, usando-se identidades trigonométricas: onde X = e Y = . A expressão pode ser escrita de forma equivalente como: Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 57 Esta última expressão sugere que X,Y e podem ser considerados como lados de um triângulo retângulo, e que portanto pode-se determinar, sem perda de generalidade, uma amplitude C e um ângulo , tais que; Utilizando-se essas definições, tem-se: Finalmente, lembrando-se da identidade trigonométrica do cosseno da soma de dois ângulos, chega-se a: Como aparecem somente tensões e correntes senoidais de mesma freqüência As propriedades 1, 2 e 3 indicam que em circuitos CA com fontes senoidais de mesma freqüência, com resistores, indutores e capacitores lineares e estacionários, e em regime permanente, as correspondentes equações descritivas desses elementos somente produzem formas de onda senoidais com a mesma freqüência das fontes, tanto para tensões quanto para correntes. Elas só diferem pela amplitude e fase. Por outro lado, sabe-se que a aplicação das leis de Kirchhoff resultam somente em operações de adição (ou subtração) de tensões ou correntes. Portanto, a propriedade 4 garante que essas operações só produzirão alguma tensão ou corrente que tenha forma de onda senoidal e com a mesma freqüência. Elas só diferirão pela amplitude e fase. Como a resolução de um circuito elétrico corresponde a resolver um conjunto de equações descritivas e equações obtidas através das leis de Kirchhoff, pode-se afirmar que em circuitos CA com fontes senoidais de mesma freqüência, com resistores, indutores e capacitores lineares e estacionários, e em regime permanente, todas as tensões e correntes são senoidais e de mesma freqüência. Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 58 Fasores Já que todas as tensões e correntes em um circuito CA são da forma senoidal com a mesma freqüência, diferindo somente na amplitude e fase, torna-se conveniente representá-las simbolicamente através de uma forma com características vetoriais, ou seja, definidas por uma magnitude e uma direção/sentido (do mesmo modo que uma força ou velocidade são representadas). Aqui, usa-se o valor eficaz da tensão ou corrente como magnitude e a fase da tensão ou corrente para indicar a direção/sentido. Desse modo, a forma de onda senoidal e a freqüência ficam subentendidas já que não introduzem nenhuma informação nova. Modernamente, essa representação vetorial de uma grandeza variando senoidalmente é chamada fasor. Representação de senóides por números complexos: uma brilhante idéia de Charles Steinmetz Um fasor pode ser representado por um número complexo. Esta forma de representação foi proposta, em 1893, por Charles Steinmetz (1865-1923), engenheiro da General Electric Co. (USA), um dos pioneiros da Engenharia Elétrica e particularmente das técnicas de circuitos de corrente alternada. Steinmetz usava a expressão “representação vetorial complexa de uma senóide”. O uso de números complexos para representar os fasores permite estabelecer regras bem definidas para realizar operações matemáticas com fasores, que obviamente são as mesmas definidas para os números complexos. Para evitar confusão em relação às fases, neste curso será considerado, por convenção arbitrária, que um fasor sempre representa uma função cosseno. Na literatura, às vezes se encontra o conceito de fasor associado a uma função seno, como mostrado na apostila da parte experimental. Um fasor, sendo um número complexo, pode ser representado graficamente em um plano complexo [Re,Im], conforme ilustra a figura abaixo, onde se mostra o fasor correspondente a uma tensão expressa por . Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 59 O fasor V da figura pode ser escrito na forma retangular: , em que , a é a parte real e b é a parte imaginária, ou então na forma polar: , em que Vef é o módulo e é o ângulo do fasor. Note que o módulo do fasor corresponde ao valor eficaz da tensão senoidal, já que este é o valor característico usado para especificar os equipamentos elétricos, bem como o ângulo do fasor corresponde à fase da tensão, que é expressa em graus por ser uma unidade que permite mais facilmente avaliar sua ordem de grandeza. De forma equivalente, pode-se utilizar um número complexo na forma exponencial para representar um fasor. Considere, por exemplo, a tensão de uma fonte alternada senoidal de 127 V, 60 Hz: O fasor dessa tensão na forma exponencial será: em que . A equivalência entre a forma polar e a forma exponencial pode ser explicada usando-se a fórmula de Euler: .A título de exemplo, na figura abaixo estão representados os fasores correspondentes à tensão e à corrente , ambos na formaexponencial. Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 60 Operações com fasores As operações matemáticas com fasores obedecem às mesmas regras das operações com números complexos. Considere um número complexo z expresso tanto na forma retangular: z = a+jb, quanto na forma polar: ou na forma exponencial: , onde r é o módulo e o ângulo. Nesse caso, valem as seguintes relações: que servem para passar de uma forma para outra. Dado um número complexo z, define-se número complexo conjugado da seguinte maneira: z* = a-jb ou ou . A representação gráfica de um número complexo no plano [Re,Im], bem como a de seu complexo conjugado, são mostradas na figura abaixo, evidenciando as relações entre as formas retangular, polar e exponencial. Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 61 As principais operações aritméticas com números complexos são definidas abaixo. Note que é mais fácil realizar as operações de adição ou subtração usando a forma retangular, enquanto que é melhor fazer as operações de multiplicação ou divisão usando as formas polar ou exponencial para representar os números complexos. Forma retangular: Seja z1=a1+jb1 e z2=a2+jb2. • adição ou subtração : . • multiplicação: • divisão : . Forma polar: Seja e . • adição ou subtração : mesma regra da forma retangular, considerando e . • multiplicação: . Lembrando de as identidades trigonométricas que fornecem o cosseno e o seno da soma de dois ângulos, tem-se: Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 62 Esse resultado permite estabelecer a seguinte regra para multiplicar dois números complexos na forma polar: multiplique os módulos e some as fases. • divisão: Substituindo-se , , e na expressão que define a divisão na forma retangular, bem como usando as identidades trigonométricas que fornecem o cosseno e o seno da diferença de dois ângulos, pode-se escrever: Esse resultado permite estabelecer a seguinte regra para dividir dois números complexos na forma polar: divida os módulos e subtraia as fases (numerador- denominador). Forma exponencial: Seja e . • multiplicação: (produto de funções exponenciais). • divisão : (divisão de funções exponenciais). A propósito de números complexos, você se deu conta como são poucas as pessoas. em toda a Humanidade. que sabem fazer contas com eles ? Saber números complexos é um privilégio intelectual. Pense nisso e anime-se! Impedância O conceito de impedância está diretamente relacionado com a resolução de circuitos alternados senoidais por meio do método dos fasores e por isso será introduzido aqui. Impedância de um elemento de circuito é definida como a razão entre o fasor da tensão entre seus terminais pelo fasor da corrente que atravessa o elemento: O conceito de impedância é uma generalização do conceito de resistência, sendo mais adequado para descrever o comportamento dos componentes de circuitos em corrente alternada. Assim como a resistência, a impedância de um componente exprime uma medida da oposição oferecida à passagem da corrente elétrica. Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 63 O conceito e o nome “impedância (impedance)” foram inventados pelo físico e engenheiro inglês Oliver Heaviside (1850-1925) no fim do século 19. A unidade de impedância é ohm, mesmo para elementos que não são resistores, pois é definido por um quociente entre tensão e corrente. Uma impedância é expressa por um número complexo, que pode estar na forma retangular, polar ou exponencial. Seja e . Então, a impedância Z pode ser expressa por: em que A propósito, por que uma impedância, embora sendo um número complexo, não é um fasor ? Pense nisso. Impedância de resistor linear Em um resistor linear já se sabe que, se a tensão for , então a lei de Ohm garante que a corrente será dada por: . Expressando a tensão e corrente em fasores, tem-se: e portanto a impedância de um resistor é: Note que a impedância de um resistor é igual a sua resistência, e que é um número complexo com parte real somente. Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 64 Impedância de indutor linear Já foi visto anteriormente que se a corrente que circula em um indutor linear é dada por então sua equação descritiva exige que a tensão nos terminais seja . Em termos de fasores, tem-se: e desse modo a impedância de um indutor é: Impedância de capacitor linear Sabe-se que se a tensão nos terminais de um capacitor linear é então sua equação descritiva exige que a corrente seja dada por: Expressando em fasores, tem-se: e portanto a impedância de um capacitor é: Note que as impedâncias de um indutor ou capacitor são números complexos imaginário puro (sem parte real) que variam com a freqüência de forma proporcional e inversamente proporcional, respectivamente. Desse modo, a impedância de um indutor aumenta quando a freqüência aumenta, enquanto que a impedância de um capacitor diminui quando a freqüência aumenta. Note ainda que as impedâncias de um indutor e de um capacitor estão em semiplanos opostos no plano complexo, significando que elas têm ações Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 65 contrárias em relação à defasagem entre tensão e corrente, ou seja, um