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G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A UNIDADE 2 O PROCESSO ORÇAMENTÁRIO NAS EMPRESAS ObjETIvOS DE APRENDIzAgEM A partir do estudo desta unidade você estará apto a: conhecer de que maneira a empresa é percebida como um sistema; compreender as características do sistema organizacional de uma empresa; aprender de que forma uma empresa pode ser vista como um sistema aberto e dinâmico; compreender o que é um orçamento e quais são seus objetivos; conhecer por que se deve realizar um orçamento e qual é a sua função para o administrador; identificar qual a contribuição do orçamento para o trabalho do gestor da empresa; conhecer os principais tipos de orçamentos existentes; compreender a maneira como o orçamento exerce influência nos administradores da empresa quanto ao seu aspecto comportamental. avaliar a importância da gestão para a implantação de um processo orçamentário. TÓPICO 1 – SISTEMA EMPRESA TÓPICO 2 – TIPOS DE ORÇAMENTOS E SUAS APLICAÇÕES TÓPICO 3 – IMPLANTAÇÃO DO ORÇAMENTO EMPRESARIAL PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em três tópicos e no final de cada um deles você encontrará atividades que o(a) ajudarão a consolidar o seu aprendizado. G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A SISTEMA EMPRESA 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 1 No estudo do processo orçamentário nas empresas é necessário conhecer o sistema empresa para a identificação e compreensão das atividades e departamentos que interagem entre si. Para uma empresa ter um bom funcionamento, precisa que todos os seus departamentos estejam em franca harmonia e funcionamento. O sistema empresa esclarece esses mecanismos, considerando que além do seu ambiente interno a empresa interage num ambiente externo, ao qual deve adequar-se constantemente para manter-se no mercado. Por isso, para que o processo orçamentário seja elaborado de acordo com a realidade de mercado em que a empresa está inserida, é fundamental conhecermos a empresa como um sistema. Veremos isso no decorrer deste tópico. Vamos lá! UNIDADE 2 2 A EMPRESA COMO UM SISTEMA 2.1 CONCEITO DE EMPRESA Na sociedade atual a maioria da população, em idade produtiva, tem ou teve algum tipo de envolvimento com alguma empresa, como funcionário, sócio-acionista, prestador de serviços, dentre outros vínculos. Você sabe dizer o que é uma empresa? Podemos dizer que uma empresa é definida como uma união de esforços financeiros, UNIDADE 2TÓPICO 166 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A físicos e intelectuais, com a finalidade de criar e, consequentemente, transacionar produtos ou serviços no mercado interno e/ou externo, resultando na formação e circulação de capital que possa trazer benefícios econômicos e utilidade social. Em outras palavras, é uma entidade constituída juridicamente (que possui registro na Junta Comercial e na Receita Federal), ou não, que exerce atividade econômica de produção, transformação, comércio ou prestação de serviços, podendo ter fins lucrativos, filantrópicos ou sociais. Conforme Padoveze (2009, p. 13), “a empresa é um sistema em que há recursos introduzidos, que são processados, e há a saída de produtos ou serviços”. Na mesma linha de raciocínio, Figueiredo e Caggiano (2008, p. 8) mencionam que “a empresa é uma unidade produtora que visa criar riquezas, transacionando em dois mercados, um fornecedor, outro consumidor”. 2.2 CONCEITOS DE SISTEMA EMPRESA Para facilitar a compreensão do sistema organizacional de uma empresa, deve haver primeiramente um reconhecimento do conjunto de departamentos que integram a organização, bem como das atividades desempenhadas pelos mesmos, uma vez que tais funções têm por finalidade propiciar a sustentabilidade da empresa no mercado. Antes de prosseguirmos, vamos conhecer o que é um sistema. Beer (1969, p. 25) define que “qualquer coisa que consiste em partes unidas entre si pode ser chamada de sistema, podem ser apontadas como agregados de pedaços e peças [...]”. Para Bio (1985, p.18), o sistema é “[...] um conjunto de elementos interdependentes, ou um todo organizado, ou partes que interagem formando um todo unitário e complexo”. Em uma empresa, sempre ouvimos dizer que as “coisas” no seu ambiente funcionam corretamente quando existe a harmonia das atividades relacionadas entre si. E como podemos identificar isso? Tomemos como exemplo um conjunto de funções relacionadas ao setor de projetos de uma empresa, onde os funcionários têm a função de elaborar o desenho de um determinado tipo de produto. A área de projetos, com base nas dimensões estruturadas, identificará os tipos de materiais necessários à produção desse produto. O setor de administração da produção necessita dessas informações para elaborar as planilhas de cálculo do tempo estimado da produção e saber quais os tipos de matérias que serão utilizados. Prosseguindo nessa cadeia de atividades, o departamento de compras realizará as cotações de preços e pesquisará os fornecedores com UNIDADE 2 TÓPICO 1 67 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A melhores preços, prazos e qualidade, para ter uma noção de quanto se gastaria na aquisição de insumos e matéria-prima necessária à fabricação do produto. Por sua vez, a área de custos apurará os valores necessários para a sua produção e identificará a margem de lucratividade ideal para manter a perenidade (a sobrevivência) da empresa no mercado. Para compreender essa interatividade na organização, Bertalanffy (1977, p. 53) salienta que: “[...] é necessário estudar não somente as partes e processos isoladamente, mas também resolver os decisivos problemas encontrados na organização e na ordem que os unifica, resultante da interação dinâmica das partes [...]”. IMPO RTAN TE! � Então quer dizer que a empresa é “dividida” em partes e essas interagem entre si? Sim, cada departamento tem a incumbência de realizar uma atividade ou tarefa, e o resultado é a interação de forma harmoniosa até chegar ao produto final. Por isso dizemos que a empresa é um sistema, ou seja, um sistema empresa. Para a empresa funcionar bem precisa que todos os seus departamentos estejam em franca harmonia e funcionamento, pois sem as informações de determinado departamento o gestor de outro departamento poderá tomar decisões equivocadas. UNI A empresa precisa ser observada como um organismo vivo? Sim, um organismo que depende de diversos outros órgãos para o seu excelente funcionamento. A empresa não é um sistema fechado (que não recebe influência de fatores externos, como o governo e/ou a sociedade em geral, dentre outros), e sim um sistema aberto (que recebe influência de fatores externos a ela, como o governo, a economia, os fornecedores, dentre outros) que implica em diversos fatores, como recursos financeiros, gestão de pessoas, de capital e de produção, além dos fatores econômicos e sociais. De modo geral, as empresas possuem as mesmas características de interatividade de funções, porque elas também fazem parte de um macrossistema que fornece seus serviços para um conjunto de empresas que agregam seus bens ao produto final. UNIDADE 2TÓPICO 168 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A ATEN ÇÃO! As empresas devem estar preparadas para se adequarem às constantes mudanças que acontecem no mercado, pois isto é fundamental para a sua manutenção e sobrevivência. Em outras palavras, ADEQUAR-SE E MELHORAR SEMPRE. Kochanski (2000, p. 54) afirma que: “Quando umaorganização passa a oferecer valor agregado a seus produtos e/ou serviços, o mercado reage naturalmente, exigindo que as demais organizações também passem a oferecer valor agregado a seus produtos e serviços, levando-as a se tornarem mais competitivas”. Em relação aos fatores macroeconômicos, Tung (1974, p. 29) demonstra que: Nenhuma empresa pode, hoje, permitir-se o luxo de ignorar os acontecimentos do mundo exterior. A interdependência das empresas entre si e destas com o Estado em particular, é patente. A sobrevivência dos negócios depende, em grande parte, do conhecimento, dos fatos atuais e da previsão dos aconteci- mentos futuros, tanto no plano nacional, quanto no internacional. Respondendo aos estímulos do mercado, as empresas procuram se adequar à nova realidade econômica e, nas constantes reestruturações, buscam a competitividade. Cruz (1998) aborda que existem dois tipos de comportamentos: o operacional e o estratégico, pelos quais a empresa interage com o ambiente que a cerca e que se complementam entre si, dando um caráter holístico que toda organização deve ter. Devemos tomar cuidado e observar que, com esse mercado dinâmico, muitas empresas também poderão desaparecer, mas apenas o cuidado não garante a sustentação da empresa no mercado. Podemos entender que não apenas os fatores internos, mas todas as atividades externas repercutem no funcionamento da empresa. [...] em princípio é uma fase de constantes ajustes e reajustes, pois qualquer tra- balho atual constitui apenas um teste para o futuro, cujo alvo é a meta do desen- volvimento global. O cenário financeiro-econômico nacional repercute sempre, direta ou indiretamente, sobre as atividades da empresa. (TUNG, 1974, p. 29). Para entendermos como uma empresa transforma recursos materiais, humanos, financeiros, tecnológicos, dentre outros, em produtos e serviços que são destinados ao mercado, observe a Figura 4: UNIDADE 2 TÓPICO 1 69 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A FIGURA 4 – VISÃO SISTÊMICA DA EMPRESA FONTE: Adaptado de Catelli (1999, p. 39) Na Figura 4 você pode visualizar, de forma bastante simplificada, que a empresa é percebida como um sistema. Quer dizer que a empresa pode ser vista de forma sistêmica? Sim. Naturalmente, diversos fatores externos à empresa, como o governo, as políticas econômicas, a relação entre fornecedores e clientes podem frequentemente alterar a sua dinâmica. Isto significa que ao mesmo tempo em que a empresa precisa interagir no seu ambiente interno, também sofre a influência do ambiente externo, conforme podemos observar na figura a seguir: UNIDADE 2TÓPICO 170 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A FIGURA 5 − A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE INTERNO E EXTERNO NA EMPRESA (MACROSSISTEMA) FONTE: Disponível em: <http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/lucineiagomes/som001. asp>. Acesso em: 21 nov. 2011. As empresas recebem do mercado fornecedor os diversos tipos de matérias-primas e insumos que, nas atividades internas, serão processados, gerando novos produtos, que serão disponibilizados ao mercado consumidor. Todos esses fatores podem se constituir em oportunidades e ameaças à sobrevivência da empresa no mercado. Para garantir a sua continuidade é necessário que a empresa mantenha sua capacidade de mudanças e adaptações aos diversos fatores que a influenciam tanto internamente quanto externamente. 2.3 CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA ORGANIZACIONAL DE UMA EMPRESA A partir das considerações do item anterior, entendemos que a união dos departamentos integrantes de uma empresa resulta em um sistema organizacional, dentro do qual existe uma ordem hierárquica a ser respeitada em decorrência do agrupamento humano integrante da organização. Para que o sistema empresa tenha um bom funcionamento, é dividido em vários subsistemas, que são os seguintes: a) institucional: também denominado de matriz, responsável pelos demais subsistemas, compreende a missão, assim como crenças e valores da organização; b) gestão: é o responsável pelo processo de tomada de decisões, pois abrange as atividades UNIDADE 2 TÓPICO 1 71 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A de planejamento, gerenciamento e mecanismo de controle interno; c) organização: é como a empresa está organizada, o tipo de estrutura empregada (vertical ou horizontal), o grau de autoridade e atribuição de responsabilidade. O objetivo é assegurar que todas as atividades da organização sejam desenvolvidas de forma ética, sendo influenciadas pelo subsistema institucional; d) social: abrange o quadro funcional da empresa, incluindo-se nessa esfera a cultura e demais características inerentes ao capital intelectual da organização. Guerreiro (1996, p.171) destaca os seguintes fatores que envolvem este subsistema: “necessidades dos indivíduos; criatividade; objetivos individuais; motivação; liderança; treinamento etc.” e) informação: tendo em vista a atual dinâmica dos mercados como um todo, este subsistema aparece com considerável importância, pois consiste no conjunto de dados necessários para uma melhor tomada de decisão dos gestores da empresa. Guerreiro (1996, p. 172) enfatiza que: [...] dentre as inúmeras atividades executadas no âmbito da empresa, existem aquelas que objetivam basicamente a manipulação de informações. Elas ge- ram essas informações através da manipulação (processamento) de dados derivados da execução das diversas atividades necessárias ao desenvolvi- mento das funções empresariais básicas. Essas atividades se caracterizam por três aspectos básicos: recebimento de dados, processamento e geração de informações. Os dados gerados nesta categoria buscam um elevado grau de excelência, eliminando a criação de atividades desnecessárias, o que resulta em um melhor procedimento de gestão. f) físico-operacional: compreende as instalações físicas e equipamentos necessários para a realização das atividades inerentes à produção de bens e serviços desenvolvidos pela empresa. Nesse contexto ficam excluídos os funcionários, pois estão vinculados ao modus operandi do know-how. Como exemplos, citam-se os procedimentos de compras, produção, vendas, finanças, manutenção, entre outros. Veja agora a figura esquemática de uma empresa a qual inclui os subsistemas que descrevemos até aqui. UNIDADE 2TÓPICO 172 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A FIGURA 6 – VISÃO SISTÊMICA DA EMPRESA, SUBSISTEMAS E EFICIÊNCIA FONTE: Adaptado de Padoveze (2009) Um dos pontos fundamentais do funcionamento dos subsistemas com sinergia e eficácia é a existência de um objetivo a ser alcançado para onde convergem todas as ações. Veremos este assunto no próximo item. 2.4 MISSÃO DA EMPRESA A missão de cada empresa encontra-se ligada ao seu respectivo motivo básico de existência, notadamente correlacionado aos produtos e serviços oferecidos por ela junto ao mercado, visando à satisfação de seu público-alvo. O próprio conceito de sistema envolve a ideia [sic] de partes que interagem para alcançar um objetivo em comum. Assim, os diversos componentes do sistema empresa interagem, para que esta atinja seus objetivos. Por objetivo entende-se o alvo ou desígnio a que se quer atingir. São vários os objetivos de uma empresa, que poderiam ser classificados por hierarquia de importância e temporaneidade. O objetivo fundamental, isto é, o mais importante e perma- nente, é a sua missão. (MOSIMANN; ALVES; FISCh, 1993, p. 19). De acordo com Padoveze (2009), a missão constitui o propósito da empresa e do seu negócio, portanto deve comunicar interna e externamente. Ela deve ser escrita de forma objetiva e breve,compreendendo as atividades da empresa, o mercado de atuação, os produtos e serviços oferecidos, a sua diferenciação e o seu papel em relação a seus concorrentes e às principais conquistas que se quer atingir. UNIDADE 2 TÓPICO 1 73 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A Como exemplo, veja a transcrição da missão da empresa de cosméticos Avon: Nossa Missão • Ser líder global em beleza • Ser a marca de escolha das mulheres • Ser líder em vendas diretas • Ser o melhor lugar para se trabalhar • Ser a maior Fundação para as mulheres • Ser a empresa mais admirada FONTE: Disponível em: <http://www.avonculturadevida.com.br/premioavon/visao.html>. Acesso em: 27 mar. 2015. É importante que a missão seja definida com muita clareza, uma vez que para ela convergirá o sistema organizacional da empresa por meio dos seus subsistemas. Em algumas empresas, a missão não é explicitada. No momento em que a entidade opta por explicitar a sua respectiva missão, deve considerá-la como diretriz permanente, a fim de direcionar as finalidades socioeconômicas de tais instituições. Caso a missão seja evidenciada de maneira errônea, poderá vir a se desvirtuar de seus reais propósitos, não permitindo aos gestores o conhecimento das necessidades imediatas da empresa. Agora que você já sabe o que é um sistema organizacional e compreende a importância de uma empresa ter a missão definida claramente, podemos passar para o próximo assunto: os fatores que influenciam o desenvolvimento da empresa, como os financeiros, o mercado concorrente, a política econômica e social, entre outros. 2.5 A EMPRESA COMO SISTEMA ABERTO Em todos os setores empresariais, as empresas apresentam as concepções de um sistema aberto. Como já vimos no item 2.2 – Conceitos de Sistema Empresa, os fatores externos influenciam de forma relevante nas empresas. O autor Tung diz o seguinte: No regime de livre comércio, o alvo da empresa é o maior lucro possível, con- ciliável com o seu crescimento a longo prazo e também com o bem-estar da coletividade, mediante o atendimento das suas necessidades. Para atingir esse objetivo, a tarefa da empresa seria a de determinar quais as necessidades ou desejos desta mesma coletividade, para depois organizar-se do ponto de vista da produção e da comercialização. Essa tarefa é contínua, pois as necessidades e os desejos dos homens sofrem alterações permanentes. Para que a empresa consiga maior lucro, cada setor de atividade deverá procurar aplicar métodos eficientes, a partir de uma análise acuradamente elaborada. (1974, p. 27). UNIDADE 2TÓPICO 174 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A Então, o que acontece fora da empresa pode influenciar nas decisões tomadas pelos gestores de cada departamento dentro da empresa. Para reforçar essa concepção, Bio (1985, p. 18) ressalta que: Uma das implicações críticas dos conceitos de sistemas na Administração é justamente a concepção da empresa como um sistema aberto, pois tal visão ressalta que o ambiente em que vive a empresa é essencialmente dinâmi- co, fazendo com que um sistema organizacional, para sobreviver, tenha de responder eficazmente às pressões exercidas pelas mudanças contínuas e rápidas do ambiente. É importante ressaltar que cada decisão tomada, inclusive por dirigentes políticos, pode afetar o andamento das empresas e implicar na necessidade de tomadas de decisões, mudando estratégias e ações já previstas. Por exemplo, se determinadas empresas exportam alguns tipos de produtos, e na política econômica daquele país foi aplicada alguma lei protecionista referente a estes produtos, essas empresas deverão rever seus planos de expansão, pois assim não terão condições de buscar esses mercados. Por isso é importante simular diversos cenários e analisar como a empresa reagiria a determinados acontecimentos no mercado. Isso pode prever diversos problemas futuros. Chiavenato (2000, p. 552) afirma que: “A organização é um sistema criado pelo homem e mantém uma dinâmica interação com seu meio ambiente, sejam clientes, fornecedores, concorrentes, entidades sindicais, órgãos governamentais e outros agentes externos”. As empresas que atuam no mercado nacional e internacional têm a necessidade de sempre estarem atualizadas e preparadas para as constantes e inevitáveis mudanças de mercado, as quais estão relacionadas com aspectos financeiros, políticos, econômicos e fatores macroeconômicos, entre muitos outros aspectos e fatores que influenciam diretamente no seu desenvolvimento. Enfim, pode-se afirmar que são as constantes mutações internas e externas das organizações, decorrentes do ambiente em que estão inseridas, o motivo que as levam à sobrevivência no mercado competitivo. A amplitude de acontecimentos nacionais e internacionais implica diretamente na empresa, o que a leva a realizar intercâmbios com o meio, por intermédio dos quais angaria pontos importantes necessários à viabilidade da entidade, capacidade reprodutiva e adaptativa, resultando em sua continuidade. O mercado mundial é dinâmico e, diante disso, Kochanski (2000, p. 54) afirma categoricamente que: “aquelas que ainda não se adequaram ou ainda não estão se adequando a este novo contexto mercadológico irão sentir-se forçadas a adaptarem-se ou irão desaparecer do mercado rapidamente [...]”. UNIDADE 2 TÓPICO 1 75 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A Schein (1987 apud NAKAGAWA, 1993, p. 23-24) também estabelece a sua concepção de empresa a partir do sistema aberto, da seguinte forma: a) a empresa deve ser concebida como um sistema aberto, o que significa que ela se encontra em constante interação com todos os seus ambientes, absorvendo matérias-primas, recursos humanos, energia e informações, transformando-se em produtos e serviços, que são exportados para esses ambientes; b) a empresa deve ser concebida como um sistema de múltiplas finalidades ou funções, que envolvem múltiplas interações entre ela e seus diversos ambien- tes. Muitas atividades dos subsistemas existentes na empresa não podem ser compreendidas sem que se considerem essas múltiplas interações e funções; c) a empresa é constituída de muitos subsistemas que estão em interação dinâmica uns com os outros. Em vez de se analisarem os fenômenos organiza- cionais em termos de comportamento individual, cada vez se torna mais impor- tante analisar o comportamento desses subsistemas, que sejam considerados em termos de coalizões, grupos, funções ou de outros elementos conceituais; d) devido ao fato de que os subsistemas, em graus variáveis, são interdepen- dentes, as modificações ocorridas em um sistema, provavelmente, afetam o comportamento dos outros subsistemas; e) a empresa existe dentro de um conjunto de ambientes, alguns maiores, ou- tros menores do que ela. Os ambientes, de diversos modos, fazem exigências e oferecem restrições à empresa e a seus subsistemas. O funcionamento total da empresa não pode ser compreendido, portanto, sem explícita referência a essas exigências e restrições e a maneira como ela os enfrenta a curto, médio e longo prazos; f) as numerosas vinculações entre empresa e seus ambientes tornam difícil especificar claramente seus limites. Brito (2003, p. 31) aborda que o relacionamento entre os cenários poderá implicar na continuidade da empresa, pois ele entende que “[...] o processo de montagem de cenários deve ser visto como processo evolutivo, no qual frequência e disciplina são muito importantes [...]”. 2.6 A EMPRESA COMO SISTEMA DINâMICO Para entendermos o chamado “movimento sistêmico” que mantém a empresa em constante formação ou transformação, é importante estudar o que é empresa como um sistema dinâmico.A palavra “DINÂMICA” significa que todas as coisas se transformam com a influência de outros fatores ou mecanismos existentes. A empresa processa, executa e operacionaliza as suas atividades a partir do momento em que os gestores utilizam a força decisória para a tomada de decisões. Isso quer dizer que as coisas somente acontecem quando alguma pessoa do comando da empresa “FAZ ACONTECER”. Catelli (1999, p. 39) corrobora que “[...] a empresa encontra-se permanentemente interagindo com seu ambiente. Como um sistema dinâmico, realiza uma atividade, ou um conjunto de atividades, que a mantém em constante mutação e requer que seja constantemente orientada ou reorientada para a sua finalidade principal”. UNIDADE 2TÓPICO 176 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A O sistema externo e interno de uma empresa pode ser identificado conforme a Figura 7. FIGURA 7 – CONTEXTO DAS ATIVIDADES NO SISTEMA EMPRESA FONTE: O autor Para compreender o que apresenta a figura, vamos utilizar o seguinte exemplo: Uma empresa do ramo industrial, conforme o conceito de sistema empresa, está inserida na produção em escala. Esta empresa interage desde o recebimento dos pedidos até a entrega do produto final aos seus clientes. Ela adquire a matéria-prima que se encontra disponível no mercado e transforma essa mesma matéria-prima em outros produtos que retornarão ao mercado sob a forma de produto pronto ou acabado. E o que isso tem a ver com a empresa como um ambiente dinâmico? Tem tudo a ver, por sinal. Então vamos lá! A empresa exerce um papel fundamental no funcionamento da cadeia de relacionamentos. Já vimos anteriormente que existem diversos fatores externos, como o mercado, a política econômica, o governo, a concorrência e a sazonalidade. Esses fatores influenciam tanto as corporações contratantes de produtos ou serviços como as empresas de produção em escala. A primeira poderá fornecer insumos para a segunda, que produz em escala, somente se houver harmonia com os fatores externos. Qualquer anormalidade poderá colocar em risco as suas atividades e, como resultado, poderão faltar ou sobrar produtos no mercado. Em seguida... As grandes corporações industriais fornecem os insumos necessários UNIDADE 2 TÓPICO 1 77 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A para empresas de menor porte, que transformarão os insumos em produtos acabados, ou prestarão serviços às grandes corporações. Em ambos os casos estas empresas também necessitam de outros serviços, como energia elétrica, mão de obra, água, telefone, material de expediente, dentre outros, movimentando a economia. Prosseguindo... Ao encerrar a produção ou a prestação de determinado serviço, a empresa de menor porte retorna os produtos elaborados para o seu contratante de serviços (as grandes corporações) e, através da entrega, conclui-se o processo produtivo. Continuando... As grandes corporações disponibilizam seus produtos ao mercado consumidor. Por sua vez, o mercado consumidor poderá ou não consumir esses produtos, dependendo dos estímulos provocados pelos fatores externos, como mercado, política econômica, governo, concorrência, sazonalidade, tendências da moda, dentre outros. Esse processo se transforma em um ciclo. Portanto, para a continuidade dos empreendimentos, faz-se necessário que todos os segmentos empresariais estejam em consonância com os estímulos externos e internos, formando uma cadeia de relacionamentos. ATEN ÇÃO! Se há consumo, há produção. O inverso poderá paralisar a economia. Para reforçarmos esse pensamento, também buscamos a contribuição de Chiavenato, que diz o seguinte: Como todos os sistemas sociais, as organizações são sistemas abertos, afe- tados por mudanças em seus ambientes, denominados variáveis externas. O ambiente não tem fronteiras e inclui variáveis desconhecidas e incontroladas. Por essa razão, as consequências dos sistemas sociais são probabilísticas e não determinísticas e o seu comportamento nunca é totalmente previsível. As organizações são complexas e respondem a muitas variáveis que não são totalmente previsíveis. (2000, p. 553). IMPO RTAN TE! � As empresas existem de acordo com as respostas aos estímulos externos ou internos. UNIDADE 2TÓPICO 178 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A De certa forma, podemos afirmar que as empresas estão inseridas em sistemas abertos, que trocam produtos e serviços no ambiente em que atuam e que formam um elo entre o próprio mercado fornecedor de insumos e o mercado consumidor. Podemos dizer que existe uma interface neste mercado? Com certeza, podemos afirmar isso. O que ocorre através da inter-relação entre um sistema e o ambiente em que está estruturado é chamado de interface. Essa interface propõe respostas aos estímulos do mercado onde a empresa está inserida, reconhecendo-se essas interações entre todos esses elementos. Para muitos estudiosos da economia, a empresa responde aos estímulos do mercado exterior. Esses estímulos estão relacionados com a sua produção (compra de insumos), controles internos, venda de produtos, contratação de mão de obra (aspectos sociais), dentre outras, com o objetivo da maximização dos seus resultados (em busca do lucro). Entende-se que a interação de sistemas é complexa e a busca para a harmonização dos seus elementos acontece de acordo com o estilo de administrar de cada empresa. 