indutor sempre atrasa a corrente e um capacitor adianta a corrente em relação à tensão. Reatância Uma impedância é sempre expressa por um número complexo. Utilizando a forma retangular para escrever números complexos, uma impedância qualquer pode ser expressa por: em que R representa a parte real e X a parte imaginária do número complexo. Essa parte imaginária, X, é chamada reatância e serve para indicar se a impedância tem um caráter indutivo (atrasa a corrente) ou capacitivo (adianta a corrente). A parte real, R, corresponde evidentemente a uma resistência. Para um indutor ideal, a impedância é expressa por um imaginário puro: e a reatância indutiva é dada por: Para um capacitor ideal, a impedância é expressa também por um imaginário puro: e a reatância capacitiva é dada por: Admitância Admitância é definida como o inverso da impedância. Portanto está associada à facilidade que um elemento de circuito oferece à passagem da corrente elétrica. Sendo o inverso da impedância, uma admitância é medida em ohm-1, também chamada de siemens. Associação de impedâncias e admitâncias Como o conceito de impedância é uma extensão do conceito de resistência, a associação em série ou paralelo de impedâncias segue as mesmas regras válidas para resistências. Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 66 No caso de admitâncias, a associação em série ou paralelo segue regras semelhantes à associação de capacitores, ou seja: admitâncias em paralelo são somadas e admitâncias em série somam-se os inversos e inverte-se. Método dos fasores Este método sintetiza um modo operacional para resolver circuitos alternados senoidais com componentes lineares e estacionários, em regime permanente. O método dos fasores consiste basicamente nas etapas mostradas em seguida: • Transforme o circuito do domínio do tempo para o domínio dos fasores (plano complexo), usando o conceito de fasor para exprimir todas as tensões e correntes, e o conceito de impedância para representar todos os elementos de circuito; • Resolva o problema no domínio dos fasores,fazendo o diagrama fasorial, se conveniente; • Retorne ao domínio do tempo, se necessário, usando o conceito de fasor. A aplicação do método dos fasores evita a resolução de um sistema de equações diferenciais no domínio do tempo (o que pode ser trabalhoso) através da transformação do problema para o domínio dos fasores, onde pode ser resolvido por meio de equações algébricas (o que é mais simples), embora envolvendo números complexos. De certa maneira e embora pareça contraditório, os números complexos servem para tornar as coisas mais simples. Pense nisso. Exemplo de aplicação: fonte senoidal com carga indutiva Considere um circuito elétrico cujo modelo é um resistor linear em série com um indutor linear, alimentados por uma fonte ideal de tensão alternada senoidal, conforme ilustra a figura abaixo: O problema consiste em: (a) obter-se a corrente que a fonte fornece: (b) obter-se a tensão nos terminais do resistor e do indutor; e (c) obter-se a impedância total vista pela fonte, Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 67 assumindo-se os dados: , e com . A resolução desse circuito pelo método dos fasores deve seguir os passos já mencionados. A primeira providência é escrever os fasores e impedâncias conhecidos: A transformação do domínio do tempo para o domínio complexo dos fasores resulta no circuito mostrado abaixo; Aplicando-se, nesse circuito, a lei das malhas de Kirchhoff, tem-se: Usando a definição de impedância, pode-se escrever: Explicitando a incógnita I, obtém-se a solução para o item (a): A resposta ao item (b) é: Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 68 Observe que, no domínio dos fasores, somente se trabalha com os valores eficazes das tensões e correntes senoidais. A impedância total vista pela fonte é: Embora não seja essencial para resolver o circuito, o diagrama fasorial orienta a solução, permite visualizar as relações entre tensões e correntes, e verificar se a solução faz sentido. O diagrama fasorial do problema está mostrado abaixo. Note que só aparecem fasores (de tensão ou corrente) e nada mais. Lembre-se que impedâncias, embora sejam representadas por números complexos, não são fasores e, portanto, não devem aparecer em diagramas fasoriais. Fazendo agora o caminho de volta do domínio dos fasores para o domínio do tempo, pode- se escrever diretamente as expressões senoidais para as tensões: e para a corrente fornecida pela fonte à carga: As formas de onda da tensão da fonte (escolhida como referência angular) e da corrente podem ser vistas na figura abaixo: Capítulo 5 – Método dos Fasores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 69 O diagrama abaixo ilustra de forma esquemática o funcionamento do método dos fasores para resolver circuitos de corrente alternada senoidal em regime permanente.
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