2.7 MODELO CONCEITUAL DE SISTEMA EMPRESA Vimos, até agora, que as empresas estão inseridas em um ambiente que podemos chamar de organismo vivo, pois todo o mercado, a produção, o consumo, as finanças, o planejamento, dentre outras coisas mais, estão em constantes mutações. Para exemplificar o que vem a ser esse ambiente de inter-relações, apresentamos a Figura 8 como sendo um modelo conceitual de sistema empresa. UNIDADE 2 TÓPICO 1 79 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A FONTE: Adaptado de Coronado (2001, p. 69) O Resultado Econômico, em destaque na figura, é o resultado da interação dos fatores oriundos das entidades remotas (econômica, social, política, tecnológica, dentre outras) com as variáveis ambientais (ambientes onde se desenvolvem as entidades remotas, como compras, vendas, transportes, dentre outros) que interagem com o ambiente interno da empresa, que, de acordo com as principais funções e atividades (como produzir, vender, dentre outras), geram o resultado almejado. ATEN ÇÃO! Esse RESULTADO ECONÔMICO pode ser o Lucro ou o Prejuízo. Qual a influência que a concorrência exerce no sistema empresa? A concorrência exerce um papel fundamental no sistema empresa, ela faz parte dos fatores externos da empresa que FIGURA 8 – VISÃO SISTÊMICA DA EMPRESA ~ UNIDADE 2TÓPICO 180 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A podem afetar o resultado econômico. De que forma? De diversas formas. As decisões que os gestores das empresas concorrentes tomam afetam positivamente ou negativamente. Se o gestor da empresa concorrente decidir baixar o preço e, por conseguinte, diminuir a qualidade dos seus produtos, corre o risco de afetar a manutenção da perenidade dos seus negócios no mercado; no entanto, se o gestor da empresa concorrente decidir melhorar a qualidade dos produtos sem elevar demais seus preços, isto poderá afetar a perenidade dos negócios das outras empresas do mesmo ramo de atividades. Portanto, uma empresa exerce, diretamente ou indiretamente, influência na outra. De certa maneira, o resultado econômico é alcançado com a utilização de todos esses recursos, que são transformados em produtos ou serviços oferecidos ao mercado,que remuneram as suas atividades. Por sua vez, os consumidores em geral são aqueles que se utilizam desses produtos ou serviços das empresas. Mas essa cadeia produtiva encontra-se alicerçada em uma série de decisões tomadas pelos seus gestores. Coronado (2001, p. 97) explica que: Decisões dizem respeito à identificação de eventos futuros. Eventos, por sua vez, referem-se à classe de transações, por exemplo, um conjunto homogêneo de transações de vendas forma o evento vendas. Logo, um evento econômico representa um acontecimento que modifica a estrutura patrimonial da empresa. Ressalta-se que esses resultados são reflexos das movimentações financeiras geradas pelas decisões tomadas, pois, com a escassez dos recursos financeiros no mercado, é preciso tomar decisões convenientes para não comprometer os resultados da companhia. Essas decisões podem estar relacionadas ao tipo de recurso que a empresa necessita (a forma de financiamento), as habilidades desenvolvidas pelos profissionais e aos recursos tecnológicos disponíveis. Isso impacta nos resultados da empresa, e essas decisões estão fundamentadas nas ferramentas dos ORÇAMENTOS, que são suficientemente capazes de fornecer informações para gerar os melhores resultados. ATEN ÇÃO! Ferramentas de ORÇAMENTOS são suficientemente capazes de fornecer informações para gerar os melhores resultados. Já é possível compreender que as empresas podem ser determinadas como organismos vivos que interagem no ambiente social, econômico e outros. Esse dinamismo (ambiente dinâmico) é gerado pelo esforço da tomada de decisões dos seus gestores. Essas decisões podem afetar a continuidade (perenidade) dos negócios da empresa e, portanto, podem e devem ser determinadas com base nas ferramentas de orçamentos, que são elaborados a partir dos estímulos dos gestores em resposta ao mercado no seu ambiente de atuação. UNIDADE 2 TÓPICO 1 81 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico vimos: • Com a Teoria dos Sistemas pode-se entender que as empresas interagem como organismos vivos e sofrem a influência dos ambientes interno e externo para a manutenção da sua sobrevivência. • Na organização empresarial, os departamentos são dependentes entre si, na busca da realização dos seus objetivos. • Diversos fatores externos à empresa, como o governo, as políticas econômicas, a relação entre fornecedores e clientes, podem frequentemente alterar a sua dinâmica. • O sistema organizacional de uma empresa é dividido em vários subsistemas, que são: institucional, gestão, organização, social, informação e físico-operacional. • A missão deve ser escrita de forma objetiva e breve, compreendendo as atividades da empresa, o mercado de atuação, os produtos e serviços oferecidos, a sua diferenciação e o seu papel em relação a seus concorrentes e às principais conquistas que se quer atingir. • A empresa é uma organização compreendida como um sistema aberto, pois diversos fatores externos influenciam na tomada de decisões de seus gestores. • A empresa é uma organização compreendida como um sistema dinâmico, pois realiza uma atividade, ou um conjunto de atividades, que a mantém em constante mutação e requer que seja constantemente orientada ou reorientada para a sua finalidade. • O modelo Conceitual de Sistema Empresa é importante para identificar e apurar com mais facilidade o Resultado Econômico, levando em consideração a interação de fatores oriundos dos ambientes internos e externos da empresa. UNIDADE 2TÓPICO 182 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A AUTO ATIVI DADE � 1 Como se processam, na cadeia de atividades, as premissas que foram abordadas em Teoria de Sistemas? 2 Para que o sistema empresa tenha um bom funcionamento, é dividido em vários subsistemas. Um dos itens que aborda esse assunto está relacionado com a seguinte definição: “É o responsável pelo processo de tomada de decisões, pois abrange as atividades de planejamento, gerenciamento e mecanismo de controle interno”. Assinale a alternativa correta: a) ( ) institucional b) ( ) gestão c) ( ) organização d) ( ) social 3 Conforme os conceitos e características do Sistema Empresa, explique o funcionamento da interatividade das funções. 4 Como funciona um sistema aberto para todos os setores empresariais? 5 No estudo da empresa como um sistema dinâmico, qual o significa a palavra DINÂMICA? 6 Explique o que são entidades remotas no modelo conceitual do sistema empresa. 7 Explique o que são variáveis ambientais no modelo conceitual do sistema empresa. 8 Explique o que é o ambiente interno da empresa no modelo conceitual do sistema empresa. 9 Explique o que significa Resultado Econômico. 10 Assinale a alternativa que corresponde a “Resultado Econômico”. a) ( ) É o resultado da interação dos fatores oriundos das entidades remotas (econômica, social, política, tecnológica, dentre outras) com as variáveis ambientais (ambientes UNIDADE 2 TÓPICO 1 83 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A onde se desenvolvem as entidades remotas, como compras, vendas, transportes, dentre outros) que interagem com o ambiente interno da empresa, que, de acordo com as principais funções e atividades (como produzir, vender, dentre outras), geram o resultado almejado. b) ( ) É o “movimento sistêmico” que mantém a empresa em constante formação ou transformação, por isso é importante estudar o que é empresa como um sistema dinâmico. c) ( ) Compreende as instalações físicas e equipamentos necessários para a realização das atividades inerentes à produção de bens e serviços desenvolvidos pela empresa. d) ( ) Compreende as mesmas características de interatividade de funções, porque elas também fazem parte de um macrossistema que fornece seus serviços para um conjunto de empresas que agregam seus bens ao produto final. UNIDADE 2TÓPICO 184 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A TIPOS DE ORÇAMENTOS E SUAS APLICAÇÕES 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 2 Neste tópico estudaremos os conceitos de orçamentos, seus objetivos e os tipos existentes, dentre eles os orçamentos estático, flexível, tendência e base zero. Também estudaremos o sistema de orçamentos, que se refere à integração das informações dos diversos departamentos, lembrando sempre que o sistema de orçamentos está em concordância com o sistema empresa. Quando tratamos de resultados financeiros, estamos cobrando esses resultados dos gestores, ou seja, a empresa deverá atingir os resultados da maneira mais eficaz possível. Desta forma, estudaremos o que refletem os orçamentos e os seus efeitos nas pessoas envolvidas no processo. UNIDADE 2 2 ASPECTOS CONCEITUAIS Nos tempos atuais, os empresários (gestores) têm necessidade de planejar as ações e buscar o controle da empresa, e o processo orçamentário torna-se indispensável na administração de qualquer negócio. Com as mudanças na sociedade, no desenvolvimento tecnológico e do mercado, as empresas aumentaram a sua complexidade no desenvolvimento de suas atividades e tornou-se necessário aumentar o volume de informações com qualidade, para possibilitar aos gestores o controle do processo de produção e tomar decisões estratégicas, podendo prever o seu futuro. UNIDADE 2TÓPICO 286 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A O processo orçamentário envolve a elaboração de planos detalhados de operações a serem cumpridas na empresa com o objetivo de lucro.Esses planos envolvem a previsão dos custos e despesas dentro da estrutura das políticas existentes, além de fixar padrões para a atuação dos gestores com responsabilidades no negócio. FONTE: Disponível em: <http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Or%C3%A7amento- Empresarial/49881594.html>. Acesso em: 2 abr. 2015. UNI De que forma pode-se conceituar um orçamento? O orçamento pode ser conceituado como um planejamento de operações detalhado em todas as suas fases para um período futuro, buscando retratar formalmente as políticas, planos e metas estabelecidas pelos administradores, expressos em forma quantitativa. Portanto, orçar significa processar todos os dados constantes do sistema de informação e apresentá-los em forma de relatórios gerenciais, permitindo aos gestores terem uma visão do futuro da organização (de forma quantitativa) e poderem acompanhar de forma sistemática o cumprimento ou não do que foi orçado. Para Atkinson et al. (2000, p. 465), os orçamentos representam o seguinte: Um papel semelhante no planejamento e no controle para gerentes que estão dentro de unidades empresariais e que são parte central no projeto e na ope- ração de sistema de contabilidade gerencial. [...] Os orçamentos nas empresas refletem as condições quantitativas de como alocar recursos financeiros para cada subunidade organizacional, com base em suas atividades e nos objetivos de curto prazo. [...] Assim, um orçamento é uma expressão quantitativa das en- tradas de dinheiro para determinar se um plano financeiro atingirá os objetivos organizacionais. Orçamentação é o processo de preparação dos orçamentos. Em síntese, o orçamento é o instrumento que descreve o plano geral das operações, orientado por objetivos e metas propostos pela alta cúpula diretiva da empresa para um determinado período. Também podemos entender que o orçamento é o método de planejamento e controle financeiro, vinculado aos planos operacionais e/ou de investimentos, com a finalidade de aperfeiçoar o rendimento de recursos físicos e monetários da empresa. Isso significa compreender de forma quantitativa o que “pode acontecer” com os recursos e resultados da empresa, em períodos futuros. UNIDADE 2 TÓPICO 2 87 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A UNI De certa forma, podemos tirar como conclusão que: Orçamento nada mais é do que colocar à frente aquilo que está acontecendo hoje, processando todos os dados constantes do sistema de informação contábil de hoje e introduzindo os dados previstos para o próximo período, de acordo com as ferramentas para projeção que os gestores utilizam. O orçamento não deixa de ser uma pura repetição dos relatórios gerenciais atuais, só que com os dados previstos. Vejamos o que Lunkes diz sobre o orçamento, seu desenvolvimento e importância nas empresas: - Na primeira fase predominou o orçamento empresarial, que teve como ênfa- se a projeção dos resultados e posterior controle. É um plano projetado para atender a um nível de atividade do próximo período. - A segunda fase privilegiou o orçamento contínuo, que tem como ênfase a revisão contínua, removendo-se os dados do mês recém-concluído e acres- centando-se dados orçados para o mesmo mês do ano seguinte. A aplicação desse método está se tornando bastante frequente nas empresas. - O passo seguinte foi o surgimento do orçamento de base zero (OBZ), com a projeção dos dados como se as operações estivessem começando da estaca zero e tivessem necessidade de justificar os gastos. No orçamento de base zero os gestores estimam e justificam os valores orçados como se a empresa estivesse iniciando suas operações. - A quarta etapa apresenta o orçamento flexível em destaque com a projeção dos dados das peças orçamentárias em vários níveis de atividade. O orçamento flexível é projetado para cobrir uma gama de atividades, portanto, pode ser usado para estimar custos em qualquer nível de atividade. - Posteriormente, surgiu o orçamento por atividades como uma extensão do custeio baseado em atividades, com projeção dos recursos nas atividades e o uso de direcionadores para estimar e controlar resultados. O orçamento por atividades usa a informação sobre os direcionadores no planejamento e no processo de avaliação. - Finalmente, o orçamento perpétuo, que prevê o uso dos recursos fundamen- tado na relação causa-efeito. - Pode-se ainda considerar outros métodos, como o orçamento padrão, orça- mento de tendência e orçamento incremental. (2003, p. 37). A importância do sistema orçamentário está basicamente no modo de conduzir de forma ordenada as ideias e progredir, passo a passo, nas ações. Salienta-se que o sistema orçamentário está ligado às constantes mudanças que ocorrem no mundo globalizado, especificamente na área tecnológica. Dentro deste contexto, é importante que as empresas planejem os seus objetivos e suas atividades sempre considerando UNIDADE 2TÓPICO 288 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A a necessidade de se adaptar às novas realidades. No Brasil, o orçamento passou a ser foco de estudos a partir de 1940, mas apenas a partir de 1970 as empresas o adotaram com mais frequência em suas atividades. De modo geral, o processo orçamentário foi sendo adaptado às tendências das modernas teorias de gestão e atualmente deve apresentar as seguintes características: • projeta o futuro da empresa no seu mercado de atuação; • flexibiliza sua aplicação de modo a facilitar sua operacionalização e compreensão dos resultados; • deve ter a participação direta dos responsáveis na sua elaboração, acompanhamento e análise; • precisa ter um grau de acerto aceitável dentro da realidade da empresa e do mercado; • é adaptado ao ciclo operacional, o que possibilita verificar o custo X benefício dos investimentos; • demonstra capacidade para apresentar com rapidez possíveis problemas na relação entre gastos e retornos financeiros; • permite o seu imediato ajuste operacional com encaminhamentos corretivos. A partir da década de 80, com o acentuado processo de globalização, as distâncias desapareceram e as fronteiras deixaram de ser um obstáculo para o mundo dos negócios. Isso permitiu que as empresas começassem a buscar matérias-primas e montar suas fábricas onde os custos são menores e com a possibilidade de oferecer seus produtos e serviços em qualquer parte do mundo. Como consequência, os padrões de consumo foram massificados e o capital financeiro passou a buscar uma melhor rentabilidade global. Contudo, a competição nunca foi tão acirrada. O mercado recebe constantemente novos produtos importados ou de concorrentes locais com preços mais baixos, e, com isso, a necessidade de maior produtividade e redução dos custos é cada vez maior. Figueiredo e Caggiano (2008) abordam que todo este processo impacta no contexto externo das relações contratuais das empresas e também no seu ambiente interno, criando a demanda por melhores práticas de gestão. Pode-se dizer que a empresa é uma instituição econômica que tem o objetivo de prover a sociedade dos produtos e serviços necessários ou desejados pelas pessoas de acordo com a sociedade onde elas vivem. No entanto, esses objetivos somente serão viabilizados se o lucro for alcançado. Assim, as atividades das empresas devem estar sintonizadas com as metas fixadas ao invés de serem realizadas de forma aleatória, isto é, necessitam ser planejadas e controladas. 3 OBJETIVOS DOS ORÇAMENTOS Os orçamentos possuem objetivos direcionados para o bom funcionamento das empresas. Para entendermos melhor o que significam esses objetivos e sua aplicabilidade, buscamos as citações de alguns autores. UNIDADE 2 TÓPICO 2 89 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O RÇ A M E N T Á R I A Segundo Padoveze (1997, p. 354), o objetivo do plano orçamentário: [...] não é apenas prever o que vai acontecer e seu posterior controle. Ponto básico e, entendemos, fundamental, é o processo de estabelecer e coordenar objetivos para todas as áreas da empresa, de forma tal que todos trabalhem siner- gicamente em busca dos planos de lucros. [...] No estabelecimento de objetivos haverá o envolvimento de todos, numa gestão participativa, ao mesmo tempo em que se delegará responsabilidades. Com isso, será possível a etapa final, que é o controle do orçamento e a análise do desempenho e de suas variações. O autor afirma que deve existir o envolvimento de todos os setores e todos os responsáveis de cada departamento, e as atividades deverão “estar alinhadas” de forma congruente. Warren, Reeve & Fees (2001, p. 179) abordam que “o orçamento envolve (1) o estabelecimento de metas específicas, (2) a execução de planos para atingir suas metas e (3) a comparação periódica dos resultados efetivos com as metas”. O orçamento é constituído de planos específicos em datas e unidades monetárias que visam atingir objetivos programados. É o plano financeiro para implantar a estratégia da empresa em determinado exercício e, portanto, é uma ferramenta básica de gestão que pode ser de curto prazo ou de longo prazo. O orçamento de curto prazo (geralmente um ano) é bastante detalhado e subdividido de acordo com as áreas da empresa. Sua função é quantificar os planos e estabelecer as metas operacionais que determinam o que fazer, quando fazer, como fazer e quais recursos utilizar. O orçamento de longo prazo orienta a realização dos objetivos estratégicos para a empresa atuar no mercado em prazos superiores a um ano. Com o sistema orçamentário, podem-se emitir diversos tipos de relatórios que contêm informações gerenciais importantes para a gestão de uma empresa, como os seguintes: • relatórios de análise de desempenho por áreas de responsabilidade; • relatórios de análise de resultados, como a margem de contribuição por produto; • relatórios de investimentos em imobilizado, que possibilitam a identificação do pay-back; • relatórios de performance econômica e financeira da empresa, como o ROAL (Retorno Operacional sobre os Ativos Líquidos), que é o resultado gerado em relação aos investimentos dos ativos descontando-se os impostos recuperáveis conforme sua aquisição; • demonstrações financeiras, como o balanço patrimonial, a demonstração de resultado de exercício e a demonstração do fluxo de caixa projetados. Quando se trata de metas, na verdade estamos falando em estabelecê-las para o resultado da empresa de forma global, mas sempre buscando “conectar” as atividades de cada departamento, uma vez que cada setor da empresa também possui suas metas individuais a serem atingidas. UNIDADE 2TÓPICO 290 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A UNI Em gestão, podemos compreender as metas como uma função administrativa de planejamento, a execução dos planos e das ações, de acordo com o processo orçamentário, como uma função administrativa de direção e a comparação dos resultados como uma função administrativa de controle. Em outras palavras, o orçamento envolve: PLANEJAMENTO DIREÇÃO CONTROLE. a) Planejamento O planejamento é um conjunto de metas estabelecidas de acordo com as ações individuais e coletivas. Segundo Figueiredo e Caggiano (2008), ele é definido como o processo de reflexão precedido da ação, dirigido para a tomada de decisões com vistas no futuro. Para os autores, o processo de planejamento pode ser dividido em cinco etapas: 1 Estabelecer os objetivos da empresa. 2 Avaliar os possíveis cenários relacionando os fatores internos e externos que poderão afetar as operações da empresa. 3 Avaliar os recursos existentes para o uso eficiente (mão de obra, máquinas, investimentos, tecnologia, estoque, capital etc.). 4 Definir a estratégia para alcançar os objetivos estabelecidos. 5 Delinear um programa de ação e discriminar os recursos necessários. Em síntese, o processo de planejamento deve responder às seguintes perguntas: O que deve ser feito? Quando deve ser feito? Como deve ser feito? Quem deve fazê-lo? Para Sanvicente e Santos (1983), planejar é estabelecer com antecedência as ações a serem executadas para que sejam alcançados satisfatoriamente os objetivos porventura fixados para uma empresa e suas diversas unidades. O processo de planejamento pode ser dividido em três atividades: • Planejamento Estratégico: Avalia os riscos e oportunidades que o setor produtivo oferece e os pontos fortes e fracos da organização com vistas a definir as diretrizes políticas, os objetivos e os princípios da empresa. • Planejamento Programa: É um planejamento de longo prazo, normalmente de três a dez anos. • Planejamento Orçamentário: É elaborado com um nível de detalhes superior às necessidades mais imediatas. Normalmente é o primeiro ano do planejamento de longo prazo, previsto e acompanhado mensalmente. UNIDADE 2 TÓPICO 2 91 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A O orçamento é uma ferramenta que demonstra uma ampla visão financeira da empresa e o seu acompanhamento possibilita identificar possíveis resultados fora do planejado. Nesse caso, providenciam-se os acertos necessários, evitando, assim, possíveis problemas futuros. b) Direção A direção pode ser compreendida como o “tomar cuidado” para que as ações individuais e grupais estejam sendo coordenadas da melhor forma possível. E essa direção deve ser bem orientada através das reuniões dos comitês de avaliação. c) Controle O controle é um sistema de verificação do desempenho obtido com os objetivos traçados, de forma que ações corretivas possam ser implementadas. Sua existência é fundamental tanto para a execução de planejamento de curto como de longo prazo. Embora a maior ênfase esteja nas atividades de controle das operações de curto prazo, nas situações de planejamento de longo prazo ele permite verificar os avanços realizados e a necessidade de rever suas metas. Para Welsch (1983, p. 29), “controle é exercer continuamente um controle dinâmico, agressivo e flexível das operações para assegurar conformidade realista com os planos e objetivos”. Desta forma, o controle tem a função de assegurar que as atividades sejam executadas em conformidade com os planos traçados. A Figura 9 demonstra a relação entre os elementos no processo de planejamento e, posteriormente, o controle durante a sua execução. FIGURA 9 - RELACIONAMENTO ENTRE OS ELEMENTOS NO PROCESSO DE PLANEJAMENTO DE UMA EMPRESA FONTE: Frezatti (2009, p. 15) UNIDADE 2TÓPICO 292 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A O controle é uma fiscalização exercida sobre as atividades a fim de evitar que elas se desviem das normas e metas preestabelecidas. O ideal é fazer o controle à medida que as atividades vão se realizando, mas isso depende da implantação de um sistema de controle que envolve custos de implantação e operação. Para termos uma ideia sobre a necessidade dos controles das operações por meio dos processos orçamentários e dos cuidados com a qualidade e o tipo de controle ideal para exercer em uma empresa, vamos observar o que Ricardo Semler descreve a partir da sua experiência sobre a emissão de relatórios, análise e decisões tomadas com base nas informações deles extraídas. Ricardo Semler narra sua experiência como administrador da empresa que herdou da família. Em 1982 fomos visitados pelo presidente de uma poderosa empresa, uma das maiores dos EUA, que ao cabo de uma visita pela fábrica folheou nossos sistemas de relatórios mensaise orçamento. Naquela época tínhamos os números no quinto dia útil do mês em pastinhas organizadíssimas. Se você quisesse saber quanto tinha sido o consumo de café na subseção de Usinagem Leve III, era só procurar na página 67, quadro 112.6. O homem ficou impressionadíssimo e disse que não esperava encontrar tanta eficiência numa empresa brasileira, que era muitas vezes maior que nós, que gostaria de ver este mesmo sistema instalado na empresa deles. A partir deste dia andávamos como pavões, declarando a quem quisesse ouvir que o nosso sistema de orçamento era estado da arte, que o presidente de um grande grupo norte-americano... Vocês com certeza conseguem imaginar a cena. Com o passar dos anos fomos percebendo que esses relatórios eram tão completos e sofisticados que aconteciam dois fenômenos: um, descobrimos que nossas despesas eram altas demais e nunca abaixavam porque “tava” lotado de neguinho na contabilidade que só fazia isso; dois, que tinha tanto número dentro da pasta que quase nenhum gerente lia – uma reunião para discutir um só departamento levava a tarde toda, e ninguém admitia que não tinha lido ou estudado os números (o que, por sinal, era humanamente impossível). Para encurtar uma longa história, o período em que menos soubemos o que realmente acontecia na empresa foi aquele. Alguns anos depois, essa poderosa empresa norte- americana, sofrendo graves dificuldades financeiras, foi perdendo participação no mercado e dinheiro, e atualmente está sendo dissolvida e vendida em pedaços. Moral da história: hoje temos um sistema simples, com poucas, mas relevantes informações, e somos capazes de agir sobre elas. Cortamos de quatrocentos para cinquenta centros de custo, decapitamos centenas de classificações contábeis, dezenas de linhas de demonstrativos, e agora está finalmente dando para enxergar a empresa. UNIDADE 2 TÓPICO 2 93 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A Poucos e grandes números, e disposição para agir sobre eles – o resto é estética. FONTE: SEMLER (2002, p. 73). Observa-se que, para um bom controle, é essencial a emissão de relatórios de acompanhamento orçamentário e gerencial, mas de nada adianta que os mesmos sejam enormes e complexos, com muitas informações, a ponto de dificultar a sua interpretação e utilização dos dados na tomada de decisões. 4 TIPOS DE ORÇAMENTOS Existem diversos tipos de orçamento para serem utilizados conforme a realidade da empresa e o seu campo de atuação. Dentre eles citam-se: orçamento estático, orçamento flexível, orçamento de tendências e orçamento base zero. a) ORÇAMENTO ESTÁTICO O Orçamento Estático é baseado a partir de um determinado volume de produção e vendas que a empresa deseja atingir. Se ocorrerem mudanças no ambiente do sistema empresa (analisado no tópico 1 desta unidade), os orçamentos para um determinado período perdem sua validade, já que estarão “engessados” de acordo com o volume de produção e vendas que outrora foram definidos. Segundo Padoveze (1997, p. 383), “caso a empresa, durante o período, considere que tais volumes não serão atingidos, parcela significativa das peças orçamentárias tende a perder valor para o processo de acompanhamento, controle e análise das variações”. Se ocorrer qualquer incidente no mercado do mundo globalizado, como uma catástrofe natural, ou problemas na economia mundial ou em determinados países, isso poderá afetar de forma negativa os Orçamentos Estáticos. Mas, se ocorrerem fatores positivos na economia global ou de determinado país, isso também poderá afetar de forma negativa os Orçamentos Estáticos, pois os mesmos NÃO PODERÃO SER ALTERADOS, a própria palavra já o define: ESTÁTICO IMÓVEL. O orçamento estático é mais apropriado para planos com metas a serem atingidas em curto prazo, como períodos bimestrais ou trimestrais, mais facilmente observadas em sazonalidade ou moda. Esse tipo de orçamento torna-se inviável para períodos de um ano ou mais, pois os ajustes tornam-se necessários e o estático não possui essa “flexibilidade”. UNIDADE 2TÓPICO 294 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A b) ORÇAMENTO FLEXÍVEL Como o período do exercício social nas empresas é de 12 meses, muitas vezes a empresa precisa realizar ajustes no seu plano orçamentário para equilibrar seus objetivos e metas de resultados. Por isso, o orçamento não pode estar “engessado”. Vamos tomar como exemplo empresas do ramo eletrodoméstico, em que o governo, por um decreto, reduz a alíquota do IPI no mês de junho de um determinado ano. Desta forma, a redução da alíquota do IPI reduz o preço de venda do produto, o que leva ao possível aumento da procura no mercado. Desse modo, todas as previsões de vendas e de volume de produção precisam ser revistas para esse exercício social, pois será necessária maior aquisição de insumos, resultando no aumento de seus custos, além de outros custos e despesas que poderão ser necessários. O Orçamento Flexível pode ser ajustado de acordo com as necessidades da empresa e com as mudanças de mercado. Como a empresa é dividida em departamentos, ela possui níveis de atividades executadas por seus responsáveis. De acordo com Warren, Reeve e Fees (2001, p. 184- 185), “pode-se pensar num orçamento flexível como uma série de orçamentos estáticos para diferentes níveis de atividades”. Esses níveis de atividades são níveis de processamento e requerem profundo conhecimento de custos, pois se ocorrerem mudanças no mercado que possam afetar o “turn-over” (rotatividade de funcionários) da empresa, afetará todas as peças orçamentárias de custos, envolvendo salários, matéria-prima empregada para maior ou menor consumo, impostos ou encargos sociais de acordo com o volume a ser apurado em relação à nova realidade da empresa. Conforme Padoveze (1997, p. 383), “para tanto é necessário um profundo conhecimento dos padrões de comportamento dos custos”. Por conseguinte, essas mudanças afetarão tanto o planejamento do resultado da empresa como o planejamento dos seus recursos financeiros. c) ORÇAMENTO DE TENDÊNCIAS O Orçamento de Tendências é uma prática orçamentária que utiliza dados passados para projetar o futuro, pois situações ocorridas no passado, decorrentes da estrutura organizacional já existente, servem de base para projetar situações futuras, uma vez que corre-se o risco de tais situações acontecerem novamente. Nesse aspecto é importante fazer uma média dos acontecimentos em um período de alguns exercícios sociais. Tal prática tem fornecido bons resultados em várias organizações empresariais. Mas, para haver sucesso neste tipo de planejamento orçamentário, deve-se levar em consideração que a realidade é muito dinâmica e que constantemente novos elementos surgem no processo, e que também devem ser previstos. UNIDADE 2 TÓPICO 2 95 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A Conforme Padoveze (1997, p. 383-384), Na execução do orçamento de tendências sempre existirão eventos passados de conhecimento da empresa, que não se repetirão e que, portanto, não serão reproduzidos no orçamento. Da mesma forma, existirão eventos futuros que não terão um passado onde se possa basear novas estimativas, que deverão ser orçados de outra maneira. Muitas vezes, a empresa possui um mix padrão de produção e vendas. Por exemplo, a produção de barras de aço em determinadas bitolas torna-se um padrão e assim não há muitas mudanças no seu mix de produção. Para facilitar a elaboração do processo orçamentário, pode- se utilizar o orçamento de tendências, utilizando-se dados passados para projetar o futuro. d) ORÇAMENTO BASE ZERO O Orçamento Base Zero (OBZ) é uma proposta conceitual que, apesar de ser muitopouco difundida entre os gestores das empresas, tem apresentado uma contribuição relevante para o processo orçamentário. A própria expressão “base zero” tem relação com a ideia de reavaliação de todos os programas e despesas propostos. Esse orçamento surgiu como uma contrapartida ao orçamento de tendências, pois, enquanto este se apoia em dados passados, o orçamento base zero parte de um novo estudo da empresa no mercado. Consiste em buscar novos elementos e nunca deve partir da observação dos dados passados. Serve como instrumento de questionamento das atividades existentes e de reflexão para a criação de outras mais eficazes, por isso é considerado também como uma metodologia gerencial para o planejamento e controle orçamentário. O OBZ muda a concepção de que o orçamento é igual ao já realizado com alguns acréscimos e supressões. Mas, por quê? Porque, para alguns estudiosos do tema, eles podem conter ineficiências que o orçamento de tendências pode perpetuar. Padoveze (1997, p. 384) diz que: A proposta do orçamento Base Zero está em rediscutir toda a empresa toda vez que se elabora o orçamento. Está em questionar cada gasto, buscando verificar a real necessidade. Resumindo, a questão fundamental permanente para o orçamento base zero é a seguinte: não é porque aconteceu que deverá acontecer. [...] Nesta linha de pensamento, cada atividade da empresa será rediscutida, não em função de valores maiores ou menores, mas na razão ou não de sua existência. A partir da existência da atividade, será realizado um estudo, partindo-se do zero, de quanto deveria ser o gasto para manutenção daquela atividade. Na Figura 10 observa-se o conjunto das principais atividades. UNIDADE 2TÓPICO 296 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A FIGURA 10 – REFERÊNCIA CONCEITUAL UTILIZADA PARA DESCREVER A ATIVIDADE DE UMA EMPRESA FONTE: Boisvert (1999, p. 63) Todas as atividades existentes na empresa têm uma razão de existir, e somente haverá a transformação de novos produtos e serviços se ocorrerem produção e vendas, por consequência também as atividades administrativas de apoio e gerenciamento. Por esse motivo, o processo de acompanhamento das despesas define responsabilidades claras com base na avaliação do "Previsto x Realizado". Assim sendo, todos os desvios são tratados e analisados por meio de relatórios que visam mostrar com clareza as causas dos desvios e o desenvolvimento de um plano de ação para eliminá-los. Através desta prática, o orçamento da empresa passa a ser baseado em regras bem definidas, com intensa participação dos funcionários na redução de despesas. A desvantagem do OBZ é o seu processo trabalhoso. Exige-se um longo tempo de preparação em comparação com outros orçamentos tradicionais e pode envolver um processo burocrático bastante extenso, pois todas as atividades operacionais da empresa precisam ser repensadas e planejadas. É como se a empresa estivesse iniciando suas atividades a cada novo exercício social, o que não é viável para as empresas que possuem atividade contínua. Na maioria das empresas seu uso é pouco frequente, contudo pode ser aplicado a todas as empresas, públicas ou privadas, de qualquer porte. Esse tipo de orçamento pode ser útil na elaboração de projetos, ou seja, a cada projeto novo se realiza um orçamento a partir do zero. O orçamento base zero tem as seguintes características, conforme Lunkes (2010, p. 87): • analisar o custo-benefício de todos os projetos, processos e atividades, partindo de uma base ‘zero’; • focalizar objetivos e metas das unidades de negócio cujos recursos são consequência do caminho ou direção planejada; UNIDADE 2 TÓPICO 2 97 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A • assegurar a correta alocação de recursos com base no foco e nos fatores- -chave do negócio; • aprovar o nível de gastos após a elaboração com base em critérios previa- mente definidos; • desenvolver forma participativa, com intensa comunicação entre as áreas; e • fornecer subsídios decisórios inteligentes para a gestão. Para o seu desenvolvimento, Lunkes (2010) propõe sete etapas básicas, que são: 1ª etapa: Definição das estratégias, objetivos e metas das unidades. 2ª etapa: Identificação dos pacotes de decisão. 3ª etapa: Definição da matriz de responsabilidade. 4ª etapa: Elaboração das PBZs, NBZs e VBZs. 5ª etapa: Priorização dos pacotes de decisão. 6ª etapa: Aplicação dos recursos. 7ª etapa: Acompanhamento do OBZ. Em uma análise mais específica, Coronado (2001) estabelece um modelo de identificação do Resultado Econômico (Lucro), aplicando todas as ações necessárias em um processo de planejamento orçamentário. O resultado econômico da empresa está relacionado com todos os ambientes e atividades identificados na Figura 11. O resultado operacional é alcançado conforme as atividades e os processos de produção em todos os ambientes onde estão relacionados às empresas, tanto industriais como comerciais e de serviços. UNIDADE 2TÓPICO 298 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A FIGURA 11 – MODELO CONCEITUAL DA DECISÃO DE PREÇO E PLANEJAMENTO DE RESULTADO DA ÁREA DE VENDAS NO SETOR ATACADISTA/DISTRIBUIDOR FONTE: Coronado (2001, p. 119) As vantagens do Orçamento Base Zero estão relacionadas com melhores planos e orçamentos, benefícios posteriores (obtidos durante o ano operacional) e desenvolvimento da equipe administrativa. Todavia, o OBZ não é muito comum nas empresas, pois demanda tempo de estudos e análises, e atualmente, com a escassez de recursos financeiros, torna-se dispendioso manter esse modelo orçamentário. UNIDADE 2 TÓPICO 2 99 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A 5 SISTEMA DE ORÇAMENTOS O Sistema de Orçamentos é o modelo de mensuração que avalia e demonstra, sob um formato contábil, as projeções de desempenhos econômicos e financeiros de uma empresa. Sua função é compilar as informações advindas de cada setor da empresa e apresentar os resultados da execução dos planos de ação que foram aprovados por cada gestor. Estudamos as relações dos fatores internos e externos no tópico 1 - Sistema Empresa desta unidade, e agora vamos demonstrar essa “conversa” entre cada departamento na figura a seguir. FIGURA 12 – SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GERENCIAIS FONTE: Adaptado de Oliveira (1999, p. 248) Observe que o sistema de orçamentos relaciona todos os dados físicos relativos ao volume total de produção e vendas com os padrões das receitas, custos e despesas de cada área de responsabilidade, cada departamento. Após serem aprovados pela administração da empresa, juntamente com os respectivos planos de ação, são confiados aos responsáveis pela execução dos mesmos. UNIDADE 2TÓPICO 2100 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A 6 O QUE REFLETEM OS ORÇAMENTOS Como havíamos estudado no tópico 1 (Sistema Empresa) desta unidade, os responsáveis de cada departamento precisam “conversar” entre si. E o que isso tem a ver com o que refletem os orçamentos? É uma pergunta pertinente. Os orçamentos refletem a necessidade da empresa, dos seus administradores, em comunicar aos seus gerentes ou responsáveis os planos de ação que devem ser executados de acordo com as políticas e diretrizes nele atribuídos. Deverão dar origem aos resultados projetados para avaliação e análise. Portanto, o que os orçamentos refletem são as políticas que estão presentes nas seguintes áreas: • compras: busca no mercado a melhor relação de aquisição, tempo de entrega e preço; • estoques: melhora cada vez mais a política de inventários, reduzindo-os para atender da melhor forma possívelo ponto de ressuprimento, que é o estoque mínimo que a empresa deve possuir sem afetar o custo financeiro da estocagem e do planejamento e controle de produção; • vendas: busca novas frentes de mercado. Uma das formas que as empresas encontraram para solucionar seus problemas de custos e despesas fixas é a diluição dos mesmos em um maior volume de produção, o que só pode ser atingido com o aumento do volume de vendas; • qualidade: produtos de qualidade possuem mercado garantido, pois qualidade é sinônimo de cliente satisfeito com sua durabilidade e garantia de conforto e bem-estar; • seleção e remuneração do pessoal: para atender à demanda de trabalho da empresa, a mesma precisa contratar os profissionais mais qualificados no mercado, e profissionais qualificados requerem uma melhor remuneração; por conseguinte, isso reflete na qualidade dos produtos; • contabilidade por área de responsabilidade: todos os resultados deverão ter sua transparência evidenciada em relatórios contábeis por áreas de responsabilidades, pois o sistema de informação gerencial facilita essa “conversa” entre cada departamento. Vimos isso na Figura 12 do item 5 do tópico 2 desta unidade. O orçamento irá refletir se o sistema de informação está adequadamente estruturado e capaz de mostrar aos gerentes os desvios que estão ocorrendo, merecendo ações corretivas ou não. UNIDADE 2 TÓPICO 2 101 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A 7 POR QUE PREVER? Até agora você estudou sobre sistema empresa, sua correlação entre os departamentos e como funciona um sistema orçamentário com suas premissas para elaboração. Mas existem fatores que estão inseridos na cultura organizacional da empresa. Então vamos lá! IMPO RTAN TE! � Quando elaboramos um orçamento devemos levar em consideração que o principal objetivo da empresa é a venda, mas esta será efetivada somente se estiver precedida de um conjunto completo de previsões. A previsão orçamentária deve ser uma prática constante e necessária, mas a verdadeira previsão deve ser bem pensada, bem planejada, e apoiar-se em bases concretas, para que se possam medir todas as consequências. Até a década de 90 tinha-se a compreensão de que a aquisição de um bem do ativo imobilizado, máquinas e equipamentos, permitia o aumento da produção com a redução de pessoal, ou seja, produzir mais com menos pessoal empregado, sem haver a preocupação se o mercado seria capaz de absorver esse aumento de produção ou não. Aqui, encontramos um problema, que é identificar os custos do capital aplicado, a taxa de juros ou taxa de recuperação do capital, demais gastos de funcionamento da máquina e se os mesmos não seriam superiores à receita futura advinda dessa produção excedente. Dessa forma, seria possível adquirir uma nova máquina, produzir e TENTAR vender os produtos? A palavra “tentar” coloca dúvida. Não é mais possível tentar algo, como no passado. Arriscar para dar certo? Na tentativa e erro? Entende-se que não, porque o custo de capital é muito elevado. IMPO RTAN TE! � Por que prever? A resposta está em evitar desperdícios desnecessários, pois não há mais como errar em um mundo competitivo como esse em que vivemos. UNIDADE 2TÓPICO 2102 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A 8 COMO PREVER? Existe no meio gerencial uma pergunta constante: Como prever? Podemos compreender com as seguintes respostas: • É salutar que um planejamento orçamentário seja decomposto em períodos curtos, preferencialmente anuais ou semestrais. • A velocidade das informações e do mercado pode causar efeitos na elaboração das previsões orçamentárias. • As atividades da empresa, de cada departamento, deverão ser definidas, planejadas e harmonizadas. Perguntas frequentes: a) Quais são as bases da previsão? b) Quais são os limites orçamentários? Essas perguntas sobre COMO PREVER somente têm fundamento na definição dos produtos ou serviços nos quais a empresa possa garantir suas vendas. Garantia de Vendas CARRO-CHEFE O orçamento necessita de dados numéricos que reflitam a situação do mercado atual e permitam planejar o crescimento que a empresa pretende para o ano seguinte. No orçamento de vendas, por exemplo, a empresa faz as previsões de acordo com o mercado de atuação e com isto saberá os recursos necessários para atender a demanda da produção. Tung (1975, p. 88) diz que no planejamento de vendas, “a empresa procura inteirar-se das suas próprias experiências, que poderão servir de indicação para maiores análises e investigações”. Para Sanvicente e Santos (1983, p. 53), “os critérios de detalhamento do orçamento de vendas são três: tempo, área geográfica e produto”. Em seguida, é importante que se faça uma previsão por produto e por período, levando em consideração o que o mercado pode absorver. Essa previsão comercial é fundamental para o sucesso do empreendimento e sua elaboração resulta da síntese de um conjunto de informações que são extraídas das seguintes áreas: • Contabilidade: análise dos relatórios financeiros e de vendas (por períodos anteriores). UNIDADE 2 TÓPICO 2 103 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A • Das estatísticas do departamento de vendas: principalmente da análise dos relatórios das vendas individuais ou em grupos de clientes, por períodos de entrega dos produtos. • Do estudo dos mercados: uma expectativa realística só pode ser determinada se o mercado responder, através da sua capacidade em absorver seus produtos. 9 OS EFEITOS DO ORÇAMENTO NAS PESSOAS Quando se trata de aplicar os orçamentos para a sua execução, muitas vezes nos deparamos com situações que necessitam avaliações sob a ótica comportamental. Podem surgir erros no processo de elaboração e implantação dos orçamentos em níveis de supervisão. E quais seriam suas consequências? Para esta análise buscamos a contribuição de Figueiredo e Caggiano (1997), que abordam vários aspectos comportamentais que podem influenciar no processo decisório da gestão das empresas, os quais são os seguintes: a) Reação às pressões Geralmente os gestores buscam acompanhar e cumprir as propostas orçamentárias. Isso evita situações de manipulação ou escapes de resultados se estes não estão de acordo com os esperados no orçamento. Se as pressões orçamentárias forem excessivas por busca de resultados que não estão conseguindo cumprir, pode ocorrer desconfiança, hostilidade e, eventualmente, baixa do nível de desempenho como reação aos controles orçamentários. Tipicamente, podemos dizer que os gestores podem, por consequência, “perder o foco do negócio”. Um dos problemas que podem gerar esse tipo de hostilidade é o controle dos custos, é uma causa comum de tensão entre os gestores, geralmente oriunda da pressão de “cortar custos”. b) Grande ênfase no curto prazo Muitas vezes nos deparamos com a frase: “Iniciarei um empreendimento hoje, para ganhar dinheiro amanhã”. Grande engano. Um dos perigos que se depara na organização quando se avalia a efetividade dos gestores na busca dos melhores resultados é a ênfase na lucratividade de curto prazo. As medidas tomadas para melhorar a lucratividade de curto prazo podem prejudicar as expectativas de longo prazo da organização. UNIDADE 2TÓPICO 2104 G E S T Ã O F I N A N C E I R A E O R Ç A M E N T Á R I A Por quê? Porque existe a preocupação e a frustração do que vai acontecer em longo prazo se a empresa não atingir de imediato, curto prazo, os melhores resultados. O que pode ocorrer é a busca de aumento no lucro de curto prazo, utilizando medidas para diminuir os gastos, como a redução das despesas com pesquisa e desenvolvimento,
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